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FORMAÇÃO PROFISSIONAL E AS PERSPECTIVAS DO BI~L10TECARIO RESUMO Identifica fatores condicionantes da evolução politico-cultural e econômica brasileira, analisando a atuação do biblio- tecário no mercado de trabalho. Reflete sobre as tendências atuais e futuras na área da ciência e tecnologia para um prog- nóstico sobre as perspectivas do bibliote- cário, da Bibtíoteconomia e da Ciência da Informação. Cursos de graduação devem preparar bibliotecários generalistas, deixando as especializações para depois. A melhora da formação profissional não depende apenas do novo currtculo, mas de conteúdo programdtico, estraté- gia pedagógica, mudanças de atitudes, trabalhos práticos e grupamentos. Principais instrumentos para o aluno são-reflexão, critica, criação, antecipação.' _____________ ... c_L '~i,,, B",i"i" d, Bib'io,",o"omi., Dowm,",,,.o lBI1/21 3343, i'", 19B5. 33 ~ Cléa Dubeux Pinto Pimentel" Em primeiro lugar desejo agradecer aos organizadores desta Jornada pelo enorme privilégio de estar hoje aqui com vocês, falando sobre formação pro- fissional que é um dos pontos-chave de toda a problemática da Biblioteco- nomia brasileira. Desejo parabenizar a todos por essa iniciativa, pelo esforço desse trabalho, e vamos esperar que os resu Itados dos debates que aqui serão realizados possam contribuir para uma melhor adequação dos currícuios à realidade da nossa sociedade e às expec- tativas do mercado de trabalho. Falar sobre formação profissional e perspectivas do bibliotecário no Brasil, leva-nos, necessariamente, numa primeira * Professora adjunta da Universidade Federal de Pernambuco. Presidente da ABEBD. Convidada especial para abertura da Jornada.

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FORMAÇÃO PROFISSIONAL E AS PERSPECTIVAS DOBI~L10TECARIO

RESUMO

Identifica fatores condicionantes daevolução politico-cultural e econômicabrasileira, analisando a atuação do biblio-tecário no mercado de trabalho. Refletesobre as tendências atuais e futuras naárea da ciência e tecnologia para um prog-nóstico sobre as perspectivas do bibliote-cário, da Bibtíoteconomia e da Ciênciada Informação.

Cursos de graduação devem prepararbibliotecários generalistas, deixando asespecializações para depois.

A melhora da formação profissionalnão depende apenas do novo currtculo,mas de conteúdo programdtico, estraté-gia pedagógica, mudanças de atitudes,trabalhos práticos e grupamentos.

Principais instrumentos para o alunosão-reflexão, critica, criação, antecipação.'_____________...c_L '~i,,, B",i"i" d, Bib'io,",o"omi. , Dowm,",,,.o lBI1/213343, i'", 19B5. 33 ~

Cléa Dubeux Pinto Pimentel"

Em primeiro lugar desejo agradeceraos organizadores desta Jornada peloenorme privilégio de estar hoje aquicom vocês, falando sobre formação pro-fissional que é um dos pontos-chavede toda a problemática da Biblioteco-nomia brasileira. Desejo parabenizar atodos por essa iniciativa, pelo esforçodesse trabalho, e vamos esperar que osresu Itados dos debates que aqui serãorealizados possam contribuir para umamelhor adequação dos currícuios àrealidade da nossa sociedade e às expec-tativas do mercado de trabalho.

Falar sobre formação profissional eperspectivas do bibliotecário no Brasil,leva-nos, necessariamente, numa primeira

* Professora adjunta da Universidade Federalde Pernambuco. Presidente da ABEBD.Convidada especial para abertura da Jornada.

Cléa Dubeux Pinto Pimentel

Palavra chave - Bibliotecário: formaçãoTendéncais atuais. Pers-pectivas futuras.

SUMMARY

It identifies conditioning factors of theesducational policial and economical Bra-zilian evolution, analy sing the perfor-mance of the librarian in the labourmarket. Is studies the presnet and duturetendencies .in the areas of science andtechnology for a prognosos on the perspec-tives of the L ibrarian , the Librarianshipand of the Science of Information.

The graduation courses should preparegeneralized librarians, leaving soecializa-tions afterwards.

The improvemente of the professionaldevelopment does not depend only onthe new curriculum, but on the progra-mable content, the teching strategy , thechange of attitudes, practical worksand groupworks.

The main tools for the student are:reflection, criticism, creation, anticipation:

Keyword - Librarian: educationPresent tendencies. Futureperspectives

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abordagem do assunto; au seja, identi-ficar os fatores condicionantes de nossaprópria evolução pai ítico-cultural e eco-nômica. Leva-nos, também, a analisar aatuação do bibliotecário, ontem e hoje,no mercado de trabalho, para colhermosexperiências e refletirmos dernoradarnen-te sobre as caminhos do futuro. Leva-nosainda a analisar as tendências atuaise futuras na área da ciência e tecnologiapara termos um prognóstico mais realistadas perpectivas da Biblioteconomia, Do-cumentação e Ciência da Informação.

A descoberta e a realização plena dobibliotecário brasileiro somente se farána medida em que superarmos os gravesproblemas de atuação. profissonal. Esta éa grande tarefa que temos diante de nós.Este é o desafio maior aos profissionais eprofessores conscientes.

A interdependência entre a sociedadee a universidade tem sido continuamen-te fraudada em sua relação de SE R,ao mesmo tempo, causa e efeito detransformações sócio-econômicas, exibin-do um desencontro lamentável entreformas pol íticas e formas culturais.

Estamos a quinhentos anos do desco-brimento do Brasil e ainda direcionadospara o "além-mar", absorvendo no con-sumo imediato muita coisa que nosvem de fora; inclusive os padrões de com-portamento, as realizações e os atestadosde proficiência. As nossas bibliotecas,criadas na inspiração de modelos estran-geiros, deixaram-nos como herança o gos-to pelo que vem de fora, pelo formal,sem enfrentar e apurar a essência.

Buscando apenas o formal, sacrifican-

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FORMAÇÃO PROFISSIONAL E AS PERSPECTIVAS DO BIBLIOTECÁRIO

do O autêntico, as bibliotecas brasileirastêm, dessa forma, fachadas magestosase interiores acanhados. A missão da bi-blioteca continua esterilizada em compar-timentos estanques, assépticos, rotuladose inoperantes. A formação do bibliotecá-rio, como de qualquer outro profissional,reflete esse permanente emparedamento,alheia à realidade local, pouco se comuni-cando entre si e, nacionalmente, apenasvia DDD.

A formação do bibliotecário noBrasil, desde o Curso da Biblioteca Nacio-nal até os atuais, descreve um movimen-to pendular de amplitude variável, marca-do por uma realidade social e tecnoló-gica. Produto de uma destinação práti-ca, atendida por uma possibilidadetécnica, ao sopro de uma expressão for-mal puramente subjetiva, não pode aBiblioteconomia fugir à sua missão detestemunha da realidade. E os produtosestão aí, materializados nas bibliotecas,centros de documentação e de informa-ções. Essas bibliotecas e serviços retra-tam a sociedade a que pertencem.

Ampliando seu campo, o bibliotecáriodeve hoje afinar a sua competência comos apelos à tecnização, faiendo prevale-cer, porém, a visão humanística, únicacapaz de conferir unicidade ao seutrabalho. Também na estruturação doensino cumpre preservar a unidadepara que a formação do bibliotecáriose faça na visão global do homem.

Convivendo ora com os cursos de In-formática, ora com os cursos de Cornuni-cação Social, de Arquivologia, de Museu-logia, de Ciências Sociais e Aplicadas, a

Biblioteconomia terminou sempre parproclamar a sua autonomia no campo doensina. E a que poderia ter sido a suaauto-aflrmação no contrnuo evoluir,acompanhando. as exigêncais de~poca,terminou por significar a seu isolamento.

. Os Departamentos, Cursas e Escalas deBibliateconamia estão. perdendo. contatocam a realidade, mas querem participar

. da história estando ausente da mundo,Sem uma visão crítica da história e damomento palítica em que está inserida,sem pesquisa científica, sem proposta,não. tem condições de participar da vidanacional. Quer se apresentar camaunida e coordenada, mas, carece de visão.glabal. Sua mensagem não. canseguecomover as dirigentes nem a povo. Sime-tricamente disposta na Universidade, nãoparticipa da saber universal, da mesmamodo em que a própria Universidade dei-xa de participar da vida da comunidade.

O bibliotecário se fecha na sua biblio-teca, trabalha quase em segredo, improvi-sa-se num "sabe-tudo". Solitária, percebeque os seus dons se transformaram emobstáculos para novas percepções. O seuconhecimento se cristalizou como únicaverdade, fez dogmas das conclusões par-ciais e sua verdade impede a campreensãodo processo vital de mudança.

A conversão do bibliotecário em técni-co dinâmico, com espírito renovador ecriativo, é certamente um processo longoque precisa começar na escala. Todarevisão é sempre penosa, por conterPOssibilidades de conflitos, A coragem derecomeçar a .cada dia é virtude desconhe-cida por muitos. São poucos os que se dis-

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BIBLIOTECA CENTRALUniversidade Federal 110parunã

Cléa Dubeux Pinto Pirnentel

põem a parar por força das exigéncias domercado, ao se designar bibliotecárioescolar, bibliotecário universitário,. etc ..Mas, a Biblioteconomia se relaciona como todo, indivisível, solução e não supres-são de problemas.

A formação do bibliotecário se con-funde, pois, com a própria imagem queo profisisonal apresenta na sua atuaçãona comunidade. E tal atuação não podese reduzir a um exerclcio meramentetécnico ou cultural de uma profissão.É muito mais a participação do homemno processo político de seu pais. Mesmoquando a Escola se omite em pensar osignificado da função social da biblioteca,preocupando-se mais em formar especia-Ilstas, o bibliotecário como profissional,não somente participa do todo, mas rei-vindica que todos participem.

O sistema capaz de levar à formaçãodo bibliotecário consciente na sua par-ticipação criadora deve estar logicamenteacima de normas e padrões rlgidos defuncionamento. Apoia-se muito mais emautêntica vivência, alimentando a criati-vidade sempre desperta, associadas ao co-nhecimento científico atualizado.

Dentro dessas expectativas, a Asso-ciação Brasileira do Ensino de Bibliote-conomia e Documentação vem condu-zindo o processo de reformulação do cur-rículo do curso de Biblioteconomia,salientando a urgência de adequar a for-mação dos futuros profissionais às neces-sidades de um mercado em fase de rápi-da e profunda transformação. Tem sidoenfatizada a importância de ser feitoum estudo mais profundo para saber o

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que o mercado precisa, incorporando-seao ensino de Blblloteconomia as novastendéncais da Ciência da Informação,imprimindo assim. uma nova filosofiaà profissão.

A realização dos Seminários de Otimi-zação do Ensino de Biblioteconomia.realizados no final de 1982 em 80% dasEscolas de Biblioteconomia existentes nopais, como primeiro passo para implan-tação do novo currrculo mínimo, apresen-taram excelentes resultados, exatamentepela oportunidade de reflexão que o mes-mo provocou no pessoal docente. Emmuitos casos, tais reflexões permitirão,a elaboração de diagnósticos realistassobre a situação atual do ensino deBiblioteconomia e conseqüentes alternati-vas de soluções para os problemas iden-tificados. Muitas escolas concluiram que oensino vem apresentando um crescenteempobrecimento. As características demá qualidade do ensino têm, de modogeral, relação com:

a) o ensino ser concebido em funçãodas características e necessidades deum hipotético aluno trpico:b) a predomináncia da valorização docomportamento do docente e não docomportamento dó aluno;c) a utilização de estratégias superadas,inadequadas e ineficazes;d) o processo de avaliação de aprendi-zagem centrado em memorização denormas e padronização de rotinas;e) a carência ou subutilização demateriais instrucionais que permitamum aprendizado agradável, ativo eeficiente.

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FORMAÇÃO PROFISSIONAL E AS PERSPECTIVAS DO BIBLIOTECÁRIO

Estas posições vêm. conduzindo a for-mulação de princípios e ideais para o ensi-no de Biblioteconomia, fundamentadosem uma prospecção do futuro da socie-dade, a qual assume a forma de uma con-junto de hipóteses expl ícitas a respeitode suas tendências pol (ticas, econômi-cas, sociais, cienHficas, tecnológicas, cul-turais e comportamentais.

O conjunto de hipóteses destina-sea possibilitar a antecipação de problemase a inferência de oportunidades - valedizer, de desafios - para o novo biblio-tecário que. deverá surgir a partir davigência do novo currículo mlnimo.

O pressuposto básico adotado quantoà sociedade brasi leira do futuro é o deque, a médio prazo, o país superará oatual ciclo de dificuldades econômicase de transição pol ítica. A sociedadecivil assumirá níveis crescentes de mobili-zação e organização,. ampliando e multi-plicando as demandas de grupos e classessociais no sentido de participar da resolu-ção dos problemas do seu interesse.

No setor da ciência e da tecnologia,o pressuposto. básico é de que o paIscontinuará assimilando os conhecimentoscientíficos e os avanços tecnológicos con-temporâneos. Algumas premissas sãoincontestáveis:

a) a produção mundial de conheci-mento científico e de tecnologiacontinuará crescendo numa progressãogeométrica de razão positiva;b) o Brasil continuará direcionando-separa o "além-mar", importando e assi-milando maciçamente as tecnologiasmais modernas e sofisticadas - mesmo

no caso em que o estágio de desenvol-vimento econõrnlco não os requeiraessencialmente - e desenvolverá, para-lelamente, uma certa capacidade pró-pria de produção científica e tecnoló-gica;c) as inovações tecnológicas no tocanteaos processadores de informações e osmeios de comunicação serão rapida-mente assimiladas pelas empresas demaior porte, pelo setor público e pelas.classes sociais de maior renda;d) o barateamento dos processadoresde informação continuará ocorrendo -em decorrência da miniaturização doscomponentes e da elevação das escalasde produção - de modo que estes pro-dutos serão cada vez mais acessíveisà população;

. e) os computadores, dos mais variadostipos, desde máquinas de calcularmais simples até o tradutores de Iín-guas estrangei ras e os computadoresdomésticos - se infiltrarão de talmodo em cada atividade humana queo seu auxrlio não poderá mais serdispensado;f) mudanças igualmente substanciaisdeverão verificar-se no terreno dastelecomunicações, seja no tocante âcomunicação à distância ou a sistemasde informações especializadas e acessí-veisa qualquer terminal doméstico,seja no que se refere a equipamento,destacando-se o vrdeo-cassete e ovrdeo-texto, como os próximos produ-tos de consumo de massa neste domínio;g) no' campo do conhecimento cientí-

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Cléa Dubeux Pinto Pimentel

fico e tecnol6gico admite-se queteorias, modelos e instrumentos surgi-orão e serão reformulados e aperfei-çoados com rapidez crescente, de

. modo tal que os conhecimentosadquridos pelas pessoas, em dadomomento, tenderão à obsolescênciaem prazos cada vez mais curtos.A hipótese central, com relação às

tendêncais culturais e comportamentais,é a de que a sociedade brasileira assumi-rá traços culturais mais homogêneos.Neste terreno, considera-se que:

- a disseminação da televisão serádefinitiva e alcançará praticamente toda apopulação do pais, independentementede sua tocalizacão:

- a difusão de informações continuaráacelerada e as mensagens dos meios decomunciação'de massa assumirão impor-tância crescente na formação de atitu-des e comportamentos humanos;

- é provavél que ocorra uma homoge-neização de valores e traços culturais atra-vés da imposição dos padrões e costumesdas cidades geradoras de mensagens (pro-gramações nacionais de TV);

_ paralelamente, a população estarámais bem informada e capacitada a par-ticipar a respeito de fatos e debates derepercussão nacional e mundial;

- a educação será cada vez mais valo-rizada como um requisito indispensávelà obtenção de emprego e como um ins-trumento de ascenção social.

Todas estas hipóteses são pertinentes.Algumas, inclusive, já estão ocorrendo.Hoje já estamos assistindo a uma granderevolução na reprografia e a tendência

será continuar evoluindo na procura demelhor qualidade e de menor custo,impostos pela concorrência entre fabri-cantes. A mais sensacional novidade naárea da reprografia é a máquina que copiaem papel projetada na tela da TV ou noterminal do computador. Brevementeteremos no Brasi I as fotocopiadoras acores e o "raio laser". As novidades nafotografia também são bastantes signifi-cativas. A Sony anuncia para 1985 acâmera sem filme, chamada MAVICA,que registra a imagem sobre um suportemagnético o qual permite, imediatamente,sem laboratório nem manipulação. proje-tar a imagem numa tela de televisão co-mum mediante um "leitor" especial queserá lançado ao mesmo tempo.1

Registra-se hoje, nos Estados Unidos,o fenômeno de que os computadoresestão ampliando o mercado de executi-vos a mvel de gerente em diversas organi-zações. Até setembro deste ano a DIGI-TAL IMAGENS CORPORATION estaráinaugurando em McLean, Virginia, umaindústria capaz de fabricar entre 1 milhãoe 3 milhões de COMPACT DISC, deleitura a raio laser no primeiro ano deatividade. Essa indústria será a primeiraa produzir nos Estados Unidos discos parao processo que tornou obsoleto o sis-tema de discos analógicos. Atualmente, osuprimento desses discos está sendo fei-to por uma indústria na Alemanha,pertencente à POLYGRAM, e duas noJapão controladas pela SONY e pelaDENON2

Ninguem desconhece o sucesso que osvldeo-jogos DACTARI estão conseguindo

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FORMAÇÃO PROFISSIONAL E AS PERSPECTIVAS DO BIBLIOTECÁRIO

entre crianças e adultos,nos últimos . cidade - e fica sentado esperando pelotempos, assim comoos mini-jogoseletrôni- toque do reletone"." Essa é uma .dascos japoneses. Os vrdeo-joqos DACTARI, idéias. por trás de um sofisticado sistemacom mais de 150 programas de jogos de de vrdeo-texto que a Matra, companhiaaventuras, esportes educacionais, de estra- francesa, fabricante de armas e produtostégia e de sorte, começam a influir nos . eletrônicos, está apresentando no Brasil.seus admiradores para o uso da micro- O serviço de video-texto foi oficialmenteinformática. inaugurado em São Paulo, em colabora-

Os últimos lançamentos em micro- ção com a TELESP. em abril de 1983,computadores, como o TK82-C e TK85, com mais de mil assinantes. Trata-se deo UNITRON AP 11, já estão tendo ampla um sistema-piloto ligando terminais emaceitação e emprego no Brasil, sendo os residências e companhias a base de dadoscomputadores pessoais largamente vendi- que fornecem informações sobre tudo,dos. Além desses, temos ainda o Rádio desde taxas de câmbio e preços de açosShack TRS 80 modelo IV, que é um até os programas de teatro e cardápiosmicrocomputador a cores, com amplos de restaurantes.recursos e grande capacidade gráfica. Todas essas tendências no tratamento

Também, hoje, na Alemanha, o rnerca- e uso da informação são muito prornisso-do de vldeo-cassetes parece uma feira raso Segundo Robredo, "a Bibliotecono-livre depois do meio-dia, com tomates e mia, a Documentação e a Ciência dabananas estraga das sendo arrematados a Informação estão sendo repensadas nopreços simbólicos. Um aparelho sofisti- mundo inteiro, uma vez que o livro e ocado, importado do Japão, pode ser documento impresso já não são maiscomprado atualmente por 330 dólares, os instrumentos privilegiados para trans-e uma grande firma distribuidora de café rnitir os conhecimentos ou conservar avendeu um lote de 100 mil vrdeo-cassetes memória. As inovações tecnológicas obri-em suas lanchonetes a preços incrivel- gam a mudar o conceito de documentomente baixos? que aparece como sinônimo de suporte

No dia 12 de maio de 1983 a Gazeta flsico de dados, de informações noMercantil, de São Paulo, publicou uma re- sentido o mais amplo possrvel.':"portagem sobre o vrdeo-texto onde lia-se: Nesse contexto as bibliotecas também"O senhor X, 45 anos, com nove anos de estarão mudando. Poderlamos mesmoexperiência na gerência de uma companhia. perguntar: será que existirão dentro demultinacional em São Paulo, está procu- alguns anos bibliotecas como as querando emprego. Ele datilografa seu "curri- temos hoje em dia? Elas não terão novasculum vitae" e pretensões salariais num estruturas, novas apresentações, novoteclado eletrônico, inserindo seu anún- "lav-out", nova dinâmica?cio de "procura-se.ernpreqo" nas telas Todos estes desafios exigirão que a for-de TV espalhadas por empresas de toda a mação do bibliotecário seja totalmenteRevistaBresiteirade Biblioteconomia e Documentação 18(1/2'):3343, jun. 1985 . 39

Cléa Dubeux Pinto Pirnentel

reformulada e. adequada à demanda des-se novo currículo . Os profissionais que se-rão formados pelo novo currículo do cur-so de Biblioteconomia terão que enfrentaressa nova realidade e isso não é apenasuma previsão futurista. ~ quase que irne-diato. Tais profissinais deverão começara atuar no mercado de trabalho em finsdesta década e em maior plenitude apartir de 1990.

Vislumbram-se para o bibliotecáriograndes oportunidades de atuação profis-sional. Ainda segundo Robredo, "comtodo esse avanço de tecnologia e deprocessamento integrado de informação,firmam-se dois processos fundamentais,dos quais dependem o sucesso ou ofracasso de todas as operações de armaze-nagem, difusão e recuperação das infor-mações que são:

- a representação condensada dascaracterísticas dos documentos;

- a representação condensada doconteúdo dos documentos.

Esses processos se assemelham aotrabalho que várias gerações de bibliotecá-rios vêm desenvolvendo através de cata-logação ou descrição bibliográfica e elas-sificação/indexação, com a análise temati-ca da informação. Assim, os profissionaisque melhor e mais rapidamente podemcontribuir, após treinados nas novastecnologias, são os bibliotecários. Enão poderã deixar de acontecer que ademanda de profissionais, capazes deprocessar os documentos os mais diversospara seu posterior tratamento informati-zado, deverá aumentar dia-a-dia paratrabalhar nas empresas as mais diversas.:"

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A necessidade de incorporar as novastecnologias ao cabedal de conhecimentodos bibliotecários deverá ser intensifica-da nos próximos anos, visando a criaçãode sistemas locais e regionais em condiçõesde funcionamento lógico e próprio aonível dos usuários. Dessa posição, semdúvida, surgirão novos modelos de biblio-tecas públicas, escolares, universitárias,especializadas.

As idéias estão no ar. Estão surgindono mundo inteiro novos conceitos debiblioteca. O Centro Georges Pompidou,em Paris, é um exemplo desse novoconceito de biblioteca pública. Umabiblioteca que seja vista como pólo deinformação, cultura e arte. Aqui no Bra-sil, felizmente, a idéia já está cheqando."

São Paulo já tem a Biblioteca Geraldo Centro Cultural, recém-inaugurada,que é um modelo novo de bibliotecapública. A Revista ISTO É, no seu númerode 16 de março de 1983, fez uma repor-tagem sobre o assunto e enfatiza que nanova biblioteca do Centro Culturalde São Paulo "não se deve sentar e espe-rar para que um funcionário localize edeposite sobre a mesa o livro solicitado:usuário mesmo descobre onde está seuvolume predileto após manusear umteclado-fichário à sua disposição, logo àentrada. O acervo é composto de mais deum milhão de volumes, incluindo-selivros, revistas, jornais, vídeo-cassetes,discos, slides, etc .. .',6

As mudanças que estão acontecendona produção do saber e no tratamento dainformação já começaram a influir nasdecisões dos responsáveis pela formação

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FORMAÇÃO PROFISSIONAL E AS PERSPECTIVAS DO BIBLIOTECÁRIO

profissional do bibliotecário no Brasil, naelaboração dos novos currrculos plenosdos cursos de Biblioteconomia. A rnelho-ria da formação profissional, porém, nãodepende apenas de um novo curr ículominimo, mas de uma série de fatores co-mo conteúdo programáticos, metodologiasde ensino, estratégias pedagógicas, mu-danças de atitudes, trabalhos- práticos,equipamentos, etc ..

Não vale mudar o curr iculo se nãomudarem também as estratégias deensino e especialmente o comportamentodo professor na sala de aula. Mas estasmudanças não podem ser isoladas e deve-rão ser assumidas pela Escola, numa deci-são pol ítica. O atual sistema de ensino éinadequado ao momento presente e aofuturo contexto sócio-econôrnico-pol (ti-

co-tecnolóqico. Não adianta "remendá-Io".O momento é propício ao in ício dasinovações necessárias para plantar o sis-tema do futuro. Quem não tiver medo deinovar terá maiores possibilidades de êxi-to. As mudanças de comportamentopedagógico não dependem muito de di-nheiro, dependem muito mais de criativi-dade e ousadia para correr riscos. O preçodo medo de errar é o imobilismo acurto prazo, o anacronismo a médio pra-zo e a morte a longo prazo.

Os educadores têm afi rmado que acaracteristica da má qualidade do ensinoé a crescente dificuldade do aluno empensar, criticar, criar e, em última instân-cia, decidir responsavelmente, e tornar-seUm profissional incorporado criativamenteà Sociedade. Esta tendência está correia-cionada com as atuais práticas educacio-

nais e, em parte, decorre delas, quando aEscola apoiá a aula expositiva em lugarda realização vivencial e da memorizaçãode informações ao invés .de racionalizaçãodo conhecimento.

Os alunos, ao sai rem da Escola paratrabalhar, encontram dificuldades emrelação ao emprego. Primeiro, ressalte-seporque o número de empregos é muitoreduzido e segundo porque não sabem,muitas vezes, sequer decidir pela comprade um equipamento e escolher estraté-gias de ação para dinamização de umserviço, requisitos necessários para o exer-cício profissional do bibliotecário.

Infelizmente, constatamos que umaparcela significativa dos alunos demonstrauma baixa capacidade de extrair de umtexto a idéia principal e emitir uma opi-nião crítica através de um julgamentode valor. Também não é comum encon-trar alunos capazes de narrar fatos de suaspróprias experiências, num texto de pelomenos 20 linhas, sem cometer errosprimários de ortografia, concordância eencadeamento lógico. Conclui-se que oaluno não foi e nem está sendo educadodevidamente, porque não aprendeu comoaprender e que não aprendeu como seajustar e mudar.

Os professores, por outro lado, empre-gam métodos e técnicas de ensino total-mente superados. Utilizam essencialmentea palavra com baix issirna participação doaluno. Devido às condições existentes,os professores não são levados a mudara forma, de ensinar. Com baixos salários,sem motivações, com sobrecargas detrabalho, os professores cumprem a carga

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horária sem um maior envolvimento comos alunos,

Mesmo considerando toda essa conjun-tura, a formação profissional do bibliote-cário deverá tomar novos rumos a partirde 1984. Há uma preocupação por parteda ABEBD em estabelecer princrpios ediretrizes que possam nortear a prepara-ção dos novos currrculos plenos dos cur-sos de Biblioteconomia. Neste sentido,a ABEBD apresentou às. Escolas umconjunto de idéias para o novo curso deBiblioteconomia, as quais reunem asopções e proposições de nrvel hierárquicomais elevado do processo de planeja-mento curricular. As formulações desseruvel assume, portanto, um caráter emi-nentemente polrtico e tem por finalidadeindicar o que pode ser feito. As opçõesapresentadas possuem uma conotação deideais, algo que mesmo não podendoser atingido dentro de um horizonte defi-nido de tempo, deve ser perseguido.

Perseguir ideais que dentro das condi-ções atuais e potenciais ou previs rveis, po-dem ser inatinqiveis é uma peculiaridadedo homem e de alguns sistemas sociaisdos quais participa. O importante, portan-to, não está tanto em atingir um ideal,mas em aproximar-se continuamente dele,o que caracteriza, então, a realização deum progresso.

O novo currrculo do Curso de Biblio-teconomia deverá influenciar os professo-res na concepção de uma "escola nova"ou da "escola ideal" para o Brasil. Essa"escola" deverá estar comprometidacom o ensino de boa qualidade e repre-sentar um ideal pedagógico a ser seguido.

Esse ensino de boa qualidade é aqueleque procura formar o profissional refle-xivo, critico, criativo e antecipativo.

Portanto, na "escola ideal" o currícu-lo estará centrado em habilidades mentaise vinculado aos valores da comunidade.Os conteúdos programáticos das disci-plinas deverão refletir as dimensõesde passado, presente e futuro. Conse-qüentemente, a escola ideal poderá serchamada de "escola do futuro" porquehá mais do que um desejo de que elaexista; há uma decisão de todos nós detorná-Ia uma realidade.

O curso de Biblioteconomia tem comofunção primordial formar o bibliotecá-rio para atuar no mercado de trabalhoque é formado tradicionalmente por bi-bliotecas públicas, escolares, universitárias,empresariais e nos serviços de informaçõesem diferentes mveis. Os cursos de gradua-ção em Biblioteconomia devem, antes detudo, preparar bibliotecários qeneralistas."capazes de administrar bibliotecas e ser- ~viços de informações docurnentér ias e ge-renciais que possuem situações peculiar is-simas. As especializações são posteriores,a partir da graduação, quando então osaspectos particulares serão estudadosexaustivamente.

O bibliotecário de que o país precisahoje é precisará sempre, deverá, acima detudo, decidi r sobre situações não previstas.Estas demandam talento e habilidade.

A formação profissional entendidacomo um processo educativo, de recria-ção, carrega em si mesma potência econdições para fazer as pessoas se com-portarem frente ao mundo como um

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sabedoria que gera, passa a ser objeto dereflexão.

Para criar, há todo o futuro que preci-sa ser construrdo no presente. Assim, aoaceitar a idéia de que o futuro organizaa mudança, a formação profissi onal de-verá construir esse futuro.

FORMAÇÃO PROFISSIONAL E AS PERSPECTIVAS DO BIBLIOTECÁRIO

artista perante uma obra de arte. Seu po-der -. tanto quanto sua fraqueza .-decorre do fato de que ninguém se educasozinho, nem educa outrérn, senão que aspessoas se educam mutuamente numaação e convivio permanente. E nesseprocesso de convivência as pessoas seintrojetam valores, normas e sanções,como também desenvolvem a capacidadede refletir sobre o. que ocorre no seuambiente e no mundo. E é, ainda, atra-vés dele que descobrem o futuro comomatéria ao seu alcance e sobre ele sedispõem a criar.

Antecipar, refletir, criar, eis os princi-pais instrumentos. Dominar as formas deantecipar o futuro constitui a base doaprendizado, seja dos alunos, seja dacomunidade. Por outro lado, refletir ecriar são instrumentos preferenciais parasuperar determinismos, heranças e condi-cionamentos culturais, restrições históri-cas, sem que isso signifique um abandonodos valores imutáveis do "dever ser".

A reflexão, se verdadei ra, conduz àação e esta, por seu tu rno , com toda a

Referências Bibliográficas

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