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4028 FORMAÇÃO DE PROFESSORES PARA O ENSINO DE CIÊNCIAS NOS ANOS INICIAIS DO ENSINO FUNDAMENTAL: ENFOQUE DOS ÚLTIMOS DEZ ANOS Monica Abrantes Galindo de Oliveira Julliana Alves Paixão Leandro Londero Marcos Serzedello Instituto de Biociências, Letras e Ciências Exatas – UNESP/IBILCE Eixo 02 - Formação continuada e desenvolvimento profissional de professores da educação básica E-mail: [email protected] Introdução No presente trabalho discutiremos aspectos da formação dos professores para o ensino de Ciências nas séries iniciais do Ensino Fundamental por meio de um levantamento de trabalhos publicados nos últimos dez anos do ENPEC – Encontro Nacional de Pesquisa em Ensino de Ciências. Aproximamo-nos dos chamados “Estudos da arte”, ainda que com o levantamento em apenas um evento, buscamos uma releitura e uma classificação de trabalhos já existentes. Embora no discurso não se negue a importância do ensino de Ciências nas séries iniciais, na prática da sala de aula a prioridade tem sido atribuída ao ensino de Português e Matemática, e quando se trata do ensino de Ciências, os temas prioritários são ligados à Biologia. Nesse sentido, um dos motivos que justificam a importância do conhecimento de um panorama dos trabalhos que envolvem a formação dos professores para o ensino de Ciências nas séries iniciais do Ensino Fundamental é a consideração que a formação docente, não é o único, mas é um dos aspectos determinantes do tipo de trabalho com Ciências que acontece na sala de aula. Objetivamos analisar aspectos qualitativos e quantitativos das produções acadêmicas focadas na Formação de Professores para o Ensino de Ciências nos Anos Iniciais do Ensino Fundamental. Dessa forma, tentamos encontrar respostas ao seguinte problema: Quais são as características das pesquisas, publicadas na última década, sobre a Formação de Professores para o Ensino de Ciências nos Anos Iniciais do Ensino Fundamental?

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4028

FORMAÇÃO DE PROFESSORES PARA O ENSINO DE CIÊNCIAS NOS ANOS

INICIAIS DO ENSINO FUNDAMENTAL: ENFOQUE DOS ÚLTIMOS DEZ ANOS

Monica Abrantes Galindo de Oliveira

Julliana Alves Paixão

Leandro Londero

Marcos Serzedello

Instituto de Biociências, Letras e Ciências Exatas – UNESP/IBILCE

Eixo 02 - Formação continuada e desenvolvimento profissional de professores da

educação básica

E-mail: [email protected]

Introdução

No presente trabalho discutiremos aspectos da formação dos professores para o

ensino de Ciências nas séries iniciais do Ensino Fundamental por meio de um

levantamento de trabalhos publicados nos últimos dez anos do ENPEC – Encontro

Nacional de Pesquisa em Ensino de Ciências.

Aproximamo-nos dos chamados “Estudos da arte”, ainda que com o levantamento

em apenas um evento, buscamos uma releitura e uma classificação de trabalhos já

existentes.

Embora no discurso não se negue a importância do ensino de Ciências nas séries

iniciais, na prática da sala de aula a prioridade tem sido atribuída ao ensino de Português

e Matemática, e quando se trata do ensino de Ciências, os temas prioritários são ligados

à Biologia. Nesse sentido, um dos motivos que justificam a importância do conhecimento

de um panorama dos trabalhos que envolvem a formação dos professores para o ensino

de Ciências nas séries iniciais do Ensino Fundamental é a consideração que a formação

docente, não é o único, mas é um dos aspectos determinantes do tipo de trabalho com

Ciências que acontece na sala de aula.

Objetivamos analisar aspectos qualitativos e quantitativos das produções

acadêmicas focadas na Formação de Professores para o Ensino de Ciências nos Anos

Iniciais do Ensino Fundamental. Dessa forma, tentamos encontrar respostas ao seguinte

problema:

Quais são as características das pesquisas, publicadas na última década,

sobre a Formação de Professores para o Ensino de Ciências nos Anos Iniciais do

Ensino Fundamental?

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Para respondermos a esse problema, uma série de questões nortearam a

presente investigação são elas:

a) Qual a frequência de produções identificadas?

b) Quais são os objetivos dos estudos?

c) Quais as abordagens teóricas e metodológicas empregadas pelos

pesquisadores?

d) Quais são os focos de investigação dominantes e as lacunas existentes?

e) A que resultados as pesquisas chegaram e quais são as sugestões dos

autores para o campo da Formação de Professores de Ciências?

No presente trabalho destacaremos a freqüência dos trabalhosos e os focos de

investigação dominantes.

Referencial Teórico

Ao discorrermos sobre a temática “Formação de Professores”, primeiramente

torna-se necessário trazermos algumas definições sobre a formação, com o objetivo de

orientar o leitor quanto ao nosso entendimento sobre a temática.

Para Marcelo (1999, p. 19), a formação pode ser definida a partir de suas funções.

A primeira é a “função social” de difusão de saberes adotados a favor de um sistema

socioeconômico, de uma sociedade ou de uma cultura. A segunda função está associada

a um “processo de desenvolvimento e de estruturação da pessoa” realizado a partir das

experiências do sujeito em seu ambiente cultural e social. A terceira esta ligada às

atividades de formação profissional realizadas pelas instituições campo de trabalho –

“formação como instituição”.

A formação é, em geral, relacionada a um procedimento, um fazer, uma ação, na

qual se estudam coisas para atuar em determinadas situações, podendo ter origem

interna, por iniciativa própria de um sujeito, ou externa, por oferta de grupos ou entidades.

Para o mesmo autor, a ação formativa “corresponde a um conjunto de condutas,

de interações entre formadores e formandos” com a “intencionalidade de mudanças”

(Marcelo, ibidem, p.21). As mudanças estariam relacionadas à obtenção de novos

saberes que possibilitem modificar o estado inicial das situações.

O termo “Formação Inicial de Professores” corresponde ao ensino universitário em

cursos de licenciatura. Já o termo “Formação Continuada de Professores” vem sendo

empregado, há algumas décadas, para caracterizar diversas ações referentes a

atividades realizadas pelos e com os professores, depois de sua formação inicial, em

nível médio, superior, na própria escola ou em espaços de educação informal ou não

formal .

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Por outro lado, é comum escutarmos nos ambientes escolares menção à

formação continuada como sinônimo de reciclagem, aperfeiçoamento, atualização etc.

Para Falsarella (2004, p.50), a formação continuada de professores pode ser definida

como uma proposta intencional e planejada, que visa à mudança do educador através de

um processo reflexivo, crítico e criativo.

Concordamos com Candau (2004, p.143) ao argumentar que a formação

continuada de professores deve fundamentar-se em três teses: a) desarticulação do

lócus da formação continuada de professores da universidade para a própria escola; b) o

processo de formação continuada deve ter como referência os saberes docentes; c)

necessidade de distinguir nos processos formativos as diferentes etapas de

desenvolvimento profissional, admitindo que um professor novato não pode ser

comparado com um profissional que possui larga experiência docente.

É no campo das discussões sobre Formação de Professores que se situa a

presente investigação. No entanto, estamos preocupados, especificamente, com a

produção acadêmica divulgada nos últimos dez anos no que se refere à formação de

professores para o ensino de Ciências nos anos iniciais do Ensino Fundamental.

Para Santos (2006), nos últimos anos a organização do ensino de Ciências tem

sofrido várias propostas de transformações com o objetivo de melhorar as condições da

formação e possibilitar uma alfabetização científica para todos. Essa alfabetização

cientifica permite ao cidadão participar de certas decisões na sociedade, mas para isso é

necessário que haja um certo grau de conhecimentos específicos que não exijam

especialização nenhuma para participar de tal decisões.

Considerando que a alfabetização científica integra um conjunto de conteúdos

disciplinares das Ciências Naturais, que deve ser acessível a todos, independente das

escolhas relativas à futuras carreiras, constituindo-se os conhecimentos mínimos de

ciências que qualquer cidadão deve ter independente de sua profissão ou função,

podemos indagar inicialmente por que seria importante que as crianças pequenas

aprendessem Ciências já nos anos iniciais de sua escolarização?

Fumagalli (1998) levanta uma série de argumentos a favor do ensino de Ciências

naturais nos níveis mais fundamentais da educação. Citando apenas seus argumentos

principais, primeiramente a respeito do por que ensinar Ciências no ensino fundamental,

três motivos são considerados: o direito das crianças de aprender Ciências; o dever

social obrigatório da escola fundamental, como sistema escolar, de distribuir

conhecimentos científicos ao conjunto da população; e o valor social do conhecimento

científico. Sobre a possibilidade de as crianças pequenas aprenderem Ciências a autora

argumenta que, embora alguns pedagogos sustentem a impossibilidade de ensinar

4031

Ciências às crianças nas primeiras idades tomando por base as características do

desenvolvimento infantil estudadas e difundidas pela psicologia genética, colocando em

dúvida que uma criança que não tenha construído ainda uma estrutura formal de

pensamento possa ter acesso à compreensão das teorias científicas, esse argumento

encobre duas questões. Uma delas refere-se a de que Ciência estamos falando quando

dizemos ensinar Ciências às crianças. A Ciência escolar não é a Ciência dos cientistas.

Embora a primeira tome como referencia o conhecimento cientifico, não se identifica

totalmente com ele, pois existe um processo de transformação ou de transposição

didática desse conhecimento ao ser transmitido no contexto escolar de ensino

(CHEVELLARD apud FUMAGALLI, 1998). Além disso, a Ciência escolar é constituída por

um corpo de conteúdos que contém conceitos, procedimentos e atitudes. Em relação aos

conteúdos conceituais não há uma expectativa de alcançar mudanças conceituais

profundas, mas sim de enriquecer os esquemas de conhecimentos dos alunos numa

direção coerente com a científica (Fumagalli,1998). A segunda questão refere-se ao lugar

que é atribuído às estruturas cognoscitivas no processo de aprendizagem escolar. A

autora considera que, dentro do marco das suas estruturas de pensamento, as crianças

podem adquirir conhecimentos amplos e profundos sobre o mundo que as cerca.

Assim, considerando a importância do ensino de Ciências desde o inicio da

escolarização, a possibilidade da aprendizagem de Ciências pelas crianças e o papel da

formação docente nesse processo, destacamos a relevância do conhecimento de um

panorama sobre essa formação docente.

Metodologia

Tendo em vista que nosso objetivo no presente trabalho é ver as características

das pesquisas publicadas na última década, sobre a Formação de Professores para o

Ensino de Ciências nos anos iniciais do Ensino Fundamental, realizamos uma pesquisa

bibliográfica nas atas do Encontro Nacional de Pesquisa em Educação em Ciências

(ENPEC). Optamos por revisar as atas do ENPEC em virtude dele ser um congresso que

congrega uma parcela considerável dos pesquisadores que se dedicam ao Ensino de

Ciências e, pelo fato do evento possuir uma linha de apresentação de trabalhos

destinada especificamente à formação de professores.

No que se refere ao período escolhido, pensamos que as produções divulgadas

na última década são propícias de serem analisadas, tendo em vista o crescimento da

área de Educação em Ciências no mesmo período e por serem as publicações mais

recentes. Realizamos a busca dos trabalhos por meio da procura, no título, resumo e

palavras-chave, das seguintes expressões/termos/palavras: formação de professor,

4032

séries iniciais, ensino fundamental, ensino de Ciências e Ciclo I, anos iniciais e práticas

pedagógicas, para realizar a nossa pesquisa.

O ENPEC é um evento bianual promovido pela Associação Brasileira de Pesquisa

em Educação em Ciências (ABRAPEC) e tem como objetivo reunir e favorecer a

interação entre os pesquisadores das áreas de Ensino de Física, Química, Biologia,

Geociências, Ambiente, Saúde e áreas afins, com a finalidade de discutir trabalhos de

pesquisa recentes e tratar de temas de interesse da comunidade de educadores em

ciências. Segundo os dados disponibilizados pelo site da ABRAPEC – Associação

Brasileira de Pesquisa em Ensino de Ciências -, sua primeira edição realizou-se em 1997

e contou com 57 trabalhos apresentados. Por sua vez, a edição mais recente foi

realizada em 2015 na cidade de Águas de Lindóia. Perante isso, revisamos as atas das

últimas cinco edições que foram disponibilizadas pela ABRAPEC em seu site, ou seja,

2005, 2007, 2009, 2011 e 2013. A tabela 1 sintetiza dados das edições revisadas.

Número da Edição Ano de Realização Local de realizaçãoV 2005 BauruVI 2007 FlorianópolisVII 2009 FlorianópolisVIII 2011 CampinasIX 2013 Águas de LindóiaTabela 1 – Edições das atas revisadas, ano de realização e local.

Tendo concluído o levantamento da freqüência das produções, realizamos a

leitura cuidadosa de cada trabalho, que nos possibilitou a categorização dos artigos

encontrados em cinco grupos: Documentos, Propostas Didático-Pedagógicas,

Concepções docentes gerais, Trabalhos Acadêmicos e Sala de aula.

Justificamos a realização de nosso estudo a partir de uma revisão de literatura

com base nas palavras de Moreira (2004). Segundo esse autor, “revisar significa olhar

novamente, retomar os discursos de outros pesquisadores, mas não no sentido de

visualizar somente, mas de criticar”.

O autor considerada uma revisão de literatura como uma forma de “reunir e

discutir as informações produzidas na área de estudo” e, portanto, serve para “posicionar

o leitor do trabalho e o próprio pesquisador acerca dos avanços, retrocessos ou áreas

envoltas em penumbra. Fornece informações para contextualizar a extensão e

significância do problema que se maneja. Aponta e discute possíveis soluções para

problemas similares e oferece alternativas de metodologias que têm sido utilizadas para a

solução do problema” (MOREIRA, 2004, p. 23).

Discussão de dados

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Identificamos mais de 1500 artigos nas cinco edições revisadas. Com base nos

critérios de seleção, localizamos 25 trabalhos que se encaixavam em nossa temática, são

eles: Neto e Amaral (2013), Viveiro (2013), Gonzatti et al (2013), Melo e Rotta (2013),

Pinto e Rossi (2013), Rocha e Megid Neto (2013), Wyzykowski et al. (2011), Benetti

(2011), Bonzanini e Bastos (2009), Carvalho e Martins (2009), Andrade e Martins (2009),

Fernandes e Megid Neto (2009), Rocha e Megid Neto (2009), Athayde et al. (2007),

Fiorato e Carvalho (2007), Maués e Vaz (2005), Nigro et al. (2005), Stoque e Lopes

Junior (2005), Barros et al. (2005), Leite e Martins (2005), Costa e Lopes Junior (2005),

Raboni (2005), Juinor e Gomes (2005), Barros et al. (2005), Delizoicov et al. (2005) e

Oliveira e Diniz (2005).

A tabela 2 apresenta o número de trabalhos identificados por edição do ENPEC:

Número da Edição Ano de Realização Qtd. trabalhos

V 2005 10

VI 2007 2

VII 2009 5

VIII 2011 2

IX 2013 6

Total 25

Tabela 2 – Número de trabalhos identificados por edição do ENPEC.

Observamos que a maior quantidade, dez trabalhos foi divulgada na quinta

edição, seguida pela nona edição, com seis. Podemos visualizar um decréscimo

considerável se compararmos a edição mais antigas com as demais. Essa constatação

nos pareceu uma surpresa, na medida em que pensávamos que iríamos encontrar um

aumento significativo de estudos ao longo dos anos.

Classificamos os trabalhos selecionados em cinco grupos denominados:

Documentos, Trabalhos Acadêmicos, Propostas Didático-Pedagógicas, Concepções

gerais dos docentes e Sala de aula:

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Gráfico 1 – Trabalhos por Grupos

No grupo Trabalhos Acadêmicos, os trabalhos são da mesma natureza do

presente estudo e tinham o objetivo de, através da análise de trabalhos acadêmicos

apresentados, discutir e apresentar um panorama da formação docente. Foram

classificados três trabalhos no total. Um deles teve como foco o levantamento de

trabalhos sobre a relação entre os saberes e a prática docente, outro os modelos de

formação e o terceiro as práticas de formação docente.

O grupo de Propostas Didático-Pedagógicas tem trabalhos cujo objetivo eram

analisar propostas de cursos, materiais, metodologias de trabalho ou espaços

alternativos. Foram encontrados cinco trabalhos. Um deles analisou os resultados de um

curso de extensão. Dois trabalhos tinham a temática do trabalho com história e filosofia

da Ciência como foco, um deles discutia e analisava a possibilidade do trabalho com

histórias em quadrinhos. Em relação aos espaços alternativos, a Estação Ciência em São

Paulo foi o espaço analisado em um dos trabalhos. E em termos metodológicos, um dos

trabalhos discutiu e analisou a metodologia de projetos.

Classificamos no grupo Sala de aula os trabalhos que foram efetivamente

pesquisar atividades realizadas nas salas de aulas relacionados com a formação dos

professores. Apenas dois trabalhos foram classificados nesse grupo.

O grupo com mais trabalhos foi o que chamamos de Concepções Docentes

Gerais. Nesse grupo encontram-se trabalhos que discutem e analisam concepções,

perfis, opiniões de professores formados ou em formação, a partir do discurso do próprio

sujeito. Foram 12 trabalhos no total e dentro desse grupo destacamos na tabela 3 os

seguintes sub-grupos:

Sub-Grupos Concepções Docentes Gerais Qtd trabalhos

4035

Perfil geral dos professores 1

Impressões /Opinião dos professores 2

Elaboração de saberes docentes 3

Experimentação 3

Discurso dos professores 2

Alfabetização cientifica 1

Tabela 3 – Sub-grupos do grupo de Concepções Docentes Gerais.

Destacamos nesses sub-grupos que quatro trabalhos tiveram como foco uma

temática específica relacionada ao ensino de Ciências, um sobre alfabetização cientifica

e três sobre experimentação. Os demais oito trabalhos analisaram de forma mais geral

aspectos ligados à formação dos professores como seu perfil, elaboração de saberes,

opiniões relacionadas com o ensino e aprendizagem das Ciências e seus discursos.

No grupo Documentos incluímos três trabalhos cujo foco está relacionado com a

análise de documentos, um deles os PCN´s – Parâmetros Curriculares Nacionais e suas

relações com a prática de uma professora. Outro analisa os documentos de um grupo de

estagiários, seus relatórios e projetos e o trabalho com a Educação Ambiental. E um

terceiro faz uma discussão a partir da literatura sobre a importância da formação

continuada dos professores de Ciências.

Em termos de formação continuada ou inicial, dentre os 25 trabalhos apenas seis

discutem de alguma maneira a formação inicial e desses seis, apenas dois são

exclusivamente sobre a formação inicial, os outros quatro são de formação inicial e

continuada.

Considerando os conteúdos específicos a grande maioria dos trabalhos versava

sobre as Ciências de maneira geral. Dentre os trabalhos com algum conteúdo específico,

a temática ambiental apareceu explicitamente uma vez e a Física também apenas uma

vez.

Conclusão

A título de conclusão, apontamos algumas reflexões e novos questionamentos a

partir das características dos trabalhos analisados.

Dentre mais de 1500 trabalhos submetidos ao ENPEC durante esses dez anos,

foram encontrado apenas 25 artigos com a temática abordada. Consideramos esse

número pequeno levando em conta a importância da formação de professores, a

relevância, em termos de formação básica dos alunos, dos anos iniciais do ensino

fundamental e a importância do ensino e aprendizagem das Ciências nesse período

escolar.

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O maior número de trabalhos encontra-se no grupo que chamamos de

Concepções Docentes Gerais e o menor número de trabalhos encontram-se entre

aqueles relacionados às análises e resultados da formação diretamente na Sala de aula.

Embora as concepções docentes estejam relacionadas com o desenvolvimento das

práticas dos professores, o pequeno número de trabalhos que analisam como essas

relações se manifestam na prática docente da sala de aula apontam uma necessidade de

mais trabalhos nessa direção.

A análise de trabalhos acadêmicos, do tipo revisões apareceram durante esse

período, mas basicamente apenas sobre as práticas docentes. Considerando o

panorama que trabalhos dessa natureza podem oferecer sobre o desenvolvimento das

pesquisas, outros temas relacionados à formação podem ser abordados.

Dentre as propostas Didático-Pedagógicas apenas um curso de extensão foi

analisado. Sobre esse aspecto podemos continuar indagando, visto que os trabalhos de

extensão são parte fundamental do trabalho das universidades, por que os cursos de

extensão apareceram tão pouco? Há uma separação entre as atividades de extensão e

os chamados especificamente cursos de extensão? Em que aspectos e em que direção a

extensão tem contribuído com a formação docente do professor que trabalha com

Ciências em especial nas séries iniciais do ensino fundamental? A ausência dos cursos

de extensão pode ser um reflexo de uma mudança de concepções relacionadas aos

cursos de formato tradicional?

Também poucos trabalhos de formação envolveram os espaços de educação não

formal e as metodologias mais ativas de aprendizagem, como o uso de Projetos. Embora

a discussão sobre o potencial para a aprendizagem das Ciências dos espaços

alternativos não formais e a necessidade do uso de metodologias mais ativas esteja

presente já a algum tempo, o exemplo do ENPEC aponta que ainda na área da formação

dos professores para o ensino de Ciências nos anos iniciais do Ensino Fundamental

essas discussões e análises precisam se tornar mais presentes.

O estágio pode constituir-se como uma forma de integração da formação inicial e

continuada principalmente considerando-se o caso do ensino de Ciências nas séries

iniciais do Ensino Fundamental onde os professores que trabalham com essa disciplina

são generalistas, ou seja, não especialistas, formados em Pedagogia ou nos cursos de

Normal Superior. Destacamos nesse sentido o também pequeno número de trabalhos

que permitiriam analisar as possibilidades de formação – tanto inicial como continuada-

proporcionadas pelos estágios obrigatórios e supervisionados.

A análise da distribuição do pequeno número de trabalhos sobre a formação de

professores para o ensino de Ciências nas séries iniciais indica uma tendência maior

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para os trabalhos nos quais as concepções dos professores são discutidas e analisadas

e outras diversas abordagens e discussões possíveis para a formação docente nesse

segmento são pouco representadas. Reforça-nos a ideia de que a formação de

professores nesse caso, assim como nas demais áreas, embora seja considerada

importante é ainda pouco discutida e principalmente pouco analisada em eventos

importantes da pesquisa acadêmica nacional.

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