8 velhos cocheiros e músicos ambulantes

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Alunos:Carlos Moreno e Thiago Gonçalves

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Alunos:Carlos Moreno e Thiago Gonçalves

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Velhos cocheiros A literatura de João do Rio representa uma fase de

transição violenta na vida cotidiana dos brasileiros. Nela, podemos observar o flagrante movimento de percepção do autor ao tentar captar as transformações sociais mais profundas em seu estado mais latente.

Essas transformações não só mexem com a vida das pessoas como também destituem delas as suas insígnias identitárias mais fortes ou, quando não, a sua própria dignidade moral. A inserção do bonde elétrico na capital da República Brasileira contribuiu para a marginalização repentina de muitos brasileiros, obrigados a recondicionar, de um dia para o outro, suas principais escolhas sociais.

Nesta crônica o narrador destaca aquele que transporta a cidade e ao mesmo tempo a conhece em suas viagens. O cocheiro é a profissão que tem o contato mais direto com a rua e os freqüentadores da mesma.

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Os velhos cocheiros, em especial, carregam tembém a história da cidade e das pessoas. Quantos importantes homens não passaram por dentro de um tílburi ou de um vis-à-vis?

A marca do tempo e do ofício está por todo o corpo: lesões cardíacas, atrofia das pernas, hipertrofia dos braços, entre outras. Da mesma maneira, a ferrugem faz suas marcas nas carruagens.

Esses quase parentes invisíveis estão cheios de história, mas que a velha poeira da História já os tomava. A cidade podia até se esquecer deles, mas – mesmo sem forças – eles continuavam a freqüentar o velho ofício e sentir novamente o cheiro da profissão.

Uns diziam que o Bamba caíra e fora para o hospital, outros, os moços, riam de que se fosse procurar um cocheiro inútil como o Bamba, outros asseguravam que o velho não trabalhava mais. Afinal, quase defronte da porta do Quartel, encontrei um landau empoeirado, desses que parecem arcas e acomodam à vontade seis pessoas.

[...] – Mas que diabo vem ele fazer aqui, assim? O mulato sorriu com tristeza. – Sei lá!… É o cheiro, vossa senhoria, é o cheiro! Quando a gente

começa nesta vida, não pode viver sem ela… É o cheiro…. Os velhos cocheiros, por exemplo, se viram obrigados a

abandonar seus postos sem a mínima garantia social. A denúncia nostálgica do narrador João do Rio ao presenciar o fim das velhas profissões, no seu momento crítico, não o impede, contudo, de se regozijar com essa mudança.

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Músicos Ambulantes Dentre as diversas profissões da rua, o narrador – nesta crônica –

destaca os músicos ambulantes que – segundo ele – andaram desaparecidos, mas que agora estão de volta. As causas do afastamento do músicos foram os cafés-cantantes e os grafofones. Mas não foi força suficientes para fazê-los desaparecerem.

Músicos ambulantes! Um momento houve em que todos desapareceram, arrastados por uma súbita voragem. Os cafés viviam sem as harpas clássicas e nas ruas, de raro em raro, um realejo aparecia. Por quê? Teriam sido absorvidos pelos cafés-cantantes, dominados pelos prodígios do gramofone – essa maravilha do século XIX, que não deixa de ser uma calamidade para o século XX? Não. Fora apenas uma súbita pausa tão comum na circulação das cidades.

A crônica funciona como exaltação ao Rio de Janeiro como sendo uma cidade musical. O narrador vai à origem dos conhecimentos sobre a música. Mostrando como em outras crônicas um perfil metalingüístico do texto.

A música preside à nossa vida, a música auxilia até a gestação, e, consistia apenas na voz como diz Sócrates, consista, como pretende Aristixeno, na voz e nos movimentos do copro, ou reúna à voz os movimentos da alma e do corpo como pensa Teofrasto, tem os caracteres da divindade e comove as almas.

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O narrador também desmistifica o perfil romântico dos músicos, associado ao fim de vida melancólico e miserável. Narra histórias de músicos bem sucedidos. Alguns até excursionaram pelo mundo.

Quase todos esses músicos ambulantes e aventureiros ganham rios de dinheiro, vivendo uma vida quase lamentável. No forro dos casacos velhos há maços de notas, nos cinturões sebentos, vales ao portador. O público pára, olha aquela tristeza, imagina no automatismo dos gestos, na face que pede, no sorriso postiço, a fome dos artistas, a miséria dos deserdados da sorte, e sonha as agonias, como nas óperas, em que os tenores morrem ao sol, sob um céu lindo, cantando…

Cada músico tem seu estilo e seu público, mas o início de todos é sempre o mesmo: a rua. E deste espaço popular criam melodias e ganham o seu pão – rendoso pão – inspirado e inspirando a musa das ruas: a música.

De que serviria um realejo senão assegurasse ao seu possuidor, além do conhecimento da própria alma, a satisfação do estômago? Há talvez em outras terras, mais gastas e mais frias, a miséria dos músicos ambulantes, sem fogo, sem pão, caindo sob a neve, depois de uma dolorosa vida. Aqui não; os músicos