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» SIMONE KAFRUNI A complexidade da legisla- ção tributária do país fa- vorece a sonegação e os abusos éticos, provoca um alto grau de judicialização e compromete a competitividade das empresas brasileiras. Com a sinalização do governo de que a reforma tributária está na pauta prioritária, o momento é propí- cio para ampliar a discussão so- bre uma simplificação dos im- postos. Essas foram as principais conclusões das autoridades e es- pecialistas que participaram, on- tem, do Correio Debate — Ética concorrencial e simplificação tri- butária, realizado no auditório do jornal, com apoio da Associa- ção Nacional das Distribuidoras de Combustíveis, Lubrificantes, Logística e Conveniência (Plural) e do Combustível Legal. A importância do seminário foi ressaltada pelo diretor-presidente do Correio, Álvaro Teixeira da Cos- ta, sobretudo por conta do mo- mento pelo qual passa o país. “Es- tamos numa encruzilhada. Ou va- mos subir como um foguete ou va- mos perder mais uma oportunida- de. Temos que fazer com que esse país avance. Existem, hoje, proble- mas graves na tributação, que pre- cisa ser simplificada”, disse. Simplificação tributária e éti- ca concorrencial são dois temas de extrema relevância para a in- dústria de combustíveis, afir- mou o presidente da Plural, Leo- nardo Gadotti. “O setor é o que mais arrecada nas 27 unidades da Federação. São R$ 150 bilhões por ano em impostos, com uma complexidade enorme, não só em nível estadual, com regras que mudam frequentemente, como também em nível federal”, assinalou. O executivo alertou para outro problema perverso provocado pela complexidade do sistema tributário: a sonega- ção. “Estudos recentes apontam que chega a R$ 7,2 bilhões só no setor de combustíveis”, revelou. Na abertura do seminário, o presidente do Superior Tribunal de Justiça (STJ), João Otávio de Noronha, destacou que a judi- cialização tributária é um mal ao Estado e que os tribunais es- tão atolados de processos ques- tionando impostos, porque a le- gislação favorece o abuso ético. O ministro explicou que, no Brasil, só é competitivo quem sonega, porque o sistema tribu- tário é muito complexo. “O so- negador tem um grau de efi- ciência maior, e nem sempre quem descumpre a norma está conscientemente inadimplen- te, porque as regras mudam o tempo todo”, afirmou. Segundo o presidente do STJ, tanto a sua Corte quanto o Su- premo Tribunal Federal (STF) têm pendências de mais de 10 anos. “Vivemos um ajuizamento excessivo. O Brasil é o país da ju- dicialização”, assinalou. “O abu- so ético pode ser do ente público em questões de tarifas ou de em- presas menos escrupulosas. E trava o país. É hora de buscar uma solução”, ressaltou. Noro- nha afirmou que é preciso mo- dernizar “o capenga sistema ju- diciário” do país. “No STJ, inves- timos em inovação, mas, num país com o espírito de alta liti- giosidade como Brasil, não há tecnologia que vença”, assina- lou. “É hora de criar uma Corte especial, para que as coisas não demorem tanto”, sugeriu. Previsibilidade O presidente do STJ ressaltou que o país passa por um mo- mento extremamente difícil. “Quando a gente pensa que vai melhorar, piora. Quando não estamos perplexos, estamos preocupados. Não consegui- mos instalar um ambiente de segurança jurídica, de previsibi- lidade, no país”, disse. Noronha declarou que até o passado é imprevisível no Brasil. “Não é brincadeira. Olhando as de- mandas na Justiça, são comuns ações discutindo planos de 15, 20 anos atrás”, revelou. Segundo ele, há 30 anos se fala em segurança jurídica e se pro- mete reforma tributária. “Temos profundas distorções tributárias, que promoveram guerras fiscais, criaram contenciosos entre esta- dos”, afirmou. Essa complexida- de tem consequências, garantiu. “Eleva o nível de litigiosidade. A tributação desproporcional e a cumulatividade levam a uma rea- ção por parte do contribuinte, que busca a todo instante discu- tir a redução dessa carga tributá- ria na Justiça”, destacou. Porém, de acordo com Noro- nha, não é a Justiça a sede para es- sa negociação. “A reforma tributá- ria é necessária. E a casa adequa- da para essa discussão é o Con- gresso Nacional”, orientou. “Fala- mos em eficiência. É hora de criar no Brasil, como já se criou na Eu- ropa, um imposto de valor agrega- do, com base ampla de bens e ser- viços. Com crédito abrangente, uma única alíquota”, defendeu. C M Y K C M Y K 10 Economia • Brasília, quinta-feira, 22 de agosto de 2019 • CORREIO BRAZILIENSE Simples, correto e urgente SEMINÁRIO / A receita de autoridades e especialistas para o crescimento passa pela discussão dos impostos. Essa foi uma das conclusões do C C o o r r r r e e i i o o Debate — Ética concorrencial e simplificação tributária . Sonegação e judicialização estiveram em pauta A tributação desproporcional e a cumulatividade levam a uma reação por parte do contribuinte, que busca a todo instante discutir a redução dessa carga tributária na Justiça” João Otávio de Noronha, presidente do Superior Tribunal de Justiça Existe uma percepção equivocada, segundo a qual mais concorrência significa mais gente no mercado, o que não é uma verdade absoluta” César Mattos, secretário de Advocacia da Concorrência e Competitividade do Ministério da Economia A boa concorrência » CLÁUDIA DIANNI » CATARINA LOIOLA* Um ambiente econômico com boa concorrência não precisa de diversos atores, na avaliação do secretário de Advocacia da Con- corrência e Competitividade do Ministério da Economia, César Mattos. Ele detalhou a conexão entre concorrência e sonegação de impostos, durante o painel PLS 284: O devedor contumaz e os im- pactos da sonegação de impostos. “Existe uma percepção equivo- cada, segundo a qual mais con- corrência significa mais gente no mercado, o que não é uma verda- de absoluta. Dependendo de quem são as pessoas e por que elas estão ganhando o jogo con- correncial, tem, na verdade, um efeito oposto”, disse. De acordo com o secretário, a concorrência é um processo de se- leção dos mais eficientes e produ- tivos. No entanto, se o negócio está crescendo às custas da sonegação de impostos, o efeito na economia é negativo, pois frauda o mecanis- mo concorrencial. “Se a redução de custos é por não pagar impos- tos, mas outro está pagando, isso gera uma distorção”, afirmou. Segundo Mattos, o objetivo do governo é buscar o equilíbrio entre os agentes, e não arrecadar mais impostos. Ele defendeu os proje- tos de lei em tramitação no Sena- do, que dispõem sobre tributação e equilíbrio da concorrência. O PL 284/2017, proposto pela senadora Ana Amélia (PP-RS), e de relatoria do senador Rodrigo Pacheco (DEM-RO), regulamenta a Consti- tuição para prever critérios espe- ciais de tributação com o objetivo de prevenir desequilíbrios concor- renciais. Já o PL 423/17, relatado pelo senador Fernando Bezerra (MDB-PE), altera o Código Penal e a Lei de Crimes Contra a Ordem Tributária e se refere a mudanças de regras do pagamento e do par- celamento do crédito tributário. “Os projetos são importantes, mas precisamos de outras coisas, como a reforma tributária, pois quanto mais complexa e alta for a carga tributária, maior será o incentivo para a sonegação”. * Estagiária sob a supervisão de Leonardo Meireles O que não se quer é mais litigiosidade. O que se quer são normas claras, que vão ser cumpridas e que têm respaldo judicial” Hugo Funaro, advogado tributarista Os tipos de devedores » MARIA EDUARDA CARDIM A solução para reduzir a excessi- va judicialização de matérias tribu- tárias e combater a figura do deve- dor contumaz passam pela identi- ficaçãocorretadostiposdeinadim- plentes, defendeu o advogado tri- butarista Hugo Funaro. “O que não se quer é mais litigiosidade. O que se quer são normas claras, que vão ser cumpridas e que têm respaldo judicial. Então, é preciso se levar em consideração que há diferentes tipos de devedores”, indicou. Funaro apontou três tipos de inadimplentes: o eventual, o reite- rado e o contumaz. O devedor eventual é aquele que, vez ou ou- tra, não recolhe tributos, por es- quecimento ou outro motivo. “Qualquer um que se esquece de pagar Imposto de Renda e paga em atraso, poderá ser considerado um devedor eventual”, explicou. Já o reiterado não paga o tri- buto por um certo tempo, mas não o faz para empreender. “Muitas vezes, esse devedor não paga por causa da dificuldade de determinado momento eco- nômico, no qual precisa esco- lher entre os tributos ou pagar os funcionários”, afirmou. Por último, o devedor contumaz é quem possui uma inadimplên- cia substancial, reiterada e in- justificada. “São empresas que fazem da falta de pagamento do tributo o próprio objetivo social”, ressaltou. O advogado explicou que ca- da um precisa ser autuado de forma específica. O devedor rei- terado precisa ser cobrado com critérios especiais de tributação, enquanto o contumaz precisa ser impedido de atuar no merca- do. “O projeto de lei do Senado 284 prevê isso com critérios”, sustentou. O PLS 284/2017 sur- giu justamente da necessidade da regulamentação que caracte- riza os devedores contumazes. A população sente o impacto, pois a verba sonegada financiaria iniciativas do Estado” Fernando César Ganzer, gerente de combustíveis da Receita Estadual de Goiás O mal da sonegação » LUIZ CALGANO O devedor contumaz é um de- safio para a administração tribu- tária, porque usa o dinheiro do poder público para crescer artifi- cialmente. A afirmação é do ge- rente de combustíveis da Receita Estadual da Secretaria de Estado de Goiás, Fernando César Ganzer. Segundo ele, com a sonegação de impostos, o contumaz causa pre- juízos não só ao governo. “A po- pulação sente o impacto, pois a verba sonegada financiaria inicia- tivas do Estado”, disse. O cliente também é prejudi- cado, pois o devedor contumaz cobra de seus fregueses o valor do imposto sobre o produto. So- bretudo, quem atua assim pro- move uma concorrência desleal, comprometendo a livre iniciati- va e o mercado, uma vez que os empresários que cumprem com as obrigações tributárias per- dem competitividade. Ganzer também defendeu a aprovação do Projeto de Lei do Senado (PLS) 284/2017 como uma forma de fortalecer o combate à prática de sonega- ção contumaz de impostos, pois prevê, em último caso, a cassação do estabelecimento e a suspensão das atividades. “Em Goiás, nós temos uma lei estadual para combater essas ações. É considerado devedor contumaz o contribuinte que não pagar por quatro meses seguidos ou oito meses inter- calados”, explicou. O gerente destacou, no en- tanto, que o PLS não anularia a legislação goiana. “Esse projeto nos fortalece um arcabouço ju- rídico mais robusto para a ad- ministração tributária. Faremos melhor o que já estamos fazen- do. Um fato delicado, por exem- plo, é justamente a suspensão ou cassação do estabelecimen- to”, exemplificou. Presidente da Plural, Leonardo Gadotti aponta a relevância da simplificação tributária e da ética concorrencial João Otávio de Noronha, presidente do STJ, chama a atenção para a falta de um ambiente de segurança jurídica no país Fotos: Marcelo Ferreira/CB/D.A Press

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Page 1: Fotos:MarceloFerreira/CB/D.APress SEMINÁRIO ... · 2019-08-26 · verdadeabsoluta” CésarMattos, secretário de Advocacia da Concorrência e Competitividade do Ministério da Economia

» SIMONE KAFRUNI

Acomplexidade da legisla-ção tributária do país fa-vorece a sonegação e osabusos éticos, provoca

um alto grau de judicialização ecompromete a competitividadedas empresas brasileiras. Com asinalização do governo de que areforma tributária está na pautaprioritária, o momento é propí-cio para ampliar a discussão so-bre uma simplificação dos im-postos. Essas foram as principaisconclusões das autoridades e es-pecialistas que participaram, on-tem, do Correio Debate — Éticaconcorrencial e simplificação tri-butária, realizado no auditóriodo jornal, com apoio da Associa-ção Nacional das Distribuidorasde Combustíveis, Lubrificantes,Logística e Conveniência (Plural)e do Combustível Legal.

A importância do seminário foiressaltada pelo diretor-presidentedo Correio, ÁlvaroTeixeira da Cos-ta, sobretudo por conta do mo-mento pelo qual passa o país. “Es-tamos numa encruzilhada. Ou va-mos subir como um foguete ou va-mos perder mais uma oportunida-de. Temos que fazer com que essepaís avance. Existem, hoje, proble-mas graves na tributação, que pre-cisa ser simplificada”, disse.

Simplificação tributária e éti-ca concorrencial são dois temasde extrema relevância para a in-dústria de combustíveis, afir-mou o presidente da Plural, Leo-nardo Gadotti. “O setor é o quemais arrecada nas 27 unidadesda Federação. São R$ 150 bilhõespor ano em impostos, com umacomplexidade enorme, não sóem nível estadual, com regrasque mudam frequentemente,como também em nível federal”,assinalou. O executivo alertoupara outro problema perversoprovocado pela complexidadedo sistema tributário: a sonega-ção. “Estudos recentes apontamque chega a R$ 7,2 bilhões só nosetor de combustíveis”, revelou.

Na abertura do seminário, opresidente do Superior Tribunalde Justiça (STJ), João Otávio deNoronha, destacou que a judi-cialização tributária é um malao Estado e que os tribunais es-tão atolados de processos ques-tionando impostos, porque a le-gislação favorece o abuso ético.O ministro explicou que, noBrasil, só é competitivo quemsonega, porque o sistema tribu-tário é muito complexo. “O so-negador tem um grau de efi-ciência maior, e nem semprequem descumpre a norma estáconscientemente inadimplen-te, porque as regras mudam otempo todo”, afirmou.

Segundo o presidente do STJ,tanto a sua Corte quanto o Su-premo Tribunal Federal (STF)têm pendências de mais de 10anos. “Vivemos um ajuizamentoexcessivo. O Brasil é o país da ju-dicialização”, assinalou. “O abu-so ético pode ser do ente públicoem questões de tarifas ou de em-presas menos escrupulosas. Etrava o país. É hora de buscar

uma solução”, ressaltou. Noro-nha afirmou que é preciso mo-dernizar “o capenga sistema ju-diciário” do país. “No STJ, inves-timos em inovação, mas, numpaís com o espírito de alta liti-giosidade como Brasil, não hátecnologia que vença”, assina-lou. “É hora de criar uma Corteespecial, para que as coisas nãodemorem tanto”, sugeriu.

PrevisibilidadeO presidente do STJ ressaltou

que o país passa por um mo-mento extremamente difícil.“Quando a gente pensa que vaimelhorar, piora. Quando nãoestamos perplexos, estamospreocupados. Não consegui-mos instalar um ambiente desegurança jurídica, de previsibi-lidade, no país”, disse. Noronhadeclarou que até o passado éimprevisível no Brasil. “Não ébrincadeira. Olhando as de-mandas na Justiça, são comunsações discutindo planos de 15,20 anos atrás”, revelou.

Segundo ele, há 30 anos se falaem segurança jurídica e se pro-mete reforma tributária. “Temosprofundas distorções tributárias,que promoveram guerras fiscais,criaram contenciosos entre esta-dos”, afirmou. Essa complexida-de tem consequências, garantiu.“Eleva o nível de litigiosidade. Atributação desproporcional e acumulatividade levam a uma rea-ção por parte do contribuinte,que busca a todo instante discu-tir a redução dessa carga tributá-ria na Justiça”, destacou.

Porém, de acordo com Noro-nha, não é a Justiça a sede para es-sa negociação. “A reforma tributá-ria é necessária. E a casa adequa-da para essa discussão é o Con-gresso Nacional”, orientou. “Fala-mos em eficiência. É hora de criarno Brasil, como já se criou na Eu-ropa, um imposto de valor agrega-do, com base ampla de bens e ser-viços. Com crédito abrangente,uma única alíquota”, defendeu.

C M Y KCMYK

10 • Economia • Brasília, quinta-feira, 22 de agosto de 2019 • CORREIO BRAZILIENSE

Simples,correto eurgente

SEMINÁRIO / A receita de autoridades e especialistas para ocrescimento passa pela discussão dos impostos. Essa foi uma dasconclusões do CCoorrrreeiioo Debate — Ética concorrencial e simplificaçãotributária. Sonegação e judicialização estiveram em pauta

A tributaçãodesproporcional ea cumulatividadelevam a umareação por partedo contribuinte,que busca a todoinstante discutira redução dessacarga tributáriana Justiça”

João Otávio de Noronha,presidente do SuperiorTribunal de Justiça

Existe uma percepçãoequivocada,segundo a qualmais concorrênciasignifica maisgente no mercado,o que não é umaverdade absoluta”

César Mattos,secretário de Advocacia daConcorrência e Competitividadedo Ministério da Economia

A boa concorrência» CLÁUDIA DIANNI» CATARINA LOIOLA*

Um ambiente econômico comboa concorrência não precisa dediversos atores, na avaliação dosecretário de Advocacia da Con-corrência e Competitividade doMinistério da Economia, CésarMattos. Ele detalhou a conexãoentre concorrência e sonegaçãode impostos, durante o painel PLS284: O devedor contumaz e os im-pactos da sonegação de impostos.

“Existe uma percepção equivo-cada, segundo a qual mais con-corrência significa mais gente nomercado, o que não é uma verda-de absoluta. Dependendo dequem são as pessoas e por queelas estão ganhando o jogo con-correncial, tem, na verdade, umefeito oposto”, disse.

De acordo com o secretário, aconcorrência é um processo de se-leção dos mais eficientes e produ-tivos. No entanto, se o negócio estácrescendo às custas da sonegaçãode impostos, o efeito na economiaé negativo, pois frauda o mecanis-mo concorrencial. “Se a reduçãode custos é por não pagar impos-

tos, mas outro está pagando, issogera uma distorção”, afirmou.

Segundo Mattos, o objetivo dogoverno é buscar o equilíbrio entreos agentes, e não arrecadar maisimpostos. Ele defendeu os proje-tos de lei em tramitação no Sena-do, que dispõem sobre tributaçãoe equilíbrio da concorrência. O PL284/2017, proposto pela senadoraAna Amélia (PP-RS), e de relatoriado senador Rodrigo Pacheco(DEM-RO), regulamenta a Consti-tuição para prever critérios espe-ciais de tributação com o objetivode prevenir desequilíbrios concor-renciais. Já o PL 423/17, relatadopelo senador Fernando Bezerra(MDB-PE), altera o Código Penal ea Lei de Crimes Contra a OrdemTributária e se refere a mudançasde regras do pagamento e do par-celamento do crédito tributário.“Os projetos são importantes, masprecisamos de outras coisas, comoa reforma tributária, pois quantomais complexa e alta for a cargatributária, maior será o incentivopara a sonegação”.

* Estagiária sob a supervisão deLeonardo Meireles

O que não se quer émais litigiosidade.O que se quer sãonormas claras, que vãoser cumpridas e quetêm respaldo judicial”

Hugo Funaro,advogado tributarista

Os tipos de devedores» MARIA EDUARDA CARDIM

Asoluçãoparareduziraexcessi-va judicialização de matérias tribu-tárias e combater a figura do deve-dor contumaz passam pela identi-ficaçãocorretadostiposdeinadim-plentes, defendeu o advogado tri-butarista Hugo Funaro.“O que nãose quer é mais litigiosidade. O quese quer são normas claras, que vãoser cumpridas e que têm respaldojudicial. Então, é preciso se levarem consideração que há diferentestipos de devedores”, indicou.

Funaro apontou três tipos deinadimplentes: o eventual, o reite-rado e o contumaz. O devedoreventual é aquele que, vez ou ou-tra, não recolhe tributos, por es-quecimento ou outro motivo.“Qualquer um que se esquece depagar Imposto de Renda e pagaem atraso, poderá ser consideradoum devedor eventual”, explicou.

Já o reiterado não paga o tri-buto por um certo tempo, mas

não o faz para empreender.“Muitas vezes, esse devedor nãopaga por causa da dificuldadede determinado momento eco-nômico, no qual precisa esco-lher entre os tributos ou pagaros funcionários”, afirmou. Porúltimo, o devedor contumaz équem possui uma inadimplên-cia substancial, reiterada e in-justificada. “São empresas quefazem da falta de pagamentodo tributo o próprio objetivosocial”, ressaltou.

O advogado explicou que ca-da um precisa ser autuado deforma específica. O devedor rei-terado precisa ser cobrado comcritérios especiais de tributação,enquanto o contumaz precisaser impedido de atuar no merca-do. “O projeto de lei do Senado284 prevê isso com critérios”,sustentou. O PLS 284/2017 sur-giu justamente da necessidadeda regulamentação que caracte-riza os devedores contumazes.

A populaçãosente o impacto,pois a verbasonegada financiariainiciativas do Estado”

Fernando César Ganzer,gerente de combustíveis daReceita Estadual de Goiás

O mal da sonegação» LUIZ CALGANO

O devedor contumaz é um de-safio para a administração tribu-tária, porque usa o dinheiro dopoder público para crescer artifi-cialmente. A afirmação é do ge-rente de combustíveis da ReceitaEstadual da Secretaria de Estadode Goiás, Fernando César Ganzer.Segundo ele, com a sonegação deimpostos, o contumaz causa pre-juízos não só ao governo. “A po-pulação sente o impacto, pois averba sonegada financiaria inicia-tivas do Estado”, disse.

O cliente também é prejudi-cado, pois o devedor contumazcobra de seus fregueses o valordo imposto sobre o produto. So-bretudo, quem atua assim pro-move uma concorrência desleal,comprometendo a livre iniciati-va e o mercado, uma vez que osempresários que cumprem comas obrigações tributárias per-dem competitividade.

Ganzer também defendeu aaprovação do Projeto de Lei doSenado (PLS) 284/2017 comouma forma de fortalecer ocombate à prática de sonega-ção contumaz de impostos,pois prevê, em último caso, acassação do estabelecimento ea suspensão das atividades.“Em Goiás, nós temos uma leiestadual para combater essasações. É considerado devedorcontumaz o contribuinte quenão pagar por quatro mesesseguidos ou oito meses inter-calados”, explicou.

O gerente destacou, no en-tanto, que o PLS não anularia alegislação goiana. “Esse projetonos fortalece um arcabouço ju-rídico mais robusto para a ad-ministração tributária. Faremosmelhor o que já estamos fazen-do. Um fato delicado, por exem-plo, é justamente a suspensãoou cassação do estabelecimen-to”, exemplificou.

Presidente da Plural, Leonardo Gadotti aponta a relevância da simplificação tributária e da ética concorrencial

João Otávio deNoronha,presidente do STJ,chama a atençãopara a falta de umambiente desegurançajurídica no país

Fotos: Marcelo Ferreira/CB/D.A Press