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CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DO CEARÁ
FACULDADE CEARENSE
CURSO DE SERVIÇO SOCIAL
FRANCISCO JAILSON GADELHA GOMES
SERVIÇO SOCIAL NA HABITAÇÃO: A CONTRIBUIÇÃO DO TRABALHO
TÉCNICO SOCIAL NA PARTICIPAÇÃO COMUNITÁRIA DOS MORADORES
DA COMUNIDADE VIRGILIO TÁVORA I – MARACANAÚ.
FORTALEZA 2012
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FRANCISCO JAILSON GADELHA GOMES
SERVIÇO SOCIAL NA HABITAÇÃO: A CONTRIBUIÇÃO DO
TRABALHO TÉCNICO SOCIAL NA PARTICIPAÇÃO COMUNITÁRIA DOS
MORADORES DA COMUNIDADE VIRGILIO TÁVORA I – MARACANAÚ.
Monografia apresentada ao curso de
graduação em Serviço Social da
Faculdade Cearense – FAC, como
requisito para obtenção do titulo de
bacharelado.
Orientadora: ProfªMsValney Rocha Maciel
FORTALEZA 2012
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FRANCISCO JAILSON GADELHA GOMES
SERVIÇO SOCIAL NA HABITAÇÃO: A CONTRIBUIÇÃO DO TRABALHO
TÉCNICO SOCIAL NA PARTICIPAÇÃO COMUNITÁRIA DOS MORADORES
DA COMUNIDADE VIRGILIO TÁVORA I – MARACANAÚ.
Monografia como requisito para obtenção do titulo de bacharelado em Serviço Social, outorgado pela Faculdade Cearense – Fac, tendo sido aprovada pela banca examinadora composta pelos professores.
Data de Aprovação:___/___/___
BANCA EXAMINADORA
____________________________________________________
Profª. Ms Valney Rocha Maciel
Faculdade Cearense
____________________________________________________
Profª. Dra. Maria Barbosa Dias
Faculdade Cearense
____________________________________________________
Profª. Ms. Rúbia Cristina Martins Gonçalves
Faculdade Cearense
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AGRADECIMENTOS
Agradeço primeiramente a Deus que sempre esteve ao meu lado em
todos os momentos desta longa caminha de vida acadêmica.
Agradeço (em memória) ao meu amado pai Fernando, que mesmo não
estado nesse plano espiritual, foi exemplo de um pai maravilhoso, digno que
sempre proporcionou a minha família todo o conforto e aprendizado.
A minha amada mãe Ernandir, pelas inúmeras provas de amor que a
mim dedica exemplo de amor incondicional.
A minha família de um modo geral, em especial aos meus irmãos
Fernanda, Fernando e Ermilson, que sempre estão presentes na minha vida,
dignos de todo o meu carinho.
A querida professora Valney Rocha, orientadora deste trabalho
monográfico, pela atenção, dedicação e pela experiência teórica e prática que
a mim dedicou na construção do presente trabalho.
Aos meus amigos Almir, Cláudio, Clécio e Sandra, pela paciência e
compreensão em relação a minha ausência para elaboração da pesquisa.
Aos meus colegas do Curso de Serviço Social da Fac, em especial as
queridas companheiras de equipe; Ana, Daniele, Edilaine, Micheline, Nádia e
Rose, pela troca de conhecimento e pelo companheirismo a mim dedicado.
A todos os membros da equipe da Coordenadoria de Habitação de
Maracanaú, em especial a todas as Assistentes Sociais, pela confiança e
oportunidade de aprendizado durante o período de estágio na instituição.
A todos os professores e mestres do curso de Serviço Social da FAC,
que contribuíram para o meu aprendizado acadêmico. Em especial, as
Professoras Esther Barbosa e Rúbia Gonçalves.
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“O conhecimento exige uma presença curiosa do sujeito
em face do mundo. Requer uma ação transformadora
sobre a realidade. Demanda uma busca constante.
Implica em invenção e em reinvenção".
(Paulo Freire)
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RESUMO
O presente trabalho tem por objetivo analisar a atuação do Serviço frente ao
Trabalho Técnico Social no eixo da participação comunitária, junto aos
moradores da comunidade Virgílio Távora I no município de Maracanaú,
através da Coordenadoria de Habitação, por meio do Programa Minha Casa
Minha Vida. Tendo o trabalho como categorias centrais; prática profissional,
cidadania, participação popular e mediação. Abordaremos o breve histórico da
política de habitação no Brasil, Ceará e Maracanaú, a dinâmica da
Coordenadoria de Habitação do município, bem como a trajetória do Trabalho
Técnico Social. O trabalho do Assistente Social na política de habitação,
abrindo as discussões sobre historia e a categoria de mediação, bem como os
reflexos da prática profissional. A defesa da cidadania e da participação
popular pelo Serviço Social, relatando a pesquisa de campo na comunidade
Virgílio Távora I, e as análises qualitativas no cenário sócio-geográfico da
referida comunidade. As escolhas metodológicas aconteceram por meio da
pesquisa de campo e documental, tendo como instrumentais de pesquisa a
entrevista e a aplicação de questionários. Trazendo as análises e os resultados
no comprometimento da cidadania e da participação popular, bem como o
comprometimento da ação das assistentes sociais frente ao trabalho técnico
social desenvolvido na comunidade.
Palavras-chaves: Serviço Social. Habitação. Prática Profissional. Cidadania.
Participação Popular.
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ABSTRATIC This study aims to analyze the performance of the service across the Technical Working Social shaft community participation, along with community residents Virgil I Távora in Maracanaú through the Housing Coordinator, through the my house my life. Having work as central categories; professional practice, citizenship, participation and mediation. We will discuss the brief history of housing policy in Brazil, Ceará and Maracanaú, the dynamics of the Coordination of Housing in the city, as well as the trajectory of Social Work Technician. Social Work Assistant in housing policy, opening discussions on history category and mediation, as well as the reflections of professional practice. The defense of citizenship and popular participation by Social Services, reporting to field research community Virgil Távora I, and qualitative analyzes on socio-geographic scenario of that community. The methodological choices occurred through field research and documentary, with the instrumental research interviews and questionnaires. Bringing the analyzes and results in impairment of citizenship and participation, as well as compromising the action of social workers across the technical work developed in the social community. Keywords: Social Service. Housing. Professional Practice. Citizenship. Popular
Participation.
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LISTA DE ILUSTRAÇÕES
FIGURA 1 - Entrada dos blocos da Comunidade Virgilio Távora I....................52
GRÁFICO 1 – Referente ao estado civil dos titulares do cadastro....................53
GRÁFICO 2 – Referente à escolaridade dos titulares do cadastro...................54
GRÁFICO 3 – Referente à composição familiar................................................55
QUADRO 1 – Números do Programa Minha Casa Minha Vida.........................23
QUADRO 2 – Programas habitacionais de Interesse Social em Maracanaú....27
QUADRO 3 – Projetos do PMCMV em Maracanaú...........................................27
QUADRO 4 – Referente à quantidade de pessoas na comunidade..................53
QUADRO 5 – Referente à situação trabalhista dos titulares do cadastro ........54
QUADRO 6 – Referente ao tipo de deficiência..................................................55
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LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
BNH - Banco Nacional de Habitação
BID - Banco Internacional de Desenvolvimento
CDHIS – Coordenadoria de Desenvolvimento de Habitação de Interesse Social
CEF – Caixa Econômica Federal
CFH – Conselho Federal de Habitação
CHEC – Companhia de Habitação do Estado do Ceará
CMMP – Conselho Municipal de Moradia Popular
COHAB – Coordenadoria de Habitação
COTS – Caderno de Orientação Técnico Social
CP – Carteiras Prediais
FCP – Fundação da Casa Popular
FGTS – Fundo de Garantia por Tempo de Serviço
IAPS - Institutos de Aposentadorias e Pensões
IBGE – Instituto Brasileiro Geográfico Estatístico
IBH – Instituto Brasileiro de Habitação
IPEA – Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada
IPMF - Imposto Provisório sobre Manutenções Financeiras
MC – Ministério das Cidades
MDS – Ministério do Desenvolvimento Social
OGU – Orçamento Geral da União
ONG – Organização Não Governamental
PAC - Plano de Aceleração do Crescimento
PAH – Plano de Assistência Habitacional
PLANHAP – Plano Nacional de Habitação Popular
PMCMV – Programa Minha Casa Minha Vida
PLHISM – Plano Local de Habitação de Interesse Social de Maracanaú
PNH - Política Nacional de Habitação
PROURBE – Projeto de Desenvolvimento Urbano
PTTS – Projeto do Trabalho Técnico Social
RMF - Região Metropolitana de Fortaleza
SEAC – Secretária Especial de Habitação e Ação Comunitária
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SEINFRA - Secretária de Infraestrutura
SFH – Sistema Financeiro de Habitação
TAC – Taxa de Apoio Comunitário
TTS – Trabalho Técnico Social
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SUMÁRIO
INTRODUÇÃO.................................................................................................. 12
1 DISCORRENDO SOBE A POLÍTICA DE HABITAÇÃO............................... 16
1.1 Breve histórico da política de Habitação no Brasil.......................................16
1.2 A política de habitação no Estado do Ceará................................................24
1.3 A política de habitação no município de Maracanaú....................................25
1.4 A Coordenadoria de Habitação de Maracanaú...........................................28
1.5 O Trabalho Técnico Social..........................................................................30
2 O TRABALHO DO ASSISTENTE SOCIAL NA POLÍTICA DE
HABITAÇÃO.....................................................................................................35
2.1 Abrindo as Discussões: história e mediação................................................35
2.2 A defesa da Cidadania e da Participação Popular.......................................40
3 A PESQUISA DE CAMPO NA COMUNIDADE VIRGÍLIO TÁVORA I E AS
ANÁLISES QUALITATIVAS.............................................................................47
3.1 Escolhas: campo, sujeito e metodologia .....................................................35
3.2 O cenário sócio-geográfico e a comunidade Virgílio Távora I......................51
3.3 Relatos e análises........................................................................................56
CONSIDERAÇÕES FINAIS..............................................................................66
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.................................................................69
APÊNDICES......................................................................................................74
ANEXOS............................................................................................................80
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INTRODUÇÃO
O presente trabalho tem o objetivo de analisar a atuação do Assistente
Social frente ao trabalho técnico social compreendendo o eixo da participação
comunitária, junto aos moradores da comunidade Virgilio Távora I, no município
de Maracanaú.
Para uma compreensão da temática habitação pontuaremos um breve
relato da política habitacional no Brasil, a partir do ano de 2003, sob o governo
do presidente Luís Inácio Lula da Silva, com a criação do Ministério das
Cidades, órgão central responsável pela formulação da Política Nacional de
Habitação. A definição de atribuições do Ministério leva em consideração a
Constituição da República promulgada em 1988 que remete aos municípios a
competência sobre o uso e ocupação do solo.
O Estatuto da Cidade tem sua importância na política habitacional na
medida em que prevê a regularização de diversas áreas ocupadas por favelas,
vilas, alagados e invasões, bem como os loteamentos clandestinos espalhados
pelas periferias das grandes e médias cidades, obrigando o poder público
municipal a regulamentar o uso da propriedade urbana, dos espaços urbanos e
da ocupação do solo em benefício de toda a sociedade. Outro benefício trazido
com o Estatuto da Cidade em relação a alternativas para a questão da moradia
é a ampliação da participação popular na busca por soluções adequadas e
sustentáveis para sociedade, através de processos participativos, assim como,
o monitoramento das ações do poder público no que se refere à política
urbana, ambiental e habitacional.
Atualmente o programa Minha Casa Minha Vida, é o programa de
moradia popular, que visa atender um milhão de famílias de baixa renda,
mediante a construção de moradias, que envolve a União, municípios,
cooperativa e os movimentos sociais. O programa tem objetivo de proporcionar
a aquisição de empreendimentos habitacionais de moradia popular na planta,
para famílias com renda bruta de até três salários mínimos, cabem as
prefeituras municipais o cadastramento das famílias interessadas, o
acompanhamento no processo de entregas das unidades e o pós-obra, que
compreende a implementação dos trabalhos técnicos sociais.
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O interesse pela temática da habitação se deu através do estágio que
realizamos na Coordenadoria de Habitação da Prefeitura de Maracanaú,
vinculada a Secretária de Infra Estrutura e Controle Urbano, que é a unidade
executora dos programas de habitação no município, sendo o Serviço Social o
setor responsável pelo acompanhamento e o trabalho técnico social para
implementação dos projetos habitacionais e a Caixa Econômica Federal pelo
gerenciamento e regulação das ações.
A relevância desta pesquisa reside na necessidade de uma melhor
análise da atuação dos profissionais de Serviço Social frente ao trabalho social
no eixo da participação comunitária, as intervenções tornam os beneficiários
mais comprometidos, levando-os a exercerem seus direitos e deveres,
propiciando a compreensão e a manifestação da população atendida pelas
intervenções, e permite a afirmação da cidadania e transparência na aplicação
dos recursos públicos.
A participação da comunidade no desenvolvimento do projeto social é
possível alcançar resultados significativos, tanto no plano sócio-
educativo, como no processo de adaptação desta à nova realidade.
(BRAÚNA,2010: p.50)
As ações acontecem junto aos moradores do empreendimento Virgilio
Távora I, no bairro Parque Tijuca, no município de Maracanaú. O
empreendimento é composto por 208 unidades habitacionais, tendo como perfil
marcante famílias com renda de 0 a 2 salários mínimos e as mulheres como
chefes de família.
PAZ (2010) relata que o Serviço Social é uma profissão de intervenção,
que se apóia em instrumental científico multidisciplinar das ciências humanas e
sociais, atuante nos diversos espaços sócio ocupacionais. A autora salienta o
papel de planejar, gerenciar, administrar e executar políticas, programas e
serviços sociais, essas intervenções dos Assistentes Sociais, contribuem
justamente para a emancipação dos sujeitos, por meio das ações
socioeducativas e organizativas.
Para o processo do trabalho social, o profissional usa da
instrumentalidade, que se concretiza para além do cotidiano profissional e das
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técnicas, em meio a esse processo de trabalho uma ação interventiva que
compreenda as dimensões da instrumentalidade:
Compreender a posição que a dimensão instrumental da intervenção
profissional ocupa na prática do Assistente Social exigiu a adoção de
referências teórico-metodológica, procedimentos analíticos,
categorias intelectivas que extrapolam o âmbito do Serviço Social,
bem como das racionalidades subjacentes às formas de ser e pensar
a profissão. (GUERRA, 2010: p.14)
Compreender a demanda dos usuários da habitação na sua
singularidade, com elementos simples da situação dos usuários, a
particularidade como campo de mediação que se universaliza ou singulariza e
a universalidade com o conjunto das múltiplas determinações sociais, políticas,
econômicas e culturais. Em meio ao processo interventivo a instrumentalidade
se utiliza da categoria de mediação, que leva o profissional a uma criticidade
sobre o movimento interventivo dando respostas para as demandas dos
usuários e nas relações entre o Serviço Social, moradores e Caixa Econômica
Federal.
Para este estudo temos como objetivos específicos: conhecer as
atribuições dos Assistentes Sociais na questão da mobilização e organização
comunitária junto aos moradores do empreendimento Virgilio Távora I e avaliar
a relação da participação dos moradores diante das atividades socioculturais,
na promoção das atividades de natureza cultural, pedagógica, esportiva, de
lazer e de promoção da cidadania.
O presente trabalho monográfico foi divido em três capítulos sendo que
o primeiro capítulo abordará inicialmente o contexto histórico da política
habitacional no Brasil a partir da década de 20 quando inicia no país a
preocupação por parte do Estado em relação às condições de moradia de boa
parte da população, bem como os programas e projetos que nortearam a
política habitacional nesse período, perpassando pelas demais décadas, até a
atualidade. Iremos fazer um recorte da política de habitação ao nível de Ceará,
iniciando com o primeiro órgão responsável por esse dinâmico nível estadual,
relatando o papel da COHAB Ceará.
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Traremos a historia da habitação em nível municipal, no caso a cidade
de Maracanaú, relatando os programas e os projetos que foram e são
desenvolvidos pela Coordenadoria de habitação do município. Apresentaremos
o Programa Minha Casa Minha Vida, bem como os frutos do programas no
município de Maracanaú. O histórico do Trabalho Técnico Social, a sua
importância e o desenvolvimento do trabalho desenvolvido na comunidade
Virgílio Távora I, bem como as ações desenvolvidas pelo Serviço Social.
No segundo capítulo abordaremos as discussões referentes à atuação
do serviço social na política de habitação, bem como à história e a categoria de
mediação. Contribuindo para a prática profissional do Serviço Social, a
categoria da mediação, contribui para as intervenções como um instrumento
teórico metodológico, para ação profissional nos espaços institucionais e na
qualificação da instrumentação técnica do Serviço Social. A defesa da
cidadania e da participação popular, que com a Constituição Federal de 1988
foram inseridos, devido à força das pressões dos setores da sociedade civil,
vários instrumentos de participação popular, que foram conquistados pela
sociedade brasileira, entre os quais podemos destacar: o plebiscito, referendo,
a iniciativa popular e os conselhos gestores. A Constituição tornou os
municípios autônomos e independentes no plano político-institucional,
valorizando o poder local e a participação da sociedade civil, como
fundamentos da prática democrática.
O terceiro capítulo contemplará o campo da pesquisa e as análises
qualitativas, construídas através da pesquisa de campo realizada na
comunidade Virgílio Távora I, bem como o percurso metodológico trabalhado
para a obtenção dos dados. Para a aplicação da pesquisa trabalhamos os
instrumentais da entrevista e do questionário.
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1. DISCORRENDO SOBRE A POLÍTICA DE HABITAÇÃO
1.1 Breve histórico da Política de Habitação no Brasil.
Para compreendermos o sentido da habitação temos que resgatar a
historicidade da política habitacional brasileira, que passa a ter visão de
expressão da questão social, no início no século XIX, mas precisamente
com agravamento do aumento populacional. Segundo Silva (1989) a partir
de 1920, com as transformações da economia que levaram ao crescimento
industrial, o modelo de concentração do trabalhador no centro comercial e
ao redor das fábricas, cede um modelo de ocupação baseado pela
segregação social, ocasionando mudanças na estrutura urbana e na
maneira de atuação do Estado.
Fato esse que acarreta o crescimento das favelas, despertando por parte
das autoridades medidas que amparasse o ajustamento à ordem vigente,
passou a ser adotado pelo Estado uma política de contenção e eliminação
das favelas, podemos destacar como medida a criação dos Parques
Proletários, que serviam de abrigos temporários para as famílias faveladas,
as construções caracterizavam-se em acomodações coletivas e de madeira.
Em meados da década de 30 entra em funcionamento a criação as
Carteiras Prediais - CP, que segundo Silva:
“A intervenção do estado no setor habitacional, em 1937, com a
criação das Carteiras Prediais deve ser compreendido no contexto de
desenvolvimento econômico e político da época, quando se dava o
agravamento das condições habitacionais do meio urbano pelo
impacto das crescentes taxas de urbanização...” (SILVA, 1989, p.39)
O referido sistema era atrelado ao sistema de previdência, configurando-se
a primeira ação do Estado que focava em assumir o papel de interventor,
pela oferta de habitação destinada a população, contudo vale ressaltar que
a ação acabou se firmando a grupos restritos que eram vinculados aos
institutos de previdência fomentando uma ação fragmentada e focalista,
conseguindo mínimas efetivações.
Araújo (2005) relata que o desenvolvimento econômico, propiciado
nesse período de industrialização no Brasil, exigiu políticas de habitação e de
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urbanização. Esse período configura-se pela repressão dos trabalhadores, com
isso a resposta de ajustamento elaborada pelo governo foi a Fundação da
Casa Popular - FCP, a primeira política de habitação nacional, órgão esse
voltado para elaborar moradias voltadas para população de baixa renda,
contudo, a atuação da FCP retoma ações de controle social, pois comandava a
vida social dos moradores das construções habitacionais, tornando um
instrumento ligado ao clientelismo 1 , nos locais das construções, na
classificação e seleção dos candidatos, política essa que teve sua trajetória até
o ano 1964.
Na década de 50, período esse governado por Getulio Vargas a política
adotada foi em relação às favelas, uma atuação paternalista e populista
assumida pelo Estado como forma de mascarar a opinião pública. O intuito da
política adotada era de urbanizar as favelas, pois eram vistas como um
problema nacional, diante da situação foi criado o Serviço de Recuperação de
Favelas - SRF. As atuações também se voltaram para a construção de
conjuntos habitacionais, contudo devido à diminuição dos recursos o modelo
utilizado para implementação desta política tornou-se fragmentada.
Em meio a uma conjuntura no sentido de retomar o nacionalismo
desenvolmentista, no qual o país passa por aumento a favelização e
habitações precárias e desprovidas dos equipamentos básicos de saúde,
educação e saneamento, o governo lança como medidas: o Plano de
Assistência Habitacional - PAH (que iria trabalhar a dinâmica do pagamento
das prestações das casas serem proporcionais ao salário mínimo), e o Instituto
Brasileiro de Habitação - IBH, voltado para ações financeiras, orçamentárias e
a ampliação das fontes de recursos.
Diante dos movimentos populares na cidade e no campo, os
movimentos grevistas passam a reivindicar melhores condições de vida,
contudo o governo ainda se voltaria em ações de planejamento legadas a FCP
e as Carteiras Imobiliárias dos Institutos e Caixas de Aposentadorias e
Pensões. O apoio as redes privadas junto à construção civil foram reforçadas,
1 O conceito de clientelismo compreende “um tipo de relação entre atores políticos que
envolvem concessão de benefícios públicos, na forma de empregos, vantagens ficais, isenções, em troca de apoio político, sobretudo na forma de voto.” (CARVALHO, 1998, p. 134).
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na reprodução e construção das moradias populares e a criação do órgão
executor do planejamento o Conselho Federal de Habitação - CFH.
No período da ditadura militar a política habitacional brasileira,
desenvolve-se em meio a um cenário de um Estado autoritário que buscava
justificar sua opressão, censura e perseguições em nome da segurança
nacional. Em 1964 foi criado o Banco Nacional de Habitação - BNH, cujo
objetivo era difundir e promover a aquisição da casa própria para famílias de
baixa renda através de recurso do Fundo de Garantia por Tempo de Serviço -
FGTS, fazendo com que os trabalhadores e a população em geral aceitassem
o regime militar. Silva (1989), a ideologia da casa própria visa criar sentimento
de pertinência, configurando-se como instrumento de manutenção e equilíbrio
da ordem social. O BNH configurou a sua atuação nas áreas de saneamento,
habitação e desenvolvimento urbano.
Conforme Araújo (2005),o BNH reativou a economia, favorecendo a
compra da casa própria, principalmente para classe média, através da
concessão de financiamentos. A atuação do órgão frente à política de
habitação do Brasil é que essa política passa a ser administrada pelo BNH, os
financiamentos dos mutuários passam a serem protegidos pela inflação e o
sistema operacionaliza entre a articulação do Estado e do setor privado bem
como o sistema constrói sua efetivação numa política de centralização política
a e descentralização executiva. Silva (1992) relata que o acentuado déficit de
habitação ligado ao crescente aumento da população urbana vai provocar uma
corrida nesse setor, pela construção dos conjuntos habitacionais.
Os programas de construção de grandes conjuntos habitacionais foram
marcas registradas do órgão, contudo, não favoreciam o uso democrático do
espaço urbano e não atendiam as camadas de baixa renda, configurando-se
em mais uma política seletiva e fragmentada, colaborando para a ocupação
indevida e de construções improvisadas.
O Sistema Financeiro de Habitação – SFH foi uma medida com intuito
de promover à ampliação de habitações através do incremento de empresas
privadas ligadas a ordem do financiamento na produção de unidades
habitacionais e reproduzindo a lógica do consumo. Segundo Maricato:
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“A intervenção do Estado na política habitacional brasileira ocupou os
espaços existentes, de modo a definir não apenas a política
institucional dos setores ligados diretamente ao Sistema Financeiro
de Habitação (SFH), mas também parte do que podemos chamar de
provisão informal de habitações, onde situamos a autoconstrução, a
favela, o loteamento clandestino, etc.”. (MARICATO, 1987: p. 29)
As famílias beneficiadas pelo sistema de financiamento serviam de suporte
político para legitimação política do sistema ditatorial. Com a exclusão de
boa parte da população, aumenta consideravelmente as ocupações de
terras e as irregularidades. As experiências seletivas de habitações
promovidas pelo governo nesse período redundaram em relativos
fracassos, diante de reduzidos números quantitativos diante das demandas
expostas.
No inicio da década de 70, o BNH ainda promovendo a política de habitação
no país, passa a financiar todos os recursos necessários à construção de
habitações elaborada pela Companhia de Habitação Popular - COHAB,
ampliando e antecipando o financiamento até então concedidos pela
COHAB. Nesse mesmo contexto o governo lança o Plano Nacional de
Habitação Popular - PLANHAP, cujo objetivo era extinguir o déficit
habitacional da casa própria para a população que compreendia de um a
três salários mínimos, que morassem em cidades com mais de 50 mil
habitantes, no prazo de 10 anos. Silva (1989), essa meta, além de excluir
cerca de um terço da população brasileira, que compreendia os que
ganhavam menos de um salário mínimo, se apresentou como uma hipótese
absurda pela sua inviabilidade.
No contexto em que a sociedade civil nas grandes cidades, exigia junto com
os movimentos de favelas a resposta do Estado frente à problemática
habitacional tendo o início do período de transição democrática, o Estado
cria o Programa de Erradicação de Sub-habitação- PROMORAR2, programa
destinado às famílias que ocupavam ilegalmente espaços urbanos, tendo
como objetivos principais; promover a permanência das famílias nas suas
áreas de origem melhorando as suas condições de moradia, eliminar as
2O Estado do Rio de Janeiro foi escolhido para ser palco do primeiro programa a ser executado
pelo Promorar. (ZALUAR e ALVITO, 2004, p.56)
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chamadas submoradias e suas condições precárias de saneamento,
estrutura e água e recuperar as áreas alagadas ou passíveis de
inundações. Contudo Braga (1995) ressalta que a proposta no que se refere
á proposta do financiamento das casas, não considerava, devidamente, a
precária e instável situação econômica dos mutuários, pois além das
prestações os mutuários tinham que cobrir os gastos com alimentação,
transporte e vestuário.
No final de 1985, iniciando o ano de 1986 com o fim da ditadura, e a
inauguração de um novo período, a política de habitação é norteada pela
decadência dos imóveis financiados pelo Sistema Financeiro de Habitação
e um grande número de mutuários inadimplentes. A extinção do BNH
compreende uma nova reformulação no Sistema Financeiro de Habitação,
entra em cena a Caixa Econômica Federal com a responsabilidade de
administrar as finanças, pessoal, móveis, imóveis do BNH e da gestão do
Fundo de Garantia por Tempo de Serviço - FGTS. Outro órgão de grande
relevância foi a Secretaria Especial de Habitação e Ação Comunitária -
SEAC.
Inúmeras ações foram apoiadas por organismos internacionais, como o
Banco Internacional de Desenvolvimento – BID. Lima (2007), Diante do
contexto político, os governos tomaram iniciativas no desenvolvimento de
ações locais baseadas em modelos alternativos, dentre os quais se destaca e
se expande em todo o país, o de autoconstrução.
Na década de 90, o governo Collor diminui consideravelmente os
recursos para habitação, comprometendo o financiamento da política
habitacional. Em 1994 presencia-se a implantação de uma política neoliberal
de englobação do Estado ao modelo do Capital, minimizando o Estado na
garantia de direitos sociais e o conseqüente o enfraquecimento da política
habitacional. O governo lança os programas Morar Melhor 3e o Habita Brasil,
3Voltado às famílias que recebem até três salários mínimos ao mês, o programa prevê desde a
implantação de serviços de saneamento, até a construção de conjuntos habitacionais para famílias que vivem em áreas de risco. O esforço une governo federal, estados e municípios, e conta com o apoio da Caixa Econômica Federal, que financia as obras. BRASIL, Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão. Disponível em: http://www.abrasil.gov.br/. Acesso em: 15 nov. de 2012.
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ambos com recursos oriundos do Orçamento Geral da União e do Imposto
Provisório sobre Manutenções Financeiras - IPMF.
No governo do presidente Lula, é criado o Ministério das Cidades
como órgão coordenador, gestor e formulador da Política Nacional de
Desenvolvimento Urbano. Passou a ser responsável pela política setorial de
habitação, além de dar suporte à elaboração da nova proposta de Política
Nacional de Habitação. A habitação ficou legada a Secretária Nacional de
Habitação, no qual são gerenciados os programas e projetos com os demais
órgãos.
Maricato (2011) ressalta que o Ministério das Cidades foi fruto de um
amplo movimento social progressista e sua criação parecia confirmar como os
avanços, os novos tempos para as cidades do Brasil. Entre os programas do
Ministério das Cidades destacamos: a regularização fundiária, cidades
fronteiras, reabilitação das áreas urbanas e a prevenção de riscos de
desmoronamentos.
Entre os instrumentos do desenvolvimento urbano destacamos o
Plano Diretor e a Gestão Democrática da Cidade. Contudo para Maricato:
“O Ministério das Cidades constitui uma central pródiga em anunciar
obras, gerenciadas pela Caixa, que, entretanto guardam pouca
coerência entre si ou com orientação que defina um adequado e
sustentável desenvolvimento urbano ou metropolitano, em que pese o
esforço de muitos técnicos ou militantes profissionais e políticos que
fazem parte dos quadros da máquina federal.” (MARICATO, 2011:
p.28)
Aponta-se que os movimentos e os destinos das cidades brasileiras
tornaram-se fragmentados e desmobilizados e comprometendo a gestão
democrática. Estatuto das Cidades, segundo Oliveira (2001) reúne importante
instrumentos urbanísticos, tributários e jurídicos que podem garantir efetividade
ao Plano Diretor, responsável pelo estabelecimento da política urbana na
esfera municipal e pelo desenvolvimento das funções sociais da cidade e da
propriedade urbana.
O Plano de Aceleração do Crescimento - PAC visa retomar as obras
de infraestrutura econômica e social, o projeto desenvolvido pelo programa
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encontra-se em nível de: logísticas, energia e infraestrutura, quesito esse
compreende habitação, saneamento, metrôs recursos hídricos. Segundo
Maricato (2011) o PAC passou a contribuir fortemente com o crescimento do
país tanto no que diz respeito ao Produto Interno Bruto - PIB quanto à geração
de empregos formais.
O Governo Federal em julho de 2009, através da Lei 11.977 lança o
Programa Minha Casa Minha Vida – PMCMV e a regularização fundiária de
assentamentos localizados em áreas urbanas tendo como órgão executor a
Caixa Econômica Federal. O programa tem como finalidade conceder
subsídios, elaborar mecanismos de ajuda á produção, e à aquisição de um
milhão de novas moradias pelas famílias com renda de até dez salários
mínimos.
Contudo as rendas familiares para liberação do subsídio dividiram-se
em três categorias: famílias com renda até três salários mínimos cujo subsidio
é integral com isenção de seguro, famílias com renda de três a seis salários
mínimos no qual o subsídio aumenta parcialmente em financiamentos com
redução dos custos do seguro e acesso ao Fundo Garantidor e as famílias com
renda de seis a dez salários mínimos fomentando o estimulo à compra com
redução dos custos do seguro.
O objetivo principal do PMCMV é diminuir o valor da prestação da casa própria,
proporcionando que as famílias possam pagar as prestações. Os Estados,
municípios e o Distrito Federal serão responsáveis pelo recrutamento e seleção
das famílias bem como a execução do trabalho técnico social e social pós-
ocupação dos empreendimentos implantados. A infraestrutura básica como vias
de acesso, iluminação pública, saneamento básico e os demais equipamentos.
Segundo a Lei 11.977 (2009) terão como prioridades as famílias: residentes em
áreas de risco ou insalubres ou que tenham sido desabrigadas, famílias com
mulheres responsáveis pela unidade familiar e as famílias que façam parte
pessoas com deficiência. Segundo Maricato:
“Analisando a proposta do PMCMV tendo como referência o que foi a
experiência da política habitacional do Regime Militar -período de
maior construção de moradias no país – foi possível prever que a
experiência recente já mostra: o impacto negativo sobre as cidades
23
devido à localização inadequada de grandes conjuntos habitacionais
e ao aumento do preço da terra e dos imóveis”. (MARICATO, 2011,
p.68)
O programa retoma as práticas da política habitacional voltada na quantidade,
e não condição urbana e social das famílias, uma vez que as famílias de baixa
renda terão certa dificuldade em assumir o pagamento da prestação das
unidades habitacionais. Reforçando nas cidades a lógica do mercado, uma vez
que o financiamento é necessária para á produção do consumo, sendo a
habitação uma mercadoria rentável no capitalismo.
Segundo o Ministro de Estado das Cidades, Agnaldo Ribeiro em
entrevista cedida para a Revista Brasileira de Habitação (2012) os principais
obstáculos para execução do PMCMV:
“Se encontram em especial, na faixa 1, o desafio é que haja um
esforço ainda maior dos municípios para aumentar a parceria na
implementação dos projetos. O município deve se preparar do ponto
de vista do planejamento urbano e dar celeridade às aprovações
necessárias e aos demais processos”.(HABITAÇÃO, 2012, p.10)
Em meio aos desafios postos ao programa, que a participação não só
do Estado, mas também as parcerias da sociedade civil em geral serão de
extrema importância para fiscalização e efetivação do programa. Os números
apresentados na tabela refletem a grandiosidade do programa.
QUADRO 1 – Números do Programa Minha Casa Minha Vida
RENDA UNID. HABITACIONAIS PERCENTUAL %
Até R$ 1.600,00 542.266 54,16
De R$ 1.600,01 a 3.100,00 419.795 41,93
De R$ 3.100,01 a 5.000,00 39.078 3,90
TOTAL 1.001.139 100,00
Fonte: Governo Federal/ Ministério das Cidades, 2012.
Podemos citar como desafio do programa a sustentabilidade dos
empreendimentos, ligados a questão da qualidade da infraestrutura
24
proporcionada aos moradores, bem como a estrutura dos demais
equipamentos sociais no entorno das moradas e o acesso as políticas publicas
vigentes.
1.2 A Política de Habitação no Estado do Ceará
A migração da população da zona rural para a capital do Estado do
Ceará, desperta por parte do Estado a atenção em relação à construção de
moradias. Essa realidade permeia por todo o país, o governo estadual cria em
1963 a Companhia de Habitação do Estado do Ceará – CHEC, que tinha como
objetivo produzir moradias populares, destinadas as camadas mais pobres.
Em meados de 1965, o governo muda o nome da CHEC que passa
a se chamar COHAB – CEARÁ, a sede da instituição localizava-se na Avenida
Santos Dumont, 1400 no bairro da Aldeota em fortaleza. Tinha como objetivo,
administrar os financiamentos oferecidos pelo BNH, suas ações eram voltadas:
para a produção e comercialização de unidades habitacionais de interesse
social, aquisição, urbanização e venda de terrenos, execução de atividades de
construção civil e o apoio a programas e projetos de desenvolvimento
comunitário.
Segundo a COHAB (2000) entre os conjuntos habitacionais
construídos pela mesma no Estado do Ceará, e com os maiores números de
unidades habitacionais destacam-se: conjunto Carlos Jereissati (11.334),
conjunto Ceará (8.669) e o conjunto José Walter (4.774). Carvalho (2001)
ressalta que a COHAB surge como solução para resolver o problema
habitacional no Estado e traz como conseqüência: o não atendimento da
demanda, a exclusão da população menos favorecida e uma seletividade dos
usuários.
Na década de 80 o governo do Estado reproduz o Plano de Ação do
Governo Federal, inicia-se no Estado o Programa de Mutirão Habitacional –
PMH, sendo executado pela COHABCE. O projeto de grande relevância
ocorrido no Ceará foi o Projeto de Desenvolvimento Urbano – Pro-Urb/Ce, que
tinha como objetivo fortalecer os centros urbanos do interior do Estado, vindo a
desenvolver crescimento econômico e social. O governo de Tasso Jereissati
25
através do programa de mutirão habitacional ampliou o chamado Plano de
Mudanças.
As ações desenvolvidas pela política de habitação no Estado tiveram
mais visibilidade na capital Fortaleza, em especial na década de 90, segundo
Bastos:
“Com o aumento da população de Fortaleza, surgem às lutas pela
moradia, onde ocorre uma ampliação do espaço de organização das
associações de bairros, sejam elas através de assembléias, debates,
ocupações, acampamentos, etc.” (BASTOS, 2001, p.17)
O governo passou a adotar uma prática participativa, reconhecendo o
papel dos movimentos populares, tendo como estratégias: a aproximação dos
movimentos populares, repassando algumas responsabilidades aos
movimentos e conseqüentemente anulando novas reivindicações que os
mesmos viessem a propor.
O fim da década de 90 é marcado pelo processo de extinção da
COHAB- CE, levando o governo do Estado a criar um setor responsável pela
administração dos programas de habitação do estado. A Secretária de
Infraestrutura – SEINFRA ficou responsável pelo desenvolvimento da política
de habitação.
Atualmente a política de habitação do Ceará é de responsabilidade da
Coordenadoria de Desenvolvimento de Interesse Social – CDHIS responsável
pela implantação dos planos, programas e projetos habitacionais, voltados para
a população de baixa renda. O Programa Minha Casa Minha Vida, merece
destaque nas ações desenvolvidas nos municípios. Os demais programas
desenvolvidos pelo órgão são: produção habitacional, melhorias habitacionais e
o apoio institucional aos municípios.
1.3 A Política de Habitação no Município de Maracanaú.
Inicialmente iremos retratar um breve histórico do município de
Maracanaú que significa, em tupi, lagoa onde as maracanãs bebem. O nome
foi dado ao município devido à grande quantidade destas aves que
sobrevoavam suas lagoas. Maracanaú localiza-se no Estado do Ceará,
26
Nordeste do Brasil, fazendo parte da Região Metropolitana de Fortaleza - RMF,
distando 20 km, em linha reta, do centro da capital do Estado. A ligação de
Fortaleza para Maracanaú ocorre através da CE-060. O Anel Viário, que corta o
município, também representa importante via de circulação, pois interliga todas
as rodovias que chegam a Fortaleza (BR-020, BR-222, BR-116, CE-065 e CE-
040).
Segundo IBGE (2010) a população estimada é de 209.748 habitantes,
entre os municípios que formam a grande Fortaleza, Maracanaú é o terceiro
colocado em termos de contingente populacional, abaixo somente de Fortaleza
e Caucaia. Em termos estaduais, é o quarto município mais populoso do
Ceará. O povoamento deu-se em torno de quatro equipamentos: o trem
metropolitano – linha Maranguape/Fortaleza, o Sanatório de Maracanaú, a
Colônia Antônio Justa e o Instituto Carneiro de Mendonça – Centro de
Reabilitação de Menores.
Maracanaú sofreu o crescimento populacional, motivado
principalmente pela construção de vários conjuntos habitacionais, que
exerceram forte atração junto à classe trabalhadora de Fortaleza. O município
possui a segunda maior economia do Ceará. O Produto Interno Bruto - PIB do
Município está centralizado no setor industrial, apesar da participação do setor
de serviços na economia, que também engloba o comércio ter crescido
bastante nos últimos anos.
Segundo Braúna (2010) A política de habitação de Maracanaú deu-se
a partir da década de 90, com criação de mutirões no município, que realizaram
a construção de empreendimentos habitacionais com recursos federais e
municipais, provendo1182 moradias. As ações de enfrentamento dessa
questão se dão através da adesão aos programas do governo que são
orientados pela Política Nacional de Habitação - PNH.
No período que compreende a década de 90 a política de habitação de
Maracanaú era coordenada pela secretaria de ação social do município, devido
a essa dinâmica encontramos certa dificuldade na pesquisa sobre o histórico
desse período, contudo devido à necessidade do trabalho técnico social para
acompanhar os moradores no primeiro mutirão em Maracanaú, foram
transferidas duas assistentes sociais da secretária de ação social para a
27
secretaria de infraestrutura, que atualmente é a responsável pela política
habitacional de Maracanaú.
Holanda (2011), o poder público municipal interveio na problemática da
moradia em alguns casos realizando parcerias com ONGS e com os
programas de moradia de interesse social. O quadro abaixo retrata essa
realidade.
Quadro 2 – Projetos Habitacionais de Interesse Social em Maracanaú.
ANO PROJETO Nº DE MORADIAS
2010 Residencial Vitória 80
2009 N. Senhora de Fátima 146
2008 Conjunto Renascer 44
2002 Mutirão Campo Verde I 60
2002 Mutirão Campo Verde II 16
2001 Mutirão Maracanãzinho 364
1999 Habitacional Pajuçara 81
1998 Mutirão Vida Nova 276
1994 Mutirão Jardim do Amor 79
1994 Mutirão Serra Azul 116
Fonte: Prefeitura de Maracanaú/Coordenadoria de Habitação de Maracanaú, 2012.
A política trabalhada atualmente é a parceira com PMCMV, na
Coordenadoria de Habitação, as ações iniciaram em 2009 através da
divulgação e do cadastramento das famílias interessadas. Através da pesquisa
documental na Coordenadoria de Habitação segue abaixo o quadro dos
projetos desenvolvidos junto ao PMCMV:
Quadro 3 - Projetos Habitacionais Referente ao PMCMV em Maracanaú.
ANO PROJETO Nº DE MORADIAS
2013 Residencial Bonaparte 80
2013 Residencial Demócrito Dummar 824
2012 Residencial Virgilio Távora III 224
2012 Residencial Virgilio Távora I 208
2012 Residencial Virgilio Távora II 240
2011 Residencial Blanchard Girão 104
Fonte: Prefeitura de Maracanaú/Coordenadoria de Habitação de Maracanaú, 2012.
Os projetos têm como critérios de seletividade atender famílias
residentes em áreas de risco e as famílias de baixa renda, residentes no
município de Maracanaú. Na ocasião segundo a COHAB de Maracanaú, os
28
dois projetos referentes ao ano de 2013 (Residencial Bonaparte e Demócrito
Dummar) encontram-se, em fase de construção.
Em julho de 2011, foi lançado no município o Plano Local de Habitação
de Interesse Social de Maracanaú – PLHIS Maracanaú, que se configura como
importante instrumento de implementação do Sistema Nacional de Habitação
de Interesse Social – SNHIS, que atua na promoção de planejamento das
ações do setor habitacional, de forma a garantir o acesso à moradia. As ações
do plano permitirão ao município elaborar o diagnostico da situação
habitacional, bem como diretrizes e orientações das áreas rurais e urbanas.
O plano terá como finalidade de facilitar a aquisição de recursos para
novas construções e também na regularização fundiária, o plano consta com a
participação popular, contemplando a gestão democrática, legitimação das
propostas e o controle social do planejamento da área da habitação. O plano
terá como parceiros o Ministério das Cidades, Caixa Econômica Federal,
Prefeitura de Maracanaú, Conselho Municipal de Habitação, entidades
particulares e a sociedade civil.
1.4 A Coordenadoria de Habitação de Maracanaú.
A Coordenadoria de Habitação da Prefeitura Municipal de Maracanaú foi
criada em 2005 dentro da SEINFRA – Secretária de Infraestrutura e Controle
Urbano, que é o setor responsável pelo problema habitacional da cidade,
devido ao alto índice de famílias residindo em locais impróprios. Tem como
missão efetivar o direito à moradia digna para os moradores de baixa renda em
Maracanaú, coordenar os trabalhos de distribuição de kits sanitários para quem
não possui banheiro e dar respostas aos problemas relacionados à posse de
terrenos da prefeitura.
Segundo dados da COHAB4 (2012) no período da sua criação em 2005
até 2012, já foram cadastras cerca de 8.000 famílias dos mais variados bairros
do município, contudo boa parte da demanda ainda não foi atendida pelo
programa habitacional.
4 Sigla adotada pela Coordenadoria de habitação local do município de Maracanaú.
29
Atualmente, a COHAB tem como objetivo dar resposta ao déficit
habitacional de Maracanaú, através de programas que visam à provisão de
habitações e à reintegração urbana de assentamentos precários. No mês de
janeiro de 2007, foi criado o Conselho Municipal de Moradia Popular – CMMP.
A política adotada pela instituição é a Política Nacional de Habitação, que tem
por finalidade assegurar à população de baixa renda condições dignas de
moradia, garantindo-lhe uma infraestrutura básica à sua segurança e à sua
saúde.
A COHAB conta atualmente com uma equipe multiprofissional composta
por: 07 Assistentes Sociais, 09 estagiários de Serviço Social, 01 advogado e 02
auxiliares administrativos. Além do PMCMV a COHAB conta com os seguintes
programas:
O aluguel social que tem como objetivo, promover, em caráter provisório,
moradia às famílias vitimas de desastres naturais, ou cujas moradias estejam
sob eminente desabamento ou ofereça riscos para a família. Possibilitando que
as famílias mantenham o vinculo comunitário e que sejam incluídas com
prioridade nos programas habitacionais do município.
Projeto Salgadinho, que atende a comunidade residente no entorno do
Riacho Salgadinho, exposta a condições insalubres, submetidas a
adversidades climáticas e ambientais. O projeto promove o processo de
revitalização do riacho salgadinho por meio da urbanização, no qual foram
construídas 80 unidades habitacionais para o reassentamento das famílias,
beneficiando também as famílias do entorno.
A atuação dos assistentes sociais da habitação realiza-se em; identificar
as demandas habitacionais do município, executar e acompanhar a política
local de desenvolvimento urbano, promover a articulação com a administração
pública municipal, estadual, federal, setor privado e sociedade civil organizada.
Promover mecanismos de acesso dos direitos dos usuários por meio da
inclusão nos serviços e políticas disponíveis e a realização de articulações
entre os equipamentos da rede sócio-Assistenciais, efetivando o atendimento
da demandas (ver anexo D).
30
1.5 O Trabalho Técnico Social.
A primeira experiência referente a uma ação de trabalho social ocorreu
na década de 40, as favelas se configuravam com um objeto de controle e
repressão por parte do Estado. A intervenção direta nas favelas do Distrito
Federal ocorreu através da criação da Fundação Leão XIII, por um pacto da
Igreja com Estado. Segundo Silva (2009) ambos interessados em frear a
disseminação do comunismo, que chegava às favelas. A fundação tinha o
objetivo de recuperar as favelas, iniciando a intervenção nas favelas que
concentravam um número maior de habitantes. A atuação configurou-se em 34
favelas na qual foram criados os Centros de Ação Social, sendo demandado
um contingente significativo de Assistentes Sociais, com ambulatórios de
escolas e uma ação assistencialista e ajustadora para a ordem vigente.
Segundo o Ministério das Cidades (2010), o trabalho técnico social 5
configura-se como um componente estratégico dos projetos de habitação, que
deve ser desenvolvido pelos agentes executores como todas as famílias
beneficiárias, sendo que os normativos dos programas prevêem a participação
de profissionais qualificados da área social e a responsabilidade técnica de
Assistentes Sociais, que integram a equipe pelos projetos contratados.
O trabalho social passou a ser desenvolvido nos programas
habitacionais junto as COHABs, através do recurso da Taxa de Apoio
Comunitário – TAC, criado em 1973 com o objetivo à manutenção dos
conjuntos habitacionais e seus equipamentos comunitários e para o pagamento
dos Assistentes Sociais que executavam o Plano de Serviço Social, sendo que
o preço para esse pagamento era embutido nas prestações financiadas pelos
mutuários. Paz e Taboada ressaltam que:
“No entanto, é significativa a predominância dos profissionais da área
do Serviço Social que trazem para a atuação referências teórico-
metodológicas e compromissos éticos-políticos, construídos pela
profissão num movimento de luta contra as bases conservadoras e
tradicionais da profissão...” (PAZ; TABOADA, 2010, p. 46)
5 Tendo atualmente na sua composição os seguintes profissionais: assistente social, psicólogo
e sociólogo.
31
No ano de 1975, o BNH assumiu o compromisso em dar suporte ao
trabalho social 6dos agentes, estruturando as equipes e definindo as diretrizes
e a metodologia do Trabalho Social na Habitação. O trabalho passou a adquirir
um caráter menos administrativo e orientando-se no sentido que os usuários
despertassem a consciência cidadã de direitos e deveres e da importância da
participação popular.
Na década de 80 o trabalho técnico social adota como eixo central o
apoio as reivindicações e a organização popular, no incentivo a comissão de
moradores, grupos de mulheres e aos movimentos populares. Os profissionais
passaram a questionar o Estado, que o modelo de remoção das famílias para
áreas distantes não contribuía para os vínculos sociais. No ano de 1995 a
Caixa Econômica realiza o trabalho social nos projetos de habitação com
recursos de bancos internacionais. Destacamos também nesse período a
criação do cargo de técnico social no qual foram ocupadas muitas vagas de
trabalho por meio de concurso interno.
A partir de 2000 sob a administração e gerenciamento da Caixa
Econômica Federal7, o trabalho técnico social passa a adquirir novas diretrizes,
sendo as mesmas voltadas para o trabalho técnico social em habitação de
interesse social. Paz e Taboada (2010) relatam que o trabalho configura-se
como processo de trabalho em territórios determinados, que efetiva um amplo
leque de ações, permeado por uma ação socioeducativa e política pautada nos
valores democráticos e de justiça social. Segundo o Ministério das Cidades são
diretrizes para o trabalho social de habitação de interesse social:
a) A cidadania, a defesa dos direitos sociais, em particular, o direito a
moradia digna.
b) A participação e organização da população em movimentos sociais e
outras formas associativas.
c) O respeito às diferenças e diversidade.
6Podemos considerar o inicio do trabalho social nos programas do Governo Federal, e com o
subprograma de desenvolvimento de comunidades. 7 Em relação ao trabalho técnico social desenvolvido pela caixa tem como objetivo principal:
“desenvolver um conjunto de atividades de caráter formativo, educativo e de promoção social, visando o desenvolvimento comunitário e a sustentabilidade do empreendimento/projeto”. (RIBEIRO, 2005, p.170)
32
d) A capacitação daqueles que vivem nos territórios de intervenção.
No ano de 2001, devido às dificuldades das prefeituras municipais em
efetivar o trabalho social, foi realizado a incorporação dos itens de investimento
dos projetos um valor referente para o Trabalho Social. Em 2003 os campos de
trabalho para o acompanhamento dos projetos sociais e das pesquisas
aumentam consideravelmente, junto surge à dificuldade em aumentar o
número de profissionais aos quadros da empresas. A Caixa Econômica lança o
primeiro edital de credenciamento8 para a formação de banco de profissionais
que poderiam executar os trabalhos sociais de forma terceirizada.
Para a maior efetivação do Trabalho Técnico bem como sua estruturação
dentro da Caixa Econômica, foi elaborado um conjunto de parâmetros que
fundamentam os trabalhos. Entre os quais ressaltaremos os seguintes:
a) Permitir a participação da comunidade em todas as etapas da
intervenção.
b) Aumentar as oportunidades de parcerias em gestão pública, de forma a
multiplicar os investimentos e os resultados.
c) Estimular os mecanismos geradores de empregos geradores de
emprego, trabalho e renda.
d) Fortalecer laços sociais, manifestações culturais, identidade local e
convivência comunitária.
e) Buscar a sustentabilidade dos benefícios implantados em todas as
etapas: gestão, uso e manutenção.
f) Compartilhar as responsabilidades, em uma concepção de gestão
participativa.
g) Dar maior transparência à gestão dos recursos públicos.
h) Possibilitar maior acesso aos serviços públicos.
O trabalho técnico social na perspectiva do PMCMV é orientado pela Caixa
Econômica Federal através do Caderno de Orientação Técnico Social – COTS,
que orientam as equipes dos Estados, Municípios, Entidades e Empresas
credenciadas para o desenvolvimento do Trabalho Técnico Social – TTS.
Segundo o COTS:
8 Dado obtido no livro: A Política de Habitação e Trabalho Social.
33
“A realização do trabalho baseia-se na premissa de que a
participação dos beneficiários promove uma melhor adequação das
intervenções às necessidades e demandas dos grupos sociais
envolvidos, e apresenta-se como contribuição significativa para a
sustentabilidade do empreendimento.” (COTS, 2010, p.02)
As ações do TTS são desenvolvidas com enfoque interdisciplinar em
sincronia com a realização das obras físicas. Iniciando com levantamento dos
dados e informações que contemplem a situação social da área onde se
pretende realizar a intervenção.
O Projeto de Trabalho Técnico Social – PTTS, através da COTS se norteia
por eixos e macro ações que a seguir serão elencados.
1) Eixo da mobilização e comunicação (ação informativa suporte as
intervenções físicas, articulação para as parcerias, capacitação da
equipe técnica e avaliação e monitoramento).
2) Participação comunitária e desenvolvimento sócio organizativo
(mobilização e organização comunitária e as atividades
socioculturais).
3) Empreendedorismo (geração de trabalho e renda e capacitação
profissional).
4) Educação (educação ambiental, educação sanitária, educação
patrimonial, educação para mobilidade urbana e educação para
saúde).
5) Remoção e reassentamento (apoio ao remanejamento das famílias).
Entendo que a política habitacional deve acontecer de forma a abranger
o beneficio da moradia, mas também a garantia de infraestrutura adequada,
bem como a inserção dos demais direitos sociais que possam contribuir
para a efetivação desses direitos é que está sendo realizado o Trabalho
Técnico Social na Comunidade Virgilio Távora I.
O projeto específico trabalhado na referida comunidade tem como
objetivo geral; desenvolver ações que origine multiplicadores à educação
sanitária e ambiental, estímulo aos hábitos de prevenção, saúde,
saneamento básico e valorização da moradia com vistas ao processo
34
organizativo, garantindo uma adequada convivência em regime condominial
e a permanência dos beneficiários no imóvel.
Destacamos os principais objetivos específicos do Trabalho Técnico
Socialda comunidade Virgilio Távora I:
a) Divulgar a proposta do PMCMV e possibilitar a socialização das
informações entre os beneficiários.
b) Realizar a entrega das unidades habitacionais às famílias
beneficiadas.
c) Promover a mobilização comunitária elegendo um grupo
representativo.
d) Estabelecer parcerias visando à participação dos moradores.
e) Fomentar a cultura de valorização dos recursos naturais e
educação ambiental.
f) Capacitar os beneficiários sobre os direitos e deveres relativos ao
Regimento Interno, Convenção do Condomínio e todas as ações
que envolvam a existência formal do condomínio.
g) Esclarecer questões relacionadas à saúde, educação ambiental e
patrimonial, mobilidade urbana e convivência coletiva.
h) Proporcionar momentos de interação e participação entre os
beneficiários.
i) Avaliar o desenvolvimento das atividades do Trabalho Social.
A metodologia de ação teve como eixos estruturantes a cidadania,
organização comunitária, educação ambiental e sanitária, fixação e valorização
do imóvel, adaptação e convivência em condomínio. Para a realização das
atividades foram utilizados como material de apoio: cartilhas, cartazes,
banners, folders e o material de expediente, bem como combustível de
deslocamento da equipe e oferta de lanches durante as atividades realizadas.
O acompanhamento social das famílias será realizado através de palestras,
encontros, oficinas e visitas domiciliares.
35
2. O TRABALHO DO ASSISTENTE SOCIAL NA POLÍTICA DE HABITAÇÃO
2.1 Abrindo as discussões: história e mediação
O Serviço Social inicia suas ações no Brasil, através do Estado e sendo
reforçado pela igreja católica e por parte da burguesia ligada à moral e aos
bons costumes, gerando uma correlação de força entre Estado, igreja,
burguesia e o povo. Diante do agravamento da expansão urbana e do
desenvolvimento capitalista industrial, o Serviço Social na área da habitação
passa a realizar suas ações através das instituições, tendo como exemplo
segundo Iamamoto e Carvalho (2008), a Associação Lar Proletárias, na qual
desenvolvia atividades relativas ao conjunto residencial de 230 casas
construídas pela instituição e posteriormente a Fundação Leão XII, na qual os
profissionais trabalhavam a questão da moradia nas favelas.
Com uma ação de caráter doutrinário os assistentes sociais trabalhavam
no sentido de mediar conflitos entre as instituições e os moradores, para
trabalhar essa mediação o profissional usava o conceito de mediação ligada à
vertente filosófica, de origem cristã, uma visão de tutela, um intermediário que
segundo Pontes (2010), o uso corrente de compreender o termo mediação
como a ação de atuar como mediador de conflitos de natureza política, jurídica
e familiar. Remontando a um conceito jurídico de conciliação de interesses
entre as partes.
Apropriando-se dessa visão de mediação, que era reforçado as práticas
caritativas, ajustadoras e assistenciais das famílias acompanhadas nas
grandes favelas. Segundo Carvalho esse ajustamento traduzia:
“O trabalho de adaptação do individuo ao meio e do meio ao
individuo, pesquisa das causas profundas dos males sociais –
procura das causas dos desajustamentos sociais e ação direta sobre
eles de maneira cientifica – a fim de não só remedar, mas ainda de
curar e prevenir seu reaparecimento, eis a forma que tomou
atualmente a atividade orientada ao saneamento das deficiências
individuais e coletivas”. (CARVALHO, 2008, p.202)
As ações eram voltadas em práticas disciplinadoras com intuito de
moldar o cliente na sua inserção na vida institucional, sendo uma tutela desses
36
sujeitos através da viabilização de serviços e orientações educativas visando o
caráter da disciplina social.
O movimento de reconceituação9 do Serviço Social traz o debate em
torno da apropriação da categoria no pensamento marxista, com intuito de criar
uma nova orientação para prática profissional transformadora e crítica. E meio
ao processo de inovação científica e metodológica do Serviço Social, após o
movimento de reconceituação, que a categoria de mediação inspirada no
marxismo passa a ter sua relevância, frente à prática profissional dos
Assistentes Sociais. O discurso profissional incorpora uma nova concepção
teórica das relações sociais, e também uma nova prática no que se refere à
intervenção e uma riqueza teórica e política.
Através da realidade social e profissional, a mediação configura-se no
discurso profissional com as abordagens metodológicas, tendo sua
aplicabilidade à prática profissional. Configura-se como uma categoria de
análise da realidade que compreende a universalidade, particularidade e a
singularidade. No campo da universalidade encontra-se a finalidade da
profissão, no espaço da particularidade estão inseridos os meios e
instrumentos de trabalho do Assistente Social que consistem no espaço de
intervenção e a singularidade que é objeto ou a essência do Serviço Social.
Contribuindo para a prática profissional do Serviço Social, a categoria da
mediação, contribui para as intervenções como um instrumento teórico
metodológico, para ação profissional nos espaços institucionais e na
qualificação da instrumentação técnica do Serviço Social. Pontes descreve a
mediação como:
[...] uma das categorias centrais dialética, inscrita no contexto da
ontologia do ser social marxista, e que possui uma dupla dimensão:
9“Nessa conjuntura que é preciso situar o movimento de reconceituação, não como um projeto
isolado e vanguardista, mas como um projeto vivo e contraditório de mudanças no interior do Serviço Social latino-americano. A ruptura com Serviço Social tradicional se inscreve na dinâmica de rompimento das amarras imperialistas, de lutas pela libertação nacional e de transformações da estrutura capitalista excludente, concentradora, exploradora. Esse movimento reflete as contradições e confrontos das lutas sociais onde embatem tendências de conciliação e de reforma com outras de transformação da ordem vigente no bojo do processo revolucionário e anda com outras que visa apenas modernizar e minimizar a dominação”. (FALEIROS, 1987, p.51)
37
ontológica e reflexiva que é elaborada pela razão. (PONTES, 1997,
p.38)
A mediação como categoria reflexiva, compreende a particularidade
que propícia as universalidades ganharem um sentido objetivo opereracional
na vida singular dos usuários dos serviços sociais públicos, nos seus
problemas pessoais e psicossociais. Estabelece relações sociais, no qual os
usuários tenham expressão de identidade e de atitudes, leva a instituição a se
identificar como um espaço de convergência de sujeitos históricos do social,
mobilizados, organizados e participativos.
Este movimento permite a reconstrução do objetivo profissional, despido
das aparências, possibilitando um real enfrentamento das demandas. A
particularidade das demandas tendo o seu compreendimento, o profissional
conseguirá romper com a visão imediatista, e a apreendendo-as como
processo sócio-histórico, numa relação entre a subjetividade e as
determinações sócio-históricas.
Pontes (2010) reforça que a particularidade é campo da intervenção
profissional que necessita de instrumentalidade: técnicas, instrumentos,
estratégias. Sem esta instrumentalidade não há possibilidades de uma
intervenção profissional transformadora, tendo em vista que a apropriação da
instrumentalidade possibilitará a criação de espaços de potencialidades.
Pontes (2010) ressalta que a mediação possui a dimensão ontológica e
reflexiva (intelectiva) que permite mediante um impulso do real, a razão
construir categorias para auxiliar a compreensão e ação profissionais. O
Assistente Social necessita da ação reflexiva para uma prática transformadora,
tanto do profissional como dos usuários nas intervenções dos programas
habitacionais, a mediação reflexiva contribui para a participação popular no
sentido do coletivo, rompendo a visão individualista, conscientizando os
usuários, que os benefícios não estão no campo do imediato.
No campo da habitação trabalhar a mediação voltada para a dimensão
reflexiva, através do saber técnico, conscientizado os usuários nas melhores
formas dos mesmos questionarem o que realmente é necessário e prioritário,
para as demandas da comunidade. Contribuindo para a dimensão reflexiva dos
usuários na área da habitação Gomes (2001), ressalta que uma inflexão dessa
38
prática que passe a se articular com as lutas dos movimentos sociais tendo
como referencia em alguns casos os direitos de cidadania, em outros a
organização da classe trabalhadora. Fomentando uma reflexão crítica e
sujeitos participativos com o posicionamento voltado para o coletivo nas
reivindicações voltadas para educação, saúde e transporte público, que
venham a beneficiar a condição de moradia.
Com a apropriação da categoria da mediação, no método dialético da
teoria social crítica, analisaremos a prática profissional do Assistente Social,
tomaremos com ponto de partida o conceito de prática, Guarechshi (1992),
define como sendo uma ação planejada e racional ou não intencional, podendo
ser percebida como uma ação que transforma ou reproduz a realidade. A
construção do Serviço Social aconteceu de forma progressiva, permeando a
existência da práxis que segundo Konder (1992) é a atividade pela qual os
sujeitos humanos se afirmam no mundo, modificando a realidade objetiva e
para, poderem alterá-la, transformando a si mesmo. No processo de
intervenção da realidade a práxis contribui para que a prática profissional
apropria-se do processo de intervenção da realidade.
Antunes (1999) relata que, as formas mais desenvolvidas da práxis social,
paralelamente a essa relação homem-natureza desenvolve-se mútuas relações
com outros seres sociais, também com vistas à produção de valores de uso. A
práxis social interativa, cujo objetivo é convencer outros seres sociais a realizar
determinado ato teleológico, nesse sentido cabe-se uma ligação direta com o
movimento da participação popular, reforçado pela prática dos profissionais,
frente às demandas.
Guimarães (2006) relata a prática profissional como sendo um conjunto de
conhecimentos, valores, modelos e símbolos que se acumulam no próprio fazer
e que se traduzem naquilo que se conhece como prática e que se dá através
de uma competência técnica, que se baseia:
[...] no saber prático e na realização de uma prestação de serviço, ou
seja, a competência profissional deriva do domínio metodológico, do
saber fazer adquirido com a experiência durante o exercício
profissional, uma valorização da prática. (GUIMARÃES, 2006, p.15)
39
A ênfase na técnica profissional também está relacionada aos
fundamentos teóricos, à análise da realidade e a ampliação do instrumental
técnico. O Assistente Social contribuiu na sociedade através de mudanças nos
processos sociais e nas políticas sociais, exigindo dos profissionais novas
formas de intervenção profissional.
Ao se falar em prática profissional usualmente tem-se em mente o que o
Assistente Social faz, ou seja, o conjunto de atividades que são
desempenhadas pelo profissional, com base nessa observação Iamamoto
destaca:
Uma interpretação distinta do exercício profissional, que pode
possibilitar à categoria profissional ampliar a transparência na leitura
de seu desempenho, é focar o trabalho profissional como partícipe de
processos de trabalho que se organizam conforme as exigências
econômicas e sociopolíticas do processo de acumulação, moldando-
se em função das condições e relações sociais específicas em que se
realiza, as quais não são idênticas em todos os contextos em que
desenvolve o trabalho do assistente social. (IAMAMOTO, 2010, p.94-
95)
A compreensão de prática e de trabalho não parte de uma mudança de
nomenclatura, mas, de entendimento: o que geralmente é chamado de prática
corresponde a um dos elementos constitutivos do processo de trabalho.
Considerar a prática profissional no contexto de correlação de forças diante das
relações postas seja na atuação de competências do profissional na
elaboração de técnicas e estratégias nas quais envolvam as relações junto às
equipes multiprofissionais e a condição de interpretar a leitura da realidade.
Em meio a processo histórico do Serviço Social, em relação à
particularidade da prática profissional, Silva relata:
“... essa é entendida como um processo histórico que vem se
desenvolvendo a partir da institucionalização e consolidação da
profissão, no contexto da divisão sócio-técnica do trabalho, por força
de um conjunto de múltiplas determinações (...). Trata-se de um
processo em que a dinâmica põe e repõe objetivamente
40
possibilidades que só transformarão em alternativas profissionais
reais, quando apropriados e elaborados por setores profissionais e
transformados em estratégias de ação que passam a configurar
respostas intelectuais e técnicas as demandas.” (SILVA, 1992, p.
102-103)
A atuação profissional no campo da habitação frente às demandas
habitacionais em meio aos projetos técnicos sociais visa contribuir a efetivação
do direito a moradia digna e de qualidade, buscando fomentar a cidadania
através da intervenção social e urbana, prática essa norteada pelo código de
ética profissional, promovendo a participação cidadã e socioeducativa, por
meio das políticas sociais. Oliveira (2003) o profissional na área da habitação
trabalha na perspectiva de contribuir para a construção da cidadania e no
compromisso ético com a justiça e a equidade, no entendimento do processo
histórico que envolve os indivíduos, contribuindo de certa forma para a
participação popular.
2.2 A Defesa da Participação Popular e da Cidadania.
Com a Constituição Federal de 1988 foram inseridos, devido à força das
pressões dos setores da sociedade civil, vários instrumentos de participação
popular, que foram conquistados pela sociedade brasileira, entre os quais
podemos destacar: o plebiscito, referendo, a iniciativa popular e os conselhos
gestores. A Constituição tornou os municípios autônomos e independentes no
plano político-institucional, valorizando o poder local e a participação da
sociedade civil, como fundamentos da prática democrática.
Para Dias (2004), a participação popular é um processo que
compreende o desenvolvimento de ações contínuas.
A participação popular é processo político concreto que se produz na
dinâmica da sociedade, mediante a intervenção cotidiana e
consciente de cidadãos individualmente considerados ou organizados
em grupos ou em associações, com vistas à elaboração, à
implementação ou a fiscalização das atividades do poder público.
(DIAS, 2004, p.46)
41
A democracia participativa caracteriza-se pela intervenção popular no
planejamento, na deliberação, no exercício ou na fiscalização da atuação
governamental, ou na formação do Estado, por meio dos canais de
participação. Em meio à intervenção popular podemos destacar o controle
social que segundo Souza:
“O controle social não é apenas uma lei geral por
um direito adquirido. Trata-se de potencializar a criatividade da
sociedade civil na elaboração das políticas publicas, uma vez que é
ela quem percebe no cotidiano dos serviços prestados a efetividade
ou não das suas políticas, e principalmente as lacunas deixadas
pelos serviços públicos”. (SOUZA, 2006, p.82)
O controle social reproduz justamente a participação da sociedade civil,
na fiscalização e na elaboração de políticas sociais, bem como a criticidade por
parte dos participantes sobre a realidade, contendo uma dimensão ética na
promoção da justiça social.Campos (2004) apresenta os principais objetivos do
controle social:
a) Possibilitar o envolvimento da sociedade nos assuntos do governo.
b) Tornar o governo mais público e a sociedade civil mais atenta e
cooperativa.
c) Zelar pela utilização dos recursos públicos, considerando que são
recursos da sociedade pagos direta ou indiretamente através das
várias modalidades de impostos e que, portanto, devem retornar a
sociedade em forma de serviços de interesse público.
d) Democratizar a gestão das políticas públicas, no caso específico, das
políticas de assistência social, saúde e educação.
Nesse processo de participação da sociedade civil, junto aos
movimentos populares que o Serviço Social reproduziu suas ações, antes
quando o profissional foi chamado para exercer o controle social das massas e
atualmente a frente do que relata o projeto etico-politico da profissão, o controle
social voltado para os movimentos populares reforçarem suas ações de
fiscalização perante o Estado.
A participação popular, segundo a autora sofre algumas críticas por
parte de alguns membros da camada civil. A adoção do sistema participativo
42
acarretaria o enfraquecimento das instituições representativas, pondo em risco
o regime democrático. Podemos destacar em meio o processo participativo o
exercício da cidadania, para além das práticas eleitorais, e a revitalização da
democracia, a partir da possibilidade de efetiva participação, por meio dos
canais institucionais, são conquistas que os cidadãos conseguiram no período
democrático.
Braúna (2010) afirma que as formas de participação popular podem sim
ter a sua eficácia quando os atores envolvidos exigem por parte do Estado a
transparência, a participação da esfera governamental, que irá produzir ações
que proporcionem aos interesses sociais e coletivos uma efetivação junto ao
interesse da comunidade.
A participação dos atores sociais na divisão das responsabilidades e
do poder de decisão, na elaboração, discussão, implementação,
execução e avaliação das políticas públicas, no caso, da habitação, é
fundamental para o alcance de resultados efetivos e sustentáveis no
planejamento das políticas públicas. (BRÁUNA, 2010, p.47).
Com a participação da comunidade no desenvolvimento do projeto
social é possível alcançar resultados significativos, tanto no plano
socioeducativo, como no processo de adaptação desta nova realidade. As
formas de participação podem mostrar-se eficazes no sentido de exigirem
transparência das ações governamentais, além de produzir um desempenho
mais satisfatório e que contemplem os interesses sociais coletivos vinculados
ao cotidiano das comunidades.
A política de habitação preconiza a chamada participação comunitária,
oriunda da participação popular, no período do trabalho técnico social, na qual
a participação dos beneficiários promove uma melhor adequação das
intervenções às necessidades e demandas da comunidade envolvida. A
participação comunitária nas intervenções torna os beneficiários mais
comprometidos, levando-os a exercerem seus direitos e deveres, permitindo a
afirmação da cidadania.
43
A participação comunitária compreende um dos eixos contido no
trabalho técnico social, desenvolvido junto aos moradores das comunidades
beneficiadas. Trabalha a participação através do desenvolvimento de reuniões,
palestras, assembléias e campanhas educativas, contribuindo para trabalhar
junto aos indivíduos o significado da participação, na qual o poder publico
reorganiza as estruturas institucionais a fim de propiciar a intervenção dos
atores no campo das políticas sociais.
Em meio ao processo participativo que é reforçado a questão da
cidadania, pois é nos grupos sociais em meio à participação é que as pessoas
se interessam pelas questões que envolvem para além da moradia. Segundo
Cortina (2005) cidadania é o que pode motivar os indivíduos a trabalhar por ela.
Para Dallari, a cidadania possui um conceito mais vasto:
“... expressa um conjunto de direitos que dá à pessoa a possibilidade
de participar ativamente da vida e do governo de seu povo. Quem
não tem cidadania está marginalizado ou excluído da vida social e da
tomada de decisões, ficando numa posição de inferioridade dentro do
grupo social.” (DALLARI, 1998, p.14)
O entendimento da cidadania plena combina um misto de liberdade,
igualdade e participação da sociedade. A cidadania compreende a questão
dos direitos que segunda a classificação, dividem-se em três: o direito civil,
sendo essenciais para vida, ligando a igualdade perante a lei, à propriedade e
a liberdade. O direito político, que se refere à participação dos sujeitos no
governo, reforçado pela questão do voto. O direito social,que garante o direito
aos sujeitos por parte do Estado entre os quais: habitação, saúde, educação,
trabalho e segurança.
Os indivíduos adquirem para si um sentimento de pertença em
concretizar uma forma de vida capaz de contribuir para o bem coletivo, para
Demo (1995), o fator essencial para esse progresso é a cidadania, definida
como competência de fazer-se sujeito para fazer história própria e
coletivamente organizado e:
“para o processo de formação dessa competência alguns
componentes são cruciais, como a educação, organização política,
identidade cultural, informação e comunicação, destacando acima de
44
tudo o processo emancipatório. Este funda-se, de partida, na
capacidade crítica, para, com base nesta, intervir na realidade de
modo alternativo” (DEMO, 1995, p.01-02)
A cidadania sendo um elemento da essência dos direitos humanos,
sendo que no campo das relações da sociedade se faz sujeito histórico tendo a
capacidade de compreender e efetivar um projeto coletivo de desenvolvimento.
Contudo o autor reporta a cidadania tutelada voltada para o processo de
apropriação e tutela das massas, e a cidadania assistida que expressa uma
maior capacidade política dos cidadãos, na qual apreendem a noção de direitos
e os componentes da democracia, contribuindo para emancipação dos sujeitos.
Silva relata que:
“Dificilmente o morador comum tem plena consciência do que venha
ser cidadania, e a compreensão de como se esboçam os seus
direitos e deveres diante do Estado. É nesta preceptiva que o
individuo deveria apreender o seu papel social. Na grande cidade,
dada a sua complexidade, o seu tamanho e as relações intra e extra-
urbanas ali mantidas, o homem parece engolido pela sua estrutura de
dominação”. (SILVA, 1992, p.118)
Diante do exposto no que se refere à dominação é que em meio ao
processo emancipatório o Serviço Social vem contribuir como ponto de partida
inicial nesse campo como forma de intervir na realidade, construindo junto com
a comunidade consciência cidadã. A condição de moradia adequada surge
como fator determinante para o exercício da cidadania, contribuindo para a
eliminação para a eliminação da pobreza política enquanto instrumento de
massa para manobra.
A autonomia para a prática da cidadania é que a mesma consiga
assegurar o direito de reivindicar os direitos, com intuito do atendimento dos
direitos sociais que preconizam o atendimento das necessidades básicas
como: alimentação, saúde, educação e a habitação.
A ligação da cidadania com o Serviço Social é muito forte, devido à
construção e a execução das políticas públicas, para as garantias de direitos
em relação ao acesso dos programas e dos benefícios sociais. Barroco (2012)
e Terra (2012) relatam:
45
“Assim, o código de ética abordou a relação do exercício profissional
com a viabilização dos direitos humanos e a ampliação da cidadania:
forma sociopolítica de garantir a vigência dos direitos sociais e
políticos” (BARROCO; TERRA, 2012, p.61)
A garantia que tornem a democracia uma luta constante pela ampliação
da cidadania, reforçando a efetivação dos direitos políticos, civis e sociais.
Contemplando o envolvimento das mais variados membros da sociedade civil,
junto à correlação de força que envolve a instituições e o Estado. No campo da
habitação, o profissional compromissado na garantia desses direitos contribui
para a construção de uma política urbana e de habitação que possibilite
compartilhar os serviços públicos de maneira universal.
Ações como essa resultarão, no compromisso com o código de ética
profissional e para aprofundamentos abordaremos os princípios
fundamentais10referentes à participação e cidadania que se apresentam como
categorias de análises da pesquisa e no final desse tópico apresentamos os
demais princípios. A ampliação e consolidação da cidadania, cujo profissional
de Serviço Social encontra-se plenamente envolvido em meio a esse processo
Barroco (2012) e Terra (2012), ver a importância da ampliação da cidadania
como pressuposto para o aperfeiçoamento de direitos.
O princípio da participação é mencionado em relação à defesa do
aprofundamento da democracia, enquanto socialização da participação política
e da riqueza socialmente produzida. Barroco (2012) e Terra (2012) reforçam
que o principio em questão destaca a democracia como real, e para que haja
democracia é imprescindível que a riqueza produzida seja socializada.
Contudo os demais princípios norteadores do Código de Ética do assistente
social são:
a) O reconhecimento da liberdade como valor ético central e das demandas
políticas a ela inerentes, autonomia, emancipação e plena expansão dos
indivíduos sociais.
10
“Os princípios fundamentais representam a estrutura ideológica sobre a qual se elaborou e se acentuou o Código de Ética do assistente social. Eles se configuram como parâmetros ideológicos das regras materiais contidas nos artigos do Código de Ética. Possibilitam conferir a necessária unidade, coerência e harmonia ao sistema jurídico estabelecido pelo Código”. (BARROCO; TERRA, 2012, p.120)
46
b) Defesa intransigente dos direitos humanos e recusa do arbítrio e do
autoritarismo.
c) Posicionamento em favor da equidade e justiça social, que assegure
universalidade de acesso soa bens e serviços relativos aos programas e
políticas sociais, bem como sua gestão democrática.
d) Empenho na eliminação de todas as formas de preconceito, incentivando
o respeito à diversidade, à participação de grupos socialmente
discriminados e à discussão das diferenças.
e) Garantia do pluralismo, através do respeito às correntes profissionais
democráticas existentes e suas expressões teóricas, e compromisso com
o constante aprimoramento intelectual.
f) Opção por um projeto profissional vinculado ao processo de construção
de uma nova ordem societária, sem dominação, exploração de classe,
etnia e gênero.
g) Articulação com os movimentos de outras categorias profissionais que
partilhem dos princípios deste código e com a luta geral dos
trabalhadores.
h) Compromisso com a qualidade dos serviços prestados à população e com
o aprimoramento intelectual, na perspectiva da competência profissional.
i) Exercício do Serviço Social sem ser discriminado/a, nem discriminar por
questões de inserção de classe, gênero, etnia, religião, nacionalidade,
orientação sexual, identidade de gênero, idade e condição física.
47
A PESQUISA DE CAMPO NO CONJUNTO VIRGILIO TÁVORA I E
AS ANÁLISES QUALITATIVAS
3.1 Escolhas: campo, sujeito e metodologia
A comunidade Virgilio Távora I foi escolhida para a pesquisa de campo,
devido à experiência, de estágio vivenciado pelo pesquisador, o mesmo ao
iniciar o estágio na Coordenadoria de Habitação de Maracanaú, acompanhou
muito dos moradores no período das inscrições (ver anexo A, B e C), na
solução do Número de Inscrição Social – NIS11 junto ao Cadastro Único12,
perpassando pelo comunicado do beneficiamento (ver anexo E), assinatura dos
contratos(ver anexo F), a entrega das chaves e a implantação do Trabalho
Técnico Social(ver anexo G), pelo Programam Minha Casa Minha Vida. Esse
contato possibilitou com que o pesquisador despertasse para a referida
11
Cada membro da família que for cadastrada no Cadúnico recebe um Número de Identificação
Social (NIS) que é único, pessoal e intransferível. Com o NIS é possível requerer descontos e
isenções em vestibulares, concursos e demais processos seletivos bem como isenção e
descontos na conta de água, na segunda via de documentos e outros serviços. Como o imóvel
é de interesse social com recursos do governo federal e municipal (FMHIS)toda família que for
contemplada com uma unidade habitacional tem que possuir o NIS.
12
Segundo o Ministério do Desenvolvimento Social – MDS O Cadastro Único para Programas
Sociais do Governo Federal é um instrumento que identifica e caracteriza as famílias de baixa
renda, entendidas como aquelas que têm: renda mensal de até meio salário mínimo por
pessoa ou renda mensal total de até três salários mínimos. O Cadastro Único permite conhecer
a realidade socioeconômica dessas famílias, trazendo informações de todo o núcleo familiar,
das características do domicílio, das formas de acesso a serviços públicos essenciais e,
também, dados de cada um dos componentes da família. O Governo Federal, por meio de um
sistema informatizado, consolida os dados coletados no Cadastro Único. A partir daí, o poder
público pode formular e programar políticas específicas, que contribuem para a redução das
vulnerabilidades sociais a que essas famílias estão expostas. Atualmente, o Cadastro Único
conta com mais de 21 milhões de famílias inscritas.
48
pesquisa, em relação à participação desses usuários, frente ao programa e
como as Assistentes Sociais contribuiriam para esse processo.
O estágio foi iniciado em junho de 2011, frente à dinâmica da habitação
junto aos atendimentos dos usuários no PMCMV, despertando no pesquisador,
a oportunidade de compreender esses sujeitos enquanto objeto de pesquisa.
Em meio à inscrição no referido programa as ações baseavam-se na inscrição
com o preenchimento dos instrumentais (ver anexo) e entrevista social.
A presente pesquisa utilizará o método dialético, a dialética hegeliana,
para explicação da realidade com a análise critica do objeto a ser pesquisado,
havendo uma contextualização do problema junto à problemática da habitação,
analisando a práxis humana, junto à participação popular e a cidadania. Para
Novack (2006), a dialética é a lógica da matéria em movimento e, portanto, a
lógica das contradições, porque a evolução é intrinsecamente auto-
contraditória. Sendo o modo de compreender as relações como uma realidade
concreta e contraditória, no qual conseguimos analisar criticamente o objeto
que será pesquisado, apreendendo o seu objeto na sua totalidade.
A pesquisa constará de uma metodologia quantiqualitativa, metodologia
como sendo a estratégia utilizada para analisar o objeto de estudo, estando
necessariamente ligada ao quadro teórico proposto pela pesquisa, Gondim
(1999). Para Minayo (1993), a pesquisa é o fenômeno de aproximação
sucessiva da realidade, fazendo uma combinação particular entre teorias e
dados. A pesquisa qualitativa irá responder a questões muito particulares, para
Minayo (1993), ela se preocupa com um nível de realidade que não pode ser
quantificado. Nesse sentido, a pesquisa qualitativa permitirá uma melhor
compreensão da participação comunitária, frente o trabalho desenvolvido pelas
Assistentes Sociais, permitindo a análise, bem como a interpretação das
questões particulares. A pesquisa quantitativa irá se configurar na pesquisa
com aplicação de questionário, na tradução dos números em opiniões e
informações para serem classificadas e analisadas, mediante técnicas
estatísticas.
Em relação à pesquisa, foi realizada na habitação de Maracanaú a
pesquisa documental e bibliográfica com intuito de planejar os passos da
pesquisa através da análise documentação disponível. Os sujeitos da pesquisa
49
foram os moradores da comunidade Virgilio Távora I, beneficiados pelo
PMCMV. O universo compreende o total de 208 famílias, para a amostra da
pesquisa serão trabalhados dois grupos de lideranças distintos de moradores;
o primeiro grupo é o Conselho Consultivo que segundo o Caderno de
Condomínio (2011) da Caixa Econômica Federal o conselho é composto por
seis membros entre eles o síndico, que contribuem pelo gerenciamento e
organização do condomínio.
O segundo grupo é composto pelos representantes de bloco que tem
como função orientar os moradores residentes do seu bloco em questões do
cotidiano e recorrer ao síndico, quando necessário, os mesmos acabam
funcionando com uma “ponte” entre os condôminos e o síndico, bem como
exercendo um papel de multiplicadores apoiando o trabalho técnico social,
auxiliando as Assistentes Sociais, junto à mobilização da comunidade.
Ressaltamos que esses dois grupos foram eleitos pelos demais
moradores representando uma legitimidade de representação, a escolha dos
mesmos grupos fazerem parte da pesquisa, é pelo fato deles participarem
ativamente nas ações desenvolvidas pelo Serviço Social da Habitação de
Maracanaú. Constará como coleta de dados a pesquisa documental junto ao
Projeto de Trabalho Técnico Social, elaborado pelas Assistentes Sociais da
habitação de Maracanaú, bem como dados e gráficos contidos no cadastro
socioeconômico dos moradores, no período da inscrição no Programa.
Entre os instrumentos de coletas das informações da pesquisa terá
destaque a entrevista, na qual segundo Minayo:
“A entrevista, tomada no sentido amplo de comunicação
verbal, e no sentido restrito de coletas de informações sobre
determinado tema científico, é a estratégia mais usada no processo
de trabalho de campo. Entrevista é acima de tudo uma conversa a
dois, ou entre vários interlocutores, realizada por iniciativa do
entrevistador” (MINAYO, 2012, p.64)
A entrevista semi estruturada (ver apêndice 01) foi aplicada aos
membros do conselho consultivo: síndico, presidente do conselho, vice-
presidente, secretária, primeiro suplente e segundo suplente. Perfazendo um
50
total de seis entrevistados. Outro instrumental da pesquisa será a aplicação do
questionário (ver apêndice 02), para Bastos (2008), o questionário constitui um
instrumento de perguntas ordenadas, que devem ser respondidas por escrito.
Enquanto Gil (1999) apresenta um conceito mais amplo, como uma técnica de
investigação composta de um número de questões que são apresentadas as
pessoas, tendo por objetivo o conhecimento de opiniões, situações
vivenciadas, interesses e sentimentos.
Os trabalhos de campo tiveram início com os contatos dos grupos,
alguns contatos foram realizados por telefone, tendo uma boa aceitação por
parte dos moradores. Alguns dos entrevistados foram convidados para
participarem da pesquisa durante as visitas feitas referente ao Trabalho
Técnico Social. O acesso aos moradores foi relativamente tranqüilo, no
primeiro dia de entrevistas para aplicação dos questionários nos deslocamos a
comunidade por meio de ônibus (linha Jereissati/Fortaleza), foi por volta das
09:00 horas da manhã.Com relação à abordagem do campo da pesquisa e a
aproximação do grupo de entrevistados, Malinowski relata:
“A questão da observação dos fenômenos que devem
também incluir o ponto de vista no nativo, isso diz respeito às idéias,
aos sentimentos, aos impulsos, a maneira de examinar as formas
típicas de pensar e sentir os acontecimentos, registrar as expressões
lingüísticas, as frases e seus contextos habituais de uso”.
(MALINOWSKI, s/a, p.39)
Levamos como suporte para aplicação dos 10 (dez) questionários e das
06 (seis) entrevistas; o gravador, caderno de anotações e caneta. Fizemos
questão de aplicar os instrumentais dentro da residência de cada morador,
reforçamos a questão do objetivo da pesquisa, bem como a questão do sigilo
das informações e em seguida pedimos que os mesmos assinassem o termo
de consentimento para participação.
Ao iniciarmos os trabalhos, fomos observando tudo o que acontecia ao
redor do entrevistado como: jeito de olhar, maneira com sentava, o gestual,
expressões do rosto diante das perguntas. Contudo o que nos chamou mais
atenção foi o temor que eles tinham em responderem a pergunta referente à
atuação das assistentes sociais na comunidade, para eles as mesmas iam ficar
sabendo, devido a isso, alguns “coçavam” a cabeça, ficavam com a voz
51
trêmula e relutavam em responder. Porem diante disso reforçamos a questão
do sigilo da pesquisa, e que o referido trabalho não tinha nenhum vínculo com
a instituição habitação, mas sim como trabalho científico para a faculdade.
Após os esclarecimentos conseguíamos obter tranquilamente todas as falas de
maneira espontânea, chegando ao ponto de ser oferecido para nós lanche
água e almoço. Devido à questão da disponibilidade de alguns dos
entrevistados, teve casos que fomos à noite para a aplicação dos instrumentos
de pesquisa.
Através da sondagem das opiniões, no caso as perguntas foram
elaboradas mediante o questionário semi estruturado, para a apreensão dos
dados a serem analisados e efetivando o trabalho de campo. Ressaltamos que
o questionário de campo foi aplicado nos membros de representação de bloco,
perfazendo um total de dez questionários.
3.2. O cenário sócio-geográfico e a comunidade do Conjunto Virgilio
Távora I
O residencial Virgilio Távora I, implementado pelo Programa Minha
Casa Minha Vida, localiza-se na rodovia CE 065, no bairro Cágado, no
município de Maracanaú. Entre as características do referido bairro, merece
destaque o elevado número de sítios entorno do mesmo, compondo uma parte
da zona rural de Maracanaú. A área é bem servida de transporte público
intermunicipal, entre as linhas destacam-se: Conjunto Jereissati I, Conjunto
Jereissati II, Maranguape – Fortaleza, Taquara – Fortaleza, Olho D‟água e
Maracanaú – Fortaleza.
Segundo a Caixa Econômica Federal, no que se refere à descrição
estrutural o empreendimento Virgilio Távora I, constitui-se da seguinte forma:
52
Figura 01- Entrada dos blocos do Virgilio Távora I
Fonte: Prefeitura Municipal de Maracanaú/COHAB Maracanaú, 2012
a) O empreendimento é composto por 208 (duzentos e oito) unidades
habitacionais, distribuídos em 26 (vinte e seis) blocos.
b) Cada bloco é composto de 08 (oito) apartamentos com padrão popular,
sendo 04 (quatro) no pavimento térreo e 04 (quatro) no pavimento
superior.
c) Todos os bloco são enumerados de 01 (um) a 26 (vinte e seis).
d) O apartamento é composto de : sala, cozinha, banheiro e 02 (dois)
quartos.
e) Possui vagas para estacionamento de carro e moto, consta uma area
de lazer, parquinho e campo de futebol.
Segundoa prefeitura municipal de Maracanaú a comunidade é atendida
pelos seguintes equipamentos:
a) Educação: foram disponibilizadas 04 (quatro) escolas municipais e
01 (uma) estadual.
b) Saúde: foram disponibilizados 01 (um) posto der sáude, 01(uma)
equipe do Programa de saúde da família – PSF.
c) Assistência: foi disponibilzado o Centro de Referência de
Assistência Social – CRAS Mucunã e 01 (um) Pólo ABC do Luzardo
Viana.
d) Segurança: foi disponibilizado 01 (uma) equipe do Ronda do
Quarteirão.
53
O perfil sócio-econômico das famílias foi levantado mediante pesquisa
documental na Coordenadoria de habitação de Maracanaú, iremos apresentar
as principais caractrisiticas das familias moradoras do Viigilio Távora I. Em
relação a quantidade de pessoas:
Quadro 4 – Referente a quantidade de pessoas na comunidade
Conforme dados apresentados acima, do total de 613, prevalece o
número de mulheres. Foi analisado o sexo dos chefes de família que
contempla esse universo do total de pessoas, no caso o sexo dos chefes de
família corresponde os seguintes dados: feminino 155 e masculino 13, observa-
se a predominância da mulher como provedora da família e do número do sexo
feminino no total de pessoas moradoras.
Grafico 01- Referente ao estado civil dos titulares do cadastro
No que se refere ao estado civil dos moradores chefes de família são na
maioria solteiros perfazendo o número de 85 (oitenta e cinco), casados 38
(trinta e oito), união estável 33 (trinta e três), separado 08 (oito) e viúvo 04
(quatro).
54
Grafico – 02 Referente a escolaridade dos titulares do cadastro
No que concerne a escolaridade em torno de 44,64% possui o ensino
fundamental incompleto, ou porque estão estudando ou abandonaram os
estudos, esse dado reflete a dificuldade do acesso, bem como a nescessidade
de ingressar no mercado de trabalho, para complememtar a renda familiar, faz
com que o estudo fique em segundo plano, reforçando com isso a falta da
qualificação profissional.
A renda dos chefes de família na maioria gira entorno de meio a um
salário minímo um total de 65 famílias, equivalente a 38,69%, complementando
o exposto anterior que aq baixa escolaridade reflete esse dado. A situação
trabalhista dos chefes de família apresenta a seguinte situação:
Quadro 05 – Referente a situação trabalhista dos titulares do cadastro
55
A situação de maior ocorrência corresponde a não se aplica na qual é
contabilizado as mulheres dona de casa chamadas também “do lar”. O trabalho
informal predomina o chamado “bico” uma atividade eventual sem vínculo
empregatício. Entre as profissões mais declaradas pelos homens temos:
vendedores ambulantes, auxiliares de produção, operadores de maquinas e
serventes. Já entre as mulheres observa-se as seguintes profissões:
empregadas doméstica, cuidadoras, diaristas, cozinheiras, babá e manicure.
Grafico – 03 Referente a composição familiar
A composição familiar dos moradores gira entorno de 02 (dois) a 03
(três) membros, verifica os novos arranjos familiares no qual muitas famílias
optam por terem um número reduzido de filhos.
Quadro – 06 Referente ao tipo de deficiência
56
Outra característica a ser observada é em relação ao número de pessoas com
deficiência que perfaz o total de 08 pessoas com as seguintes especificaçãoes:
mental 04 (quatro), auditiva 02 (dois), visual 01 (um) e multipl 01 (um). Nesses
casos dependendo da situação o morador terá a prioridade do apartamento
térreo
3.3 Relatos e Análises
Para as referidas análises iremos trabalhar correlacionando os dois
grupos pesquisados: questionário e entrevista, apresentando os dados
quantitativos do questionário e agregando com as falas dos entrevistados
elaborando assim as análises. Para uma abordagem ética adotaremos
codinomes fictícios (Antonio, Maria, Francisco, Francisca, Antonia e José) para
mantermos em sigilo as falas dos entrevistados.
O perfil dos 10 (dez) moradores que responderam o questionário e dos
06 (seis) entrevistados, retratam que 11 (onze) moradores do sexo feminino e
05 (cinco) do sexo masculino. As idades médias dos participantes giram em
torno dos 34 anos. A escolaridade da maioria, 05 (cinco) participantes é do
ensino médio completo. Entre as profissões do grupo, a de dona de casa
contempla boa parte dos participantes no total de 06 (seis).
Em primeira análise podemos observar a participação efetiva dos
moradores do sexo feminino, isso também se reflete na titularidade do
programa MCMV. Segundo Lima:
“Neste ponto, as políticas que buscam igualdade nas relações
de gênero vinculam-se ao contexto da cidade, pois a titularidade é
pensada em consonância com um posto de saúde, com uma escola,
com um cenário comunitário, que percebem a presença das mulheres
e, mais do que sito, reconhece que estas são detentoras de pouco
poder de mando de decisão no espaço público, merecendo igualdade
na distribuição deste poder”. (LIMA, 2012, p.107)
A Lei nº 11.977 (2009) promove a concessão do título do imóvel,
preferencialmente a mulher, bem como o registro na matrícula do imóvel. Isso
reforça a luta dos movimentos feministas na luta pela igualdade de gênero,
tendo a mulher o papel fundamental frete a família e ao mercado de trabalho.
57
Sobre Participação e a Cidadania:
No que concerne sobre a temática participação, foi questionado a ambos
os grupos se os mesmos já tinham participado anteriormente de algum
movimento social ou na comunidade, dos participantes do questionário o total
de 06 (seis) não participou, e 04 (quatro) participaram, entre os movimentos
mais relacionado destacam-se o movimento comunitário na comunidade e em
segundo o movimento estudantil, foi observado que a participação dos mesmos
aconteceu de forma passiva.
Situação parecida em relação aos entrevistados que 05 (cinco) dos
mesmos participaram entre os movimentos mais relacionados esta o religioso
como contempla a fala da moradora:
“Participei do movimento da igreja, lá eu dava aula de
catecismo, participava também dos encontros de casais e agente
aproveitava para fazer ações de arrecadar alimentos para ajudar
algumas comunidades carentes” (Moradora Francisca).
Com relação ao relato apresentado reforça uma participação de cunho
religioso de reproduzir uma condição não transformadora da realidade social, a
pessoa conforma-se com sua condição de participar para se ajustar ao cenário
vigente, reforçando também ações de caridade, minimizando nos sujeitos que a
responsabilidade da “ajuda” tem que partir primeiramente do Estado.
O relato reforça também uma participação fragmentada, do ato de
participar, pelo interesse próprio:
“já participei numa associação de moradores, comunitária né,
lá eu ia pras reuniões pra relatar os problemas do bairro, pra poder
consegui um curso pra mim, e também pra dar apoio aos políticos,
eles faziam essas reuniões sempre e quando era algo que me
interessava eu ia participar” (Moradora Maria).
Podemos perceber um conceito de participação deturpado da realidade,
uma participação individualista, bem conveniente ao moldes capitalistas,
cidadãos dóceis e indiferentes frente ao poder de participar. Especificamente
em relação à moradia Dias (2007), relata que para alguns autores a
participação da comunidade limita-se ao engajamento em obras de seu
58
interesse, despojado de qualquer ato de intervenção popular na elaboração dos
projetos que contribuam para a mudança social.
A representação da participação de inicio não seria abordada junto ao
grupo de moradores que responderiam os questionários, contudo no decorrer
da pesquisa optamos por perguntar também a estes moradores, obtendo as
seguintes palavras como respostas: “participar de tudo, ter diálogo, contribuir,
um conjunto e ajudar”, essas foram em média às palavras mais mencionadas.
No grupo dos entrevistados, foi perceptível a dificuldade de explicar essa
representação frente à participação, a seguir trazemos algumas falas que
contempla a situação:
“é importante participar né? Ter uma fala pra resolver os
problemas, mas acho que to me confundindo, hum, mas é isso
mesmo você ter um papo com a sociedade, e participar né?”
(Morador Antônio)
“essa pergunta é difícil, mas eu acho que participação seria
além de compreender os outros, seria uma soma um conjunto, para
ajudar todo um grupo” (Moradora Antônia)
“pra mim seja uma união, isso de se unir procurar todos
juntos os mesmos objetivos” (Morador Francisco)
“você ter que entender um pouco e reivindicar o que você
quer pra você e para os outros, tentar buscar aquilo que ajude a
gente e mostrar como ajudar os outros também, falando, explicando
né, isso a gente pode conseguir, colaborando para essa
participação”. (Moradora Maria)
Percebemos certa carência no tocante a compreensão de uma
participação efetiva, isso é retratado no Programa Minha Casa Minha Vida, no
qual a participação das famílias atendidas pelo programa acontece de forma
efetiva após a entrega das unidades habitacionais. Questionamos os dois
grupos pesquisados e os mesmos foram unânimes em relatar que consideram
que o momento da sua participação no programa foi após terem assinado os
contratos e recebido as chaves dos apartamentos, como apresenta as falas:
“a minha participação pra valer só aconteceu depois que eu
vim morar aqui, porque antes daqui foi só a inscrição que eu fiz na
habitação, nem o lugar onde ficavam os apartamentos eu sabia, só
59
vim saber quando passei de ônibus, e vi os apartamentos sendo
construídos, ai depois quando fui a primeira reunião pra entregar os
apartamentos foi que o pessoal da habitação falaram do local onde
tava os apartamentos e os outros detalhes”. (Morador José)
Diante do relato podemos perceber essa forma de participação
fragmentada uma dificuldade que acaba sendo reproduzida pelo Estado sobre
a participação popular, contudo temos que ressaltar que os moradores da
comunidade Virgilio Távora I tiveram um processo de participação
comprometido, visto que a participação dos mesmos não ocorreu plenamente
nos processos da obra (antes, durante e depois) pelo contrário segundo o
pesquisador a participação foi de forma reduzida.
A representação de cidadania não constava nas perguntas do
questionário, mas o pesquisador apresentou ao grupo essa representação,
contudo a pergunta foi a que mais gerou dificuldade de resposta, a maioria
pediu para repetir a pergunta, olhavam para os lados como se buscassem uma
resposta e outros balançavam a cabeça. Mesmo assim no grupo do
questionário eles entendem cidadania como ações de sentimentos, ligados ao
campo do abstrato, obtêm como respostas palavras como: cidadania é amor,
sentimento de ajuda, caridade, carinho e união.
No grupo dos entrevistados também foi observado em algumas falas à
mesma noção abstrata de cidadania como:
“É você ajudar o próximo, até falar uma palavra boa para
ajudar a pessoa naquele momento que a pessoa ta precisando, uma
ação sua que pode ser de grupo e individual, isso faz unir mais as
pessoas”. (Moradora Antônia)
“Cidadania representa pra mim você ajudar o seu irmão,
respeitar a todos e compreender os outros, levar tudo na esportiva e
não ao pé da letra, enfim você ser dado ao povo acho que é isso”.
(Morador Antônio)
Os entendimentos de cidadania nesses relatos refletiram a noção de
conhecimento abstrato sobre a própria referência de direitos, Carvalho (2002),
apresenta essa noção de cidadania como cidadão não pleno de direitos, seriam
chamados de cidadão incompletos pela falta de alguns direitos correlacionados
com a democracia.
60
A noção de cidadania baseados em direitos, deveres e democracia
apresentaram-se em alguns relatos, contudo são falas que necessitam de
ações educativas no campo da conscientização sobre a cidadania, observemos
nos recortes a seguir:
“A pessoa exercer sua cidadania, exercer seus deveres para
saber como correr atrás das soluções dos problemas, você ter que
participar da comunidade ser cidadão e cumprir com as leis”.
(Morador José)
“Cidadania trata de a pessoa ser mais cidadã com seus
compromissos e seus deveres, ter esse compromisso com a sua
comunidade, com o seu município entendeu? E de certa forma ter
uma condição de democracia para ter influencia no grupo para
conseguir os nossos direitos, a união faz a força né? Cumprir regras e
com suas obrigações também, é cidadania”. (Morador Antônio)
Nesse intuito o trabalho técnico desenvolvidos pelo Serviço Social da
habitação, trabalhará essa perspectiva de ampliação da cidadania junto aos
moradores da comunidade Virgilio Távora. Segundo Iamamoto:
“Democracia envolve a luta pela ampliação da cidadania, com
vistas á efetivação dos direitos civis, políticos e sociais de todos os
cidadãos. Uma cidadania para todos, extensiva ao conjunto de
segmentos trabalhadores na sua heterogeneidade, mas também uma
cidadania impulsionadora de novos direitos, que contribua na luta
para ampliação da legalidade institucional”. (IAMAMOTO, 2012,
p.142)
Aas ações educativas, já foram contempladas no projeto que foi enviado
para a Caixa Econômica. Reforçando a visão da democracia de ampliação da
cidadania e contribuindo para efetivação dos direitos.
Com objetivo de analisar a participação dos moradores nas ações
desenvolvidas pelo Serviço Social, coletamos dos dois grupos: pesquisados e
entrevistados a freqüência na participação das reuniões, oficinas e palestras, e
podemos observar um grupo ativo nesse ponto, a maioria dos pesquisado
afirmaram que sempre vão aos eventos e consideram de extrema importância
essas ações. O depoimento a seguir da moradora reflete a situação:
“Eu sempre vou, faço o possível para ir a todas as reuniões
desde o começo eu participo e incentivo também as minhas vizinhas
61
a participarem, faço o possível para tá presente, lá eu dou as minhas
idéias e participo agora eu estou muito engajada porque eu quero o
melhor para a minha comunidade.” (Moradora Francisca)
Fica nítido na fala da moradora, que mesmo com palavras simples,
incorpora o sentindo de uma participação ampliada, consciente de reivindicar e
ter voz para expor seus pensamentos, configurando-se como um espaço amplo
de democracia e cidadania, reforçando a participação comunitária.
Aproveitamos a oportunidade para sabermos dos moradores o que eles
achavam do Programa Minha Casa Minha Vida, a pergunta foi feita ao grupo
dos entrevistados a maioria posicionou-se a favor do programa, contudo
algumas observações, negativas foram feitas, como relata a seguinte
moradora:
“Esse programa veio trazer dignidade para os moradores,
mesmo àqueles que não são cidadãos, os transformaram em
cidadão, pelo fato de ter uma casa própria, contudo eu vejo um certo
descaso por parte da Caixa Econômica, em não fiscalizar as pessoas
que vendem, e também por ser muito burocrática, tudo é demorado
ate mesmo para fazer os reparos no apartamentos com defeito, isso
acaba fazendo com que muitas pessoas vedam ou aluguem os
apartamento, tirando a oportunidade de realmente quem precisa”.
(Moradora Antônia)
Os impactos negativos em relação ao PMCMV, no trato da relação do
descaso, também são relatados com as devidas observações pela Maricato
(2011), segundo a autora o PMCMV, retoma a política habitacional com
interesse apenas na quantidade de moradias, e não na sua fundamental
condição urbana. Reforça uma lógica neoliberal da produção de moradias,
alimentado o lucro do grande capital em detrimento da falta de ações efetivas
por parte do agente financiador e fiscalizador do programa, no caso a Caixa
Econômica, que acaba reproduzindo a questão burocrática. Ações essas que
são apreendidas pelos próprios moradores, justamente por essa falta de
gerenciamento do agente do governo, para a solução dos problemas frente aos
empreendimentos habitacionais.
No decorrer das nossas analises, a pergunta que mais gerou polêmica
de resposta, foi à referente à atuação das assistentes sociais, frente ao
62
trabalho técnico social desenvolvido na comunidade se contribuiria para a
participação popular ou comunitária desses moradores. Contudo alguns
moradores se sentiram tímidos em responder pelo fato de estarem falando mal
das assistentes sociais. No caso o pesquisador explicou a pergunta e pediu
que eles se sentissem a vontade para responderem, já que o sigilo seria
mantido, diante do exposto nos dois grupos essa pergunta foi alvo de;
indignação, desabafo, revolta e participação na resposta.
No grupo dos pesquisados um total de 10 (dez), moradores eles deram o
conceito regular para a atuação do assistente social frente ao trabalho técnico
desenvolvido na comunidade, entre a palavra mais relatada junto ao conceito
regular, foi ausência ou descaso das profissionais. No grupo dos entrevistados,
também foi verificado essas criticas, a seguir trazemos alguns diálogos que
retratam essa temática.
“Eu acho que as assistentes sociais são muito ausentes e não
participam e nem ajudam o sindico a trabalhar ta entendendo? Tem
coisas aqui que anda a passos lentos, pois a gente vai lá na
habitação faz as denúncias de venda, elas só fazem botar no papel e
não vem aqui pra botar esse pessoal pra fora”. (Morador Antônio)
“A situação aqui ta complicada, foi falado pra gente que os
projetos iam acontecer, mas até agora nada, a presença delas aqui
deveria ser todos os dias, afinal de contas elas são assistentes
sociais deveriam ajudar mais a gente, pra ensinar a todos como
devem ser as coisas”. (Moradora Maria)
“O trabalho delas aqui é regular, mas eu acho que elas
poderiam desempenhar mais algumas outras funções, como elas são
assistentes sociais, deveriam ser mais caridosas já que essa área do
social deveria ter mais coisas. A presença delas aqui deveria ser de
manhã, tarde e noite todo dia aqui, pra ver quem é quem, quem ta
fazendo as coisas erradas pra chamar a atenção e fazer o certo”.
(Morador Francisco)
Primeiramente temos que abordar a visão que os moradores têm do
Serviço Social como uma profissão caritativa, herança da atuação das
primeiras assistentes sociais, em especial na área da habitação como ressalta
Santos (2001) o enquadramento disciplinador destinado a moldar o cliente em
sua inserção institucional e na vida social. Ações que eram voltadas
63
meramente para o campo do ajustamento social e sanitarista, ações
focalizadas que resumiam apenas na moradia.
Nos relatos também ficam perceptíveis a questão da tutela13 que os
moradores querem por parte do profissional, uma tutela que segundo Gomes:
“Os assistentes sociais são chamados a participar na solução
desse problema desenvolvendo uma prática de caráter tutelar
exercida através da ação educativa e da viabilização da assistência e
de outros serviços concretos” (GOMES, 2001, p. 04)
A tutela de serem protegidos como se o profissional fosse o salvador da
pátria, capaz de resolver todos os problemas por eles. Na prática essa ação
através da tutela se resumiriam numa intervenção profissional fragmentada em
ações pontuais, que de certa forma não contribuiriam para políticas sociais
mais abrangentes, indo de encontro com o projeto ético político do Serviço
Social e não contribuiriam para a questão dos direitos, democracia e da
cidadania.
Contudo mesmo diante da insatisfação de boa parte dos entrevistados,
obtivemos falas importantes que justificam a problemática da ausência dos
profissionais, bem como moradores que relataram fatores positivos dos
assistentes sociais frente ao acompanhamento da comunidade Virgilio Távora
I:
“Não posso negar que as assistentes sociais contribuíram
muito porque foi através delas que a gente conseguiu se escrever,
elas ligavam explicavam muitas coisas do programa que a gente não
entendia, falava as regras dos contratos. Elas sempre acreditaram
nesse nosso sonho, tinham pessoas com problema na documentação
e a caixa reprovava e elas corriam atrás desse direito, brigava coma
caixa para a situação de a pessoa ser resolvida e dava tudo certo, a
gente via esse compromisso delas”. (Moradora Francisca)
“Vejo que elas são competentes, a gente percebe que elas
têm conhecimento sobre o assunto, eu vejo boa vontade delas
fazerem o trabalho aqui funcionar, porque as vezes que elas vierem
aqui dava pra despertar na gente a busca das melhoras pra nossa
13
“O conceito de tutela é o instituto jurídico do Direito Romano que tinha por finalidade proteger a pessoa e os bens dos incapazes em razão da idade e do sexo. A palavra „tutela‟ deriva de tueor, tueres, tutus sun, que significa proteger ou guardar a pessoa e os bens dos tutelados...”.( OLIVEIRA, 1998,p.59)
64
comunidade com as nossas próprias pernas de reivindicar junto a
caixa e a prefeitura, mas o que ta pegando mais é que sozinhas elas
não podem fazer o negócio aqui funcionar, pois a prefeitura não da
condições pra elas, e até onde fiquei sabendo a caixa ainda não
liberou a verba do trabalho social”.(Moradora Antônia)
Podemos observar uma ação d profissional baseada no código de ética
profissional, no sentido do conhecimento teórico metodológico contemplando a
defesa intransigente dos direitos humanos, reforçando a democratização das
informações, bem como o acesso ao programa vigente, contribuindo para a
participação desses usuários. Essa contribuição do profissional para
desburocratizar a relação dos usuários junto às instituições, segundo Barroco
(2012), o assistente social detém informações, tem conhecimento sobre os
programas que devem ser postos a serviço dos usuários, reforçando o seu
poder reivindicatório junto às instituições responsáveis.
Na fala de Iamamoto (2000), a prática profissional está relacionada à
competência do assistente social em acionar estratégias e técnicas, a
capacidade de leitura da realidade conjuntural e a habilidade no trato das
relações humanas. Justamente para esse enfrentamento que o profissional irá
por em prática todo o seu conhecimento teórico, com o compromisso técnico e
político junto aos usuários, contribuindo para socialização da cultura dos
direitos e de ampliação da cidadania.
Em relação ao segundo depoimento, Raichelis retrata a temática como:
“Mas essa mercadoria „força de trabalho‟ só pode entrar em
ação se dispuser de meios e instrumentos de trabalho que, não
sendo de propriedade do assistente social, devem ser colocados a
sua disposição pelos empregadores institucionais: recursos materiais,
humanos e financeiros para o desenvolvimento de programas,
projetos, serviços, benefícios e de um conjunto de outras atribuições
e competências, de atendimento direto ou em nível de gestão e
gerenciamento institucional”. (RAICHELIS. 2011, p.425)
O pesquisador compreende a fala da moradora, em relação à falta
condições materiais e físicas de trabalho do Assistente Social na habitação de
Maracanaú, segundo o mesmo a Secretaria de Infraestrutura do município
alegou que, devido à contenção de gastos o único carro disponível para as
65
visitas na comunidade foi retirado temporariamente, bem como a demora da
Caixa Econômica Federal na liberação da verba para realização do trabalho
técnico social.
Em meio à restrição da capacidade de atendimento e pelo fato do
mesmo ser o profissional da ponta, que a culpabilização pela falta da ação
junto aos moradores é recaída ao assistente social, bem como o papel de
fiscalizador e exercendo uma ação burocratizada. Raichelis (2011) ressalta que
essa problemática contribui para uma dinâmica institucional que vai
transformando a própria natureza da profissão do Serviço Social, fragilizando o
trabalho direto com os segmentos populares.
66
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A política de habitação no Brasil configurou-se inicialmente de forma
lenta e paliativa na qual o Estado tinha a preocupação de ajustar os
moradores em especial da favela a ordem vigente, fruto e preocupação da
chamada “limpeza” social. Contudo o aumento populacional dos grandes
centros urbanos e a pressão de movimentos sociais em ter uma morada e
realizar o sonho da casa própria, fez com que o governo elaborasse e
criasse mecanismos e órgãos que propiciem o acesso à moradia.
Observamos que em muitos casos os programas estavam agregados a
uma série de obstáculos que muitas vezes comprometia a entrada de boa
parte da população nos programas, entre os quais podemos citar a falta de
dinheiro para o pagamento das prestações. Uma política que contemplava a
ação neoliberal a partir do momento em que contemplava os programas a
lógica do mercado.
Os avanços no que diz respeito aos programas de habitação de
interesse social contribuíram para que muitos brasileiros conseguissem as
suas moradias sem pagarem nenhum valor. Não podemos negar a
importância do Programa Minha Casa Minha Vida, que atualmente vem
proporcionando o acesso de muitos cidadãos brasileiros a moradia. Em
relação ao município de Maracanaú o programa vem gerando os primeiros
“frutos” especificamente a comunidade Virgilio Távora I que, foi o terceiro
empreendimento entregue no município.
Diante dos dados colhidos e analisados e da experiência que tivemos do
acompanhamento das famílias da referida comunidade, podemos observar
algumas falhas no que diz respeito à participação e cidadania dos
moradores, uma vez que mesmo sendo um programa de interesse social,
requer dos contemplados o pagamento mensal pela unidade habitacional,
bem como a taxa de condomínio, uma vez que o empreendimento é murado
e foi perceptível que boa parte desses moradores desconhecia o local no
qual as unidades habitacionais estavam sendo construídas.
67
Podemos salientar que um dos desafios do Serviço Social nesse campo
seria a luta pela manutenção dos programas de habitação de interesse
social que não gerem nenhum ônus aos contemplados, visto que muitas
famílias desistiram do PMCMV no município de Maracanaú, por não
poderem pagar as prestações. Esta modalidade não é interessante para
lógica neoliberal que cada vez mais reforça os programas habitacionais
ligados a tendência do mercado.
Podemos relatar que através da referida pesquisa, a atuação do
assistente social frente ao trabalho social, foi comprometida uma vez que, o
órgão financiador, no caso, a Caixa Econômica Federal, ainda não
repassou a verba necessária para e execução dos trabalhos, configurando
um dos desafios do profissional em criar estratégias para conduzir os
trabalhos junto à comunidade. No caso buscar a superação do caráter
contraditório da ação profissional, nos limites de um sistema contraditório. A
importância do Serviço Social reforça a democratização das informações
junto aos moradores , fortalecendo o poder reivindicatório estimulando a
participação popular na criação de mecanismos que cobrem das
autoridades funcionamento dos trabalhos, ações como essas contribuem
para a noção de cidadania ampliada.
As dificuldades para a realização do Trabalho social desenvolvido na
comunidade, bem como a falta de recursos específicos contribuem para a
falta de continuidade e sustentabilidade das ações. Contudo o Serviço
Social através da mediação por meio da dimensão reflexiva tem o poder de
criar estratégias para a intervenção nessa realidade contribuindo para a
cidadania e a participação popular.
Sugerimos algumas ações que contemplam as estratégias para a ação
interventiva do assistente social; a visão global da dinâmica social na qual
está inserido, compreender a realidade da instituição, limites e
possibilidades para atuação profissional e o aprimoramento intelectual, bem
como o conhecimento específico, por exemplo; os mecanismos de controle
social.
A articulação na adoção da intersetorialidade com as demais políticas,
como forma de conscientizar os demais membros das equipes
68
multiprofissionais na adoção de mecanismos participativos, com a parceria
com os movimentos populares, conselho de habitação e membros da
sociedade civil.
A apropriação dos moradores do significado da moradia como um
processo que agrega outros dispositivos como: saúde, educação,
transporte, trabalho e etc. e uma rede de direitos que se traduzem na
concepção de cidadania, fomentando nos indivíduos o processo de
coletividade na luta dos direitos como um dever do Estado.
69
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ZALUAR, Alba. ALVITO, Marcos (org.) Um século de favela. 4ed. Rio de
Janeiro: Ed FGV, 2004.
75
APÊNDICE A
ROTEIRO DE ENTREVISTA SEMI-ESTRUTURADA
Prezado, Prezada: afirmo que as respostas dadas serão utilizadas apenas para fins
acadêmicos, sendo constituintes da monografia em Serviço Social em processo.
Garanto que sua identidade será preservada por meio do anonimato, conforme os
princípios éticos em pesquisa.
DADOS PESSOAIS
Nome
Idade
Escolaridade
Profissão
Bairro
Naturalidade
SOBRE CIDADANIA E PARTICIPAÇÃO
01. Você participa ou já participou de algum movimento social ou da sua
comunidade?
02. O que representa participação para você?
03. O que representa cidadania para você?
SOBRE O PMCMV
04. Em que momento e como iniciou a sua participação no Programa Minha Casa
Minha Vida?
05. Com que freqüência você participa das ações desenvolvidas pelas Assistentes
Sociais da habitação?
06. Como avalia o trabalho desenvolvido pelas Assistentes Sociais da habitação?
OBSERVAÇÕES:
76
APÊNDICE B
ROTEIRO DE QUESTIONÁRIO SEMI-ESTRUTURADO
Prezado, Prezada: afirmo que as respostas dadas serão utilizadas apenas para fins
acadêmicos, sendo constituintes da monografia em Serviço Social em processo.
Garanto que sua identidade será preservada por meio do anonimato, conforme os
princípios éticos em pesquisa.
01. Nome
02. Idade
03. Escolaridade
04. Profissão
05. Bairro
06. Naturalidade
07. Você já participou de algum movimento na sua comunidade?
( ) sim Qual? ____________________________________
( ) não
08. A sua participação no processo do Programa Minha Casa Minha Vida aconteceu
em que etapa?
( ) antes da obra
( ) no construção da obra
( ) após a entrega da obra.
09. Com que freqüência você participa das ações desenvolvidas pelas Assistentes
Sociais da habitação?
( ) sempre
( ) as vezes
( ) Não participo
77
10. Como você avalia o trabalho desenvolvido pelas Assistentes Sociais da
habitação?
( ) ótimo
( ) bom
( ) regular
( ) ruim
11. OBSERVAÇÕES.
78
APÊNDICE C
TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO
Título da Pesquisa: “O Serviço Social na Habitação: a contribuição do trabalho
técnico social na participação comunitária dos moradores da comunidade Virgílio
Távora I – Maracanaú”.
Pesquisador: Francisco Jailson Gadelha Gomes
Orientadora: Profª MsValney Rocha Maciel
O Sr. (Sra.) está sendo convidado(a) a participar desta pesquisa que tem como
finalidade analisar a atuação do Assistente Social frente ao trabalho técnico social no
eixo da participação comunitária, junto aos moradores da Comunidade Virgilio Távora
I, no município de Maracanaú. Tal pesquisa é requisito para a conclusão do curso de
Bacharelado em Serviço Social pela Faculdade Cearense.
Ao participar deste estudo, o Sr. (Sra.) permitirá que o pesquisador utilize suas
informações para a realização desta pesquisa. Entretanto, os dados obtidos serão
mantidos em sigilo, somente o pesquisador e sua orientadora terão conhecimento dos
dados. O participante tem a liberdade de desistir a qualquer momento do estudo caso
julgue necessário, sem qualquer prejuízo. A qualquer momento poderá pedir maiores
esclarecimentos sobre a pesquisa através do telefone do pesquisador.
O maior benefício para o participante será a sua contribuição pessoal para o
desenvolvimento de um estudo científico de grande importância, onde o pesquisador se
compromete a divulgar os resultados obtidos. O Sr. (Sra.) não terá nenhum tipo de
despesa para participar desta pesquisa, bem como nada será pago por sua participação.
Após estes esclarecimentos, solicito o seu consentimento de forma livre para
participar desta pesquisa.
79
CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO
Tendo em vista os esclarecimentos apresentados, eu, de forma livre e
esclarecida, manifesto meu consentimento em participar da pesquisa “O Serviço Social
na Habitação: a contribuição do trabalho técnico social na participação
comunitária dos moradores da comunidade Virgílio Távora I – Maracanaú”.
____________________________________________
Nome do participante
____________________________________________
Assinatura do participante
____________________________________________
Assinatura do pesquisador
____________________________________________
Profª Valney Rocha Maciel
Orientadora/ Faculdade Cearense
TELEFONES:
Pesquisador: (85) 88768309
Orientadora: (85) 99987964
88
ANEXO E – REUNIÃO INFORMATIVA DOS MORADORES SELECIONADOS
PARA A COMNIDADE VIRGÍLIO TÁVORA I.
FONTE: COHAB Maracanaú, 2011.
FONTE: COHAB Maracanaú, 2011.
89
ANEXO F – FOTOS DA ASSINATURA DO CONTRATO DOS MORADORES
DA COMUNIDADE VIRGILIO TÀVORA I
FONTE: COHAB Maracanaú, 2012.
Fonte: COHAB Maracanaú, 2011.
90
ANEXO G – REUNIÃO DE APRESENTAÇÃO DO PROJETO DO TRABALHO
TÉCNICO SOCIAL DA COMUNIDADE VIRGILIO TÁVORA I.
FONTE: COHAB Maracanaú, 2012.
FONTE: COHAB Maracanaú, 2012.