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Page 1: Músicos recorrem à internet paraestabelecer parcerias à distância

SALVADOR QUARTA-FEIRA 6/7/20114 SALVADOR QUARTA-FEIRA 6/7/2011 52 2

ONLINE Ferramentas de colaboração permitem tocar, ensaiar e gravar com pessoas conectadas no mundo inteiro

Músicos recorrem à internet paraestabelecer parcerias à distânciaVERENA PARANHOS

Como um músico que toca ba-teria no Japão, outro guitarraem Nova York e um cantor daBahia poderiam fazer músicajuntos sem nunca terem se vistoou tocado? Com a internet, oque antes tinha grandes empe-cilhos de tempo e espaço é sim-plificado por sites e comunida-

CRIAÇÃO

SITES

COLETIVACrie um perfil emum dos sites

Pesquise músicas, samples,remixes ou vocais nosistema de busca (algunspermitem a busca porgênero, artista, palavras--chave) e avalie o trabalhodos outros músicos

Veja como fazer música em projetos colaborativosutilizando as ferramentas disponibilizadas pela internet,desde a criação do seu perfil até a divulgação da obra

Grave uma faixae faça o upload

Selecione o contrato delicença de direitosautorais do projeto

O Creative Commons é um projeto global em que autorespodem permitir alguns usos dos seus trabalhos por meio deuma licença em que autorizam a cópia e/ou distribuição daobra, desde que atribuam crédito ao autor

creativecommons.org/license

Convide usuáriospara adicionarbateria, baixo, vocaletc ou faça remixescom os já existentes

Alguns sites permitemgravar uma jam sessioncom músicos em diversaspartes do mundo etransmitir ao vivo

Discuta com oscolaboradoresos rumos doprojeto emchats ou fóruns

Inscreva seuprojeto emconcursos

Pelas redes sociais convide osamigos para ver o seu trabalho,post em blogs

Venda suas músicas(nos sites em que épermitido)

Grava ao vivo com até4 músicos online e emtempo real

Sessões de jampúblicas ou privadas

Velocidade mínimarequerida 800 Kbps

Download parawindows e mac

www.ejamming.comGratuito por 30 dias/ US$ 9,95 ao mês

Organizaconcursos deremixes

Site brasileiro,vinculado aoOvermundo eCcmixter

Permite resenhasdas obras

www.overmundo.comGratuito

Permite criar umblog gratuito paracompartilharmúsicas e fotos epara se conectar comoutros músicos

Quem não é músicopode navegar pelabiblioteca e tambémremixar um áudio

www.indabamusic.comGratuito/Ferramentas avançadasUS$ 5/mês ou US$ 50/ano

Músicos fazem jamsession online e emtempo real

Permite qualquer formatode áudio ou vídeo

As salas de jam foramprojetadas para serpúblicas, mas também épossível fazer uma jamsession privada

onlinejamsessions.comUS$ 10/mês ou US$ 100/ano

Tem fórum de discussão

Promove concursosentre os usuários

Sessões de gravaçãoprivadas ou públicas

Gravações nos formatosMP3, AIFF, AIF, WAV,WMA, OGG, APE

Tem vídeos tutoriais

www.kompoz.comProjetos públicos são gratuitos/US$ 9,95 por projeto privado

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Pesquisa Verena Paranhos Infografia Inara Pacheco Negrão Editoria de Arte A TARDE

Skank investe emprojeto colaborativode clipe e recebeprêmio em Cannes

Para mais de 40 mil pessoas,protagonizar um videoclipe aolado do Skank deixou de sersonho nos últimos meses e foiconcretizado virtualmente. OSkankPlay, projeto colaborativoe online que transformou sonhoem realidade, rendeu ao grupomineiro o Leão de Ouro em Can-nes, maior festival de publici-dade do mundo.

Com a iniciativa, qualquerpessoa pode gravar sua própriaversão para a música De Repen-te, seja cantando, tocando uminstrumento ou fazendo umaperformance. “Teve um caraque fez no Japão, gente quegravou com ipad, usou gaita,sanfona”, conta o Henrique Por-tugal, tecladista da banda.

Nem só anônimos participa-ram do projeto: Simoninha eJairzinho emprestaram seusuingue ao som do Skank e Lu-cas do Fresno tocou teclado. Osbaianos Luca, Jajá e Dieguito, daVivendo do Ócio, também de-ram a sua contribuição. “Alémde ser uma boa divulgação,acho importante pela integra-ção com uma banda muito res-peitada”, afirma Jajá.

O publicitário Pedro Gravena,integrante do DonTryThis, cole-tivo que pensou o projeto, acre-dita que a ideia emplacou porser envolvente e mobilizar aspessoas. “Mesmo que não sejaídolo da banda, todo mundogostadefazeruma jamsession”,afirma.

Em sua opinião, não existeuma fórmula que garante ini-ciativas de sucesso na internet e“quem tenta qualquer coisa di-ferente já está acertando”.

Outras tentativasE tentativas não param de sur-gir. Cada vez mais artistas con-sagrados vêm investindo emprojetos colaborativos.

Depoisdefãsmandaremparao Pato Fu cenas caseiras de suascrianças ouvindo o disco Músicade Brinquedo, o grupo decidiufazer um clipe com a colabo-ração deles.

Com previsão de lançamentopara o segundo semestre, o cli-pe de Rock’n’Roll Lullaby estásendo montado com uma se-leção de fotos que foram en-viadas por fãs. “Temos um re-lacionamento próximo e destavez estamos fazendo algo com aparticipação direta deles. Acha-mos que seria uma maneira in-teressante de expandir esse cli-ma ‘família’ do Música de Brin-quedo”, conta John Ulhoa, gui-tarrista do grupo.

“Mesmo as bandas que vie-ram da indústria fonográfica es-tão testando novas práticas deinteração”, constata Simone deSá. A pesquisadora defende quepráticas neste sentido propor-cionam credibilidade e legitimi-dade junto ao fã. “Esses gruposestão se dando conta de que omodelo de distribuição musicalmudou. É uma mudança de es-tratégia”.

Weber Padua / Divulgação

O Skank permitiu que outros músicos interagissem em seu clipe

O Pato Fu, de Fernanda Takai, lança videoclipe com fotos de fãs

O grupo baiano Vivendo do Ócio participou do projeto SkankPlay

DIGITAL

As comunidadespodem ser ótimoslocais parapesquisa de trilhasonora paraaudiovisuais

Autores defendemuma regulação paragarantir os direitossobre as obras

Em um mundo em que cada umproduz um pouco, a pesquisa-dora Simone de Sá defende quese deve repensar a própria ideiade autoria.

“O modelo como foi pensadono século 20 já não é mais vá-lido. Mas com isso não estouquerendo dizer que toda músicatem que ser gratuita e o autorabrir mão dos direitos“.

“Antes, se pensássemos apossibilidade de uma música serfeita por tanta gente ao mesmotempo chegaríamos a uma Ba-bel, em que não haveria enten-dimento. Por isso é necessário odesenvolvimento de uma formaregulada, em que os colabora-dores estejam cientes e aceitemas regras”, opina Dupim.

A maioria dos sites de cola-boração usa licenças CreativeCommons (CC) em que o autorpode escolher se autoriza ounão a cópia e/ou distribuição daobra, desde que seja atribuído ocrédito, seu uso comercial ouainda se permite modificaçõesno trabalho original.

“O Creative Commons é umavanço porque dá aos criadoreso poder de decidir o que deve serfeito com suas criações e de-terminar quem deve pagar porela e quem não deve”, defendeLucas Santanna, que disponibi-lizou seu terceiro álbum na websob uma das licenças CC. Nestesentido, Chico Correa concorda:“Nem oito nem oitenta: produ-zir música custa caro, se algoserá cobrado, que os músicosrecebam também”.

Já o carioca Lucio K, comocompositor e produtor, acreditana liberdade total da troca deinformações e cultura: “Músicanão deveria ser paga e sim tro-cada entre as pessoas livremen-te”, polemiza.

Para o DJ, no mundo da mú-sica deve-se esperar uma pos-tura ética em que a citação daautoria seja feita.

CURTAS

Radiohead e Maroon 5 inovam com projetos

Colaborações entre artistas efãstêmsetornadomaiscomunsdo que muita gente pensa. Abanda inglesa Radiohead libe-rou o áudio original de seushow em São Paulo em 2009para o projeto colaborativoRain Down. A iniciativa consistena gravação do show da bandaa partir da edição de imagensde diversas câmeras e celularesdisponibilizadas pelo públicoemsitescomooYouTube.Outroprojeto não menos arrojado foiprotagonizado pelo grupo Ma-roon 5. O quinteto convidou fãspara participarem, via internet,do processo de 24 horas de cria-

ção de uma faixa e depois apre-sentou a canção para 355 milpessoas conectadas no canal doevento.

Show do grupoRadiohead foigravado a partir daedição de imagensdisponibilizadaspelo público

WWW.YOUTUBE.COM/SKANKPLAY

“Achei sensacional!Como sempre oSkank à frente setratando deinteratividade!Inscrevi unsinstrumentos eficou bem legal. Abateria na pegadareggae e em ska?”

Comentário de Danibatera89 postadono YouTube sobre sua versão de DeRepente, do Skank

HTTP://WWW.YOUTUBE.COM/SYMPHONY

Assista ao concerto de 101 músicos de 33 países escolhidos noYouTube para integrar a Orquestra Sinfônica do YouTube 2011. Aapresentação aconteceu em março na Casa da Ópera de Sidney

40 milé o número de versões damúsica De Repente, do Skank,tocada por fãs e músicos noprojeto SkankPlay

Simoninha,Jairzinho e Lucasdo Fresno tambémemprestaram seusuingue ao somdo Skank

Faixas originais eremixagens on line

O baiano Lucas Santtana foi umdos primeiros a apostar em al-gumas das possibilidades da in-ternet. Em 2006 o artista trans-formou seu selo musical Digi-nóis records em um site-(www.diginois.com.br) emquedisponibilizatantoasfaixasoriginais de seus últimos discoscomo as remixagens feitas apartir dela, graças à adoção deuma licença Creative Com-mons. Para ele, o modelo co-laborativo é muito positivo,pois “cada vez que uma pessoaremixa uma música do disco écomo se ele tivesse vivo”.

Fernando Vivas / Ag. A TARDE / 18.12.2009

Lucas Santtana transformou seu selo Diginóis records em sistema

Comunidadesreúnem famosos

Comunidades de colaboraçãonão são somente lugares demúsicos iniciantes. Artistas fa-mosos como Gilberto Gil, LucasSanttana, Apollo9, DJ Dolores,Cibelle, Bnegão e Projeto Axialfazem parte do Overmixter edisponibilizamseutrabalho(in-tegral ou parcialmente). A co-munidade é concebida a partirda parceria entre o Overmundoe o ccMixter. A vantagem de teruma ferramenta como esta emportuguês não é apenas a fa-cilidade da língua, mas tam-bém ações direcionadas aosbrasileiros que podem surgir.

YouTube investe emorquestra sinfônica

O YouTube não se resume aolugar onde as pessoas postamvídeos e interagem autonoma-mente. O site também vem in-vestindo no colaborativismo etem a Orquestra Sinfônica doYouTube como um dos grandesexpoentes da premissa. A se-gunda edição do projeto, lan-çado em 2009, proporcionouuma experiência musical emque candidatos deveriam en-viar gravações de suas perfor-mances tocando instrumentos.Milhares de internautas vota-ram e escolheram a seleção dos101 músicos.

Concursos de remixespropostos por sites

Õs concursos de remixes pro-movem a diversão na maioriadas comunidades: membros seinscrevem e seguem o desafioproposto pelo site. Para isso,têm que aprimorar suas técni-cas e desenvolver novas habi-lidades. Os melhores são es-colhidos pelos próprios mem-bros da rede e em alguns existeaté premiação. O Overmixter,por exemplo, de tempos emtempos organiza concursos deremixes pelo País, com o ob-jetivo de estimular o uso co-laborativo e a troca de expe-riências na música brasileira.

des que permitem a produçãocolaborativa online de artistasamadores e profissionais.

Mais de uma dezena de fer-ramentas de colaboração – mui-tas delas gratuitas – possibili-tam tocar, ensaiar e gravar mú-sicas com pessoas conectadasno mundo inteiro. O processo ésimples: alguém grava parte damúsica com o próprio instru-

mento ligado em um compu-tadoreapublicanacomunidadepara que outros façam down-load e trabalhem em cima.

Outras opções são buscar osampler do instrumento que ne-cessita ou fazer uma jam sessionao vivo, mesmo estando a qui-lômetrosdedistânciadosoutrosmúsicos. Estas comunidades po-dem, ainda, ser ótimos locais

para pesquisa de trilha sonorapara projetos audiovisuais.

ProduçãoA maioria das ferramentas ofe-rece fóruns e chats para pro-mover a discussão dos detalhesdo projeto ou resenhas para queos participantes tenham seustrabalhos avaliados. “As pes-soas encontram outras dispos-

tas a ouvir o trabalho, recriar ouresenhar a partir dele”, afirmaRafael Dupim, cuja pesquisa demestrado no Programa de PósGraduação da Universidade Fe-deral Fluminense (UFF) é sobrea colaboração no Overmixter.Acredita que há muita interaçãonesses ambientes – “a genteproduz mais do que espera”.

Já o DJ Lucio K, que sempre

trabalhou em parceria com pro-dutores espalhados pelo mun-do, pensa que a colaboraçãoainda está engatinhando. “Nofuturo haverá muito mais sites,softwares e bancos de dadosvoltados para isso. Se você qui-ser encontrar um tocador de cí-tara indiano para participar doseu CD vai ser muito mais fácil erápido”, exemplifica o DJ, quefez o álbum SwingSambaLoun-ge inteiramente a partir dodownload de arquivos.

O guitarrista baiano JuninhoCosta não costuma usar essasferramentas, mas produz emparceria com músicos à distân-ciapormeiodatrocadearquivospor e-mail. Para o músico, ésempre melhor tocar junto, se-guindo um mesmo conceito edireção, porque, “alguns resul-tados podem ser diferentes doque se esperava. Na maioria dasvezes dá certo e termina sendo

prazeroso à distância”.Um de seus parceiros, Chico

Correa, usa mashups (uma com-posição criada pela mistura deduas ou mais canções pré-gra-vadas) para fazer DJ sets e rea-grupa elementos de diversasfontes sonoras: “De produçõespróprias a fragmentos de velhosdiscos, sons gravados na rua oucoletados na internet, o resul-tado é uma grande salada”.

Gustavo “Gêiser” Nobio, queem seu projeto de hip hop faz odownload de bases, acreditaque o músico tem que marcarpresença na internet, pois “elase tornou a maior gravadora domundo”.

Outros atoresPara Simone de Sá, pós-doutoraem Comunicação e coordena-dora do Laboratório de Pesquisaem Culturas Urbanas e Tecno-logias da UFF, práticas como es-

tas reconfiguram as formas deprodução, circulação e consumomusical com uma multiplicaçãode atores do processo. “Aos ato-res tradicionais estão se soman-do outros, de modo que o mú-sico amador agora pode pôr seutrabalho na rede e sair forta-lecido a partir de parcerias emtodos os âmbitos. Existe a pos-sibilidade de se fazer música emum novo modelo e repensar asfronteiras espaço-temporais”.

Neste sentido, Dupim com-pleta indicando a emergênciade novos mediadores, produto-res e músicos cada vez mais pro-fissionalizados e que não de-sejam seguir as lógicas da in-dústria fonográfica. “As grandesvantagens são a visibilidade e apossibilidade de se fazer umatrilha com licenças que na maio-ria das vezes permitem o uso eaté modificações no trabalhooriginal”, diz.

PROJETO ASSISTA ÀS MUITAS VERSÕESOFICIAIS DO CLIPE DE DE REPENTE DO SKANKE APROVEITE PARA FAZER A SUA TAMBÉM,TOCANDO OU CANTANDO www.skankplay.com

Beto Figueiroa / Divulgação

Marco Aurélio Martins / Ag. A TARDE

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