formas de auto-representação e socialidade de músicos em facebook
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Formas de Auto-representação e Socialidade de Músicos Em FacebookTRANSCRIPT
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ISSN 2358-5285
Anais da Terceira Jornada de Cincias Sociais da
Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF)
Cidades em Movimento
16-19 de setembro de 2014.
GT 6 - Arte, Cultura e Mdia nas Cincias Sociais.
UN MAESTRO DE CARNE Y HUESO FORMAS DE AUTO-REPRESENTAO
E SOCIALIDADE DE MSICOS EM FACEBOOK1
Ana Luisa Fayet Sallas2
Paloma Palau Valderrama3
RESUMO: Este trabalho examina atravs de uma etnografia virtual a forma com que os msicos que
fazem msicas danveis em Cali, Colmbia, elaboram a auto-representao de sua
profisso nas redes sociais. A anlise de fotografias e textos evidencia formas de
valorizao do oficio destacando-se o corpo como mediador e maneiras de reconhecimento
do capital cultural e simblico que revelam as tramas de socialidade com seus colegas.
Palavras-chave: auto-representaes, socialidade, redes sociais, msicos.
A AUTO-REPRESENTAO VIRTUAL
A criao da web 2.0, que permite o intercmbio e a participao de usurios na
internet, trouxe um aumento exponencial de usurios durante as duas ltimas dcadas. As
redes sociais baseadas nesse modelo, caracterizam-se por permitir a criao de perfis ou
sites semipblicos4 de apresentao do indivduo que propiciam a interao com outros
usurios atravs do texto, da imagem e do vdeo. Outras transformaes tecnolgicas como
1 O presente texto surge da reelaborao do trabalho final da disciplina Sociologia da Imagem e da Fotografia,
do Programa de Ps-graduao em Sociologia da UFPR ministrada pelo professor Angelo da Silva. 2 Doutora em histria, professora do Programa de Ps-Graduao em Sociologia da Universidade Federal do Paran. E-mail: [email protected]. 3 Musicloga, bolsista do Programa Estudantes-Convnio de Ps-Graduao PEC-PG, da CAPES/CNPq Brasil, estudante do Mestrado em Sociologia da Universidade Federal do Paran. E-mail:
[email protected] 4 Nos referimos a que o acesso s informaes se limita aos contatos no Facebook.
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a inveno de telefones inteligentes ou smartphones dotados com diversos aplicativos
ligados criao da banda larga mvel que permitem sua conexo permanente e
onipresente s redes sociais, se apresentam como o futuro da principal forma de
comunicao mediada e esto incidindo em aspectos relevantes das formas de socializao
e individualizao, do desenvolvimento cognitivo e das concepes de moral (REIG, 2013,
p. 23)5. Independente da aquisio do aparelho mencionado, cada vez mais as relaes se
mantm tanto online, com a mediao de tecnologias digitais, quanto de maneira presencial
ou offline. Para Reguillo (2012, p. 167) as redes sociais se compem de dois ncleos
significativos: um, se representa pela velocidade: imediatidade, novidade e leveza,
evidentes na comunicao, o acesso e troca de informao. O outro se destaca pela
socialidade: intercmbio, aprendizagem configurativa e interao comunicativa. Tais
mudanas se enquadram dentro das transformaes que iniciam uma nova poca e
paradigma dominado pela conexo online permanente, a mediao tecnolgica e a
velocidade (MARIN, 2013).
Assim cada pessoa ao acessar s comunidades do mundo virtual, realiza uma auto-
representao, que na linha proposta pela microssociologia de Goffman (1981) pode
entender-se com a metfora de uma dramaturgia social em que se faz uma apresentao
atoral na escolha de certos papis, o desenho de uma fachada para uma exibio em cena
por parte do indivduo, e sua atuao e interao com outros que a sua vez tem elegido
representar certos papis. Abordamos essa perspectiva para interpretar as interrelaes dos
msicos e a representao de sua profisso na rede do Facebook, uma das mais populares
na atualidade e que oscila entre o pessoal e o profissional (REGUILLO, 2012, p. 150;
VEGA, 2012). Alguns estudos salientam a vigncia desta perspectiva terica para
compreender as interaes virtuais (SERRANO, 2012; TORRES, 2013). Para Goffman o
indivduo cria uma ideia de si baseado nas percepes dos outros e em sua auto-observao.
Seu comportamento diante aos outros se baseia em tais imaginrios e tende a fazer
apresentaes idealizadas que pretendem mostrar sua melhor faceta e encaixar no marco
dos valores morais de sua sociedade. Embora controle s certos gestos e recursos de sua
5 O Smartphone se converteu para muitos em uma ferramenta fundamental para a vida pessoal e profissional,
exemplo disso so os dados que demonstram um aumento em seu uso, em meados de 2012 os dispositivos
mveis com acesso a internet alcanaram os 16,6 milhes de usurios a nvel mundial. (VLCHEZ; REIG,
2013, p. 9).
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conduta expressiva, enquanto outros lhe escapem. Goffman os denomina aspectos
governveis e aspectos ingovernveis do individuo (1981).
Serrano (2012) se fundamenta na teoria goffmaniana e prope que apresentao
da pessoa nas redes sociais, se integra pelos dados que completa em seu perfil, que variam
de acordo solicitao e limitao de informaes de cada rede social, informao que
brinda em seu estado sobre suas opinies, gostos, recomendaes, e as imagens e vdeos
que compartilha. Adicionamos a meno a outros sujeitos por meio das tags ou link de seus
contatos e o recente aplicativo da geolocalizao. Apesar de que a ausncia de corporeidade
fsica caracteriza o mundo online, as fotografias que mostram pessoa so a representao
visual mais comum. Desta maneira a fotografia que se apresenta no perfil, tem una funo
principal em relao s outras que compem a informao fornecida. A atuao do
individuo se leva a cabo em um cenrio, que para o caso, constitui a prpria rede social, o
Facebook. Prvio a ele, o individuo ensaia e elege seu papel nos bastidores, momento ao
que em nossa observao no temos acesso. A fachada se integra pelos elementos que
estimulam suas formas de expresso, o meio que contm uns adereos fixos, e varia de
acordo a um momento determinado, que pode corresponder ao desenho do Facebook, o aos
elementos que integram os documentos compartilhados, e a fachada pessoal composta
pelas particularidades da atuao do sujeito como gestos, trajes, sexo, idade, entre outras.
Ainda que nos primeiros estudos sobre interaes na rede se observava que nas
identidades virtuais proliferava a criao de perfis ficcionais ou falsos, se evidencia uma
mudana em direo de enfatizar na constante da autenticidade, e em boa medida dado que
as relaes se do entre conhecidos, e porque so um espao de relevncia laboral, que
responde tendncia a valorizar a independncia, a autogesto e a participao de
diferentes e simultneos projetos laborais no que Boltanski e Chiapello, denominam o
terceiro esprito do capitalismo (2002), que uma caracterstica do trabalho musical. Por
outra parte, os jovens e adolescentes foram os primeiros usurios assduos das comunidades
virtuais, e agora cada vez mais os adultos se envolvem cada vez mais no espao online
(MARIN, 2013, p. 2).
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O CONTRAPONTO ONLINE DOS MSICOS DE CALI.
O contexto virtual que examinamos um complemento do mundo offline, da
populao de msicos que interpretam gneros populares, principalmente bailveis na
cidade de Cali6, na Colmbia. As msicas que interpretam so afroamericanas ou msicas
mulatas como as denomina Quintero, (2009), que agrupam salsa, a msica colombiana do
Pacfico sul, o merengue, o son, a timba, o jazz, o bolero, a cumbia, o vallenato, entre
outras, que se integram e articulam s cenas musicais7 preponderantes da cidade. Nos
baseamos numa observao no participante, ferramenta da cibernografia, com a qual
analisamos as interaes de agentes que so visveis em seus perfis e semipblicas no
espao virtual de dez perfis do Facebook dos que temos contato pelo pertencimento de uma
das autoras comunidade estudada8. Nos centramos nos textos, fotografias e vdeos
publicados relativos a seu ofcio do ltimo ano e meio e as respostas a respeito do que
escrevem seus colegas. Os msicos ganham seu sustento de maneira independente, embora
alguns exeram outras profisses de maneira simultnea. Os espaos em que se do suas
apresentaes, so lugares de entretenimento, eventos pblicos ou privados, onde se espera
que interpretem canes conhecidas nos que geralmente no interpretam msica prpria e
sim a de outros. Muitos deles divulgam suas prticas musicais na internet que oferece os
suportes tecnolgicos para mostrar a msica em brochures, vdeos, pginas web e perfis em
redes sociais. Alm da interpretao, podem desenvolver outras funes do fazer musical
como a composio, realizao de arranjos, a regncia, a docncia, a gravao e
amplificao sonora, entre outros. Estes msicos acompanham as apresentaes de artistas
nacionais ou estrangeiros seja em Cali ou em outras cidades, alm de gravarem
participaes em projetos especficos, sem que pertenam necessariamente ao grupo.
A instabilidade e a mobilidade dos msicos entre msicas uma peculiaridade de
seu oficio em contextos urbanos como assinalam as investigaes de Domnguez (2009) em
Buenos Aires, de Becker (2011) em Chicago e de Packman (2009) em Salvador na Bahia.
Por outro lado importante ressaltar que, se bem nos focamos nos que esto em Cali, eles
6 O nome completo da cidade Santiago de Cali. Neste texto usaremos a palavra Cali, que a forma mais
comum de referir-se a ela. 7 A cena musical abrange a gama de atividades vinculadas com uma msica num espao geogrfico (Straw,
1991). 8 Paloma Palau atuou como intrprete de flauta transversal na cidade de Cali entre 2000 e 2014.
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interatuam com outros que esto em lugares distantes do pas ou do mundo, que so
caleos9 ou no. Desta maneira, para no perder a conexo com o local no espao virtual,
nos centralizamos na interao dos que esto em Cali, com outros de sua mesma cidade ou
de outros lugares.
A representao do que denominamos o personagem de msico, motivo de
tenses e disputas simblicas, pois ter um ttulo de uma instituio de ensino no garantia
nem exigncia para exercer a profisso musical e ter reconhecimento na comunidade de
profissionais. O status do oficio no aceito de maneira tcita, em seu processo de
consecuo entram em jogo diferentes conjuntos de valorizaes estticas, sociais,
econmicas entre outras. De tal maneira que, h certa presso implcita do meio por testar
uma e outra vez o mrito de ser chamado msico. Os agentes se empenham por aprender e
demonstrar o conjunto de prticas de sua ocupao e procuram fortalecer suas relaes ao
saudar e agradecer publicamente aos companheiros, isto , por investir no capital cultural e
capital simblico em termos bourdieanos (BOURDIEU, 1996). Neste sentido, se observa
que os perfis tendem a mostrar certa dramatizao na atuao virtual, que implica a amostra
de sinais e fatos confirmativos com o fim de que no passem inadvertidos (GOFFMAN,
1981, p. 42). Assim eles partilham a mide informaes que pretendem demostrar o que
fazem por meio de comentrios, fotografias e vdeos em pleno exerccio de distintas
atividades musicais.
Os msicos dramatizam seu papel ao exibir suas experincias musicais nas redes
sociais no para um pblico, seno para comunicar a seus colegas sua disponibilidade
laboral, mas para mostrar que habilidades tm evidenciadas em seu manejo de instrumentos
e os tipos de msicas que interpretam, sua experincia e relacionamentos, com quem tocam
e os projetos musicais dos que fazem parte, em que eventos o lugares se apresentam, com
quem ensaiam ou gravam. A publicao das movimentaes permite que seus contatos
conheam e avaliem seu trabalho, os apoiem ou no, e abre a possibilidade para que
considerem vincula-los a seus grupos, as apresentaes. Desta maneira, necessrio
compreender as interaes no s como a promoo comercial do trabalho individual, mas
9 gentlico de Cali.
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como elementos com o objetivo de que se valorize sua profisso e uma perseverana para
alcanar o prestgio no meio.
O TECIDO DINMICO DAS MEDIAES
Hennion (2002) aponta que a msica dada sua imaterialidade, um objeto esquivo
construdo por mediaes que em diferentes contextos concebido, encontrado e
codificado por seus atores em distintos mediadores, desde indivduos a objetos que se
conectam uns a outros numa rede que a suporta. De tal maneira que a msica esta para uns
na partitura, na gravao sonora e o instrumento, para outros no evento musical e no
mesmo corpo do intrprete, entre outras possibilidades. Para os intrpretes nas msicas
populares bailveis, os mediadores que se destacam e tecem os pontos de encontro com a
msica, so a encenao, os instrumentos musicais e o corpo e o repertrio. Os trs
primeiros emergem de maneira recorrente nas fotografias, e dilogos dos msicos que se
desenrolam em Cali a travs da mediao virtual. As redes sociais virtuais, seus textos e
imagens constituem a sua vez mediaes que entrelaam o mundo online e offline e
expandem o espao de ao social do fenmeno musical.
A apresentao dos perfis analisados contem principalmente informaes de cunho
profissional o que indica que essa pessoa musicista, s vezes com o adjetivo adicional de
independente, freelance musician ou que se emprega em orquestras. Goffman (1981)
adverte a tendncia dos sujeitos a apresentar uma imagem idealizada de si. Assim tanto nas
fotografias de seu ofcio como nas que esto com familiares e amigos, os msicos cuidam
de sua imagem pessoal, tentam parecer belos e suas expresses so de alegria ou de
solenidade. As fotografias so a oportunidade de apresentar-se dignamente, pois as
pessoas so o que imaginam ser e o que querem que os outros pensem que so (SOUZA,
2008, p. 49). Os elementos que so possveis de visualizar e do conta de sua atividade
geralmente se exibem na fotografia de perfil, a pessoa com seu instrumento durante uma
apresentao musical. Os indivduos se apoiam neles para decorar o meio de seu cenrio. A
representao do personagem do msico mostra aspectos da valorizao de seu oficio, uma
roupa adequada para a ocasio, a segurana em sua expresso facial e corporal, o domnio
tcnico e cnico no palco. Neste texto continuamos o uso documental da fotografia que
fazem os msicos ao expor algumas delas junto com seus comentrios para demostrar estes
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argumentos. Fazemos uso de um modelo estrutural10
(SAMAIN, 2004, p. 56) para mostrar
fotografias de distintos perfis relativas noo da auto-representao do indivduo11
.
Fotografias de perfil consultadas o 5 de junio de 2014.
Os instrumentos musicais como veculos mediadores da msica aparecem
continuamente fotografados, inclusive de una maneira idealizada e maquiada da mesma
forma que as pessoas. Representam imagens do instrumento que se quisera ter, ou do que se
tem atingido ter.
A FOTOGRAFIA NA CONSTRUO DE SOCIALIDADES.
O fazer musical no se d sozinho, tem sua realizao plena na ao coletiva.
Desta maneira, se configura uma socialidade, entendida como la multiplicidad de modos y
sentidos en que la colectividad se hace y se recrea, la diversidad y polisemia de la
interaccin social12 (MARTN BARBERO, 1990, p. 12). Os textos e imagens
compartilhados e comentados nas redes virtuais funcionam como reforo dos laos sociais
que so significativos para seus agentes e contribuem construo de socialidades online.
Os textos, constituem os escritos na seo da timeline ou linha do tempo ou os
que acompanham aos enlaces que compartilham. Mostram as apresentaes musicais mas
10
Samain (2004, p. 56) denomina modelo sequencial e modelo estrutural a forma de apresentao de
fotografas no texto. O primeiro expe as imagens de um acontecimento organizadas segundo seu acontecer
temporal. O modelo estrutural agrupa fotografias de diferentes momentos, de acordo a uma categoria de
anlise. 11
Todas as fotografias e exemplos foram aprovados por seus protagonistas para ser usados neste trabalho. 12
A multiplicidade de modos e sentidos em que a coletividade se faz e se recria, a diversidade e a polisemia da interao social Traduo nossa.
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tambm dos encontros com os companheiros e amigos, por isto a maioria dos comentrios
usam um tom jocoso e desinibido, neles se encontram dilogos que no esto presentes em
suas pginas web oficiais, porm no se expem outros que poderiam ser polmicos e
prejudiciais como crticas ou juzos negativos a parceiros. Desta maneira nossa observao
se limita s valoraes sobre sua profisso que fazem pblicas no Facebook.
As fotografias e vdeos que mostram seu exerccio profissional e tm sido tiradas
pelos prprios atores, incluem a seu lado os comentrios de colegas, so documentos
sociais de tipo emique (GURAN 2002), que esto permeados por suas formas de ver e seus
valores culturais, que junto com o que expressam seus textos e dilogos, consideramos que
nos acercam a seus modos de olhar e aos elementos que querem destacar nas fotografias.
Embora nosso interesse nas fotografias observadas no seja sua qualidade tcnica
nem esttica, seno uma leitura sociolgica (BOURDIEU; BOURDIEU, 2006, p. 34), a
profisso musical em si uma expresso na busca da exaltao de valores estticos que
impregnam tanto a apresentao das pessoas quanto o fato musical ao vivo. O tipo de
fotografias e vdeos que examinamos, tm uma funo documental (GURAN, 2002, p. 96),
no sentido em que os msicos buscam que seja uma amostra de seu trabalho vigente, e
alm, a prova do que so capazes de tocar ou cantar e que relaciona pessoas, lugares e
eventos especficos, para maior certeza. Rouill (2009) nos alerta acerca de que a fotografia
no informa uma verdade, devido a que sua tentativa de reproduo da realidade sempre se
d num processo que envolve as eleies do fotgrafo, o que tenta comunicar, os ngulos e
momentos que elege, os textos que a acompanham e seus contextos de circulao, de
maneira que o verdadeiro de um fato no se desvenda totalmente s pelo seu registro.
Destarte toda imagem no uma reproduo, mas uma transformao do real (ROUILL,
2009, p. 77), que neste caso ao estar impregnada por seus valores ganha uma maior fora
documental.
Hoje de conhecimento pblico a manipulabilidade da fotografia, sua
questionvel posio em torno do verdadeiro e a dvida que gera sua autenticidade
(FONTCUBERTA, 2010, p.10). So manifestas as capacidades de sua modificao em
softwares, em escndalos polticos sobre montagens, e no realismo das imagens
proporcionado nos filmes. A msica tampouco est livre das intervenes tecnolgicas em
suas gravaes, que pode melhorar o engenheiro de som, ou ao vivo, com as pistas que
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substituem os instrumentos, as dublagens ou playback que transformam ao msico em um
ator ou em um mmico, e os softwares que corrigem as desafinaes. Porm, o sentido
confirmativo das imagens exibidas pelos msicos no Facebook tem um carter documental
no porque seja uma representao da realidade exata e fiel mas porque obedece a sua
verossimilitude, ao procedimento de crena da comunidade de msicos (ROUILL, 2009,
p. 67). O halo de crena ao redor dela se suporta no processo de mediaes encadeadas que
comunicam o momento, a captura da imagem, o dispositivo, os indivduos com seus
instrumentos, sua escolha entre outras imagens, sua publicao ao lado de legendas que
identificam os outros e sua aceitao e comentrios. uma circulao de mediadores em
um contexto que valida que nessa imagem determinada, soa uma msica. Desta maneira, a
fotografia no representa exatamente uma coisa preexistente, ela produz uma imagem no
decorrer de um processo que coloca a coisa em contato, e em variaes, com outros
elementos materiais e inmateriais (ROUILL, 2009, p. 73). A crena nas fotografias e
vdeos permanece, acentuado por seu papel documental e sua dramatizao no mundo
offline ou real.
ME ACABAN DE DECIR MSICO! QU HONOR!
Consultado junho 27 de 2014
A socialidade dos msicos se cria no dilogo permanente sobre imagens e textos,
os comentrios de outros so parte da construo da veracidade do instante representado,
corroboram e legitimam suas habilidades com expresses de admirao. O cumprimento a
outros, a criao de legendas que os hipervinculam e informam que compartilharam com
eles uma gravao sonora, uma produo musical, ou um concerto significativa em tanto
que da conta de formas de socializao ao reconhecer ao outro ao confirmar sua
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importncia na realizao grupal do que precisa a realizao musical, e corroborar que se
tem presente ao outro pois no nunca uma ao solitria. So recorrentes os comentrios
que expressam admirao, agradecimento, respeito, e inclusive solicitaes de contrataes
a pares para participarem de mais apresentaes musicais na gria prpria dos msicos. As
fotografias funcionam tambm a modo de sociogramas nos que se expem as relaes e
papeis sociais (BOURDIEU; BOURDIEU, 2006, p. 34). Se destacam as fotografias com
msicos famosos ou com pessoas consideradas autoridades na matria a nvel local. De
maneira que as fotografias dos grupos musicais, a mide o regente ou os vocalistas, pois
representam os papeis mais importantes, se localizam no centro. Tais comunicaes podem
entender-se como prticas encaminhadas a demostrar um capital cultural confirmado pela
relao com atores do meio durante o trabalho musical e como sinais de deteno do capital
simblico de alguns agentes ao serem admirados publicamente. J que a comunidade que
a legitima, as saudaes e felicitaes apontam ao reconhecimento do outro. No seguinte
exemplo a valorizao de um se acentua com certo sarcasmo e humor numa parabenizao
pelo dia do msico.
Consultado junho 3 de 2014
Quando o primeiro msico manifesta sentir-se honrado com a parabenizao, se
evidencia que o prprio estatuto da profisso se refora com o reconhecimento dos colegas.
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O CORPO COMO MEDIADOR PRIVILEGIADO
A realizao de atividades que compem seu ofcio, e uma continua exposio de
seu exerccio, avalizada pelos comentrios de conhecidos, so a prova de seu
reconhecimento. Embora no haja juzos explcitos sobre companheiros que no so
considerados bons msicos, se observam comentrios sobre as valorizaes de seu ofcio
que destacam a atividade do intrprete instrumentista ou vocalista, principalmente no
evento ao vivo, o que se exalta na mediao do processo musical em cena, suportada no
domnio e o manejo de seu corpo e na capacidade do intrprete de comover audincia. A
interpretao, ao que se executa frente ao escrutnio dos pares que conhecem os truques e
maquiagens tecnolgicos, a nica que pode comprovar sua qualidade sem a ajuda de
corretivos.
Consultado junho 7 de 2014
A frase final de carne y hueso acentua a importncia do corpo como um
mediador da msica. O corpo deve manejar a tcnica e trascender a uma interpretao
musical.
Porm tocar um instrumento no garantia de ser reconhecido como msico por
outros profissionais. Outras afirmaes consideram msica como um ofcio que alm da
interpretao, inclui a autogesto, o que embora muitas vezes no mencionado, faz parte
da dramatizao com a que se apresentam no Facebook.
A NARRAO CONTINUA
A inteno documental junto imediatidade e socialidade das redes sociais
(REGUILLO, 2012), adquire uma dimenso narrativa de atualizar o presente, de
confirmar a realidade e dilatar a experincia (FONTCUBERTA, 2010, p. 30). Se
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registra o que est acontecendo. Cada atividade documentada, desde a mais relevante
para o msico, a apresentao musical ou a encenao da que se expem vrios
momentos do evento musical, antes dela, durante, desde o palco o desde o pblico.
Sobressaem tambm o ensaio, a gravao, e as apresentaes em eventos importantes. Em
ocasies as fotografias se organizam em conjuntos como num modelo sequencial
(SAMAIN, 56). O seguinte um conjunto de fotografias tomadas ao longo de um dia e
exibidas em sua sequncia temporal. Primeiro a passagem de som sem o pblico. Depois o
msico j com o traje de apresentao, seguida da imagem com o grupo antes da
apresentao no vestirio. E por fim a imagem que registra a perspectiva do msico a partir
do palco com a plateia cheio de espectadores.
1. 2.
3. 4.
Consultado junho 8 de 2014
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CONCLUSIES
A apresentao do indivduo no mundo virtual das redes se pode observar com
as informaes com as que completa seus dados bsicos, a fotografia de seu perfil, as
comunicaes que compartilha e suas interaes com outros. Estes espaos tm
ganhado cada vez maior relevncia dado seu crescente uso e as possibilidades que
brindam os telefones inteligentes que conectam o usurio com a rede por meio de banda
larga mvel de maneira ubqua. Os msicos aproveitam as redes para criar comunidades
virtuais onde dramatizam suas auto-representaes continuamente no esforo por obter
reconhecimento e vigncia no meio.
As fotografias e os vdeos que apresentam, encenam as inter-relaes e a
socialidade da que precisa a msica para ser levada a cabo, e que se tece e refora com os
cumprimentos, felicitaes e agradecimentos semipblicos. Neles se reconhece ao outro
como colega, se mostram elementos que criam uma boa reputao, como o encontro e
apresentaes musicais com companheiros e msicos famosos, eventos e lugares de
prestgio, manifestaes da deteno de capital cultural e capital simblico. As imagens tm
uma funo documental que prova a habilidade de realizar uma boa interpretao e outros
papeis do oficio musical. Tal funo obedece principalmente crena que depositam nela
ao circular na rede social e complementariedade do mundo online e o offline, antes que a
sua verdade como reproduo do mundo, por quanto sempre implicam uma transformao
do real.
Alguns argumentos exaltam o valor do intrprete e o corpo como mediador
privilegiado da msica. Embora, o Facebook funcione como cenrio virtual salienta
tenses implcitas j que a preparao do indivduo fica oculta nos bastidores ou no mundo
offline. De maneira que se excluem opinies, disputas e valoraes da profisso que no se
apresentam de maneira explcita e podem ser polmicos. A imediatidade e a velocidade da
internet e os dispositivos eletrnicos atuais, permitem transmitir de maneira simultnea o
que acontece. Neste sentido alguns msicos narram instantes dos eventos relevantes
permitindo uma dimenso narrativa que atualiza o presente de maneira continua.
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