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Artigo em que são analisadas alguns usos da fenomenologia na obra de michel foucault

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  • Intuitio ISSN 1983-4012

    Porto Alegre V.2 - No.1 Junho

    2009 pp. 38-50

    FOUCAULT, LEITOR DE HUSSERL

    FOUCAULT, LECTEUR DE HUSSERL

    Fabiano de Lemos Britto*

    _________________________________________________________________________

    ___________________________________________________________________________

    ... o poeta o co de seu tempo

    Elias Canetti

    O arquelogo um homem em risco, um pensador espreita das iminncias. Os

    caminhos abertos pela arqueologia de Michel Foucault nos ensinam menos as importantes

    lies de coisas das obras de erudio que um saber ouvir, menos a garantia de um

    fundamento ltimo e consistente do conhecer que um gosto pelos momentos quase intangveis

    em que as vozes permanecem ainda mudas, o discurso ainda no se seguiu ao gesto da ordem

    que o precede. Debruando-nos com essa inteno sobre os prprios textos de Foucault

    * Doutorando em Filosofia-UERJ Contato: [email protected]

    RESUMO: As observaes de Grard Lebrun em

    torno da leitura que Michel Foucault faz da

    fenomenologia em Les mots et les choses,

    permitem demarcar amplamente a importncia do pensamento de Husserl em sua trajetria filosfica.

    Importncia que se apresenta duplamente: como

    questionamento em relao s pretenses do

    projeto fenomenolgico que se constituiu no limiar

    do sculo XX, e como tentativa de demarcar o

    espao dessa fenomenologia em relao

    modernidade e Aufklrung, que seria sua aurora.

    Conseqentemente, ao se posicionar em relao a

    Husserl, Foucault nos permitiria entrever os

    propsitos e os procedimentos de seu prprio

    projeto filosfico.

    PALAVRAS-CHAVE: Foucault. Husserl.

    Fenomenologia. Arqueologia do saber.

    RESUM: Les observations de Grad Lebrun

    au tour de la lecture qui Michel Foucault donne

    de la phnomenologie dans Les mots et les

    choses nous permettent de cerner largement limportance de la pense de Husserl dans sa trajectoire philosophique. Importance qui se

    present doublement : comme questionnement

    sur les pretensions du projet phnomnologique

    qui sest constitu au seuil du XXme sicle, e comme essai pour cerner lespace propre de cette phnomnologie en rapport avec la

    modernit et avec lAufklrung, qui serait son aube. Par consquent, en se positionnant par

    rapport Husserl, Foucault nous permettrait

    dentrevoir les desseins et la dmarche de son projet philosophique lui-mme.

    MOTS-CLS: Foucault. Husserl.

    Phnomenologie. Archologie du savoir.

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    impe-se, ento um cuidado: preciso que nos ponhamos a ouvir os vetores silenciosos que

    atravessam, muitas vezes, decisivamente, esses escritos. preciso no nos contentarmos com

    as associaes fceis, as classificaes confortveis, as evidncias reconciliadoras. Escavar o

    solo das certezas essa a funo, e talvez o jogo, do arquelogo.

    Compreender as consonncias das pesquisas de Foucault com o pensamento de

    Nietzsche, Artaud, Bataille e Deleuze, por exemplo, constitui certamente um passo importante

    rumo ao projeto geral da arqueologia-genealogia. no seu rastro que encontramos sempre a

    mesma presena do perigo, as mesmas proximidades com a violncia. Mas, se por um lado, o

    prprio Foucault no cansou de ressaltar a importncia desses pensadores em sua trajetria,

    por outro, no podemos assumir que seu trabalho tenha se desenhado somente a partir dessas

    afinidades isso seria compromet-lo com uma ingenuidade que certamente no a sua, e

    deixar seu texto cair na armadilha festiva de figuras como um Foucault nietzscheano.

    As descries arqueolgico-genealogicas de Foucault encontram tambm outros eixos

    na presena de filosofias menos bvias. Assim, a problematizao explcita da crtica kantiana

    em seus ltimos textos1 indica a pertinncia de um questionamento sobre Kant que atravessa

    todo seu percurso filosfico, e que lana, inclusive, novas luzes sobre esse percurso. Se,

    portanto, abrirmos mo de definir o pensamento de Foucault exclusivamente a partir de suas

    afinidades, um novo campo se abre e redimensiona os problemas de livros como As Palavras

    e as Coisas. nesse campo que encontramos a fenomenologia de Edmund Husserl.

    De fato, assim como o dilogo com a filosofia crtica atravessa os diversos momentos

    das pesquisas da arqueologia, tambm os problemas levantados pela fenomenologia

    representada por Foucault, prioritariamente, na obra de Husserl so retomados e analisados

    desde os primeiros textos sobre psicologia das dcadas de 50 e 60, at os artigos sobre a

    Aufklrung e a Crtica, dos anos 70 e 80. Na verdade, encontramos j no primeiro texto

    publicado por Foucault uma introduo a sua prpria traduo do texto Sonho e existncia,

    de Binswanger, em 1954 uma anlise da primeira e da sexta investigao das Investigaes

    Lgicas de Husserl. Nos ltimos anos de vida, seu interesse se voltou para as questes

    erguidas em A crise das cincias europias e a fenomenologia transcendental, e outros textos

    afins. Contido, diferentemente do caso de Kant, no podemos apontar nenhum texto em que

    1 Notadamente em Quest-ce que la Critique? [Critique et Aufklrung], de 1978, e nos dois textos intitulados Quest-ce que les Lumires?, ambos de 1984.

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    Foucault trate especificamente da fenomenologia, o que nos entrega a um trabalho mais

    cuidadoso de descobrir uma leitura l mesmo nas mltiplas formas que impe sua disperso.

    Perteno a uma gerao cujo horizonte da reflexo era definido por Husserl, de uma

    maneira geral, mais precisamente Sartre, e mais precisamente ainda, Merleau-Ponty2, lembra

    Foucault em 1968, ano em que os intelectuais foram chamados a assumir suas filiaes. De

    fato, os cursos pronunciados por Merleau-Ponty na cole Normale entre 1947 e 1952 foram

    assiduamente acompanhados por Foucault. Pode-se dizer mesmo que a leitura que Foucault

    faz de Husserl , em grande parte, devedora da leitura de Merleau-Ponty como, por

    exemplo, nas aulas do ano letivo de 1951-1952 sobre as cincias do homem.3

    Ao analisar a posio de Foucault diante da fenomenologia husserliana em As Palavras e as

    Coisas, Grard Lebrun nos aponta essa divisa: como se observou, As Palavras e as Coisas

    visam corretamente o pensamento de Merleau-Ponty, mas o autor parece assumir que

    Merleau-Ponty exprime a verdade de Husserl o que , sabemos, muito discutvel.4

    Independente dessas objees, absolutamente pertinentes, o essencial na leitura de Foucault

    reside em outro lugar. Essa leitura, enquanto Foucault no tem a pretenso de se

    autoproclamar especialista em Husserl, no constitui exatamente uma crtica aos pressupostos

    da fenomenologia, a no ser se, antes, ela vista como uma tentativa de descrever as

    condies em que esse tipo de pensamento pde surgir, e uma demarcao dos procedimentos

    da pesquisa arqueolgica frente aos mtodos da fenomenologia em geral. Assim, Lebrun

    continua sua anlise indicando trs teses que o texto de As Palavras e as Coisas deixariam

    depreender em torno da fenomenologia de Husserl. Essas trs teses explicitadas por Lebrun

    podem nos servir como uma espcie de guia na leitura to dispersa de Foucault. , portanto,

    nesse sentido, que as empregamos aqui, o que nos permite extrapolar os limites da anlise de

    Lebrun, considerando outros textos alm de As Palavras e as Coisas, e mesmo acrescentando

    uma quarta tese que tentaria assinalar, por fim, como a tomada de posio da arqueologia

    diante de Husserl descreve certas divisas e ajudam a determinar os motivos que atravessam o

    pensamento de Foucault enquanto projeto.

    2 DE I, 55, 667. Essa forma de citao, que utilizaremos de agora em diante, representa FOUCAULT, M. Dits et

    crits, 4 vol., Paris: Gallimard, 1994, seguido pelo volume, o nmero do texto e a pgina em que se encontra. 3 Sobre essa cronologia, cf. ERIBON, D. Michel Foucault, So Paulo: Companhia das Letras, 1989, pp. 46 e ss.

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    Primeira tese A fenomenologia no estava altura de compreender o discurso

    clssico.5

    Isso sob dois aspectos que se reportam, ambos, distino metodolgica entre

    arqueologia e fenomenologia.

    Primeiramente, o que Husserl vai analisar como sendo o novo paradigma do

    racionalismo ser a mudana da forma da matemtica6, a partir da qual se funda a

    modernidade. Essa mudana, para Foucault, ser apenas o efeito de uma ruptura mais

    profunda, propriamente epistemolgica. O segundo captulo da Krisis traa os limites desse

    novo tempo. Ao conhecimento geomtrico euclidiano, orientado por um a priori que se fecha

    de modo finito7, a modernidade vai opor uma abertura irrevogvel do universo, justamente

    porque passa a conceber a idia de uma totalidade racional infinita, sistematicamente

    dominada por uma cincia racional8. Para Husserl, a aurora de nossa modernidade se anuncia

    na voz de Galileu, primeiro pensador dessa mudana, no momento em que a natureza se

    apresenta como um Universum matematizado e infinito. Por sua vez, a matematizao

    repousa sobre esse outro princpio, o da arte da medida, cuja inteno Husserl define como

    elaborar sistematicamente um mtodo de medida para a determinao objetiva das formas,

    em uma progresso constante enquanto aproximao das formas geomtricas ideais, das

    formas-limites9. A cincia moderna se institui como tal, portanto, a partir do momento em

    que encontra na natureza um ndice que a torna matematizvel, da o privilgio da medida

    entendido no como quantum relativo, mas como evidncia apodtica10. E, se Descartes foi

    o grande gnio fundador original do conjunto da filosofia moderna11, isso se deu

    precisamente por ele ter levado s ltimas conseqncias a arte da medida galileana,

    4 LEBRUN, G. Note sur la phenomenologie dans Les mots et les choses in Michel Foucaut philosophe: Rencontre internationale. Paris 9, 10 11 janvier 1998, Paris: ditions du Seuil, 1989., pp. 44-45. 5 LEBRUN, G. Note sur la phenomenologie dans Les mots et les choses in Michel Foucaut philosophe: Rencontre internationale. Paris 9, 10 11 janvier 1998, Paris: ditions du Seuil, 1989, p. 34. 6 HUSSERL, E. La crise des sciences europennes et la phnomenologie transcendentale, Paris: Gallimard,

    1976, 8, p. 25. Citada de agora em diante como Krisis,. 7 Krisis, 8, p. 26. 8 Krisis. 9 Krisis, 9b, p. 33. 10 Krisis, 17, p. 88. 11 Krisis, 16, p. 85.

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    projetando uma filosofia enquanto matemtica universal12, cujo ndice ou medida se

    encontrava na certeza do cogito.

    O afastamento dessa leitura em As Palavras e as Coisas exemplar. Apoiando-se no

    texto das Regras para a orientao do esprito, de Descartes, Foucault pretende mostrar que o

    discurso cartesiano s deriva o predomnio do matematizvel nas cincias como conseqncia

    de uma ruptura epistemolgica que o antecede, que mesmo sua condio. A mathesis

    universalis cuja inveno Husserl atribui a Descartes e a Galileu como fundadores de uma

    poca, indentificando-a ao calculvel, Foucault compreende como o modo geral da ordem do

    pensamento na poca clssica ainda em recuo em relao modernidade que tambm no

    se reduz medida, mas uma nova relao com a ordem, no sentido especfico em que se

    desdobra como srie. As Regras de Descartes tm, em As Palavras e as Coisas, a funo

    estratgica de demonstrar como todo o discurso clssico est condicionado por esse projeto de

    uma cincia geral da ordem, entendida como expresso no-quantitativa da srie13

    . Ora, o que

    Descartes nos diz na Regra VI pode ser indicado como o princpio dessa leitura de Foucault

    que ultrapassa o prprio texto:

    Para distinguir as coisas mais simples das mais complexas e prosseguir

    ordenadamente na investigao, necessrio, em cada srie de coisas em que

    diretamente deduzimos algumas verdades umas das outras, notar o que mais

    simples e como todo o resto dele est, mais ou menos, ou igualmente

    afastado14.

    E, mais adiante, na Regra XIV: a dificuldade, que se relacionava com o problema da

    medida, depende apenas da ordem15. Se a ordem do cogito era o passo fundador do mtodo

    cartesiano, por sua vez, todo seu proceder, seu desdobramento, s possvel com o

    estabelecimento dessa srie. A verdade do mundo no se revela imediatamente matemtica. O

    que Descartes pretende a ordem, a mathesis universalis no sentido amplo, ou, como

    esclarece Michelle Beyssade, extrair da matemtica ordinria um mtodo totalmente puro,

    separado da sua aplicao s figuras e aos nmeros que so seu revestimento16. No o

    clculo ou a medida, mas a srie e a Ordem que, ao entrarem no campo epistemolgico,

    anunciam a nova poca que, para Husserl, j era a modernidade, e para Foucault ainda

    12 Krisis, 16, p. 85. 13 Cf. FOUCAULT, M. Les mots et les choses, Paris: Gallimard, 1966, pp. 64-72. 14 DESCARTES, R. Regras para a orientao do esprito, Lisboa: Edies 70, 1989, VI, p. 33. 15 DESCARTES, R. Regras para a orientao do esprito, Lisboa: Edies 70, 1989, XIV, p. 102. 16 BEYSSADE, M. Descartes, Lisboa: Edies 70, 1986, p. 26.

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    tratava-se da poca clssica. A fenomenologia, sempre na busca pelo momento originrio,

    assumiu como fundamento da modernidade o cogito que fundava o mtodo, e ignorou que era

    a partir do procedimento desse ltimo que todo o discurso clssico se produziu. Dissemos

    todo o discurso clssico, e aqui chegamos ao segundo aspecto que separa As Palavras e as

    Coisas e a Krisis.

    Ao longo de todo seu texto, Husserl ocasionalmente aponta personalidades que teriam

    sobre sua cultura uma influncia incomparvel, como fundadores, predecessores,

    antecipadores: os gnios originais de Galileu, Descartes, Kant, por exemplo. Como se observa

    no pargrafo 16:

    As idias da nova matemtica, as da nova cincia da natureza, da nova

    filosofia, estavam no caso que esto, geralmente, todas as idias que

    conhecem grande desenvolvimento: tais idias vivem na conscincia das

    personalidades que funcionam como portadoras-do-desenvolvimento, segundo modalidades noticas muito diversas. s vezes se desenvolvem

    como instinto, sem que essas pessoas sejam minimamente capazes de se dar

    conta daquilo a que tendem; s vezes, elas se desenvolvem como resultado de

    uma observao mais ou menos clara; s vezes elas aparecem como

    objetivos, definidos concretamente ou no, e que, eventualmente, podem se

    transformar pela renovao da reflexo em objetivos sempre mais precisos17.

    Esse procedimento , contudo, absolutamente estranho arqueologia de Foucault.

    Preocupada em descrever as condies epistemolgicas de emergncia e de funcionamento de

    positividades determinadas dentro de uma cultura, a arqueologia entende tanto Galileu e

    Descartes quanto Kant, Hegel, Nietzsche, e mesmo a si prpria, como parte de um sistema

    geral de pensamento. A mathesis universalis no exclusividade, e muito menos inveno da

    obra cartesiana; , antes, um fenmeno geral da cultura do sculo XVIII mais geral que a

    fortuna singular do cartesianismo18. A poca clssica se circunscreve mais amplamente por

    essa tentativa incansvel de se atingir uma cincia rigorosa da ordem; e, nesse espao ento

    demarcado, encontramos o surgimento de empiricidades, que nada, ou quase nada,

    apresentam de estritamente matemtico. A srie, na anlise de Foucault, o que ocupa

    fundamentalmente o espao clssico. Pode ser identificada nas elaboraes da Gramtica de

    Port-Royal que visavam a uma taxonomia universal; implica, igualmente, a exigncia de uma

    continuidade da natureza por toda a Histria Natural. Tal leitura s possvel porque a

    arqueologia substitui o privilgio da personalidade pelo conceito de a priori histrico, a que

    17 Krisis, 16, pp. 85-86. 18 FOUCAULT, M. Les mots et les choses, Paris: Gallimard, 1966, p. 71.

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    Lebrun denomina parafenomenolgico19, e que aparece em Arqueologia do saber como

    condio da realidade para enunciados20, um modo de ser prprio de um determinada

    cultura, que condiciona o aparecimento dos discursos.

    Segunda tese A fenomenologia no estava altura de render justia a Kant21.

    Seguindo de perto o estudo de Lebrun podemos dizer de uma maneira certamente

    consonante com o trabalho de Foucault que render justia a Kant significa encontrar no a

    originalidade de sua obra, mas a maneira singular pela qual essa obra pde articular e

    expressar uma mudana epistemolgica maior, sob a qual se subsumia. Sem perdermos de

    vista as mltiplas e complexas leituras que Foucault faz de Kant em suas pesquisas, podemos

    afirmar, esquematicamente, que, para a arqueologia, a filosofia kantiana representa um papel

    duplo diante da modernidade: inaugura uma nova ordem do pensamento, na medida em que

    exprime, pela primeira vez, o problema da condio de emergncia do sujeito como duplo

    emprico-transcendental, e, ao mesmo tempo, investe a reflexo filosfico com a tarefa

    infinita de se voltar sobre si mesma, de proceder conforme a divisa da Aufklrung, o sapere

    aude, a coragem da crtica22

    . Encontramos na crtica kantiana os dois eixos em torno dos quais

    a modernidade no pde deixar de girar de um lado, a questo das condies de um

    conhecimento verdadeiro, uma analtica da verdade23; de outro, uma atitude, um ethos

    filosfico originrio desse acontecimento que foi a Aufklrung, uma ontologia crtica de ns

    mesmos e de nossa atualidade. Desse modo, uma longa tradio que se seguiu a Kant, e que

    se ressentiu da irrecupervel ciso entre natureza e liberdade que o kantismo promoveu, no

    se afastou tanto assim deste ao produzir outra analtica da verdade, porque, por outro lado, de

    Hegel a Adorno, de Fichte ao prprio Husserl, ela se inscreve numa tradio de crtica

    permanente, abrindo sempre a possibilidade de um recuo mais profundo. Mas no nos

    enganemos tentando encontrar em Kant a figura de um fundador, que no a sua. Sua

    19 LEBRUN, G. Note sur la phenomenologie dans Les mots et les choses in Michel Foucaut philosophe: Rencontre internationale. Paris 9, 10 11 janvier 1998, Paris: ditions du Seuil, 1989, p.37. 20 FOUCAULT, M. L archologie du savoir, Paris: Gallimard, 1969, p. 167. LEBRUN, G. Note sur la phenomenologie dans Les mots et les choses in Michel Foucaut philosophe: Rencontre internationale. Paris 9, 10 11 janvier 1998, Paris: ditions du Seuil, 1989, p. 34. 22 Cf. KANT, I. Resposta pergunta O que o esclarecimento? in Textos seletos, Petrpolis: Vozes, 1974, Ak 35. 23 DE IV, 351, 687.

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    filosofia a expresso de uma configurao do pensamente que, como no caso de Descartes e

    da poca clssica, o ultrapassa completamente.

    Husserl no podia admitir essa amplitude do pensamento de Kant. As relaes da

    fenomenologia com a crtica kantiana particularmente em seu desdobramento como teoria

    do conhecimento so, de fato, tambm muito complexas para serem esgotadas aqui. O que,

    contudo, certamente se pode apreender da leitura da Krisis a responsabilidade que Husserl

    atribui a Kant na perpetuao e na radicalizao daquilo que denomina o erro do objetivismo.

    Erro que, inclusive, tem sua origem ainda mais recuada em Descartes, no interesse que

    Descartes tem, em primeiro lugar, quanto ao objetivismo24. Tanto as Meditaes cartesianas

    quanto a Crtica da Razo Pura assumiram prontamente a existncia de um mundo exterior

    ao ego, erro que a raiz da crise da cincia e da humanidade europias. Kant est

    completamente certo de que sua filosofia conduz runa do racionalismo dominante, lembra

    Husserl. Entretanto, essa runa no se faz at as ltimas conseqncias, uma vez que ele

    assume, tal qual Descartes, a evidncia de um mundo no qual o ego viria se instalar, deixando

    de lado um solo de pressuposies inquestionadas25. Poderamos afirmar que, em Husserl,

    Kant encontra um privilgio negativo: ele perpetua um erro cartesiano que se alastra por toda

    a modernidade. Em certa medida, e a partir de um dado momento, esse erro vai servir mesmo

    como parmetro de uma modernidade degradada, imersa na crise por ter se desviado do

    projeto de investigao subjetiva da razo. interessante notar que, desse modo, se a

    Aufklrung significou para Foucault, com Kant, um momento fundamental na constituio

    positiva de nossa modernidade, para Husserl, ela marca um ponto de inflexo na trajetria do

    pensamento moderno em que a forma evolutiva que tomou a ratio como racionalismo

    degredou em uma aberrao, embora uma aberrao compreensvel26.

    Terceira tese A fenomenologia acreditava ser a retomada de um projeto muito antigo,

    embora fosse apenas a filha de seu tempo27.

    O projeto cartesiano no pde ser levado adiante porque aquilo que nele havia de erro

    no foi superado, ou, antes, foi radicalizado. A razo se tornou uma aberrao ao assumir

    24 Krisis, 19, p.94. 25 Krisis, 28, p. 118. 26 HUSSERL, E. A crise da humanidade europia e a filosofia, Porto Alegre: EDIPUCRS, 2002, II, p. 84.

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    ingenuamente pressupostos, ao ignorar a verdade egolgica, de que o mundo circundante

    (Umwelt) tem seu lugar exclusivamente na esfera espiritual28, e que, portanto, no pode ter

    uma independncia evidente. Foi o alastramento dessa crena objetivista que instaurou a crise.

    A fenomenologia de Husserl se atribui, com esse diagnstico, uma funo assumidamente

    herica: somente ela capaz de se liberar de pressupostos objetivistas escamoteados29 ou

    promover o renascimento da Europa a partir do esprito da filosofia, mediante um herosmo

    da razo que triunfe definitivamente sobre o naturalismo30

    . A fenomenologia transcendental

    deveria ser, tal qual o hegelianismo pretendera um sculo antes, a sada e a redeno da

    Europa cansada. Para tanto, era preciso se impor como tarefa o reencontro com o cogito de

    Descartes, em seu momento puramente subjetivo ou espiritual, reconciliado com o motivo

    transcendental em kantiano. Nota-se, portanto, a grandiosidade da misso.

    Mas talvez o intumescido herosmo de Husserl deixe na sombra os elos que o unem ao

    seu tempo e as lacunas de um sistema com tantas pretenses. A arqueologia de Foucault no

    se ocupa de apontar os erros de um sistema de pensamento, mas Lebrun nos chama a ateno

    para o fato de Husserl assumir, tanto quanto Kant, uma srie de pressupostos inquestionados,

    ainda que essa inquestionabilidade ganhe o estatuto de apoditicidade para a fenomenologia.

    Mas sob outros dois aspectos que a arqueologia pode identificar a pertinncia da pesquisa de

    Husserl s exigncias da pistm moderna.

    Primeiramente, e de forma bastante explcita, a fenomenologia , antes de tudo, uma

    crtica. se encontra, portanto, nos limites desse ethos moderno que ousa saber, como pedia a

    Aufklrung. Mas sua filiao nesse sentido tambm se d somente na medida em que se abre

    um novo campo epistemolgico geral, justamente a partir do deslocamento operado pela

    crtica kantiana entre o saber emprico e a reflexo filosfica. continuidade unificadora de

    uma mathesis universalis da poca clssica, a modernidade ope o problema das relaes

    entre o campo formal e o campo transcendental (...), entre o domnio da empiricidade e o

    fundamento transcendental do conhecimento.31. Somente dada essa ruptura que a

    modernidade pode proceder por um movimento de recuo em relao ao real, rumo aos

    princpios que pem em questo a prpria possibilidade da cincia. Esse movimento ,

    27 LEBRUN, G. Note sur la phenomenologie dans Les mots et les choses in Michel Foucaut philosophe: Rencontre internationale. Paris 9, 10 11 janvier 1998, Paris: ditions du Seuil, 1989, p.34. 28 HUSSERL, E. A crise da humanidade europia e a filosofia, Porto Alegre: EDIPUCRS, 2002, I, p. 68. 29 Krisis, 73, p. 301. 30 HUSSERL, E. A crise da humanidade europia e a filosofia, Porto Alegre: EDIPUCRS, 2002, III, p. 96. 31 FOUCAULT, M. Les mots et les choses, Paris: Gallimard, 1966, p. 260.

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    segundo Foucault, impensvel na poca clssica, quando o saber unificado pela exigncia

    geral da ordem e da srie tornava estranha, tanto para Descartes quanto para Leibniz, a idia

    de uma filosofia apartada da cincia, mesmo fundadora desta. Mas o projeto fenomenolgico

    de Husserl se encontra totalmente circunscrito nesse espao propriamente moderno, onde o

    emprico e o transcendental s podem estabelecer suas tensas relaes no mbito de uma

    irremedivel separao. Da lembra Foucault:

    V-se como a tarefa fenomenolgica que Husserl se colocar bem mais tarde est ligada, das mais profundas de suas possibilidades e

    impossibilidades, ao destino da filosofia ocidental tal qual foi estabelecido

    desde o sculo XIX. Ela tenta, com efeito, ancorar os direitos e os limites de

    uma lgica formal em uma reflexo de tipo transcendental, e de ligar, por

    outro lado, a subjetividade transcendental ao horizonte implcito dos

    contedos empricos, que somente ela tem a possibilidade de constituir, de manter, e de abrir a explicitaes infinitas32.

    Em segundo lugar, e ainda como conseqncia da abertura de um novo campo entre o

    emprico e o transcendental que passa a ser precisamente o campo do humano a

    fenomenologia no pode deixar de ser uma analtica da finitude. Nessa analtica Foucault

    identificar aquilo que chama de o sono antropolgico dos modernos. Se a crtica conseguiu

    despertar Kant e, com seus ecos, todos ns do sono dogmtico, a analtica da finitude

    humana fez o pensamento adormecer sob o peso da Antropologia. Na ansiedade pouco

    disfarvel de responder pergunta kantiana O que o homem?33, ns, modernos,

    encontramos nossa finitude e a exigncia j no mais kantiana de fazer convergir o

    emprico e o transcendental:

    A configurao antropolgica da filosofia moderna consiste em duplicar o dogmatismo, em reparti-lo em dois nveis diferentes que se apiam um sobre

    o outro se limitam um pelo outro: a anlise pr-crtica do que o homem em

    sua essncia se torna a analtica de tudo o que pode se dar em geral

    experincia do homem34.

    Assim, apesar de todo o interesse que Husserl depositou em temas metafsicos, em

    suas anlises da intencionalidade da conscincia que Foucault resgatar esse motivo to caro a

    ns desde Kant, que o da analtica da finitude do homem. A fenomenologia transcendental

    encontra-se, portanto, muito aqum do horizonte independente que desenhou para si mesma.

    32 FOUCAULT, M. Les mots et les choses, Paris: Gallimard, 1966, p. 261. 33 KANT, I. Lgica, Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 1992, Ak 25. 34 FOUCAULT, M. Les mots et les choses, Paris: Gallimard, 1966, p. 352.

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    Encontra-se, pelo contrrio, em um solo que, a gosto ou contragosto, no pode mais lev-la a

    Descartes, mas a faz encontrar Kant. H, em As Palavras e as Coisas, toda uma tentativa de

    fazer ver que a fenomenologia, com toda a crtica ao psicologismo e ao objetivismo, articula

    certos pressupostos insondados que a ligam incontornavelmente a uma tradio que se

    inaugura com Kant. Esse lao to firmemente amarrado pode ser lido atravs da anlise do

    vivido em Husserl, que nada mais faz que reintegrar o tema da finitude na anlise

    fenomenolgica.

    * * *

    Ora, as trs teses de Lebrun nos ajudam a retraar, entre as distines metodolgicas

    entre a arqueologia e a fenomenologia a leitura que Foucault faz de Husserl. Lebrun nos

    fornece, assim, uma base para determinar at que ponto o projeto geral das pesquisas de

    Foucault se impe tambm como uma resposta ao projeto geral da fenomenologia. Lanamos,

    assim, uma quarta e ltima tese, dessa vez mais ampla.

    Quarta tese A descrio arqueolgico-genealogica que Foucault faz do sujeito

    comporta, entre outros tantos elementos, um afastamento da questo do sentido

    conforme abordada na fenomenologia.

    Em diversos textos, principalmente dos ltimos anos de sua vida, Foucault afirma que

    todo o conjunto de suas pesquisas se orientam a partir da tentativa de empreender uma

    genealogia do sujeito.35

    A preocupao central dessa genealogia seria instituir a possibilidade

    de abordar seu objeto de um modo distinto daquele que os sistemas filosficos at ento o

    fizeram. Para isso, Foucault dedicou grande parte de sua pesquisa ao estude desses sistemas

    a j mencionada avidez com que acompanhava os cursos de Merleau-Ponty sobre Husserl

    assinala bem esse interesse. Durante sua formao acadmica, as grandes alternativas para se

    pensar o problema do sujeito e, por conseqncia, o do homem eram a recente

    epistemologia francesa (Bachelard, Canguilhem), o existencialismo (Sartre, Heidegger) e a

    fenomenologia (Husserl). O que todos esses sistemas traziam em comum era a apreenso

    crtica da questo do sentido; questo que, na conferncia pronunciada em maio de 1978

    35 Cf., por exemplo, DE IV, 306, 222 e DE IV, 356, 708.

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    diante da Sociedade Francesa de Filosofia, que recebeu o ttulo Qu est-ce que la critique?,

    Foucault afirma ter sido a via de acesso da atitude filosfica da Aufklrung na Frana:

    (...) da fenomenologia, e dos problemas colocados por ela, que nos chegou a questo sobre o que a Aufklrung. Ela nos chegou, com efeito, a partir da

    questo do sentido e do que pode constituir o sentido (...). No podemos

    esquecer que A Nusea [de Sartre] quase um ms contempornea da

    Krisis.36

    No caso da fenomenologia, o sentido, ao ser englobado pelos mecanismos egolgicos

    da conscincia, acaba por trazer o sujeito para o campo da analtica da finitude, como j

    apontamos, o apaziguaria no sono antropolgico. O problema que se coloca para a descrio

    arqueolgico-genealogica do sujeito bem outro. Em 1954, o primeiro texto publicado de

    Foucault uma introduo sua traduo de Sonho e existncia, de Bisnwanger j

    anunciava um afastamento:

    a fenomenologia pretendeu falar as imagens, mas ela no deu a ningum a possibilidade de empreender sua linguagem. Pode-se definir, sem muito risco

    de erro, esse problema como um dos temas maiores da anlise existencial.37

    Husserl teria, portanto, falhado, se quisesse instituir um sistema significante, j que

    oscilava entre a anlise do vivido e a busca de um sujeito fundador. L onde Husserl insist ia

    para que agussemos os ouvidos no escutvamos nada alm de nossas prprias vozes. Esse

    sistema de significantes o avesso de uma pesquisa sobre o sujeito, e para ele que se volta o

    trabalho de Foucault. Como alternativa para a questo do sentido, conforme a apreendera o

    horizonte filosfico do ps-guerra, Foucault prope outro trabalho, que, em um manuscrito

    indito, citado por Frderic Gros em sua apresentao da edio de A hermenutica do sujeito,

    curso que Foucault pronunciara no Collge de France em 1982, descrita como a tentativa de

    recolocar o sujeito no domnio histrico das prticas e dos processos no qual ele no cessou

    de se transformar.38 E Foucault, adiante, nesse mesmo manuscrito, se posiciona mais

    claramente:

    por esse caminho que segui. Afirmo, portanto, com a necessria clareza, que no sou um estruturalista, e, com a

    36 FOUCAULT, M. Qu est-ce que la critique? [Critique et Aufklrung] in Bulletin de la Societ Franaise de Philosopphie, 84e anne, juin 1990. 37 DE I, 1, 79. 38 Manuscrito indito, citado por GROS, F. Situao do curso in FOUCAULT, M. A Hermenutica do sujeito, So Paulo: Martins Fontes, 2004, p. 636.

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    devida vergonha, que tambm no sou um filsofo analtico.

    Nobody is perfect. Assim, procurei explorar o que poderia ser uma genealogia do sujeito, mesmo sabendo que os historiadores

    preferem a histria dos objetos, e que os filsofos preferem o

    sujeito sem histria. O que no me impede de me sentir em

    parentesco emprico com o que chamamos de historiadores das

    mentalidades, e em dvida terica para com um filsofo como Nietzsche, que colocou a questo da historicidade do sujeito.

    (...) tratava-se, tambm, de substituir o princpio de

    transcendncia do ego pelas formas da imanncia do sujeito.39

    Husserl serve de limite externo para Foucault, que dever se impor uma tarefa

    diametralmente oposta da fenomenologia: dessubjetivar o sujeito. Essa tarefa, certamente,

    nos remete a Artaud, a Bataille, a Nietzsche, a Blanchot e a Barthes, mas ela no poderia ser

    empreendida se antes um domnio no se anunciasse como problemtico. Domnio onde

    encontramos Kant, Heidegger e Husserl. O campo de trabalho da arqueologia, do mesmo

    modo que no pode ser resumido no empobrecido esquema das fases, tambm no admite

    qualquer partidarismo fcil, por mais tentados que fiquemos a cair nesse outro sono, talvez

    definitivamente.

    Referncias

    BEYSSADE, M. Descartes, Lisboa: Edies 70, 1986.

    DESCARTES, R. Regras para a direco do esprito, Lisboa: Edies 70, 1989.

    ERIBON, D. Michel Foucault, So Paulo: Companhia das Letras, 1989.

    FOUCAULT, M. A Hermenutica do sujeito, So Paulo: Martins Fontes, 2004.

    ______________, Dits et crits, 4 vol., Paris: Gallimard, 1994.

    ______________, L archologie du savoir, Paris: Gallimard, 1969.

    ______________, Les mots et les choses, Paris: Gallimard, 1966.

    ______________,Quest-ce que la critique? [Critique et Aufklrung] in Bulletin de la Societ Franaise de philosophie, 84e. anne, juin, 1990.

    HUSSERL, E. A crise da humanidade europia e a filosofia, Porto Alegre: EDIPUCRS, 2002.

    ___________, La crise des sciences europennes et la phnomenologie transcendentale, Paris: Gallimard, 1976.

    KANT, I. Lgica, Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 1992.

    _______, Resposta pergunta: O que o esclarecimento? in Textos seletos, Petrpolis: Vozes, 1974.

    LEBRUN, G. Note sur la phenomenologie dans Les mots et les choses in Michel Foucaut philosophe: Rencontre internationale. Paris 9, 10 11 janvier 1998, Paris: ditions du Seuil, 1989.

    39 Manuscrito indito, citado por GROS, F. Situao do curso in FOUCAULT, M. A Hermenutica do sujeito, So Paulo: Martins Fontes, 2004, p. 636.