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Presidente Prudente - SP, 24-26 de julho de 2017
IV Simpósio Brasileiro de Geomática – SBG2017
II Jornadas Lusófonas - Ciências e Tecnologias de Informação Geográfica - CTIG2017 p. 096-098
M. R. Muguio; A. F. Moiane; L. A. K. Veiga; P. L. Faggion ISSN 1981-6251
FORMAÇÃO EM CIÊNCIAS GEODÉSICAS NO BRASIL. UMA
OPORTUNIDADE PARA A CRIAÇÃO DO CURSO DE ENGENHARIA
CARTOGRÁFICA E DE AGRIMENSURA EM MOÇAMBIQUE
MIGUEL RIBEIRO MUGUIO1
ANDRÉ FENIAS MOIANE1
LUÍS AUGUSTO KOENIG VEIGA2
PEDRO LUÍS FAGGION2
1Instituto de Formação em Administração de Terras e Cartografia - INFATEC
Departamento de Investigação e Extensão - DIE
Maputo, Moçambique
[email protected]; [email protected]
2Universidade Federal do Paraná - UFPR
Programa de Pós-Graduação em Ciências Geodésicas - PPGCG
Centro Politécnico - Jardim das Américas - Curitiba - PR
[email protected]; [email protected]
RESUMO - Este artigo examina o passado, as práticas atuais, os problemas, e as prespectivas para
criação do ensino superior em engenharia cartográfica e de agrimensura em Moçambique. A ênfase é
colocada num resumo dos maiores avanços obtidos no desenvolvimento da atividade geodésica no país,
na formação de professores, técnicos profissionais e parcerias de cooperação para tornar esse projeto uma
realidade. Em adição, são discutidas algumas questões relevantes, referentes à investigação e manutenção
das infraestruturas geodésicas existentes, à legislação para orientação da atividade geodésica no país, e
alguns desafios por enfrentar. Esta revisão sugere que a criação de um curso superior de engenharia
cartográfica e de agrimensura constitui um prerequisito para o desenvolvimento com sucesso da atividade
geodésica em Moçambique. Urge uma formação efectiva de professores aos níveis de mestrado e
doutorado em ciências geodésicas, o que se torna evidente com acordos de cooperação, tal como o
realizado entre o Instituto de Formação em Administração de Terras e Cartografia (INFATEC) e a
Universidade Federal do Paraná (UFPR). Conclui-se que Moçambique ainda enfrenta vários desafios
nessa área de conhecimento, e daí a necessidade urgente em formar técnicos e professores altamente
qualificados, realizar mais pesquisa e investigação para melhorar o actual cenário do país.
Palavras chave: Geodésia, Moçambique, Formação.
ABSTRACT - This article examines the past, current practices, problems, and the perspectives for
establishment of higher education in cartographic engineering and surveying in Mozambique. The
emphasis is placed on a summary of the major advances made in the development of geodetic activity in
the country, training of teachers and technicians, and partnerships to make this project a reality. In
addition, some relevant issues relating to research and maintenance of existing geodetic infrastructures,
legislation for the guidance of geodetic activity, and some of the challenges faced are discussed. This
review suggests that the creation of a higher education course in cartographic engineering and surveying
in Mozambique is a prerequisite for the successful development of the geodetic activity. An effective
training of teachers at master's and doctoral levels in geodetic sciences is urgent, which becomes evident
with cooperation agreements, such as the one conducted between the Institute for Land Administration
and Cartograph of Mozambique (INFATEC) and the Federal University of Paraná (UFPR). It is
concluded that Mozambique still faces many challenges in this field of knowledge, and hence the urgent
need for training highly qualified technicians and teachers, to conduct more research and investigation to
improve the present scenario of the country.
Key words: Geodesy, Mozambique, Training.
IV Simpósio Brasileiro de Geomática – SBG2017
II Jornadas Lusófonas - Ciências e Tecnologias de Informação Geográfica - CTIG2017
M. R. Muguio; A. F. Moiane; L. A. K. Veiga; P. L. Faggion ISSN 1981-6251
1 INTRODUÇÃO
A atividade geodésica em Moçambique iniciou em
1907, tendo sido destacados os períodos, antes e depois de
1953, em que a cadeia de triangulação era de 2ª e 1ª
ordem respectivamente (CONCEIÇÃO, 1970). Esta
infraestrutura ainda é de importância vital para o País
devido a sua cobertura e facilidade de conversão para
outros sistemas. Com o advento das novas tecnologias
Moçambique possui hoje uma rede GPS com 245 estações
estabelecidos em cooperação com o Special Team Royal
Engineers (UK) e a Joint Venture Norway Mapping of
Mozambique, em que 30 destas estações são comuns à
rede clássica. Assim, a rede clássica foi ajustada fixando-
se as coordenadas GPS destas 30 estações, no datum
WGS84/ITRF94 (SANTOS et. al., 2006). Moçambique
possui também, uma rede de estações permanentes (figura
1) dos sistemas GNSS (Global Navigation Satellite
Systems) abreviadamente designado por MOZPERM. Esta
rede é mantida pelo Centro Nacional de Cartografia e
Teledetecção (CENACARTA) e possui onze estações
distribuídas ao longo do país e implantadas pelo Centro
Nacional de Geofísica da Universidade de Lisboa
(CGUL) em colaboração com as autoridades cartográficas
e hidrográficas de Moçambique e o Observatório Rádio
Astronômico Hartebeesthoek, na África do Sul.
Figura 1 - Rede de Estações Permanentes dos Sistemas
GNSS de Moçambique (MOZPERM).
Fonte: mgn.rede-moznet.net
A investigação e manutenção destas infraestruturas
bem como a elaboração da legislação sobre as ciências
geodésicas em Moçambique, ainda estão fortemente
dependentes de profissionais estrangeiros, fato que
diversas vezes (devido à localização geográfica das suas
residências permanentes) dificulta a operacionalidade de
algumas destas infraestruturas, por exemplo, “Rede de
Estações Permanentes dos sistemas GNSS”. A produção,
transporte e distribuição de energia eléctrica a partir da
Hidroeléctrica de Cahora Bassa, a exploração do gás de
Pande e as recentes descobertas dos recursos naturais e
minerais em Tete e na bacia do Rovuma bem como as
grandes obras de engenharia que se verificam um pouco
por todo o país requerem uma rede geodésica
modernizada. Este cenário coloca o país num grande
desafio que passa pela formação de profissionais
moçambicanos na área das Ciências Geodésicas,
primeiramente fora e posteriormente dentro do país.
2 ATIVIDADES DE FORMAÇÃO
Para melhor compreender a atividade de formação
é apresentado a seguir um histórico que aborda duas
etapas principais.
2.1 Formações de profissionais
As formações de profissionais nas áreas de
Administração de Terras e Cadastro, Cartografia e
Sistemas de Informação Geográfica, Geodésia,
Topografia e Fotogrametria, antes da independência
estiveram a cargo dos Serviços Geográficos e Cadastrais,
instituição encarregue pela administração de Terras, que,
após a independência passou a designar-se Direção
Nacional de Geografia e Cadastro (DINAGECA). Esta
direção continuou com a formação até a criação da Escola
Técnico-Profissional de Geodesia e Cartografia em 1982,
a qual assumiu a formação dos técnicos naquelas áreas.
De 1982 até 1991, a escola formou apenas técnicos de
nível básico tendo introduzido em 1992, o nível médio.
No ano 2003, a escola eliminou o nível básico, tendo
continuado a leccionar apenas o nível médio até a sua
extinção e criação do Instituto de Formação em
Administração de Terras e Cartografia (INFATEC) pelo
decreto nº22/2006. Com a criação do INFATEC, a
formação de técnicos nas áreas anteriormente citadas
tornou-se mais dinâmica, pois, para além da entrada em
funcionamento de alguns cursos em regime modular foi
também criado um Departamento de Investigação e
Extensão, responsável pelo desenvolvimento de projetos
de pesquisa e de extensão. De modo a tornar cada vez
mais efetivo e evidente a pesquisa, o INFATEC iniciou
em 2010, com o processo de formação de seus
Professores nos níveis de mestrado e doutorado em
matérias específicas de atuação do mesmo.
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II Jornadas Lusófonas - Ciências e Tecnologias de Informação Geográfica - CTIG2017
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2.2 Formações de professores
Assim, entre 2010 e 2012 dois Professores do
INFATEC foram formados no nível de mestrado em
“Sistemas de Informação Geográfica e Sensoriamento
Remoto Aplicado à Engenharia” e “Ciências Geodésicas
– área de Geodésia e Levantamentos” na Universidade de
Salford (Manchester) – Reino Unido e Universidade
Federal do Paraná (UFPR) – Brasil, respectivamente. A
formação destes Professores serviu de motivação para que
o INFATEC começasse a pensar na introdução do curso
superior, a mencionar, curso de graduação em Engenharia
Cartográfica e de Agrimensura.
No âmbito da viabilização da criação desse curso,
de 2012 a 2014 foram formados pela UFPR mais dois
Professores no nível de mestrado no Programa de Pós-
Graduação em Ciências Geodésicas – área de Cartografia
e Sistemas de Informação Geográfica e um Professor
formado no nível de mestrado no Programa de Pós-
Graduação em Modelagem em Ciências da Terra e do
Ambiente pela Universidade Estadual de Feira de
Santana. Entre 2014 e 2016, outro Professor foi formado
no nível de mestrado no Programa de Pós-Graduação em
Modelagem em Ciências da Terra e do Ambiente pela
Universidade Estadual de Feira de Santana. De 2014 até
ao presente momento, dois Professores (formados no
nível de mestrado entre 2010 e 2012) estão cursando
doutorado em Ciências Geodésicas na UFPR,
respectivamente nas áreas de Fotogrametria e
Sensoriamento Remoto e Geodésia e Levantamentos. Para
além destes, mais um Professor iniciou em 2016, o curso
de mestrado no Programa de Pós-Graduação em Ciências
Geodésicas, área de Fotogrametria e Sensoriamento
Remoto da UFPR. Importa salientar que dos Professores
aqui mencionados cinco tiveram formação (em 2012)
num curso de extensão universitária em
Geoprocessamento ministrado pela Pontifícia
Universidade Católica do Paraná (PUC-PR).
3 COOPERAÇÃO COM A UFPR
No ano 2014 foi também celebrado um acordo de
cooperação entre a Universidade Federal do Paraná
(UFPR) – Brasil e o Instituto de Formação em
Administração de Terras e Cartografia (INFATEC) –
Moçambique, cujo objeto principal é estabelecer uma
cooperação que promove intercâmbios com benefícios
mútuos para as duas instituições, nomeadamente, criação
do Curso de Graduação em Engenharia Cartográfica e de
Agrimensura, no INFATEC; visitas e intercâmbio de
professores e estudantes, objetivando a realização da
pesquisa, ensino e extensão nas mais diversas áreas
acadêmicas bem como programas de gestão universitária.
Depois da assinatura desse acordo uma delegação da
UFPR composta pelo Coordenador do Curso de
Engenharia Cartográfica e de Agrimensura e pelo Vice-
Diretor do Setor de Terras, nomeadamente, Professor
Doutor Luís Augusto Koenig Veiga e Professor Doutor
Pedro Luís Faggion deslocou-se a Moçambique, onde
manteve encontros de trabalho com o INFATEC,
Ministério da Terra Ambiente e Desenvolvimento Rural
(MITADER), Centro Nacional de Cartografia e
Teledetecção (CENACARTA), Ordem dos Engenheiros
de Moçambique e a Universidade Eduardo Mondlane
através do Curso de Ciências de Informação Geográfica.
4 CONCLUSÕES
A criação de um curso de Engenharia Cartográfica
e de Agrimensura seria o caminho certo rumo ao
desenvolvimento de práticas geodésicas modernas e com
acurácia. É importante ressaltar aqui, que o projeto
pedagógico do Curso de Engenharia Cartográfica e de
Agrimensura a ser implantado em Moçambique já foi
elaborado e atualmente o “dossier completo” sobre a
criação do mesmo segue seus trâmites legais ao nível do
Governo de Moçambique.
REFERÊNCIAS
CONCEIÇÃO, J. F. A evolução da geodesia e a
ocupação geodésica do Ultramar português em África
- Lisboa: Junta de Investigação do Ultramar, 1970.
MGN-MOZNET: MOZPERM – Rede de Estações
Permanentes GNSS de Moçambique. Disponível em
<mgn.rede-moznet.net >. Acesso: 24 de Abril de 2017.
MOÇAMBIQUE. Decreto nº22/2006 de 29 de Junho de
2006. Cria o Instituto de Formação em Administração
de Terras e Cartografia, abreviadamente designado
por INFATEC e aprova o respectivo Estatuto
Orgânico. Boletim da República. I SÉRIE – Número 26.
Maputo.
SANTOS, P.; LIMA, N.; QUEMBO, J. L. WS1.4
Adjustment of the Classical Terrestrial Geodetic
Network of Mozambique Tied to ITRF. Promoting
Land Administration and Good Governance. 5th FIG
Regional Conference Accra, Ghana, March 8-11, 2006.