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O CURRÍCULO E SEUS ENTRAVES
Kátia Saone Santos Araújo
RESUMO
O currículo é o enfoque principal da educação. Seu caráter é socializador, onde repercutem os interesses sociais e políticos. Relacionar as mudanças ao universo escolar é sustentar a funcionalidade da escola. Ao contextualizá-lo deve se ter claro que esse instrumento é cultural e social, onde se alicerça a vida social e democrática do país, visto que a formação real deve ser sustentada por todos os envolvidos com o fazer educação, como: A Sociedade, as políticas, a escola, o professor e o aluno.
PALAVRAS CHAVES: CURRÍCULO, EDUCAÇÃO e CULTURA.
INTRODUÇÃO
A educação atual passa por inúmeros entraves. Vários aspectos são pensados e
analisados em prol da qualidade de ensino, porém o que se identifica como elemento
chave nesta complexidade são as características curriculares e o seu funcionamento.
O currículo é um instrumento de função socializador, um elemento imprescindível à
prática pedagógica, pois ele está estritamente ligado às variações dos conteúdos, a
sociedade a profissionalização dos docentes.
A educação tem poder ímpar na sociedade, através dela é que o conhecimento é
distribuído e o currículo passa a ser considerado como um veículo de interesses sociais
que concordam com valores e crenças dos grupos dominantes.
O currículo é o enfoque principal da educação, pois é só através dele que acontecem os
processos de mudanças. O mundo está em movimento acelerado de transformações e a
escola, como veículo socializador, deve oferecer um currículo que acompanhe essas
mudanças para que não se torne algo obsoleto, sem funcionalidade quando
relacionarmos com outras instâncias de informações tão próximas e tão presentes na
vida da humanidade.
Professora de Educação Regular e Especial. Licenciada em Normal Superior. Aluna Especial do Mestrado em Educação e Contemporaneidade da Universidade Estadual da Bahia.
Com o propósito desmistificar a dicotomia entre o fazer e executar o currículo é que
busquei suporte teórico para aprofundar meus conhecimentos nesta área tão importante
da educação, visando identificar os fatores que compõe essas discussões.
Para legitimar meus questionamentos realizei estudos baseados, em Sacristan (2000),
Grundy (1987), Perrenoud (2000), Rule (1973), Moreira (2003), Gadotti (2000), Vieira
(2002), UNESCO (1999), Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, LDB (1996),
Vasconcelos (1995), Zabala (1998), Tommasi (2003), Demo (1993) e Pimenta (2002),
sendo eles agentes importantes em clarificar minhas dúvidas e anseios referentes a esse
assunto.
O currículo
Ao relacionar mudanças e transformações ao contexto escolar estamos analisando os
aspectos reais e criando hipóteses de solucionar ou interpretar o mundo moderno e a
escola.
É nessa perspectiva que propomos uma análise da realidade escolar atual, tal como se dá
o processo educacional e a relação que se deve estabelecer entre responsabilidade social
e o papel da escola, pois o currículo nos níveis de educação obrigatório, pretende
refletir o esquema socializador formativo e cultural que a instituição escolar tem.
Sacristan (2000).
Para se ter claro o “x” da questão é necessário esclarecer o conceito de currículo e só
então relacionar seus problemas aos fatores reais e atuais da educação.
Muitos teóricos se assemelham, outros divergem quando se conceitua o currículo,
porém o que se percebe é que esta discussão no âmbito pedagógico é muito recente:
Normalmente atribuímos essa problemática aos comportamentos didáticos, políticos,
administrativos e econômicos, mas todos esses aspectos estão ligados entre si e todos
são responsáveis por essa construção e disseminação, porém é necessário um olhar
minucioso no que se refere à prática curricular e a complexidade em que ela está
envolvida, pois o fazer pedagógico deve ter a excelência das mudanças e
transformações sócias.
Grundy (1987) apud Sacristan (2000) analiza-o como:
O currículo não é um conceito, mas uma construção cultural. Isto é, não se trata de um conceito abstrato que tenha algum tipo de existência fora e previamente à experiência humana. É, antes, um modo de organizar uma série de práticas educativas.
O currículo não pode ser associado a apenas um documento didático, seu aspecto é bem
maior e abrange uma gama de caracteres do âmbito educacional e social
simultaneamente, essa relação significa uma organização das experiências humanas em
prol da prática educativa, porém seu conceito abrange diversos seguimentos da
educação.
De acordo com a expressão de Grundy (1987), o currículo não pode estar fora e nem
prévios as experiências humanas. É o que nos faz pensar em como acontece o processo
ensino aprendizagem? E como se relacionam os envolvidos nesta perspectiva de
educação?
O desenvolvimento curricular nas escolas não corresponde ao que é necessário e nem
atrativo para o sistema educacional atual, visto que as mudanças ocorridas são muitas e
as escolas não acompanham essa evolução.
O desenvolvimento científico e tecnológico é visível. É necessário que a escola repense
sobre a sua função e como se processa dentro desse contexto atual. Pois o mito que a
escola era única fonte de conhecimento e de cultura já está ultrapassado. È lamentável
que as aprendizagens escolares continuam sendo dissociadas da aprendizagem
experiencial dos alunos, pois essas experiências são recursos de libertação e de
conscientização crítica. Para Sacristan (2000) esse distanciamento se deve à própria
seleção de conteúdos dentro do currículo e a ritualização dos procedimentos escolares,
esclerosados na atualidade.
É necessário que a escola torne-se aliada desse desenvolvimento realizando uma
educação completa aos atrativos sociais, evitando que aconteça a famosa escolaridade
paralela, tão freqüente nas classes média e alta dos ambientes urbanos. Essa dissociação
entre a cultura curricular e os meios externos vão deixando a primeira mais absoleta,
ocasionando conseqüências visíveis aos grupos de alunos, pois ao analisarmos as causas
do fracasso escolar percebemos que um dos principais motivos do desinteresse dos
alunos é a falta de atrativo do sistema educacional.
Mas Perrenoud, em seu livro Pedagogia da Diferença (2000), constata o fracasso
escolar como um dueto entre as desigualdades reais de capital cultural e as hierarquias
de excelência. Essa forma de analisar o fracasso escolar, na visão de Perrenoud,
demonstra a falta de oportunidade de alguns (quase todos), em usufruir da educação.
Porém acredito que essa dominância do saber deve ser derrubada, pois já basta essa
sociedade excludente de oportunidades e de perspectivas futuras, é necessário acabar
com esse quadro vergonhoso, a escola deve conscientizar-se do seu papel e analisar
quais são os entraves e as formas de modificar essa realidade tão enraizada na educação
brasileira.
Desta forma, ainda especifico o currículo como a principal diretriz para o quadro
educacional e atribuo a ele os méritos e os fracassos da educação, pois um currículo
onde se focaliza um olhar à singularidade, que assume sua função socializadora, onde o
principal objetivo é o compromisso o fazer pedagógico, esse sim, refere-se ao currículo
real. Mas, a visão que prolifera é de currículo como grade curricular, ou seja, um
agrupamento de assuntos a serem desenvolvidos durantes alguns anos de uma série
determinada, sem dar valor ou significado ao que se deve ser aprendido e sem nenhum
compromisso com o fazer social.
Rule (1973), define o currículo como experiências humanas organizadas para a prática
educativa e que se diferenciam através dos objetivos e da forma expressada no
programa da escola.
Desta forma, compreender o currículo através das sistematizações das experiências dos
alunos significa relacioná-lo à tradição cultural, a reflexão do contexto social, pois esse
mecanismo de aprendizagem distribui o conhecimento concreto, real e crítico, fazendo
com que os alunos tornem-se agentes construtores do processo.
O currículo está basicamente ligado ao contexto educacional, mas para compreender seu
significado deve-se conhecer as estruturas internas, Sacristan (2000), que estão ligadas
ao enquadramento político, à divisão de decisão, ao planejamento, a tradução de
materiais, ao manejo por parte do professorando das tarefas de aprendizagem e a
avaliação dos resultados.
POLÍTICA CURRICULAR
Ao que no referimos quando falamos em política curricular?
Este é um aspecto especifico da política educativa que estabelece a forma de selecionar, ordenar e mudar o currículo dentro do sistema educativo, tornado claro o poder e a autonomia que diferentes agentes têm sobre ele, intervindo, dessa forma, na distribuição do conhecimento dentro do sistema escolar e iniciando na prática educativa, enquanto apresenta o currículo seus consumidores, ordenam seus conteúdos e códigos de diferentes tipos. (SACRISTAN, 2000; p 109).
A política é responsável por selecionar, ordenar e mudar o currículo, este trecho da
citação de Sacristan (2000), deixa a reflexão sobre o quê e quem estabelece interesses
pelo contexto educacional, já que veículo passa por instâncias administrativas que
regulam e condicionam o sistema curricular.
Quando a escola utiliza o currículo através das prescrições política está
homogeneizando a aprendizagem, executá-lo desta maneira deixa de ser uma
sistematização de experiência para se torna uma forma empírica de educação,
deformando toda a idéia central que o currículo é um instrumento significativo para
desenvolver os processos de conservação, transformação e renovação dos
conhecimentos, Moreira (2003).
Sabe-se que a política administrativa interfere na política curricular, pois a relação entre
ambas é alicerçada nos interesses próprios de cada uma, estabelecendo mecanismo para
homogeneizar informações e condicionar conteúdos que favoreça a instância mais
importante. Porém, não se pode separar uma da outra, o ideal seria que a política
administrativa exercesse a função de reguladora do sistema curricular, ou seja,
assumiria a função de criar dispositivos para uma organização de conteúdos,
relacionando a cultura aos saberes específicos de cada grupo.
No Brasil, a realidade é ainda muito diferente, pois a alienação social e o
“descompromisso” diante da educação, Godotti (2000), é um fato. Ficando para poucos,
o que seria de todos. Só se sabe o que é educação quem constrói educação. O ideal seria
que todos estivessem comprometidos em prol de um objetivo único, ou seja, a
valorização da educação, assegurando assim, o direito a um diferencial educacional,
tornando esse contexto um veículo para a ascensão social.
GESTÃO PARTICIPATIVA
A educação numa perspectiva de mudança curricular envolve todos os grupos sociais.
Paulo Freire em uma das mais conceituadas citações, “Ninguém educa ninguém.
Ninguém se educa sozinho. Os homens se educam em comunhão, mediados pelo
mundo”, destaca a importância do meio como estratégia de aprendizagem. Desta forma
vale analisar o funcionamento da escola e os aspectos sociais que a envolve.
No livro Gestão da Escola, Desafios a Enfrentar, Vieira (2002) aborda a educação
contemporânea e os aspectos que influenciaram esse sistema. Dos fatores destacados um
é bastante pertinente para a reflexão de que a escola por si só não garante os desafios
modernos. Vieira (2002) transferiu de forma grandiosa a responsabilidade dos pilares
da educação ao sistema de gestão da escola, ou seja, aprender a conhecer, aprender a
fazer aprender a conviver e aprender as ser (UNESCO 1999), não é função apenas do
sistema escolar como um todo, mas competências a serem conquistada pelo gestor
educacional.
1. Aprender a conhecer o mundo contemporâneo e relacioná-lo com as demandas
de cada escola (sua clientela - seus sonhos, suas necessidades, seus direitos –
seus profissionais, sua vizinhança, suas condições etc.);
2. Aprender a planejar e fazer (construir, realizar) a escola que se quer (o seu
projeto pedagógico);
3. Aprender a conviver com tantas diferentes pessoas, definindo e partilhando com
elas o projeto da escola;
4. Aprender a utilizar, sem medos, as próprias potencialidades de crescimento e
formação contínua.
O mundo está em processo de transformações contínuas. As mudanças ocorridas na
sociedade devem estar conectadas com a escola, pois a função da mesma é possibilitar o
crescimento intelectual, crítico e participativo dos cidadãos, sendo ela o melhor meio
para disseminar essa cultura. Desta forma, é necessário que a mesma reveja os seus
conceitos, assim como seu processo.
Se a escola tem como objetivo uma formação democrática ela deve ter uma prática
democrática, ou seja, o conhecimento deve expandir os muros da escola, e desarticular o
que temos hoje, herança da cultura da educação tradicional, onde a prática educativa
baseava-se na transmissão e na assimilação dos conteúdos pré-estabelecidos de um
currículo muito convencional.
Vivemos ainda na marca do tradicionalismo, onde um sabe e o outro aprende do que
sabe, não há integração nem reformulação, há sim uma transmissão. Essa prática
circunda todo universo escolar. Um ensina e o outro aprende, um manda e o outro
obedece. Se procurarmos rever essa prática teremos que mudar a postura, e uma das
formas para que isso aconteça é a delegação de atividades e a descentralização do
comando. A escola não está disposta a um único sistema, a escola é de todos e para
todos (UNESCO). A escola por si, não resolve a questão curricular, mas ela e seus
agentes internos (gestão, professores e alunos) são fatores imprescindíveis para o seu
desenvolvimento.
Um sistema único e descentralizado supõe objetivos e metas
educacionais claramente estabelecidos entre a escola e o governo,
visando a democratização do acesso e da gestão e a construção de uma
nova qualidade de ensino, fundada nas necessidades básicas de
aprendizagem da comunidade. (GODOTTI, 2000; p 51).
A hierarquia do poder é algo forte que mexe com as estruturas internas do coletivo,
como já citado, somos sustentados pela prática da obediência, desta forma o universo
escolar torna-se um espaço complexo no que se refere ao comando, não somos educados
para dividirmos soluções, e sim de aceitá-las ou discordá-la alicerçando a cultura do
falar mal do sistema. Infelizmente ainda há necessidades de mudanças. Mudanças essas
que passam além do universo da escola. Para que isso aconteça é necessário uma
reformulação na capacitação do gestor, onde se torne claro que o seu papel é de
organizador de um sistema onde todos são participantes ativos na busca de um objetivo
único, a educação.
Durante muito tempo, o gestor escolar deveria ter apenas a competências de resolver
problemas burocráticos, como organizar orçamentos, calendários, vagas entre outros,
porém a escola urge por muito mais, ela não se vale apenas disso. O gestor educacional
ainda possuindo tais competências precisa assumir uma postura de líder, ou seja, ser
capaz de entender todas as instâncias da educação exercendo sua função de
administrador cumprido com os prazos e metas, compreendendo e qualificando o fazer
pedagógico, e envolvendo a comunidade no processo escolar, tornando a escola um
agente social.
Visto que a LDB/96 aprova no art. 3º uma gestão democrática, e o grau de
complexidade que envolve essa demanda, é que torna-se necessário o gestor estar
próximo da comunidade, percebendo suas necessidades e fazendo da escola um local
para um ideal de transformação.
PLANEJAMENTO
Toda organização é fundamental, o ato de planejar é algo constante em nossas vidas,
pois a todo tempo estamos planejando ou organizando uma ação. Mas para escola o
planejamento tem um valor fundamental ele circunda todas as instâncias da educação,
ou seja, se planeja a escola pra se planejar a aula. Vasconcelos (1995), confirma essa
hipótese quando diz que o planejamento é o processo de tomada de decisões sobre a
dinâmica da ação escolar. É previsão sistemática e ordenada de toda a vida escolar do
aluno.
Organizar o currículo é atribuir sentido para uma nova prática, ou seja, é possibilitar
uma operação entre a intenção e a ação.
O plano curricular é forma de executar o que foi idealizado é atribuir sentido ao projeto
pedagógico, pois a escola se assume em sua ação no fazer educação.
A construção do planejamento curricular está ligada à forma em que ele será executado,
muitas vezes ficando por conta da política que o prescreveu ou então dos fabricantes de
livros didáticos que lhe construiu. Desta forma, a escola é apenas um executor de uma
receita pronta, é disseminadora de uma cultura local que muitas vezes não é a real.
Uma educação voltada para uma intencionalidade tem que haver uma organização mais
substancial na construção do currículo. Favorecendo um plano em que o currículo seja
significativo para os alunos.
Ao desprezar a visão tradicional do currículo como organizador de conteúdo, e reavaliar
o conceito do mesmo atribuindo seu significado como projeto educativo a ser construído
com base nas necessidades de um grupo e na sistematização de conceitos próprios, é
estamos dando a aprendizagem uma forma real e significativa para seus educandos.
Os professores são mediadores entre o currículo e os alunos, nesta perspectiva o
planejamento da prática deve envolver singularidades dos alunos e os aspectos culturais
e sociais do meio em que ele faz parte, pois planejar está além de atender os objetivos e
conteúdos do currículo, Sacristan (2000), tornando assim o contexto de sala de aula um
ambiente em que a aprendizagem ocorra de acordo com os ideais da realidade.
Zabala (1998), ao se referir ao fazer pedagógico, no seu livro Prática Educativa, ele não
descarta a possibilidade de utilização dos materiais curriculares e sim uma reavaliação
dos mesmos em função da demanda escolar.
Os materiais curriculares, como variável metodológica, seguidamente são menosprezados, apesar de este menosprezo ser coerente, dada à importância real em que tem estes materiais. (ZABALA, pg. 167, 1998).
Neste trecho, Zavala (1998) deixa claro que os materiais curriculares são fontes para os
professores, mas no próximo seguimento ele justifica que os mesmo se não forem
utilizados de forma adequada pode ditar convenções e regras determinadas por uma
visão unilateral e até mesma estereotipada de uma realidade dita convencional.
O projeto pedagógico muitas vezes é confundido como plano, não que nele seja
descartado as metas e os procedimentos, mas que nele abranja outras demandas da
escola, Gadotti (2000), conceitua o projeto pedagógico como o confronto entre
instituído e o instituinte, ou seja, a escola não deve negar ao instituído a sua história, a
sua vivência e sim relacioná-la com o contexto educacional tornando o sujeito da sua
aprendizagem.
É nesta perspectiva que se torna essencial o papel do gestor e seu envolvimento com a
diversidade, pois só através dessa relação é que ele torna-se apto para construir um
verdadeiro projeto pedagógico valorizando as diferenças e especificidades do seu
sistema educativo.
A escola não tem um fim em si mesma. Ela esta a serviço da comunidade. Gadotti
(2000), desta forma torna se claro o papel da escola e a função do gestor no que se
refere em tornar a escola um objeto de sistematização das necessidades sociais e a
melhor forma pra conhecer estas necessidades e proporcionando uma relação mútua
entre a escola e os seus envolvidos (alunos, pais, professores, comunidade), tornando
todos participantes nesta construção.
O envolvimento da comunidade na escola não deve se limitar a reuniões periódicas para
transmissão de informações e sim na participação ativa das tomadas de decisões,
elaborando uma consciência crítica, criativa e autônoma na construção do projeto
pedagógico.
O gestor deve ter a consciência da capacidade funcional dos seus atores e através deles
criar projetos ousados em prol do crescimento da sua comunidade, ou seja, a formação é
necessária e a valorização dos seus componentes também. Desta forma, a escola se
tornará espaço onde se construa saber e que se prolifere a ação comunitária.
RECURSOS
Os recursos didáticos são fontes fundamentais na elaboração e na execução do
currículo, seu caráter muitas vezes chega a determinar, ditar e conduzir a ação do
professor. Porém não se pode desprezar o valor dos recursos em prol da aprendizagem,
pois a existência de tais meios favorece, ampliam e veiculam as tomadas de decisões na
escola.
Para se ter claro à importância deste aspecto Zabala (1998), conceitua os recursos
didáticos como:
Os materiais curriculares ou materiais de desenvolvimento curricular são
todos aqueles instrumentos que proporcionam ao educador referências e
critérios parar tomar decisões, tanto no planejamento com na intervenção
direta no processo de ensino/aprendizagem e em sua avaliação. (1998
pg.167).
O autor evidência neste trecho a importância dos recursos como instrumento para
tomadas de decisão, tornando este aspecto fundamental para o desenvolvimento
curricular, mas o que proponho é uma reflexão sobre os aspectos dominantes dos
recursos.
Um dos maiores entraves do currículo é torná-lo significativo e ao mesmo tempo
atraente para os alunos, ou seja, vivemos hoje rodeados por uma infinidade de recursos.
A todo tempo estamos em contato com informações, e estas são transmitidas de
diferentes formas, tornando a escola e seu conteúdo obsoleto para as pretensões dos
alunos.
Desta forma caracterizo a utilização dos recursos como algo imprescindível para
educação, pois se tomarmos como premissa que a educação se constrói a todo instante,
teremos a confirmação que a todo o momento estamos passando por construção ou por
uma resignificação de conceitos, podendo este acontecer de forma determinada ou não.
Infelizmente, a realidade atual da educação brasileira deixa a desejar tanto no seu
funcionamento quanto na sua execução, desta forma possibilitar a educação um
currículo compatível com as mudanças sociais é mesmo que proporcionar recursos
compatíveis para seu desenvolvimento, pois a educação não se faz apenas com
transmissão.
É percebível a dificuldade das escolas em ter acesso aos recursos pedagógicos primários
para o desenvolvimento da prática educativa, mas é necessário que a mesma identifique
no social os caracteres importantes para seu funcionamento, assim como é fundamental
que as políticas públicas disponibilizem recursos para sua aquisição e expansão nas
escolas.
Tendo em vista a dificuldade que o sistema educacional enfrenta é que se faz necessário
uma análise sobre como se desenvolve a política educacional perante a aquisição dos
materiais didáticos.
As políticas públicas têm a consciência que a educação é um instrumento fundamental
para o desenvolvimento econômico do país desta forma estabelecer subsídios para esse
desenvolvimento é promover a redução da pobreza. Sabendo que a educação se faz
mola mestre na economia do país é que investidores como o Banco Mundial,
possibilitam meios como estratégia de custo beneficio.
A educação básica proporciona o conhecimento, as habilidades e as
atitudes essenciais para funcionar de maneira efetiva na sociedade sendo,
portanto, uma prioridade em todo lugar. (BANCO MUNDIAL apud
TOMMASI, 2003, pg. 131).
Como o BM tem interesse em aumentar a qualidade educacional valorizando esse
aspecto como subsidio para o desenvolvimento social, disponibiliza recursos através de
financiamentos de projetos que acumulam cerca 250 bilhões de dólares Soares (2003),o
propósito deste, é impulsionar as mudanças necessária na alocação dos recursos,
definindo como ações prioritária para mudanças significativa no âmbito educacional.
Uma das principais medidas é Providenciar livros didáticos e outros materiais de ensino
(livros de leitura, jogos e brinquedo pedagógico), Tommasi (2003).
A disponibilização de tais recursos é fundamental para o desenvolvimento do currículo,
visto que, o BM definiu a melhoria dele como frente de trabalho no setor da educação
primaria Tommasi (2003), porém acredito que um se relaciona com o desenvolvimento
do outro, apesar da preocupação central estar na aquisição dos livros didáticos,
compreendo a necessidade dos recursos ultrapassarem as fronteiras dos livros, não
desmerecendo sua necessidade, mas compreendendo que apenas eles não satisfazem as
mudanças necessárias na educação.
O livro didático alicerça uma cultura educacional, assim como o currículo como todo,
pois alguns profissionais conceituam o currículo apenas como aglomerados de
conteúdos ou conceitos a serem seguidos e estes muitas vezes ditam ou determinam.
FORMAÇÃO DE PROFESSOR
O professor como executor do currículo escolar, torna-se elemento chave para o
desenvolvimento do mesmo, pois através da prática docente é que se atribui
significância ao currículo escolar.
Sabendo que, o currículo não se determina como um programa de ensino e que a sua
execução se faz em um ambiente repleto de subjetividade e complexidade é que se torna
necessário uma avaliação sobre como se baseia e se executa a prática pedagógica.
Autores como Demo (1993), Sacristan (2000), Perround (2000), Gadotti (2000) e
Pimenta (2002), evidenciam em suas obras a importância da formação do professor,
destacando unanimamente que o professor não é apenas um executor do currículo como
ferramenta e sim um construtor deste subsídio, que baseia a educação.
Ao analisar a importância do professor e da sua formação Demo (1993), caracteriza
atuação como algo insubstituível, porém ele compreende o professor como um
pesquisador, onde a sua meta é de ser mestre e jamais discípulo, desta forma ele
evidencia o valor do mesmo e da sua formação, pois nada mais essencial que o
professor estabelecer uma crítica perante o regime e a sua atuação educacional.
Sabe-se que a evolução e a transmissão dos conhecimentos se propagam velozmente e
que a formação do professor não dá conta dessa demanda, as exigências perante a ação
educacional são grandes. O professor como pesquisador é fundamental, porém acredito
que é necessário possibilitar a construção de um currículo renovador, onde tanto o
professor quanto o aluno possa ser o mediador desta construção, Pimenta (2002)
confirma essa hipótese referindo-se que a formação inicial, por melhor que seja não dá
conta de colocar o professor a altura desta responsabilidade através de seu trabalho,
assim como das novas necessidades que lhe são exigidas para melhorar a qualidade
social de escolarização. Desta forma evidencia uma das competências descrita por
Perrenoud (2000), que é o professor administrar sua própria formação contínua.
Para Sacristan (2000):
A formação do professor não costuma ser das mais adequada quanto ao nível e a qualidade para que estes possam abordar com autonomia o plano de sua própria prática. Com certeza porque tecnicamente não esteja bem estruturada e desenvolvida, mas talvez também parta do pressuposto que tal competência possa ser substituída por outros meios.
Essa citação deixa a ambivalência sobre o seu sentido, pois o professor como autônomo
desenvolve sua prática significativa, apesar da sua formação não possibilitar subsídios e
competências para isto, ele como participante da ação curricular tem o dever torná-lo
com a prática, baseada ação cultural e social. Mas ao mesmo tempo Sacristan (2000),
desresponsabiliza o professor de tal atuação confirmando a teoria que a aprendizagem
pode e deve acontecer em diferentes ambientes.
CONCLUSÃO
Visto que análise curricular envolve as instâncias sociais é que se torna claro a
importância do mesmo com o veículo de transformação.
Não se constrói currículo entre os muros da escola, sua formação vem de todo contexto
social e real dos envolvidos. Não se pode pensar em currículo se não avaliar a sua
sustentação teórica e sua execução. É necessário vencermos a idéia que o currículo se
entende como conteúdos a serem seguidos, pois de acordo como os números estatísticos
o Fracasso Escolar é real e significativo e o motivo desses dados é funcionabilidade da
escola.
Sabe se que a política educacional tem um valor significativo no que se refere à
construção do currículo, mas é necessário que as escolas tais como seu funcionamento
não tome com isto como receita a ser cumprida, pois a mesma refere-se a currículo
como estratégia de ação deixando as escolas responsáveis pela construção do seu
currículo e conseqüentemente do projeto pedagógico.
As bases curriculares são: a sociedade, as políticas, a escola, o professor e o aluno. Se
não houver organização e relação desses critérios não haverá educação, pois os mesmos
se tornam coadjuvantes neste processo.
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