formação docente, direitos humanos e curriculo

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RFORMAÇÃO DOCENTE, DIREITOS HUMANOS E CURRICULO AULA 1: DIREITO À EDUCAÇÃO E DIREITOS HUMANOS Maria Elizete Guimarães Carvalho 1 PARA REFLETIR: Qual a natureza e significado do direito à educação? Fonte: vamossubirbento.com.br Mas por que utilizar as categorias como tempo e contexto histórico para compreender o significado do direito à educação? É simples. O direito é um fenômeno histórico, social, dinâmico. Para compreendê-lo é necessário entender o contexto histórico que o produziu. Assim, o direito à educação como todos os outros direitos é o resultado de lutas e de conquistas, originado a partir das condições internas e externas de um espaço e de uma época. Se em um momento assiste-se à ampliação das liberdades democráticas, tem-se uma expansão dos direitos e garantias. Se em outro, vivencia-se a retração da democracia, abre-se espaço para um retrocesso das conquistas anteriores. Cabe então ressaltar, para maior esclarecimento da questão, a afirmação de Ihering (2002, p. 27): Todos os direitos da humanidade foram conquistados pela luta. [...] Todo e qualquer direito, seja o direito de um povo, seja o direito do indivíduo, só se afirma por uma disposição ininterrupta para a luta. [...] O direito é um trabalho sem trégua, não só do Poder Público, mas de toda a população. Ou as palavras de Bobbio (1992, p. 5): 1 Professora da UFPB. Credenciada aos Programas de Pós-Graduação em Educação - PPGE – e em Direitos Humanos – PPGDH. Membro do Núcleo de Cidadania e Direitos Humanos. Advogada civilista. É importante, antes de iniciar a discussão sobre direitos humanos e formação de professores, desenvolver uma reflexão sobre temas que servirão como subsídios ou orientações para a compreensão mais ampla da Unidade proposta para o estudo. Para tanto, é necessário pensar em algumas questões como a educação como direito humano ou o direito à educação, procurando compreender o significado e a natureza desse direito, buscando a interpretação de acontecimentos sociais, de costumes e tradições, das idéias dos estudiosos de cada época, desvendar seu sentido, na tentativa de entender sua efetivação (ou não?) no presente.

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Este trabalho visa discutir a relação entre três pilares fundamentais da educação: a formação docente, os direitos humanos e o currículo.

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RFORMAO DOCENTE, DIREITOS HUMANOS E CURRICULO AULA 1: DIREITO EDUCAO E DIREITOS HUMANOS Maria Elizete Guimares Carvalho1 PARA REFLETIR: Qual a natureza e significado do direito educao? Fonte: vamossubirbento.com.br Masporqueutilizarascategoriascomotempoecontextohistricopara compreenderosignificadododireitoeducao?simples.Odireitoum fenmenohistrico,social,dinmico.Paracompreend-lonecessrioentendero contextohistricoqueoproduziu.Assim,odireitoeducaocomotodosos outrosdireitosoresultadodelutasedeconquistas,originadoapartirdas condies internas e externas de um espao e de uma poca. Se em um momento assiste-seampliaodasliberdadesdemocrticas,tem-seumaexpansodos direitosegarantias.Seemoutro,vivencia-searetraodademocracia,abre-se espao para um retrocesso das conquistas anteriores. Cabe ento ressaltar, para maior esclarecimento da questo, a afirmao de Ihering (2002, p. 27): Todososdireitosdahumanidadeforamconquistadospelaluta. [...]Todoequalquerdireito,sejaodireitodeumpovo,sejao direitodoindivduo,sseafirmaporumadisposioininterrupta paraaluta.[...]Odireitoumtrabalhosemtrgua,nosdo Poder Pblico, mas de toda a populao. Ou as palavras de Bobbio (1992, p. 5): 1ProfessoradaUFPB.CredenciadaaosProgramasdePs-GraduaoemEducao-PPGEeemDireitos Humanos PPGDH. Membro do Ncleo de Cidadania e Direitos Humanos. Advogada civilista. importante,antesdeiniciar adiscussosobredireitoshumanos eformaodeprofessores, desenvolverumareflexosobre temasqueservirocomosubsdios ouorientaesparaacompreenso maisampladaUnidadeproposta para o estudo. Paratanto,necessrio pensaremalgumasquestescomo a educao como direito humano ou odireitoeducao,procurando compreenderosignificadoea naturezadessedireito,buscandoa interpretaodeacontecimentos sociais,decostumesetradies, dasidiasdosestudiososdecada poca,desvendarseusentido,na tentativa de entender sua efetivao (ou no?) no presente. [...]osdireitosdohomem,pormaisfundamentaisque sejam, so direitos histricos, ou seja, nascidos em certas circunstncias,caracterizadasporlutasemdefesade novasliberdadescontravelhospoderes,enascidosde modogradual,notodosdeumavezenemdeumavez por todas. Daque,odireitoeducaoresultantedelutascontraoanalfabetismo, constituindo-se como um direito de segunda gerao, porque um direito social2. Os direitossociais,queacentuamoprincpiodaigualdade,soconsideradosdireitos fundamentais de segunda gerao3, e que segundo Borsoi (apud MORAES, 2000, p. 45),foramincludosemdocumentosinternacionais, noinciodosculoXX.Entre osdireitoschamadossociais,incluem-seaquelesrelacionadoscomotrabalho,o segurosocial,asubsistncia,oamparodoena,velhice,etc..Odireito educao perfaz este rol. um direito fundamental de segunda gerao. Mas,oquesignificaumdireitofundamental?Oraessenoum conceitofcildeabordar,devidoabrangnciado tema,suadinamicidade, pela ampliao e transformao histrica do prprio direito, fenmeno social e humano, e pelo fato de ser designado por vrias expresses, como: direito natural, direito humano, direito do homem, direito individual, direito pblico subjetivo, entre outras. Contudo,valeapontarosqueabordamdemodomaiscompletootemaem questo. Nesse rol, inclui-se o conceito de Soares (2004, p. 43): Osdireitoshumanossoaquelesdireitosfundamentais,a partir da premissa bvia do direito vida, que decorrem do reconhecimentodadignidadedetodoserhumano,sem qualquer distino, e que, hoje, fazem parte da conscincia moral e poltica da humanidade. Bonavides(1994,p.514)asseguraqueopropsitodosdireitos fundamentaiscriaremanterospressupostoselementaresdeumavidana liberdade e na dignidade humana. Ora, esses conceitos abrangem por um lado, a essencialidadedovnculodosdireitosfundamentaisliberdadeedignidade humana,comovaloreshistricosefilosficos,oquevaiaoencontroda universalidadequecaracterizaessesdireitoscomoidealdapessoahumana.Por outro lado, devemos levar em conta a sua vigncia e anecessidade de positivao desses direitos. Enfim, o autor, ao referir-se s trs geraes de direitos, enfatiza a 2Osdireitossociaiscaracterizam-secomoverdadeirasliberdadespositivas,deobservnciaobrigatriaemum EstadoSocialdeDireito,tendoporfinalidadeamelhoriadascondiesdevidaaoshipossuficientes,visando concretizaodaigualdadesocial,queconfiguraumdosfundamentosdonossoEstadoDemocrtico,conforme preleciona o art. 1, IV. A Constituio Federal consagra os direitos os direitos sociais a partir do art. 6. (MORAES, 2000, p. 43). 3Essaclassificao,apresentadapeladoutrina,baseia-senaordemhistrico-cronolgicaemqueosdireitosforam constitucionalmentereconhecidos.Assim,temososdireitosdeprimeiragerao,querealamoprincpioda liberdade;osdireitosdesegundagerao,queacentuamoprincpiodaigualdadeeosdeterceiragerao,o princpio da solidariedade.

Norberto Bobbio importnciadapositivaoparaaconcretizaodauniversalidade,ouemsuas palavras: Anovauniversalidadeprocura,enfim,subjetivardeforma concretaepositivaosdireitosdatrplicegeraona titularidadedeumindivduoqueantesdeserohomem desteoudaquelePas,deumasociedadedesenvolvidaou subdesenvolvida,pelasuacondiodepessoaumente qualificadoporsuapertinnciaaognerohumano,objeto daquela universalidade (BONAVIDES, 1994, p. 521). Eainda,segundooautor,ahistriadosdireitoshumanosdireitos fundamentaisdetrsgeraessucessivasecumulativas,direitosindividuais, sociais e difusos funde-se com a histria da liberdade moderna, da separao e limitaodepoderes,dacriaodemecanismosqueauxiliamohomema concretizar valores cuja identidade jaz primeiro na Sociedade e no nas esferas do poder estatal (BONAVIDES, 1994, p. 528). Devemosconsiderarqueosdireitoshumanosfundamentaissodireitos historicamenteconquistados,queconcretizamemcadamomentoecontexto,a dignidade,aliberdadeigualdadeeasolidariedadehumanas,devendoser positivadospelosordenamentosjurdicos.Oreconhecimentodessesdireitos consagraoprincpiodadignidadehumana,sendocaracterizadospela imprescritibilidade,inalienabilidade,irrenunciabilidade,inviolabilidade, universalidade, efetividade e complementariedade. Assimodireitoeducao.Umdireitofundamentalehistrico.Em primeirolugar,fundamentalparaassegurarasobrevivnciahumana,eem segundo,paraaconquistaeestabilidadedacidadania,importandolembrarquea educao est no centro da cultura como essencial vida social, definindo e criando modelos de convivncia, promovendo a dignidade da pessoa humana, motivos que, por si s, justificam sua importncia. Tal direito coloca-se como condio sine qua non para a sobrevivncia, como prioridadeparticipaonavidamoderna,considerando-seaEducao,o conhecimentocomopr-requisitoparapromoododesenvolvimentohumano sustentvel.Resultandodasuanaturezacomodireitohumanofundamental, devendosermaterializadoatravsdepolticaspblicassociais,constituindo-se dever do Estado proporcionar sua efetivao. Liberati(in:LIBERATI(Org.),2004,p.212)assimdiscorresobrea essencialidade do direito educao: [...]essencialparaodesenvolvimentohumano,semoqualnoh qualquerchancedesobrevivncia(fsicaeintelectualnoquediz respeitoconcorrnciadetrabalhoesuaconseqentequalificao tcnico-profissional)ou,sehouver,essasobrevivnciaestar comprometida com a qualidade [...].

nesse sentido que a educao deve ser compreendida: como essencial ao desenvolvimentohumano,poissemapossibilidadedessedesenvolvimento intelectual,daobtenoeampliaodeconhecimentos,doestmuloao desenvolvimentopsquicoesemreceberensinamentossobreaconvivnciaeas formasdeintegraosocial,oserhumanonoalcanarumavidadignaesem dignidade no tero valor os outros direitos, nem mesmo a vida. Assim, a educao deve ser considerada como um bem fundamental que contribui para a preservao da vida, de uma vida digna, devendo o Estado assegur-la para o cumprimento de sua obrigao de proporcionar o bem-estar de todos os cidados. Agora,aoconcluiressaaula,necessrioteceralgumas consideraes sobre as discusses desenvolvidas. Discutiu-se a noo de Direito Educao, abordando as concepes de alguns autores.Almdisso,refletiu-sesobreanaturezadessedireito,comodireito humanofundamental,suauniversalidadeesuaimportnciaparaaconquistade uma vida digna e cidad. REFERNCIAS ARRETCHE, M.; RODRIGUEZ, V. A descentralizao das polticas sociais no Brasil. So Paulo: Fundap/Fapesp, 1998. BARROSO, Luiz Roberto. Interpretao e aplicao da constituio. So Paulo: Saraiva, 2003. BOBIO, Noberto. Igualdade e liberdade. 2. ed. Rio de Janeiro: Ediouro, 1997. ______.Opositivismojurdico:liesdefilosofiadodireito.SoPaulo:cone, 1995. ______.Aeradosdireitos.Trad.deCarlosNelsonCoutinho.RiodeJaneiro: Elsevier, 2004. BONAVIDES,P.Cursodediretoconstitucional.6.ed.SoPaulo:Malheiros, 1996. CAMBI, Franco. Histria da pedagogia. So Paulo: UNESP, 1999. CANOTILHO, J. J. Gomes. Direito constitucional e teoria da constituio. 7. ed. Coimbra: Almedina, 2003. CARVALHO,JosSrgio.Educao,cidadaniaedireitoshumanos.Petrpolis, RJ: Vozes, 2004. COMPARATO,FbioK.Aafirmaohistricadosdireitoshumanos.5.ed.So Paulo: Saraiva, 2007.DAVIS,N.Ofundefeooramentodaeducao:desvendandoacaixapreta. Campinas, SP: Autores Associados, 1999. DINIZ, Eli. Crise, reforma do estado e governabilidade. So Paulo: FGV, 1997. 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DIREITOS HUMANOS COMO PRESSUPOSTO PARA A FORMAO DOCENTE PARA REFLETIR: Como e para que formar o educador? Quais os saberes necessrios profisso docente no momento atual? NesseinciodesculoXXI,quandoestoempautanovospadresde comportamentonasrelaesprodutivasesociais,emumcontextode transformaes rpidas, complexas e diversificadas, causa preocupao a formao do educador, seus conhecimentos, valores e atitudes fundamentais ao desempenho da prtica docente. www.educacaoadistancia.blog.br/.../ necessriopensaroeducadorcomoumagentedetransformao,em articulao com seu tempo e contexto histrico, situando-se como profissional que desenvolveprocessoscrticosdecompreensoedeaosobrearealidade, propiciandoacriaodeculturasemodosdepensardiferentes,quetenhamo propsito de fortalecer processos emancipatrios e de incluso. Nessesentido,devemosconsiderarastenses,desafioseinseguranasdo momentoatual,tendoemvistaaconstruodeumacidadaniademocrtica multicultural, necessria justia social, que, na compreenso de Sacavino (2001), encontra seu fundamento em uma filosofia anti-racista, anti-sexista e anti-classista equedevesertrabalhadapelasinstituiessociais,incluindoaescola.Porisso, convmtomaraeducaoemdireitoshumanoscomoreferncianaformaodo educador, tanto inicial como continuada. Aconsideraodossaberesemdireitoshumanosnaformaodoeducador propiciarprocessosdematuridadeprofissional,ticaecultural,aesorientadas por princpios de justia, de solidariedade e de igualdade na diversidade, em que a reflexodarealidadescio-culturaleeducacionalcontribuirparaasaese decises docentes. Aquisepodeentenderaimportnciadaformaodocente.Nohaver mudana,inovaoouensinodequalidadeseaformaodocentenofor repensada,sobaticadosdireitoshumanos,dosvaloreseaescapazesde enfrentar os desafios, conflitos e inseguranas. Ora,pormuitotempoacreditou-sequeomodelocapitalistade desenvolvimento ocidental seria nico para todos os pases do planeta, com etapas pr-determinadas. Porm, tal modelo configurou-se invivel na atualidade, pois, de acordo com a viso de Mszros (2002), o mundo assiste a uma inusitada etapa de Istoporque,aoladode concepesqueconsiderama formaocomoprocesso, existemcorrentespedaggicas queaconcebemcomoalgo estanqueeacabado,negando aoprofessoraformao continuada,odesenvolvimento daaprendizagemnombito escolar,visesestasquevo moldaraaopedaggica docente.Ora,estandoa formaorelacionadaa trajetriasdevidaes peculiaridadesdecada sociedade,importante consider-lacomoinacabada, umprocessocontnuode construo e aprendizagem. reordenamentodocapital,marcadapelaauto-expanso,pelaincontrolabilidadee pela forma totalizadora de controle social. Diante desse novo cenrio, desconfiguraram-se as certezas que orientavam a formao do educador anteriormente. Como ento formar o educador para o enfrentamento das novas exigncias e contradies da sociedade atual? Com efeito, se, de um lado o desafio qualificar para a empregabilidade, de outro,omercadoencontra-sesaturadoeasexignciasparaaabsorodo trabalhador se tornam cada vez maiores. Comosev,estamosdiantedequestesqueexpressamas contradiesdasociedadeatual.Se,deumlado,aqualificao requisitodeseleoparaaocupaonospostosdetrabalho,de outro, isso nosignifica necessariamente um canal de acesso direto esemimpedimentosaoempregoporque,naverdade,noexistem empregosparaograndecontingentedepessoasconstitudaspor jovens,adultos,portadoresdedeficinciasfsicas,negros,ndios, mulheres e, inclusive as crianas (BERTOLDO, 2007, p. 235). Decorrente dessas questes, assiste-se busca pela qualificao, propagao decursosparaformaodeprofissionaisdeelite,centradosnanoode competncias, de excelncia, que enaltecem a lgica e os valores do capital.Porm,nombitodalgicacapitalista,existeumatendnciade desvalorizaodotrabalhodocenteedaqualidadedaeducao,emboraos discursosexpressemocontrrio.Ora,asociedademodernatrazasexignciasde universalizao da educao e ampliao de acesso. Isso pareceria positivo se suas implicaesnonegativassemoprocessodeformaodocente,comacriaode cursos distncia, a criao de faculdades, a interiorizao de universidades, uma maioriadeprofessoressubstitutosnasuniversidades.Almdomais,Deacordo com pesquisas, o educador hodierno temuma extensa jornada de trabalho, mal remunerado,malformadoeapresentasriosproblemasdesade(BERTOLDO, 2007, p. 238). Em vista desses problemas, que denunciam a realidade de desvalorizao do profissionaldocente,questiona-se:possvelformaroprofessorcomosujeito humano,investindoemsuasubjetividade,contrariandoalgicaeosvaloresdo capital? Acredita-sequesim.Jqueasalternativasbaseadasnessalgicaapontam parareformaslimitadasecorretivasnaeducao,outrasestratgiasprecisamser forjadas.Entreelasencontra-seumaeducaoparaosdireitoshumanos,que implica naformaoda subjetividade humana e na reviso deprincpios evalores que orientam a formao de profissionais na sociedade atual. Nessesentido,aeducaoemdireitoshumanoscontribuiparaaconquista da autonomia e da cidadania plena, quando fornece subsdios para que o indivduo compreendaomundoecompreenda-senomundo.Aformaodoeducadorque contemple esse visdever estar associada a um contexto mais amplo da relao entreeducao,trabalhoesociedade,emumareflexoquecompreendatal realidade e que busque a sua superao. DIREITOSHUMANOSNASINSTNCIASNORMATIVASBRASILEIRAS:LDB, PNE, DCN PARAREFLETIR:QualaimportnciadaLDB,PNEeDCNparauma formao em direitos Humanos?

ADeclaraoUniversaldosDireitosHumanosde1948representaoponto culminantedoreconhecimentouniversaldadignidadehumana,concretizando, assim,umdesfechotico-histricoqueseinicioucomaDeclaraode Independncia dos Estados Unidos e com a Declarao dos Direitos do Homem e do Cidado promulgada com a Revoluo Francesa. O texto da Declarao, entre outros princpios, concebe o Direito Educao como Direito Humano. Observe-se o que indica o art. XXVI da Declarao Universal dos Direitos Humanos: TodohomemtemdireitoEducao.Aeducaodevesergratuita, pelomenosnosgrauselementaresefundamentais.Ainstruo tcnico-profissional ser generalizada, o acesso aos estudos superiores serigualparatodos,emfunodosmritosrespectivos (COMPARATO, 2004, p. 239). Destaca-se,dessaforma,odireitoeducao,sejaemqualquernvelde ensino, sendo considerado um direito humano fundamental, a partir de sua incluso nasConstituiesFederais,tornando-seassimimprescindvelsuaproteoe promoo.Noentanto,paraqueessedireitosejaprotegidoeefetivadoaatuao doeducadordefundamentalimportncia.Paraisso,arelaoentreensino, pesquisa e extenso, enquanto instrumentos de formao assumem papel relevante nesseprocesso,considerandoquenafaseacadmicaqueofuturoeducador adquirir os fundamentos que solidificaro sua prtica pedaggica. Mascomoeducaremdireitoshumanosquandonofomoseducadospara isso?Comoafirmaredefenderumprocessoeducativocrticoeconsciente, construtordecidadania,queenglobeorespeitodignidadehumana,quandoem muitoscasosnorecebemosessesensinamentosdurantenossosestudosna Universidadeemuitasvezesdesconhecemososerhumanocomopessoaquetem direito a condies dignas de sobrevivncia? Como educar em direitos humanos se a educao continuada que deveria ser realizada na escola no aborda a questo? SomuitososlimitesquemarcamaformaodoeducadoremDireitos Humanos,reconhecendo-sequenosuficienteensinarcontedos,regras,mas posturas,comportamentoseatitudes.EducaremDireitosHumanossignifica sensibilizar,conscientizarehumanizaraspessoasparaaimportnciadorespeito ao ser humano, e para tanto se faz necessria uma conduta humanizada, pois s possvel educar em direitos humanos quem se humaniza e s possvel investir na humanizaoquandosetemumaconscincia,umacondutahumanizada.Daa importnciadetrabalharaconcepodeDireitosHumanoscomosEducadores duranteseuprocessodeformao,envolvendoprticasdeensino,pesquisae extenso,umavezqueaelescaberaresponsabilidadedetransmitiraos educandosasprimeirasnoesderespeito,solidariedadeefraternidade, juntamente com a famlia e a comunidade escolar.LegalmentenoBrasil,asreasdosdireitoshumanosedaeducao incorporam, entre outros, os seguintes documentos: a Constituio Federal (1988), aLeideDiretrizeseBasesdaEducaoNacional(LDB,Lei9392/1996),os Parmetros Curriculares Nacionais PCNs - (a partir de 1997), O Plano Nacional de Educao PNE, as Diretrizes Curriculares Nacionais - DCNs, o Programa Nacional deDireitosHumanos(verses1996e2002)eoPlanoNacionaldeEducaoem Direitos Humanos (2003 e 2006). Tais documentos estabelecem diretrizes e aes direcionadas formao cidad. Nessetrabalho,discutiremososDireitosHumanosemalgunsdocumentos normativos brasileiros, que tratam da educao, tomando como subsdio a proteo emanada da Carta constitucional. A Constituio brasileira de 1988 foi promulgada sob a gide do respeito aos direitoshumanosedocidadoeapsamplamobilizaopopular.Essecontexto configura-se no texto constitucional, principalmente no Ttulo II, artigos 5 ao 17, que trata dos direitos fundamentais, organizado em cinco captulos: Dos direitos e deveres individuais e coletivos (I); Dos direitos sociais (II); Da nacionalidade (III); Dos direitos polticos (IV); Dos partidos polticos (V). Essas disposies protegem direitos individuais, coletivos, sociais e polticos, sob a forma de prestaes negativas ou positivas. Fonte: colasocial.blogspot.com Mas,oquesignificamtaisprestaes?Feitosa(In:ZENAIDE etal,2008,p. 114) assim discorre sobre o tema: Noprimeirocaso,oEstadodeveabster-sedepraticaratosque violem os direitos humanos. Esses direitos constituem obrigaes de no-fazer,ouseja,possuemcarternegativo.Exemplodosdireitos de defesa so as liberdades, reconhecidas constitucionalmente, como aliberdadereligiosa,aliberdadedepensamento,aliberdadede expresso, a liberdade de locomoo etc. Significa que o Estado no deve interferir no exerccio dessas liberdades. No mbito dos direitos sociais, como o direito sade [...], no pode o Estado praticar atos que coloquem em risco a sade da populao. Assim, os direitos de proteo impedem o Estado de praticar atos que violem os direitos humanos. J o sistema de garantias assegura o respeito ao estabelecido constitucionalmenteatravsdosremdiosjurdicos:habeascorpus;mandadode segurana;habeasdata;aopopular;mandadodeinjuno;aocivilpblica; direito de petio e a representao perante os Poderes. EaindasegundoosensinamentosdeFeitosa(In:ZENAIDEetal,2008,p. 114), as prestaes positivas: Soobrigaesdefazer,ouseja,oEstadodeveadotarmedidase pr em prtica um conjunto de aes para promov-las. Direitos de Sade (sade direito de todos e dever do Estado art. 196 da CF), educao e previdncia exigem prestaes positivas do Poder Pblico nosentidodeefetiv-los,atravsdeatosnormativos,dacriaoe A Constituio Federal, tambm chamada de Carta Magna, Lex Fundamentalis, a Lei Maior de um pas. manutenodeequipamentospblicos(comoescolasouhospitais), bemcomodopreenchimentodeseuquadrodefuncionrios.A prestaodosdireitossociaisdemandaosprincpiosda universalidade,queostornaacessveisatodososcidados,eda qualidade, ou do seu bom funcionamento. PelanovaConstituio,aeducaoparticipadoroldosdireitossociais, estando inscrita no artigo 6 (Captulo II, Ttulo II ) com essa caracterizao. J os artigos e 205 214 (Captulo III, Seo I, Ttulo VIII) dispem sobre a organizao educacionaldopas,disciplinandoprincpios,direitosedeveres,competncias, vinculao de recursos e prioridades para sua distribuio. Assim,aeducaoassumeadimensodedireitosocial,ouseja,de prestaopositivaquedeveserproporcionadapeloEstado,paramelhoriadas condies de vida dos mais carentes e igualizao de situaes sociais desiguais. Osprincpiosnorteadoresdoensino(art.206/CF)encontramorientaono artigo 26 e no texto como um todo da Declarao Universal dos Direitos Humanos, noqueserefereaosprincpiosdeuniversalidade,solidariedade,igualdadee liberdade. Nesse sentido devem ser compreendidas as disposies de igualdade de condiesparaacessoepermanncianaescola;liberdadedeaprender,ensinar, pesquisaredivulgaropensamento,aarteeosaber;pluralismodeidiasede concepespedaggicas,ecoexistnciadeinstituiespblicaseprivadasde ensino; gratuidade do ensino pblico em estabelecimentos oficiais; valorizao dos profissionais do ensino; da gesto democrtica da escola; referncias de qualidade; e piso salarial profissional (incisos I a VIII), todos com igual viso. notria a concepo social emanada do texto constitucional, que configura a educao como direito humano fundamental.JaLeideDiretrizeseBasesdaEducaoNacional(LDB),Lei9394/1996, aprovadaapsoitoanosdetramitao,equetrazamarcadasdiscussese debates realizados por educadores, sociedade e constituintes, reflete as mudanas e os conflitos que ocorriam na sociedade e educao brasileiras da poca.

Fonte:www.sebodomessias.com.br/.../35417_572.jpg SeutextorefleteumdilogocomaproposiodaCartaMagnatratandoa educaocomodeverdafamlia,dasociedadeedoEstado,inspirando-senos princpios de liberdade e nos ideais de solidariedade humana, na universalizao da educao, na equidade, na obrigatoriedade e na gratuidade, tendo por finalidade o plenodesenvolvimentodoeducando,seupreparoparaoexercciodacidadaniae sua qualificao para o trabalho. A Lei de Diretrizes e Bases da Educao Nacional, Lei 9394/1996, uma Lei Ordinria. Acesse a LDB no site: [...] a LDB disciplina a educao escolar, da infantil superior, a ser desenvolvidaeminstituiesespecficas,comaparticipaodas famliasedasociedade.Defineasincumbncias,ajurisdioea formaderelacionamentodossistemasdeensino,inovandoao explicitartambmasincumbnciasdasescolasedosdocentes. Trata,ainda,entreoutrasquestes,dagestodemocrticado ensinopblico,daautonomiadasescolas,dosnveisemodalidades de educao e de ensino, da formao e valorizao do Magistrio e dos recursos financeiros (LIBERATI, 2004, p. 71).

Ademais, traz uma concepo ampla de educao, embora defina a educao escolar como seu objeto de estudo e disciplinamento. Porm,necessrioficarmosatentosdiantedosenunciadoslegais.Seria ingnuoconsiderarapenasaformaqueelesassumem,deixandooexamedoseu contedo para um trabalho posterior. Tal contedo emergir do confronto entre o queproclamadoeoqueserealizaatravsdasbasesemqueseassentao sistemaeducacional(SAVIANI,2000,p.194).Cabeentoperguntar:Deque maneiraaspropostasdeliberdade,igualdade,democracia,fraternidadeesto sendorealizadas?Oraemmuitassociedades,essesprincpiosbeiramutopia, porm,seefetivados,constituem-senaorientao,nasadapararesolveros problemasgeradosnosistemaeducacional.Considerandoascondiesinternase asproposiesdaLDB,constata-seadistnciaentreasdisposieslegaisesua realizao. O Plano Nacional de Educao (PNE), Lei n 10.172, de 09/01/2001, est em perfeitaconexocomosmandamesdaConstituioFederal(art.214)ecoma disciplina da LDB, lei 9394/1996 (art. 87, 1), tendo em vista ao desenvolvimento do ensino em seus diversos nveis e integrao das aes do Poder Pblico. OPNEfoiplanejadoparaumperododedezanos(2001-2011),com objetivos e metas definidos para o perodo, visando a minimizar a descontinuidade que caracteriza as polticas educacionais (SARI, in: LIBERATI (Org.), 2004, p. 73), sendodecompetnciadosEstados,DistritoFederaleMunicpiosdaremsuporte, atravsdeseusPlanos,realizaodosobjetivosemetas.OPlanodefineas prioridades para o decnio, como: a erradicao do analfabetismo, universalizao doatendimentoescolar,formaoevalorizaodoMagistrio,financiamentoe gesto educacional. Percebe-seaintenodoPlanoemseucontedo.Auniversalizaoe melhoriadaqualidadedeensino,almdeoutrosprincpiosemetas,refletemo espritodosdireitoshumanosqueorientamoPlano.Aeducaoumdireitode todos, como tambm o o direito a aprender com qualidade.

Assim,paraarealizaodessas diretrizes,oPNEfixaindicadoresde qualidadeconfiguradosemprocessos deavaliao,comomecanismosde acompanhamentoecontroledas reformas e das polticas educacionais, o quepermite,apartirdasinformaes coletadaspelosrgosresponsveis, almdeacompanhar,planejare executarpolticaseaesmais eficazes,fornecendoumavisoda situao educacional do pas. Nas palavras de SARI (In: LIBERATI (Org.), 2004, p. 125): Doissooscamposemqueessaavaliaosedesenvolve:a avaliaoinstitucional,emquesoconsideradasdiferentes dimensesdaestrutura,organizaoefuncionamentodas instituies,taiscomocondiesdeinfra-estrutura,formasde gesto,habilitao,qualificaoeprodutividadedosrecursos humanos; e a avaliao deresultados,referente produtividade do sistema educacional e a questes de natureza pedaggica, como em que condies ocorre a aprendizagem, quais os fatores associados ao rendimento escolar e qual o impacto de alguns fatores extra e intra-escolares na aprendizagem dos alunos. Talavaliaotemopropsitotantodedefinirprioridadesparaaeducao nacional, como melhorar a qualidade do ensino. O Instituto Nacional de Estudos e PesquisasEducacionais(INEP/MEC)referncianacionalnessetrabalhoavaliativo sobrearealidadeeducacionaldopas.Noqueserefereavaliaoinstitucional, propostapedaggica,participaodospaiseprofessoresemtaispropostas, funcionamentodeConselhosdeClasse,avaliaodosalunos,habilitaodos professores,formaocontinuadadosprofessoressoindicadoresquedenotama qualidade da educao escolar. Noentanto,necessrioficaratento,poisondicedeanalfabetismoindica que o direito educao continua sendo violado. Os baixos nveis de escolaridade, apesardamelhoriadaofertadoensinofundamental,estorelacionadosafatores como condio social, raa, idade, reforando fatores de desigualdade para grupos especficos.[...]osistemaescolarbrasileirotemmantidomecanismosde discriminaoeexcluso,impedindoassimaefetivaododireitohumano educao (CAMPOS, 2006, p. 119). Nesse sentido, a construo de uma escola de qualidade, direito de todos, o queconcretizaodireitodetodosdeaprendercomdiferena,encontra-seem processo,constituindo-seumdesafionocampodaefetivaododireito educao. AsDiretrizesCurricularesNacionais(Parecern04/1998eResoluon 02/1998) configuram-se como um conjunto de normas disciplinares para orientao doplanejamentocurriculardasescolasesistemasdeensino,definindoprincpios, fundamentoseprocedimentos,tendoemvistaaorganizaodaproposta pedaggica e do regimento escolar. Tais orientaes fundamentam-se legalmente na Lei de Diretrizes e Bases da EducaoNacional,considerandoasconcepes,doutrinaseprincpiosali veiculados. AsdeterminaesexpressasnasDCNsafirmamprincpiosdesolidariedade, igualdadeeliberdade,emqueseincluemaautonomia,aresponsabilidadeeo Fonte:www.metodista.br/cidadania/numero-52/02.jpg A Resoluo CNE/CEB n 02/1998, que institui as Diretrizes Curriculares NacionaisparaoEnsinoFundamental,podeseracessadanoendereo eletrnico: respeito ao bem comum. Esses princpios, entre outros, como os direitos e deveres dacidadania,oexercciodacriticidade,orespeitoordemdemocrtica,o reconhecimentodaaprendizagemcomoprocessodeinteraoentreossaberes constitudospelosparticipantesdocontextoescolar,ainteraoentreeducaoe comunidade so parmetros para o desempenho da prtica pedaggica. Tambmavalorizaodainterdisciplinaridadeapontaparaacompreenso dequeasdisciplinasnosorecortesestanques,colocandoemdilogotais disciplinascomoutrasreasdoconhecimento.Paratanto,necessrioquese experimente nas escolas uma prtica de solidariedade didtica entre as disciplinas, eatmesmodeboa-vontade,implicandoainterdisciplinaridadenodomniopara perceberasconexes,ospontosdeconvergnciaentreumadisciplinaeoutros saberes. FORMAODOEDUCADOREMDIREITOSHUMANOSEASPRTICAS EDUCATIVAS NA EDUCAO BSICA Pararefletir:Minhaprticadocentefavoreceaaprendizagemde todos os alunos? No cenrio das lutas por educao, situa-se a luta por condies mnimas de funcionamento das escolas e a luta pela melhoria da formao do educador. Essas so condies para a realizao de um processo educacional de qualidade, em que prdios, turnos, turmas funcionem satisfatoriamente, contribuindo para o exerccio eficaz da prtica docente. Este fator agravado pela proliferao de escolas de formao, em razo da exigncia legal de formao em nvel superior para atuao na educao bsica. O quesedevefazer,ento?Aeducaodequalidadeconsagra-secomoumdireito subjetivodacrianaedoadolescente,incluindoprofessoreseprofissionaisda educao preparados, direito garantido pela LDB, em seu artigo 62, que determina: A formao de docentes para atuar na educao bsica far-se- em nvelsuperior,emcursodelicenciatura,degraduaoplena,em universidadeseinstitutossuperioresdeeducao,admitida,como formao mnima para o exerccio do Magistrio na educao infantil e nas quatro primeiras sries do ensino fundamental, a oferecida em nvel mdio, na modalidade Normal. Ademais determinao legal, complementada pela disposio do artigo 67, II,emquegarantidoaosprofessoresaperfeioamentoprofissionalcontinuado, inclusivecomlicenciamentoperidicoremuneradoparaessefim,oCNEdispe sobreprogramasespeciaisdeformaodocente,quecontemplamasdisciplinas curriculares do ensino fundamental, mdio e profissional em nvel mdio. Lembrando que a educao um direito fundamental, assegurada pelo artigo 6 da CF, cabe ressaltar os princpios da universalizao e da isonomia, significando quetodostmodireitoaoatendimento,aoacessoepermanncianaescola, competindo ao educador a conduo do processo ensino-aprendizagem. Entende-se aquiqueaaodoeducadorinsubstituvel.Eseelenoforcapacitado?Nesse sentidoodireitoeducaodequalidadenoserealizar,porcarncia intelectual/culturaldoseducadoresnodesenvolvimentodocurrculo,valendo afirmartambmquesemascondiesmnimasdefuncionamentodenada adiantarumaformaodequalidade.Assim,daarticulaoentrecondiesde funcionamentodasescolaseformaodocentequeserealizarodireito educao. Como ento garantir tal formao? Naperspectivadeumaeducaoemdireitoshumanos,paraqueessa formaoacontea,precisodesenvolverumaprticapedaggicacoerentee articulada com seus valores. Prtica esta que segundo Nascimento (apud TAVARES, 2007,p.490)proporcioneapossibilidadedeaprofundaraconscinciadesua prpriadignidade,acapacidadedereconhecerooutro,devivenciara Porm,necessrio compreenderqueessaprtica diferenciadaresultante tambmdeumaformao diferenciada. Ora a expanso do ensinobsicoexigiumais professoreseessefatotrouxe tambmparaaescola, profissionais no qualificados ou comumaformaodeficiente, modificando-seoperfildo educador brasileiro.solidariedade,apartilha,aigualdadenadiferenaealiberdade,criandoassim pontos de participao e organizao que possibilitem o exerccio da cidadania.ParaMorgado(apudTAVARES,2007,p.491),aprticapedaggicada Educao em Direitos Humanos pauta-se em um saber docente acerca dos direitos humanos,ouseja,umconjuntodesaberesespecficosprticadoeducadorem direitoshumanos,saberesqueserelacionamaoutrostrs:sabercurricular, pedaggicoeexperiencial,ambosarticuladosaduasdimensesessenciais:a emancipadoraeatransformadora.atravsdelasquepossvelsensibilizar-se, indignar-se, atuar e comprometer-se. Nessesentido,proporcionarumaformaonoviseducaoemdireitos humanos aos futuros professores deve constituir-se uma das tarefas primordiais da esferauniversitria,porseramesmaresponsvelpelaformaodeprofissionais que se formam para formar ao mesmo tempo em que assumem um compromisso social por terem como objeto de trabalho o ser humano. A Universidade e a Formao do Educador em Direitos Humanos AUniversidade,quetevenaConstituiode1988suaautonomiadidtica, cientfica,administrativa,financeiraepatrimonialdefendida,sendoregidano princpiodaindissociabilidadeentreoensino,pesquisaeextenso,responsvel por oferecer uma formao ao educador numa perspectiva da educao em direitos humanos, no intuito de desenvolver uma educao norteada pelos princpios ticos e histricos que a regem, despertando nos futuros docentes os valores de dignidade humana, respeito, tolerncia e cultura da paz.Assimsendo,educaremeparaosdireitoshumanosdeveseconstituirum dosfioscondutoresdoprincpiotico-polticoorientadordaprticapedaggica universitria, principalmente nos Cursos de Licenciaturas, por serem os cursos que estoemcontatopermanentecomodesenvolvimentoecomaaprendizagem humana.Para isso, o Plano Nacional de Educao em Direitos Humanos (PNEDH) traz paraoEnsinoSuperior,propostasdeaoquebuscamincluirasInstituiesde EnsinoSuperior(IES)naparticipaoeconstruodeumaculturadepromoo, defesaereparaodosdireitoshumanos,atravsdesuasatividadesdeensino, pesquisa e extenso. Visando incentivar a elaborao de metodologias pedaggicas deeducaoemdireitoshumanos,estabelecendopolticaseparmetrosparaa formaocontinuadadeprofessoresnosvriosnveisemodalidadesdeensino; apoiandoacriaoeofortalecimentodefruns,ncleos,comissesecentrosde pesquisa e extenso destinados promoo, defesa, proteo e estudo dos direitos humanos;implementandoprogramaseprojetosdeformaoecapacitaosobre educaoemdireitoshumanosparagestores,professores,servidores,corpo discente e comunidade local, dentre outras estratgias. Iniciativas que aos poucos esto se inserindo no contexto do ensino superior, ganhando forma, mas diante da diversidadedecontextosedasresponsabilidadesdasIESnaformaodos profissionaisdaeducao,emparticular,nota-sequetaisaesaindase encontramemprocessodeconstruo.Portantoabrircadavezmaisosespaos para a temtica Educao em Direitos Humanos se faz necessrio. PorseraInstituioSuperiorumespaodeformaoqueconsisteem preparar pessoas para se tornarem profissionais competentes que contribuiro com a sociedade atravs de sua atuao, torna-se, ento, tarefa da Universidade refletir acercadaimportnciadeumaformaoemDireitosHumanos,tendoemvista, especificamenteopapelsocialdaEducaoedoEducador,desenvolvendo processos educativos, respaldados na formao em direitos humanos.Piovesan(2006)apontaumavisocontemporneadosdireitoshumanos, alertandoparasuaunidadeindivisvel,interdependenteeinter-relacionada,daa necessidadedesuanoviolao,poisquandoumdireitoviolado,muitosoutros tambmoso.Dessaforma,quandoumapessoatemnegadooseudireito educao, conseqentemente ser impedida de efetivar outros direitos que lhe so associados.Eoeducadorqueteveumaformaopautadanosdireitoshumanos deveconsideraressedireitoeducaonumaformamultidimensional,ouseja,o direito a educar-se significa o direito a aprender, a ser sujeito histrico e crtico de suarealidade.Tendoemvistataisfatores,torna-serelevanteumtrabalhode formaoquepropicieumdespertardaconscinciacrticadoseducadores,tendo emvistaimpeli-losaumaprticadocenterespaldadanosdireitoshumanos, baseadanorespeitodignidadedoseducandos.OEnsinoSuperiorprecisa contribuir para essa formao, despertando o sujeito para uma conscincia crtico-ativa, visando contribuir para a construo de uma educao baseada no respeito diversidade, voltada para a paz e para a dignidade, ajudando a construir a postura do educador, que ter sua formao alicerada nos direitos humanos. Para isso, preciso que o futuro educador acredite na educao em direitos humanoseatorneumaprticacorriqueira,comoformadeexpressarcoerncia entrediscursoeatitude,revelandocomprometimentocomacausaquedefende, desenvolvendo, assim, uma viso e uma conscincia crtica da realidade, no intuito de formar sujeitos ativos e transformadores. Todavia, como formar em e para os direitos humanos se o futuro professor no possui ou no assume um compromisso em defesa dos direitos humanos? Segundo Candau (apud TAVARES, 2007, p. 496), umapropostametodolgicaaliceradanaperspectivadaformaoemdireitos humanosprecisariasefundarnaidiadequeaescoladeveriaexercerumpapel dehumanizaoapartirdasocializaoedaconstruodeconhecimentosede valores necessrios conquista do exerccio pleno da cidadania. Diantedessasperspectivas,aUniversidadenopodeseeximirdesuas responsabilidades e compromissos sociais, devendo, pois, viabilizar dentro de seus espaosinstitucionaiselegaisapromoo,avisibilidadeeoconhecimentoa respeito dos direitos humanos, suas etapas histricas, suas defesas e lutas. Educao em Direitos Humanos no Espao Escolar AEducaoemdireitoshumanosapesarde,nocontextobrasileiro, apresentarumamaiorinseronosespaosdeeducaono-formal,comonas associaes civis, nos movimentos sociais, no espao da educao formal, ou seja, na escola, tambm oportuniza condies favorveis disseminao de tais direitos. A escola, assim como a universidade, constitui-se em um espao de socializao de experincias,saberes,aprendizagens,cultura,diversidade,representandoassim um ambiente de afirmao da cidadania. Com efeito, a constituio de uma cultura baseadanorespeitoepromoodetaisdireitosabrangetemascomo:valores ticos,subjetividade,histriaconceitualeinstitucionaldosdireitoshumanos, pluralidade cultural e poltica, respeito diversidade, construo de dilogos inter-tnico e inter-religioso, entre outros. Fonte: g1.globo.com/Noticias/Vestibular/0,,MUL609164... Assim, tendo em vista a funo social que a escola assume e representa, faz-senecessriorepensaropapeldaeducaoescolaremsuasdiversasesferas,do nvelbsicoaosuperior,nodesenvolvimentodeumaeducaoemdireitos humanos,considerandoqueasuaorganizaononeutra,umavezquesua sistematizao, suas teorias e prticas pedaggicas esto norteadas por relaes de podererefletemocontextoscio-poltico-econmicoemqueseinserem.Dessa forma,deve-seredefiniroperfildaescolaqueassumeepromoveosdireitos humanos.oquenosafirmaSilva(apudTAVARES,2007,p.496),quando considera que necessria a construo de um projeto pedaggico democrtico e participativo,ondeaformaodosujeitopossaserassumidacoletivamente. Conformeaautoraumprojetodeescolaqueassumeocompromissodeuma formaoemdireitoshumanosdeveconsideraralgunselementos,como: cumprir, defato,seupapelefunosocial,adotaraeducaoemdireitoshumanoscomo umprojetoglobaldaescola,bemcomodauniversidade,estimularo desenvolvimentodaconscientizaodosdireitosedeverescomoumprocesso contnuo e permanente, concebendo a educao formal como essencial formao da cidadania. ConsiderandoqueaEducaoemdireitoshumanosacontecenasinmeras situaesdocotidiano,naescolaqueoeducandoencontraparadigmasque poderoinfluenci-loemsuaprticacidad.Portanto,odocentequeeducaeme para os direitos humanos, precisa apresentar uma conduta condizente entre teoria eprtica.Assim,umeducadoremdireitoshumanosnodevetercondutas autoritrias,antidemocrticas,quedesrespeitemapluralidadeeespecificidadede seuseducandos.Deveomesmoseraindacompromissadocomosdireitosque defendeedesenvolversuasprticaspedaggicasnorteadasportaisprincpios:a igualdade, aliberdade e fraternidade; pautando-se em pedagogias participativas e dialgicas,quegarantamdignidade,igualdadedeoportunidades,exerccioda participaoedaautonomia,estabelecendoainterdisciplinaridadeea transdisciplinaridadeentreoscontedos,fundamentando-senumaconcepo crtica da educao. Mas para que essas atitudes se concretizem na rotina escolar preciso que o professor tenha recebido uma formao voltada para tais prticas, o quecomprovaarelevnciadaabordagemqueaeducaoemdireitoshumanos dever obter durante o processo de formao de tais professores. Aofalarmosdeprticapedaggicaemdireitoshumanos,podemoscitar Magendzo(apudTAVARES,2007,p.488),quesugerealgunsprincpios relacionadosaosaspectosconceituaisdetaisprticas.Soeles:princpioda integrao,ondeoscontedosetemasdedireitoshumanosseintegramaos contedosdocurrculoedosprogramasdeestudo,emumprocessode interdisciplinaridade, caracterizando a formao do educador em direitos humanos, quedeverconhecerastemticasdosdireitoshumanos.Osegundoprincpio, denominadorecorrncia,fazrefernciavivnciadoquefoiensinado.Oterceiro princpio o da coerncia, ou seja, ter uma conduta calcada nos direitos humanos estabelecerumarelaodecoernciaentreteoriaeprtica.Ooutroprincpioo da construo coletiva, em que as pessoas so construtoras ativas das informaes que recebem. Por fim, temos o princpio da apropriao, uma espcie de recriao do discurso recebido de forma consciente e crtica.Dessamaneira,aformaodoeducadoremdireitoshumanosestenvolta porumaprticapedaggicacondizentecomumaeducaointerdisciplinar, fundamentadanorespeitoaoserhumano,utilizandoprticaseducacionais dialgicaseparticipativas,emqueavivnciadosdireitoshumanossetorneuma prticacotidiana,visandoproporcionarnoapenasosaberpedaggico,mas principalmente o saber experiencial. Amobilizaoglobalparaumaeducaoemdireitoshumanosnaesfera institucionalescolarimplicanaelaboraodepolticaspblicas,nointuitode conceb-la como Poltica de Estado, mediante a legalidade que lhe atribuda tanto nombitonacionalcomointernacional.MasparaqueaEducaoemDireitos Humanosseconcretizeempolticas,programaseaesprecisoqueelaseja assumidaportodos,umavezqueumdireitoedeverdetodosquecompema sociedade.Tendo em vista o carter de poltica pblica atribudo educao em direitos humanos e a funo social dada escola e universidade, promover uma educao orientadaparaosdireitoshumanos,sobretudo,despertaracomunidade acadmica para uma educao que prioriza o ser humano em sua dignidade, e que se alicera nos princpios de igualdade, liberdade, respeito diversidade, tolerncia. Nessesentido,oprocessodeefetivaodosdireitos,partedaconscientizaode seusatoressociais,edesuaformaoeaotransformadoraeemancipatria, visandoofortalecimentodoEstadoDemocrticodeDireito,quedeveser estimulado pela Educao em todos seus nveis e modalidades de ensino.Comoexemplodessedespertardauniversidadeedoseducadoresem formaoparaumaeducaonorteadapelosdireitoshumanos,pode-secitaro Projeto(emdesenvolvimento)EducandoJovenseAdultosemDireitosHumanos: umaPropostadeIntervenonaEscolaPblica,doProgramadeLicenciaturas- PROLICEN,daUniversidadeFederaldaParaba,oqualfoielaboradonointuitode promoverprocessoseducativosnaformaodosgraduandosdePedagogia,bem como possibilitar a troca de experincias da educao em direitos humanos com os educandos da Educao de Jovens e Adultos (EJA), de uma escola da rede pblica de ensino municipal da cidade de Joo Pessoa. 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