formaÇÃo de monitores/condutores e educaÇÃo …

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213 FORMAÇÃO DE MONITORES/CONDUTORES E EDUCAÇÃO AMBIENTAL – ESTRATÉGIAS DE DESENVOLVIMENTO DO TURISMO SUSTENTAVEL NAS UCS DO RS CUNHA, Aline Moraes 1 BAZOTTI, Leandro dos Santos 2 CANTO SILVA, Celson 3 RESUMO: O presente artigo surge da reflexão teórica dos autores, sobre a sistematização da expe- riência na realização dos cursos de formação de Condutores Ambientais Locais, oferta- dos a partir de 2012 pelo IFRS - Instituto Federal de Educação Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Sul, Campus Porto Alegre, através do PRONATEC – Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e Emprego. Para a correta compreensão da construção teórica e prática realizada, o artigo inicia pelo resgate histórico da Educação Ambiental, passando à abordagem da sua vinculação às Unidades de Conservação e Atividades Ecoturísticas, ao Turismo Sustentável e ao necessário esclarecimento sobre os profissio- nais que atuam em ambientes naturais, destacando a atuação do Monitor/Condutor Am- biental Local. Da mesma forma, traz o esclarecimento quanto à metodologia empregada nos cursos e os resultados alcançados. Com esta configuração busca compartilhar esta experiência exitosa, vivenciada no Rio Grande do Sul, de forma a colaborar na cons- trução de novas alternativas de estruturação do Turismo Sustentável, que promovam a educação ambiental e a conservação da natureza. PALAVRAS-CHAVE: Educação Ambiental; Condutores Ambientais; Turismo Susten- tável; Unidades de Conservação; 1 Mestre em Desenvolvimento Rural (PGDR/UFRGS); Especialista em Agricultura Orgânica (UCS); Bacharel em Turismo (PUCRS). Docente do curso de Bacharelado em Turismo do Centro Universitário Metodista do IPA; Professora/Tutora dos Cursos de Condutor Ambiental Local do Instituto Federal de Educação Ciências e Tecnologia do Rio Grande do Sul – IFRS/PRONATEC; Sócia Diretora da PLANTUR – Consultoria em Planejamento Turístico. E-mail: [email protected] 2 Mestre em Turismo e Desenvolvimento Regional (UCS); Especialista em Docência para Educação Profissional (SENAC), Bacharel em Turismo (IPA); Técnico em Guia de Turismo (SENAC); Professor/Tutor dos Cursos de Condutor Ambiental Local do Instituto Federal de Educação Ciências e Tecnologia do Rio Grande do Sul – IFRS/PRONATEC; Instrutor de Turismo de Aventura (SETUR RS); Educador ao ar livre (OBB); Sócio diretor da Atlas Alpinismo; Diretor de Meio Ambiente da Associação Porto Alegrense de Escalada Canionismo e Alta Montanha (APECAM); Consultor da MINAS Outdoor Sports. E-mail: [email protected] 3 Biólogo pela Universidade do Vale do Rio dos Sinos (Unisinos), Doutor em Biologia Animal pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS); Mestre em Ecologia (UFRGS). Professor dos cursos de Ciências Biológicas e Gestão Ambiental do Instituto Federal de Educação Ciências e Tecnologia do Rio Grande do Sul – IFRS; Coordenador dos Cursos de Condutor Ambiental Local do Instituto Federal de Educação Ciências e Tecnologia do Rio Grande do Sul – IFRS/PRONATEC. E-mail: [email protected]

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FORMAÇÃO DE MONITORES/CONDUTORES E EDUCAÇÃO AMBIENTAL – ESTRATÉGIAS DE

DESENVOLVIMENTO DO TURISMO SUSTENTAVEL NAS UCS DO RS

CUNHA, Aline Moraes1

BAZOTTI, Leandro dos Santos2

CANTO SILVA, Celson3

RESUMO: O presente artigo surge da reflexão teórica dos autores, sobre a sistematização da expe-riência na realização dos cursos de formação de Condutores Ambientais Locais, oferta-dos a partir de 2012 pelo IFRS - Instituto Federal de Educação Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Sul, Campus Porto Alegre, através do PRONATEC – Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e Emprego. Para a correta compreensão da construção teórica e prática realizada, o artigo inicia pelo resgate histórico da Educação Ambiental, passando à abordagem da sua vinculação às Unidades de Conservação e Atividades Ecoturísticas, ao Turismo Sustentável e ao necessário esclarecimento sobre os profissio-nais que atuam em ambientes naturais, destacando a atuação do Monitor/Condutor Am-biental Local. Da mesma forma, traz o esclarecimento quanto à metodologia empregada nos cursos e os resultados alcançados. Com esta configuração busca compartilhar esta experiência exitosa, vivenciada no Rio Grande do Sul, de forma a colaborar na cons-trução de novas alternativas de estruturação do Turismo Sustentável, que promovam a educação ambiental e a conservação da natureza. PALAVRAS-CHAVE: Educação Ambiental; Condutores Ambientais; Turismo Susten-tável; Unidades de Conservação;

1 Mestre em Desenvolvimento Rural (PGDR/UFRGS); Especialista em Agricultura Orgânica (UCS); Bacharel em Turismo (PUCRS). Docente do curso de Bacharelado em Turismo do Centro Universitário Metodista do IPA; Professora/Tutora dos Cursos de Condutor Ambiental Local do Instituto Federal de Educação Ciências e Tecnologia do Rio Grande do Sul – IFRS/PRONATEC; Sócia Diretora da PLANTUR – Consultoria em Planejamento Turístico. E-mail: [email protected] Mestre em Turismo e Desenvolvimento Regional (UCS); Especialista em Docência para Educação Profissional (SENAC), Bacharel em Turismo (IPA); Técnico em Guia de Turismo (SENAC); Professor/Tutor dos Cursos de Condutor Ambiental Local do Instituto Federal de Educação Ciências e Tecnologia do Rio Grande do Sul – IFRS/PRONATEC; Instrutor de Turismo de Aventura (SETUR RS); Educador ao ar livre (OBB); Sócio diretor da Atlas Alpinismo; Diretor de Meio Ambiente da Associação Porto Alegrense de Escalada Canionismo e Alta Montanha (APECAM); Consultor da MINAS Outdoor Sports. E-mail: [email protected] 3 Biólogo pela Universidade do Vale do Rio dos Sinos (Unisinos), Doutor em Biologia Animal pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS); Mestre em Ecologia (UFRGS). Professor dos cursos de Ciências Biológicas e Gestão Ambiental do Instituto Federal de Educação Ciências e Tecnologia do Rio Grande do Sul – IFRS; Coordenador dos Cursos de Condutor Ambiental Local do Instituto Federal de Educação Ciências e Tecnologia do Rio Grande do Sul – IFRS/PRONATEC. E-mail: [email protected]

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RESUMENEste artículo surge de la reflexión teórica de los autores, en la sistematización de la experiencia en el desempeño de los cursos de conductores locales de educación am-biental, que ofrece desde 2012 el Instituto Federal de Ciencias, Educacão e Tecnologia do Rio Grande do Sul - IFRS, Campus Porto Alegre através del Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e Emprego - PRONATEC. Para la correcta comprensión de la construcción teórica y práctica realizada, el artículo comienza una reseña histórica de la educación ambiental, através del enfoque de su relación con las áreas protegidas y actividades de ecoturismo, el turismo sostenible y la aclaración necesaria de los profe-sionales que trabajan en entornos naturales destacando el papel del monitor/ conductor ambiental local. Del mismo modo, aporta aclaraciones sobre la metodología utilizada en los cursos y logros. Con esta configuración busca compartir esta experiencia exito-sa, experimentada en Rio Grande do Sul, con el fin de colaborar en la construcción de nuevas alternativas para estructurar el Turismo Sostenible, para promover la educación ambiental y la conservación de la naturaleza. PALABRAS CLAVE: Educación Ambiental; Conductores ambientales; El turismo sostenible; Las áreas protegidas;

1 REFERENCIAL TEORICO

1.1 EDUCAÇÃO AMBIENTAL

Desde os primórdios diversas culturas utilizavam a natureza como elemento educativo e referencial. Entre as religiões orientais elementos e fenômenos da natureza eram mais comumente tratados e aceitos, chegando ao Cristianismo somente em 1209, na Itália através da figura de São Francisco de Assis, que passou a questionar a relação do homem com a natureza, ressaltando suas belezas e benefícios.

A partir do século XX na década de 1950, conforme SENAC (2005, p.25):

[...] movimentos civis do pós-guerra a favor da paz e da vida, ao lado da tradição protecionista que já havia despontado na Europa no século XIX, for-neceram as bases para o surgimento do preservacionismo, primeira manifes-tação do movimento ambiental.

Nas décadas seguintes, cientistas começam a fazer a relação entre as alterações provocadas nos Ecossistemas e a qualidade de vida do homem, constituindo a necessidade de equilíbrio entre ambas. Na década de 1970 os movimentos de descontentamento com os rumos tomados nas décadas anteriores, a preocupação com os futuros a serem tomados, levam à efervescência de movimentos sociais que começam a questionar os modos de vida

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e desenvolvimento adotados. Atendendo a estas demandas por soluções alternativas, a ONU – Organização das Nações Unidas, convoca em 1972, a “I Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente Humano”, em Estocolmo – Suécia, que gerou a “Declaração de Estocolmo”, considerada um avanço ambientalista na época. (CARVALHO, 2002)

Em 1975, a UNESCO – Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura e o PNUMA – Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente, promovem a primeira reunião mundial dedicada à Educação Ambiental, sendo o “I Encontro Internacional de Belgrado”. Este encontro reuniu profissionais da área incumbidos de criar os princípios básicos para um programa Internacional de Educação Ambiental, criando então a Carta de Belgrado. Esta por sua vez, apontou a Educação Ambiental como elemento vital para a solução da crise ambiental vigente, passando a defender uma nova “ética global”, questionando tanto as formas de exploração dos seres humanos quanto dos recursos naturais, vinculando problemas mundiais como a fome, o analfabetismo e a degradação do meio ambiente.

Em 1977, a UNESCO convoca o evento que ficou referenciado como o “marco teórico da Educação Ambiental”, a primeira Conferência Intergovernamental sobre Educação Ambiental, em Tbilisi, antiga URSS – União Soviética, ou “Conferência de Tbilisi”, como ficou conhecida.

A Conferência de Tbilisi gerou a “Declaração de Tbilisi”, contendo 41 recomendações que pela primeira vez apresentou a necessidade de abordar a Educação Ambiental dentro de um contexto integral que considera as conexões existentes entre os meios natural e social, ampliando também a visão sobre as fronteiras, visto que pela primeira vez se tomou consciência das interferências e repercussões internacionais que as atividades de diversos países poderiam ter. SENAC (2005).

Dentre estas recomendações, destaca-se a defesa da interdisciplinaridade, uma vez que defende a Educação Ambiental como uma dimensão que deveria ser dada ao conteúdo e à prática educacional, buscando a resolução dos problemas ambientais via enfoques interdisciplinares e uma ativa e responsável participação de cada indivíduo e da coletividade como um todo (SILVA; PESSOA, 2010).

Depois de Tbilisi, outras conferências ocorreram, porém todas destacando a importância de adoção das recomendações da Declaração de Tbilisi, o que indica o tamanho da sua importância naquele momento histórico.

No Brasil, ainda na década de 70 (setenta), acontecimentos isolados começam a chamar a atenção da sociedade para a questão ambiental, destacando nomes que hoje figuram no histórico do ambientalismo brasileiro, como Miguel Abellá, Fernando Gabeira, Augusto Ruschi e José Lutzemberger.

Neste cenário conforme Carvalho (2002), em 1971, a AGAPAN – Associação Gaúcha de Proteção ao Ambiente Natural surge como a “primeira organização combativa

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da década”, puxada por ambientalistas gaúchos, liderados por José Lutzemberger. O movimento ambientalista começa a ganhar força em todo o país na década de 80, com o surgimento de novos movimentos sociais e das ONGs – Organizações Não Governamentais – ambientalistas. Incumbindo o Poder Público de “promover a educação ambiental em todos os níveis de ensino”, chegando este movimento à Constituição Brasileira de 1988, que garantiu que:

Todos têm direito ao meio ambiente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao poder público e à coletividade o dever de defendê-lo e preserva-lo para as presentes e futuras gerações. (BRASIL, 1988)

Na década de 1990, no Rio de Janeiro, ocorreu a Conferência da ONU sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, que ficou conhecida como Rio 92 ou Eco 92. Paralelamente à conferência ocorreu a “I Jornada de Educação Ambiental” que gerou o Tratado de Educação Ambiental para Sociedades Sustentáveis. Também deste momento surgiram a Rede Nacional de Educação Ambiental e a Agenda 21, marcos importantes para a ampliação da consciência ecológica no Brasil. Em 1996, o MEC - Ministério da Educação e Cultura inclui a educação ambiental nos novos Parâmetros Curriculares (PNC) na Lei de Diretrizes e Bases (LDB).

Conforme Carvalho (2002, p.37):

Na perspectiva de uma ética ambiental, o respeito aos processos vitais e aos limites da capacidade de regeneração e suporte da natureza deveria ser bali-zador das decisões sociais e reorientador dos estilos de vida e hábitos coleti-vos e individuais. Aqui juntamente com uma ética, se delineiam também uma racionalidade ambiental e um sujeito ecológico que se afirmam contra uma ética dos benefícios imediatos e uma racionalidade instrumental utilitarista que rege o homo economicus e a acumulação nas sociedades capitalistas.

A partir desta busca por um “sujeito ecológico” capaz de trazer para o cotidiano das pessoas esta chamada “ética ambiental” é que se tem buscado cada vez mais atividades que promovam a desejada educação ambiental a partir de uma sensibilização para a sua importância levando estes agentes envolvidos que podem ser de públicos variados e em situações e locais dos mais diversos a uma real mudança de comportamento visando a preservação e conservação do meio ambiente. (CARVALHO, 2002)

No momento atual, vivemos uma demanda cada vez maior por contato com a natureza, e com o ganho de espaço na mídia sobre problemas ambientais e a importância da construção de uma “Educação Ambiental” para as próximas gerações que também já

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atue junto às atuais. Desta forma, ganham reconhecimento quanto à sua importância as Unidades de Conservação e ganham força as atividades ecoturísticas como alternativas de sustentabilidade, conforme veremos na próxima seção.

1.2 UNIDADES DE CONSERVAÇÃO E AS ATIVIDADES ECOTURÍSTICASDe acordo com o Sistema Nacional de Unidades de Conservação – SNUC (BRASIL,

2000), as Unidades de Conservação são:

[...] espaços territoriais e seus recursos ambientais, incluindo as águas jurisdi-cionais, com características naturais relevantes, legalmente instituídos pelo Poder Publico, com objetivos de conservação e limites definidos, sob regime especial de administração, ao qual se aplicam garantias adequadas de prote-ção. (BRASIL, 2000).

Machado (2005), ressalva que as Unidades de Conservação são áreas protegidas para manter espaços naturais de valor, evitando assim, a destruição de seus ecossistemas. Essas unidades buscam, entre outras coisas, meios que tornem propícia a interação do homem com o meio ambiente.

Conforme Costa (2002), as Unidades de Conservação que integram o SNUC, estão divididas em dois grupos com características próprias, sendo as Unidades de Proteção Integral e Unidades de Uso Sustentável. As Unidades de Proteção Integral têm o objetivo de preservar a natureza de forma a assegurar a manutenção dos ecossistemas, sendo permitido apenas o uso indireto de seus recursos naturais, exceto os casos previstos na lei. São elas: Estação Ecológica, Reserva Biológica, Parque Nacional, Monumento Natural, e Refúgio de Vida Silvestre (COSTA, 2002). Irving (2002) acrescenta que a visitação é permitida apenas nas três últimas tipologias, porém precisa estar sujeita às normas do Plano de Manejo4.

Já as Unidades de Conservação de Uso Sustentável têm o objetivo de conservação da natureza, compatibilizado com o uso sustentável de uma parcela dos seus recursos naturais. São elas: Área de Proteção Ambiental, Área de Relevante Interesse Ecológico, Floresta Nacional, Reserva Extrativista, Reserva de Fauna, Reserva de Desenvolvimento Sustentável, e Reserva Particular do Patrimônio Natural, categoria que permite visitação para recreação e lazer. (COSTA, 2002)

Segundo Pires (2002), a Unidade de Conservação que serviu de exemplo para o Brasil e para o mundo foi o Parque Nacional de Yellowstone, criado em 1872 nos Estados Unidos, pois este foi o primeiro espaço legalmente protegido destinado à utilização pública no mundo.

4 “O Plano de Manejo deve abranger a área da unidade de conservação, sua zona de amortecimento e os corredores ecológicos, incluin-do medidas com o fim de promover sua integração à vida econômica e social das comunidades vizinhas” (IRVING, 2002, p. 55).

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No Brasil, segundo Machado (2005), o primeiro parque a ser criado em 1937 no Rio de Janeiro, foi o Parque Nacional de Itatiaia, com objetivos de atender as finalidades de caráter científico e turístico. Em se tratando dos destinos de Ecoturismo5 no estado do Rio Grande do Sul, Machado (2005) afirma que as iniciativas concretas de projetos ecológicos para o Turismo tiveram início em 1991, com a criação da Comissão Estadual de Turismo Ecológico (CETE), que era integrada pela Companhia Rio-grandense de Turismo (CRTUR), IBAMA (RS), Departamento de Recursos Naturais Renováveis, Secretaria Estadual da Agricultura e a Fundação Zoobotânica do Rio Grande do Sul (FZB).

Considerando a relevância das Unidades de Conservação como importantes ferramentas de conservação e manutenção da integridade da biodiversidade e dos processos naturais, elas têm se firmado como espaço ideal para as práticas de Ecoturismo e suas diversificadas atividades.

Segundo o Ministério do Turismo (BRASIL, 2010), observa-se a possibilidade de desenvolvimento de uma grande variedade de atividades no âmbito do Ecoturismo, porém:

[...] as atividades ecoturísticas devem seguir premissas conservacionistas e ser estruturadas e ofertadas de acordo com normas e certificações de quali-dade e de segurança de padrões reconhecidos internacionalmente (BRASIL, 2010a, p. 26).

Ainda de acordo com o Ministério do Turismo (BRASIL, 2010a), as atividades ecoturísticas mais frequentes e permitidas em Unidades de Conservação são: observação de Fauna e Flora; observação de formações geológicas, que consiste geralmente em caminhada por área com características geológicas peculiares e que oferecem condições para discussão da origem dos ambientes, sua idade e outros fatores; mergulho livre no mar, rios, lagos ou cavernas; caminhadas de um ou mais dias; safáris fotográficos organizados para fotografar paisagens singulares ou animais; trilhas Interpretativas, com percursos autoguiados ou com acompanhamento de profissionais qualificados.

Como o Ecoturismo e suas atividades utilizam os recursos naturais e culturais do local, é essencial que ele se desenvolva com base nos princípios sustentáveis, estimulando o desenvolvimento em longo prazo, a preservação permanente da biodiversidade local e a justiça social para com a população. Com este entendimento, passamos a tratar da somatória do ecoturismo ao desenvolvimento sustentável.

Segundo Vallejo (2013), a visitação representaria uma atividade de grande potencial

5 O Ministério do Turismo (BRASIL, 2010a, p.17) conceitua oficialmente o Ecoturismo no Brasil como: “[...] um segmento da atividade turística que utiliza, de forma sustentável, o patrimônio natural e cultural, incentiva sua conservação e busca a formação de uma consciên-cia ambientalista por meio da interpretação do ambiente, promovendo o bem-estar das populações.”

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para incrementar os recursos econômicos em unidades de conservação. Tratando-se dos benefícios econômicos, por exemplo, Medeiros e Young (2011) concluíram que um incremento da visitação nas UCs federais e estaduais brasileiras poderia gerar o rendimento de cerca de R$ 2,2 bilhões.

1.3 TURISMO SUSTENTÁVELNa busca por um turismo que valorize a diversidade e proporcione experiências

individualizadas, através da diferenciação de atrativos, produtos e serviços, valorizando e preservando os patrimônios naturais e culturais dos destinos, se reconhece ser o turismo, um conjunto de relações humanas, que amparado por um sistema, ultrapassa as fronteiras econômicas, financeiras e industriais, situando-se numa dimensão que sintetiza o conhecimento científico e as aspirações dos indivíduos. (MOLINA, 2005)

Segundo Steil (2002), o turismo figura o campo das ciências sociais, através da sociologia e antropologia, sendo que a primeira constrói um olhar externo, através de seu papel na organização e no processo social como um todo, enquanto a segunda tenta avaliar a sua dinâmica interna considerando suas dimensões culturais e interculturais.

Conforme Steil (2002), a formação de uma área de estudos sobre o turismo nas ciências sociais é antecedida por Veblen, com o livro The theory of the leisure class lançado em 1889, considerado primeiro trabalho sociológico sobre o turismo, onde o autor trata da evolução do lazer no processo de constituição das classes sociais, estabelecendo uma associação entre turismo e lazer. O autor constata que o lazer, que caracterizou a elite aristocrática pré-capitalista, também passa a ser assumido pela nova elite, que também passa, em um mundo fundado sobre o valor absoluto do trabalho a ostentar como meio de distinção, a sua inatividade em forma de lazer.

Na França em 1950, segundo Steil, o sociólogo Friedmann, destacou o lazer como uma experiência de recomposição da personalidade do trabalhador, fragmentada pelo trabalho mecânico que se generalizou após a Segunda Guerra Mundial, através do modelo fordista de produção industrial. Esta análise, em contraposição à tese do lazer alienado e ostentatório, apresenta pela primeira vez o lazer compensatório, tendo as férias como “cano de escape para as tensões produzidas pela atividade produtiva.” (STEIL, 2002, p.54)

Seguindo na interpretação do turismo no campo da sociologia, Steil (2002), aponta três correntes, de relevante importância, sendo a primeira o “simulacro do real”, a segunda “os estudos da religião através da teoria dos rituais” e a terceira o “turismo e consumo”. Tomamos aqui apenas a terceira corrente, que passa a considerar a relação entre turismo e consumo.

Com o fato das atividades de lazer e turismo se tornarem objeto de status social, também Campbell (1987) e Urry (1995), passam a considerar o turismo como “objeto de consumo” da sociedade moderna.

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De acordo com Campbell (1987, apud STEIL, 2002, p.65), inseridos no espírito do capitalismo, “os indivíduos não procuram a satisfação nos produtos, mas através deles. A satisfação nasce da expectativa, da procura do prazer, que se situa na imaginação”. Assim os turistas não consomem os lugares, mas através destes buscam a “realização de um desejo que povoa a sua imaginação”.

Urry (1996) considera que é difícil entender a natureza do turismo contemporâneo, sem avaliar como suas atividades são construídas em nossa imaginação pela mídia. Desta forma o autor, considera o “velho turismo” e o “novo turismo”. O primeiro estaria ligado ao “consumo de massa fordista” que “reflete, sobretudo o interesse dos produtores” e o segundo estaria relacionado ao “consumo diferenciado pós-fordista”, que “caracteriza-se pela prevalência dos consumidores”. Desta forma o velho turismo trabalhava com base em “empacotamentos e padronizações”, enquanto o novo turismo passa a trabalhar de forma mais flexível buscando melhor atender a demanda do mercado consumidor.

Desta forma, Molina (2004), avalia que com a pós-modernidade, as descontinuidades do entorno, a mudança, a transformação e o estilo dinâmico, passaram a ser estruturais da cultura e da sociedade de forma geral, assim impactando de forma particular no turismo. Bem como, a instalação de sistemas mais personalizados tanto de produção como de consumo, reconhecendo a mobilidade e a mudança na busca pelo único.

No turismo, tratando de destinos e de suas ofertas, o autor adverte quanto à “busca de identidade - de uma ou várias identidades simultâneas – através das expectativas de demanda”. E que esta “é altamente mutante, dinâmica e volátil.” (MOLINA, 2004, p.27)

Molina (2004) aponta o surgimento de um novo turista a partir dos novos modelos de consumo e destaca uma mudança na atitude do turista, de passiva, que aceita o que lhe vendem, para uma atitude ativa, onde passa a selecionar as atividades de seu interesse. Este novo turista quer mais do que belas paisagens e descanso, quer experiências únicas, quer o contato com os saberes e fazeres típicos de cada lugar.

Cavaco (2011), abordando a construção de um novo turismo que seja de base local, trata também do novo turista e nos traz uma boa descrição quanto à suas expectativas. Para a autora, “o turista de hoje procura o novo, no sentido do diferente, do único, básicos na atractividade turística.” (CAVACO, 2011, p.147)

Porém Reis (2008, p.127), tratando do consumo turístico, destaca que “para viajar, é necessária uma renda excedente, devido aos custos que o turismo acarreta”. Afirmando assim que o turismo se efetiva a partir do momento em que o “turista em potencial” se dispõe a realizar o consumo de todos os bens e serviços envolvidos na viagem.

Assim, o autor define consumo turístico como a “aquisição de bens e serviços que atendem às necessidades do turista” (REIS, 2008, p.129). Tais necessidades podem surgir antes mesmo da viagem, assim “tudo o que for consumido antes, durante e depois

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da viagem, e que a ela estiver relacionado, é considerado consumo turístico”. Sendo bens e serviços diretamente relacionados ao turismo, transporte, hospedagem e atividades recreativas (consumo primário), ou bens e serviços consumidos tanto pelos visitantes quanto por qualquer outra pessoa, como protetores solares, pilhas e cartões telefônicos (consumo secundário) (DIAS, 2005)

Com estas reflexões Reis (2008), destaca também a importância econômica deste consumo para as comunidades receptoras, afirmando que “as trocas em dinheiro determinam, em parte, a dinâmica entre demanda e oferta turística. Isso porque, quanto mais turistas visitam uma cidade, maiores são as receitas das empresas turísticas” (REIS, 2008, p. 127).

Assim aponta que uma estratégia empregada pelos gestores do turismo é tentar elevar o nível de gastos dos turistas que frequentam uma localidade. Entendendo que quanto mais se consome produtos locais, mais lucrativa será a atividade turística e mais chances de que esta se torne economicamente viável e com menos impactos ambientais negativos. Ideia que surge dos resultados observados em destinos caracterizados pelo Turismo de Massa, em que os gastos diários dos turistas com produtos locais nas comunidades, são menores em comparação com outras modalidades de turismo. (REIS, 2008)

Da mesma forma o Ministério do Turismo, reconhece a geração e aumento das compras locais, o aumento da renda local e a melhoria dos padrões de conservação do ambiente natural como impactos econômicos positivos do turismo, visto que este estimula a economia local e com a consequente melhoria da qualidade de vida das comunidades receptoras, estas tendem a colaborar com a preservação e conservação dos espaços naturais, cada vez mais procurados pelos turistas. (BRASIL, 2007)

Assim, buscando um novo turismo, que considere as demandas e motivações trazidas pelo consumidor, ou pelo novo turista que apresenta e reflete uma mudança de comportamento e hábitos de consumo dos atores envolvidos na atividade turística como um todo, passa-se a planejar no Brasil estratégias para o desenvolvimento do setor de forma sustentável. Desta forma, o Ministério do Turismo (MTUR), destacou como elemento norteador de suas ações, que a relação entre o turismo e a sustentabilidade deveria seguir os princípios da sustentabilidade ambiental, econômica, sociocultural e político-institucional. (BRASIL, 2010b)

De tal modo, com o intuito de desenvolver produtos turísticos sustentáveis em harmonia com o meio ambiente e a cultura local, fazendo com que as comunidades deixem de ser apenas espectadoras do processo de estruturação do setor, foi adotado também no Brasil o conceito de turismo sustentável, elaborado pela Organização Mundial do Turismo (OMT), que define:

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Turismo sustentável é a atividade que satisfaz as necessidades dos turistas e as necessidades socioeconômicas das regiões receptoras, enquanto a integri-dade cultural, a integridade dos ambientes naturais, e a diversidade biológica são mantidas para o futuro. (BRASIL, 2010b, p.30)

Com esta reflexão quanto ao turismo, suas interfaces conceituais, e a delimitação de novos paradigmas na busca de um “novo turismo” que o seja sustentável, passamos a considerar na próxima seção estratégias de aproximação entre visitantes e visitados, que buscam proporcionar maior interação e valorização dos saberes e fazeres locais, ao mesmo tempo que gere renda, melhoria de auto estima, oportunidades de equidade e autonomia.

1.4 DO GUIA AO MONITOR/CONDUTOR AMBIENTALNo sentido de desenvolver o turismo sustentável em todas as suas vertentes,

colaborar na educação ambiental dos visitantes e na busca da efetivação da quebra de paradigmas excludentes, adotou-se a estratégia de agregar os saberes e fazeres dos moradores das áreas de entorno das Unidades de Conservação, gerando oportunidades de trabalho e renda, colaborando no afastamento dos autóctones da vulnerabilidade social em que geralmente se encontram.

De acordo com (BRASIL 2009), dentro das possibilidades de atuação para condução, ligadas a ambientes naturais, formalizadas institucionalmente, existem os profissionais, guia de turismo especializado em atrativos naturais; o condutor de turismo de aventura; e o condutor ambiental local. Dentre estes, na atividade turística, a atuação do guia de turismo foi a primeira a ser reconhecida, através da Lei nº. 8.623/936, que em seu Art. 5º constitui atribuições do Guia de Turismo, como:

a) acompanhar, orientar e transmitir informações a pessoas ou grupos em visitas, excursões urbanas, municipais, estaduais, interestaduais ou especializadas dentro do território nacional;

b) acompanhar ao exterior pessoas ou grupos organizados no Brasil;c) promover e orientar despachos e liberação de passageiros e respectivas

bagagens, em terminais de embarque e desembarque aéreos, marítimos, fluviais, rodoviários e ferroviários;

d) ter acesso a todos os veículos de transporte, durante o embarque ou desembarque, para orientar as pessoas ou grupos sob sua responsabilidade, observadas as normas específicas do respectivo terminal;

e) ter acesso gratuito a museus, galerias de arte, exposições, feiras, bibliotecas e pontos de interesse turístico, quando estiver conduzindo ou não pessoas ou

6 Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L8623.htm>. Acesso em 08 de maio de 2014.

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grupos, observadas as normas de cada estabelecimento, desde que devidamente credenciado como Guia de Turismo;

f) portar, privativamente, o crachá de Guia de Turismo emitido pela Embratur. (BRASIL,1993)

Ao Condutor de Turismo de Aventura, foram atribuídas responsabilidades através de normas técnicas criadas através de parceria firmada entre o Ministério do Turismo e a ABNT – Associação Brasileira de Normas Técnicas, através do PAS - Programa Aventura Segura, que deu direcionamento ao segmento no Brasil, sendo reconhecido internacionalmente por esta iniciativa. (ABETA, 2009).

De acordo com o SEBRAE – Serviço de Apoio à Micro e pequena Empresa (2014) “é apropriado que se estabeleçam requisitos focalizados nas competências mínimas consideradas essenciais e necessárias aos profissionais que atuam como condutores de Turismo de Aventura” Neste sentido o MTUR, também colaborou ao lançar o manual de boas práticas do condutor, que aponta as competências e responsabilidades necessárias à atuação profissional destes.

Apesar da NBR 15285 “Competência de Pessoal”, que diz respeito às competências mínimas para o condutor de turismo de aventura, não fazer parte do arcabouço legal brasileiro, assim como o condutor ambiental e o guia de turismo especializado em atrativos naturais, ou ainda conforme a NBR 15331 referente ao sistema de gestão da segurança, que se tornou obrigatória quando promulgado o decreto de 2010 que regulamenta a Lei Geral do turismo nº 11.771 de 2008, é oportuno os condutores ambientais se apropriarem dos procedimentos descritos neste manual, pois ele aborda relevantes competências pertinentes a todo o profissional que atua em meio a natureza pois no caso de algum sinistro, não havendo lei especifica, o aparato jurídico pode fazer valer as normas técnicas existentes em áreas correlatas, ou seja, é de sua responsabilidade estar informado sobre as recomendações presentes nas NBRs. Sousa (2004), a este respeito, classifica a participação e a conduta emocional do condutor como facilitador na decodificação das informações fornecidas pelo ambiente.

A formalização do condutor ambiental propriamente dita ocorreu através da Instrução Normativa nº 08 do ICMBIO (2008), que estabelece “normas e procedimentos para a prestação de serviços vinculados à visitação e ao turismo em Unidades de Conservação Federais por condutores de visitantes”, de forma a dar acesso às comunidades de entorno para que atuem nestas UCs, desde que atendam as demandas de qualificação estipuladas na normativa.

Recentemente, a Portaria 27/2014 do MTUR, ao estabelecer requisitos e critérios para o exercício da atividade de Guia de Turismo, reconhece o condutor de visitantes em unidades de conservação como:

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O profissional que recebe capacitação específica para atuar em determinada unidade, cadastrado no órgão gestor, e com a atribuição de conduzir visi-tantes em espaços naturais e/ou áreas legalmente protegidas, apresentando conhecimentos ecológicos vivenciais, específicos da localidade em que atua, estando permitido conduzir apenas nos limites desta área. (BRASIL, 2014)

Com base nesta trajetória e embasamento legal, se buscou a formação de Condutores Ambientais em diversos estados do Brasil e em especial no estado do Rio Grande do Sul, tendo como ponto de partida os cursos promovidos pelo Instituto Federal de Educação Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Sul - IFRS, Campus Porto Alegre, experiência e método relatados na próxima seção.

2 FORMAÇÃO DE MONITORES E CONDUTORES AMBIENTAIS PELO IFRS, CAMPUS PORTO ALEGRE – MÉTODO E PRÁTICA

No intuito de contribuir para o fortalecimento da educação ambiental no âmbito do Sistema Nacional de Unidades de Conservação e promover a geração de emprego e renda através da formação de profissionais capacitados para atuarem na condução de grupos de visitantes consequentemente fomentando o turismo sustentável, o Instituto Federal de Educação Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Sul - IFRS, Campus Porto Alegre, através do PRONATEC – Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e Emprego, ofertou a partir de 2012 os cursos de Monitor Ambiental e Condutor Ambiental Local, experiências aqui apresentadas.

No período de setembro de 2012 a junho de 2014 foram ofertadas três formações. As duas primeiras turmas, uma de monitores e outra de condutores ambientais, não direcionaram a atuação dos participantes a nenhuma unidade de conservação específica, enquanto a terceira turma foi direcionada especificamente a formar condutores para atuarem no Parque Estadual de Itapuã, unidade de conservação localizada na região metropolitana de Porto Alegre, RS.

Em conformidade com a Instrução Normativa nº08 do ICMBIO (2008), que estabelece “normas e procedimentos para a prestação de serviços vinculados à visitação e ao turismo em Unidades de Conservação Federais por condutores de visitantes”, os cursos de Monitor e Condutor Ambiental Local oferecidos pelo IFRS foram estruturados em 160 e 200 horas, respectivamente, divididos em 5 módulos: Orientação Profissional e Cidadania; Meio Ambiente e Cultura (Técnicas de Observação e Identificação da Fauna e Flora Regionais; Geografia do RS Aplicada ao Turismo; História Aplicada ao Turismo Regional); Turismo e Sustentabilidade; Trabalho do Condutor Ambiental Local e Segurança e Primeiros Socorros.

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Os cursos foram elaborados e ministrados por professores Especialistas, Mestres e Doutores, que optaram pelo uso de metodologias e participativas com aulas teóricas e práticas vivenciais em Unidades de Conservação, conforme exposto nas imagens 1,2,3, e 4.

Imagem 1 e 2: Aulas teórica e prática no Parque Estadual de Itapuã.

Fonte: Registro dos autores (2014)

Imagem 3 e 4: Visita à Praia da Vila de Itapuã e à Trilha da Visão no PEI.

Fonte: Registro dos autores (2014)

Desta forma, complementarmente às atividades em sala de aula, em que faziam uso de ferramentas e equipamentos multimídia e também de dinâmicas e atividades integrativas e cooperativas, também foram proporcionadas saídas de campo, para visitas em Unidades de Conservação – UCs, do estado do Rio Grande do Sul e de Santa Catarina. Neste estado vizinho, se realizou uma atividade de prática de condução da Trilha da Praia de Naufragados em Florianópolis (imagens 5 e 6), que foi também uma atividade de integração com a Associação de Condutores UATAPI, formada a partir de um curso de Condutores Ambientais ofertado pelo IFSC – Instituto Federal de Educação Ciência e Tecnologia de Santa Catarina, de forma a fomentar e colaborar na fundação de uma associação para os condutores de Porto Alegre.

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Imagens 5 e 6: aula prática na trilha da Praia de Naufragados – Florianópolis/SC.

Fonte: Registro dos autores (2013)

Como forma de apoio e fomento à organização solidária de um espaço de trabalho, para os condutores formados em Porto Alegre, a Incubadora Tecno-Social do IFRS – Campus Porto Alegre passou a apoiar a formação da Associação Porto Alegrense de Condutores Ambientais – APACA, o que se concretizou em 31 de março de 2014. A APACA se constituiu com uma entidade civil sem fins lucrativos, com a finalidade de organizar e divulgar a condução ambiental em áreas naturais localizadas no município de Porto Alegre e sua região metropolitana. Busca, com essa visitação, contribuir para a formação de uma consciência preservacionista, o desenvolvimento de uma sociedade sustentável e a consolidação do arranjo produtivo do ecoturismo na região.

3. REFLEXÕES E DESDOBRAMENTOS DESTA EXPERIÊNCIAComo principais resultados alcançados desta experiência inovadora no Rio Grande

do Sul, até o momento podemos destacar: a formação 60 Monitores/Condutores Ambientais para atuarem nas unidades de conservação de Porto Alegre e Região Metropolitana; a criação da APACA - Associação Porto Alegrense de Condutores Ambientais e a publicação da Instrução Normativa Nº 01 (03/01/2014) da SEMA/RS, que estabeleceu normas e procedimentos para a prestação de serviços nas Unidades de Conservação do Estado do Rio Grande do Sul por condutores ambientais autônomos.

A realização das duas primeiras turmas que não tinham a sua formação direcionada a atuação em nenhuma Unidade de Conservação especifica, proporcionou a agregação de diferentes públicos, porém não com menos entusiasmo, visto que se organizaram e fundaram a APACA, que atuou na construção e proposição da Normativa Estadual, que acabou por beneficiar todas Unidades de Conservação e comunidades de entorno do Rio Grande do Sul. Atualmente, a entidade atua na construção de normativa similar para as UCs do município de Porto Alegre.

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Na turma aberta especificamente para os moradores da comunidade de Itapuã, no município de Viamão, para formar condutores ambientais que atuem no Parque Estadual de Itapuã, a adesão comunitária tem apontado como benefícios iniciais a articulação e ordenamento dos serviços turísticos na comunidade, como a revitalização da ACLEI – Associação dos Condutores Locais de Ecoturismo de Itapuã, que apesar de formada em 2000, que estava desativada, e o surgimento de novas lideranças que possam fortalecer o turismo sustentável na região. Cabe destacar que, apesar dos esforços dispensados para a formação de condutores ambientais locais, até o momento não foi possibilitada, por parte dos órgãos gestores da unidade de conservação, a atuação comercial dos mesmos nos espaços do parque. Isso leva a considerar que muito ainda deve ser feito junto aos órgãos gestores dos sistemas de UCs no sentido de sensibilizá-los para a importância da inclusão social nessas áreas.

Com estes resultados, que consideramos iniciais, visto as primeiras articulações nos âmbitos municipais e regionais realizadas e os espaços já conquistados, apontamos como exitosa esta experiência de integrar a formação de Monitores/Condutores Ambientais com o fomento à Economia Solidária e o desenvolvimento da Educação Ambiental em áreas protegidas. Busca-se, com isso, desenvolver estratégias de fomento do turismo ecológico nas UCs do RS e contribuir com a construção de uma sociedade mais sustentável.

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