foto no trabalho é armadilha na internet

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“on-line” ou, se há, está separa- ção está cada vez menor. “A vi- da real com a atividade virtual estão integradas. Não dá mais para achar que o que se faz na internet não tem nenhum efeito prático em sua vida social real”, comenta o professor. Para Pedro Loureiro de Bra- gança, há casos em que o erro cometido na web pode ser muito pior do que uma gafe ocorrida na realidade. “Se você fala uma bo- bagem entre um grupo de ami- gos, isso muito provavelmente vai ficar restrito àquele grupo. Mas nas redes sociais é diferente: o público pode ser muito maior devido à possibilidade de repro- dução do que você falou. Além do mais, o registro na internet pode muito bem ser uma prova palpável contra quem deu uma opinião ofensiva ou provocou al- gum dano à empresa para qual trabalha, como foi o caso da en- fermeira em Pernambuco”, diz. DEFESA O Tribunal Superior do Tra- balho negou o recurso impe- trado pela enfermeira Klaudia Elizabeth da Silva Pottes. No pedido de reconsideração à de- cisão do TRT de Pernambuco, ela conta que trabalhou no hos- pital por um ano e nove meses e, no episódio das fotos postadas no Facebook, a instituição teria agido de forma discriminatória ao demiti-la, ressaltando que ou- tros funcionários não sofreram nenhuma punição. A defesa do hospital alegou que as fotos mostravam o logoti- po do estabelecimento sem sua autorização, expondo sua marca “em domínio público, associada a brincadeiras de baixo nível, não condizentes com o local on- de foram batidas”. O relator do processo, ministro José Rober- to Freire Pimenta, foi enfático dizendo que o TRT, “na análise das provas dos autos, amparado no princípio do livre convenci- mento motivado, entendeu que a conduta da enfermeira foi gra- ve ao ponto de justificar a sua dispensa”. jurisprudência sobre outras situações até mais antigas e mencionando formas de co- municação mais tradicionais na web, como o e-mail. “Não se trata da ferramenta, mas sim do comportamento da profissional que acabou ge- rando essa demissão por jus- ta causa”, reitera. Ela pontua ainda que é preciso ficar atento ao regu- lamento das empresas sobre o uso das redes sociais, pois a quebra de normas especifica- das em contrato podem gerar uma demissão, mesmo que não haja um comportamen- to lesivo. No mais, Marcela conclui que é preciso o usar o bom e velho bom senso: “vo- cê tem que avaliar o que posta nas redes sociais; se é algo que pode levar a uma interpreta- ção errada ou negativa sobre sua conduta profissional, so- bre um colega de trabalho ou mesmo sobre a imagem da empresa”. BOM SENSO O professor de Jornalismo Digital da Faculdade do Pará (Fap) e consultor de Mídias Sociais Pedro Loureiro de Bra- gança (nas redes sociais conhe- cido como @pedrox), também aconselha o bom senso. “Você pode partir de um princípio simples: você escreveria ou co- locaria o que postou nas redes sociais em um outdoor de uma avenida movimentada com sua identificação? Se a respos- ta é sim, não tem problema nenhum. É tudo uma questão de bom senso. O entendimento do TST nesse caso é realmente correto”, analisa. Pedro remete ao conceito de “Cibridismo” para explicar a atual relação entre o mundo real a virtualidade. Segundo ele, os existem estudiosos das novas relações sociais media- das pela Internet que admi- tem que não há uma divisão entre o cidadão “off-line” e o OLIBERAL BELÉM, DOMINGO, 17 DE JUNHO DE 2012 PODER 9 No Tutti: Academia cobra dívida da Câmara de Belém. Página 10. POLÍTICA Foto no trabalho é armadilha na internet A internet e as redes sociais há muito tempo deixaram de ser algo alheio à realida- de palpável do dia a dia. Essa du- pla condição - off-line e on-line - tem mudado comportamentos e também trazido problemas, como o da enfermeira Klaudia Elizabeth da Silva Pottes, demi- tida por justa causa, em 2009, por postar fotos inadequadas do seu ambiente de trabalho no Facebok. Semana passada, o ca- so ganhou repercussão devido à manutenção, pela Segunda Turma do Tribunal Superior do Trabalho (TST), da decisão do Tribunal Regional do Trabalho da 6ª Região, em Pernambuco. Aos usuários das redes sociais, o episódio deixa um alerta: vale o bom senso dentro e fora do mundo virtual. A advogada trabalhista Mar- cela Braga Coelho avalia o caso como uma decisão correta do TST. “É um erro o comporta- mento que expõe negativamen- te a sua imagem profissional e coloca em xeque a imagem ins- titucional da empresa em que você está trabalhando. A de- missão da enfermeira não está exatamente ligada à exposição de fotos no Facebook, mas sim a uma postura lesiva à empresa que ela trabalhava”, comenta. Marcela acrescenta que o caso menciona uma rede social relativamente nova, mas já há TRANSGRESSÃO Demissão de enfermeira mostra que exposição sem controle traz riscos Advogada diz que comportamento pôs em xeque a imagem institucional ANDERSON LUÍS ARAÚJO Da Redação J. BOSCO

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Entrevista concedida ao caderno "Poder" do jornal O Liberal de 17 de junho de 2012 falando sobre as riscos da falta de bom senso na publicação de conteúdos nas redes sociais.

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Page 1: Foto no trabalho é armadilha na internet

“on-line” ou, se há, está separa-ção está cada vez menor. “A vi-da real com a atividade virtual estão integradas. Não dá mais para achar que o que se faz na internet não tem nenhum efeito prático em sua vida social real”, comenta o professor.

Para Pedro Loureiro de Bra-gança, há casos em que o erro cometido na web pode ser muito pior do que uma gafe ocorrida na realidade. “Se você fala uma bo-bagem entre um grupo de ami-gos, isso muito provavelmente

vai ficar restrito àquele grupo. Mas nas redes sociais é diferente: o público pode ser muito maior devido à possibilidade de repro-dução do que você falou. Além do mais, o registro na internet pode muito bem ser uma prova palpável contra quem deu uma opinião ofensiva ou provocou al-gum dano à empresa para qual trabalha, como foi o caso da en-fermeira em Pernambuco”, diz.

DEFESA

O Tribunal Superior do Tra-balho negou o recurso impe-trado pela enfermeira Klaudia Elizabeth da Silva Pottes. No pedido de reconsideração à de-cisão do TRT de Pernambuco, ela conta que trabalhou no hos-pital por um ano e nove meses e,

no episódio das fotos postadas no Facebook, a instituição teria agido de forma discriminatória ao demiti-la, ressaltando que ou-tros funcionários não sofreram nenhuma punição.

A defesa do hospital alegou que as fotos mostravam o logoti-po do estabelecimento sem sua autorização, expondo sua marca “em domínio público, associada a brincadeiras de baixo nível, não condizentes com o local on-de foram batidas”. O relator do processo, ministro José Rober-to Freire Pimenta, foi enfático dizendo que o TRT, “na análise das provas dos autos, amparado no princípio do livre convenci-mento motivado, entendeu que a conduta da enfermeira foi gra-ve ao ponto de justificar a sua dispensa”.jurisprudência sobre outras

situações até mais antigas e mencionando formas de co-municação mais tradicionais na web, como o e-mail. “Não se trata da ferramenta, mas sim do comportamento da profissional que acabou ge-rando essa demissão por jus-ta causa”, reitera.

Ela pontua ainda que é preciso ficar atento ao regu-lamento das empresas sobre o uso das redes sociais, pois a quebra de normas especifica-das em contrato podem gerar uma demissão, mesmo que não haja um comportamen-to lesivo. No mais, Marcela conclui que é preciso o usar o bom e velho bom senso: “vo-cê tem que avaliar o que posta nas redes sociais; se é algo que pode levar a uma interpreta-ção errada ou negativa sobre sua conduta profissional, so-bre um colega de trabalho ou mesmo sobre a imagem da empresa”.

BOM SENSO

O professor de Jornalismo Digital da Faculdade do Pará (Fap) e consultor de Mídias Sociais Pedro Loureiro de Bra-gança (nas redes sociais conhe-cido como @pedrox), também aconselha o bom senso. “Você pode partir de um princípio simples: você escreveria ou co-locaria o que postou nas redes sociais em um outdoor de uma avenida movimentada com sua identificação? Se a respos-ta é sim, não tem problema nenhum. É tudo uma questão de bom senso. O entendimento do TST nesse caso é realmente correto”, analisa.

Pedro remete ao conceito de “Cibridismo” para explicar a atual relação entre o mundo real a virtualidade. Segundo ele, os existem estudiosos das novas relações sociais media-das pela Internet que admi-tem que não há uma divisão entre o cidadão “off-line” e o

O LIBERALBELÉM, DOMINGO, 17 DE JUNHO DE 2012 PODER 9

No Tutti: Academia cobra dívida da Câmara de Belém. Página 10. POLÍTICA

Foto no trabalho é armadilha na internet

A internet e as redes sociais há muito tempo deixaram de ser algo alheio à realida-

de palpável do dia a dia. Essa du-pla condição - off-line e on-line - tem mudado comportamentos e também trazido problemas, como o da enfermeira Klaudia Elizabeth da Silva Pottes, demi-tida por justa causa, em 2009, por postar fotos inadequadas do seu ambiente de trabalho no Facebok. Semana passada, o ca-so ganhou repercussão devido à manutenção, pela Segunda Turma do Tribunal Superior do Trabalho (TST), da decisão do Tribunal Regional do Trabalho da 6ª Região, em Pernambuco. Aos usuários das redes sociais, o episódio deixa um alerta: vale o bom senso dentro e fora do mundo virtual.

A advogada trabalhista Mar-cela Braga Coelho avalia o caso como uma decisão correta do TST. “É um erro o comporta-mento que expõe negativamen-te a sua imagem profissional e coloca em xeque a imagem ins-titucional da empresa em que você está trabalhando. A de-missão da enfermeira não está exatamente ligada à exposição de fotos no Facebook, mas sim a uma postura lesiva à empresa que ela trabalhava”, comenta.

Marcela acrescenta que o caso menciona uma rede social relativamente nova, mas já há

TRANSGRESSÃODemissão deenfermeira mostraque exposição semcontrole traz riscos

Advogada diz que comportamento pôs em xeque a imagem institucional

ANDERSON LUÍS ARAÚJODa Redação

J. BO

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