fÓrum social brasileiro

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De 13 a 19 de novembro de 2003 7 NACIONAL Bernardete Toneto de Belo Horizonte (MG) M ais de 23 mil inscritos de todos os Estados brasileiros e de 22 países, represen- tando 1,2 mil movimentos sociais. Cerca de 40 mil pessoas nas mais de 300 atividades auto-organizadas por entidades – ocinas, seminá- rios, atos públicos (leia página 3) e debates –, em quatro dias que mobilizaram a cidade de Belo Hori- zonte (MG). Assim foi o 1º Fórum Social Brasileiro (FSB), realizado entre os dias 6 e 9. O evento colo- cou na pauta de discussões temas urgentes como a Área de Livre Comércio das Américas (Alca), a dívida externa e os acordos com o Fundo Monetário Internacional (FMI), o imperialismo, a militari- zação e a necessidade de uma rede de articulação de toda a sociedade brasileira. A dinâmica do FSB favoreceu o estabelecimento de uma plataforma de luta que envolva os vários mo- vimentos sociais. Pela manhã, as grandes conferências, no Ginásio do Mineirinho, debatiam questões abrangentes e forneciam sub- sídios para as atividades au- to-gestionadas na parte da tar- de. No centro das discussões, a pergunta: co- mo garantir a participação popular na construção de um outro Brasil? Os rumos do governo Lula foi um tema que permeou grande parte dos debates. Para o sociólogo Fran- cisco de Oliveira, até agora o go- verno mostra-se contrário ao com- promisso rmado com os brasilei- ros. Mas salienta: “Não adianta rom- per com o governo, é preciso acú- mulo de forças”. Com ele concorda Gilmar Mauro, da coordenação na- cional do Movimento dos Trabalha- dores Rurais Sem Terra (MST): “Se Bernardete Toneto e Maíra Kubík de Belo Horizonte (MG) A democratização dos meios de comunicação é um projeto de longo alcance que deve mobilizar a agen- da popular brasileira. A opinião é do cientista político César Benjamin e faz eco a uma das principais discus- sões do 1º Fórum Social Brasileiro (FSB): a importância estratégica da mídia para a organização dos movi- mentos sociais. No evento, em Belo Horizonte, centenas de pessoas participaram de ocinas, mesas-re- dondas e reuniões de trabalho sobre o assunto. Um dos eventos foi o ato pro- movido, dia 8, com lançamento da Jornada pela Democratização da Mídia. A campanha, que visa esclarecer a população sobre o mo- nopólio dos meios de comunicação no Brasil, consta de uma série de atividades pelo país. Nesta semana foram realizados eventos no Rio de Janeiro (dia 10) e São Paulo (dia 11). O próximo passo será a criação de comitês regionais para divulgar ações denidas em conjunto. O principal foco é a campanha “Veja que Mentira”, a ser divulgada em todo o país e que pretende tor- nar públicas as manipulações prati- cadas pela Veja, da Editora Abril. Para Ana Maria Straube, da Enecos, a revista simboliza a falta de demo- cracia na mídia, assunto que ainda é uma incógnita para grande parte da sociedade. “Esse veículo é o símbolo de tudo que combatemos, um exemplo da criminalização dos movimentos sociais”, diz. O primeiro evento realizado pela Jornada foi um debate promovido no próprio FSB. Entre os palestran- tes, estavam representantes das or- ganizações responsáveis pela cam- panha e convidados de Cuba, Vene- zuela, Palestina e Estados Unidos. João Paulo Rodrigues, do MST, res- saltou a importância de “ocupar os espaços” da mídia, sob controle da elite.“É como fazemos com os lati- fúndios improdutivos”, comparou. Venezuela foi vista como um exemplo de combate direto ao con- trole da mídia pelas elites locais. O presidente Hugo Chávez legalizou três emissoras de televisão e mais de 80 rádios comunitárias no início de seu mandato. Segundo Maxi- milien Arvelaiz, representante do governo da Venezuela, a mídia de cunho comunitário representa o futuro da comunicação. UNIÃO DE FORÇAS O poder dos meios comunitários e da chamada imprensa crítica foi relativizado pelo professor Bernar- do Kucinski, assessor na Secretaria de Comunicação do governo fede- ral. No debate “Por um outro jorna- lismo: o papel da mídia crítica no contexto atual”, ele armou a cerca de 150 pessoas que a imprensa crí- tica “não fala nada de novo e fala para si mesma”. Defendendo linhas editoriais que priorizem a cultura, Kucinski prognosticou “vida curta” aos veículos presentes – entre eles Brasil de Fato –, por causa de “bri- gas internas”. Representante do governo em um debate que reuniu jornalistas de oito veículos críticos de comunica- ção, Kucinski defendeu o Promídia – programa de saneamento das a sociedade não estiver nas ruas, não há negociador que resolva os problemas do país”. MUDANÇAS URGENTES Oliveira alerta que a organiza- ção social tem de ocorrer o mais rápido possível, pois as mudanças que já estão ocorrendo podem de- nir o perl dos próximos anos. “E se assim for, teremos mais uma ge- ração perdida”. Sinais disso são as posições adotadas pelo Brasil nas negociações da Alca (leia página 6), os acordos com o FMI (páginas 5 e 6) e a fragilidade das políticas sociais. Para Fátima Melo, assessora de Relações Internacionais da Funda- ção de Assistência Social (Fase), o Brasil fez concessões perigosas à sua soberania, principalmente após a reunião da Organização Mundial do Comércio (OMC), em Cancún, em setembro. “Apenas a mobili- zação popular pode reverter esse quadro e, principalmente, acabar com o ímpeto de dominação do FÓRUM SOCIAL BRASILEIRO FÓRUM SOCIAL BRASILEIRO Movimentos defendem lutas unificadas Em Belo Horizonte (MG), durante quatro dias, cerca de 40 mil pessoas debateram uma plataforma de ações Fórum Social Bra- sileiro – Realizado pela primeira vez em âmbito nacional. O comitê organizador do FSB, composto por 15 entidades, sugere a realização do evento de dois em dois anos. governo estadunidense”, disse, defendendo a realização do plebis- cito sobre a Alca, de preferência em 3 de outubro de 2004, data das eleições municipais em todo o país. O plebiscito sobre a Alca é uma das principais bandeiras de luta empunhadas pelos movimen- tos sociais. Já está programada a Jornada Nacional de Luta, em 21 de novembro, último dia da rodada de negociações da Área de Livre Comércio das Amé- ricas (Alca), em Miami. A jornada prevê protestos pela não-renovação do acordo com o FMI, pela ime- diata criação de empregos, pela reforma agrária e pela redução da jornada de trabalho. AÇÃO DOS MOVIMENTOS Segundo o cientista político Cé- sar Benjamin, um dos coordenado- res da Consulta Popular, os movi- mentos sociais enfrentam o desao de reverter o cenário atual – conse- qüência do experimento neoliberal –, e livrar-se da dependência de agentes nanceiros internacionais, “sem nenhum compromisso com o nosso futuro”. Benjamin vê qua- tro grandes projetos populares de longo alcance, que devem ser en- campados pelos setores populares: a democratização dos meios de co- municação, da cultura e da riqueza – com o Estado nacional assumindo o controle do sistema nanceiro –, bem como da propriedade da terra, para torná-la fonte de emprego e renda. “A idéia de que se possa mu- dar o Brasil em aliança com o atual sistema de poder é uma evidente contradição, que conduzirá a um terrível fracasso. É o que estamos assistindo hoje.” O educador Moacir Gadotti, do Fórum Mundial da Educação, também defendeu a ampliação da ação popular para “reacender a esperança e o desejo de luta, que os partidários do neoliberalismo acreditavam ter sepultado. Gadotti comentou que os Fóruns Sociais corroboram a proposta do saudoso educador Paulo Freire, que dizia que “é no movimento e na luta que o povo se forma”. Gadotti defendeu uma mudança do conceito “movimentos sociais organizados”, tendo em vista que a maioria da população que sofre com os reveses provocados pelo neoliberalismo não está integrada a eles. Argumenta que é necessário alargar esse conceito para incluir toda a população nessa luta. “To- dos precisam estar engajados nessa luta de transformação do Brasil e do mundo em lugares onde todos tenham seus direitos de cidadãos respeitados”, enfatizou Democratização da mídia é prioridade grandes empresas de comunica- ção, analisado pelo Banco Nacio- nal de Desenvolvimento Social (BNDES). Segundo ele, a chama- da “imprensa alternativa” deve se mobilizar para buscar nancia- mento do governo. A sugestão foi aceita, mas com um viés diferente: os jornais e revistas pretendem se articular para discutir posiciona- mentos políticos, ações conjuntas e formas de sustentabilidade. SILÊNCIO DA MÍDIA Enquanto os movimentos so- ciais priorizam a comunicação, os chamados grandes meios silenciam. Um exemplo foi a pía cobertura jornalística feita nos quatro dias do FSB. Nos principais telejornais de veiculação nacional, o Fórum foi citado apenas indiretamente, no contexto das notícias sobre a condenação do deputado federal Inocêncio Oliveira (PFL-CE), por manter trabalhadores em condições análogas às de trabalho escravo em sua fazenda. Na abertura do evento, os tele- jornais locais preferiram destacar o trânsito confuso no centro de Belo Horizonte a noticiar a marcha com cerca de 15 mil pessoas. Sobre o FSB, o mesmo silêncio praticado por emissoras de rádio e pelos jornais de grande circulação. Para Benjamin, isso revela a parcialidade com que os meios de comunicação de massa mostram os movimentos sociais. “A sociedade não está parada, ao con- trário do que tentam mostrar. Exis- tem nesse país muitos movimentos ativos, milhares de reuniões de base, existe uma teia de organização, e silenciam sobre isso”, disse. O QUE VEM POR AÍ JORNADA NACIONAL DE LUTA – 21 DE NOVEMBRO No último dia da rodada de negociações da Área de Livre Comércio das Américas (Alca), em Miami, haverá protestos pela não-renovação do acor- do com o FMI, pela imediata criação de empregos, pela reforma agrária e pela redução da jornada de trabalho. Manifestações, em vários pontos do continente, contra a Alca. Proposta da Ação pela Tributação das Transações Financeiras em Apoio aos Cidadãos (Attac) e do Sindicato Nacional dos Auditores Fiscais da Receita Fiscal (Unafisco), para\pressionar o governo a adotar controle da movimentação de capitais no país. Lançada durante o Fórum Social Brasileiro, prevê atividades em todo o país, contra a criminalização dos movimentos sociais nos meios de comunica- ção. Campanha de boicote à revista Veja, a exemplo da campanha contra o jor- nal Zero Hora, de Porto Alegre. Pretende despertar a opinião pública para as manipulações praticadas pelos grandes veículos de comunicação. Incentivo à participação brasileira no evento, que será realizado em Ciudad Guyana, Venezuela, com representantes de povos indígenas, negros, cam- poneses, pescadores e ribeirinhos. ATOS DO JUBILEU SUL – 21 DE NOVEMBRO CAMPANHA NACIONAL PELO CONTROLE DE CAPITAIS – JANEIRO DE 2004 JORNADA PELA DEMOCRATIZAÇÃO DA MÍDIA CAMPANHA VEJA QUE MENTIRA 3º FÓRUM SOCIAL PAN-AMERICANO – 4 A 8 DE FEVEREIRO DE 2004 Fotos: Vanor Correia Mais de 15 mil pessoas participaram da Marcha de Abertura do 1º Fórum Social Brasileiro (FSB), em Belo Horizonte No estádio do Mineirinho, conferências sobre Alca, militarização e movimentos

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Movimentos defendem lutas unificadas

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Page 1: FÓRUM SOCIAL BRASILEIRO

De 13 a 19 de novembro de 2003 7

NACIONAL

Bernardete Tonetode Belo Horizonte (MG)

Mais de 23 mil inscritos de todos os Estados brasileiros e de 22 países, represen-

tando 1,2 mil movimentos sociais. Cerca de 40 mil pessoas nas mais de 300 atividades auto-organizadas por entidades – ofi cinas, seminá-rios, atos públicos (leia página 3) e debates –, em quatro dias que mobilizaram a cidade de Belo Hori-zonte (MG). Assim foi o 1º Fórum Social Brasileiro (FSB), realizado entre os dias 6 e 9. O evento colo-cou na pauta de discussões temas urgentes como a Área de Livre Comércio das Américas (Alca), a dívida externa e os acordos com o Fundo Monetário Internacional (FMI), o imperialismo, a militari-zação e a necessidade de uma rede de articulação de toda a sociedade brasileira.

A dinâmica do FSB favoreceu o estabelecimento de uma plataforma de luta que envolva os vários mo-vimentos sociais. Pela manhã, as grandes conferências, no Ginásio do Mineirinho, debatiam questões

abrangentes e forneciam sub-sídios para as atividades au-to-gestionadas na parte da tar-de. No centro das discussões, a pergunta: co-mo garantir a

participação popular na construção de um outro Brasil?

Os rumos do governo Lula foi um tema que permeou grande parte dos debates. Para o sociólogo Fran-cisco de Oliveira, até agora o go-verno mostra-se contrário ao com-promisso fi rmado com os brasilei-ros. Mas salienta: “Não adianta rom-per com o governo, é preciso acú-mulo de forças”. Com ele concorda Gilmar Mauro, da coordenação na-cional do Movimento dos Trabalha-dores Rurais Sem Terra (MST): “Se

Bernardete Toneto e Maíra Kubík

de Belo Horizonte (MG)

A democratização dos meios de comunicação é um projeto de longo alcance que deve mobilizar a agen-da popular brasileira. A opinião é do cientista político César Benjamin e faz eco a uma das principais discus-sões do 1º Fórum Social Brasileiro (FSB): a importância estratégica da mídia para a organização dos movi-mentos sociais. No evento, em Belo Horizonte, centenas de pessoas participaram de ofi cinas, mesas-re-dondas e reuniões de trabalho sobre o assunto.

Um dos eventos foi o ato pro-movido, dia 8, com lançamento da Jornada pela Democratização da Mídia. A campanha, que visa esclarecer a população sobre o mo-nopólio dos meios de comunicação no Brasil, consta de uma série de atividades pelo país. Nesta semana foram realizados eventos no Rio de Janeiro (dia 10) e São Paulo (dia 11). O próximo passo será a criação de comitês regionais para divulgar ações defi nidas em conjunto.

O principal foco é a campanha “Veja que Mentira”, a ser divulgada em todo o país e que pretende tor-nar públicas as manipulações prati-cadas pela Veja, da Editora Abril. Para Ana Maria Straube, da Enecos, a revista simboliza a falta de demo-cracia na mídia, assunto que ainda é uma incógnita para grande parte da sociedade. “Esse veículo é o símbolo de tudo que combatemos, um exemplo da criminalização dos movimentos sociais”, diz.

O primeiro evento realizado pela

Jornada foi um debate promovido no próprio FSB. Entre os palestran-tes, estavam representantes das or-ganizações responsáveis pela cam-panha e convidados de Cuba, Vene-zuela, Palestina e Estados Unidos. João Paulo Rodrigues, do MST, res-saltou a importância de “ocupar os espaços” da mídia, sob controle da elite.“É como fazemos com os lati-fúndios improdutivos”, comparou.

Venezuela foi vista como um exemplo de combate direto ao con-trole da mídia pelas elites locais. O presidente Hugo Chávez legalizou três emissoras de televisão e mais de 80 rádios comunitárias no início de seu mandato. Segundo Maxi-milien Arvelaiz, representante do governo da Venezuela, a mídia de cunho comunitário representa o futuro da comunicação.

UNIÃO DE FORÇASO poder dos meios comunitários

e da chamada imprensa crítica foi relativizado pelo professor Bernar-do Kucinski, assessor na Secretaria de Comunicação do governo fede-ral. No debate “Por um outro jorna-lismo: o papel da mídia crítica no contexto atual”, ele afi rmou a cerca de 150 pessoas que a imprensa crí-tica “não fala nada de novo e fala para si mesma”. Defendendo linhas editoriais que priorizem a cultura, Kucinski prognosticou “vida curta” aos veículos presentes – entre eles Brasil de Fato –, por causa de “bri-gas internas”.

Representante do governo em um debate que reuniu jornalistas de oito veículos críticos de comunica-ção, Kucinski defendeu o Promídia – programa de saneamento das

a sociedade não estiver nas ruas, não há negociador que resolva os problemas do país”.

MUDANÇAS URGENTESOliveira alerta que a organiza-

ção social tem de ocorrer o mais rápido possível, pois as mudanças que já estão ocorrendo podem de-fi nir o perfi l dos próximos anos. “E se assim for, teremos mais uma ge-ração perdida”. Sinais disso são as posições adotadas pelo Brasil nas negociações da Alca (leia página 6), os acordos com o FMI (páginas 5 e 6) e a fragilidade das políticas sociais.

Para Fátima Melo, assessora de Relações Internacionais da Funda-ção de Assistência Social (Fase), o Brasil fez concessões perigosas à sua soberania, principalmente após a reunião da Organização Mundial do Comércio (OMC), em Cancún, em setembro. “Apenas a mobili-zação popular pode reverter esse quadro e, principalmente, acabar com o ímpeto de dominação do

FÓRUM SOCIAL BRASILEIROFÓRUM SOCIAL BRASILEIRO

Movimentos defendem lutas unifi cadasEm Belo Horizonte (MG), durante quatro dias, cerca de 40 mil pessoas debateram uma plataforma de ações

Fórum Social Bra-sileiro – Realizado pela primeira vez em âmbito nacional. O comitê organizador do FSB, composto por 15 entidades, sugere a realização do evento de dois em dois anos.

governo estadunidense”, disse, defendendo a realização do plebis-cito sobre a Alca, de preferência em 3 de outubro de 2004, data das eleições municipais em todo o país.

O plebiscito sobre a Alca é uma das principais bandeiras de luta empunhadas pelos movimen-

tos sociais. Já está programada a Jornada Nacional de Luta, em 21 de novembro, último dia da rodada de negociações da Área de Livre Comércio das Amé-ricas (Alca), em Miami. A jornada prevê protestos pela não-renovação do acordo com o FMI, pela ime-diata criação de empregos, pela

reforma agrária e pela redução da jornada de trabalho.

AÇÃO DOS MOVIMENTOSSegundo o cientista político Cé-

sar Benjamin, um dos coordenado-res da Consulta Popular, os movi-mentos sociais enfrentam o desafi o de reverter o cenário atual – conse-qüência do experimento neoliberal –, e livrar-se da dependência de agentes fi nanceiros internacionais, “sem nenhum compromisso com o nosso futuro”. Benjamin vê qua-tro grandes projetos populares de longo alcance, que devem ser en-campados pelos setores populares: a democratização dos meios de co-municação, da cultura e da riqueza – com o Estado nacional assumindo o controle do sistema fi nanceiro –, bem como da propriedade da terra, para torná-la fonte de emprego e renda. “A idéia de que se possa mu-dar o Brasil em aliança com o atual sistema de poder é uma evidente contradição, que conduzirá a um terrível fracasso. É o que estamos assistindo hoje.”

O educador Moacir Gadotti, do Fórum Mundial da Educação, também defendeu a ampliação da ação popular para “reacender a esperança e o desejo de luta, que os partidários do neoliberalismo acreditavam ter sepultado. Gadotti comentou que os Fóruns Sociais corroboram a proposta do saudoso educador Paulo Freire, que dizia que “é no movimento e na luta que o povo se forma”.

Gadotti defendeu uma mudança do conceito “movimentos sociais organizados”, tendo em vista que a maioria da população que sofre com os reveses provocados pelo neoliberalismo não está integrada a eles. Argumenta que é necessário alargar esse conceito para incluir toda a população nessa luta. “To-dos precisam estar engajados nessa luta de transformação do Brasil e do mundo em lugares onde todos tenham seus direitos de cidadãos respeitados”, enfatizou

Democratização da mídia é prioridadegrandes empresas de comunica-ção, analisado pelo Banco Nacio-nal de Desenvolvimento Social (BNDES). Segundo ele, a chama-da “imprensa alternativa” deve se mobilizar para buscar fi nancia-mento do governo. A sugestão foi aceita, mas com um viés diferente: os jornais e revistas pretendem se articular para discutir posiciona-mentos políticos, ações conjuntas e formas de sustentabilidade.

SILÊNCIO DA MÍDIAEnquanto os movimentos so-

ciais priorizam a comunicação, os chamados grandes meios silenciam. Um exemplo foi a pífi a cobertura jornalística feita nos quatro dias do FSB. Nos principais telejornais de veiculação nacional, o Fórum foi citado apenas indiretamente, no contexto das notícias sobre a condenação do deputado federal Inocêncio Oliveira (PFL-CE), por manter trabalhadores em condições análogas às de trabalho escravo em sua fazenda.

Na abertura do evento, os tele-jornais locais preferiram destacar o trânsito confuso no centro de Belo Horizonte a noticiar a marcha com cerca de 15 mil pessoas. Sobre o FSB, o mesmo silêncio praticado por emissoras de rádio e pelos jornais de grande circulação. Para Benjamin, isso revela a parcialidade com que os meios de comunicação de massa mostram os movimentos sociais. “A sociedade não está parada, ao con-trário do que tentam mostrar. Exis-tem nesse país muitos movimentos ativos, milhares de reuniões de base, existe uma teia de organização, e silenciam sobre isso”, disse.

O QUE VEM POR AÍ

JORNADA NACIONAL DE LUTA – 21 DE NOVEMBRO No último dia da rodada de negociações da Área de Livre Comércio das Américas (Alca), em Miami, haverá protestos pela não-renovação do acor-do com o FMI, pela imediata criação de empregos, pela reforma agrária e pela redução da jornada de trabalho.

Manifestações, em vários pontos do continente, contra a Alca.

Proposta da Ação pela Tributação das Transações Financeiras em Apoio aos Cidadãos (Attac) e do Sindicato Nacional dos Auditores Fiscais da Receita Fiscal (Unafi sco), para\pressionar o governo a adotar controle da movimentação de capitais no país.

Lançada durante o Fórum Social Brasileiro, prevê atividades em todo o país, contra a criminalização dos movimentos sociais nos meios de comunica-ção.

Campanha de boicote à revista Veja, a exemplo da campanha contra o jor-nal Zero Hora, de Porto Alegre. Pretende despertar a opinião pública para as manipulações praticadas pelos grandes veículos de comunicação.

Incentivo à participação brasileira no evento, que será realizado em Ciudad Guyana, Venezuela, com representantes de povos indígenas, negros, cam-poneses, pescadores e ribeirinhos.

ATOS DO JUBILEU SUL – 21 DE NOVEMBRO

CAMPANHA NACIONAL PELO CONTROLE DE CAPITAIS – JANEIRO DE 2004

JORNADA PELA DEMOCRATIZAÇÃO DA MÍDIA

CAMPANHA VEJA QUE MENTIRA

3º FÓRUM SOCIAL PAN-AMERICANO – 4 A 8 DE FEVEREIRO DE 2004

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Mais de 15 mil pessoas participaram da Marcha de Abertura do 1º Fórum Social Brasileiro (FSB), em Belo Horizonte

No estádio do Mineirinho, conferências sobre Alca, militarização e movimentos