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Francisco Pippio Cutucando a onça com vara curta Walter Lara ilustrações Cutucando a onça com vara curta

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Page 1: Francisco Pippio

Francisco Pippio

Cutucando a onça com vara curta

Walter Larailustrações

ISBN 978-85-249-2493-4

Francisco Pippio é pseudôni-mo de José Francisco dos Santos, nas-cido em 1967, em Graccho Cardoso (SE). Bacharel e licenciado em Ciên-cias Sociais, e também bacharel em Direito, leciona Sociologia na rede estadual de ensino de Sergipe. Possui textos em poesia e prosa publicados em vários cadernos e suplementos li-terários pelo Brasil afora. Foi premia-do no Concurso de Contos e Poemas Manoel Bandeira, do Centro Acadê-mico de Letras (UFS), em 1997, e nos Concursos Literários Santo Souza de Poesia, de 2003, e Núbia Marques de Contos, de 2004, da Secretaria de Estado da Cultura de Sergipe. Pu-blicou o livro de poemas As cidades (7Letras, 2006).

Em uma democracia, o que vale é o desejo da maioria. Mas como

lidar com isso quando você é uma onça, carnívora desde os princípios

dos tempos, e se vê obrigada a virar vegetariana por causa de um pacto

contra a predação? Trocar um bife por uma sopa de legumes não deve

mesmo ser nada fácil para um bicho desse. O macaco desta história que

o diga, coitado. Descubra as artimanhas da onça para tentar descumprir

o acordo e a esperteza do macaco para fazer valer a decisão da bicharada.

Walter Lara nasceu em Betim (MG). É artista plástico e ilustrador. Recebeu o Prêmio Altamente Reco-mendável da Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil (FNLIJ) pelos livros O dia não está para bruxa, de Marcus Tafuri, e Para criar passarinho, de Bartolomeu Campos de Queirós (também fi nalista do Prêmio Jabuti). Em 2010, estreou como autor com o livro O artesão, que recebeu os prê-mios Altamente Recomendável e Os 30 Melhores Livros Infantis do Ano, da Revista Crescer, além de ter sido se-lecionado para o Catálogo de Bolonha.

Cutucando a onça com vara curtaFra

ncisco

Pip

pio

Page 2: Francisco Pippio

A caça estava, a cada dia, mais escassa na f loresta. A civilização bateu também à porta do reino dos animais, e alguns bichos

viram, logo de cara, a necessidade de adotar novos hábitos alimentares. Assim preservariam melhor suas espécies.

Em um domingo, de tardezinha, quando o sol se apronta para dormir, pendido no poente feito manga madura no pé, a bicharada se reuniu em grande assembleia, pretendendo criar um pacto de não predação.

A ideia do pacto partiu do macaco, que vivia de escaramuça com a onça. Com o acordo, a onça, principalmente, teria que aos poucos deixar de

lado seu instinto carnívoro e predador.A onça achou a ideia radical demais. E protestou. O leão, que também não

comungava muito com o tal pacto, aplaudiu a amiga felina.A postura do leão, que presidia a assembleia, foi desaprovada por alguns

presentes.A vaca, enfezada, reclamou:– Majestade, essa postura parcial não condiz com seu cargo de rei da

floresta! Alvoroço. Alguns animais se exaltaram. A raposa achou o comentário

da vaca desrespeitoso:– Estamos mesmo no fim dos tempos. Onde já se viu um súdito repreender

o rei? – falou, fingindo-se horrorizada. O burro, que tinha fama de entrar mudo e sair calado das assembleias,

resolveu falar. Fez um longo discurso defendendo a vaca. Mais alvoroço. O leão atalhou. Prometeu se manter imparcial. Pediu calma,

e tudo se normalizou.

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A caça estava, a cada dia, mais escassa na f loresta. A civilização bateu também à porta do reino dos animais, e alguns bichos

viram, logo de cara, a necessidade de adotar novos hábitos alimentares. Assim preservariam melhor suas espécies.

Em um domingo, de tardezinha, quando o sol se apronta para dormir, pendido no poente feito manga madura no pé, a bicharada se reuniu em grande assembleia, pretendendo criar um pacto de não predação.

A ideia do pacto partiu do macaco, que vivia de escaramuça com a onça. Com o acordo, a onça, principalmente, teria que aos poucos deixar de

lado seu instinto carnívoro e predador.A onça achou a ideia radical demais. E protestou. O leão, que também não

comungava muito com o tal pacto, aplaudiu a amiga felina.A postura do leão, que presidia a assembleia, foi desaprovada por alguns

presentes.A vaca, enfezada, reclamou:– Majestade, essa postura parcial não condiz com seu cargo de rei da

floresta! Alvoroço. Alguns animais se exaltaram. A raposa achou o comentário

da vaca desrespeitoso:– Estamos mesmo no fim dos tempos. Onde já se viu um súdito repreender

o rei? – falou, fingindo-se horrorizada. O burro, que tinha fama de entrar mudo e sair calado das assembleias,

resolveu falar. Fez um longo discurso defendendo a vaca. Mais alvoroço. O leão atalhou. Prometeu se manter imparcial. Pediu calma,

e tudo se normalizou.

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Page 4: Francisco Pippio

Já era noite – só a luz de uns vaga-lumes faiscava no escuro – quando a assembleia se findou.

Os vivas do macaco, do bode, do burro, da vaca, das galinhas e, pasmem, até de umas onças bem novinhas – talvez porque viviam apenas do leite das mamães onças e ainda não tinham experimentado a carne de outros bichos – saudaram a aprovação do pacto de não predação.

A onça desaprovou, fazendo um sinal negativo com a cabeça, mas prometeu acatar.

– Vale a vontade da maioria – disse amuada.No outro dia, logo de manhã, a onça resolveu se aventurar no ramo do

comércio para garantir o pão de cada dia, já que a temporada de caça estava com os dias contados.

Instalou uma barraca para vender bananas em uma encruzilhada próxima à sua casa.

Por ali costumavam passar uns caixeiros-viajantes que poderiam se tornar fregueses, consumindo suas bananas.

Enquanto ninguém aparecia para comprar, a onça pensou em sair para tentar a sorte e caçar algum animal que ainda não tinha tomado conhecimento do pacto.

Adepta da sabedoria do ditado popular “farinha pouca, meu pirão primeiro”, nem sequer convidou a raposa, sua cúmplice mais fiel, para sua (quem sabe última) aventura.

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Já era noite – só a luz de uns vaga-lumes faiscava no escuro – quando a assembleia se findou.

Os vivas do macaco, do bode, do burro, da vaca, das galinhas e, pasmem, até de umas onças bem novinhas – talvez porque viviam apenas do leite das mamães onças e ainda não tinham experimentado a carne de outros bichos – saudaram a aprovação do pacto de não predação.

A onça desaprovou, fazendo um sinal negativo com a cabeça, mas prometeu acatar.

– Vale a vontade da maioria – disse amuada.No outro dia, logo de manhã, a onça resolveu se aventurar no ramo do

comércio para garantir o pão de cada dia, já que a temporada de caça estava com os dias contados.

Instalou uma barraca para vender bananas em uma encruzilhada próxima à sua casa.

Por ali costumavam passar uns caixeiros-viajantes que poderiam se tornar fregueses, consumindo suas bananas.

Enquanto ninguém aparecia para comprar, a onça pensou em sair para tentar a sorte e caçar algum animal que ainda não tinha tomado conhecimento do pacto.

Adepta da sabedoria do ditado popular “farinha pouca, meu pirão primeiro”, nem sequer convidou a raposa, sua cúmplice mais fiel, para sua (quem sabe última) aventura.

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Francisco Pippio

Cutucando a onça com vara curta

Walter Larailustrações

ISBN 978-85-249-2493-4

Francisco Pippio nasceu em 1967 em Graccho Cardoso, muni-cípio encravado no médio sertão do Estado de Sergipe. Formou-se em So-ciologia e atualmente está cursando Direito. Não é folclorista, mas sempre se interessou pelos contos populares, ouvindo-os e recriando alguns, como no caso desta história. Tem textos em poesia e prosa publicados em vários cadernos e suplementos literários Brasil afora. Publicou o livro de poe-mas As cidades (7Letras, 2006).

Em uma democracia, o que vale é o desejo da maioria. Mas como

lidar com isso quando você é uma onça, carnívora desde os princípios

dos tempos, e se vê obrigada a virar vegetariana por causa de um pacto

contra a predação? Trocar um bife por uma sopa de legumes não deve

mesmo ser nada fácil para um bicho desse. O macaco desta história que

o diga, coitado. Descubra as artimanhas da onça para tentar descumprir

o acordo e a esperteza do macaco para fazer valer a decisão da bicharada.

Walter Lara nasceu em Betim (MG). É artista plástico e ilustrador. Recebeu o Prêmio Altamente Reco-mendável da Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil (FNLIJ) pelos livros O dia não está para bruxa, de Marcus Tafuri, e Para criar passarinho, de Bartolomeu Campos de Queirós (também fi nalista do Prêmio Jabuti). Em 2010, estreou como autor com o livro O artesão, que recebeu os prê-mios Altamente Recomendável e Os 30 Melhores Livros Infantis do Ano, da Revista Crescer, além de ter sido se-lecionado para o Catálogo de Bolonha.

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