formação continuada em serviço: um estudo sobre o projeto sala de professor

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UNIVERSIDADE DO ESTADO DE MATO GROSSO FACULDADE DE EDUCAÇÃO CAMPUS UNIVERSITÁRIO JANE VANINI DEPARTAMENTO DE PEDAGOGIA CRISTIANA DE CAMPOS SILVA FORMAÇÃO CONTINUADA EM SERVIÇO: UM ESTUDO SOBRE O PROJETO SALA DE PROFESSOR CÁCERES-MT 2011/01

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Page 1: Formação continuada em serviço: um estudo sobre o projeto sala de professor

UNIVERSIDADE DO ESTADO DE MATO GROSSO

FACULDADE DE EDUCAÇÃO

CAMPUS UNIVERSITÁRIO JANE VANINI

DEPARTAMENTO DE PEDAGOGIA

CRISTIANA DE CAMPOS SILVA

FORMAÇÃO CONTINUADA EM SERVIÇO: UM ESTUDO

SOBRE O PROJETO SALA DE PROFESSOR

CÁCERES-MT

2011/01

Page 2: Formação continuada em serviço: um estudo sobre o projeto sala de professor

ii

CRISTIANA DE CAMPOS SILVA

FORMAÇÃO CONTINUADA EM SERVIÇO: UM ESTUDO

SOBRE O PROJETO SALA DE PROFESSOR

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao

Departamento Pedagogia da Universidade do Estado

de Mato Grosso, Campus “Jane Vanini”, por meio

da disciplina Pesquisa Educacional III, sob a

coordenação da Profª. Ms. Maria da Penha

Fornanciari, como requisito parcial para obtenção de

grau de Licenciatura em Pedagogia.

Orientadora: Profª. Ms. Rinalda Bezerra Carlos.

CÁCERES-MT

2011/01

Page 3: Formação continuada em serviço: um estudo sobre o projeto sala de professor

iii

FOLHA DE APROVAÇÃO

BANCA EXAMINADORA

______________________________________________

Profª. Ms. Rinalda Bezerra Carlos - Orientadora

Departamento de Pedagogia/ UNEMAT Cáceres

______________________________________________

Profª. Dra. Heloisa Salles Gentil – Membro

Departamento de Pedagogia/ UNEMAT Cáceres

______________________________________________

Profª. Dra. Elizeth Gonzaga dos Santos Lima – Membro

Departamento de Pedagogia/ UNEMAT Cáceres

Cáceres-MT/Junho/2011

Page 4: Formação continuada em serviço: um estudo sobre o projeto sala de professor

iv

DEDICATÓRIA

Dedico este trabalho ao único que é digno de receber a honra e a glória, a

força e o poder. Ao Deus eterno imortal, invisível, mas real. Porque dele,

por Ele e para Ele são todas as coisas. A Ele a Glória para sempre. Amém.

(ROMANOS 11:36).

A minha mãe Maria de Campos Silva, pelo incentivo em todos os

momentos, pela compreensão das minhas ausências e por sempre

sustentar-me com suas orações.

Ao meu pai Darcy Gonçalves da Silva, que sempre vibrou com minhas

conquistas. E que se ainda estivesse entre nós, certamente estaria fazendo

uma festa, por mais esta vitória.

Page 5: Formação continuada em serviço: um estudo sobre o projeto sala de professor

v

AGRADECIMENTO

Agradeço a Deus por me cercar sempre com...

A melhor família que sempre esteve ao meu lado me apoiando

e ajudando em tudo que precisei;

Os melhores pastores e irmãos da igreja que sempre me

sustentaram com as orações e compreenderam as muitas

ausências;

Os melhores professores que se tornaram grandes inspirações

para que eu possa querer mudar e transformar coisas que

parecem impossíveis de serem modificas. Em especial as

professoras Rinalda Bezerra Carlos e Heloísa Salles Gentil,

essas que por causa da convivência mais próxima tive o

privilégio de conhecer não só o profissional mas também a

pessoa;

A melhor turma de todos os tempos. Com certeza a

Pedagogia não será mais a mesma depois dessa turma;

As melhores amigas Erenilda, Erô, Diva, Dezenil e Ri, que

ganhei ao longo dessa caminhada e certamente ficarão para a

vida;

Enfim, minha conquista só foi possível porque em todos os

momentos tive tudo que precisei. Por isso, tenho muito a

agradecer ao Deus Todo Poderoso.

Page 6: Formação continuada em serviço: um estudo sobre o projeto sala de professor

vi

O regresso ao começo não é um círculo vicioso se a

viagem, como hoje a palavra trip indicada, significa

experiência, donde se volta mudado. Então, talvez

tenhamos podido aprender a aprender aprendendo. Então,

o círculo terá podido transformar-se num espiral onde o

regresso ao começo é, precisamente, aquilo que afasta do

começo.

(Edgar Morin)

Page 7: Formação continuada em serviço: um estudo sobre o projeto sala de professor

vii

RESUMO

O presente trabalho teve como objetivo compreender a organização e a operacionalização do

Projeto de formação continuada Sala de Professor refletindo sobre como esse processo tem

contribuído para prática do professor. A pesquisa foi realizada em duas unidades de ensino da

rede estadual no município de Cáceres/MT, tomando como objeto de estudo o Projeto de

formação continuada Sala de Professor. Esse modelo de formação parte do princípio de que a

formação realizada no local onde o professor desenvolve seu trabalho docente apresenta-se

mais significativo, visto que o processo de reflexão se dará sobre os problemas vivenciados no

cotidiano escolar. Orientada pela perspectiva qualitativa, esta pesquisa utilizou os seguintes

instrumentos para a coleta de dados: documentos oficiais da SEDUC-MT/CEFAPRO e do

Projeto da Escola, a observação participante e entrevista semi-estruturada, tendo como

sujeitos 10 professores que participam da formação continuada na Sala de Professor. Os

principais autores estudados foram: Tardif (2006), Gauthier (2006), Marcelo Garcia (2009),

Gatti (2009) e Nóvoa (2009). Os resultados revelam que a formação continuada no espaço

escolar com a participação dos profissionais traz resultados satisfatórios, tendo em vista que

os profissionais buscam soluções no coletivo através da troca de experiências. Também

apontam para a necessidade de se repensar alguns aspectos da proposta de formação e a

necessidade de que os profissionais docentes assumam de fato o seu papel no espaço de

formação.

Palavras Chave: Desenvolvimento Profissional Docente, Formação Continuada, Sala de

Professor

Page 8: Formação continuada em serviço: um estudo sobre o projeto sala de professor

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO .......................................................................................................................... 9

CAPÍTULO I – FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA ................................................................. 11

1.1 – Educação no Brasil: um passado presente ....................................................................... 11

1.2 – Uma construção de saberes e competências do profissional docente .............................. 15

1.3 – Formação continuada ....................................................................................................... 19

1.4 - O conceito de desenvolvimento profissional ................................................................... 21

1.5 - Respaldo legal para formação continuada ........................................................................ 23

CAPÍTULO II - O CAMINHO METODOLÓGICO ............................................................... 28

CAPÍTULO III – DESCRIÇÃO E ANÁLISE DOS DADOS ................................................. 31

3.1 - O Projeto Sala de Professor .............................................................................................. 31

3.2 – Organização e operacionalização do projeto Sala de Professor na escola ...................... 34

3.3 – Descrição e análise da observação nos encontros Sala de Professor ............................... 37

3.4 – Percepções dos professores sobre a formação continuada Sala de Professor na escola .. 43

IV – CONSIDERAÇÕES FINAIS ........................................................................................... 57

REFERÊNCIAS ....................................................................................................................... 62

APÊNDICE .............................................................................................................................. 65

ANEXOS .................................................................................................................................. 68

Page 9: Formação continuada em serviço: um estudo sobre o projeto sala de professor

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INTRODUÇÃO

O interesse pelo assunto surgiu porque em alguns momentos nos pareceu que as

iniciativas públicas de formação continuada no setor educacional adquiriram um aspecto de

programas compensatórios e distribuição de certificados, distante de uma proposta que

contempla o desenvolvimento do profissional docente. Tal interesse nos levou a ingressar em

uma sala de formação, fato que nos possibilitou compreender que, no que diz respeito à

formação continuada, há vários formatos, nomenclaturas, questões políticas-administrativas e

organizativas.

A idéia inicial que tivemos para o desenvolvimento da temática partiu de nossas

inquietações em querer saber como são definidas as questões teóricas dos modelos de

formação continuada de professores no que se refere às características, as formas de

desenvolvimento no cotidiano escolar e na vida dos profissionais da educação, e, sobretudo,

compreender quais os resultados dessa formação para a prática pedagógica do professor.

Acerca do assunto, nesta pesquisa, optamos por escolher como objeto de estudo a

formação continuada de professores, a partir do “Projeto Sala de Professor” implantado nas

escolas da rede pela Secretaria de Estado de Educação em Mato Grosso, na tentativa de

compreender as implicações e contribuições que tal iniciativa tem proporcionado aos

professores do Ensino Fundamental e Médio no processo de ensino e aprendizagem.

Nesta direção, o trabalho intitulado: “FORMAÇÃO CONTINUADA EM

SERVIÇO: UM ESTUDO SOBRE O PROJETO SALA DE PROFESSOR” tem como

objetivo fundamental compreender a organização e a operacionalização do Projeto de

formação continuada Sala de Professor refletindo sobre como esse processo está melhorando

a prática do professor

Como metodologia, optamos pela abordagem qualitativa, que empreende um valor

de importância à subjetividade dos sujeitos pesquisados. Nesta direção, o presente trabalho

está estruturado em três capítulos organizados da seguinte forma:

No capítulo 1 apresentamos a fundamentação teórica com ênfase na formação de

professores, abordando discussões a respeito de saberes e competências, formação continuada

e seus conceitos e desenvolvimento profissional docente.

No capítulo 2 tratamos da parte metodológica da pesquisa. No capítulo 3

apresentamos a descrição e a análise dos dados, subdivididos em: análise do Projeto Sala de

Professor; análise dos projetos de formação continuada elaborados pelas escolas; descrição e

análise das informações obtidas por meio das observações realizadas durante os encontros de

Page 10: Formação continuada em serviço: um estudo sobre o projeto sala de professor

10

formação; descrição e análise das informações obtidas por meio de entrevistas com os

professores que frequentavam a formação no Projeto Sala de Professor.

Nas considerações finais apresentamos alguns efeitos gerados pela formação

continuada do Projeto Sala de Professor no desenvolvimento da unidade escolar e dos

profissionais que nela atuam.

Por fim, essa pesquisa reflete sobre o processo de formação continuada do profissional

em serviço. Nessa direção, acreditamos que este estudo poderá contribuir no entendimento do

que propõe o Projeto Sala de Professor, a sua configuração, a sua operacionalização no espaço

escolar e os seus efeitos no ensino público. Entretanto, é importante mencionar que

identificamos várias questões e entraves que merecem maior atenção e pesquisas mais

aprofundadas para a melhoria da qualidade do ensino público, pois o curto tempo para

efetivação deste trabalho nos permitiu apenas um pequeno recorte da realidade estudada.

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CAPÍTULO I – FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

1.1 – Educação no Brasil: um passado presente

No que se refere à qualidade da educação, a formação profissional do professor é de

suma importância, tendo em vista que “a qualidade da educação depende, em primeiro lugar

da qualidade do professor” (DEMO apud RIBEIRO, 2010, p. 1). A este respeito estão

envolvidos diversos fatores a serem considerados, posto que em princípio requer do docente

um olhar sobre a sua profissão como algo a ser zelado e cultivado, ajustando sistematicamente

elementos teóricos com situações práticas, ou seja, ele precisa entender que a aquisição de

conhecimento não está centralizada apenas na prática, mas é sustentada pela teoria que

fundamenta sua formação.

Para compreender o processo de formação de nossos professores, se faz necessário

um aporte no contexto histórico da formação destes no Brasil. Pimenta (1992, p.93) afirma

que retomar a história é importante para que seja possível uma compreensão mais ampla da

atual problemática da formação de professores integrado ao quadro da educação escolar.

Nessa direção recorremos aos autores como Freitas (2002), Romanelli (2006) e Fusari (2010)

que abordam os primeiros passos da educação e formação de professores a partir da chegada

dos portugueses no território brasileiro.

Romanelli (2006, p.34) relata que durante o período de colonização não houve um

projeto de formação de professores fora dos interesses da Igreja. A Companhia de Jesus

representada pelos Jesuítas criou escolas, instituiu colégios e seminários. Os colégios

jesuíticos instalados no país a partir de 1570 visavam à formação da elite colonial, iniciando

dessa forma, uma escolarização voltada para a camada social economicamente privilegiada.

O currículo dos colégios jesuíticos consistia no conteúdo cultural dos quais os

padres eram portadores. Estavam pautados na materialização do próprio espírito da Contra-

Reforma, na revalorização da Escolástica como método e como filosofia e na reafirmação da

autoridade da Igreja. A proposta de ensino funcionou absoluta por 210 anos, até que os

Jesuítas foram expulsos por Marquês do Pombal, quando então tiveram início as “Aulas

Régias”.

Após a expulsão dos Jesuítas, qualquer um podia ser professor. Com isso, leigos

começaram a ser introduzidos no ensino. As aulas régias compreendiam o estudo das

humanidades e o ensino antes restrito ao comando da Igreja, passou a pertencer ao Estado,

instituindo, se desta forma, o sistema de ensino público no Brasil.

Page 12: Formação continuada em serviço: um estudo sobre o projeto sala de professor

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Na prática, o sistema pouco alterou a realidade educacional. A situação não mudou

em suas bases porque os Jesuítas mantiveram os colégios para formação dos sacerdotes e nas

fazendas, os seminários para a formação do clero secular. Nesses locais formavam-se padres e

capelães de engenho, os quais seriam continuadores das ações pedagógicas dos Jesuítas. Estes

se tornaram mestres nas escolas, preceptores dos filhos da aristocracia rural e também

compuseram o maior contingente de professores recrutados para as “Aulas Régias”.

Segundo Romanelli (2006, p.38-39), com a vinda da Família Real, o país se tornou

sede da Coroa portuguesa. Para preparar a estadia de D. João VI e família, foi necessário uma

série de modificações no setor intelectual. Com isso, foram abertas Academias Militares,

Escolas de Direito e Medicina, a Biblioteca Real e outros.

No âmbito educacional, visando à unificação do sistema de ensino, houve a adoção

de métodos unificadores, para que a pluralidade de formação na família, na Igreja e

preceptores particulares, pudesse ser única. No entanto, os esforços foram apenas com a

finalidade de suprir as necessidades da corte, não foi dada atenção nem ao ensino elementar,

nem à formação de professores.

Por volta de 1830, a reestruturação do ensino focalizando a formação de professores

foi efetivada com a criação das primeiras escolas normais inspiradas em modelos franceses.

Neste sentido, as escolas normais são pioneiras na formação de professores no Brasil.

Saltando para o século XX, encontramos o comércio aquecido pelas indústrias. Por

causa disso, para atender a demanda do momento, a educação passou a ter relação direta com

o desenvolvimento da nação. Com efeito, foram criados cursos supletivos e cursos rápidos

para treinamento dos trabalhadores para as profissões emergentes. Segundo Romanelli (2006)

e Fusari (2010), nesse período, em virtude de alguns conflitos apareceram três correntes

pedagógicas as quais formaram o cenário das lutas político-pedagógicas da Primeira

República:

a) Pedagogia Tradicional – que se associava aos intelectuais ligados à Igreja católica,

portanto à pedagogia jesuítica que não se importava com a qualidade de ensino e sim com a

quantidade de informações a serem transmitidas, em que o professor era o centro do processo

educativo.

b) Pedagogia Libertária – que tinha como discurso o fato de que a escola servia

somente aos interesses da sociedade dominante e que a educação devia organizar-se de

maneira informal e assistemática de modo que a educação popular também fosse valorizada.

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c) Pedagogia Nova - que surgiu dos movimentos da burguesia em favor da

modernização do Estado. Importava a liberdade e o interesse da criança, adotando métodos

variados, colocando o educando no centro do processo educativo.

No Brasil, algumas correntes surgiram por causa da tendência tradicional

predominante na educação. A esse respeito Fusari (2010, p.14) comenta que o processo

ensino-aprendizagem ocorria por meio do método expositivo e de exercícios de fixação e

memorização, prevalecendo a autoridade do professor, enquanto que o aluno era reduzido a

um passivo receptor de conteúdos distantes de sua realidade concreta.

Segundo o autor, essa tendência ficou mais intensa no período histórico de 1930 a

1945 com desenvolvimentos específicos na década de 1960, quando as escolas, especialmente

as públicas, foram influenciadas pela tendência escolanovista. Com isso, o autor considera

que o afrouxamento da disciplina e a despreocupação com a transmissão de conteúdos fizeram

com que o nível de ensino destinado às camadas populares fosse rebaixado, e por outro lado,

aprimoraram a qualidade do ensino destinado às elites, porque fugiu da proposta dos pioneiros

e se valeu de um discurso de formação de professores, pelo qual este passa a ser apenas o

orientador da aprendizagem, sem compromisso com o conhecimento ou com a produção do

conhecimento.

Assim, a partir do golpe de 1964 os ideais desta tendência “encontraram um terreno

propício para o seu desenvolvimento”, pois conforme Fusari (2010, p.17),

[...] o golpe militar de 64 calou educadores e educandos e as possibilidades

de reflexão e discussão sobre a realidade brasileira e suas relações com a

educação foram cerceadas. Desta forma, a ditadura militar impede o avanço

do debate e do aprofundamento na discussão do papel da educação escolar e,

especificamente, daquilo que seria transformador. E muito mais, impede a

prática educativa escolar mais reflexiva, crítica e transformadora. Entram em

moda a inovação e a modernização dos meios, passando para segundo plano

os próprios conteúdos do ensino.

Embora a educação sofresse a influência escolanovista, o modelo de divisão do

trabalho na escola foi privilegiado pela legislação do ensino e pela tendência educacional

fundamentada no tecnicismo que predominou no final dos anos 1960 e durante os anos 1970.

Segundo Freitas (2002, p.139), a proposta pedagógica tecnicista é inspirada nas teorias

behavioristas da aprendizagem, que busca a compreensão do comportamento humano através

do comportamento operante1. O intuito é adequar a educação às exigências da sociedade

industrial. Nesse contexto, o sistema educacional precisava ser ajustado de acordo com as

1 Burrhus Frederic Skinner psicologo estudioso da teoria behaviorista.

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propostas políticas e econômicas do regime militar, preparando trabalhadores para o mercado

de trabalho. Com isso, o espírito crítico e reflexivo é eliminado das escolas, porque nessa

direção, o ensino passa a ser condicionado através do uso de reforçamento das respostas que

se quer obter, usando conteúdo e informações objetivas que no fim do processo, possam se

ajustar à adequada adaptação do indivíduo ao trabalho.

Em contrapartida, a década de 1980 representa a ruptura com o pensamento tecnicista.

De acordo com Freitas (2002), no âmbito do movimento da formação, os educadores

demonstraram concepções avançadas sobre a formação docente. A autora destaca que a luta

dos educadores trouxe contribuições significantes para educação e para o modo de ver a

escola e o trabalho pedagógico. As iniciativas do governo e as lutas dos profissionais da

educação em favor de um ensino de qualidade em diferentes níveis tinham um sentido de

superação dos graves problemas da educação.

Em meio às novas ações, também apareceu a proposta dialética de perceber a relação

entre a educação escolar e a sociedade, como forma de superar a influência liberal e a

influência crítico-reprodutivista (FUSARI, 2010, p. 23). Nessa nova tendência, o professor, ao

proporcionar a relação do aluno com os conteúdos do ensino, necessitará fazê-lo de forma

dinâmica e, sempre que possível, relacionar a experiência do aluno com os conteúdos

trabalhados, tentando, sistematicamente, evidenciar a importância de uma sólida formação

escolar como instrumento para a sua prática cotidiana. Desse modo, o professor precisará ter

uma ação coerente, articulada e intencional, que proporcione a crítica ao social, bem como

uma educação escolar viva, relacionada com a vida social concreta. Nesta perspectiva, a

educação escolar, dentro de sua autonomia relativa e específica, deverá, através do currículo

escolar, instrumentalizar o aluno para perceber criticamente a realidade social e comprometer-

se com a sua transformação.

A entrada nos anos 1990 também se caracterizou por uma enorme desvalorização

profissional do Magistério, demarcada pela luta dos profissionais da educação por

condições de trabalho e salário. Ao mesmo tempo, foi marcada pelo clima de uma

Constituição Federal recém promulgada, que teve a valorização do Magistério incorporada

em seus princípios, também pela Declaração Mundial de Educação para Todos, que fazia

conjecturas a melhores condições de trabalho e da situação social do pessoal docente, bem

como a necessidade de medidas em relação à formação continuada, profissão, carreira,

salário etc.

A partir de então, surgiram diversas ações do Ministério da Educação em torno da

elaboração de documentos oficiais com enfoque na educação, como o Plano Decenal de

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Educação- PDE (1993-2003) – documento elaborado em 1993 destinado a cumprir, no

período de uma década, as resoluções da Conferência Mundial de Educação Para Todos; a

Lei de Diretrizes e Bases da Educação nº. 9.394/96 - que revogou a 1ª LDB assinalando um

momento de transição na educação brasileira; o Fundo de Manutenção e Desenvolvimento

do Ensino Fundamental e Valorização do Magistério- FUNDEF - que obrigada o poder

público a dar prioridade ao ensino fundamental obrigatório; e as Diretrizes Curriculares

Nacionais para a Formação de Professores da Educação Básica, em nível superior, curso

de licenciatura, de graduação plena regulamentadas no Parecer CNE/CP 009/2001 e

Resolução CNE/CP 1/2002 e no Plano Nacional de Educação. A esse respeito, retomaremos

a discussão em outro momento, quando então abordaremos os respaldos legais para a

formação continuada.

Para Freitas (2002. p. 141), a centralidade no conteúdo da escola, marcaram os anos

90. A autora acredita que com isso, conquistas importantes do sistema educacional que

estiveram presentes no debate dos anos 1980 foram perdidas. Desta forma, a educação de

forma geral, a formação inicial e continuada de professores ganham uma importância

estratégica na implantação das reformas educacionais, que consequentemente, vão contribuir

de forma direta para o aprimoramento do processo de acumulação de riquezas e

aprofundamento do capitalismo.

Esse percurso nos dá uma breve noção de que o início da educação no Brasil foi

marcado por um caráter que ia além de simplesmente conceder conhecimento. Ou seja, o

espaço formativo apresentava um forte cunho ideológico, cercado da limitação de

pensamento e ausência de idéias reflexivas acerca do contexto político-social vigente.

1.2 – Uma construção de saberes e competências do profissional docente

Durante trinta e cinco anos, a estrutura e o funcionamento dos cursos de formação

dos profissionais da educação tiveram por fundamento legal a 1ª LDB. Com a Lei n.º

9.394/96, uma nova normatização passa a ser implementada. Em relação aos profissionais da

educação, são fixadas diversas normas orientadoras: as finalidades e fundamentos da

formação dos profissionais da educação; os níveis e o lócus da formação docente; os cursos

que poderão ser mantidos pelos Institutos Superiores de Educação; a carga horária da prática

de ensino; a valorização do magistério e a experiência docente (BRASILa, 2010).

As atuais propostas da formação de professores ainda causam muitas discussões,

principalmente porque a cada dia, as responsabilidades atribuídas aos professores tornam-se

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16

maiores, de modo que alguns momentos, os docentes têm dificuldade para saber qual é o

papel que devem de fato desempenhar na escola.

Por outro lado, os desafios encontrados pelo professor para exercer sua profissão, na

atualidade parecem distantes do contexto escolar no qual aprendeu seu oficio. Perrenoud

(2002, p. 17) traz essa discussão quando diz que muitos cursos de formação inicial estão

fundamentados mais em uma visão prescritiva da profissão, do que em uma avaliação precisa

de sua realidade. Essa ciência da complexidade dos problemas pautados ao contexto de

trabalho, para Perrenoud, não são motivos para que durante o processo de formação se insista

numa formação voltada apenas para a reprodução. O autor entende que se deve procurar

antecipar as transformações. Por isso, pode-se dizer que os desafios inerentes à profissão

docente sempre existiram, no entanto, se faz necessário que o educador proponha-se à

reflexão e à análise de sua prática com vistas à inovação, porque o conceito de competência

educacional da atualidade tem apresentado características específicas.

No atual contexto educacional, o desenvolvimento de competências (conhecimentos,

habilidades e atitudes) tem sido o caminho apontado por muitos autores, para uma mudança

frente a um modelo pedagógico, em que o currículo aparece programado, com metas no

acúmulo de saberes e com metodologia transmissiva.

Perrenoud (apud MARTINS, 2010) descreve as competências como sendo “a

faculdade de mobilizar um conjunto de recursos cognitivos (saberes, capacidades,

informações etc.) para solucionar com pertinência e eficácia uma série de situações [...]

ligadas a contextos culturais, profissionais e condições sociais”.

Vale dizer que diante das necessidades vigentes, não é suficiente que o professor

apenas cumpra a rotina escolar, ele precisa se perceber como organizador de situações

didáticas e de atividades que façam sentido e provoquem aprendizagem. Esse é um trabalho

amplo e que pede do profissional docente, muito envolvimento. A esse respeito, o autor

acredita que o professor precisa pensar a sua própria relação com o saber e ter habilidade de

identificar e de valorizar suas próprias competências, dentro de sua profissão e dentro de

outras práticas sociais.

Por sua vez, Jonaert (apud ESTEVES, 2009, p. 42) define competências como sendo

“as formas como os sujeitos geram os seus recursos cognitivos e sociais na ação, numa dada

situação”. Podemos entender com isso que as competências pedagógicas não podem ser

confundidas com uma grande performance do professor, porque as competências manifestas

não são, em si, saberes, e sim a utilização ou mobilização de tais saberes. Em outras palavras,

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17

não há separação entre competência e mobilização de saberes, porque a competência é na

verdade, a capacidade de recorrer ao que se sabe para realizar o que almeja.

Nessa ótica, entendemos que o profissional docente deve ser capaz de construir

saberes e competências, que a partir de suas experiências e aquisições, lhe seja possível criar

uma identidade profissional e ter domínio do próprio desenvolvimento. Pimenta (2008, p.18 e

19) entende que a identidade profissional, não é um dado imutável e nem externo que se possa

ser adquirido. Para a autora, ela é construída a partir dos significados sociais da profissão e da

análise das tradições. Para Marcelo Garcia (2009, p.12) a identidade profissional não é

exclusiva, e isso indica que a sua construção está muito ligada à pessoa e ao contexto em que

convive.

Por outro lado, Gonçalves (2009, p. 25) afirma que o desenvolvimento profissional

de cada docente é o resultado da sua maneira própria de reagir e escrever a própria história

profissional, tendo por base as suas características pessoais e a sua personalidade.

O Capítulo IV do art. 43 da LDB 9394/96 (BRASILa, 2010) argumenta que “dentre

as finalidades principais da educação superior, destaca a necessidade de se estimular a

formação de profissionais capazes de exercitar o espírito científico e o pensamento reflexivo”.

Imbernón (2000, p. 66), comenta que aprender a ser professor é um exercício de natureza

formativa. Isso nos leva a pensar que a formação inicial deve fornecer fundamentos para a

construção de conhecimentos pedagógicos especializados, que proporcione um conhecimento

adequado capaz de gerar uma atitude interativa e dialética que conduza o profissional docente

a valorizar a necessidade de uma atualização permanente em função das mudanças que se

produzem.

Com isso, os profissionais da educação necessitam definir suas ações em relação aos

saberes docentes. Nesta direção, Tardif (2006, p. 260-265) considera que as práticas dos

docentes integram saberes distintos, ou seja, compreende diferentes tipologias. Em seus

estudos, o autor vê os saberes profissionais como sendo: temporais, plurais e personalizados.

Temporais porque resultam de um processo longo de construção através do tempo.

Diante disso, grande parte do que os professores sabem sobre ensinar, provém da sua própria

história de vida escolar.

Nesse mesmo pensamento, Marcelo Garcia (2009, p. 13) considera que as milhares de

horas de observação enquanto aluno, revela uma grande bagagem de conhecimentos

anteriores, crenças acerca do ensino e certezas sobre a prática docente podem acarretar dois

fatores durante o processo de formação: a imersão prolongada no espaço de trabalho, antes de

começar a trabalhar pode ajudar o professor em formação a interpretar as suas experiências na

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18

formação. Mas também pode funcionar negativamente, quando o enraizamento das crenças é

muito profundo. Desse modo, a maioria dos dispositivos da formação inicial não será capaz

de provocar transformação nessas crenças.

Pimenta (op.cit. p. 20) enfatiza que mesmo na formação inicial, os alunos já trazem

saberes sobre ser professor adquiridos na experiência social acumulada, na qual se percebem

as mudanças históricas da profissão; o exercício da profissão em escolas diferentes; a falta de

valorização social e financeira dos professores; as condições precárias das escolas, etc. O

desafio em questão passa a ser complementar a esse saber com a construção de saberes

sistematizados que contribuam com a construção da identidade de professor nos alunos de

formação inicial.

Retomando as idéias de Tardif (2006), os saberes são temporais também porque vários

professores aprendem trabalhar ao iniciarem a prática docente. Outro ponto é que os saberes

se desenvolvem durante a carreira, período em que são ampliadas as dimensões de identidade,

socialização e mudanças de fases.

Os saberes docentes também são Plurais porque não provêm de um repertório de

conhecimentos unificados advindos de diversas fontes como: teorias, concepções e técnicas,

conforme as necessidades de trabalho. Segundo Tardif (op. cit. p. 262), a pluralidade desses

saberes está pautada num composto variável que abrange conhecimentos, experiências e

vivências.

Os saberes plurais aparecem formados pelos saberes da formação profissional, nos

quais estão relacionados os saberes transmitidos pelas instituições de formação de

professores; Os saberes das disciplinas aparecem integrados sob a forma de disciplina nas

universidades e são transmitidos nos cursos de formação; os saberes curriculares

correspondem aos discursos, objetivos, conteúdos e métodos a partir dos quais a instituição

escolar categoriza e apresenta-os definidos e selecionados como modelo para a formação. Este

costuma ser apresentado sob forma de programas escolares, os quais devem ser aprendidos e

aplicados pelos professores; já os saberes da experiência trazem suas bases sustentadas no

trabalho cotidiano e no conhecimento do meio.

Por fim, os saberes Personalizados não se reduzem apenas à cognição e ao

pensamento dos professores. O autor avalia como relevante a história de vida, emoções,

personalidade e cultura dos profissionais. Assim, a ação está impregnada das marcas do

contexto vivido pelo professor. Nesse caso, os saberes são incorporados e não há

possibilidade de separá-los da pessoa e da situação de trabalho.

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19

Para Gauthier (2006, p.14), os saberes docentes compreendem um “conjunto de

conhecimentos, competências e habilidades que servem de alicerce à prática concreta do

magistério e que poderão, eventualmente, ser incorporados aos programas de formação”.

Para este autor, os saberes são formados pelo saber disciplinar, saber curricular, saber das

ciências da educação, saber da tradição pedagógica, saber experimental e saber da ação

pedagógica que formam um reservatório no qual o professor se abastece para responder a

exigências específicas de uma situação real.

O reservatório a que Gauthier (2006) se refere diz respeito aos saberes dos

professores que são construídos no trabalho docente e nas interações sociais, caracterizando

um saber que é social, plural e fundamentado numa razão prática. Por sua vez, o processo do

ensino é a mobilização dos vários saberes que formam o referido reservatório. Já os saberes

mobilizados e produzidos na ação pedagógica dos professores são aqueles saberes que

constituem a base teórica para os princípios e métodos da educação e do ensino.

A interlocução teórica com os autores nos oportuniza uma compreensão mais ampla

acerca do assunto e também dá conta que eles compartilham da concepção de que os saberes

docentes estão diretamente relacionados com a natureza interativa do trabalho do professor. O

conhecimento dessa natureza e desses saberes representa a elaboração de uma epistemologia

da prática profissional dos professores, visto que esses saberes compreendem uma diversidade

de conhecimentos e competências que devem ser inerentes ao profissional docente.

Desse modo, é imprescindível recordar que os saberes ocupam espaço tanto no

processo de trabalho docente quanto na construção da identidade profissional dos professores.

E quando articulados com os saberes profissionais adquiridos em curso de formação docente,

são ressignificados e recebem valor indispensável no cotidiano pedagógico. Nesse sentido, os

saberes da docência resultam da estreita articulação entre formação, profissão e as condições

materiais em que estas se desempenham.

Por outro lado, entendemos que é importante que as reflexões acerca da formação do

profissional docente sejam expandidas. Por causa disso, a partir dos próximos itens estaremos

ampliando a discussão a respeito da formação continuada do profissional docente como

alternativa viável para melhorar a qualidade da educação.

1.3 – Formação continuada

Não é por acaso que se fala tanto em investir na formação de professores. Tal

discurso tem relação com políticas de organismos financeiros internacionais que pretendem

Page 20: Formação continuada em serviço: um estudo sobre o projeto sala de professor

20

adequar os sistemas de ensino às políticas de interesse econômico, que exigem cada vez mais

profissionais produtivos e qualificados que atendam às demandas do mercado do trabalho

(CAMARGO; HAGE, 2004, p. 263). Assim, a formação continuada no contexto das atuais

reformas educacionais é apresentada no cenário educacional, como condição de renovação e

elevação da qualidade da educação.

As ações que cercam tais propostas aparecem estabelecidas, geralmente, em

diferentes convênios, secretarias municipais e estaduais de educação, universidades públicas e

privadas, com a finalidade de realizar programas de formação de professores no formato de

cursos, seminários, encontros e conferências (CANDAU, 1996, p. 140).

Em geral, compreende-se a formação continuada como aquela que ocorre após a

formação inicial, a partir do ingresso na carreira docente. Um breve histórico das práticas de

formação continuada de professores dão conta que ela está associada a várias terminologias:

treinamento, capacitação, reciclagem, aperfeiçoamento profissional e outras.

Esse movimento tornou mais intenso a partir do final da década 1980 e foram

assumindo formatos diferenciados em relação aos objetivos, conteúdos, tempo de duração,

variando desde cursos rápidos, até programas que se estendem por anos e modalidades

(presencial ou à distância).

A grande proliferação de termos ou nomenclaturas associados à formação continuada

está muito ligada aos diferentes entendimentos que foram sendo feitos a seu respeito e ao seu

papel na formação docente para adaptá-la às novas exigências do mundo produtivo. Dentre as

nomenclaturas, estão: a formação continuada para compensação de deficiências iniciais, a

qual cabe restituir conhecimentos, atitudes e habilidades que não foram trabalhadas na

formação inicial; a atualização do repertório de conhecimentos superados; como elemento de

aperfeiçoamento dos conhecimentos que necessitam de aprofundamento.

Gatti (2009, p. 200) comenta que por causa dos crescentes problemas nos cursos de

formação inicial de professores como recurso para aprimoramento do profissional, tem se

recorrido à formação continuada, ou seja, ela aparece como uma perspectiva compensatória

para preencher brechas da formação inicial. Esse modelo de formação faz parte das tendências

clássicas, muito praticado nos sistemas educacionais.

De acordo com Candau (1996), a formação continuada dos docentes tem acontecido

em duas perspectivas: a clássica e a contemporânea (p.52). A primeira caracterizada pelos

tradicionais treinamentos e cursos isolados que desconsideram as necessidades e as

experiências docentes; a segunda contribui para o desenvolvimento pessoal e profissional do

docente procurando atender as necessidades institucionais. A perspectiva contemporânea da

Page 21: Formação continuada em serviço: um estudo sobre o projeto sala de professor

21

formação continuada está associada às transformações das práticas escolares com reflexos na

formação do cidadão cada vez mais crítico e consciente de seu papel na sociedade.

Para alguns teóricos, a formação continuada aparece com a finalidade de que os

profissionais docentes estejam inteirados das discussões teóricas atuais e também de propor

novos conhecimentos que contribuam para mudanças e melhoria na ação pedagógica.

Neste sentido, abordaremos sobre os significados atribuídos à implementação da

formação continuada no espaço escolar, com base nos respaldos que dão aporte as tais ações.

1.4 - O conceito de desenvolvimento profissional

Vários aportes teóricos abordam que a formação de professores não acontece de

forma linear. Por isso trazem uma (re)conceitualização que apresenta a formação do

professor, como sendo o processo de desenvolvimento profissional docente, denotando a idéia

de que no percurso profissional está inserido a evolução e continuidade de experiências que

sofrem influências sociais, políticas e pessoais. Nesse novo modelo, busca-se superar outros

processos formativos que ignoram a trajetória percorrida pelo professor no exercício da

profissão. Assim sendo, recorremos a alguns autores que abordam o assunto, no intuito de

ampliar a compreensão do conceito.

Dentre as várias definições do conceito apresentado por Marcelo Garcia (2009, p. 10)

separamos uma em que Day (1999) comenta que o desenvolvimento profissional docente está

interligado às aprendizagens naturais e planejadas. Nesse processo, busca-se promover

melhores condições para que o professor como indivíduo e como coletivo, ao longo da

carreira, “[...] desenvolva conhecimentos, competências e inteligência emocional, essenciais

ao pensamento profissional, [...]”. O objetivo é que o profissional possa ter uma reflexão

sistemática e continuada acerca de seu compromisso como agente de mudanças, sabedor do

que deve fazer e principalmente porque deve fazer.

Ramalho, Nuñez e Gauthier (2004, p. 66) compreendem o desenvolvimento

profissional do docente como sendo um “processo amplo, dinâmico, flexível, [...]

caracterizado por diferentes etapas pessoais e coletivas de construção da profissão”. Nesse

sentido, trata-se de um processo contínuo inserido a um projeto de vida, no qual interagem

diferentes modalidades formativas. De acordo com os autores, nessa proposta, o profissional

deve estar ciente que o comprometimento com a sua aprendizagem compreende uma

responsabilidade para toda a vida.

Page 22: Formação continuada em serviço: um estudo sobre o projeto sala de professor

22

Gatti (op.cit. p. 202) aponta que o “conceito de capacitação” perdeu força em

decorrência de pesquisas referentes à identidade profissional do professor. A autora comenta

que a nova proposta está centrada “no potencial de autocrescimento do professor, no

reconhecimento de uma base de conhecimentos já existentes no cabedal de recursos

profissionais, como suporte sobre o qual trabalhar novos conceitos e opções”.

Diante disto, entendemos que a formação profissional do professor está sujeita à

própria formação adquirida como ser humano e como pessoa, à condição cultural em que está

inserido e à realidade do sistema de ensino. Nessas condições, talvez seja importante que

aconteçam debates acerca da importância que as práticas de ensino têm na formação docente e

da valorização do cotidiano pedagógico, durante os processos de formação continuada. A

abordagem dessas temáticas pode despertar nos professores, o interesse de refletir a respeito

de sua trajetória profissional sobre sua evolução ao longo da carreira, a forma como percebem

a articulação entre o profissional e o pessoal, possibilitando que aos poucos possam construir

sua identidade através dessas experiências.

Em uma entrevista para a revista Nova Escola, Nóvoa (2010 p. 12-14) comenta que a

aprendizagem contínua do docente está sustentada em dois pilares essenciais: o professor

como agente e a escola como lugar de crescimento profissional permanente. Para o autor, a

preocupação com a pessoa do professor está centralizada na reflexão educacional e

pedagógica. Ele argumenta que “a formação depende do trabalho de cada um, [...] que mais

importante do que formar é formar-se, [...] todo o conhecimento é autoconhecimento, [...]

toda a formação é autoformação”. No tocante à escola, Nóvoa considera que o contexto onde

o professor desempenha sua atividade, influencia grandemente no desenvolvimento

profissional do docente. Para o autor, a formação de fato, acontece no espaço concreto de

cada escola, vivenciando os reais problemas pedagógicos e educativos. Em outro ensaio,

Nóvoa (2009) afirma que “[...] ser professor é compreender os sentidos da instituição

escolar, integrar-se numa profissão, aprender com os colegas mais experientes. Porque é na

escola e no diálogo com os outros professores que se aprende a profissão”. (p.30)

Para Gatti (2009), o conceito de formação continuada como desenvolvimento

profissional tem por base dois modelos que vem sendo amplamente defendidos na literatura

educacional atual: as oficinas de reflexão sobre a prática que aderem à realidade do professor

e dão maior atenção ao seu repertório de práticas em culturas escolares diversas, favorecendo

a legitimação, ressignificação ou mesmo superação desse repertório e a formação centrada no

fortalecimento institucional, que implica em ambientes favoráveis ao trabalho coletivo, gestão

participativa e disponibilidade de recursos pedagógicos e materiais adequados. (p. 203)

Page 23: Formação continuada em serviço: um estudo sobre o projeto sala de professor

23

Mediante as reflexões dos autores os questionamentos como: onde se dá a formação

do professor; quem é responsável pela sua formação, que conhecimentos são necessários a

esta formação, o que é uma formação continuada; de quem é a responsabilidade pela

formação continuada, poderão nos apontar possíveis respostas. No entanto, as questões

emergentes referem-se ao responder à pergunta: o que é preciso para se conseguir a efetivação

da formação continuada no cotidiano escolar? E em que medida essa configuração de

formação pode ser considerada eficaz? Porque apesar de termos algumas informações que nos

dão pistas para estas perguntas, elas ainda são incipientes para nos aventurarmos com

conjecturas acerca desse assunto, o que não nos impede de levantarmos tais questionamentos.

Por outro lado, a proposta do profissional docente que assume a dimensão individual

do seu processo de formação, pretende capacitar o sujeito para autogerir o seu projeto de vida

em relação ao seu meio, de modo que ele próprio avalie e decida qual perfil de formação

necessita, onde e como pode desenvolvê-la.

1.5 - Respaldo legal para formação continuada

Refletir acerca do avanço nas discussões pertinentes ao desenvolvimento profissional

docente implica em também estabelecer reflexões a respeito das políticas que respaldam a

formação desse profissional, tendo em vista que as políticas de formação de professores

emergiram como um mecanismo da reforma da educação para atualizar e capacitar os

professores que já estavam atuando nos sistemas escolares.

A Lei de Diretrizes e Bases da Educação (Lei n.9.394/96) foi uma das primeiras

ações de implementação da reforma da educação superior. Acerca dos profissionais da

educação a LDB no art. 67 definiu que os sistemas de ensino deverão promover a valorização

dos profissionais da educação, de modo que lhes seja assegurado nos planos de carreira do

magistério aperfeiçoamento profissional contínuo, inclusive com licenciamento periódico

remunerado para esse fim. As obrigações do poder público acerca disso também são

enfatizadas nos artigos 80 e 87. O artigo 80 aborda que “o poder público incentivará o

desenvolvimento e a veiculação de programas de ensino a distância, em todos os níveis e

modalidades de ensino, e de educação continuada”. O artigo 87, parágrafo 3, inciso III

determina que cada município tem o dever de “realizar programas de capacitação para todos

os professores em exercício, utilizando também, para isto, os recursos da educação a

distância” (BRASILa, 2010).

Page 24: Formação continuada em serviço: um estudo sobre o projeto sala de professor

24

Com relação à formação continuada, a LDB artigo 63, inciso III, estabelece que as

instituições formativas deverão manter “programas de formação continuada para os

profissionais de educação dos diversos níveis”. O artigo 67, inciso II estabelece “que os

sistemas de ensino deverão promover aperfeiçoamento profissional continuado, inclusive com

licenciamento periódico remunerado para esse fim”. Tal perspectiva amplia o alcance da

formação continuada, incluindo os cursos de pós-graduação em nível de mestrado e

doutorado. É importante que se mencione que tais políticas pensadas para o desenvolvimento

da formação continuada no Brasil seguem orientações dos organismos internacionais,

utilizando a modalidade da educação a distância, formação em serviço e na escola.

A partir dos respaldos legais instituídos pela nova legislação, também foram

implementadas outras políticas. Dentre elas está o FUNDEF, que através da Lei nº 9424/96,

definiu a reserva de 60% dos recursos dos fundos para a remuneração do magistério. Os

outros 40% da parcela seriam destinados à aplicação em ações variadas de manutenção e

desenvolvimento do ensino fundamental público incluindo a formação inicial e continuada

dos professores e a capacitação de pessoal técnico-administrativo (BRASILb, 2010). Essa

ação trouxe respaldo legal ao financiamento sistemático de cursos de formação de professores

em serviço e para elevação da oferta de formação continuada no setor público.

De igual modo, na busca de cumprir o que está disposto nos artigos 67 e 87 da

LDBEN, o Conselho Nacional de Educação, através da Resolução nº 03/97, artigo 5 fixa

diretrizes em que os sistemas de ensino “envidarão esforços para implementar programas de

desenvolvimento profissional dos docentes em exercício, incluída a formação em nível

superior em instituições credenciadas, bem como em programas de aperfeiçoamento em

serviço” (BRASILc, 2010). Assim sendo, os planos de carreira, por meio da qualificação

inicial e continuada dos profissionais docentes devem incentivar a progressão.

No intento de instituir os objetivos e as metas para formação inicial e continuada dos

professores, o Plano Nacional de Educação por meio da Lei nº 10.172/2001, ressalta que se

faz necessário a criação de programas articulados entre as instituições públicas de ensino

superior e secretarias de educação, de modo que se eleve o “padrão mínimo de qualidade de

ensino”. Nessa direção, em 2003 o Ministério da Educação, em conjunto com a Secretária de

Educação Básica criou a Rede Nacional de Formação Continuada de Professores da Educação

Básica com a função de contribuir com a qualidade do ensino (BRASILd, 2006, p. 9). O

motivo da criação deste órgão deu-se em razão da constatação de que a formação continuada

vem se integrando cada vez mais às perspectivas dos docentes, das escolas e dos gestores

educacionais em diferentes níveis.

Page 25: Formação continuada em serviço: um estudo sobre o projeto sala de professor

25

Com a institucionalização da referida Rede foram credenciados vários Centros de

Pesquisas ligados às universidades, os quais são especializados em várias áreas de

conhecimentos e desenvolvimento da educação. Esses se tornaram parceiros no

desenvolvimento e oferta de programas de formação continuada, bem como na

implementação de novas tecnologias de ensino e gestão em unidades escolares e sistemas

estaduais e municipais.

De acordo com Gatti (2009, p. 52), as iniciativas mais recentes concentram-se no

âmbito nacional para qualificar os cursos de formação inicial e continuada dos profissionais

docentes para as redes públicas da educação básica reunindo um conjunto de normas

específicas instituídas pelo Decreto nº 6.755/09 que procura organizar em regime de

cooperação entre os níveis de governo da Federação, a oferta de formação inicial e continuada

dos docentes para as redes públicas da educação básica.

No tocante à formação continuada, os princípios preconizados por tal decreto

compreendem: a equidade no acesso à formação continuada; a sua articulação com a

formação inicial; seu caráter entendido como componente essencial da profissionalização

docente integrado ao cotidiano da escola levando em consideração os saberes e experiências

do docente e a compreensão dos profissionais do magistério como agentes formativos de

cultura e, como tal, da necessidade de seu acesso permanente a informações, vivência e

atualizações culturais.

As legitimações que amparam a formação continuada demonstram um empenho por

parte dos sistemas oficiais de ensino (Federal, Estadual e Municipal), criando um conjunto de

diretrizes, programas e legislações com o intento de adequar a formação de professores. A

intenção está relacionada ao objetivo de superar problemas e/ou lacunas existentes na prática

docente e promover a introdução de um novo repertório de conhecimentos de natureza teórica

ou prática, decorrente da produção de novos saberes nas diferentes áreas de conhecimento.

Contudo, observa-se que os resultados deixam dúvidas, principalmente porque

pesquisas realizadas pelo Sistema Nacional de Avaliação da Educação Básica (SAEB)2 dão

conta de que os níveis de desempenho dos alunos brasileiros indicam que, no caso do Ensino

Fundamental e Médio a escola não tem conseguido cumprir adequadamente sua tarefa de

promover a aprendizagem dos alunos. Com isso, todo esse aparato de políticas públicas para o

2 As avaliações do Saeb produzem informações a respeito da realidade educacional brasileira, por regiões, redes de ensino

pública e privada nos estados e no Distrito Federal, por meio de exame bienal de proficiência, em Matemática e em Língua

Portuguesa (leitura), aplicado em amostra de alunos de 4ª e 8ª séries do ensino fundamental e da 3ª série do ensino médio. A

partir das informações obtidas é possível um acompanhamento da evolução e qualidade da Educação ao longo dos anos, e

assim pensar em ações para a solução dos problemas identificados, assim como no direcionamento dos seus recursos técnicos

e financeiros às áreas prioritárias.

Page 26: Formação continuada em serviço: um estudo sobre o projeto sala de professor

26

sistema de formação de professores e as novas nomenclaturas que emergem em consonância

com o contexto sócio-econômico do mundo globalizado está submersa à imagem de

iniciativas ou programas compensatórios e de distribuição de certificados.

Candau (1996, p. 140) chama a atenção para o fato de que esse debate em torno da

formação continuada não é algo novo, muito embora tenha se intensificado com as reformas

educacionais. De acordo com a autora, ele sempre esteve presente nos discursos pedagógicos

desde as décadas iniciais deste século, chegando até os nossos dias. Mas apesar disso,

continuamos presenciando uma formação voltada para atender as exigências do mundo

produtivo. E assim, vão surgindo novas nomenclaturas para formação continuada dos

profissionais docentes, que pressupõe uma amplitude e capacidade de extrapolar o campo

conceitual até então utilizado. Vale ressaltar que, de acordo com as demandas de cada

momento histórico, os termos utilizados para a formação continuada vão sendo ultrapassados,

eliminados, trocados, substituídos. Porém, apesar de ser um tanto quanto precipitado fazer tal

afirmação, os objetivos e linhas de ações conservam um caráter determinado pelas concepções

de formações já existentes.

Os fatos expostos demonstram que há uma grande mobilização em torno da

formação continuada. Ela aparece cercada de um grande número de produções teóricas,

eventos que propiciam debates, análises, propostas e alternativas “milagrosas” para a

educação. Mas a despeito disto, algumas questões perduram, tais como: Quais são os efeitos

da formação continuada na prática pedagogia do profissional docente? Como podemos

perceber as implicações e as contribuições dessa formação? Qual a participação do

profissional docente no processo de organização e elaboração dos projetos de sua formação

continuada? Por que existe a necessidade de adotar artifícios de incentivo, a exemplo da

emissão de certificados para os participantes? Seria de fato incentivo ou um instrumento de

poder?

Esse elenco de interrogações, em momento algum tem como finalidade

descaracterizar as ações que vem sendo realizadas acerca da formação continuada. Em

contrapartida, pretende ampliar a discussão em torno de práticas que possam contribuir para

diminuir o descompasso entre o contexto de atuação do professor e as perspectivas e

expectativas da profissão docente. Por isso, optamos em pesquisar o projeto de formação

continuada intitulado “Sala de Professor” implantado em Mato Grosso pela Secretaria de

Estado de Educação. O projeto tem em sua configuração a intenção de estabelecer uma

articulação entre a formação continuada e o Projeto Político Pedagógico, no qual estão

explícitos (ao que esperamos,) os principais problemas da escola, as propostas de soluções e

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27

as definições de responsabilidades para superação dos problemas. Assim, um funciona como

estímulo para o outro se complementando e se transformando, caracterizando a escola como

um lócus privilegiado de formação e desenvolvimento do coletivo e da escola. Tal discussão

será abordada a partir dos próximos capítulos, contemplando os resultados da implantação e

implementação da formação continuada nas escolas.

Page 28: Formação continuada em serviço: um estudo sobre o projeto sala de professor

28

CAPÍTULO II - O CAMINHO METODOLÓGICO

Esse trabalho sustenta-se num enfoque interpretativo e estudo das percepções

pessoais dos professores acerca de suas vivências no espaço de formação continuada. Para

Lüdke e André (1986, p.11-13), a pesquisa qualitativa apresenta algumas características

básicas dentre as quais ressaltamos o ambiente natural como sua fonte direta de dados, tendo

o pesquisador como seu principal instrumento, de modo que o “significado” que as pessoas

dão às coisas e a sua vida são focos de atenção especial pelo pesquisador.

Neste tipo de pesquisa há uma preocupação em compreender a maneira como os

sujeitos participantes da pesquisa concebem as questões relacionadas ao objeto de estudo, de

forma que a análise dos dados tende a seguir um processo indutivo, uma vez que os

pesquisadores não se preocupam em buscar evidências que comprovem hipóteses definidas

antes do início dos estudos.

Baseando-se no referido enfoque, o desenvolvimento deste trabalho ocorreu

mediante a realização de uma investigação em duas escolas da rede estadual, no curso de

formação continuada, intitulado “Sala de Professor”, buscando uma aproximação do

investigador com as pessoas, situações e eventos, cuja finalidade era estabelecer um contato

mais direto com os sujeitos pesquisados. De acordo com André (1995), essa aproximação

favorece ao investigador a interpretação da realidade vivenciada dos grupos pesquisados, de

modo que se possa obter uma compreensão mais profunda de todas as variáveis apresentadas.

Para a compreensão do objeto a ser investigado, a pesquisa utilizou-se das seguintes

técnicas de coleta de dados:

a) Estudos bibliográficos - para a construção de um referencial teórico que

ampare a análise dos dados coletados, recorrendo-se a autores como: Tardif (2006), Gauthier

(2006), Pimenta (2008), Gatti (2009), Marcelo Garcia (2009), Nóvoa (2009) e outros;

b) Análise documental – porque os documentos consistem numa fonte de

informações e dados ricos em evidências que fundamentam as declarações do pesquisador.

Segundo Lüdke e André (1996), os documentos “não são apenas uma fonte de informação

contextualizada, mas surgem num determinado contexto e fornecem informações sobre esse

mesmo contexto” (p. 39).

As fontes primárias para a coleta dos dados foram os documentos expedidos pelo

SEDUC MT/ CEFAPRO e o projeto de formação continuada das escolas pesquisadas. A

análise documental teve como eixos: os fundamentos teóricos metodológicos que orientam o

Page 29: Formação continuada em serviço: um estudo sobre o projeto sala de professor

29

Projeto Sala de Professor, o papel do CEFAPRO, da escola, do professor e as concepções dos

profissionais das unidades escolares durante o processo de elaboração do projeto;

c) Observação - buscando uma aproximação com as pessoas e as situações reais

com os sujeitos pesquisados, procedeu-se a observação da pesquisadora por seis meses nos

encontros da formação continuada “Sala de Professor” para entender como são definidas as

temáticas dos modelos de formação continuada de professores, o seu desenvolvimento no

cotidiano escolar e o registro das ações e atividades desenvolvidas durante os encontros de

formação. Para André (1995, p. 27-28), esse tipo de observação utiliza um conjunto de

técnicas para coletar dados sobre os valores, os hábitos, as crenças, as práticas e os

comportamentos de um grupo social, o que exige interação constante entre o pesquisador e a

situação pesquisada.

d) Entrevistas semi-estruturadas com os professores que participam da formação

continuada, com a finalidade de esclarecer e aprofundar aspectos da situação observada. Essa

técnica foi realizada porque possibilita extrair a opinião dos sujeitos envolvidos na pesquisa,

permitindo a captação imediata das informações, com a vantagem de se poder aprofundar no

assunto. Segundo Lüdke e André (1986) essa técnica funciona como um grande suporte para

analisar as percepções, valores, sentimentos, atitudes e opiniões dos participantes. Para a

realização dessa técnica, optamos por gravar as entrevistas e transcrevê-las. A esse respeito,

Triviños (1987, p. 148) recomenda a gravação da entrevista, pois para o autor, a gravação da

conversa possibilita ao investigador contar com todo o material fornecido pelo informante.

Os dados foram coletados em duas escolas da rede estadual do município de

Cáceres/MT que oferecem Educação Básica nos níveis Ensino Fundamental, Médio e

Educação de Jovens e Adultos. Os sujeitos entrevistados compreendem dez professores que

participam da formação continuada “Sala de Professor”, sendo (05) cinco professores de cada

escola.

Assim, no próximo capítulo estaremos apresentando os dados coletados durante essa

caminhada investigativa, seguindo os procedimentos abaixo descritos:

As técnicas serão descritas e analisadas uma a uma, com exceção da entrevista, cuja

finalidade foi analisar as atividades e ações que acontecem nos espaços de formação

de cada unidade escolar, com a preocupação de não estabelecer nenhuma comparação

entre as duas escolas estudadas;

Durante a descrição e análise da entrevista buscamos entrelaçar as informações obtidas

através dos documentos e observação com os resultados alcançados por meio da

entrevista;

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30

Para identificar as unidades escolares optamos por denominá-las como: Escola A e

Escola B;

Os professores entrevistados estão identificados como: P1, P2, P3, P4 e P5, sujeitos

pertencentes à escola A e P6, P7, P8, P9 e P10 aqueles pertencentes à escola B;

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31

CAPÍTULO III – DESCRIÇÃO E ANÁLISE DOS DADOS

3.1 - O Projeto Sala de Professor

No final de 2003, a SEDUC - Secretaria de Estado de Educação e a SUFP -

Superintendência de Formação dos Profissionais da Educação, implantou nas escolas

estaduais, o projeto Sala de Professor. Na ocasião, os programas de formação que o estado

oferecia, (TV escola, Salto para o Futuro, Parâmetros em Ação), oriundos do MEC,

encontravam-se na etapa final. Assim, surgiu a proposta de criar uma formação do próprio

estado focando a escola, e que fosse uma formação da escola para a escola.

Em conversa com um profissional que atua na SEDUC, ele nos informou que de

início, o Projeto Sala de Professor foi implantado nas escolas que tinham telepostos para o

Projeto Salto Para o Futuro, isto porque já contavam com espaço para os professores,

profissional que coordenava a discussão e um grupo que já participava dos encontros.

Segundo o profissional, a intenção era aproveitar a cultura de formação já existente. Assim

sendo, 32 escolas em 13 municípios receberam o projeto. A partir daí, foi estendido a todo

estado, cujo processo de implantação foi de 2003 até 2006.

De acordo com o Parecer Orientativo nº 1/2010 referente ao Desenvolvimento do

Projeto Sala de Professor (MATO GROSSO, 2010), o mesmo oferece formação continuada a

professores e tem como princípio fortalecer a escola como um ambiente de aprendizagem que

possibilita ao professor a prática contínua de gerir sua formação de forma individual e

coletiva.

Assim, a Sala de Professor anuncia como protagonistas, os profissionais docentes,

não docentes e gestores da unidade escolar, cujo desafio da formação continuada passa a ser

constituir a cultura do estudo em grupo, com ênfase no comprometimento e participação do

coletivo da escola na elaboração de projetos centralizados à vida escolar e aos problemas que

nela se apresentam, a fim de que os professores desenvolvam as suas potencialidades.

Também revela a preocupação em fazer com que o professor perceba a escola como espaço de

aprendizagem docente, onde as atividades de estudo, os cursos, projetos e programas de

iniciativa da escola possam ser desenvolvidas no mesmo local onde exerce suas atividades

pedagógicas.

Os documentos de orientações para o desenvolvimento do Projeto Sala de Professor

(SEDUC/CEFAPRO, 2010), que apresentam a” Sala de Professor” como uma proposta viável

de formação continuada esclarecem que o projeto consiste em estudos coletivos dos

Page 32: Formação continuada em serviço: um estudo sobre o projeto sala de professor

32

profissionais da instituição, na qual em determinados momentos dos encontros, acompanhado

pelo coordenador pedagógico, um dos professores das áreas de conhecimento lideram seus

pares e partilham no coletivo a relação teoria e prática. Segundo o Parecer Orientativo nº

01/2010, tais ações visam possibilitar ao professor, estudo e reflexão sobre e na prática,

aprofundando os conhecimentos teórico-metodológicos que contribuam para a elaboração de

intervenções problematizadoras, adequadas ao atendimento e à diversidade existente na sala

de aula.

A configuração funcional da Sala de Professor não tem em sua estrutura uma pessoa

falando e as outras ouvindo. Todos os participantes devem se preparar para argumentar a

partir de um conteúdo pré-definido. Os documentos que abordam o assunto destacam que esse

momento é quando os professores têm oportunidade para trocar experiências com os pares,

identificar suas aprendizagens, promover a troca, o conviver coletivo a partir da

transformação da conduta de aprendizagem, de modo que os professores sintam-se instigados

a se posicionarem em relação a sua prática.

De acordo com exigência da SEDUC/CEFAPRO, a definição dos conteúdos a serem

estudados deve estar articulada ao Projeto Político Pedagógico da escola e ao Plano de

Desenvolvimento da Educação. Também precisa contemplar dois eixos essências: a

aprendizagem – melhoria do desempenho dos alunos e o ensino – melhoria da prática

pedagógica. Assim sendo, para elaboração das propostas de trabalho, deve ser feito uma

autovaliação buscando obter um diagnóstico das necessidades da escola.

Entre os itens a serem observados antes da elaboração do projeto de formação, estão

o IDEB, ENEM, Prova Brasil, os indicadores do SIGA - Sistema Integrado de Gestão da

Aprendizagem e o plano de formação continuada dos profissionais da Educação. Isso significa

que um projeto que satisfaz uma escola, na maioria das vezes, não atende à realidade da outra,

o que implica considerar que as orientações não podem ser as mesmas para todas as escolas.

De acordo com o Parecer Orientativo nº 01/2010 da SEDUC/SUFP, para que ocorra

a implantação e implementação do projeto na escola faz-se necessário orientação durante a

elaboração dos projetos, a aprovação para execução do mesmo e o acompanhamento para a

efetivação do projeto nas unidades escolares. Para isso a SEDUC conta com a equipe de

formadores dos CEFAPROs, que em forma de orientações, assessoramento, sugestão de

temáticas, textos, vídeos, etc. acompanham o desenrolar dos Projetos Sala de Professor nas

escolas.

O Parecer Orientativo nº 01/2010 determina ainda que a coordenação do Projeto Sala

de Professor na escola é de responsabilidade da coordenação pedagógica da unidade escolar,

Page 33: Formação continuada em serviço: um estudo sobre o projeto sala de professor

33

sob acompanhamento, orientação e avaliação do coordenador de formação e professores

formadores dos Cefapros

O processo de elaboração da Sala de Professor deve acontecer na Semana

Pedagógica que acontece no início do ano. Os gestores da escola discriminam as temáticas

que serão abordadas, a carga horária, os mediadores, os dias de encontros e horários. A partir

de então, encaminham o Projeto Sala de Professor ao CEFAPRO, com o cronograma de

execução no período de março a outubro. Após deferimento, cada escola recebe o Parecer de

Aprovação do projeto para dar início às atividades.

A carga horária mínima de estudos deve ser de 80 horas no ano letivo, podendo ser

distribuída em 40 horas no primeiro semestre e 40 horas no segundo semestre. Na ocasião, os

profissionais que se reunirem participarão de discussões, apreciação de seminários temáticos,

filme, vídeo, painéis, quadros-murais, oficinas e mostras de produções dos professores e

alunos, com foco na melhoria do processo de ensino e aprendizagem.

A formação deve acontecer em regime presencial nos encontros de estudos coletivos

dos profissionais docentes e não docentes da instituição, onde serão acompanhados e

orientados pela coordenação pedagógica. Quando necessário, o grupo pode ser dividido para

estudos específicos como: Ciclos, Área de Conhecimento, Disciplina e Modalidade. Todos os

participantes que frequentarem os grupos de estudos e obtiverem acima de 75% de frequência,

receberão certificado chancelado pelo CEFAPRO com o valor estudo em grupo na formação

continuada Sala de Professor. Por outro lado, os participantes que obtiverem frequência

inferior a 75% receberão certificado apenas com o valor de formação continuada emitido pela

unidade escolar, ou seja, não terá validade como Sala de Professor.

Para organizar a formação, as escolas poderão utilizar os recursos disponibilizados

pelo PDE, que dispõe sobre a implementação do PPP, que deverá contemplar a formação

continuada, por meio da Sala de Professor.

Em relação à avaliação, a escola deverá realizá-la de forma escrita bimestralmente,

abordando os temas discutidos durante os encontros, devendo a mesma estar prevista no

cronograma das atividades, com o objetivo de verificar o nível de aproveitamento dos

participantes, para possíveis retomadas dos temas.

No próximo item estaremos analisando o Projeto Sala de Professor elaborado na

unidade escolar, no intento de ampliar nossa compreensão acerca de seu desenvolvimento nas

escolas.

Page 34: Formação continuada em serviço: um estudo sobre o projeto sala de professor

34

3.2 – Organização e operacionalização do projeto Sala de Professor na escola

A unidade do CEFAPRO em Cáceres constitui-se como um Pólo Educacional que

acompanha a formação continuada a partir da Sala de Professor em (54) escolas de (12)

municípios. Dentre as escolas atendidas pela unidade, estão (16) dezesseis escolas da rede

estadual no município de Cáceres-MT (CEFAPRO, 2010, p. 02).

Nesse subitem, estaremos analisando o projeto de formação continuada a partir da

Sala de Professor de duas unidades escolares selecionadas dentre as 16 escolas estaduais do

município de Cáceres.

Com o objetivo de entendermos as concepções e ações pensadas durante o processo

de elaboração dos projetos nas duas escolas, optamos em nos reportar às unidades escolhidas

como sendo: Escola A e Escola B.

Escola A

A Escola A está localizada no centro da Cidade de Cáceres, oferecendo Educação

para o Ensino Fundamental, Ensino Médio, e a modalidade Jovens e Adultos.

A unidade escolar com apenas (10) anos de criação, tem em seu histórico um extenso

caminho de desafios e conquistas. O período de abertura da escola à comunidade foi marcado

por um intenso trabalho com projetos de danças, teatro, o que projetou a escola no cenário

social. Por isso, em meio às conquistas, estão a credibilidade junto à sociedade e também a

criação das primeiras salas especiais e a sala de recursos, ferramentas essas que marcaram a

prática pedagógica da escola. Com a ampliação do espaço, para o atendimento aos chamados

alunos especiais, com destaque aos portadores de deficiência auditiva, foram abertas novas

salas de recurso e salas especiais, tornando mais eficaz o processo de ensino e aprendizagem.

De acordo com o projeto da escola (2010, p. 05), a formação continuada se faz

necessária pela própria natureza do saber e do fazer humano, uma vez que as práticas sofrem

transformações constantemente, compreendendo que o saber que construímos deve ser revisto

e ampliado sempre.

Dentre os argumentos que justificam a elaboração do projeto de formação continuada

da escola, constatamos uma preocupação voltada para organização e reflexão de uma prática

pedagógica que entenda e respeite a diversidade dos alunos que demandam diferenciação na

prática pedagógica. A preocupação está pautada na expectativa de garantir que os alunos com

necessidades especiais participem de um programa possível, no qual considera as

especificidades que as suas necessidades possam requerer, não por meio de um currículo

novo, mas da adaptação progressiva do currículo regular.

Page 35: Formação continuada em serviço: um estudo sobre o projeto sala de professor

35

No tocante ao objetivo, percebemos que ele aparece sustentado em dois eixos.

Priorizar as reflexões sobre as práticas inclusivas adotadas na escola

envolvendo a postura dos profissionais a preparação física do ambiente

escolar e o estudo das especialidades atendidas pela escola. Além da

avaliação e currículo, sob a ótica da Escola Organizada em Ciclos de

Formação Humana, potencializando e melhorando significativamente as

práticas pedagógicas com a finalidade maior de proporcionar um

aprendizado a todos os sujeitos de nossas práticas educativas, sob a

perspectiva de construção de uma escola pública, de qualidade e

verdadeiramente inclusiva (ESCOLA A, 2010. p.08). Grifo nosso.

Segundo o projeto, para que os objetivos possam ser alcançados e o profissional

docente possa rever a sua prática ao longo da carreira, foram previstas a realização de

algumas ações que visam fortalecer a escola enquanto espaço de formação dos profissionais

da educação, a fim de desenvolver suas potencialidades e qualificar o desempenho no

trabalho. Dentre as ações previstas estão: instituir no corpo docente a cultura do diálogo e da

construção coletiva de propostas inclusivas adotadas pela escola; discutir e avaliar conflitos e

problemáticas dentro de uma visão integradora e democrática, que possam levar os

profissionais a construírem autonomia didática e pedagógica dentro da sala de aula e na

escola; discutir e propor coletivamente a construção e articulação de um currículo adaptado às

realidades da escola ciclada e inclusiva.

Em meio às temáticas pensadas para a formação, destacamos algumas como: Direitos

Humanos e Inclusão; Estudos das diferentes especialidades; Alfabetização em libras; Processo

de ensino e aprendizagem dos alunos com necessidades educacionais especiais; Indisciplina

na escola; Direitos e deveres dos professores; Estudos referentes às leis profissionais; Direitos

e deveres dos alunos; Estudo de diferentes metodologias na sala de recurso. O projeto propõe

uma metodologia diversificada, de acordo com a temática a ser trabalhada, bem como o uso

de diversos recursos audiovisuais e contando com a participação de profissionais da educação,

ou seja, professores da UNEMAT - Universidade do Estado de Mato Grosso, instrutoras de

Libras, coordenação pedagógica, professores, profissionais da comunidade e funcionários da

escola. Neste intento, as atividades didático-pedagógicas consistem em estudos

individualizados e em grupos, com exposição e comunicação oral para os participantes após

os estudos realizados.

No cronograma de encontros vinculados ao projeto de formação continuada

constatamos que o processo de execução do projeto para 2010, foi organizado em (80) horas,

dividido em duas etapas de (40) horas cada, com encontros semanais, durante a hora atividade

dos professores, conforme determinações dos órgãos superiores.

Page 36: Formação continuada em serviço: um estudo sobre o projeto sala de professor

36

Escola B

A escola B, inserida próxima a vários bairros, oferece Educação Básica nos níveis do

Ensino Fundamental, Ensino Médio e Educação para Jovens e Adultos. Em decorrência disso,

além dos alunos da comunidade onde está localizada, recebe também alunos dos bairros

vizinhos, provenientes de diversas camadas sociais e grupos étnicos. Nesse contexto, a

unidade escolar compreende a necessidade de promover uma educação que propicie a troca

entre os diversos saberes dos grupos presentes na escola, atendendo a Lei nº 10.6393.

Com a finalidade de garantir o desenvolvimento da formação num processo

contínuo, oportunizando aos profissionais elementos nos quais possam reconhecer as

características de formação no contexto de trabalho, a escola B por meio do seu projeto de

formação continuada para 2010, propõe realizar a Sala de Professor com (20) vinte encontros

distribuídos em duas etapas de (40) quarenta horas cada. Como o projeto visa alcançar todos

os profissionais, a formação deve ser oferecida semanalmente por meio de grupos de estudos

para professores, técnicos administrativos e de apoio. De acordo com o projeto (2010, p. 09),

o objetivo é “promover estudos e atividades de formação continuada para professores e

técnicos da unidade, com o propósito de aprimorar a qualidade pedagógica, metodológica

do processo de aprendizagem”. Grifo nosso.

Do total da carga horário, 25% são destinadas à área da base comum sendo:

socialização das temáticas abordadas na formação continuada de coordenadores pedagógicos

no CEFAPRO. Também aos temas da área comum para suprir as necessidades de deficiência

que interferem no processo ensino-aprendizagem de acordo com o PPP da escola. Dentre os

temas destacam-se a diversidade étnica racial no currículo escolar, a avaliação da

aprendizagem e a discussão de políticas pública ações afirmativas. Os outros 75%

contemplam a área específica como: a formação continuada para professores do Ensino

Fundamental, Médio, EJA e técnicos. Para esse momento, alguns temas sugeridos estão

ligados a competências e habilidades específicos de cada área.

No que diz respeito à organização dos encontros, está proposto no projeto que os

encontros para os professores acontecerão no período intermediário e outro no período

matutino. Para os técnicos e apoio, em dias diferentes, sendo mediados pelas coordenadoras

no período intermediário.

Nos encaminhamentos das atividades propostas para as discussões durante a

formação Sala de Professor no ano de 2010, constatamos que estavam previstos a seleção de

materiais para os grupos de estudos, discussão reflexiva de textos impressos e CD de áudio e

3 Lei nº 10.639 – Lei que obriga o ensino da história e cultura da África nas escolas brasileiras.

Page 37: Formação continuada em serviço: um estudo sobre o projeto sala de professor

37

vídeo, grupos de estudos semanalmente no período da hora atividade dos professores,

realização de palestras e oficinas para professores e funcionários administrativos em relação a

drogas e abuso sexual, estudo do documento da SEDUC sobre a função de cada funcionário,

leitura reflexiva sobre a organização curricular do EJA e a reformulação do projeto de

formação continuada Sala de Professor. Entendemos como importante mencionar que nesse

ponto, nos chamou a atenção o fato da escola já no início do ano prever que o projeto de

formação continuada precisa ser reformulado e, sobretudo, colocar como uma das propostas

de discussão para coletivo. Essa postura demonstra preocupação e cuidado com a formação

dos profissionais que atuam na instituição escolar.

Durante as análises dos projetos das escolas, percebemos que houve uma

preocupação por parte das escolas em seguir o que foi estabelecido pelo Parecer Orientativo

nº 01/2010 da SEDUC/ SUFP.

Vale ressaltar que nos projetos estão previstas várias ações que visam atender a

demanda da atual realidade educacional, com foco no ensino e aprendizagem, no

desenvolvimento do profissional docente que se preocupa com seu processo contínuo de

formação e na escola como um espaço de reflexão e construção de conhecimento. Entretanto,

é importante mencionar que durante a elaboração do projeto, cada unidade escolar buscou

elaborá-lo de acordo com a sua realidade e demanda.

A partir do próximo item apresentaremos informações acerca do desenvolvimento

dos projetos nas unidades escolares

3.3 – Descrição e análise da observação nos encontros Sala de Professor

Com o intuito de ampliar a compreensão acerca do desenvolvimento de atividades de

formação continuada no cotidiano escolar, optamos em participar dos encontros de formação

“Sala de Professor” realizados pelas unidades escolares que foram selecionadas para a

pesquisa, de modo que pudéssemos analisar e registrar as ações e atividades desenvolvidas no

decorrer dos encontros. Assim sendo, nesse item estaremos apresentando os dados obtidos por

meio da observação participante, já mencionada anteriormente no capítulo II.

Durante a descrição dos fatos observados seguiremos o mesmo critério adotado

anteriormente, o de nos reportarmos às escolas como sendo Escola A e Escola B.

Antes de abordarmos os dados é importante mencionar que as escolas selecionadas

organizaram a carga horária dos seus encontros de formação continuada em 80 horas,

seguindo o Parecer Orientativo nº 01/2010 da SEDUC, as quais foram divididas em 40h no

Page 38: Formação continuada em serviço: um estudo sobre o projeto sala de professor

38

primeiro semestre e 40h no segundo semestre. A nossa participação nos encontros, tanto da

Escola A quanto da Escola B, aconteceu em todo o segundo semestre do ano de 2010.

Escola A

Essa unidade escolar estabeleceu encontros de formação semanais, que aconteceram

nas segundas-feiras, com início às 17h 30 min. Esse horário foi acordado para que pudesse

atender professores, técnicos e apoio administrativo.

No tocante ao preparo e estrutura dos encontros, percebemos que houve uma

preocupação por parte da coordenação pedagógica em preparar um lugar específico para a

formação, pois os encontros aconteciam na biblioteca da escola, espaço amplo, arejado e bem

iluminado. As cadeiras e mesas eram organizadas em círculo, de modo que todos conseguiam

ver um ao outro. Havia também a disponibilidade de recursos como: Notebook, data show,

caixa de som, TV e DVD.

Durante os encontros foram realizadas discussões em torno de várias temáticas que

abordavam direitos e deveres tanto para alunos quanto para professores, educação digital

como forma de auxílio no ensino e aprendizagem, práticas pedagógicas para o ensino do

aluno com necessidades especiais e dos alunos considerados “normais”, salas de recursos e

outras. No desenrolar dos encontros percebemos que o comprometimento dos participantes

com a formação foi se configurando em dois grupos: no primeiro havia participantes que

sempre chegavam atrasados e por várias vezes saiam da sala durante a formação; estes

ficavam conversando outros assuntos, atendiam o celular, olhavam revistas da

Avon/Hermes/Site de relacionamentos e desenvolviam outras atividades durante a formação.

Já o segundo grupo de participantes costumava ser pontual, assíduo e participativo. Dentre

esses estavam o diretor e as duas coordenadoras pedagógicas.

Outro fator observado foi que a cada encontro, um profissional da escola era

responsável para conduzir a formação. A este cabia a tarefa de abordar o tema a ser

desenvolvido e expô-lo ao grupo em forma de vídeo ou slides. A partir daí era promovida uma

discussão. Assim, observou-se que alguns procedimentos metodológicos adotados pelos

condutores, nos levaram a entender que havia uma tentativa de se estabelecer a troca de idéias

entre profissionais docentes, procedimento previsto no Projeto Sala de Professor. No entanto,

por causa da falta de interesse dos professores em participar das discussões, tivemos

dificuldade para entender se os temas abordados por esses condutores foram definidos pelo

coletivo ou tratava-se de encaminhamentos sugeridos pela coordenação.

Page 39: Formação continuada em serviço: um estudo sobre o projeto sala de professor

39

Por outro lado, durante os encontros de formação, percebemos alguns

acontecimentos que demonstram certa pertinência acerca da discussão da formação

continuada no contexto escolar. Para ampliar a compreensão dos fatos, entendemos como

importante descrever alguns desses acontecimentos. Como por exemplo: a reação dos

participantes no momento em que assistiam ao filme “O silêncio do trovão”, que abordava as

questões de aprendizagem para o deficiente auditivo.

Enquanto o filme estava sendo exibido, percebemos vários comentários entre os

participantes da formação. Após o filme, alguns comentários estavam cheios de empolgação.

Surgiram falas como: “É preciso sensibilidade para assistir o filme.” “O professor cria com o

que é natural.” “Além de pensar em estratégia é preciso acreditar.” “Também se importar.

Ele se importou com a condição dela.”

Também aconteceram outras discussões marcantes, quando uma professora da sala

de recurso comentou da angústia da profissão, para ajudar na aprendizagem tanto dos alunos

considerados “normais” como daqueles com deficiência. A partir desse comentário,

emergiram outros com a mesma angústia e dúvidas. Até que a coordenadora pedagógica

acrescentou que ao longo da profissão é natural a existência de tais angústias, e, sobretudo, de

perguntas do tipo: Qual é o ponto de partida nessa profissão? Diante disso, ela encerrou a

discussão comentando que “construir e reconstruir é importante, durante toda a vida

profissional”.

Em meio às trocas de idéias, uma professora que atua na sala de recurso, sugeriu aos

colegas, que talvez pudessem trabalhar em parceria com os professores que atendem aos

alunos na sala regular. Para a concretização desta proposta seria que pelo menos uma vez na

semana, a professora de recurso viria no período vespertino e ficaria na sala regular

acompanhando o aluno que participa na sala de recurso. Do mesmo modo, a professora da

sala regular, iria, no período matutino, acompanhar o mesmo aluno na sala de recurso. Para a

professora, a intenção era de perceber como esse aluno reage em cada espaço e assim, buscar

intervenções que venham ao encontro das reais necessidades do aluno.

Ainda seguindo com o relato de alguns acontecimentos, num determinado dia, um

fato nos chamou atenção: enquanto aguardávamos o início da formação, percebemos que uma

professora que trabalha com a alfabetização com deficientes auditivos, folheava um livro do

primeiro ano. Ela buscava um texto para trabalhar com alguns alunos que apresentam

dificuldade de aprendizagem.

Observamos que na sala, outros professores também aguardavam o início da

formação. Mas, a professora não recorreu a eles. Porém, quando uma professora que atua

Page 40: Formação continuada em serviço: um estudo sobre o projeto sala de professor

40

como alfabetizadora chegou, antes mesmo que ela pudesse saudar aos colegas, foi abordada

pela professora da sala de recurso, que insistentemente pediu para que a recém-chegada

sentasse ao seu lado. A partir de então, as duas começaram a trocar idéias a respeito das várias

possibilidades para ajudar os alunos com dificuldade na aprendizagem.

Por outro lado, também observamos fatos não tão empolgantes, como a pouca

participação dos participantes nas discussões. Isso porque o grupo tinha em média 20

participantes. Destes, geralmente apenas 4 ou 5 participavam, enquanto os demais

permaneciam em silêncio, sem expressarem qualquer tipo de interesse. Também nos chamou

a atenção, o fato de que em momento algum percebemos qualquer tipo de anotação acerca do

que estava sendo discutido durante as formações.

Os fatos observados nos levam a considerar que em alguns aspectos escola A, vem

tentando alcançar os objetivos previstos no seu projeto de formação. Apesar de termos a

impressão de que alguns profissionais ainda não compreenderam bem a proposta da formação

por meio do estudo em grupo, e com isso não se envolviam nas discussões que estavam

acontecendo durante os encontros de formação.

Escola B

Nessa unidade escolar os encontros de formação também foram semanais,

acontecendo nas quartas feiras, com início às 17h. A definição do dia e horário ocorreu por

meio de voto dos professores. Vale ressaltar que essa unidade conforme previsto no projeto

optou em fazer a formação dos técnicos e apoio administrativos em outro dia e horário.

No tocante à organização e estrutura, percebemos que os encontros, por vezes

ocorriam em uma sala de aula, outras no laboratório de informática e até na sala de

professores, porque não havia um lugar específico para que as reuniões pudessem acontecer.

Para dar suporte aos trabalhos eram aproveitados alguns recursos como o uso de notebook,

data show, caixa de som, TV, DVD, Xérox, etc.

Observamos que na sala todos sentavam como queriam. Com isso, durante as

atividades ficava fácil perceber quais eram os participantes que mais contribuíam nas

discussões, porque eles costumavam se posicionar próximos a quem conduzia as discussões.

Em alguns momentos, percebemos que teria sido interessante se os professores estivessem

organizados de modo que todos pudessem ver um ao outro e participar das discussões.

No decorrer dos encontros de formação, foram realizadas discussões em torno de

temáticas que abordavam a diversidade étnica racial no currículo escolar, diversidade sexual,

Page 41: Formação continuada em serviço: um estudo sobre o projeto sala de professor

41

leis, políticas públicas para a educação básica, conteúdos e metodologias desenvolvidas em

sala de aula.

No intento de ampliar a compreensão acerca do desenrolar dos encontros de

formação continuada na escola B, estaremos descrevendo alguns fatos observados durante

nossa participação na sala de professor.

Em um dos dias de observação, durante um dos encontros ocorridos no laboratório

de informática, os participantes deveriam fazer inscrição para participar de um curso

“Elaboração de Projeto” oferecido pela EPROINFO. No entanto, percebemos que o interesse

pela proposta não era homogênea, tanto que podíamos observar entre os participantes, os mais

variados tipos de comportamentos. Enquanto alguns dedicavam o tempo para leitura das

orientações e faziam inscrição, outros trocavam recados no Orkut, reuniam-se em pequenos

grupos para conversar outros assuntos. Nesse encontro observamos que alguns professores

estavam visivelmente desinteressados. Por causa disso, em vários momentos, a coordenadora

insistia com os professores para que se inscrevessem. Em uma de suas falas ela disse:

“Pensem na carga horária, no certificado”. Em resposta a tal incentivo, uma professora

resmungou em voz baixa: “Não vou fazer isso. Se pelo menos tivesse uma palestra. Fazer só

pra receber certificado!”. Em seguida, abriu o Orkut. Porém, quando percebeu que a

coordenadora se aproximava, fechou.

Ainda relatando os acontecimentos desse dia, observamos que durante a formação,

com a aprovação de alguns professores, um aparelho de som que estava na sala foi ligado em

um volume bem alto, com músicas sertanejas e românticas. E em determinados momentos,

dependendo da música, as professoras gritavam, algumas levantavam os braços como se

estivessem dançando.

Percebemos que nesse dia, os professores estavam mais interessados em ir embora,

tanto que após a assinatura da lista de presença, foram saindo aos poucos.

Em outro encontro foi discutida a questão dos Gêneros textuais. Na ocasião, a

condutora usou a metodologia de troca de experiências acerca de desenvolvimento de

atividades. Nesse dia, parece que os professores sentiram-se contemplados na temática.

Houve muitas participações, compartilhamentos de experiências. No desenrolar das

atividades, uma professora fez o seguinte comentário: “Essa formação foi a melhor! Como

seria maravilhoso se fossem assim nas outras. Estou adorando essa formação.”

Os encontros eram constituídos de aproximadamente 20 professores participantes.

Porém, a cada encontro percebíamos a dificuldade que os profissionais docentes

apresentavam em se perceberem como responsáveis por sua formação. Isso ficou mais claro

Page 42: Formação continuada em serviço: um estudo sobre o projeto sala de professor

42

ainda, quando a coordenadora pedagógica sugeriu a possibilidade de prosseguir com o tema

que estava sendo discutido, no encontro seguinte.

A proposta foi que os participantes teriam o compromisso de durante a semana

experimentar o uso das atividades socializadas com seus alunos para no encontro seguinte

compartilharem com os colegas os resultados percebidos.

Após a proposta, todos ficaram em silêncio. Diante disso, a coordenadora precisou

impor-se para que se manifestassem, e apesar disso, não expressaram interesse.

Entendemos como importante reforçar e esclarecer que essa pesquisa não tem a

intenção de comparar os espaços de formação, mediante ao fato de que cada unidade escolar

organiza e executa a sua formação de acordo com a sua necessidade e realidade. Portanto,

nossa finalidade nesse item é descrever e analisar as ações e atividades realizadas nas

unidades durante os encontros de formação, de modo que possamos compreender como

ocorre a execução do que foi previsto nos projetos de cada escola.

Assim, começaremos por dizer que durante nossa participação nas duas salas de

professor, fomos percebendo que em geral, tanto na escola A como na escola B, o número de

participantes aproximava de 20 pessoas nas reuniões. No entanto, durante as trocas de idéias

com o coletivo, momento em que o grupo tinha a oportunidade de estudar com os pares,

apenas 4 ou 5 contribuíam com as discussões e geralmente eram as mesmas pessoas que

participavam.

Também nos chamou atenção o fato de que durante as formações, as discussões

quase sempre giravam em torno do comportamento dos alunos, metodologias, técnicas e

experiências. Em momento algum, percebemos os professores buscando um autor ou teoria

que pudesse dar suporte ou promover uma reflexão acerca do assunto em questão.

Entendemos que uma formação voltada apenas para treinamento de habilidades e conteúdos

fragmentados, sem uma reflexão, evidencia uma dicotomia entre teoria/prática. E assim

sendo, dificilmente contribuirá para superação dos obstáculos encontrados no trabalho

docente.

A nosso ver, esse comportamento foge completamente do que tem sido pensado para

o desenvolvimento do profissional docente. Ramalho, Nuñez e Gauthier (2004, p. 80)

entendem que “o agir competente implica atividade teórica e prática, numa relação dialética.

[...].” Os autores acreditam que o desenvolvimento profissional docente é favorecido quando

esses têm oportunidade para refletir e pesquisar de forma crítica com seus pares sobre as

práticas educativas em um processo que possibilite articular teoria e prática.

Page 43: Formação continuada em serviço: um estudo sobre o projeto sala de professor

43

Assim, ao final das observações realizadas nas duas escolas, saímos com as seguintes

impressões: a formação no espaço escolar trata-se de uma excelente oportunidade para que a

escola venha se tornar um espaço de discussão, de formação política, de troca de experiências

com os pares e, sobretudo, de aprendizagens, etc. A nosso ver, a troca entre os pares foi um

dos destaques dessa formação. Em contrapartida, também tivemos impressões não tão

positivas como, por exemplo: a falta de envolvimento nas reflexões promovidas no decorrer

dos encontros, parece que alguns professores desconhecem o objetivo principal da formação

continuada a partir do Projeto Sala de Professor. Por causa disso, ficamos com a impressão de

que nem todos os professores participaram das discussões acerca das definições das temáticas

para o projeto de formação continuada.

Outra impressão que tivemos durante a observação foi que a formação é muito

centrada na coordenação da escola, ou seja, os professores ainda não se percebem como

responsáveis pela sua formação e encontram dificuldades para abandonar a postura de

passividade no espaço de formação. E por fim, que a maioria dos participantes da sala de

professor não é concursada, assim sendo, o interesse de alguns participantes parece estar

vinculado ao recebimento do certificado para contagem de pontos. Diante desse resultado,

sentimos a necessidade de recorrermos ao uso de entrevistas, para esclarecer e aprofundar a

respeito desses e outros aspectos da situação observada.

3.4 – Percepções dos professores sobre a formação continuada Sala de Professor na

escola

Diante da necessidade de se obter mais informações acerca do assunto pesquisado,

fez-se necessário separar das duas escolas pesquisadas, uma amostra significativa entre os

professores que frequentavam a formação continuada na Sala de Professor.

A escolha dos professores ocorreu de forma aleatória. O único critério considerado

foi o fato de frequentarem a formação.

Entretanto, durante análise do perfil da amostra, observamos que a mesma foi

composta por profissionais graduados em Pedagogia, Letras e Matemática, sendo dois desses,

especialistas. Também constatamos que 60% desses profissionais são interinos.

Em relação ao tempo de carreira, a Figura 1 apresentada abaixo, mostra que dos

profissionais entrevistados, 60% tem mais de 20 anos de carreira, 30% está entre 11 a 13 anos

e 10% menos de 5 anos.

Page 44: Formação continuada em serviço: um estudo sobre o projeto sala de professor

44

Conforme observamos na Figura 1, a diferença no tempo de carreira dos

profissionais entrevistados que participam na Sala de Professor da Escola B (P6 a P10) não é

tão diferente, tendo em vista que todos os entrevistados atuam na profissão por mais de 20

anos. Já na Escola A, verificamos que dentre os entrevistados (P1 a P5), alguns têm de 11 a

13 anos atuando como professor. Assim, a diferença mais visível nesse grupo aparece entre o

profissional com 3 anos de carreira e o que está com 22 anos exercendo a profissão.

Ao retomar as concepções de Tardif (2006), Gauthier (2006) e outros, apresentadas

no Capítulo I, verificamos que para os autores, em cada etapa da carreira (início, meio e fim)

o professor tem saberes distintos. Com isso, deve-se considerar que para os profissionais em

início de carreira, os primeiros anos são determinantes, porque é quando acontece a etapa de

aquisição do sentimento de competência e a estruturação da prática profissional. Por outro

lado, na contramão dos anseios, os profissionais docentes mais experientes estão interessados

em discussões que abrangem a carreira docente, políticas públicas e etc. Assim, ao refletirmos

sobre as informações apresentadas pela figura 1 à luz do que pensam os autores, entendemos

que uma formação com a presença de profissionais com tempo de carreira e saberes diferentes

no mesmo espaço de formação, poderá apresentar resultados favoráveis para o

desenvolvimento profissional do indivíduo e do coletivo. Entretanto, é imprescindível que

todo o coletivo se envolva nas discussões referentes ao que estudar e porque estudar na

formação, durante o processo de elaboração do projeto de formação continuada. Desse modo,

todos os participantes do grupo de formação serão contemplados em suas necessidades, ou

Figura 1 – Tempo de Carreira dos Profissionais Docentes

Page 45: Formação continuada em serviço: um estudo sobre o projeto sala de professor

45

seja, os que estão iniciando poderão aprender com os colegas mais experientes, do mesmo

modo, os mais experientes também poderão aprender com outros colegas iniciantes.

Diante disso, partindo do pressuposto de que uma estratégia que espera proporcionar

a reflexão entre os profissionais, deve consistir em promover meios pelos quais os professores

desenvolvam competências que lhes permitam conhecer, analisar, avaliar e questionar a

própria prática docente. Percebeu-se a necessidade de conhecer os motivos que levam os

profissionais docentes a frequentarem os encontros de formação continuada Sala de Professor.

Apesar da apresentação na Figura 2 apontar para uma leitura quantitativa, a

finalidade é relacionar as razões e expectativas apontadas pelos professores para participarem

da formação.

Na análise, constatamos que quase todos os sujeitos pesquisados apontaram mais de

um motivo para frequentarem a formação. Contudo, nos parece que alguns fatores assinalados

no perfil dos participantes, aparecem como influenciadores. Por isso, entendemos como

relevante analisar alguns motivos, tentando compreender as respostas, também a partir do

perfil dos professores que compõe a amostra.

Começaremos pelo fator tempo de carreira. Para isso, destacamos a fala de dois

professores. Nelas, percebemos a concepção de “compensação/aperfeiçoamento e

atualização” expressas por dois professores: “[...] Basicamente é pra adquirir conhecimento”

(“P1); “[...] porque a gente tem necessidade de reciclar o conhecimento”. (P6)

A necessidade de adquirir conhecimento é sentida pelo P1 que está em início de

carreira, na fase de estruturação de sua prática pedagógica e sobrevivência profissional. Nessa

condição, ele busca a aquisição de novas habilidades que possam dar provas de sua

Figura 2 – Motivos para frequentar a Formação Continuada Sala de Professor

Page 46: Formação continuada em serviço: um estudo sobre o projeto sala de professor

46

capacidade profissional. Nesse caso, a participação na formação tem um sentido de

compensar deficiências da formação inicial. Por outro lado, o P6 que já tem uma longa

experiência, acredita que precisa “reciclar o conhecimento” para atualizar o repertório

ultrapassado. Com isso, por meio de sua participação na formação busca atualização ou

requalificação. Tanto a concepção do P1 quanto do P6, está muito ligada à tendência clássica

de compensar e requalificar apontada por Candau (1996) e, além disso, reforçam o

pensamento de que os profissionais que estão em fase diferente na profissão, também

apresentam demandas diferentes de formação.

Ainda retomando a idéia de fator influenciador comentada acima, para analisar os

motivos que levam os professores a frequentarem a formação na Sala de Professor, apontamos

também o fator profissionais interinos, destacando assim, algumas falas: “[...] De imediato, é

a carga horária né ? Que a gente precisa pra contagem de ponto”(P8); Porque é uma

exigência do estado né? ”(P9); “Bom, além de ser uma exigência, que eu não vou falar que

isso não conta, porque conta né. É uma exigência da rede né? Participar da Sala de

Professor.” (P10)

Essas falas dos professores devem-se ao fato de que grande parte dos profissionais

que atuam nas redes de ensino é interina. Por causa disso, existe uma correria em busca de

garantias para não ficar sem sala de aula.

Encontramos nos editais de seleção nº 021/09/GS/SEDUC-MT – anexo I, item f e

nº 005/10/GS/SEDUC-MT – anexo I, item f, destinado à contratação de professores

temporários, alguns indicadores de pontuação por participação no decorrer do ano, no Projeto

“Sala de Professor”. Os cálculos só podem ser efetuados mediante apresentação de certificado

de participação expedido pelo CEFAPRO (ver anexos).

O quadro de pontuação para contagem segue assim:

Participação:

100% ↔ 5 (cinco) pontos

90% ↔ 4 (quatro) pontos

80% ↔ 3 (três) pontos

75% ↔ 2 (dois) pontos

Uma leitura mais superficial das informações, diria que tais artifícios de incentivos

oferecidos servem como motivação para que os profissionais docentes participem da

formação. Mas, infelizmente, não nos parece ser esse o caso. Pelo contrário, demonstram ter

um caráter classificatório, seletivo e eliminatório, distante de um programa que possibilite ao

professor ter a consciência de que ele precisa estudar.

Page 47: Formação continuada em serviço: um estudo sobre o projeto sala de professor

47

Hoje, às voltas com as atuais mudanças e com as novas exigências profissionais, o

professor é desafiado a construir nova postura profissional, que lhe habilite a responder as

novas demandas educacionais e de redimensionar a sua prática. Portanto, o fato do professor

apenas participar da formação e receber certificado, sem ter a consciência de que precisa

desenvolver habilidades que lhe permitam elaborar novos conhecimentos, analisar, criar,

pensar, organizar estratégias, saber transmitir saberes e interagir, não gera desenvolvimento e

nem melhora a sua prática pedagógica. Ramalho, Nuñez e Gauthier (2004), abordaram sobre

isso quando comentaram que o professor precisa ter ciência da sua responsabilidade com a

sua aprendizagem contínua.

No primeiro capítulo, percebemos que, segundo alguns autores, no cenário

educacional, há uma grande inclinação para pensar a formação dos profissionais docentes em

serviço, situando a escola como o espaço para essa formação. Isso, porém, tem sido um

grande desafio para a escola, especificamente por se tratar da formação dos professores com

vistas não apenas para o seu desenvolvimento pessoal e profissional, mas também do

desenvolvimento da escola enquanto organização.

Nas entrevistas, muitos professores disseram que o motivo que os levam a frequentar

a formação é porque entre outras razões, trata-se de uma possibilidade para repensar a

prática pedagógica e, sobretudo trocar idéias e experiências com os colegas. E assim, no

coletivo, podem procurar solução para as questões de ensino e aprendizagem e para os

problemas que surgem no contexto da unidade escolar no dia a dia. Vejamos como os

professores percebem essas questões.

a) Repensar a prática pedagógica

[...] Como profissionais da educação temos necessidade de é... procurar

meios para que possamos interagir melhor com nossos alunos, como

transmitir o conhecimento, como é... atingir o aluno, pra que ele possa ter

um desenvolvimento em sala de aula. (P2)

[...] O nosso mundo sempre está em evolução e o professor tem que tá mais

acompanhando essa realidade né? Tem que tá por dentro da realidade. Tem

que tá sempre informado, lendo, refletindo a sua prática né? Está aberto a

mudanças. E a partir daí, vem as inovações. Só a partir do momento que a

gente tem o conhecimento da nossa prática, da nossa teoria, vem a inovação

na vida das pessoas. (P5)

b) Trocas de idéias e experiências

[...] É boa para que os professores tenham uma interação maior né? Com os

professores das outras séries, outros ciclos e ajuda muito né? (P4)

[...] muitas vezes a gente discute mesmo, coisas sobre a educação né? E eu

acho bom essa reunião na sala dos professores que a gente discute idéias né?

Page 48: Formação continuada em serviço: um estudo sobre o projeto sala de professor

48

Estratégias, né? Muitas vezes, você tá com dificuldade com aluno na

aprendizagem, aí você discute com um professor da fase inicial, o que que

tem que fazer, o que tem né? Então, eu acho muito válido esse contato que a

gente tem dentro da sala do professor. (P7)

[...] É a troca de experiência né? Você tá debatendo, você tá discutindo a

realidade que você vive no contexto escolar do seu dia. Tá trocando

experiência, tá conhecendo né ? O que tá surgindo de novo no contexto

educacional, discutindo políticas públicas né? (P10)

c) Formação que atende a necessidade do dia a dia da escola local

[...] Basicamente ela carrega a ideologia da escola. O pensamento que a

escola pensa sobre a educação em si, geral, nacional. [...]. Então, a gente

aqui, pega do foco maior e puxa para o foco principal que é a nossa clientela.

(P1)

[...] Porque eu vejo que é um espaço de formação de uma maneira geral na

educação e também de familiarização eu diria, dos assuntos consequentes.

Cada unidade escolar, embora os problemas sejam talvez na grande maioria

muito comuns. Mas, cada caso tem a sua especificidade. Cada escola tem a

sua maneira de lidar com os problemas né? Tem reações diferentes. Então,

eu penso que em cada escola que você passa, esse momento é necessário pra

gente entender, o que que acontece no contexto da unidade onde a gente

trabalha. (P3)

Constatamos que as falas apontam para uma concepção de formação continuada

como um momento para a reflexão e discussão da prática pedagógica. Com isso, para os

professores, a escola passa a ser vista como um lugar de aprendizagem tanto para alunos

quanto para eles. Ou seja, os encontros e a interação entre os pares no espaço onde trabalham

pode ser uma oportunidade para que eles possam compartilhar, trocar experiências, situar-se

no mundo, receber apoio, etc. Acerca disso, Marcelo Garcia (1999) enfatiza que o

desenvolvimento profissional está intimamente relacionado ao desenvolvimento coletivo e

organizacional. Segundo o autor, “[...] aprender a ensinar não deveria ser entendido como um

fenômeno isolado, mas basicamente como uma experiência que ocorre com um contexto ou

ambiente com o qual o indivíduo interage.” (p 75).

A formação no espaço escolar envolve algumas posturas a serem seguidas, como por

exemplo: primeiro a escola deve fazer uma autoavaliação, que constitui o diagnóstico da

escola. A partir disso, vai pensar o PPP e o PDE, e somente depois, poderá começar a pensar

no projeto de formação. Isso porque a formação continuada na escola está atrelada ao PPP e

ao currículo. Assim sendo, trata-se de um projeto que deve fundamentar todo o pensamento

do coletivo. Entretanto, não temos certeza se esse método vem sendo seguido com tal rigor,

dado ao fato que não podemos desconsiderar a existência de alguns entraves como: o excesso

Page 49: Formação continuada em serviço: um estudo sobre o projeto sala de professor

49

de incumbências para os profissionais docentes, a dupla jornada de trabalho e a troca

anualmente, de efetivo da escola por causa dos interinos. Assim sendo, perguntamos aos

professores, como são definidos os temas que são desenvolvidos na formação Sala de

Professor.

De acordo com os professores, a organização e definição dos temas que são

desenvolvidos na formação continuada sala de professor acontece no início do ano. Alguns

comentaram que às vezes a SEDUC, através do CEFAPRO envia uma normativa apontando

alguns temas como, por exemplo, áreas de conhecimento. Quando isso acontece, a escola

tenta modificar de modo que possa atender a realidade escolar.

Os professores foram unânimes em dizer que os temas são definidos na reunião

pedagógica. Entretanto, 70% dos entrevistados mencionaram que a coordenação pedagógica

traz algumas sugestões. Então, considerando as problemáticas cotidianas e o que é mais

emergente na comunidade escolar, os professores escolhem os assuntos que querem discutir.

Os outros 30% dos profissionais entrevistados afirmaram apenas que os temas são definidos

na semana pedagógica, mas não fizeram nenhuma menção sobre quem traz/faz as sugestões.

Percebemos em algumas falas, que a participação dos professores aparece

relacionada à sugestão de leituras de textos, livros, vídeos e organizando-se em grupos para

desenvolver os temas durante os encontros. Vejamos a seguir:

a) Sugestões

Algum professor, às vezes sugere. Sugestão né? Do tipo: que tal a gente ler

tal livro assim que fala disso? Aí se todo mundo estiver de acordo, aí a gente

já abre um espaço pra gente fazer a leitura desse livro, da discussão.

Normalmente é assim. (P6)

O professor participa trazendo um texto, um vídeo, um documentário e a

partir daí surgem as discussões com o grupo de professores. (P9)

b) Grupos responsáveis pelo desenvolvimento dos temas

[...] Os professores fizeram as escolhas dos temas. Depois fez-se a divisão,

de acordo com o tema tal, quem gostaria de se responsabilizar pela

apresentação desse tema. E os professores foram se encaixando nos grupos

que eram assim: alguns grupos depois... O ano passado e esse ano se

responsabilizaram em buscar outros profissionais para desenvolver o tema. E

alguns grupos optaram, eles mesmos em desenvolver a temática. (P3)

[...] Aí nós vamos, fazemos o tema e esses temas são divididos por grupos de

4 ou 5 professores. Cada uma corre atrás do seu tema para ... aí todo mundo

participa dessa explanação né? Não é só as pessoas, coordenadores que

preparam.

Os professores apresentam e cada um vai trabalhar um tema. Cada grupo

trabalha um tema. E aí a gente traz... se você quiser por exemplo: no seu

Page 50: Formação continuada em serviço: um estudo sobre o projeto sala de professor

50

tema você quer trazer um profissional da área, você pode trazer o

profissional. (P5)

Nesse ponto, entendemos como relevante retomarmos o que propõe o Projeto Sala de

Professor no tocante à implementação da formação continuada no espaço escolar. A fala dos

professores sobre se organizarem em grupos de estudos, para desenvolverem as atividades na

formação, demonstra uma compreensão por parte do grupo a respeito do que está proposto

pelo projeto e também um envolvimento coletivo em relação ao desenvolvimento e

aprendizagem. Por outro lado, percebemos alguns pontos negativos nas falas dos profissionais

em relação à definição dos temas, como por exemplo: a autoavaliação da escola, o PPP e o

PDE que em momento algum foi citado durante a entrevista. Ou seja, nenhum dos

profissionais entrevistados comentou ou lembrou que estes seriam temas que deveriam fazer

parte das discussões. Esse comportamento foge do que determina o Parecer Orientativo nº

01/2010 que reza sobre o desenvolvimento do Projeto Sala de Professor nas escolas da rede

estadual de Mato Grosso. A nosso ver isso requer uma reflexão, porque ações como essas,

descaracterizam a autonomia da escola, geram incertezas sobre a sua capacidade de gerenciar

a formação dos profissionais que atuam na unidade.

Para Nóvoa (2009, p.41), o conceito da escola como o lugar da formação dos

professores e como o espaço de autoavaliação compartilhada das práticas, posto como método

rotineiro de acompanhamento, de gerenciamento e de reflexão sobre o trabalho docente, tem

como objetivo transformar a experiência coletiva em conhecimento profissional, aliando a

formação de professores ao desenvolvimento de projetos educativos nas escolas. Isso significa

que o projeto de formação junto ao PPP, possibilita a articulação das complexidades e

necessidades existentes na escola, com os conhecimentos dos profissionais em relação a sua

carreira, as suas experiências profissionais e a sua vida.

Diante disso, se no processo de elaboração do projeto de formação continuada o

coletivo da escola desconsiderar as etapas e reunir-se apenas para discutir temáticas, sem um

diagnóstico das necessidades da escola e sem buscar o PPP da escola, corre-se o risco de não

obter um resultado positivo, isto porque a autonomia da escola é confirmada pelo PPP, e, se

ele não estiver atualizado, essa autonomia é questionável.

No tocante aos efeitos gerados pelos encontros pedagógicos nos espaços formativos

nas unidades escolares, Nóvoa (op.cit. p.42), entende como promissores e válidos para que se

pense em alternativas que possam avançar no sentido de qualificar o trabalho, melhorar a

prática de reflexão da própria história e expectativa profissional, sobretudo, reforçar um

sentimento de pertença e de identidade profissional que é essencial para que os professores se

Page 51: Formação continuada em serviço: um estudo sobre o projeto sala de professor

51

apropriem dos processos de mudança e os transformem em práticas concretas de intervenção.

Partindo desse pressuposto, perguntamos aos professores, quais efeitos causados em

decorrências da participação na Sala de Professor. Os sujeitos pesquisados revelam que o

projeto tem propiciado mudanças em suas práticas pedagógicas.

Para melhor compreensão das respostas obtidas, apresentamos a seguir um quadro

demonstrativo das falas dos professores entrevistados:

Quadro 1 – Efeitos gerados pela participação na Sala de Professor

PROFESSORES GERADORES EFEITOS

P1 Troca de conhecimentos - Repensar a forma de ensinar

P2 Troca de experiências

- Mudança na metodologia de ensino

- Busca de outros recursos para o auxílio na

aprendizagem

P3 Troca de experiências

- Partilhar com os colegas as angústias e anseios

- Repensar a prática, as questões de aprendizagem

e as dificuldades da profissão.

P4 Troca de experiências - Mudança na metodologia de ensino

P5 A prática - Amadurecimento

P6 Estudo em grupo - Soluções no e para o coletivo

P7 Experiência profissional

Profissional alega ter vários anos de experiência.

Por isso, não vê efeitos na sua prática por causa de

sua participação no espaço de formação

P8 Troca de experiências - Repensar a forma de ensinar

P9 Estudo em grupo - Não percebe resultado no indivíduo

- Mudanças na prática do coletivo da escola

P10 Estudo em grupo - Melhora na prática pedagógica

- Mudança de perspectivas

Conforme se observa no Quadro 1, para os professores, os efeitos por eles percebidos

emergiram de alguns geradores que foram fundamentais durante os encontros, destacando-se

a troca de conhecimentos/experiências. Vale relembrar que a troca foi um dos principais

motivos apontados pelos entrevistados para frequentarem a Sala de Professor. Acerca desses

resultados, encontramos respaldo nos documentos da SEDUC, ao orientar que a finalidade do

Projeto Sala de Professor consiste em que os professores desenvolvam o hábito de estudarem

juntos, compartilhando entre si, as suas experiências e conhecimentos.

Outro fato também observado no quadro é que por causa da troca, a mudança na

metodologia de ensino e o repensar a forma de ensino, foram os efeitos mais mencionados

pelos profissionais.

Baseado nas falas dos entrevistados, tal situação, deve-se às dificuldades comuns

entre o grupo. Como por exemplo: o caso de alunos com necessidades diferenciadas na

Page 52: Formação continuada em serviço: um estudo sobre o projeto sala de professor

52

aprendizagem e a necessidade de avançar em alguns pontos da prática. Assim, para

compreendermos melhor os resultados apresentados no Quadro 1, recorreremos também a

alguns falas dos entrevistados.

Segundo alguns profissionais, as trocas de experiências favorecem muito porque o

professor tem a oportunidade de reavaliar como ele, de forma individual, enfrenta as situações

do contexto escolar a partir do diálogo com os pares. Essas constatações têm respaldo nas

falas abaixo:

[...] Quando tem muita troca de experiência é... que você vê muita vantagem.

Por que às vezes você tá fazendo uma coisa que tá dando certo, e tem uma

colega que tá fazendo melhor ainda. E aí você pode passar também a suas

idéias para os outros né? Então, quando tem troca de experiências, não só a

teoria é muito bom. (P8)

[...] Nossa! De repente, um assunto surge lá, que antes você tratava de uma

maneira, e, aí a partir daquele conhecimento que você adquiriu na sala de

professor, já surge uma outra visão. A gente vai trabalhar de uma maneira

diferente. Eu acho que cada encontro dessa Sala de Professor, a gente

transforma, a gente muda. E isso reflete no trabalho da gente. (P4)

As falas dos profissionais nos remetem ao entendimento de que a aprendizagem da

profissão ocorre também na escola e no diálogo com os outros professores. Então, ao

compararmos as falas dos entrevistados, com o que vimos durante as observações nos

encontros de formação, percebemos certa coerência entre o que foi afirmado pelos professores

e o que vimos em determinadas ações desenvolvidas na formação. Assim, atribuímos o

resultado apresentado no Quadro 1 e a ênfase nas falas dos entrevistados em relação às trocas

de experiências a alguns fatos que observamos durante os encontros, como por exemplo: as

trocas de conhecimento entre os colegas no que se refere ao ensino e aprendizagem, a

algumas propostas de alternativas para solução de problemas de aprendizagem e ao fato de

que em cada encontro um professor coordenava a formação.

Com isso, entendemos como relevante retomar o que vimos no primeiro capítulo,

lembrando que Gatti (2009), Nóvoa (2009) e Marcelo Garcia (1999) abordaram o assunto.

Gatti chamou os encontros de formação na escola de “oficinas de reflexão sobre a prática”

(p.203); Nóvoa de “comunidades de prática” (p.20) e Marcelo Garcia de “comunidades de

aprendizagem” (p.76). No entanto, apesar das nomenclaturas serem diferentes, a temática é a

mesma, ou seja, trata-se de um espaço onde educadores discutem sobre o ensino e

aprendizagem e elaboram perspectivas comuns sobre os desafios da formação pessoal e

profissional. Isto significa que o diálogo, a troca, a cooperação, a reflexão entre os pares tende

Page 53: Formação continuada em serviço: um estudo sobre o projeto sala de professor

53

a amenizar as dificuldades pedagógicas e culturais dos profissionais refletindo também na

melhora da prática.

Por outro lado, entendemos que tanto a auto-reflexão como a reflexão coletiva deve

ser realizada criticamente, ou seja, fazer uma reflexão individual ou mesmo coletiva é muito

mais do que apenas descrever o que acontece em sua sala de aula. É se interrogar e buscar

explicações para as questões levantadas. Porém, algumas falas dos entrevistados,

apresentaram uma característica de suprir o que falta ou corrigir o que não está bom.

Constatamos nas informações apresentadas no Quadro 1, que a preocupação de

alguns profissionais, está centrada em buscar o que ensinar e como ensinar. Apesar de a

preocupação apontar para uma busca de melhoria do desempenho docente. A nosso ver, como

o sujeito da aprendizagem é o aluno, entendemos como relevante que paralelo às buscas do

que ensinar, no coletivo, aconteça discussões que contemplem as especificidades cognitivas,

sociais, econômicas, afetivas e culturais de cada aluno.

Antes de continuarmos analisando o Quadro 1, queremos abrir uma parêntese para

uma breve reflexão. Conforme vimos até aqui, no tocante aos efeitos destacados pelos

professores, as respostas apontam para que se afirme que as trocas de experiências com os

pares podem produzir resultados. No entanto, a nosso ver, durante as trocas, é importante que

o profissional reflita e se avalie a partir de alguns questionamentos, como por exemplo: Por

que mudar? Para que mudar? Quais mudanças são necessárias? Quais são as partes envolvidas

no processo? Que resultado esperar? Perguntas que a nosso ver, precisam fazer parte da rotina

dos profissionais, porque a mudança da metodologia baseada no que o outro (professor) faz

diferente, não demonstra comprometimento do profissional com a pesquisa e com a inovação.

Outro fato que a nosso entender merece atenção está relacionado à questão dos

profissionais partilharem das mesmas angústias e anseios:

[...] Eu penso que o maior resultado... o maior efeito dessa formação

continuada é perceber que as angústias, os anseios, eles são comuns. Todos

os profissionais passam pelas mesmas angústias, sobretudo nas questões da...

como que eu diria? É... do lidar com o aluno. (P3)

Ao analisarmos a fala acima, constatamos que no processo de troca, existe o risco de

surgir nos participantes da formação, o sentimento de comodismo. Dessa forma, o

profissional pode não fazer uma autoavaliação da sua prática, valendo-se de argumentos de

que não é o único com dificuldades. E se os problemas são comuns entre os colegas de

profissão, não há o que ser feito. Para Nóvoa (2009, p. 30), “o registro das práticas, a

reflexão sobre o trabalho e o exercício da avaliação são elementos centrais para o

aperfeiçoamento e a inovação. E são estas rotinas que fazem avançar a profissão.”

Page 54: Formação continuada em serviço: um estudo sobre o projeto sala de professor

54

Ainda buscando falar dos efeitos percebidos pelos profissionais entrevistados que

foram apontados no Quadro 1, observamos que alguns destacam que os resultados aparecem

no coletivo. Para esses profissionais, o gerador disso é o estudo em grupo. Eles acreditam que

através do estudo, o grupo se torna mais coeso e assim conseguem desenvolver coerência

entre os critérios e na procura de solução para os problemas. Segundo os entrevistados, dessa

forma, o trabalho fica unificado, porque todos caminham na mesma direção. Nossa impressão

após tomarmos conhecimento do que cerca uma formação com foco no desenvolvimento do

coletivo e fortalecimento da escola, também é de que, os estudos em grupo podem contribuir

de forma significativa para que aconteçam mudanças tanto na postura quanto na prática do

coletivo que atua na unidade escolar.

Porém, ao retomar as informações obtidas por meio da observação, verificamos que

algumas das afirmativas dos entrevistados como, por exemplo: a divisão de pequenos grupos

e grupo coeso, foram fatos que não percebemos enquanto participávamos da formação. Isso

porque durante as 40 horas do segundo semestre, período em que participamos na formação,

não percebemos nenhum trabalho ou atividade desenvolvida com/por pequenos grupos. As

atividades desenvolvidas tanto na Escola A quanto na Escola B, no período em que

participamos sempre foram com o grupo todo.

E relação à coesão, a nosso ver, ela está relacionada com a assiduidade, pontualidade,

participação e envolvimento nas atividades/dinâmicas/discussões, etc. Assim, diante de alguns

fatos observados, entendemos que ela não era tão forte quanto afirmada pelos entrevistados,

dado ao fato de que o comprometimento e envolvimento com as atividade e discussões não

eram tão homogêneas entre o grupo, como afirmam alguns entrevistados.

Entretanto, apesar de considerar que para o coletivo os resultados são favoráveis, um

dos profissionais acredita que os resultados poderiam ser ainda melhores. Vejamos na fala

abaixo, como ele entende que isso seria possível:

[...] Quando nós estudamos em grupo, no coletivo da escola, aí você vê a

diferença no coletivo da escola. Não adianta só eu estudar e resolver só o

problema da minha sala. E os outros problemas que envolvem o espaço fora

da sala de aula? (P9)

[...] Eu acho que essa estrutura traz alguma diferença na prática do professor,

mas ainda é muito pouco. Eu [...] penso que se tudo que foi trabalhado na

sala de professor surgisse das necessidades reais da escola né? Se tivesse um

apontamento, uma pesquisa das necessidades reais da escola, de cada sala,

de cada professor, principalmente, com relação à aprendizagem, aí eu acho

que os resultados, seriam melhores. (P9)

É relevante observar que na concepção desse profissional seria importante que antes

da elaboração do projeto de formação continuada, em específico, a Sala de Professor, fosse

Page 55: Formação continuada em serviço: um estudo sobre o projeto sala de professor

55

realizado um mapeamento da escola no intuito de compreender de fato, qual a real situação da

unidade e de sua clientela, para que as medidas interventivas que forem tomadas

correspondam a demanda da escola.

A nosso ver, tal concepção é de suma importância, porque não adianta falar em PPP,

em autonomia pedagógica, se as decisões realmente importantes são tomadas a partir das

Secretarias de Educação cabendo às escolas cumprir algo que não contempla suas reais

necessidades e que não surgiu das discussões dos elementos que a compõem. Portanto, a fala

do professor é pertinente, pois demonstra haver por parte dele, uma compreensão do que cerca

a formação no espaço escolar. Acerca disso, relembramos os estudos de Gatti (2009) que

compreende a prática reflexiva do coletivo, como um compromisso com o fortalecimento da

escola enquanto instituição com responsabilidade social, cultural e política.

Por outro lado, vale enfatizar que foi uma das poucas vezes que percebemos tal

entendimento nas falas dos professores em todo o processo de realização das entrevistas.

Ainda analisando o Quadro 1, com relação aos efeitos percebidos a partir da

participação dos profissionais na Sala de Professor, observa-se pela fala abaixo, que um

professor quando questionado, não consegue perceber resultados.

[...] Não... eu acho que... eu tenho muita experiência em sala de aula né? Eu

coleto idéias, mas a experiência que eu tenho, eu acho que é fundamental na

minha carreira profissional. Eu tenho trinta anos de experiência. (P7)

A fala acima indica que o profissional entrevistado atribui os resultados obtidos em

sua prática, unicamente aos longos anos de experiência em sala de aula, pois na concepção

dele, a participação nos encontros de formação não intervém em nada.

Apesar de parecer estranho, tal situação não é incomum, principalmente se

retomarmos a discussão que envolve o fato de que, se o tempo de carreira dos profissionais

docente for diferente, a necessidade de formação também será. E, quando isso deixa de ser

considerado, nem todos são contemplados.

De acordo com Nóvoa (2009) é a reflexão coletiva que dá sentido ao

desenvolvimento profissional dos professores. Portanto, para que se consiga um

aprofundamento na transformação da organização da profissão docente é essencial que se

construa programas de formação coerentes com a demanda.

A última questão da entrevista abre caminho para que os profissionais apontem

algumas sugestões e possam também acrescentar outros fatos em relação ao Projeto Sala de

Professor que julguem ser pertinente à pesquisa. Diante disso, alguns profissionais

mencionaram que existe por parte do CEFAPRO, uma grande burocracia. De acordo com

Page 56: Formação continuada em serviço: um estudo sobre o projeto sala de professor

56

esses profissionais, a burocracia vai desde o processo de elaboração do projeto de formação

continuada, no qual se exige uma justificativa minuciosa dos motivos pelos quais realizam a

formação e das leituras que serão feitas, passando pela obrigatoriedade das listas de presença

durante os encontros até a entrega dos certificados. Para os profissionais, trata-se de uma

pressão desnecessária. Na mesma linha, outros professores acreditam que é muito tempo de

formação. Com isso, os professores se cansam e desinteressam. Para esses profissionais, se

não tivesse a questão do certificado e da contagem de pontos, as pessoas não participariam.

Quantos a essas afirmativas dos entrevistados, entendemos que faz-se necessário um estudo

mais direcionado em outro momento.

Como sugestão, um dos profissionais comentou que sente necessidade de que sejam

oferecidas na formação, algumas oficinas que ajudem na fixação e no envolvimento do grupo,

e também atividades que possam ser usadas em sala de aula. Para esse profissional o excesso

de leitura “bitola” (P6), ou seja, condiciona os profissionais.

Ainda como sugestão, outro professor comentou que anseia por uma formação

política na Sala de Professor. De acordo com ele, a formação política é um meio fundamental

para despertar no profissional da educação o poder que ele tem nas mãos para contribuir de

maneira qualificada para a formação de profissionais que vão atuar na sociedade.

Page 57: Formação continuada em serviço: um estudo sobre o projeto sala de professor

57

IV – CONSIDERAÇÕES FINAIS

Complexa é a trama que nos oferecem os resultados trazidos neste estudo,

considerando que a mesma normativa que assegura plano de carreira e desenvolvimento

profissional aos docentes, também por causa da burocratização prejudica a efetivação de um

projeto de formação continuada que atenda às reais necessidades do ensino público de

qualidade.

Assim, começaremos por lembrar que as diversas ações que cercam a formação

continuada dos profissionais docentes mostram que ela está associada a várias terminologias

que emergem das demandas do contexto histórico e sócio-econômico do mundo globalizado

que em geral apresenta-se com a concepção de formação continuada para compensar e

aperfeiçoar o conhecimento.

Entretanto, pesquisas evidenciam que a concepção de formação continuada como

mecanismo de compensação, aperfeiçoamento ou capacitação tem enfraquecido a identidade

profissional do professor. Essas pesquisas dão conta que o profissional docente durante o

percurso da carreira, elabora um conjunto de conhecimentos, os quais sofrem influências

(intervenções) do contexto social, político e pessoal, o que significa que os saberes

construídos e que compreendem uma diversidade de conhecimentos e competências estão

diretamente relacionados com a natureza interativa do professor.

Sobre esse assunto, encontramos vários estudos e discussões que encaminham para

se pensar em espaços de formação que possibilitem o desenvolvimento pessoal e profissional

do docente. Nessa direção, a formação profissional dentro do espaço escolar tem sido

apontada como um dos caminhos possíveis para implementar ambientes de reflexão coletiva,

vislumbrando o desenvolvimento do profissional e o fortalecimento da unidade escolar.

A partir desta perspectiva de formação, o objetivo do presente estudo foi

compreender a organização e a operacionalização do Projeto de formação continuada Sala de

Professor refletindo sobre como esse processo está melhorando a prática do professor. Assim,

no intuito de responder as questões iniciais analisamos o projeto Sala de Professor proposto

pela SEDUC, os projetos de formação continuada elaborados pelas unidades escolares

pesquisadas e o desenvolvimento dos mesmos no contexto escolar de cada unidade.

A análise documental teve como eixos: os fundamentos teóricos metodológicos que

orientam o Projeto Sala de Professor, o papel do CEFAPRO, da escola, do professor e as

concepções dos profissionais das unidades escolares durante o processo de elaboração do

projeto.

Page 58: Formação continuada em serviço: um estudo sobre o projeto sala de professor

58

Assim, constatamos que a implantação do projeto Sala de Professor nas escolas do

estado de Mato Grosso por meio da SEDUC emergiu da necessidade de um projeto de

formação que viesse substituir os programas até então oferecidos pelo MEC.

Verificamos que dentre os princípios que cercam o projeto de formação implantado

pela SEDUC nas escolas do estado, está o fato de que seja oferecida uma formação

continuada na intenção de que a escola se fortaleça como ambiente de aprendizagem, de modo

que no espaço concreto de sua prática, o profissional docente tenha condição de gerir a sua

formação, tanto individual como coletiva. Também há a determinação de que o projeto de

formação continuada seja articulado com o Projeto Político Pedagógico e o Plano de

Desenvolvimento da Educação, o que não tem se configurado como um processo tranquilo,

pois demanda encontros para discussões e definição de temas que atendam as reais

necessidades dos profissionais e da escola. Entretanto, identificamos uma contradição nos

documentos que normatizam o Projeto Sala de Professor, pois ao mesmo tempo em que

condicionam a elaboração do projeto de formação continuada ao envolvimento do coletivo em

torno da avaliação do PPP da escola e definição dos temas para a formação, também

determinam que a coordenação do projeto na escola é de responsabilidade do coordenador

pedagógico.

Ainda em relação à elaboração dos projetos, percebemos que seguindo o que

estabelece o Parecer Orientativo da SEDUC, cada uma das escolas pesquisadas buscou

organizar a sua formação de acordo com a sua realidade e demanda. Também verificamos que

dentre as várias ações previstas está o foco no ensino, na aprendizagem e no desenvolvimento

do profissional docente.

Em relação ao período de observação, percebemos que em alguns aspectos, ela

revelou distanciamento e contradição entre a proposta e execução do projeto. Isso ficou mais

visível principalmente quando tentamos entrelaçar o que vimos durante observação com a

proposta do projeto Sala do Professor e, sobretudo, com o que falaram os professores que

participam dessa formação.

Dentre os vários aspectos observados nos encontros de formação nas escolas, estão

as diferentes oportunidades para que os professores possam trocar experiências, aprendizagem

e principalmente se posicionarem em relação ao seu desenvolvimento tanto individual como

coletivo. Na contramão, está a falta de envolvimento e interesse de alguns profissionais nas

reflexões e discussões promovidas, e o visível interesse de alguns apenas no recebimento do

certificado. A nosso ver, também a centralização da formação na coordenação pedagógica

parece que impede que alguns profissionais se posicionem em relação às responsabilidades no

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espaço de formação. Assim, se os profissionais não se posicionam e não se envolvem nas

discussões, o desenvolvimento da formação ficará distante da ideia de formação em lócus

proposta pela SEDUC e, sobretudo, dos fundamentos que respaldam a formação no espaço

escolar apontado por vários teóricos referendados no Capítulo I desta pesquisa. Os teóricos

assinalam para uma formação continuada que possibilite ao professor participar de estudos

coletivos que promovam reflexão sobre sua prática e seu desenvolvimento profissional, de

modo que o aprofundamento dos conhecimentos contribuam para a elaboração de

intervenções problematizadoras adequadas ao atendimento e às diversidades existentes no

ambiente de trabalho.

A aplicação da entrevista com os professores participantes no espaço de formação

das duas escolas teve como finalidade esclarecer e aprofundar aspectos da situação observada,

levantar informações a respeito de como são definidos os conteúdos teóricos da formação

continuada e analisar os efeitos promovidos na prática do professor, a partir da sua

participação na Sala de Professor.

Assim, as informações obtidas pela entrevista com os professores, dão conta que a

participação na Sala de Professor, em certa medida, provoca mudanças na metodologia de

ensino dos professores. Entretanto, é imprescindível que sejamos cautelosos em relação a

essas informações. Isso porque, se tivéssemos feito uma pesquisa baseada em um único

instrumento, poderíamos deduzir ou afirmar que ocorreram mudanças a partir da Sala de

Professor. No entanto, na nossa observação e análise optamos em deixar algumas questões em

abertas.

Por outro lado, entendemos que a mudança na metodologia de ensino afirmada pelos

professores como um dos efeitos gerados pela participação na formação continuada pode ser

uma prática positiva para melhoria do ensino e aprendizagem. Em contrapartida, essa ação

também pode trazer embutido nela um círculo vicioso mencionado por Ramalho, Nuñez e

Gauthier (2004, p. 20), no qual, adotam-se novos discursos que mascaram as inovações e

mantém a continuidade das velhas práticas. Portanto, inferimos que nesse caso, o fato do

profissional ter ciência das razões que lhe impulsionam a mudar sua metodologia de ensino é

mais positivo para a melhoria da qualidade de ensino do que a própria mudança. Nesse ponto,

o estudo coletivo com trocas de experiências no espaço de formação continuada na unidade

escolar, pode contribuir para que o profissional docente adquira práticas de reflexão e auto-

reflexão.

De posse dos dados coletados, as análises nos levaram a compreender a organização

e o processo do Projeto de formação continuada Sala de Professor. Assim, os dados revelaram

Page 60: Formação continuada em serviço: um estudo sobre o projeto sala de professor

60

que mesmo com todos os entraves e limites, a formação continuada quando acontece nos

espaços da escola, com a participação dos docentes na elaboração do projeto traz resultados

satisfatórios e seus efeitos ocorrem diretamente sobre a prática. Essa constatação nos faz

avaliar que a Proposta da SEDUC/CEFAPRO tem grande possibilidade de contribuir

significativamente com a qualidade do ensino.

Porém, a nosso ver, os resultados obtidos em relação aos efeitos não são conclusivos

e precisam de um aprofundamento. Assim, ao caminharmos para finalização de nossa

reflexão, percebemos que as informações trazidas pelos dados, fazem com que venhamos

reforçar questões que estão vivas. Por exemplo: Por que a SEDUC/CEFAPRO centraliza na

coordenação pedagógica da escola a responsabilidade do projeto de formação continuada no

espaço escolar? As discussões acerca da formação continuada são de fato uma das temáticas

de discussão nas reuniões da semana pedagógica que acontecem no início do ano? O PPP e as

demandas tanto dos profissionais quanto da escola foram de fato considerados na ocasião da

elaboração do projeto de formação continuada? Existe algum tipo de implicação gerado pela

prática de se adotar o certificado como artifício de incentivo para os participantes da formação

continuada?

Ao finalizar essa pesquisa, entendemos como necessário que a SEDUC/CEFAPRO

reavalie a necessidade da burocracia extrema em torno do processo de elaboração e execução

da formação continuada na escola. Também é necessário uma atenção maior em relação a

buscar ouvir a avaliação que os profissionais que participam no espaço de formação fazem

quando se referem a Sala de Professor e, sobretudo, as suas sugestões, quando falam do que

querem ver/ter na formação. Enfim, entendemos como necessário a construção de estratégias

que levem a formação continuada nas unidades escolares a avançar para um espaço de

formação que possibilite desenvolvimento tanto ao professor como para a escola, tendo em

vista o aspecto de aprendizagem individual e coletivo, ao considerar-se as condições de

trabalho do professor.

Entretanto, quando falamos da necessidade de novas estratégias, entendemos que

além das mudanças em alguns aspectos da proposta, também é indispensável uma mudança na

prática da escola em relação à Sala de Professor. Isso porque se o projeto de formação é

elaborado com a participação dos profissionais da instituição escolar, naturalmente a

formação deverá ter a identidade da escola e de seus profissionais. Dessa forma, afirmamos

que o professor precisa ver-se no projeto de formação, e assim sentir que aquele espaço lhe

pertence. E a partir disso, assumir o seu protagonismo refletindo sobre sua participação e

discussões profissionais e institucionais. Ou seja, os professores abandonam a postura passiva

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no ambiente de formação e passam a aproveitar o espaço para desenvolver um trabalho de

reflexão e crescimento pessoal e profissional. Assim coletivamente, terão possibilidade de

construir instrumentos de intervenção que poderão amenizar os problemas existentes no

contexto escolar e enfrentar os conflitos que emergem na profissão.

Page 62: Formação continuada em serviço: um estudo sobre o projeto sala de professor

62

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APÊNDICE

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APÊNDICE I

TERMO DE ESCLARECIMENTO E CONSENTIMENTO LIVRE PARA PARTICIPAÇÃO

EM PESQUISA

Projeto: FORMAÇÃO CONTINUADA EM SERVIÇO: UM ESTUDO SOBRE O

PROJETO SALA DE PROFESSOR

Pesquisador(a) Responsável: Cristiana de Campos Silva - Acadêmica do Departamento de

Pedagogia UNEMAT – Cáceres/MT.

Orientador(a): Profª. Ms. Rinalda Bezerra Carlos

Justificativa da Pesquisa: A formação continuada de professores tem sido apresentada como

uma ação desencadeadora de um processo de transformação na qualidade da educação. Diante

disso, interessa-me saber como são definidas as questões teóricas dos modelos de formação

continuada de professores no que se refere às características, as formas de desenvolvimento

no cotidiano escolar e na vida dos profissionais da educação, sobretudo as implicações e

contribuições que tais práticas produzem para o atual contexto educacional.

Objetivo da Pesquisa: Compreender a organização e a operacionalização do Projeto de

formação continuada Sala de Professor refletindo sobre como esse processo está melhorando

a prática do professor

Descrição dos procedimentos: Para a compreensão do objeto em estudo, busquei os

ensinamentos dos teóricos de Tardif (2006), Gauthier (2006), Pimenta (2008), Gatti (2009),

Marcelo Garcia (2009), Nóvoa (2009), entre outros. Optei pela observação participante,

análise de documentos que abordem a formação continuada Sala de Professor e entrevista

semi-estruturada. Os sujeitos entrevistados serão professores que participam do projeto

formação continuada Sala de Professor 2010, no intuito de esclarecer e aprofundar aspectos

da situação observada.

Esclarecimentos: a) Em qualquer momento do andamento do projeto, os participantes terão

direito a esclarecimentos que considerarem necessários em relação à pesquisa em curso; b) A

identificação do(a) entrevistado não será exposta nas conclusões ou publicação do trabalho; c)

Quaisquer recursos ou reclamações poderão ser encaminhados ao pesquisador responsável.

Estando assim de acordo com os termos, assinaram o presente Termo de Consentimento as

partes envolvidas.

Cáceres, MT,_______ de _____________ de 2010.

__________________________ __________________________

Entrevistado Pesquisador Responsável

RG:______________ RG:_________________

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APÊNDICE II

QUESTÕES PARA ENTREVISTA SEMI-ESTRUTURADA COM OS PROFESSORES

PARTICIPANTES DA SALA DE PROFESSOR

1. Quanto tempo você tem de carreira?

2. Quais os motivos que o(a) levam a freqüentar o curso de formação continuada na sala

de professor?

3. Como são definidos os temas a serem desenvolvidos na Sala de Professor?

4. Quais efeitos gerados em decorrência de sua participação na sala professor. Você

consegue perceber alguma mudança na sua prática pedagógica?

5. Haveria algo que você gostaria de acrescentar a esta entrevista?

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ANEXOS

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ANEXO I

Edital da SEDUC/ 2009 nº 021/09/GS/SEDUC-MT

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ANEXO II

Edital de seleção da SEDUC/2010 - nº 005/10/GS/SEDUC-MT

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