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    CURRCULODO ESTADO DE SO PAULO

    EnSinO

    FUn

    DAmEnTALC

    iCLO

    iiEEn

    SinO

    mDiO

    ESUAST

    ECNOLOGIAS

    CINCIAS

    HUMA

    NAS

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    S239c So Paulo (Estado) Secretaria da Educao.

    Currculo do Estado de So Paulo: Cincias Humanas e suas tecnologias /Secretaria da Educao; coordenao geral, Maria Ins Fini; coordenao de rea,Paulo Miceli. So Paulo : SEE, 2010.

    ISBN 978-85-7849-452-0

    1. Ensino de flosofa 2. Ensino de geografa 3. Ensino de histria 4. Ensino desociologia 5. Ensino undamental 6. Ensino mdio 7. Contedos curriculares8. Estudo e ensino 9. So Paulo I. Fini, Maria Ins. II. Miceli, Paulo. III. Ttulo.

    CDU: 373.3/.512.14:1+316+9(815.6)

    A Secretaria da Educao do Estado de So Paulo autoriza a reproduo do contedo do materialde sua titularidade pelas demais secretarias de educao do pas, desde que mantida a integrida-de da obra e dos crditos, ressaltando que direitos autorais protegidos* devero ser diretamentenegociados com seus prprios titulares, sob pena de inrao aos artigos da Lei no 9.610/98.

    * Constituem direitos autorais protegidos todas e quaisquer obras de terceiros reproduzidas no material daSEE-SP que no estejam em domnio pblico nos termos do artigo 41 da Lei de Direitos Autorais.

    GovernadorAlberto Goldman

    Secretrio da EducaoPaulo Renato Souza

    Secretrio-Adjunto

    Guilherme Bueno de Camargo

    Chee de GabineteFernando Padula

    Coordenadora de Estudos e NormasPedaggicasValria de Souza

    Coordenador de Ensino da RegioMetropolitana da Grande So Paulo

    Jos Benedito de Oliveira

    Coordenador de Ensino do InteriorRubens Antonio Mandetta

    Diretora da Escola de Formao eApereioamento dos Proessores doEstado de So PauloVera Lcia Cabral Costa

    Presidente da Fundao para o

    Desenvolvimento da Educao FDE

    Fbio Bonini Simes de Lima

    EXECUOCoordenao Geral

    Maria Ins Fini

    Concepo

    Guiomar Namo de Mello

    Lino de Macedo

    Luis Carlos de Menezes

    Maria Ins Fini

    Ruy Berger (em memria)

    GESTO

    Fundao Carlos Alberto Vanzolini

    Presidente da Diretoria Executiva:Antonio Raael Namur Muscat

    Diretor de Gesto de Tecnologias aplicadas Educao:Guilherme Ary Plonski

    Coordenadoras Executivas de Projetos:Beatriz Scavazza e Angela Sprenger

    COORDENAO TCNICA

    CENP Coordenadoria de Estudos e NormasPedaggicas

    Coordenao do Desenvolvimento dos

    Contedos Programticos e dos Cadernos dosProfessores e dos Alunos

    Ghisleine Trigo Silveira

    AUTORESCincias Humanas e suas Tecnologias

    Coordenador de rea: Paulo Miceli

    Filosofa: Paulo Miceli, Luiza Christov, Adilton Lus

    Martins e Ren Jos Trentin Silveira

    Geografa: Angela Corra da Silva, Jaime Tadeu

    Oliva, Raul Borges Guimares, Regina Araujo e

    Srgio Adas

    Histria: Paulo Miceli, Diego Lpez Silva,

    Glaydson Jos da Silva, Mnica Lungov Bugelli

    e Raquel dos Santos Funari

    Sociologia: Heloisa Helena Teixeira de Souza

    Martins, Marcelo Santos Masset Lacombe,

    Melissa de Mattos Pimenta e Stella Christina

    Schrijnemaekers

    Cincias da Natureza e suas Tecnologias

    Coordenador de rea: Luis Carlos de Menezes

    Biologia: Ghisleine Trigo Silveira, Fabola Bovo

    Mendona, Felipe Bandoni de Oliveira, Lucilene

    Aparecida Esperante Limp, Maria Augusta

    Querubim Rodrigues Pereira, Olga Aguilar

    Santana, Paulo Roberto da Cunha, Rodrigo

    Venturoso Mendes da Silveira e Solange Soares

    de Camargo

    Cincias: Ghisleine Trigo Silveira, Cristina Leite,

    Joo Carlos Miguel Tomaz Micheletti Neto,

    Julio Czar Foschini Lisba, Lucilene Aparecida

    Esperante Limp, Mara Batistoni e Silva, Maria

    Augusta Querubim Rodrigues Pereira, Paulo

    Rogrio Miranda Correia, Renata Alves Ribeiro,

    Ricardo Rechi Aguiar, Rosana dos Santos Jordo,

    Simone Jaconetti Ydi e Yassuko Hosoume

    Fsica: Luis Carlos de Menezes, Estevam Rouxinol,

    Guilherme Brockington, Iv Gurgel, Lus Paulode Carvalho Piassi, Marcelo de Carvalho Bonetti,

    Maurcio Pietrocola Pinto de Oliveira, Maxwell

    Roger da Purifcao Siqueira, Sonia Salem e

    Yassuko Hosoume

    Qumica: Maria Eunice Ribeiro Marcondes, Denilse

    Morais Zambom, Fabio Luiz de Souza, Hebe

    Ribeiro da Cruz Peixoto, Isis Valena de Sousa

    Santos, Luciane Hiromi Akahoshi, Maria Fernanda

    Penteado Lamas e Yvone Mussa Esperidio

    Linguagens, Cdigos e suas TecnologiasCoordenador de rea: Alice Vieira

    Arte: Gisa Picosque, Mirian Celeste Martins,Geraldo de Oliveira Suzigan, Jssica Mami Makinoe Sayonara Pereira

    Educao Fsica: Adalberto dos Santos Souza,Carla de Meira Leite, Jocimar Daolio, LucianaVenncio, Luiz Sanches Neto, Mauro Betti, RenataElsa Stark e Srgio Roberto Silveira

    LEM Ingls: Adriana Ranelli Weigel Borges,Alzira da Silva Shimoura, Lvia de Arajo DonniniRodrigues, Priscila Mayumi Hayama e SueliSalles Fidalgo

    Lngua Portuguesa: Alice Vieira, Dbora MalletPezarim de Angelo, Eliane Aparecida de Aguiar,Jos Lus Marques Lpez Landeira e Joo HenriqueNogueira Mateos

    Matemtica e suas TecnologiasCoordenador de rea: Nlson Jos Machado

    Matemtica: Nlson Jos Machado, CarlosEduardo de Souza Campos Granja, Jos LuizPastore Mello, Roberto Perides Moiss, RogrioFerreira da Fonseca, Ruy Csar Pietropaolo eWalter Spinelli

    Caderno do Gestor

    Lino de Macedo, Maria Eliza Fini e Zuleika deFelice Murrie

    EqUIPE DE PRODUOCoordenao Executiva: Beatriz Scavazza

    Assessores: Alex Barros, Beatriz Blay, Carla CristinaReinaldo Gimenes de Sena, Eliane Yambanis,Heloisa Amaral Dias de Oliveira, Ivani MartinsGualda, Jos Carlos Augusto, Luiza Christov, MariaEloisa Pires Tavares, Paulo Eduardo Mendes, PauloRoberto da Cunha, Ruy Csar Pietropaolo, SolangeWagner Locatelli

    EqUIPE EDITORIALCoordenao Executiva: Angela Sprenger

    Assessores: Denise Blanes e Luis Mrcio Barbosa

    Editores: Ghisleine Trigo Silveira e Zuleika de

    Felice MurrieEdio e Produo Editorial: Conexo Editorial,Buscato Inormao Corporativa e Occy Design(projeto grfco)

    APOIOFDE Fundao para o Desenvolvimento daEducao

    CTP, Impresso e Acabamento

    Esdeva Indstria Grfca

    Catalogao na Fonte: Centro de Reerncia em Educao Mario Covas

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    Carta doSecretrio

    Senhores proessores e gestores,

    Com muita satisao, apresentamos a verso defnitiva dos textos-base do

    Currculo da Secretaria da Educao para o Ensino Fundamental Ciclo II e o Ensino

    Mdio da rede pblica do Estado de So Paulo.

    Acompanhamos atentamente a construo destes textos desde sua criao na

    orma de proposta e de dilogos estabelecidos com proessores e especialistas durante

    o ano de sua implantao para as crticas e sugestes de complementao at esta

    ase fnal de reestruturao, que incorpora as excelentes contribuies dos profssionais

    de nossa rede.

    Estes documentos, que do origem aos Cadernos do Proessor, do Aluno e do

    Gestor, so as reerncias essenciais para o estabelecimento das matrizes de avaliao

    do Sistema de Avaliao de Rendimento Escolar do Estado de So Paulo (Saresp), dos

    programas de reoro e recuperao e dos cursos de ormao continuada de nossa

    Escola de Formao de Proessores.

    Desejamos que estes materiais sejam preciosos tambm para cada uma das

    escolas, tanto para a construo de suas propostas pedaggicas como para apoio aos

    proessores, gestores, especialistas e amlias para reafrmar publicamente o compro-

    misso do Governo do Estado de So Paulo com a busca de mais qualidade na educao

    de nossas crianas e nossos jovens.

    Paulo Renato SouzaSecretrio da Educao do Estado de So Paulo

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    Prezados proessores e gestores,

    O Currculo do Estado de So Paulo hoje uma realidade nas escolas pblicas paulistas graas

    ao empenho de todos os seus prossionais.

    Como anunciado em 2008, o Currculo continuar a ser permanentemente complementado com

    um conjunto de aes, de projetos e de documentos com orientaes pedaggicas e de gesto para

    apoiar as equipes gestoras e os proessores no que se reere qualidade do ensino em nossas escolas.

    A participao de todos no trabalho de anlise da Proposta Curricular do Estado de So Paulo,

    para os ajustes necessrios, rearmou nossa crena de que a maneira mais saudvel de azer oposi-

    o s ideias conhec-las, aplicando-as e discutindo-as para sugerir as mudanas necessrias.

    A Proposta Curricular oi planejada de orma que todos os alunos em idade de escolarizao

    pudessem azer o mesmo percurso de aprendizagem nas disciplinas bsicas: Lngua Portuguesa, Ma-

    temtica, Cincias (Fsica, Qumica e Biologia, no Ensino Mdio), Histria (mais Filosoa e Sociologia,no Ensino Mdio), Geograa, Lngua Estrangeira Moderna (Ingls), Arte e Educao Fsica. Para todas

    essas disciplinas oram descritos os contedos, as competncias, as habilidades, as estratgias meto-

    dolgicas e o que se espera dos alunos em cada srie/ano.

    Vale ressaltar que a proposta de organizao curricular possibilitou que ossem garantidas

    iguais oportunidades a todos os alunos de todas as escolas, como tambm preservou o acesso aos

    mesmos conhecimentos atualizados e signicativos, valorizados pela sociedade.

    A partir dessa base curricular comum tambm oi possvel denir as metas que os alunos tm

    direito a alcanar nas disciplinas estudadas e, consequentemente, avaliar o seu progresso em relao

    a essas metas e, quando necessrio, azer as devidas intervenes com vistas a melhorar o desempe-nho daqueles que porventura no consigam atingi-las.

    A construo da autonomia da escola pressupe a articulao e a continuidade das polticas

    nacionais, estaduais e locais de desenvolvimento da educao, a m de que se possam estabelecer

    unidade e direo coordenadas nos respectivos sistemas.

    No espao escolar, mesmo que as dierenas sejam considerveis, os prossionais devem ter cla-

    reza sobre os propsitos comuns da educao, para que se organizem em uno desses propsitos.

    De nossa parte, estamos todos empenhados em oerecer aos prossionais da educao de

    nossa rede de ensino mais e melhores condies de trabalho e em apoiar decisivamente aes que

    concorram para que esses propsitos sejam alcanados.

    Neste documento, so apresentados contedos que versam sobre currculo, planejamento e

    avaliao de orma a subsidiar o proessor e o gestor em suas prticas para implementar o Currculo

    do Estado de So Paulo, organizar sua crtica e construir a Proposta Pedaggica que representa a

    identidade da sua escola em particular.

    Maria Ins FiniCoordenadora Geral

    Projeto So Paulo az escola

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    Sumrio

    Apresentao do Currculo do Estado de So Paulo 7

    Uma educao altura dos desafos contemporneos 8Princpios para um currculo comprometido com o seu tempo 10

    Uma escola que tambm aprende 10O currculo como espao de cultura 11As competncias como reerncia 12Prioridade para a competncia da leitura e da escrita 14Articulao das competncias para aprender 18Articulao com o mundo do trabalho 20

    A concepo do ensino na rea de Cincias Humanas e suasTecnologias 25

    Currculo de Histria 28O ensino de Histria: breve histrico 28

    Fundamentos para o ensino de Histria 28

    Histria para o Ensino Fundamental (Ciclo II) e o Ensino Mdio 29

    Sobre a organizao dos contedos bsicos 31

    Sobre a metodologia de ensino-aprendizagem dos contedos bsicos 32

    Sobre os subsdios para implantao do currculo proposto 36

    Sobre a organizao das grades curriculares

    (srie/ano por bimestre): contedos associados a habilidades 37

    Quadro de contedos e habilidades de Histria 39

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    Currculo de Geografa 74O ensino de Geografa: breve histrico 74

    Fundamentos para o ensino de Geografa 75Geografa para o Ensino Fundamental (Ciclo II) e o Ensino Mdio 76

    Sobre a organizao dos contedos bsicos 77

    Sobre a metodologia de ensino-aprendizagem dos contedos bsicos 79

    Sobre os subsdios para implantao do currculo proposto 80

    Sobre a organizao das grades curriculares

    (srie/ano por bimestre): contedos associados a habilidades 81

    Quadro de contedos e habilidades de Geografa 83

    Currculo de Filosofa 114O ensino de Filosofa: breve histrico 114

    Fundamentos para o ensino de Filosofa 115

    Filosofa para o Ensino Mdio 115

    Sobre a organizao dos contedos bsicos 115

    Sobre a metodologia de ensino-aprendizagem dos contedos bsicos 116

    Sobre os subsdios para implantao do currculo proposto 118

    Sobre a organizao das grades curriculares

    (srie/ano por bimestre): contedos associados a habilidades 118

    Quadro de contedos e habilidades de Filosofa 120

    Currculo de Sociologia 132O ensino de Sociologia: breve histrico 132

    Fundamentos para o ensino de Sociologia 133

    Sociologia para o Ensino Mdio 133

    Sobre a organizao dos contedos bsicos 135

    Sobre a metodologia de ensino-aprendizagem dos contedos bsicos 136

    Sobre os subsdios para implantao do currculo proposto 136

    Sobre a organizao das grades curriculares

    (srie/ano por bimestre): contedos associados a habilidades 137

    Quadro de contedos e habilidades de Sociologia 139

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    ApresentaoCurrculo do Estado de So Paulo

    Apresentao do Currculo do Estado deSo Paulo

    A Secretaria da Educao do Estado de

    So Paulo props, em 2008, um currculo b-

    sico para as escolas da rede estadual nos nveis

    de Ensino Fundamental (Ciclo II) e Ensino M-

    dio. Com isso, pretendeu apoiar o trabalho rea-

    lizado nas escolas estaduais e contribuir para a

    melhoria da qualidade das aprendizagens dos

    alunos. Esse processo partiu dos conhecimen-tos e das experincias prticas j acumulados,

    ou seja, partiu da recuperao, da reviso e da

    sistematizao de documentos, publicaes e

    diagnsticos j existentes e do levantamento

    e anlise dos resultados de projetos ou iniciati-

    vas realizados. No intuito de omentar o desen-

    volvimento curricular, a Secretaria da Educao

    tomou assim duas iniciativas complementares.

    A primeira delas oi realizar amplo le-

    vantamento do acervo documental e tcnico

    pedaggico existente. A segunda deu incio a

    um processo de consulta a escolas e proesso-

    res para identicar, sistematizar e divulgar boas

    prticas existentes nas escolas de So Paulo.

    Ao articular conhecimento e herana pe-

    daggicos com experincias escolares de suces-

    so, a Secretaria da Educao deu incio a uma

    contnua produo e divulgao de subsdios

    que incidem diretamente na organizao da es-

    cola como um todo e em suas aulas. Ao iniciar

    esse processo, a Secretaria da Educao pro-

    curou tambm cumprir seu dever de garantir

    a todos uma base comum de conhecimentos e

    de competncias para que nossas escolas

    uncionem de ato como uma rede. Com esse

    objetivo, implantou um processo de elaborao

    dos subsdios indicados a seguir.

    Este documento apresenta os princpios

    orientadores do currculo para uma escola ca-paz de promover as competncias indispen-

    sveis ao enrentamento dos desaos sociais,

    culturais e prossionais do mundo contem-

    porneo. Contempla algumas das principais

    caractersticas da sociedade do conhecimen-

    to e das presses que a contemporaneidade

    exerce sobre os jovens cidados, propondo

    princpios orientadores para a prtica edu-

    cativa, a m de que as escolas possam pre-parar seus alunos para esse novo tempo. Ao

    priorizar a competncia de leitura e escrita, o

    Currculo dene a escola como espao de cul-

    tura e de articulao de competncias e de

    contedos disciplinares.

    Alm desse documento bsico curricu-

    lar, h um segundo conjunto de documentos,

    com orientaes para a gesto do Currculo

    na escola. Intitulado Caderno do Gestor, diri-

    ge-se especialmente s unidades escolares

    e aos proessores coordenadores, diretores,

    proessores coordenadores das ocinas peda-

    ggicas e supervisores. Esse material no tra-

    ta da gesto curricular em geral, mas tem a

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    Apresentao Currculo do Estado de So Paulo

    nalidade especca de apoiar o gestor para

    que ele seja um lder capaz de estimular e orien-

    tar a implementao do Currculo nas escolaspblicas estaduais de So Paulo.

    H inmeros programas e materiais dis-

    ponveis sobre o tema da gesto, aos quais as

    equipes gestoras tambm podero recorrer

    para apoiar seu trabalho. O ponto mais impor-

    tante desse segundo conjunto de documentos

    garantir que a Proposta Pedaggica, que or-

    ganiza o trabalho nas condies singulares decada escola, seja um recurso eetivo e dinmico

    para assegurar aos alunos a aprendizagem dos

    contedos e a constituio das competncias

    previstas no Currculo. Espera-se tambm que a

    aprendizagem resulte da coordenao de aes

    entre as disciplinas, do estmulo vida cultural

    da escola e do ortalecimento de suas relaes

    com a comunidade. Para isso, os documentos

    reoram e sugerem orientaes e estratgiaspara a ormao continuada dos proessores.

    O Currculo se completa com um conjun-

    to de documentos dirigidos especialmente aos

    proessores e aos alunos: os Cadernos do Pro-

    essor e do Aluno, organizados por disciplina/

    srie(ano)/bimestre. Neles, so apresentadas

    Situaes de Aprendizagem para orientar o

    trabalho do proessor no ensino dos conte-

    dos disciplinares especcos e a aprendiza-

    gem dos alunos. Esses contedos, habilidades

    e competncias so organizados por srie/ano e

    acompanhados de orientaes para a gesto da

    aprendizagem em sala de aula e para a avaliao

    e a recuperao. Oerecem tambm sugestes

    de mtodos e estratgias de trabalho para as

    aulas, experimentaes, projetos coletivos, ativi-

    dades extraclasse e estudos interdisciplinares.

    Uma educao altura dos desafoscontemporneos

    A sociedade do sculo XXI cada vez

    mais caracterizada pelo uso intensivo do conhe-

    cimento, seja para trabalhar, conviver ou exercer

    a cidadania, seja para cuidar do ambiente em

    que se vive. Todavia, essa sociedade, produtoda revoluo tecnolgica que se acelerou na se-

    gunda metade do sculo XX e dos processos po-

    lticos que redesenharam as relaes mundiais,

    j est gerando um novo tipo de desigualdade

    ou excluso, ligado ao uso das tecnologias

    de comunicao que hoje medeiam o acesso

    ao conhecimento e aos bens culturais. Na so-

    ciedade de hoje, indesejvel a excluso pela

    alta de acesso tanto aos bens materiais quantoao conhecimento e aos bens culturais.

    No Brasil, essa tendncia excluso cami-

    nha paralelamente democratizao do acesso

    a nveis educacionais alm do ensino obrigatrio.

    Com mais pessoas estudando, alm de um diplo-

    ma de nvel superior, as caractersticas cognitivas

    e aetivas so cada vez mais valorizadas, como

    as capacidades de resolver problemas, trabalhar

    em grupo, continuar aprendendo e agir de modo

    cooperativo, pertinentes em situaes complexas.

    Em um mundo no qual o conhecimento

    usado de orma intensiva, o dierencial est na

    qualidade da educao recebida. A qualidade

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    ApresentaoCurrculo do Estado de So Paulo

    do convvio, assim como dos conhecimentos e

    das competncias constitudas na vida escolar,

    ser determinante para a participao do indiv-duo em seu prprio grupo social e para que ele

    tome parte em processos de crtica e renovao.

    Nesse contexto, ganha importncia re-

    dobrada a qualidade da educao oerecida

    nas escolas pblicas, que vm recebendo, em

    nmero cada vez mais expressivo, as camadas

    pobres da sociedade brasileira, que at bem

    pouco tempo no tinham eetivo acesso escola. A relevncia e a pertinncia das apren-

    dizagens escolares construdas nessas institui-

    es so decisivas para que o acesso a elas

    proporcione uma real oportunidade de insero

    produtiva e solidria no mundo.

    Ganha tambm importncia a ampliao

    e a signicao do tempo de permanncia na

    escola, tornando-a um lugar privilegiado parao desenvolvimento do pensamento autnomo,

    to necessrio ao exerccio de uma cidadania

    responsvel, especialmente quando se assiste

    aos enmenos da precocidade da adolescn-

    cia e do acesso cada vez mais tardio ao merca-

    do de trabalho.

    Nesse mundo, que expe o jovem s pr-

    ticas da vida adulta e, ao mesmo tempo, pos-

    terga sua insero no mundo prossional, ser

    estudante azer da experincia escolar uma

    oportunidade para aprender a ser livre e, con-

    comitantemente, respeitar as dierenas e as

    regras de convivncia. Hoje, mais do que nun-

    ca, aprender na escola o ocio de aluno,

    a partir do qual o jovem pode azer o trnsito

    para a autonomia da vida adulta e prossional.

    Para que a democratizao do acesso

    educao tenha uno inclusiva, no su-

    ciente universalizar a escola: indispensvel

    universalizar a relevncia da aprendizagem.

    Criamos uma civilizao que reduz distn-

    cias, tem instrumentos capazes de aproximar

    pessoas ou distanci-las, aumenta o acesso

    inormao e ao conhecimento, mas, em

    contrapartida, acentua consideravelmentedierenas culturais, sociais e econmicas.

    Apenas uma educao de qualidade para to-

    dos pode evitar que essas dierenas se consti-

    tuam em mais um ator de excluso.

    O desenvolvimento pessoal um proces-

    so de aprimoramento das capacidades de agir,

    pensar e atuar no mundo, bem como de atribuir

    signicados e ser percebido e signicado pelosoutros, apreender a diversidade, situar-se e per-

    tencer. A educao tem de estar a servio desse

    desenvolvimento, que coincide com a constru-

    o da identidade, da autonomia e da liberdade.

    No h liberdade sem possibilidade de escolhas.

    Escolhas pressupem um repertrio e um qua-

    dro de reerncias que s podem ser garantidos

    se houver acesso a um amplo conhecimento,

    assegurado por uma educao geral, articuladora

    e que transite entre o local e o global.

    Esse tipo de educao constri, de orma

    cooperativa e solidria, uma sntese dos sabe-

    res produzidos pela humanidade ao longo de

    sua histria e dos saberes locais. Tal sntese

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    Apresentao Currculo do Estado de So Paulo

    uma das condies para o indivduo acessar o

    conhecimento necessrio ao exerccio da cida-

    dania em dimenso mundial.

    A autonomia para gerenciar a prpria

    aprendizagem (aprender a aprender) e para

    a transposio dessa aprendizagem em in-

    tervenes solidrias (aprender a azer e a

    conviver) deve ser a base da educao das

    crianas, dos jovens e dos adultos, que tm em

    suas mos a continuidade da produo cultural

    e das prticas sociais.

    Construir identidade, agir com auto-

    nomia e em relao com o outro, bem como

    incorporar a diversidade, so as bases para a

    construo de valores de pertencimento e de

    responsabilidade, essenciais para a insero ci-

    dad nas dimenses sociais e produtivas. Prepa-

    rar os indivduos para o dilogo constante com

    a produo cultural, num tempo que se carac-teriza no pela permanncia, mas pela constan-

    te mudana quando o inusitado, o incerto e o

    urgente constituem a regra , mais um desa-

    o contemporneo para a educao escolar.

    Outros elementos relevantes que de-

    vem orientar o contedo e o sentido da escola

    so a complexidade da vida cultural em suas

    dimenses sociais, econmicas e polticas;

    a presena macia de produtos cientcos e

    tecnolgicos; e a multiplicidade de linguagens

    e cdigos no cotidiano. Apropriar-se desses co-

    nhecimentos pode ser ator de ampliao das

    liberdades, ao passo que sua no apropriao

    pode signicar mais um ator de excluso.

    Um currculo que d sentido, signica-

    do e contedo escola precisa levar em conta

    os elementos aqui apresentados. Por isso, oCurrculo da Secretaria da Educao do Estado

    de So Paulo tem como princpios centrais: a

    escola que aprende; o currculo como espa-

    o de cultura; as competncias como eixo de

    aprendizagem; a prioridade da competncia

    de leitura e de escrita; a articulao das com-

    petncias para aprender; e a contextualizao

    no mundo do trabalho.

    Princpios para um currculocomprometido com o seu tempo

    Uma escola ue tambm aprende

    A tecnologia imprime um ritmo sem pre-

    cedentes ao acmulo de conhecimentos e gera

    prounda transormao quanto s ormas de

    estrutura, organizao e distribuio do co-nhecimento acumulado. Nesse contexto, a ca-

    pacidade de aprender ter de ser trabalhada

    no apenas nos alunos, mas na prpria escola,

    como instituio educativa.

    Isso muda radicalmente a concepo da

    escola: de instituio que ensina para institui-

    o que tambm aprende a ensinar. Nessa

    escola, as interaes entre os responsveis

    pela aprendizagem dos alunos tm carter de

    aes ormadoras, mesmo que os envolvidos

    no se deem conta disso. Vale ressaltar a res-

    ponsabilidade da equipe gestora como orma-

    dora de proessores e a responsabilidade dos

    docentes, entre si e com o grupo gestor, na

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    ApresentaoCurrculo do Estado de So Paulo

    problematizao e na signicao dos conhe-

    cimentos sobre sua prtica.

    Essa concepo parte do princpio de que

    ningum detentor absoluto do conhecimento

    e de que o conhecimento coletivo maior que

    a soma dos conhecimentos individuais, alm de

    ser qualitativamente dierente. Esse o ponto

    de partida para o trabalho colaborativo, para a

    ormao de uma comunidade aprendente,

    nova terminologia para um dos mais antigos

    ideais educativos. A vantagem hoje que a tec-nologia acilita a viabilizao prtica desse ideal.

    Aes como a construo coletiva da

    Proposta Pedaggica, por meio da refexo e

    da prtica compartilhadas, e o uso intencional

    da convivncia como situao de aprendizagem

    azem parte da constituio de uma escola al-

    tura de seu tempo. Observar que as regras da

    boa pedagogia tambm se aplicam queles queesto aprendendo a ensinar uma das chaves

    para o sucesso das lideranas escolares. Os ges-

    tores, como agentes ormadores, devem pr em

    prtica com os proessores tudo aquilo que reco-

    mendam a eles que apliquem com seus alunos.

    O currculo como espao de cultura

    No cotidiano escolar, a cultura muitas

    vezes associada ao que local, pitoresco, ol-

    clrico, bem como ao divertimento ou lazer, ao

    passo que o conhecimento requentemente as-

    sociado a um saber inalcanvel. Essa dicotomia

    no cabe em nossos tempos: a inormao est

    disponvel a qualquer instante, em tempo real,

    ao toque de um dedo, e o conhecimento cons-

    titui erramenta para articular teoria e prtica, o

    global e o local, o abstrato e seu contexto sico.

    Currculo a expresso do que existe na

    cultura cientfca, artstica e humanista trans-

    posto para uma situao de aprendizagem e

    ensino. Precisamos entender que as atividades

    extraclasse no so extracurriculares quan-

    do se deseja articular cultura e conhecimento.

    Nesse sentido, todas as atividades da escola

    so curriculares; caso contrrio, no so justi-fcveis no contexto escolar. Se no rompermos

    essa dissociao entre cultura e conhecimento

    no conectaremos o currculo vida e seguire-

    mos alojando na escola uma mirade de atividades

    culturais que mais dispersam e conundem do

    que promovem aprendizagens curriculares rele-

    vantes para os alunos.

    O conhecimento tomado como instru-mento, mobilizado em competncias, reora o

    sentido cultural da aprendizagem. Tomado como

    valor de contedo ldico, de carter tico ou de

    ruio esttica, numa escola de prtica cultural

    ativa, o conhecimento torna-se um prazer que

    pode ser aprendido ao se aprender a aprender.

    Nessa escola, o proessor no se limita a suprir o

    aluno de saberes, mas dele parceiro nos aze-

    res culturais; quem promove, das mais variadas

    ormas, o desejo de aprender, sobretudo com o

    exemplo de seu prprio entusiasmo pela cultura

    humanista, cientca e artstica.

    Quando, no projeto pedaggico da escola,

    a cidadania cultural uma de suas prioridades,

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    Apresentao Currculo do Estado de So Paulo

    o currculo a reerncia para ampliar, locali-

    zar e contextualizar os conhecimentos acumu-

    lados pela humanidade ao longo do tempo.Ento, o ato de uma inormao ou de um

    conhecimento emergir de um ou mais con-

    textos distintos na grande rede de inormao

    no ser obstculo prtica cultural resultante

    da mobilizao desses saberes nas cincias,

    nas artes e nas humanidades.

    As competncias como reerncia

    Um currculo que promove competn-

    cias tem o compromisso de articular as dis-

    ciplinas e as atividades escolares com aquilo

    que se espera que os alunos aprendam ao

    longo dos anos. Logo, a atuao do proessor,

    os contedos, as metodologias disciplinares

    e a aprendizagem requerida dos alunos so

    aspectos indissociveis, que compem um sis-

    tema ou rede cujas partes tm caractersticase unes especcas que se complementam

    para ormar um todo, sempre maior do que

    elas. Maior porque o currculo se comprome-

    te em ormar crianas e jovens para que se

    tornem adultos preparados para exercer suas

    responsabilidades (trabalho, amlia, autono-

    mia etc.) e para atuar em uma sociedade que

    depende deles.

    Com eeito, um currculo reerencia-

    do em competncias supe que se aceite

    o desaio de promover os conhecimentos

    prprios de cada disciplina articuladamente

    s competncias e habilidades do aluno.

    com essas competncias e habilidades que o

    aluno contar para azer a leitura crtica do

    mundo, questionando-o para melhor com-

    preend-lo, inerindo questes e comparti-lhando ideias, sem, pois, ignorar a comple-

    xidade do nosso tempo.

    Tais competncias e habilidades podem

    ser consideradas em uma perspectiva geral,

    isto , no que tm de comum com as discipli-

    nas e tareas escolares ou no que tm de espe-

    cco. Competncias, nesse sentido, caracteri-

    zam modos de ser, de raciocinar e de interagir,que podem ser depreendidos das aes e das

    tomadas de deciso em contextos de proble-

    mas, de tareas ou de atividades. Graas a

    elas, podemos inerir, hoje, se a escola como

    instituio est cumprindo devidamente o pa-

    pel que se espera dela.

    Os alunos considerados neste Currculo

    do Estado de So Paulo tm, de modo geral,entre 11 e 18 anos. Valorizar o desenvolvimen-

    to de competncias nessa ase da vida implica

    ponderar, alm de aspectos curriculares e do-

    centes, os recursos cognitivos, aetivos e so-

    ciais dos alunos. Implica, pois, analisar como o

    proessor mobiliza contedos, metodologias e

    saberes prprios de sua disciplina ou rea de

    conhecimento, visando a desenvolver compe-

    tncias em adolescentes, bem como a instigar

    desdobramentos para a vida adulta.

    Paralelamente a essa conduta, preciso

    considerar quem so esses alunos. Ter entre 11

    e 18 anos signica estar em uma ase pecu-

    liar da vida, entre a inncia e a idade adulta.

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    ApresentaoCurrculo do Estado de So Paulo

    Nesse sentido, o jovem aquele que deixou de

    ser criana e prepara-se para se tornar adul-

    to. Trata-se de um perodo complexo e con-traditrio da vida do aluno, que requer muita

    ateno da escola.

    Nessa etapa curricular, a trade sobre a

    qual competncias e habilidades so desenvol-

    vidas pode ser assim caracterizada:

    a) o adolescente e as caractersticas de suas

    aes e pensamentos;

    b) o proessor, suas caractersticas pessoais e pro-

    ssionais e a qualidade de suas mediaes;

    c) os contedos das disciplinas e as metodolo-

    gias para seu ensino e aprendizagem.

    Houve um tempo em que a educao

    escolar era reerenciada no ensino o planode trabalho da escola indicava o que seria en-

    sinado ao aluno. Essa oi uma das razes pelas

    quais o currculo escolar oi conundido com

    um rol de contedos disciplinares. A Lei de Di-

    retrizes e Bases da Educao Nacional (LDBEN)

    no 9394/96 deslocou o oco do ensino para a

    aprendizagem, e no por acaso que sua lo-

    soa no mais a da liberdade de ensino, mas

    a do direito de aprender.

    O conceito de competncias tambm

    undamental na LDBEN, nas Diretrizes

    Curriculares Nacionais (DCN) e nos Parme-

    tros Curriculares Nacionais (PCN), elaborados

    pelo Conselho Nacional de Educao e pelo

    Ministrio da Educao. O currculo reeren-

    ciado em competncias uma concepo

    que requer que a escola e o plano do proes-sor indiquem o que aluno vai aprender.

    Uma das razes para se optar por uma

    educao centrada em competncias diz res-

    peito democratizao da escola. Com a

    universalizao do Ensino Fundamental, a edu-

    cao incorpora toda a heterogeneidade que

    caracteriza o povo brasileiro; nesse contexto,

    para ser democrtica, a escola tem de ser igual-mente acessvel a todos, diversa no tratamento

    a cada um e unitria nos resultados.

    Optou-se por construir a unidade com

    nase no que indispensvel que todos te-

    nham aprendido ao nal do processo, con-

    siderando-se a diversidade. Todos tm direito

    de construir, ao longo de sua escolaridade, um

    conjunto bsico de competncias, denido pelalei. Esse o direito bsico, mas a escola dever

    ser to diversa quanto so os pontos de partida

    das crianas que recebe. Assim, ser possvel

    garantir igualdade de oportunidades, diversi-

    dade de tratamento e unidade de resultados.

    Quando os pontos de partida so dierentes,

    preciso tratar dierentemente os desiguais para

    garantir a todos uma base comum.

    Pensar o currculo hoje viver uma tran-

    sio na qual, como em toda transio, traos

    do velho e do novo se mesclam nas prticas

    cotidianas. comum que o proessor, ao or-

    mular seu plano de trabalho, indique o que

    vai ensinar, e no o que o aluno vai aprender.

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    Apresentao Currculo do Estado de So Paulo

    E compreensvel, segundo essa lgica, que,

    no m do ano letivo, cumprido seu plano, ele

    arme, diante do racasso do aluno, que ezsua parte, ensinando, e que oi o aluno que

    no aprendeu.

    No entanto, a transio da cultura do en-

    sino para a da aprendizagem no um processo

    individual. A escola deve az-lo coletivamente,

    tendo rente seus gestores, que devem ca-

    pacitar os proessores em seu dia a dia, a m

    de que todos se apropriem dessa mudana deoco. Cabe s instncias responsveis pela po-

    ltica educacional nos Estados e nos municpios

    elaborar, a partir das DCN e dos PCN, propostas

    curriculares prprias e especcas, para que as

    escolas, em sua Proposta Pedaggica, estabele-

    am os planos de trabalho que, por sua vez, a-

    ro, das propostas, currculos em ao como

    no presente esoro desta Secretaria.

    Prioridade para a competncia da

    leitura e da escrita

    Concebe-se o homem a partir do traba-

    lho e das mediaes simblicas que regem suas

    relaes com a vida, com o mundo e com ele

    prprio. So dois os eixos dessas atividades: o

    da produo (transormao da natureza) e

    o da comunicao (relaes intersubjetivas).

    A linguagem constitutiva do ser huma-

    no. Pode-se denir linguagens como sistemas

    simblicos, instrumentos de conhecimento e

    de construo de mundo, ormas de classi-

    cao arbitrrias e socialmente determinadas.

    Esses sistemas so, ao mesmo tempo, estrutu-

    rados e estruturantes, uma vez que geram e

    so gerados no constante confito entre os pro-tagonistas sociais pela manuteno ou trans-

    ormao de uma viso de mundo: o poder

    simblico do azer ver e azer crer, do pensar,

    do sentir e do agir em determinado sentido.

    Em sntese, as linguagens incorporam

    as produes sociais que se estruturam me-

    diadas por cdigos permanentes, passveis de

    representao do pensamento humano e ca-pazes de organizar uma viso de mundo me-

    diada pela expresso, pela comunicao e pela

    inormao.

    A linguagem verbal, oral e escrita, repre-

    sentada pela lngua materna, viabiliza a com-

    preenso e o encontro dos discursos utilizados

    em dierentes eseras da vida social. com a

    lngua materna e por meio dela que as ormassociais arbitrrias de viso de mundo so in-

    corporadas e utilizadas como instrumentos de

    conhecimento e de comunicao.

    As relaes lingusticas, longe de ser uni-

    ormes, marcam o poder simblico acumulado

    por seus protagonistas. No h uma competn-

    cia lingustica abstrata, mas, sim, limitada pelas

    condies de produo e de interpretao dos

    enunciados determinados pelos contextos de

    uso da lngua. Esta utiliza um cdigo com uno

    ao mesmo tempo comunicativa e legislativa.

    O domnio do cdigo no suciente

    para garantir a comunicao; algumas situaes

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    ApresentaoCurrculo do Estado de So Paulo

    de ala ou escrita podem, inclusive, produzir

    o total silncio daquele que se sente pouco

    vontade no ato interlocutivo.

    O desenvolvimento da competncia lin-

    gustica do aluno, nessa perspectiva, no est

    pautado na exclusividade do domnio tcnico

    de uso da lngua legitimada pela norma-padro,

    mas, principalmente, no domnio da competncia

    perormativa: o saber usar a lngua em situaes

    subjetivas ou objetivas que exijam graus de dis-

    tanciamento e de refexo sobre contextos e es-tatutos de interlocutores, ou seja, a competncia

    comunicativa vista pelo prisma da reerncia do

    valor social e simblico da atividade lingustica, no

    mbito dos inmeros discursos concorrentes.

    A utilizao dessa variedade d-se por

    meio de um exerccio prtico em situaes de

    simulao escolar. A competncia perormativa

    exige mais do que uma atitude de reproduode valores.

    A diversidade de textos concorre para o

    reconhecimento dos gneros como expresses

    histricas e culturais diversicadas, que vo se

    modicando ao longo do tempo. Hoje, mais do

    que nunca, as transormaes tecnolgicas po-

    dem atropelar o trabalho de uma escola que se

    cristaliza em modelos estanques. Nesse sentido,

    os gneros devem receber o enoque especco

    de cada disciplina e, ao mesmo tempo, precisam

    ser trabalhados de modo interdisciplinar.

    O carter linear dos textos verbais dever

    conviver com o carter reticular dos hipertextos

    eletrnicos, como, alis, acontece em leituras de

    jornais impressos, em que os olhos navegam

    por uma pgina, ou por vrias delas, aos saltose de acordo com nossas intenes, libertos da

    continuidade temporal. Saber ler um jornal

    uma habilidade histrica, porque precisamos

    conhecer os modos como a manchete, a notcia,

    o lead, a reportagem etc. conectam-se e distri-

    buem-se, estabelecendo ligaes nada lineares,

    e tambm o carter multimdia do jornal, que

    se estabelece entre os dierentes cdigos utili-

    zados (uma imagem pode se contrapor a umamanchete, por exemplo, criando, at mesmo,

    um eeito de ironia).

    Em uma cultura letrada como a nossa, a

    competncia de ler e de escrever parte inte-

    grante da vida das pessoas e est intimamente

    associada ao exerccio da cidadania. As prticas

    de leitura e escrita, segundo as pesquisas que

    vm sendo realizadas na rea, tm impacto so-bre o desenvolvimento cognitivo do indivduo.

    Essas prticas possibilitam o desenvolvimento

    da conscincia do mundo vivido (ler registrar

    o mundo pela palavra, arma Paulo Freire),

    propiciando aos sujeitos sociais a autonomia

    na aprendizagem e a contnua transormao,

    inclusive das relaes pessoais e sociais.

    Nesse sentido, os atos de leitura e de

    produo de textos ultrapassam os limites da

    escola, especialmente os da aprendizagem

    em lngua materna, congurando-se como

    pr-requisitos para todas as disciplinas escola-

    res. A leitura e a produo de textos so ati-

    vidades permanentes na escola, no trabalho,

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    Apresentao Currculo do Estado de So Paulo

    nas relaes interpessoais e na vida. Por isso

    mesmo, o Currculo proposto tem por eixo a

    competncia geral de ler e de produzir textos,ou seja, o conjunto de competncias e habilida-

    des especcas de compreenso e de refexo

    crtica intrinsecamente associado ao trato com

    o texto escrito.

    As experincias procuas de leitura pressu-

    pem o contato do aluno com a diversidade de

    textos, tanto do ponto de vista da orma quanto

    no que diz respeito ao contedo. Alm do dom-nio da textualidade propriamente dita, o aluno

    vai construindo, ao longo do ensino-aprendiza-

    gem, um repertrio cultural especco relacio-

    nado s dierentes reas do conhecimento que

    usam a palavra escrita para o registro de ideias,

    de experincias, de conceitos, de snteses etc.

    O texto o oco principal do processo

    de ensino-aprendizagem. Considera-se textoqualquer sequncia alada ou escrita que cons-

    titua um todo unicado e coerente dentro de

    uma determinada situao discursiva. Assim,

    o que dene um texto no a extenso des-

    sa sequncia, mas o ato de ela congurar-se

    como uma unidade de sentido associada a uma

    situao de comunicao. Nessa perspectiva, o

    texto s existe como tal quando atualizado em

    uma situao que envolve, necessariamente,

    quem o produz e quem o interpreta.

    E, na medida em que todo texto escrito

    produzido para ser lido, ele refete as possi-

    bilidades e as expectativas do leitor a que se

    dirige, identicvel por marcas como valores,

    reerncias e ormulaes caractersticos. Por

    sua vez, esse leitor est associado a domnios

    de circulao dos textos prprios de determi-nadas eseras discursivas, ou seja, de mbitos

    da vida social como o trabalho, a educao, a

    mdia e o lazer em que o texto escrito adquire

    ormas particulares de produo, organizao e

    circulao. Nesse sentido, todo texto articula-se

    para atingir um leitor socialmente situado, tendo

    em vista um objetivo denido, atualizando-se,

    em seu meio de circulao, sob a orma de um

    gnero discursivo especco.

    Textos so classicados segundo a ese-

    ra discursiva de circulao e o gnero a que

    pertencem. A seleo das eseras e dos gne-

    ros procura contemplar a importncia social e

    educacional desses textos para a ormao do

    aluno, considerando-se dierentes situaes

    de leitura, como:

    ler, em situao pessoal, textos que, no co-

    tidiano, so escolhidos pelo leitor de acordo

    com seu interesse, em busca de divertimen-

    to, de inormao e de refexo (eseras

    artstico-literria, de entretenimento, jorna-

    lstica e publicitria);

    ler textos relacionados vida pblica, que,

    no cotidiano, so utilizados para atender a

    uma demanda institucional predenida ou

    a ela respeitar (esera institucional pblica);

    ler, em situao de trabalho ou ocupacional,

    textos que, no cotidiano, so utilizados para

    azer algo (esera ocupacional);

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    ApresentaoCurrculo do Estado de So Paulo

    ler, em situao de educao ormal, textos

    que, no cotidiano, so prescritos para o en-

    sino-aprendizagem de determinado assuntoou conceito (eseras escolar e de divulgao

    cientca).

    O debate e o dilogo, as perguntas que

    desmontam as rases eitas, a pesquisa, entre

    outras, seriam ormas de auxiliar o aluno a cons-

    truir um ponto de vista articulado sobre o texto.

    Nesse caso, o aluno deixaria de ser mero espec-

    tador ou reprodutor de saberes discutveis parase apropriar do discurso, vericando a coerncia

    de sua posio em ace do grupo com quem

    partilha interesses. Dessa orma, alm de se

    apropriar do discurso do outro, ele tem a possi-

    bilidade de divulgar suas ideias com objetividade

    e funcia perante outras ideias. Isso pressupe

    a ormao crtica, diante da prpria produo,

    e a necessidade pessoal de partilhar dos propsi-

    tos previstos em cada ato interlocutivo.

    Pertencer a uma comunidade, hoje,

    tambm estar em contato com o mundo todo;

    a diversidade da ao humana est cada vez

    mais prxima da unidade para os ns solid-

    rios. A leitura e a escrita, por suas caracters-

    ticas ormativas, inormativas e comunicativas,

    apresentam-se como instrumentos valiosos para

    se alcanar esses ns. Na escola, o aluno deve

    compreender essa inter-relao como um meio

    de preservao da identidade de grupos sociais

    menos institucionalizados e como possibilidade

    do direito s representaes em ace de outros

    grupos que tm a seu avor as instituies que

    autorizam a autorizar.

    Hoje, o domnio do azer comunicativo

    exige ormas complexas de aprendizagem. Para

    azer, deve-se conhecer o que e como. Depoisdessa anlise refexiva, tenta-se a elaborao,

    consciente de que ela ser considerada numa

    rede de expectativas contraditrias. Entra-se

    no limite da transversalidade dos usos sociais

    da leitura e da escrita; s escolhas individuais

    impem-se os limites do social, envolvendo

    esquemas cognitivos complexos daqueles que

    podem escolher, porque tiveram a oportunida-

    de de aprender a escolher.

    Por esse carter essencial da competn-

    cia de leitura e de escrita para a aprendizagem

    dos contedos curriculares de todas as reas e

    disciplinas, a responsabilidade por sua aprendi-

    zagem e avaliao cabe a todos os proessores,

    que devem transormar seu trabalho em opor-

    tunidades nas quais os alunos possam aprender

    e consigam consolidar o uso da Lngua Portu-guesa e das outras linguagens e cdigos que

    azem parte da cultura, bem como das ormas

    de comunicao em cada uma delas.

    A centralidade da competncia leitora e

    escritora, que a transorma em objetivo de to-

    das as sries/anos e de todas as disciplinas, assi-

    nala para os gestores (a quem cabe a educao

    continuada dos proessores na escola) a necessi-

    dade de criar oportunidades para que os docen-

    tes tambm desenvolvam essa competncia.

    Por m, importante destacar que o do-

    mnio das linguagens representa um primordial

    elemento para a conquista da autonomia, a

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    Apresentao Currculo do Estado de So Paulo

    chave para o acesso a inormaes, permitindo

    a comunicao de ideias, a expresso de senti-

    mentos e o dilogo, necessrios negociaodos signicados e aprendizagem continuada.

    Articulao das competncias para aprender

    A aprendizagem o centro da atividade

    escolar. Por extenso, o proessor caracteriza-se

    como um prossional da aprendizagem. O pro-

    essor apresenta e explica contedos, organiza

    situaes para a aprendizagem de conceitos,de mtodos, de ormas de agir e pensar, em

    suma, promove conhecimentos que possam ser

    mobilizados em competncias e habilidades que,

    por sua vez, instrumentalizam os alunos para

    enrentar os problemas do mundo. Dessa orma,

    a expresso educar para a vida pode ganhar

    seu sentido mais nobre e verdadeiro na prtica

    do ensino. Se a educao bsica para a vida, a

    quantidade e a qualidade do conhecimento tmde ser determinadas por sua relevncia para a

    vida de hoje e do uturo, para alm dos limites

    da escola. Portanto, mais que os contedos iso-

    lados, as competncias so guias ecazes para

    educar para a vida. As competncias so mais

    gerais e constantes; os contedos, mais espec-

    cos e variveis. exatamente a possibilidade

    de variar os contedos no tempo e no espao

    que legitima a iniciativa dos dierentes sistemas

    pblicos de ensino de selecionar, organizar e or-

    denar os saberes disciplinares que serviro como

    base para a constituio de competncias, cuja

    reerncia so as diretrizes e orientaes nacio-

    nais, de um lado, e as demandas do mundo

    contemporneo, de outro.

    As novas tecnologias da inormao

    promoveram uma mudana na produo, na

    organizao, no acesso e na disseminao doconhecimento. A escola, sobretudo hoje, j no

    a nica detentora de inormao e conheci-

    mento, mas cabe a ela preparar seu aluno para

    viver em uma sociedade em que a inormao

    disseminada em grande velocidade.

    Vale insistir que essa preparao no

    exige maior quantidade de ensino (ou de

    contedos), mas sim melhor qualidade deaprendizagem. preciso deixar claro que isso

    no signica que os contedos do ensino no

    sejam importantes; ao contrrio, so to impor-

    tantes que a eles est dedicado este trabalho

    de elaborao do Currculo do ensino ocial do

    Estado de So Paulo. So to decisivos que in-

    dispensvel aprender a continuar aprendendo

    os contedos escolares, mesmo ora da escola

    ou depois dela. Continuar aprendendo a maisvital das competncias que a educao deste

    sculo precisa desenvolver. No s os conheci-

    mentos com os quais a escola trabalha podem

    mudar, como a vida de cada um apresentar

    novas nases e necessidades, que precisaro

    ser continuamente supridas. Preparar-se para

    acompanhar esse movimento torna-se o gran-

    de desao das novas geraes.

    Este Currculo adota como competncias

    para aprender aquelas que oram ormuladas

    no reerencial terico do Exame Nacional do

    Ensino Mdio (Enem, 1998). Entendidas como

    desdobramentos da competncia leitora e es-

    critora, para cada uma das cinco competncias

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    ApresentaoCurrculo do Estado de So Paulo

    do Enem transcritas a seguir apresenta-se a ar-

    ticulao com a competncia de ler e escrever.

    Dominar a norma-padro da Lngua Portu-

    guesa e azer uso das linguagens matemtica,

    artstica e cientca. A constituio da

    competncia de leitura e escrita tambm

    o domnio das normas e dos cdigos que

    tornam as linguagens instrumentos ecien-

    tes de registro e expresso que podem ser

    compartilhados. Ler e escrever, hoje, so

    competncias undamentais para qualquerdisciplina ou prosso. Ler, entre outras coisas,

    interpretar (atribuir sentido ou signicado),

    e escrever, igualmente, assumir uma autoria

    individual ou coletiva (tornar-se responsvel

    por uma ao e suas consequncias).

    Construir e aplicar conceitos das vrias reas

    do conhecimento para a compreenso de

    enmenos naturais, de processos histri-co-geogrcos, da produo tecnolgica e

    das maniestaes artsticas. o desenvol-

    vimento da linguagem que possibilita o ra-

    ciocnio hipottico-dedutivo, indispensvel

    compreenso de enmenos. Ler, nesse sen-

    tido, um modo de compreender, isto , de

    assimilar experincias ou contedos discipli-

    nares (e modos de sua produo); escrever

    expressar sua construo ou reconstruo

    com sentido, aluno por aluno.

    Selecionar, organizar, relacionar, interpre-

    tar dados e inormaes representados de

    dierentes ormas, para tomar decises e

    enrentar situaes-problema. Ler implica

    tambm alm de empregar o raciocnio hi-

    pottico-dedutivo que possibilita a compre-

    enso de enmenos antecipar, de ormacomprometida, a ao para intervir no en-

    meno e resolver os problemas decorrentes

    dele. Escrever, por sua vez, signica dominar

    os inmeros ormatos que a soluo do pro-

    blema comporta.

    Relacionar inormaes, representadas em

    dierentes ormas, e conhecimentos dispo-

    nveis em situaes concretas, para construirargumentao consistente. A leitura, nes-

    se caso, sintetiza a capacidade de escutar,

    supor, inormar-se, relacionar, comparar etc.

    A escrita permite dominar os cdigos que

    expressam a deesa ou a reconstruo de ar-

    gumentos com liberdade, mas observando

    regras e assumindo responsabilidades.

    Recorrer aos conhecimentos desenvolvidos

    na escola para elaborar propostas de inter-

    veno solidria na realidade, respeitando os

    valores humanos e considerando a diversida-

    de sociocultural. Ler, nesse caso, alm de

    implicar o descrever e o compreender, bem

    como o argumentar a respeito de um en-

    meno, requer a antecipao de uma inter-

    veno sobre ele, com a tomada de decises

    a partir de uma escala de valores. Escrever

    ormular um plano para essa interveno,

    ormular hipteses sobre os meios mais e-

    cientes para garantir resultados a partir da

    escala de valores adotada. no contexto da

    realizao de projetos escolares que os alu-

    nos aprendem a criticar, respeitar e propor

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    Apresentao Currculo do Estado de So Paulo

    projetos valiosos para toda a sociedade; por

    intermdio deles, aprendem a ler e a escre-

    ver as coisas do mundo atual, relacionandoaes locais com a viso global, por meio de

    atuao solidria.

    Articulao com o mundo do trabalho

    A contextualizao tem como norte os

    dispositivos da LDBEN, as normas das DCN, que

    so obrigatrias, e as recomendaes dos PCN

    do Ensino Mdio, tambm pertinentes paraa educao bsica como um todo, sobretudo

    para o segmento da 5a srie/6o ano em dian-

    te. Para isso, preciso recuperar alguns tpicos

    desse conjunto legal e normativo.

    Compreenso dos signifcados das

    cincias, das letras e das artes

    Compreender o signifcado reconhecer,apreender e partilhar a cultura que envolve

    as reas de conhecimento, um conjunto de

    conceitos, posturas, condutas, valores, eno-

    ques, estilos de trabalho e modos de azer que

    caracterizam as vrias cincias naturais, exatas,

    sociais e humanas , as artes visuais, musicais,

    do movimento e outras , a matemtica, as ln-

    guas e outras reas de expresso no verbal.

    Ao dispor sobre esse objetivo de compre-

    enso do sentido, a LDBEN est indicando que

    no se trata de ormar especialistas nem pro-

    fssionais. Especialistas e profssionais devem,

    alm de compreender o sentido, dominar a es-

    trutura conceitual e o estatuto epistemolgico

    de suas especialidades no esse o caso dos

    alunos da educao bsica. Como esto na es-

    cola, preparando-se para assumir plenamentesua cidadania, todos devem passar pela ala-

    betizao cientfca, humanista, lingustica, ar-

    tstica e tcnica para que sua cidadania, alm

    de ser um direito, tenha qualidade. O aluno

    precisa constituir as competncias para reco-

    nhecer, identifcar e ter viso crtica daquilo

    que prprio de uma rea do conhecimento

    e, a partir desse conhecimento, avaliar a im-

    portncia dessa rea ou disciplina em sua vidae em seu trabalho.

    A lei determina um prazo generoso para

    que os alunos aprendam o signifcado das cin-

    cias, das artes e das letras: comea na Educa-

    o Inantil, percorre o Ensino Fundamental e

    prossegue no Ensino Mdio.

    Durante mais de doze anos dever havertempo suciente para que os alunos se ala-

    betizem nas cincias, nas humanidades e nas

    tcnicas, entendendo seus enfoques e mtodos

    mais importantes, seus pontos ortes e racos,

    suas polmicas, seus conceitos e, sobretudo,

    o modo como suas descobertas infuenciam

    a vida das pessoas e o desenvolvimento social

    e econmico.

    Para isso, importante abordar, em cada

    ano ou nvel da escola bsica, a maneira como

    as dierentes reas do currculo articulam a

    realidade e seus objetos de conhecimento es-

    pecfcos, a partir de questes como as exem-

    plifcadas a seguir.

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    ApresentaoCurrculo do Estado de So Paulo

    Que limitaes e potenciais tm os enoques

    prprios das reas?

    Que prticas humanas, das mais simples s

    mais complexas, tm undamento ou inspi-

    rao nessa cincia, arte ou outra rea de

    conhecimento?

    Quais as grandes polmicas nas vrias disci-

    plinas ou reas de conhecimento?

    A relao entre teoria e prtica em cadadisciplina do Currculo

    A relao entre teoria e prtica no envolve

    necessariamente algo observvel ou manipulvel,

    como um experimento de laboratrio ou a cons-

    truo de um objeto. Tal relao pode acontecer

    ao se compreender como a teoria se aplica em

    contextos reais ou simulados. Uma possibilidade

    de transposio didtica reproduzir a indagaode origem, a questo ou necessidade que levou

    construo de um conhecimento que j est

    dado e precisa ser apropriado e aplicado, no obri-

    gatoriamente ser descoberto de novo.

    A lei determina corretamente que a rela-

    o entre teoria e prtica se d em cada disci-

    plina do currculo, uma vez que boa parte dos

    problemas de qualidade do ensino decorre da

    diculdade em destacar a dimenso prtica

    do conhecimento, tornando-o verbalista e abs-

    trato. Por exemplo, a disciplina Histria , por

    vezes, considerada terica, mas nada to pr-

    tico quanto entender a origem de uma cidade

    e as razes da congurao urbana. A Qumica

    erroneamente considerada mais prtica por

    envolver atividades de laboratrio, manipula-

    o de substncias e outras idiossincrasias; noentanto, no existe nada mais terico do que o

    estudo da tabela de elementos qumicos.

    A mesma Qumica que emprega o nome

    dos elementos precisa ser um instrumento

    cognitivo para nos ajudar a entender e, se preciso,

    decidir sobre o uso de alimentos com agrotxicos

    ou conservantes. Tais questes no se restringem

    a especialistas ou cientistas. No preciso ser qu-mico para ter de escolher o que se vai comer.

    No entanto, para sermos cidados ple-

    nos, devemos adquirir discernimento e co-

    nhecimentos pertinentes para tomar decises

    em diversos momentos, como em relao

    escolha de alimentos, ao uso da eletricidade,

    ao consumo de gua, seleo dos progra-

    mas de TV ou escolha do candidato a umcargo poltico.

    As relaes entre educao e tecnologia

    A educao tecnolgica bsica uma das

    diretrizes que a LDBEN estabelece para orientar

    o currculo do Ensino Mdio. A lei ainda associa

    a compreenso dos undamentos cientcos

    dos processos produtivos ao relacionamento

    entre teoria e prtica em cada disciplina do cur-

    rculo. E insiste quando insere o domnio dos

    princpios cientcos e tecnolgicos que presi-

    dem a produo moderna entre as compe-

    tncias que o aluno deve demonstrar ao nal

    da educao bsica. A tecnologia comparece,

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    Apresentao Currculo do Estado de So Paulo

    portanto, no currculo da educao bsica com

    duas acepes complementares:

    a) como educao tecnolgica bsica;

    b) como compreenso dos undamentos cien-

    tcos e tecnolgicos da produo.

    A primeira acepo reere-se alabetiza-

    o tecnolgica, que inclui aprender a lidar com

    computadores, mas vai alm. Alabetizar-se

    tecnologicamente entender as tecnologias

    da histria humana como elementos da cul-tura, como parte das prticas sociais, culturais

    e produtivas, que, por sua vez, so insepar-

    veis dos conhecimentos cientcos, artsticos e

    lingusticos que as undamentam. A educao

    tecnolgica bsica tem o sentido de preparar

    os alunos para viver e conviver em um mun-

    do no qual a tecnologia est cada vez mais

    presente, no qual a tarja magntica, o celu-

    lar, o cdigo de barras e outros tantos recur-sos digitais se incorporam velozmente vida

    das pessoas, qualquer que seja sua condio

    socioeconmica.

    A segunda acepo, ou seja, a com-

    preenso dos undamentos cienticos e tec-

    nolgicos da produo, az da tecnologia a

    chave para relacionar o currculo ao mundo

    da produo de bens e servios, isto , aos

    processos pelos quais a humanidade e cada

    um de ns produz os bens e servios de que

    necessita para viver. Foi para se manter iel

    ao esprito da lei que as DCN introduziram a

    tecnologia em todas as reas, tanto das DCN

    como dos PCN para o Ensino Mdio, evitando

    a existncia de disciplinas tecnolgicas iso-

    ladas e separadas dos conhecimentos que lhes

    servem de undamento.

    A prioridade para o contexto do trabalho

    Se examinarmos o conjunto das reco-

    mendaes j analisadas, o trabalho enquanto

    produo de bens e servios revela-se como a

    prtica humana mais importante para conectar

    os contedos do currculo realidade. Desde sua

    abertura, a LDBEN az reerncia ao trabalho,enquanto prtica social, como elemento que

    vincula a educao bsica realidade, desde

    a Educao Inantil at a concluso do Ensino

    Mdio. O vnculo com o trabalho carrega vrios

    sentidos que precisam ser explicitados.

    Do ponto de vista losco, expressa

    o valor e a importncia do trabalho. par-

    te qualquer implicao pedaggica relativa acurrculos e denio de contedos, o va-

    lor do trabalho incide em toda a vida esco-

    lar: desde a valorizao dos trabalhadores da

    escola e da amlia at o respeito aos traba-

    lhadores da comunidade, o conhecimento do

    trabalho como produtor de riqueza e o reco-

    nhecimento de que um dos undamentos da

    desigualdade social a remunerao injusta

    do trabalho. A valorizao do trabalho tam-

    bm uma crtica ao bacharelismo ilustrado,

    que por muito tempo predominou nas escolas

    voltadas para as classes sociais privilegiadas.

    A implicao pedaggica desse princpio

    atribui um lugar de destaque para o traba-

    lho humano, contextualizando os contedos

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    ApresentaoCurrculo do Estado de So Paulo

    curriculares, sempre que or pertinente, com

    os tratamentos adequados a cada caso.

    Em sntese, a prioridade do trabalho na

    educao bsica assume dois sentidos com-

    plementares: como valor, que imprime im-

    portncia ao trabalho e cultiva o respeito que

    lhe devido na sociedade, e como tema

    que perpassa os contedos curriculares, atri-

    buindo sentido aos conhecimentos espec-

    cos das disciplinas.

    O contexto do trabalho no Ensino Mdio

    A tradio de ensino academicista, des-

    vinculado de qualquer preocupao com a

    prtica, separou a ormao geral e a orma-

    o prossional no Brasil. Durante dcadas,

    elas oram modalidades excludentes de ensi-

    no. A tentativa da LDB (Lei no 5692/71) de unir

    as duas modalidades, prossionalizando todoo Ensino Mdio, apenas descaracterizou a or-

    mao geral, sem ganhos signicativos para a

    prossional.

    Hoje essa separao j no se d nos

    mesmos moldes porque o mundo do trabalho

    passa por transormaes proundas. medida

    que a tecnologia vai substituindo os trabalha-

    dores por autmatos na linha de montagem

    e nas tareas de rotina, as competncias para

    trabalhar em ilhas de produo, associar con-

    cepo e execuo, resolver problemas e tomar

    decises tornam-se mais importantes do que

    conhecimentos e habilidades voltados para

    postos especcos de trabalho.

    A LDBEN adota uma perspectiva sintoni-

    zada com essas mudanas na organizao do

    trabalho ao recomendar a articulao entre edu-cao bsica e prossional, denindo, entre as

    nalidades do Ensino Mdio, a preparao

    bsicapara o trabalho e a cidadania do edu-

    cando, para continuar aprendendo, de modo a

    ser capaz de se adaptar com fexibilidade a

    novas condies de ocupao ou aperfeioa-

    mento posteriores (grio nosso). A lei no re-

    cupera a ormao prossional para postos ou

    reas especcas dentro da carga horria geraldo Ensino Mdio, como pretendeu a legislao

    anterior, mas tambm no chancela o carter

    inteiramente propedutico que esse ensino

    tem assumido na educao bsica brasileira.

    As DCN para o Ensino Mdio interpre-

    taram essa perspectiva como uma preparao

    bsica para o trabalho, abrindo a possibilidade

    de que os sistemas de ensino ou as escolas te-nham nases curriculares dierentes, com au-

    tonomia para eleger as disciplinas especcas

    e suas respectivas cargas horrias dentro das

    trs grandes reas institudas pelas DCN, desde

    que garantida a presena das trs reas. Essa

    abertura permite que escolas de Ensino Mdio,

    a partir de um projeto pedaggico integrado

    com cursos de educao prossional de nvel

    tcnico, atribuam mais tempo e ateno a dis-

    ciplinas ou reas disciplinares cujo estudo possa

    ser aproveitado na educao prossional.

    Para as DCN, o que a lei denomina pre-

    parao bsica para o trabalho pode ser a

    aprendizagem de contedos disciplinares

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    Apresentao Currculo do Estado de So Paulo

    constituintes de competncias bsicas que

    sejam tambm pr-requisitos de ormao

    prossional. Em inmeros casos, essa opopouparia tempo de estudo para o jovem que

    precisa ingressar precocemente no mercado de

    trabalho. Para acilitar essa abertura, as Diretri-

    zes Curriculares Nacionais para a Educao Pro-

    ssional de Nvel Tcnico (DCNEP) fexibilizaram

    a durao dos cursos prossionais desse nvel,

    possibilitando o aproveitamento de estudos j

    realizados ou mesmo o exerccio prossional

    prvio. Essas duas peas normativas criaramos mecanismos pedaggicos que podem via-

    bilizar o que oi estabelecido na LDBEN (Lei

    no 9394/96) e em decretos posteriores.

    A preparao bsica para o trabalho em

    determinada rea prossional, portanto, pode

    ser realizada em disciplinas de ormao bsica

    do Ensino Mdio. As escolas, nesse caso, atri-

    buiriam carga horria suciente e tratamento

    pedaggico adequado s reas ou disciplinas

    que melhor preparassem seus alunos para o

    curso de educao prossional de nvel tcni-co escolhido. Essa possibilidade undamenta-se

    no pressuposto de que nases curriculares

    dierenciadas so equivalentes para a consti-

    tuio das competncias previstas na LDBEN,

    nas DCN para o Ensino Mdio e na matriz de

    competncias do Enem.

    Isso supe um tipo de articulao entre

    currculos de ormao geral e currculos deormao prossional, em que os primeiros

    encarregam-se das competncias bsicas, un-

    damentando sua constituio em contedos,

    reas ou disciplinas anadas com a ormao

    prossional nesse ou em outro nvel de esco-

    larizao. Supe tambm que o tratamento

    oerecido s disciplinas do currculo do Ensino

    Mdio no seja apenas propedutico, tampou-

    co voltado estritamente para o vestibular.

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    Arterea de CHTCurrculo do Estado de So Paulo

    A expresso Cincias Humanas e suas

    Tecnologias leva-nos a uma refexo inicial so-

    bre sua insero no campo dos conhecimentos

    a ser oerecidos, atualmente, no conjunto da

    educao bsica.

    Embora toda cincia seja indiscutivel-

    mente humana, por resultar da acumulaocultural gerada por dierentes sociedades, em

    dierentes tempos e espaos, o estudo das de-

    nominadas humanidades remonta s artes

    liberais antigas, notadamente ao estudo das

    artes, lnguas e literaturas clssicas. Na Idade

    Mdia, a tradio crist acentuou a distino

    entre a literatura sacra e a proana, evidencian-

    do o carter laico das humanidades. Em segui-

    da, o Renascimento perpetuou essa condio,enatizando a necessidade de um arcabouo

    de conhecimentos acerca dos estudos sobre

    o humano e sua condio moral. Segundo

    Chervel e Compre (1999), at o sculo XIX,

    o estudo das Humanidades oi responsvel

    pela ormao do cristo dos colgios jesu-

    tas, do cidado das luzes e do republicano dos

    liceus modernos.

    Na primeira metade do sculo XX, as

    Cincias Humanas consolidaram-se como co-

    nhecimento cientco, a partir das contribui-

    es da enomenologia, do estruturalismo e do

    marxismo; porm, o ensino das Humanidades,

    como corpo curricular tradicional e enciclope-

    dista, dirigido ormao das elites, somente

    apresentou mudanas signicativas nas trs

    ltimas dcadas do sculo passado, como re-

    sultado das grandes transormaes socioeco-

    nmicas, polticas e tecnolgicas.

    Na atualidade, a rea de Cincias Huma-

    nas compreende conhecimentos produzidospor vrios campos de pesquisa Histria,

    Geograa, Filosoa, Sociologia e Psicologia,

    alm de outros, como Poltica, Antropologia

    e Economia que tm por objetivo o estudo

    dos seres humanos em suas mltiplas rela-

    es, undamentado por meio da articulao

    entre esses diversos saberes. Nesse sentido, a

    produo cientca, acelerada pela sociedade

    tecnolgica, tem colocado em debate umagama variada de novas questes de natureza

    tica, cultural e poltica, que necessitam emer-

    gir como objeto de anlise das disciplinas que

    compem as Cincias Humanas. Portanto, o

    carter interdisciplinar desta rea corrobora

    a necessidade de se utilizar o seu acervo de

    conhecimentos para auxiliar os jovens estu-

    dantes a compreender as questes que os

    aetam, bem como a tomar decises neste

    incio de sculo. Dessa orma, ao integrar os

    campos disciplinares, o conjunto dessas cin-

    cias contribui para uma ormao que permita

    ao jovem estudante compreender as relaes

    entre sociedades dierentes, analisar os in-

    meros problemas da sociedade em que vive e

    A concepo do ensino na rea de Cincias

    Humanas e suas Tecnologias

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    Arterea de CHT Currculo do Estado de So Paulo

    as diversas ormas de relao entre homem e

    natureza, refetindo sobre as inmeras aes

    e contradies da sociedade em relao a siprpria e ao ambiente.

    A convico de que o ensino das Cincias

    Humanas indispensvel para a boa ormao

    de nossos estudantes oi a principal inspirao

    para a ormatao dos currculos de Histria,

    Geograa, Filosoa e Sociologia aqui apresen-

    tados. No caso de Histria e Geograa, os Par-

    metros Curriculares Nacionais (PCN) do EnsinoFundamental oereceram reerenciais importan-

    tes s discusses que ancoraram a elaborao

    deste documento.

    Segundo os PCN, Histria compete a-

    vorecer a ormao do estudante como cida-

    do, para que assuma ormas de participao

    social, poltica e atitudes crticas diante da reali-

    dade atual, aprendendo a discernir os limites eas possibilidades de sua atuao, na permann-

    cia ou na transormao da realidade histrica

    na qual se insere.

    Quanto Geograa, o documento

    aponta como objetivo estudar as relaes

    entre o processo histrico na ormao das

    sociedades humanas e o uncionamento da

    natureza, por meio da leitura do lugar, do

    territrio, a partir de sua paisagem. Nesse

    sentido, por intermdio dessas duas discipli-

    nas que o conjunto dos diversos saberes que

    conormam as Cincias Humanas participa,

    de maneira interdisciplinar, do processo de

    ormao do educando.

    No Ensino Mdio, Histria e Geogra-

    a integram-se e articulam-se a Filosoa e a

    Sociologia.

    O retorno da Filosoa ao Ensino Mdio

    deve ser entendido como o reconhecimento

    de sua importncia para ampliar o signicado

    e os objetivos sociais e culturais da educao.

    Segundo essa perspectiva, a Filosoa permite

    orientar refexes para que os alunos compre-

    endam melhor as relaes histrico-sociais e, ao

    mesmo tempo, possam se inserir no universosubjetivo das representaes simblicas, contri-

    buindo tambm para elevar a educao a um

    nvel poltico-existencial que supere as meras

    transmisso e aquisio de contedos, eitas de

    modo mecnico e inconsciente.

    Por sua vez, a Sociologia, para alm de um

    enriquecimento pedaggico, pode chegar ese-

    ra da interveno, na medida em que contribui,por exemplo, para politizar as relaes escolares,

    transormando a prpria instituio em objeto de

    estudo, o que inclui as relaes sociais que a de-

    senham e a ormatao dos currculos que a de-

    vem animar. Isso no quer dizer que a ormao

    dos alunos deva visar soluo dos problemas da

    escola que, alis, podem ser mais bem compre-

    endidos se esse conhecimento or dirigido para

    ora dela, pois da sociedade que a escola recebe

    suas infuncias e caractersticas undamentais.

    Assim, a partir da escola, a disciplina pode

    participar da educao da sociedade como um

    todo, oerecendo inormaes para que os alunos

    desenvolvam a capacidade de atuar consciente-

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    Arterea de CHTCurrculo do Estado de So Paulo

    mente na sociedade, o que pressupe assumir

    posies polticas denidas e consistentes, inde-

    pendentemente das opes prossionais, geral-mente denidas ao trmino do Ensino Mdio.

    Para a consecuo desses objetivos da

    rea de Cincias Humanas, vale considerar uma

    limitao sempre apontada pelos proessores: a

    resistncia leitura. Ora, considerando que os

    objetivos undamentais dos atuais programas

    curriculares consistem no desenvolvimento, pe-

    los estudantes, de competncias e habilidadesde leitura, refexo e escrita, contextualizadas

    social e culturalmente no mundo do trabalho,

    a problematizao dos temas tratados em sala

    deve ser amparada pela leitura de textos.

    Entretanto, se os proessores se acomo-

    darem ante a constatao de que os alunos

    no leem, o problema no ser tratado comouma questo sociolgica. Quais atores de or-

    dem social e cultural esto na base do tradi-

    cional jejum que os educandos praticam em

    relao leitura? A resposta a este problema

    central pode comear a ser dada se os prprios

    proessores se perguntarem sobre seus hbi-

    tos de leitura e quais procedimentos adotam

    para incentivar os estudantes a ler. Por isso,

    preciso compartilhar com os alunos a expe-rincia, em termos de hbitos de leitura, que

    tiveram e tm, pois s assim programas curri-

    culares, como este, podero se transormar em

    ormas transormadoras de cultura.

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    ArteHistria Currculo do Estado de So Paulo

    O ensino de Histria: brevehistrico

    A Histria despontou no horizonte es-

    colar brasileiro como contedo sugerido para

    desenvolver as prticas de leitura dos estudantes

    em 1827, por determinao do Decreto dasEscolas de Primeiras Letras, alcanando ostatus

    de disciplina autnoma em 1837, no Colgio

    Pedro II (Rio de Janeiro), a primeira escola se-

    cundria do Pas. Desde ento, sobre o seu

    ensino incidiram diretamente as infuncias do

    contexto poltico nacional, j que o poder da

    Histria de ajudar a ormar conscincias nunca

    passou despercebido s instituies de poder,

    assim como aos seus agentes de produo edivulgao, tanto autores quanto proessores.

    No Estado de So Paulo, desde a dcada

    de 1980, a Secretaria da Educao vem promo-

    vendo processos de discusso e elaborao do

    currculo de Histria dos atuais Ensino Funda-

    mental e Ensino Mdio, cujas snteses oram

    publicadas nas dcadas de 1980 e 1990.

    A bibliograa disponvel sobre o assunto

    vasta e bastante conhecida dos prossionais

    da rea, alm de constituir um tema de pesqui-

    sa cada vez mais valorizado em nossas univer-

    sidades. A acilidade de acesso a essa literatura

    e a natureza deste documento desaconselham

    aqui sua anlise detalhada, bastando a reco-

    mendao de que os proessores mantenham o

    interesse pelos problemas que aetam o ensino

    dessa disciplina.

    Fundamentos para o ensino de

    Histria

    impossvel saber quem refetiu, pela

    primeira vez, sobre a utilidade da Histria ou

    precisar a poca muito antiga, certamente

    em que essa questo comeou a surgir, antes

    de se azer presente no universo escolar. Mas,

    j que a pergunta continua a ser eita, uma

    resposta poderia ser, simplesmente: a Histria

    necessria por ser uma das mais importantesexpresses de humanidade, como a Msica,

    por exemplo. E, conquanto a Histria e a M-

    sica paream conhecimentos sem utilidade,

    caso se considerem os valores estabelecidos na

    sociedade contempornea que hierarquiza

    as coisas em uno de seus usos prticos ou

    tcnicos , basta imaginar um mundo em que

    elas no existam para perceber sua importn-

    cia. Aproundando um pouco a anlise, o de-

    sao para quem trabalha com Histria consiste

    em extrair conhecimento de vestgios e rag-

    mentos de humanidade que sobreviveram

    passagem do tempo e a outras distncias. Cons-

    tri-se, assim a partir do presente, como

    ensinou Benedetto Croce , uma espcie de

    Currculo de Histria

    Ensino Fundamental (Ciclo II) e Ensino Mdio

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    ArteHistriaCurrculo do Estado de So Paulo

    ponte intelectual que pode nos levar aos luga-

    res de onde viemos para saber o que e quem

    somos e, principalmente, o que poderamosser, j que um dos principais compromissos da

    cultura histrica com a constante reelabo-

    rao esttica do mundo social, movendo-se

    sempre na contramo do esquecimento.

    No que se relaciona ao ensino de His-

    tria, sem desconsiderar as dcadas de em-

    bates de carter poltico-acadmico e os

    milhares de pginas por eles inspirados eproduzidos, importante registrar algumas

    concordncias que assinalam as posies

    mais recorrentes a encontradas. Podemos

    comear pela necessidade de preservar e en-

    atizar nos programas e currculos os conte-

    dos mais importantes. Entretanto, conside-

    rando que cada um julga a seu modo o que

    mais (ou menos) importante, muito dicil

    conseguir alguma orma de consenso. Emtempos de triste memria, durante o regi-

    me ditatorial, o consenso era obtido ora:

    isto pode; isto no pode sempre de orma

    imperativa. Entretanto, passados os tempos

    diceis, as lies que poderiam ser tiradas de

    sua traumtica superao sucumbiram, muitas

    vezes, diante de posturas maniquestas que

    transormaram o dierente em rival ou quase

    inimigo, o que vai das torcidas uniormizadas

    das arenas esportivas aos ambientes educa-

    cionais. Por exemplo, so raros os adeptos

    do marxismo que consideram os temas va-

    lorizados pela Escola dos Annales ou pela

    Histria Cultural dignos de ocupar qualquer

    espao no ensino. Do mesmo modo, quan-

    tos seguidores de Fernand Braudel, Michel

    Foucault ou Roger Chartier lamentariam se

    o materialismo histrico pudesse ser sepul-tado, em Londres, com seu criador? E, con-

    quanto essas coisas possam ser mais per-

    ceptveis nos ambientes universitrios, seus

    desdobramentos atingem diretamente os

    programas de ensino do nvel bsico, seja no

    que se reere aos contedos curriculares ou

    mecanismos de avaliao, seja no que diz res-

    peito aos materiais didticos.

    Um passo importante para tentar solucio-

    nar esse problema aponta para a necessidade

    de superar a recorrente tendncia de conceber

    o currculo escolar como se osse um curso de

    graduao na rea.

    O que azer para tentar alterar esse qua-

    dro? Em primeiro lugar, importante consi-

    derar que impossvel trabalhar a Histria emsua imaginria totalidade, independentemente

    do nvel de ensino inclusive o universitrio ,

    o que implica a necessidade de conceber a ar-

    quitetura curricular a partir de escolhas e do

    encadeamento conceitual daquilo que se de-

    cidiu manter em sua ormatao, como apre-

    sentado a seguir.

    Histria para o Ensino Fundamental(Ciclo II) e o Ensino Mdio

    Retomando os princpios dos Parme-

    tros Curriculares Nacionais (PCN), ca claro

    que o primeiro objetivo geral do Ensino Fun-

    damental levar os alunos compreenso da

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    ArteHistria Currculo do Estado de So Paulo

    cidadania como participao social e pol-

    tica. A partir dessa compreenso, espera-se

    despertar a conscincia em relao ao exerc-cio de direitos e deveres polticos, civis e so-

    ciais, adotando, no dia a dia, atitudes de

    solidariedade, cooperao e repdio s injus-

    tias, respeitando o outro e exigindo para si

    o mesmo respeito.

    Assim, os estudantes devem desen-

    volver um posicionamento crtico rente aos

    problemas que aetam a vida social, reco-nhecendo o dilogo como ponto de partida

    undamental para a tomada de decises co-

    letivas. Por conta de nossa ormao scio-his-

    trica, d-se especial nase questo da iden-

    tidade: no que se relaciona ao universo social

    mais amplo da nacionalidade, como no mbito

    individual, apontando-se como bsico o conhe-

    cimento das caractersticas undamentais do

    Brasil (sociais, materiais e culturais) e o reco-nhecimento e a valorizao da pluralidade que

    constitui o patrimnio sociocultural brasileiro,

    assim como o de outros povos e naes. Cabe

    salientar que essa perspectiva considera o res-

    peito s dierenas que caracterizam os indiv-

    duos e os grupos integrantes da sociedade.

    Alm desse aspecto, o educando dever

    ser capaz de refetir sobre si mesmo, reconhe-

    cendo-se como integrante, dependente e agen-

    te transormador do ambiente, cuidando para

    preserv-lo e assumindo posturas e atitudes de

    interveno solidria na sociedade, visando

    conquista de nveis elevados de qualidade de

    vida para si e para o conjunto dos cidados.

    Para tanto, torna-se necessrio desenvol-

    ver a capacidade de usar criticamente ontes de

    inormao variadas, o que possibilitar o ques-tionamento responsvel da realidade, levando

    ormulao de problemas e ao encaminha-

    mento de solues adequadas e decididas co-

    letivamente.

    Nota-se que, apesar de esse conjunto de

    valores e princpios dizer respeito ormao b-

    sica em geral, inegvel que se abre um vasto e

    rtil terreno para que eles sejam trabalhados naHistria. Isso porque, embora essa disciplina no

    seja mais considerada a Mestra da Vida, como

    a concebiam alguns letrados do Renascimento,

    ela continua sendo uma janela indispensvel que

    se oerece para observao, anlise, avaliao e

    crtica das prticas sociais ao longo do tempo,

    sem excluir o presente.

    Por exemplo, tendo em vista a im-portncia de que o estudante desenvolva a

    conscincia de que a convivncia social deve

    ser alicerada na percepo e no respeito

    aos elementos identitrios que caracteri-

    zam e dierenciam os indivduos e os grupos

    que compem a sociedade, recomenda-se a

    nase, nas aulas de Histria, das questes de

    alteridade. Situaes histricas para isso no

    altam, envolvendo desde temas mais gerais

    como as relaes entre romanos e brbaros

    germnicos, europeus e aricanos, europeus

    e povos americanos ou asiticos, catlicos e

    protestantes na Europa do Renascimento at

    problemas mais especcos como a persegui-

    o histrica aos judeus, desde a Antiguidade,

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    a questo dos escravos aps a independncia

    dos Estados Unidos da Amrica ou durante a

    Guerra Civil, as relaes de gnero, a xenoo-bia e o racismo contemporneos, a sexualida-

    de, o imperialismo etc.

    Ao tratarem, em sentido geral, do ensino

    das Cincias Humanas, os PCN armam que ele

    deve avorecer a ormao do estudante como

    cidado, para que assuma ormas de partici-

    pao social, poltica e atitudes crticas diante

    da realidade atual, aprendendo a discernir oslimites e as possibilidades de sua atuao, na

    permanncia ou na transormao da realidade

    histrica na qual se insere. Para tanto, neces-

    srio traduzir os conhecimentos sobre a pessoa,

    a sociedade, a economia, as prticas sociais e

    culturais em condutas de indagao, anlise,

    problematizao e protagonismo diante de si-

    tuaes novas, problemas ou questes da vida

    pessoal, social, poltica, econmica e cultural.Isso exige a compreenso clara da produo e o

    papel histrico das instituies sociais, polticas

    e econmicas, associando-as s prticas dos di-

    erentes grupos e atores sociais, aos princpios

    que regulam a convivncia em sociedade, aos

    direitos e deveres da cidadania, justia e dis-

    tribuio dos benecios econmicos.

    Caberia, portanto, aos proessores a res-

    ponsabilidade de conduzir os alunos por cami-

    nhos que levem ao exerccio pleno da cidada-

    nia, acompanhando e mediando os momentos

    iniciais da ormao da conscincia crtica de

    crianas e adolescentes, a partir de sua expe-

    rincia cotidiana.

    Sobre a organizao dos contedos bsicos

    No que diz respeito diretamente ao cur-rculo de Histria em vigor na rede pblica es-

    tadual de ensino de