músicos recorrem à internet paraestabelecer parcerias à distância

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SALVADOR QUARTA-FEIRA 6/7/2011 4 SALVADOR QUARTA-FEIRA 6/7/2011 5 2 2 ONLINE Ferramentas de colaboração permitem tocar, ensaiar e gravar com pessoas conectadas no mundo inteiro Músicos recorrem à internet para estabelecer parcerias à distância VERENA PARANHOS Como um músico que toca ba- teria no Japão, outro guitarra em Nova York e um cantor da Bahia poderiam fazer música juntos sem nunca terem se visto ou tocado? Com a internet, o que antes tinha grandes empe- cilhos de tempo e espaço é sim- plificado por sites e comunida- CRIAÇÃO SITES COLETIVA Crie um perfil em um dos sites Pesquise músicas, samples, remixes ou vocais no sistema de busca (alguns permitem a busca por gênero, artista, palavras- -chave) e avalie o trabalho dos outros músicos Veja como fazer música em projetos colaborativos utilizando as ferramentas disponibilizadas pela internet, desde a criação do seu perfil até a divulgação da obra Grave uma faixa e faça o upload Selecione o contrato de licença de direitos autorais do projeto O Creative Commons é um projeto global em que autores podem permitir alguns usos dos seus trabalhos por meio de uma licença em que autorizam a cópia e/ou distribuição da obra, desde que atribuam crédito ao autor creativecommons.org/license Convide usuários para adicionar bateria, baixo, vocal etc ou faça remixes com os já existentes Alguns sites permitem gravar uma jam session com músicos em diversas partes do mundo e transmitir ao vivo Discuta com os colaboradores os rumos do projeto em chats ou fóruns Inscreva seu projeto em concursos Pelas redes sociais convide os amigos para ver o seu trabalho, post em blogs Venda suas músicas (nos sites em que é permitido) Grava ao vivo com até 4 músicos online e em tempo real Sessões de jam públicas ou privadas Velocidade mínima requerida 800 Kbps Download para windows e mac www.ejamming.com Gratuito por 30 dias/ US$ 9,95 ao mês Organiza concursos de remixes Site brasileiro, vinculado ao Overmundo e Ccmixter Permite resenhas das obras www.overmundo.com Gratuito Permite criar um blog gratuito para compartilhar músicas e fotos e para se conectar com outros músicos Quem não é músico pode navegar pela biblioteca e também remixar um áudio www.indabamusic.com Gratuito/Ferramentas avançadas US$ 5/mês ou US$ 50/ano Músicos fazem jam session online e em tempo real Permite qualquer formato de áudio ou vídeo As salas de jam foram projetadas para ser públicas, mas também é possível fazer uma jam session privada onlinejamsessions.com US$ 10/mês ou US$ 100/ano Tem fórum de discussão Promove concursos entre os usuários Sessões de gravação privadas ou públicas Gravações nos formatos MP3, AIFF, AIF, WAV, WMA, OGG, APE Tem vídeos tutoriais www.kompoz.com Projetos públicos são gratuitos/ US$ 9,95 por projeto privado 1 2 3 4 5 6 7 8 10 9 Pesquisa Verena Paranhos Infografia Inara Pacheco Negrão Editoria de Arte A TARDE Skank investe em projeto colaborativo de clipe e recebe prêmio em Cannes Para mais de 40 mil pessoas, protagonizar um videoclipe ao lado do Skank deixou de ser sonho nos últimos meses e foi concretizado virtualmente. O SkankPlay, projeto colaborativo e online que transformou sonho em realidade, rendeu ao grupo mineiro o Leão de Ouro em Can- nes, maior festival de publici- dade do mundo. Com a iniciativa, qualquer pessoa pode gravar sua própria versão para a música De Repen- te, seja cantando, tocando um instrumento ou fazendo uma performance. “Teve um cara que fez no Japão, gente que gravou com ipad, usou gaita, sanfona”, conta o Henrique Por- tugal, tecladista da banda. Nem só anônimos participa- ram do projeto: Simoninha e Jairzinho emprestaram seu suingue ao som do Skank e Lu- cas do Fresno tocou teclado. Os baianos Luca, Jajá e Dieguito, da Vivendo do Ócio, também de- ram a sua contribuição. “Além de ser uma boa divulgação, acho importante pela integra- ção com uma banda muito res- peitada”, afirma Jajá. O publicitário Pedro Gravena, integrante do DonTryThis, cole- tivo que pensou o projeto, acre- dita que a ideia emplacou por ser envolvente e mobilizar as pessoas. “Mesmo que não seja ídolo da banda, todo mundo gosta de fazer uma jam session”, afirma. Em sua opinião, não existe uma fórmula que garante ini- ciativas de sucesso na internet e “quem tenta qualquer coisa di- ferente já está acertando”. Outras tentativas E tentativas não param de sur- gir. Cada vez mais artistas con- sagrados vêm investindo em projetos colaborativos. Depois de fãs mandarem para o Pato Fu cenas caseiras de suas crianças ouvindo o disco Música de Brinquedo, o grupo decidiu fazer um clipe com a colabo- ração deles. Com previsão de lançamento para o segundo semestre, o cli- pe de Rock’n’Roll Lullaby está sendo montado com uma se- leção de fotos que foram en- viadas por fãs. “Temos um re- lacionamento próximo e desta vez estamos fazendo algo com a participação direta deles. Acha- mos que seria uma maneira in- teressante de expandir esse cli- ma ‘família’ do Música de Brin- quedo”, conta John Ulhoa, gui- tarrista do grupo. “Mesmo as bandas que vie- ram da indústria fonográfica es- tão testando novas práticas de interação”, constata Simone de Sá. A pesquisadora defende que práticas neste sentido propor- cionam credibilidade e legitimi- dade junto ao fã. “Esses grupos estão se dando conta de que o modelo de distribuição musical mudou. É uma mudança de es- tratégia”. Weber Padua / Divulgação O Skank permitiu que outros músicos interagissem em seu clipe O Pato Fu, de Fernanda Takai, lança videoclipe com fotos de fãs O grupo baiano Vivendo do Ócio participou do projeto SkankPlay DIGITAL As comunidades podem ser ótimos locais para pesquisa de trilha sonora para audiovisuais Autores defendem uma regulação para garantir os direitos sobre as obras Em um mundo em que cada um produz um pouco, a pesquisa- dora Simone de Sá defende que se deve repensar a própria ideia de autoria. “O modelo como foi pensado no século 20 já não é mais vá- lido. Mas com isso não estou querendo dizer que toda música tem que ser gratuita e o autor abrir mão dos direitos“. “Antes, se pensássemos a possibilidade de uma música ser feita por tanta gente ao mesmo tempo chegaríamos a uma Ba- bel, em que não haveria enten- dimento. Por isso é necessário o desenvolvimento de uma forma regulada, em que os colabora- dores estejam cientes e aceitem as regras”, opina Dupim. A maioria dos sites de cola- boração usa licenças Creative Commons (CC) em que o autor pode escolher se autoriza ou não a cópia e/ou distribuição da obra, desde que seja atribuído o crédito, seu uso comercial ou ainda se permite modificações no trabalho original. “O Creative Commons é um avanço porque dá aos criadores o poder de decidir o que deve ser feito com suas criações e de- terminar quem deve pagar por ela e quem não deve”, defende Lucas Santanna, que disponibi- lizou seu terceiro álbum na web sob uma das licenças CC. Neste sentido, Chico Correa concorda: “Nem oito nem oitenta: produ- zir música custa caro, se algo será cobrado, que os músicos recebam também”. Já o carioca Lucio K, como compositor e produtor, acredita na liberdade total da troca de informações e cultura: “Música não deveria ser paga e sim tro- cada entre as pessoas livremen- te”, polemiza. Para o DJ, no mundo da mú- sica deve-se esperar uma pos- tura ética em que a citação da autoria seja feita. CURTAS Radiohead e Maroon 5 inovam com projetos Colaborações entre artistas e fãs têm se tornado mais comuns do que muita gente pensa. A banda inglesa Radiohead libe- rou o áudio original de seu show em São Paulo em 2009 para o projeto colaborativo Rain Down. A iniciativa consiste na gravação do show da banda a partir da edição de imagens de diversas câmeras e celulares disponibilizadas pelo público em sites como o YouTube. Outro projeto não menos arrojado foi protagonizado pelo grupo Ma- roon 5. O quinteto convidou fãs para participarem, via internet, do processo de 24 horas de cria- ção de uma faixa e depois apre- sentou a canção para 355 mil pessoas conectadas no canal do evento. Show do grupo Radiohead foi gravado a partir da edição de imagens disponibilizadas pelo público WWW.YOUTUBE.COM/SKANKPLAY “Achei sensacional! Como sempre o Skank à frente se tratando de interatividade! Inscrevi uns instrumentos e ficou bem legal. A bateria na pegada reggae e em ska?” ComentáriodeDanibatera89postado noYouTubesobresuaversãode De Repente ,doSkank HTTP://WWW.YOUTUBE.COM/SYMPHONY Assista ao concerto de 101 músicos de 33 países escolhidos no YouTube para integrar a Orquestra Sinfônica do YouTube 2011. A apresentação aconteceu em março na Casa da Ópera de Sidney 40 mil é o número de versões da música De Repente, do Skank, tocada por fãs e músicos no projeto SkankPlay Simoninha, Jairzinho e Lucas do Fresno também emprestaram seu suingue ao som do Skank Faixas originais e remixagens on line O baiano Lucas Santtana foi um dos primeiros a apostar em al- gumas das possibilidades da in- ternet. Em 2006 o artista trans- formou seu selo musical Digi- nóis records em um site- (www.diginois.com.br) em que disponibiliza tanto as faixas originais de seus últimos discos como as remixagens feitas a partir dela, graças à adoção de uma licença Creative Com- mons. Para ele, o modelo co- laborativo é muito positivo, pois “cada vez que uma pessoa remixa uma música do disco é como se ele tivesse vivo”. Fernando Vivas / Ag. A TARDE / 18.12.2009 Lucas Santtana transformou seu selo Diginóis records em sistema Comunidades reúnem famosos Comunidades de colaboração não são somente lugares de músicos iniciantes. Artistas fa- mosos como Gilberto Gil, Lucas Santtana, Apollo9, DJ Dolores, Cibelle, Bnegão e Projeto Axial fazem parte do Overmixter e disponibilizam seu trabalho (in- tegral ou parcialmente). A co- munidade é concebida a partir da parceria entre o Overmundo e o ccMixter. A vantagem de ter uma ferramenta como esta em português não é apenas a fa- cilidade da língua, mas tam- bém ações direcionadas aos brasileiros que podem surgir. YouTube investe em orquestra sinfônica O YouTube não se resume ao lugar onde as pessoas postam vídeos e interagem autonoma- mente. O site também vem in- vestindo no colaborativismo e tem a Orquestra Sinfônica do YouTube como um dos grandes expoentes da premissa. A se- gunda edição do projeto, lan- çado em 2009, proporcionou uma experiência musical em que candidatos deveriam en- viar gravações de suas perfor- mances tocando instrumentos. Milhares de internautas vota- ram e escolheram a seleção dos 101 músicos. Concursos de remixes propostos por sites Õs concursos de remixes pro- movem a diversão na maioria das comunidades: membros se inscrevem e seguem o desafio proposto pelo site. Para isso, têm que aprimorar suas técni- cas e desenvolver novas habi- lidades. Os melhores são es- colhidos pelos próprios mem- bros da rede e em alguns existe até premiação. O Overmixter, por exemplo, de tempos em tempos organiza concursos de remixes pelo País, com o ob- jetivo de estimular o uso co- laborativo e a troca de expe- riências na música brasileira. des que permitem a produção colaborativa online de artistas amadores e profissionais. Mais de uma dezena de fer- ramentas de colaboração – mui- tas delas gratuitas – possibili- tam tocar, ensaiar e gravar mú- sicas com pessoas conectadas no mundo inteiro. O processo é simples: alguém grava parte da música com o próprio instru- mento ligado em um compu- tador e a publica na comunidade para que outros façam down- load e trabalhem em cima. Outras opções são buscar o sampler do instrumento que ne- cessita ou fazer uma jam session ao vivo, mesmo estando a qui- lômetros de distância dos outros músicos. Estas comunidades po- dem, ainda, ser ótimos locais para pesquisa de trilha sonora para projetos audiovisuais. Produção A maioria das ferramentas ofe- rece fóruns e chats para pro- mover a discussão dos detalhes do projeto ou resenhas para que os participantes tenham seus trabalhos avaliados. “As pes- soas encontram outras dispos- tas a ouvir o trabalho, recriar ou resenhar a partir dele”, afirma Rafael Dupim, cuja pesquisa de mestrado no Programa de Pós Graduação da Universidade Fe- deral Fluminense (UFF) é sobre a colaboração no Overmixter. Acredita que há muita interação nesses ambientes – “a gente produz mais do que espera”. Já o DJ Lucio K, que sempre trabalhou em parceria com pro- dutores espalhados pelo mun- do, pensa que a colaboração ainda está engatinhando. “No futuro haverá muito mais sites, softwares e bancos de dados voltados para isso. Se você qui- ser encontrar um tocador de cí- tara indiano para participar do seu CD vai ser muito mais fácil e rápido”, exemplifica o DJ, que fez o álbum SwingSambaLoun- ge inteiramente a partir do download de arquivos. O guitarrista baiano Juninho Costa não costuma usar essas ferramentas, mas produz em parceria com músicos à distân- cia por meio da troca de arquivos por e-mail. Para o músico, é sempre melhor tocar junto, se- guindo um mesmo conceito e direção, porque, “alguns resul- tados podem ser diferentes do que se esperava. Na maioria das vezes dá certo e termina sendo prazeroso à distância”. Um de seus parceiros, Chico Correa, usa mashups (uma com- posição criada pela mistura de duas ou mais canções pré-gra- vadas) para fazer DJ sets e rea- grupa elementos de diversas fontes sonoras: “De produções próprias a fragmentos de velhos discos, sons gravados na rua ou coletados na internet, o resul- tado é uma grande salada”. Gustavo “Gêiser” Nobio, que em seu projeto de hip hop faz o download de bases, acredita que o músico tem que marcar presença na internet, pois “ela se tornou a maior gravadora do mundo”. Outros atores Para Simone de Sá, pós-doutora em Comunicação e coordena- dora do Laboratório de Pesquisa em Culturas Urbanas e Tecno- logias da UFF, práticas como es- tas reconfiguram as formas de produção, circulação e consumo musical com uma multiplicação de atores do processo. “Aos ato- res tradicionais estão se soman- do outros, de modo que o mú- sico amador agora pode pôr seu trabalho na rede e sair forta- lecido a partir de parcerias em todos os âmbitos. Existe a pos- sibilidade de se fazer música em um novo modelo e repensar as fronteiras espaço-temporais”. Neste sentido, Dupim com- pleta indicando a emergência de novos mediadores, produto- res e músicos cada vez mais pro- fissionalizados e que não de- sejam seguir as lógicas da in- dústria fonográfica. “As grandes vantagens são a visibilidade e a possibilidade de se fazer uma trilha com licenças que na maio- ria das vezes permitem o uso e até modificações no trabalho original”, diz. PROJETO ASSISTA ÀS MUITAS VERSÕES OFICIAIS DO CLIPE DE DE REPENTE DO SKANK E APROVEITE PARA FAZER A SUA TAMBÉM, TOCANDO OU CANTANDO www.skankplay.com Beto Figueiroa / Divulgação Marco Aurélio Martins / Ag. A TARDE

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Reportagem sobre música digital publicada no jornal A TARDE em 7 de julho de 2012.

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Page 1: Músicos recorrem à internet paraestabelecer parcerias à distância

SALVADOR QUARTA-FEIRA 6/7/20114 SALVADOR QUARTA-FEIRA 6/7/2011 52 2

ONLINE Ferramentas de colaboração permitem tocar, ensaiar e gravar com pessoas conectadas no mundo inteiro

Músicos recorrem à internet paraestabelecer parcerias à distânciaVERENA PARANHOS

Como um músico que toca ba-teria no Japão, outro guitarraem Nova York e um cantor daBahia poderiam fazer músicajuntos sem nunca terem se vistoou tocado? Com a internet, oque antes tinha grandes empe-cilhos de tempo e espaço é sim-plificado por sites e comunida-

CRIAÇÃO

SITES

COLETIVACrie um perfil emum dos sites

Pesquise músicas, samples,remixes ou vocais nosistema de busca (algunspermitem a busca porgênero, artista, palavras--chave) e avalie o trabalhodos outros músicos

Veja como fazer música em projetos colaborativosutilizando as ferramentas disponibilizadas pela internet,desde a criação do seu perfil até a divulgação da obra

Grave uma faixae faça o upload

Selecione o contrato delicença de direitosautorais do projeto

O Creative Commons é um projeto global em que autorespodem permitir alguns usos dos seus trabalhos por meio deuma licença em que autorizam a cópia e/ou distribuição daobra, desde que atribuam crédito ao autor

creativecommons.org/license

Convide usuáriospara adicionarbateria, baixo, vocaletc ou faça remixescom os já existentes

Alguns sites permitemgravar uma jam sessioncom músicos em diversaspartes do mundo etransmitir ao vivo

Discuta com oscolaboradoresos rumos doprojeto emchats ou fóruns

Inscreva seuprojeto emconcursos

Pelas redes sociais convide osamigos para ver o seu trabalho,post em blogs

Venda suas músicas(nos sites em que épermitido)

Grava ao vivo com até4 músicos online e emtempo real

Sessões de jampúblicas ou privadas

Velocidade mínimarequerida 800 Kbps

Download parawindows e mac

www.ejamming.comGratuito por 30 dias/ US$ 9,95 ao mês

Organizaconcursos deremixes

Site brasileiro,vinculado aoOvermundo eCcmixter

Permite resenhasdas obras

www.overmundo.comGratuito

Permite criar umblog gratuito paracompartilharmúsicas e fotos epara se conectar comoutros músicos

Quem não é músicopode navegar pelabiblioteca e tambémremixar um áudio

www.indabamusic.comGratuito/Ferramentas avançadasUS$ 5/mês ou US$ 50/ano

Músicos fazem jamsession online e emtempo real

Permite qualquer formatode áudio ou vídeo

As salas de jam foramprojetadas para serpúblicas, mas também épossível fazer uma jamsession privada

onlinejamsessions.comUS$ 10/mês ou US$ 100/ano

Tem fórum de discussão

Promove concursosentre os usuários

Sessões de gravaçãoprivadas ou públicas

Gravações nos formatosMP3, AIFF, AIF, WAV,WMA, OGG, APE

Tem vídeos tutoriais

www.kompoz.comProjetos públicos são gratuitos/US$ 9,95 por projeto privado

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Pesquisa Verena Paranhos Infografia Inara Pacheco Negrão Editoria de Arte A TARDE

Skank investe emprojeto colaborativode clipe e recebeprêmio em Cannes

Para mais de 40 mil pessoas,protagonizar um videoclipe aolado do Skank deixou de sersonho nos últimos meses e foiconcretizado virtualmente. OSkankPlay, projeto colaborativoe online que transformou sonhoem realidade, rendeu ao grupomineiro o Leão de Ouro em Can-nes, maior festival de publici-dade do mundo.

Com a iniciativa, qualquerpessoa pode gravar sua própriaversão para a música De Repen-te, seja cantando, tocando uminstrumento ou fazendo umaperformance. “Teve um caraque fez no Japão, gente quegravou com ipad, usou gaita,sanfona”, conta o Henrique Por-tugal, tecladista da banda.

Nem só anônimos participa-ram do projeto: Simoninha eJairzinho emprestaram seusuingue ao som do Skank e Lu-cas do Fresno tocou teclado. Osbaianos Luca, Jajá e Dieguito, daVivendo do Ócio, também de-ram a sua contribuição. “Alémde ser uma boa divulgação,acho importante pela integra-ção com uma banda muito res-peitada”, afirma Jajá.

O publicitário Pedro Gravena,integrante do DonTryThis, cole-tivo que pensou o projeto, acre-dita que a ideia emplacou porser envolvente e mobilizar aspessoas. “Mesmo que não sejaídolo da banda, todo mundogostadefazeruma jamsession”,afirma.

Em sua opinião, não existeuma fórmula que garante ini-ciativas de sucesso na internet e“quem tenta qualquer coisa di-ferente já está acertando”.

Outras tentativasE tentativas não param de sur-gir. Cada vez mais artistas con-sagrados vêm investindo emprojetos colaborativos.

Depoisdefãsmandaremparao Pato Fu cenas caseiras de suascrianças ouvindo o disco Músicade Brinquedo, o grupo decidiufazer um clipe com a colabo-ração deles.

Com previsão de lançamentopara o segundo semestre, o cli-pe de Rock’n’Roll Lullaby estásendo montado com uma se-leção de fotos que foram en-viadas por fãs. “Temos um re-lacionamento próximo e destavez estamos fazendo algo com aparticipação direta deles. Acha-mos que seria uma maneira in-teressante de expandir esse cli-ma ‘família’ do Música de Brin-quedo”, conta John Ulhoa, gui-tarrista do grupo.

“Mesmo as bandas que vie-ram da indústria fonográfica es-tão testando novas práticas deinteração”, constata Simone deSá. A pesquisadora defende quepráticas neste sentido propor-cionam credibilidade e legitimi-dade junto ao fã. “Esses gruposestão se dando conta de que omodelo de distribuição musicalmudou. É uma mudança de es-tratégia”.

Weber Padua / Divulgação

O Skank permitiu que outros músicos interagissem em seu clipe

O Pato Fu, de Fernanda Takai, lança videoclipe com fotos de fãs

O grupo baiano Vivendo do Ócio participou do projeto SkankPlay

DIGITAL

As comunidadespodem ser ótimoslocais parapesquisa de trilhasonora paraaudiovisuais

Autores defendemuma regulação paragarantir os direitossobre as obras

Em um mundo em que cada umproduz um pouco, a pesquisa-dora Simone de Sá defende quese deve repensar a própria ideiade autoria.

“O modelo como foi pensadono século 20 já não é mais vá-lido. Mas com isso não estouquerendo dizer que toda músicatem que ser gratuita e o autorabrir mão dos direitos“.

“Antes, se pensássemos apossibilidade de uma música serfeita por tanta gente ao mesmotempo chegaríamos a uma Ba-bel, em que não haveria enten-dimento. Por isso é necessário odesenvolvimento de uma formaregulada, em que os colabora-dores estejam cientes e aceitemas regras”, opina Dupim.

A maioria dos sites de cola-boração usa licenças CreativeCommons (CC) em que o autorpode escolher se autoriza ounão a cópia e/ou distribuição daobra, desde que seja atribuído ocrédito, seu uso comercial ouainda se permite modificaçõesno trabalho original.

“O Creative Commons é umavanço porque dá aos criadoreso poder de decidir o que deve serfeito com suas criações e de-terminar quem deve pagar porela e quem não deve”, defendeLucas Santanna, que disponibi-lizou seu terceiro álbum na websob uma das licenças CC. Nestesentido, Chico Correa concorda:“Nem oito nem oitenta: produ-zir música custa caro, se algoserá cobrado, que os músicosrecebam também”.

Já o carioca Lucio K, comocompositor e produtor, acreditana liberdade total da troca deinformações e cultura: “Músicanão deveria ser paga e sim tro-cada entre as pessoas livremen-te”, polemiza.

Para o DJ, no mundo da mú-sica deve-se esperar uma pos-tura ética em que a citação daautoria seja feita.

CURTAS

Radiohead e Maroon 5 inovam com projetos

Colaborações entre artistas efãstêmsetornadomaiscomunsdo que muita gente pensa. Abanda inglesa Radiohead libe-rou o áudio original de seushow em São Paulo em 2009para o projeto colaborativoRain Down. A iniciativa consistena gravação do show da bandaa partir da edição de imagensde diversas câmeras e celularesdisponibilizadas pelo públicoemsitescomooYouTube.Outroprojeto não menos arrojado foiprotagonizado pelo grupo Ma-roon 5. O quinteto convidou fãspara participarem, via internet,do processo de 24 horas de cria-

ção de uma faixa e depois apre-sentou a canção para 355 milpessoas conectadas no canal doevento.

Show do grupoRadiohead foigravado a partir daedição de imagensdisponibilizadaspelo público

WWW.YOUTUBE.COM/SKANKPLAY

“Achei sensacional!Como sempre oSkank à frente setratando deinteratividade!Inscrevi unsinstrumentos eficou bem legal. Abateria na pegadareggae e em ska?”

Comentário de Danibatera89 postadono YouTube sobre sua versão de DeRepente, do Skank

HTTP://WWW.YOUTUBE.COM/SYMPHONY

Assista ao concerto de 101 músicos de 33 países escolhidos noYouTube para integrar a Orquestra Sinfônica do YouTube 2011. Aapresentação aconteceu em março na Casa da Ópera de Sidney

40 milé o número de versões damúsica De Repente, do Skank,tocada por fãs e músicos noprojeto SkankPlay

Simoninha,Jairzinho e Lucasdo Fresno tambémemprestaram seusuingue ao somdo Skank

Faixas originais eremixagens on line

O baiano Lucas Santtana foi umdos primeiros a apostar em al-gumas das possibilidades da in-ternet. Em 2006 o artista trans-formou seu selo musical Digi-nóis records em um site-(www.diginois.com.br) emquedisponibilizatantoasfaixasoriginais de seus últimos discoscomo as remixagens feitas apartir dela, graças à adoção deuma licença Creative Com-mons. Para ele, o modelo co-laborativo é muito positivo,pois “cada vez que uma pessoaremixa uma música do disco écomo se ele tivesse vivo”.

Fernando Vivas / Ag. A TARDE / 18.12.2009

Lucas Santtana transformou seu selo Diginóis records em sistema

Comunidadesreúnem famosos

Comunidades de colaboraçãonão são somente lugares demúsicos iniciantes. Artistas fa-mosos como Gilberto Gil, LucasSanttana, Apollo9, DJ Dolores,Cibelle, Bnegão e Projeto Axialfazem parte do Overmixter edisponibilizamseutrabalho(in-tegral ou parcialmente). A co-munidade é concebida a partirda parceria entre o Overmundoe o ccMixter. A vantagem de teruma ferramenta como esta emportuguês não é apenas a fa-cilidade da língua, mas tam-bém ações direcionadas aosbrasileiros que podem surgir.

YouTube investe emorquestra sinfônica

O YouTube não se resume aolugar onde as pessoas postamvídeos e interagem autonoma-mente. O site também vem in-vestindo no colaborativismo etem a Orquestra Sinfônica doYouTube como um dos grandesexpoentes da premissa. A se-gunda edição do projeto, lan-çado em 2009, proporcionouuma experiência musical emque candidatos deveriam en-viar gravações de suas perfor-mances tocando instrumentos.Milhares de internautas vota-ram e escolheram a seleção dos101 músicos.

Concursos de remixespropostos por sites

Õs concursos de remixes pro-movem a diversão na maioriadas comunidades: membros seinscrevem e seguem o desafioproposto pelo site. Para isso,têm que aprimorar suas técni-cas e desenvolver novas habi-lidades. Os melhores são es-colhidos pelos próprios mem-bros da rede e em alguns existeaté premiação. O Overmixter,por exemplo, de tempos emtempos organiza concursos deremixes pelo País, com o ob-jetivo de estimular o uso co-laborativo e a troca de expe-riências na música brasileira.

des que permitem a produçãocolaborativa online de artistasamadores e profissionais.

Mais de uma dezena de fer-ramentas de colaboração – mui-tas delas gratuitas – possibili-tam tocar, ensaiar e gravar mú-sicas com pessoas conectadasno mundo inteiro. O processo ésimples: alguém grava parte damúsica com o próprio instru-

mento ligado em um compu-tadoreapublicanacomunidadepara que outros façam down-load e trabalhem em cima.

Outras opções são buscar osampler do instrumento que ne-cessita ou fazer uma jam sessionao vivo, mesmo estando a qui-lômetrosdedistânciadosoutrosmúsicos. Estas comunidades po-dem, ainda, ser ótimos locais

para pesquisa de trilha sonorapara projetos audiovisuais.

ProduçãoA maioria das ferramentas ofe-rece fóruns e chats para pro-mover a discussão dos detalhesdo projeto ou resenhas para queos participantes tenham seustrabalhos avaliados. “As pes-soas encontram outras dispos-

tas a ouvir o trabalho, recriar ouresenhar a partir dele”, afirmaRafael Dupim, cuja pesquisa demestrado no Programa de PósGraduação da Universidade Fe-deral Fluminense (UFF) é sobrea colaboração no Overmixter.Acredita que há muita interaçãonesses ambientes – “a genteproduz mais do que espera”.

Já o DJ Lucio K, que sempre

trabalhou em parceria com pro-dutores espalhados pelo mun-do, pensa que a colaboraçãoainda está engatinhando. “Nofuturo haverá muito mais sites,softwares e bancos de dadosvoltados para isso. Se você qui-ser encontrar um tocador de cí-tara indiano para participar doseu CD vai ser muito mais fácil erápido”, exemplifica o DJ, quefez o álbum SwingSambaLoun-ge inteiramente a partir dodownload de arquivos.

O guitarrista baiano JuninhoCosta não costuma usar essasferramentas, mas produz emparceria com músicos à distân-ciapormeiodatrocadearquivospor e-mail. Para o músico, ésempre melhor tocar junto, se-guindo um mesmo conceito edireção, porque, “alguns resul-tados podem ser diferentes doque se esperava. Na maioria dasvezes dá certo e termina sendo

prazeroso à distância”.Um de seus parceiros, Chico

Correa, usa mashups (uma com-posição criada pela mistura deduas ou mais canções pré-gra-vadas) para fazer DJ sets e rea-grupa elementos de diversasfontes sonoras: “De produçõespróprias a fragmentos de velhosdiscos, sons gravados na rua oucoletados na internet, o resul-tado é uma grande salada”.

Gustavo “Gêiser” Nobio, queem seu projeto de hip hop faz odownload de bases, acreditaque o músico tem que marcarpresença na internet, pois “elase tornou a maior gravadora domundo”.

Outros atoresPara Simone de Sá, pós-doutoraem Comunicação e coordena-dora do Laboratório de Pesquisaem Culturas Urbanas e Tecno-logias da UFF, práticas como es-

tas reconfiguram as formas deprodução, circulação e consumomusical com uma multiplicaçãode atores do processo. “Aos ato-res tradicionais estão se soman-do outros, de modo que o mú-sico amador agora pode pôr seutrabalho na rede e sair forta-lecido a partir de parcerias emtodos os âmbitos. Existe a pos-sibilidade de se fazer música emum novo modelo e repensar asfronteiras espaço-temporais”.

Neste sentido, Dupim com-pleta indicando a emergênciade novos mediadores, produto-res e músicos cada vez mais pro-fissionalizados e que não de-sejam seguir as lógicas da in-dústria fonográfica. “As grandesvantagens são a visibilidade e apossibilidade de se fazer umatrilha com licenças que na maio-ria das vezes permitem o uso eaté modificações no trabalhooriginal”, diz.

PROJETO ASSISTA ÀS MUITAS VERSÕESOFICIAIS DO CLIPE DE DE REPENTE DO SKANKE APROVEITE PARA FAZER A SUA TAMBÉM,TOCANDO OU CANTANDO www.skankplay.com

Beto Figueiroa / Divulgação

Marco Aurélio Martins / Ag. A TARDE