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C M Y K C M Y K » SÍLVIO RIBAS ENVIADO ESPECIAL I tumbiara (GO)– Quem che- ga ao próspero município de 100 mil habitantes, no sul de Goiás, não tem dúvidas da importância do campo e da agroindústria para a economia local. Os gigantescos armazéns de grãos e as imponentes usinas de açúcar e álcool abraçam toda a cidade. No comércio local, as empresas dedicadas ao agrone- gócio parecem inspiradas na pu- jança do interior paulista e no Triângulo Mineiro, mas ainda convivem com nomes nostálgi- cos, como Açougue do Careca e Alfaiataria do Bigode. É nesse cenário, em Itumbiara (GO), que o setor automotivo fin- cou recentemente uma bandei- ra, impulsionando a tendência de diversificação da indústria no interior do país. A montadora ja- ponesa Suzuki constrói, a toque de caixa, uma ampla unidade na cidade que representa o terceiro vértice do triângulo metal-mecâ- nico de Goiás, com Anápolis e Catalão. Foram investidos R$ 150 milhões na unidade, e a expecta- tiva é de que a mudança das ins- talações provisórias da fábrica para a definitiva, vizinha de gran- des indústrias de alimentos, ocorra até janeiro. Nesse meio tempo, a empresa acena com a possibilidade de compartilhar a produção do veí- culo compacto 4x4 Jimny com a fábrica da Mitsubishi em Cata- lão. As duas marcas são repre- sentadas no Brasil pelo grupo MMC, do empresário Eduardo Souza Ramos e do BTG Pactual. O primeiro lote de produção do modelo será de 250 unidades e a capacidade inicial, de 7 mil car- ros por ano, volume que poderá subir gradualmente. Procurada, a Suzuki não permitiu visita às suas instalações na cidade nem ofereceu porta-vozes, alegando compromissos operacionais. De olho na crescente procura por mão de obra qualificada e pelas oportunidades geradas pelos investimentos em amplia- ção e novas fábricas, os jovens do município procuram definir seus alvos profissionais desde cedo. São cursos práticos e obje- tivos, de seis meses em média, de segunda-feira a sábado, com cinco horas. “Escolhi o curso de redes porque é uma das opções para indústrias de ramos dife- rentes. Além disso, a formação técnica me garante inserção rá- pida no mercado profissional”, conta Eduardo Antônio de Sou- za Filho, de 17 anos. Aline Alves Fonseca, 21, e Gis- laine Cantologo, 23, colegas da turma de produção industrial de açúcar e álcool, vinculada a uma grande empresa do setor, estão interessadas em ingressar em uma atividade já consolidada na região. “Não era bem o que que- ria, mas o emprego garantido me atraiu”, diz Aline. “Como te- nho curso técnico na área pelo Instituto Federal de Goiás (IFG), queria continuar investindo ne- la. Pretendo ainda fazer enge- nharia química”, revela Gislaine. Mais salas de aula Diante da grande procura de empregadores e de candidatos a empregos garantidos nas gran- des empresas do município, boa parte multinacionais, a sede do Serviço Nacional de Aprendiza- gem da Indústria (Senai) conta- biliza 6 mil matrículas, o dobro do último ano, enquanto amplia o número de salas e convênios com empresas. “Praticamente todos os alu- nos saem daqui com emprego. Muitos começam admitidos pela indústria e vêm para cá se habilitar para a função”, conta Claiton Cândido Vieira, diretor da escola. As áreas de açúcar e álcool e manutenção de máquinas agrí- colas, além da educação de adul- tos, continuam sendo o carro- chefe da unidade, mas a indús- tria automotiva já recebeu novas salas e laboratórios. O Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico (Pronatec), do governo federal, também abriu novas frentes de treinamento e qualifi- cação, com auxílio de alimenta- ção e transporte. Para dar conta da procura, o Senai goiano investiu em três unidades móveis de solda, ma- nutenção industrial e reparos em máquinas agrícolas.“Aqui, só não trabalha quem não quer” é a frase mais ouvida em Itumbiara. Depois dos alimentos, o 4X4 Município se desenvolveu com o processamento da produção agrícola e agora integra o setor automotivo INDÚSTRIA CABOCLA/ 10/11 Economia • Brasília, domingo, 18 de agosto de 2013 • CORREIO BRAZILIENSE De olho nos aviões holandeses » SÍLVIO RIBAS ENVIADO ESPECIAL A nápolis (GO) — Os ana- polinos costumam bater no peito para ressaltar a força econômica da terra em que nasceram. Não sem mo- tivo. A riqueza que sai do municí- pio responde por 11% do Produ- to Interno Bruto (PIB) de Goiás. A cidade, que se encontra estrate- gicamente próxima de impor- tantes eixos logísticos, como a Ferrovia Norte-Sul e as rodovias federais 153 e 060, tornou-se re- ferência para o setor farmacêuti- co e entrou de vez na rota da in- dústria automotiva. Até o lançamento do Distrito Agroindustrial de Anápolis (Da- ia), em 1976, os 600 hectares ocu- pados hoje por 125 empresas, que empregam, direta e indireta- mente, mais de 16 mil pessoas, eram uma área rural. Os planos de expansão são ambiciosos. Além da montadora coreana Hyundai, hoje referência quando se fala da indústria cabocla, a cidade trabalha pesado para atrair a fabricante holandesa de aviões Rekkof Aircraft. A expectativa é de que, com a conclusão da Ferrovia Norte-Sul e da plataforma logística multi- modal, o complexo industrial ga- nhe uma nova dimensão. O pri- meiro impulso a essa área produ- tiva, em um país ainda carente de investimentos, veio em 1985, quando o governo estadual criou um programa de incentivos fis- cais e passou a explorar a locali- zação privilegiada de Anápolis. No fim dos anos 1990, foi instala- da a primeira estação aduaneira do interior (Porto Seco), que faci- litou o intercâmbio comercial. Agora, além da infraestrutura, o foco está na capacitação. Em março, o Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai) inaugurou um complexo com oficinas para ensino de costura, mecânica automotiva e informá- tica. A ampliação da unidade, voltada para o treinamento de operários da Hyundai, foi con- cluída em dezembro, ganhando uma linha simulada de produção para a montagem do Tucson. Apesar dos evidentes avanços econômicos, Anápolis não es- conde os seus contrastes. As ruas empoeiradas e a vida miserável das comunidades que vivem ao largo de grandes fábricas evi- denciam que o progresso ficou pela metade. Em frente à maior das indústrias, a Hyundai, que aportou por ali em 2007, milha- res de pessoas moram em barra- cões e são atendidas por servi- ços públicos precários. Contrastes Alguns desses cidadãos dizem esperar uma contribuição social maior das empresas, que, nos úl- timos anos, receberam expressi- vos incentivos fiscais para se ins- talarem na região. Eles são unâni- mes, porém, em apontar como grande benefício dos investimen- tos produtivos o elevado nível de ocupação da mão de obra local. “Houve, sim, avanços. Mas é pre- ciso mais”, diz o pedreiro Luís Ro- drigues da Silva, 58 anos. Luís foi atraído à cidade pelas notícias de emprego farto no polo empresarial em construção. Era 1980, e ele havia largado o cabo da enxada em Niquelândia para des- frutar da promessa de um novo el- dorado. Não se arrependeu. Hoje, INDÚSTRIA CABOCLA carros por ano é a capacidade inicial da Suzuki em Itumbiara 7 MIL Responsável por 11% do PIB do estado, cidade quer ampliar parque que já abriga fábricas de medicamentos e de carros porém, a situação do pedreiro é complicada. Sem trabalhar desde março, em razão da queda de um andaime que ainda o faz sentir dores ao se locomover, Seu Luís, como é chamado, está preocupa- do com a rápida valorização dos imóveis, puxada pela Hyundai. Is- so porque o valor do aluguel, atual- mente de R$ 780, triplicou em apenas dois anos. “Qualquer casa pequena cobra R$ 450, mais caro que no centro”, ressalta. A vertiginosa industrialização do município abriu novas frentes de negócios, mas também acen- tuou a exclusão dos trabalhadores com baixa ou nenhuma escolari- dade, sobretudo os mais velhos. Não é difícil encontrar na cidade os dependentes de benefícios da Previdência. “A vinda de indús- trias para a cidade não mudou em nada a minha vida”, afirma Simo- ne Messias, 41 anos, vizinha de porta da Hyundai, separada dela apenas por uma faixa de terra ba- tida onde circulam carros e ôni- bus. Ela se queixa ainda do trânsi- to carregado em algumas horas do dia, que leva poeira e barulho para sua moradia simples, em que resi- de há 20 anos com a família. Melhorias Lucas, 17, filho da dona de casa, surpreende ao descartar qualquer interesse em trabalhar nas amplas instalações diante do seu alpendre. Prefere dispu- tar uma vaga no comércio, de preferência no centro da cida- de. “O salário inicial que pagam lá é ridículo. Até outro dia, era apenas o mínimo”, protesta. O jovem, até outro dia, era uma das crianças que ainda brincam no bairro industrial, soltando pipa. Procurada, a empresa não permitiu a visita à unidade nem indicou um porta-voz. Diferentemente do seu colega de rua, Ademar Alves Júnior, 19, até chegou a sonhar em vestir o uniforme da montadora corea- na, onde trabalham cerca de mil operários, mas se decepcionou há algumas semanas ao saber que o diploma de técnico não o colocaria na lista dos profissio- nais procurados lá. “Eles aceitam apenas eletricista industrial e na- da de predial”, lamenta. Na fábri- ca, é montado o robusto utilitário urbano Tucson e, em breve, serão os modelos IX35 e Santa Fé. O adolescente nascido a pou- cas quadras da montadora apro- veita para cobrar melhorias nas condições de vida da vizinhan- ça. Na sua avaliação, enquanto a cobertura da rede elétrica e do transporte urbano avançou, o saneamento básico e as escolas deixam a desejar. A poucos qui- lômetros após a saída do povoa- do, a paisagem muda radical- mente. As casas e o pequeno co- mércio dominado por bares e mercearias dão lugar a grandes plantações de soja, eucalipto, to- mates e hortaliças. Técnicos do governo goiano descartam qualquer relação en- tre o aumento da criminalidade e o avanço da indústria e da ur- banização. Para eles, os índices recordes ano após ano estão di- retamente fomentados pelo tráfico de drogas, sobretudo o crack. Um indicador disso é que dos 700 homicídios em todo o estado no ano passado, 500 ocor- reram só em Goiânia, fora dos núcleos industriais. A Suzuki investiu R$ 150 milhões para iniciar a produção do Jimmy Avenidas e outros sinais dos novos tempos convivem com cenas bucólicas Acordo para diversificar Nos seus 21 anos de existên- cia, a escola do Serviço Nacio- nal de Aprendizagem da Indús- tria (Senai) em Itumbiara cole- ciona prêmios internacionais conquistados por seus alunos. Entre eles, destaca-se o que foi concedido em 2009 ao adoles- cente Rafael Soares Borges, ao ficar em terceiro lugar como melhor soldador do mundo no torneio de formação profissio- nal (Worldskills) realizado no Canadá. O ex-aluno é atual- mente instrutor da unidade, frequentada por pessoas de to- das as idades. O próprio diretor, Claiton, também foi aluno e instrutor, tendo vencido o prê- mio de melhor fresador mecâ- nico do país, em 1998. O crescimento acelerado do setor automotivo em Goiás também está fomentando in- tercâmbios técnicos das esco- las profissionais da cidade com instituições estrangeiras dedi- cadas à inovação tecnológica e ao desenho industrial. Entre as parcerias recentemente firma- das está uma com o Instituto Meccano, sediado em Ancona, na Itália, que presta consulto- ria sobre atração de novos for- necedores e ajustes no leque de produtos dos empreendi- mentos locais para as deman- das das montadoras de auto- móveis que vêm se instalando em Goiás. Além da embalagem Graças a isso, a indústria de materiais plásticos avalia a pos- sibilidade de produzir não ape- nas embalagens mas também componentes para veículos da Suzuki, Mitsubshi e Hyundai. O Banco Interamericano de De- senvolvimento (BID) é dos fi- nanciadores desses acordos de cooperação. Para técnicos do Instituto Mauro Borges, ligado ao governo goiano, as empresas do ramo metal-mecânico terão peso cada vez maior na estraté- gia do estado de diversificação da indústria. (SR) Crianças ainda soltam pipa na vizinhança empoeirada das empresas O pedreiro Luís Rodrigues disse que houve avanços importantes na cidade, mas espera maior contribuição social das companhias instaladas no Daia Fotos: Breno Fortes/CB/D.A Press Fotos: Breno Fortes/CB/D.A Press Aline Fonseca e os colegas no curso técnico de açúcar e álcool: emprego garantido mesmo antes do diploma Estádio Nacional Mané Garrincha. Uma nova força econômica entra em campo no DF. Geração de emprego, renda e crescimento. Muito mais do que festa, Brasília já vive outra realidade. Quase 100 dias após a inauguração do Estádio Nacional Mané Garrincha, já é possível sentir os benefícios que essa moderna arena multiúso trouxe para o Distrito Federal. Com os eventos realizados até agora, a nova arena quebrou recordes de renda, aqueceu nossa economia, impressionou o Brasil e mostrou que nasceu para ser um polo de atração de negócios, investimentos, turistas e diversão. E também para recuperar a vocação da nossa região como eixo de crescimento do país. Estádio Nacional Mané Garrincha. A nova história do desenvolvimento econômico e social do DF está apenas começando. No aeroporto de Brasília e no movimento dos taxistas foram registrados aumentos de 10% nos dias dos jogos. No comércio de rua e nos shoppings centers foram registrados aumentos de até 50% no movimento. Brasília contabilizou o maior gasto médio per capita (R$ 1.006,00*) dos turistas domésticos durante a Copa das Confederações 2013. Das seis arenas construídas até agora para a Copa do Mundo Fifa 2014, o Estádio Nacional Mané Garrincha é a que teve a maior ocupação e a maior média de público. Além disso, a arena teve a maior renda do campeonato brasileiro no jogo Flamengo e Santos: R$ 6,9 milhões. [*) Fonte: Pesquisa Fipe/Ministério do Turismo www.gdfdiaadia.df.gov.br Secretaria Extraordinária da Copa 2014

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    » SÍLVIO RIBASENVIADO ESPECIAL

    I tumbiara (GO) – Quem che-ga ao próspero município de100 mil habitantes, no sul deGoiás, não tem dúvidas daimportância do campo e daagroindústria para a economialocal. Os gigantescos armazénsde grãos e as imponentes usinasde açúcar e álcool abraçam todaa cidade. No comércio local, asempresas dedicadas ao agrone-gócio parecem inspiradas na pu-jança do interior paulista e noTriângulo Mineiro, mas aindaconvivem com nomes nostálgi-cos, como Açougue do Careca eAlfaiataria do Bigode.

    É nesse cenário, em Itumbiara(GO), que o setor automotivo fin-cou recentemente uma bandei-ra, impulsionando a tendênciade diversificação da indústria nointerior do país. A montadora ja-ponesa Suzuki constrói, a toquede caixa, uma ampla unidade nacidade que representa o terceirovértice do triângulo metal-mecâ-nico de Goiás, com Anápolis eCatalão. Foram investidos R$ 150milhões na unidade, e a expecta-tiva é de que a mudança das ins-talações provisórias da fábricapara a definitiva, vizinha de gran-des indústrias de alimentos,ocorra até janeiro.

    Nesse meio tempo, a empresaacena com a possibilidade decompartilhar a produção do veí-culo compacto 4x4 Jimny com afábrica da Mitsubishi em Cata-lão. As duas marcas são repre-sentadas no Brasil pelo grupoMMC, do empresário EduardoSouza Ramos e do BTG Pactual.O primeiro lote de produção domodelo será de 250 unidades e acapacidade inicial, de 7 mil car-ros por ano, volume que poderásubir gradualmente. Procurada,a Suzuki não permitiu visita àssuas instalações na cidade nemofereceu porta-vozes, alegandocompromissos operacionais.

    De olho na crescente procurapor mão de obra qualificada epelas oportunidades geradaspelos investimentos em amplia-ção e novas fábricas, os jovensdo município procuram definirseus alvos profissionais desdecedo. São cursos práticos e obje-tivos, de seis meses em média,

    de segunda-feira a sábado, comcinco horas. “Escolhi o curso deredes porque é uma das opçõespara indústrias de ramos dife-rentes. Além disso, a formaçãotécnica me garante inserção rá-pida no mercado profissional”,conta Eduardo Antônio de Sou-za Filho, de 17 anos.

    Aline Alves Fonseca, 21, e Gis-laine Cantologo, 23, colegas daturma de produção industrial deaçúcar e álcool, vinculada a umagrande empresa do setor, estãointeressadas em ingressar emuma atividade já consolidada naregião. “Não era bem o que que-ria, mas o emprego garantidome atraiu”, diz Aline. “Como te-nho curso técnico na área peloInstituto Federal de Goiás (IFG),queria continuar investindo ne-la. Pretendo ainda fazer enge-nharia química”, revela Gislaine.

    Mais salas de aulaDiante da grande procura de

    empregadores e de candidatos aempregos garantidos nas gran-des empresas do município, boaparte multinacionais, a sede doServiço Nacional de Aprendiza-gem da Indústria (Senai) conta-biliza 6 mil matrículas, o dobrodo último ano, enquanto ampliao número de salas e convênioscom empresas.

    “Praticamente todos os alu-nos saem daqui com emprego.Muitos começam admitidospela indústria e vêm para cá sehabilitar para a função”, contaClaiton Cândido Vieira, diretorda escola.

    As áreas de açúcar e álcool emanutenção de máquinas agrí-colas, além da educação de adul-tos, continuam sendo o carro-chefe da unidade, mas a indús-tria automotiva já recebeu novassalas e laboratórios. O ProgramaNacional de Acesso ao EnsinoTécnico (Pronatec), do governofederal, também abriu novasfrentes de treinamento e qualifi-cação, com auxílio de alimenta-ção e transporte.

    Para dar conta da procura, oSenai goiano investiu em trêsunidades móveis de solda, ma-nutenção industrial e reparosem máquinas agrícolas. “Aqui, sónão trabalha quem não quer” é afrase mais ouvida em Itumbiara.

    Depois dos alimentos, o 4X4Município se desenvolveu com o processamento da produção agrícola e agora integra o setor automotivoINDÚSTRIA CABOCLA/

    10/11 • Economia • Brasília, domingo, 18 de agosto de 2013 • CORREIO BRAZILIENSE

    De olhonos aviõesholandeses

    » SÍLVIO RIBASENVIADO ESPECIAL

    A nápolis (GO) — Os ana-polinos costumam baterno peito para ressaltar aforça econômica da terraem que nasceram. Não sem mo-tivo. A riqueza que sai do municí-pio responde por 11% do Produ-to Interno Bruto (PIB) de Goiás. Acidade, que se encontra estrate-gicamente próxima de impor-tantes eixos logísticos, como aFerrovia Norte-Sul e as rodoviasfederais 153 e 060, tornou-se re-ferência para o setor farmacêuti-co e entrou de vez na rota da in-dústria automotiva.

    Até o lançamento do DistritoAgroindustrial de Anápolis (Da-ia), em 1976, os 600 hectares ocu-pados hoje por 125 empresas,que empregam, direta e indireta-mente, mais de 16 mil pessoas,eram uma área rural. Os planosde expansão são ambiciosos.Além da montadora coreanaHyundai, hoje referência quandose fala da indústria cabocla, acidade trabalha pesado paraatrair a fabricante holandesa deaviões Rekkof Aircraft.

    A expectativa é de que, com aconclusão da Ferrovia Norte-Sule da plataforma logística multi-modal, o complexo industrial ga-nhe uma nova dimensão. O pri-meiro impulso a essa área produ-tiva, em um país ainda carente deinvestimentos, veio em 1985,quando o governo estadual criouum programa de incentivos fis-cais e passou a explorar a locali-zação privilegiada de Anápolis.No fim dos anos 1990, foi instala-da a primeira estação aduaneirado interior (Porto Seco), que faci-litou o intercâmbio comercial.

    Agora, além da infraestrutura,o foco está na capacitação. Emmarço, o Serviço Nacional deAprendizagem Industrial (Senai)inaugurou um complexo comoficinas para ensino de costura,mecânica automotiva e informá-tica. A ampliação da unidade,voltada para o treinamento deoperários da Hyundai, foi con-cluída em dezembro, ganhandouma linha simulada de produçãopara a montagem do Tucson.

    Apesar dos evidentes avançoseconômicos, Anápolis não es-conde os seus contrastes. As ruasempoeiradas e a vida miseráveldas comunidades que vivem aolargo de grandes fábricas evi-denciam que o progresso ficoupela metade. Em frente à maiordas indústrias, a Hyundai, queaportou por ali em 2007, milha-res de pessoas moram em barra-cões e são atendidas por servi-ços públicos precários.

    ContrastesAlguns desses cidadãos dizem

    esperar uma contribuição socialmaior das empresas, que, nos úl-timos anos, receberam expressi-vos incentivos fiscais para se ins-talarem na região. Eles são unâni-mes, porém, em apontar comogrande benefício dos investimen-tos produtivos o elevado nível deocupação da mão de obra local.“Houve, sim, avanços. Mas é pre-ciso mais”, diz o pedreiro Luís Ro-drigues da Silva, 58 anos.

    Luís foi atraído à cidade pelasnotícias de emprego farto no poloempresarial em construção. Era1980, e ele havia largado o cabo daenxada em Niquelândia para des-frutar da promessa de um novo el-dorado. Não se arrependeu. Hoje,

    INDÚSTRIA CABOCLA

    carros por ano é acapacidade inicial

    da Suzuki em Itumbiara

    7MIL

    Responsável por 11% do PIB do estado,cidade quer ampliar parque que já abrigafábricas de medicamentos e de carros

    porém, a situação do pedreiro écomplicada. Sem trabalhar desdemarço, em razão da queda de umandaime que ainda o faz sentirdores ao se locomover, Seu Luís,como é chamado, está preocupa-do com a rápida valorização dosimóveis, puxada pela Hyundai. Is-soporqueovalordoaluguel,atual-mente de R$ 780, triplicou emapenas dois anos. “Qualquer casapequena cobra R$ 450, mais caroque no centro”, ressalta.

    A vertiginosa industrializaçãodo município abriu novas frentesde negócios, mas também acen-tuou a exclusão dos trabalhadorescom baixa ou nenhuma escolari-dade, sobretudo os mais velhos.

    Não é difícil encontrar na cidadeos dependentes de benefícios daPrevidência. “A vinda de indús-trias para a cidade não mudou emnada a minha vida”, afirma Simo-ne Messias, 41 anos, vizinha deporta da Hyundai, separada delaapenas por uma faixa de terra ba-tida onde circulam carros e ôni-bus. Ela se queixa ainda do trânsi-to carregado em algumas horas dodia, que leva poeira e barulho parasua moradia simples, em que resi-de há 20 anos com a família.

    MelhoriasLucas, 17, filho da dona de

    casa, surpreende ao descartar

    qualquer interesse em trabalharnas amplas instalações diantedo seu alpendre. Prefere dispu-tar uma vaga no comércio, depreferência no centro da cida-de. “O salário inicial que pagamlá é ridículo. Até outro dia, eraapenas o mínimo”, protesta. Ojovem, até outro dia, era umadas crianças que ainda brincamno bairro industrial, soltandopipa. Procurada, a empresa nãopermitiu a visita à unidade nemindicou um porta-voz.

    Diferentemente do seu colegade rua, Ademar Alves Júnior, 19,até chegou a sonhar em vestir ouniforme da montadora corea-na, onde trabalham cerca de mil

    operários, mas se decepcionouhá algumas semanas ao saberque o diploma de técnico não ocolocaria na lista dos profissio-nais procurados lá. “Eles aceitamapenas eletricista industrial e na-da de predial”, lamenta. Na fábri-ca, é montado o robusto utilitáriourbano Tucson e, em breve, serãoos modelos IX35 e Santa Fé.

    O adolescente nascido a pou-cas quadras da montadora apro-veita para cobrar melhorias nascondições de vida da vizinhan-ça. Na sua avaliação, enquanto acobertura da rede elétrica e dotransporte urbano avançou, osaneamento básico e as escolasdeixam a desejar. A poucos qui-lômetros após a saída do povoa-do, a paisagem muda radical-mente. As casas e o pequeno co-mércio dominado por bares emercearias dão lugar a grandesplantações de soja, eucalipto, to-mates e hortaliças.

    Técnicos do governo goianodescartam qualquer relação en-tre o aumento da criminalidadee o avanço da indústria e da ur-banização. Para eles, os índicesrecordes ano após ano estão di-retamente fomentados pelotráfico de drogas, sobretudo ocrack. Um indicador disso é quedos 700 homicídios em todo oestado no ano passado, 500 ocor-reram só em Goiânia, fora dosnúcleos industriais.

    ASuzuki investiu R$ 150milhões para iniciar a produção do Jimmy

    Avenidaseoutros sinaisdosnovos temposconvivemcomcenasbucólicas

    Acordo paradiversificar

    Nos seus 21 anos de existên-cia, a escola do Serviço Nacio-nal de Aprendizagem da Indús-tria (Senai) em Itumbiara cole-ciona prêmios internacionaisconquistados por seus alunos.Entre eles, destaca-se o que foiconcedido em 2009 ao adoles-cente Rafael Soares Borges, aoficar em terceiro lugar comomelhor soldador do mundo notorneio de formação profissio-nal (Worldskills) realizado noCanadá. O ex-aluno é atual-mente instrutor da unidade,frequentada por pessoas de to-das as idades. O próprio diretor,Claiton, também foi aluno einstrutor, tendo vencido o prê-mio de melhor fresador mecâ-nico do país, em 1998.

    O crescimento acelerado dosetor automotivo em Goiástambém está fomentando in-tercâmbios técnicos das esco-las profissionais da cidade cominstituições estrangeiras dedi-cadas à inovação tecnológica eao desenho industrial. Entre asparcerias recentemente firma-das está uma com o InstitutoMeccano, sediado em Ancona,na Itália, que presta consulto-ria sobre atração de novos for-necedores e ajustes no lequede produtos dos empreendi-mentos locais para as deman-das das montadoras de auto-móveis que vêm se instalandoem Goiás.

    Além da embalagemGraças a isso, a indústria de

    materiais plásticos avalia a pos-sibilidade de produzir não ape-nas embalagens mas tambémcomponentes para veículos daSuzuki, Mitsubshi e Hyundai. OBanco Interamericano de De-senvolvimento (BID) é dos fi-nanciadores desses acordos decooperação. Para técnicos doInstituto Mauro Borges, ligadoao governo goiano, as empresasdo ramo metal-mecânico terãopeso cada vez maior na estraté-gia do estado de diversificaçãoda indústria. (SR)

    Criançasainda soltampipanavizinhança empoeiradadas empresas

    Opedreiro LuísRodriguesdisse quehouveavanços importantesna cidade,mas esperamaior contribuição social das companhias instaladasnoDaia

    Fotos: Breno Fortes/CB/D.A Press

    Fotos: Breno Fortes/CB/D.A Press

    Aline Fonseca e os colegas no curso técnico de açúcar e álcool: emprego garantidomesmoantes do diploma

    Estádio Nacional Mané Garrincha.Uma nova força econômica entra em campo no DF.Geração de emprego, renda e crescimento. Muito mais do que festa, Brasília já vive outra realidade.

    Quase 100 dias após a inauguração do Estádio Nacional Mané Garrincha, já é possível sentir osbenefícios que essa moderna arena multiúso trouxe para o Distrito Federal. Com os eventosrealizados até agora, a nova arena quebrou recordes de renda, aqueceu nossa economia,impressionou o Brasil e mostrou que nasceu para ser um polo de atração de negócios,investimentos, turistas e diversão. E também para recuperar a vocação da nossa região como eixode crescimento do país. Estádio Nacional Mané Garrincha. A nova história do desenvolvimentoeconômico e social do DF está apenas começando.

    • No aeroporto de Brasília e nomovimento dos taxistas foramregistrados aumentos de 10%nos dias dos jogos.

    • No comércio de rua e nosshoppings centers foramregistrados aumentos de até50% no movimento.

    • Brasília contabilizou o maiorgasto médio per capita(R$ 1.006,00*) dos turistasdomésticos durante a Copadas Confederações 2013.

    • Das seis arenas construídasaté agora para a Copa doMundo Fifa 2014, o EstádioNacional Mané Garrinchaé a que teve a maior ocupaçãoe a maior média de público.

    • Além disso, a arena teve amaior renda do campeonatobrasileiro no jogo Flamengo eSantos: R$ 6,9 milhões.

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