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1 FORMAÇÃO CONTINUADA DOS PROFESSORES DE QUÍMICA: DILEMAS E DESAFIOS Márcia Regina da Silva 1 Bacharel e Licenciada em Química pela Universidade Federal do Paraná, Liane Maria Vargas Barboza 2 Prof.ª Dr.ª em Tecnologia de Alimentos RESUMO O objetivo desta pesquisa-ação foi buscar informações que promovam uma articulação sólida e contínua entre a Universidade, a Secretaria Estadual de Educação (SEED) e a Escola, no sentido de repensar a Formação Continuada dos Professores de Química do Ensino Médio da Rede Pública do Estado do Paraná, de modo a atender as necessidades e expectativas dos professores, visando uma melhoria na prática pedagógica. Foi realizado um levantamento de dados para identificar os problemas, as dificuldades e as necessidades dos professores em relação aos programas de Formação Continuada propostos pela SEED. A pesquisa revelou que os professores participam dos eventos, principalmente das semanas pedagógicas e dos grupos de estudos. Com relação aos temas e atividades abordados nos eventos, os professores fizeram sugestões, comentários e críticas. Espera-se que as informações coletadas nesta pesquisa possam contribuir com os futuros programas de Formação Continuada dos professores de Química. Palavras-chave: Formação continuada. Atualização dos professores. Ensino de Química. Prática pedagógica. 1 Professora do Colégio Estadual do Paraná. Av. João Gualberto 250. Curitiba-PR. E-mail: [email protected] . 2 Professora da Universidade Federal do Paraná. DTPEN. Rua General Carneiro 460. Curitiba-PR. E-mail:[email protected] .

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FORMAÇÃO CONTINUADA DOS PROFESSORES DE QUÍMICA: DILEMAS E DESAFIOS

Márcia Regina da Silva1

Bacharel e Licenciada em Química pela Universidade Federal do Paraná,

Liane Maria Vargas Barboza2

Prof.ª Dr.ª em Tecnologia de Alimentos RESUMO

O objetivo desta pesquisa-ação foi buscar informações que promovam uma articulação sólida e contínua entre a Universidade, a Secretaria Estadual de Educação (SEED) e a Escola, no sentido de repensar a Formação Continuada dos Professores de Química do Ensino Médio da Rede Pública do Estado do Paraná, de modo a atender as necessidades e expectativas dos professores, visando uma melhoria na prática pedagógica. Foi realizado um levantamento de dados para identificar os problemas, as dificuldades e as necessidades dos professores em relação aos programas de Formação Continuada propostos pela SEED. A pesquisa revelou que os professores participam dos eventos, principalmente das semanas pedagógicas e dos grupos de estudos. Com relação aos temas e atividades abordados nos eventos, os professores fizeram sugestões, comentários e críticas. Espera-se que as informações coletadas nesta pesquisa possam contribuir com os futuros programas de Formação Continuada dos professores de Química.

Palavras-chave: Formação continuada. Atualização dos professores. Ensino de Química. Prática pedagógica.

1 Professora do Colégio Estadual do Paraná. Av. João Gualberto 250. Curitiba-PR. E-mail: [email protected]. 2

Professora da Universidade Federal do Paraná. DTPEN. Rua General Carneiro 460. Curitiba-PR. E-mail:[email protected].

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ABSTRACT

This action-research's goaf is to search for pieces of information that will promote a strong and continuous link among the University, SEED and the school, trying to rethink the Continuous Formation of Public High School Chemistry Teachers in Paraná aiming to achieve the teacher's needs and expectations, improving the pedagogic practice. A data digest was made to identify the problems, the difficulties and the teacher's needs related to the Continuous Formation programs proposed by SEED. The research has revealed that the teachers pedagogic weeks and in the study groups. Regarding the topics and activities developed in the events, the teachers have made suggestions, comments and reviews, we hope that the information taken from this research will contribute with the next Continuous Formation programs of the Chemistry Teachers.

Keywords: Continuous formation. Teacher's update. Chemistry teaching. Pedagogic practice.

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INTRODUÇÃO

A formação de professores tem sido objeto de estudo de muitos

pesquisadores e tema de autores preocupados com os rumos da educação. A

discussão abrange desde a formação inicial do professor nos cursos de licenciatura

até a necessária formação continuada, paralela à atuação docente.

Em muitos cursos de Bacharelado e Licenciatura em Química, a formação do

aluno é direcionada principalmente para a pesquisa e para a sua atuação como

químico. A licenciatura é algo à parte e muitas vezes discriminada por alguns

professores universitários e até mesmo por alguns acadêmicos. Segundo CHASSOT

(2004), “há, usualmente, um certo desprezo por parte dos profissionais da Química

das demais áreas para com os que buscam a Química para fazer educação”. Nem

todos os alunos pretendem ser pesquisadores ou atuar como químico em indústrias

e sim buscam formação como docente. Outros mesmo sem este objetivo inicial,

acabam optando também pela licenciatura paralelamente ao bacharelado, e atuando

como professores. Deste grupo, alguns alunos ao cursarem as disciplinas

específicas da licenciatura, acabam se identificando com as mesmas e passam a ver

a docência não mais como uma segunda opção. Portanto é fundamental considerar

a forma como os conteúdos químicos devem ser desenvolvidos para os futuros

professores, que irão posteriormente ensiná-los nas escolas, pois com freqüência o

conhecimento químico acaba sendo reproduzido na sala de aula como foi adquirido

na universidade. Sobre esta questão, CHASSOT afirma:

“Defendo sempre que o licenciado, mesmo que não vá operar com aparelhagem tão sofisticada quanto o químico industrial, nem trabalhar com produtos tão puros quanto o bacharel em Química, merece uma preparação com a maior e melhor excelência, pois vai “mexer” na cabeça das crianças, dos jovens ou adultos, ensinando-lhes uma nova maneira de ler o mundo com a linguagem química”.(CHASSOT, 2004, p. 52).

Os conteúdos químicos desenvolvidos nas escolas são na grande maioria

abstratos e de difícil compreensão. O professor tem o conhecimento químico, mas

às vezes não consegue trabalhar os conceitos de modo que os alunos possam

compreendê-los. Muitas podem ser as causas, como a necessidade de melhores

condições de trabalho, o número excessivo de alunos por turmas, a sua formação

inicial, a gestão escolar e a falta de formação continuada, entre outras.

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A Formação Continuada é fundamental para que as lacunas da formação

inicial e os problemas pertinentes à sala de aula sejam superados. É necessário

criar ações que possibilitem a atualização do professor, frente às dificuldades

relacionadas ao ensino de novos conceitos, recursos, tecnologias, enfim novidades

que envolvam o conhecimento químico. Muitas vezes o professor toma

conhecimento de um novo termo químico ou de uma mudança conceitual, quando

recebe uma edição reformulada do livro didático. É responsabilidade somente do

professor manter-se atualizado? Com uma jornada semanal de no mínimo 40 aulas

e com turmas de no mínimo 40 alunos? É importante que a escola disponibilize

livros, revistas científicas, acesso à internet e outros recursos didático-pedagógicos,

proporcionando um espaço para atualização do docente. Mas se o professor não

dispõe de tempo para consultar esses recursos, esse espaço torna-se inoperante

para tal propósito. A hora-atividade realizada na escola é organizada em dois

momentos, um de trabalho junto à pedagoga da escola e outro para a realização de

atividades como o preparo de avaliações, elaboração de trabalhos, planejamento de

aulas, enfim um tempo para o professor realizar atividades que desenvolveria

obrigatoriamente em casa no seu horário de descanso. Portanto dizer que o

professor tem um tempo na escola para se atualizar não está correto. Mesmo

porque muitas vezes a hora-atividade é insuficiente para a realização das atividades

acima mencionadas. É de suma importância desenvolver condições para a

atualização do professor, visando uma reflexão sobre a prática pedagógica.

As reflexões sobre os programas de formação continuada apontam para a

importância da organização de grupos de estudo e reflexão nas escolas, tendo como

ponto de partida para os estudos, as necessidades dos professores participantes.

Muitos dos autores que discutem sobre a formação inicial e continuada dos

professores, defendem a reflexão da prática em sala de aula a partir da pesquisa em

grupos. Segundo GALIAZZI (2003) “se é importante a reflexão, no entanto ela

sozinha não é suficiente. É mais significativa quando o processo de questionamento

acontece em grupos de trabalho.” A autora ainda afirma que “isso me faz pensar na

importância de processos de pesquisa em coletivos de professores sobre temas

relevantes do conhecimento profissional, tendo como objeto de estudo as teorias

dos próprios professores.”

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MALDANER (1999) também sugere a pesquisa como perspectiva na

formação inicial e continuada dos professores. O autor defende encontros entre os

professores na própria escola onde lecionam, para que em conjunto discutam suas

aulas, trocando experiências e buscando novas metodologias de ensino.

A Formação Continuada possibilita momentos para discussões sobre as

dificuldades relacionadas à docência, como também proporciona espaço para a

reflexão sobre possíveis mudanças na prática do professor. São nestes momentos

que os professores podem tomar conhecimento sobre novas metodologias e em

conjunto com seus colegas analisar, avaliar e planejar novas mudanças na prática

da sala de aula. SANTOS e SCHNETZLER (2003) ao defenderem a implementação

do ensino de Química para a formação da cidadania destacam a importância da

formação continuada dos professores para a implementação deste ensino.

Em um dos seus artigos, SCHNETZLER (2002) discute algumas concepções

e aponta alguns alertas sobre a formação continuada de professores de Química.

Considera três razões para a necessidade da formação continuada. A primeira é “um

contínuo aprimoramento profissional do professor, com reflexões críticas sobre sua

prática pedagógica, no ambiente coletivo de seu contexto de trabalho”. A segunda é

“a necessidade de se superar o distanciamento entre contribuições de pesquisas

sobre Educação em Química e a utilização das mesmas para a melhoria do

processo de ensino-aprendizagem em sala de aula, implicando que o professor atue

também como pesquisador de sua prática docente”. A terceira “diz respeito a danos

e lacunas da formação inicial do futuro professor de Química, já que esta tem sido

historicamente dirigida para a formação de bacharéis”. No mesmo artigo a autora

salienta a importância do programa de Formação Continuada ser organizado a partir

dos problemas levantados pelos professores, e contar com a participação dos

professores universitários, nas discussões e reflexões. Defende a proposta dos

encontros ocorrerem na própria escola com o objetivo de envolver o professor com o

ambiente de trabalho e com os seus alunos.

A literatura disponibiliza vários trabalhos com exemplos de programas de

formação continuada desenvolvidos pelas Secretarias de Educação em conjunto

com as Universidades. É de consenso a importância das instituições formadoras de

professores, atuarem junto aos professores da Educação Básica. Essa interação

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possibilita a troca de experiências entre os professores, provocando mudanças nos

dois níveis de ensino.

Na Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia (UESB) o desenvolvimento

de um programa de formação continuada para professores de Química, provocou

mudanças significativas na instituição. Ocorreu um maior envolvimento entre os

professores das áreas mais específicas do curso de formação inicial com o Ensino

Médio. O curso de Licenciatura em Química passou a ser visto de forma diferente,

pois começou a atuar junto às instituições de ensino da região (A EDUCAÇÃO

NUMA VISÃO MAIS AMPLA, 2007).

O programa Formação Continuada de Professores de Química e Ciências

(FOCO) da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) tem como objetivo

trabalhar com professores de Química do Ensino Médio e de Ciências do Ensino

Fundamental, no sentido de discutir a atuação do professor em sala de aula de

forma crítica e reflexiva, através da utilização de material didático elaborado de

acordo com resultados de pesquisas em ensino de Ciências e de acordo com as

novas tendências pedagógicas.

Na Universidade Federal do Paraná (UFPR), um grupo de professores do

Departamento de Química participa do Núcleo de Educação em Química

(EDUQUIM). Além da preocupação com a formação do profissional químico na

graduação da UFPR, o grupo desenvolve um trabalho voltado ao professor de

Química do Ensino Médio, produzindo textos e experimentos didáticos de química e

participando também da capacitação de professores da Rede Pública de Ensino do

Estado do Paraná.

No Rio Grande do Sul, a Universidade Regional, UNIJUI, desenvolve

pesquisas e programas de formação continuada de professores em conjunto com as

escolas da região.

Na Universidade de São Paulo (USP) existe o Grupo de Pesquisa em

Educação Química (GEPEQ), que desenvolve um programa de Formação

Continuada em conjunto com a Secretaria de Estado da Educação e com a Pró-

Reitoria de Cultura e Extensão da USP. As atividades elaboradas visam o

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desenvolvimento de um ensino contextualizado e mais voltado à experimentação

com os professores da rede estadual.

O objetivo desta pesquisa-ação foi buscar informações que promovam uma

articulação sólida e contínua entre a Universidade, a Secretaria Estadual de

Educação (SEED) e a Escola, no sentido de repensar a Formação Continuada dos

professores de Química do Ensino Médio da Rede Pública do Estado do Paraná, de

modo a atender as necessidades e expectativas dos professores visando uma

melhoria na prática pedagógica.

METODOLOGIA

A pesquisa foi realizada com professores de Química do Ensino Médio da

Rede Pública Estadual do Paraná. Participaram sete professores do Colégio

Estadual do Paraná e doze professores do Grupo de Trabalho em Rede (GTR). Este

grupo de trabalho faz parte do Programa de Desenvolvimento Educacional (PDE) da

Secretaria de Estado da Educação e foi constituído por professores de diferentes

cidades do Paraná. Para o desenvolvimento da pesquisa foram elaborados três

instrumentos de coleta de dados (ICDs) com perguntas abertas e fechadas. O

primeiro ICD foi elaborado para traçar o perfil dos professores quanto à formação,

atuação e o fazer pedagógico. O segundo ICD foi elaborado com o objetivo de

levantar dados referentes às leituras dos professores, e o terceiro ICD foi elaborado

para discutir a Formação Continuada dos professores de Química.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Os dados coletados através dos ICDs revelaram o interesse dos professores

em participar de eventos que promovam a formação continuada, e que estejam

voltados para o ensino da Química. Os professores reforçaram em várias respostas

que os temas dos eventos devem estar relacionados com a realidade da sala de

aula e consideram de suma importância a participação dos professores na seleção

dos temas.

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Instrumento de Coleta de Dados I – Perfil dos Professores

Quanto à formação dos professores, o ICD-I revelou que dos dezenove

participantes da pesquisa, quatorze são graduados em Química, quatro em Ciências

e um em Engenharia Química. Quinze professores possuem Especialização e três

possuem Mestrado.

Sobre a atuação e o fazer pedagógico dos professores, os dados coletados

mostram que seis professores atuam também na rede particular de ensino e sete

professores exercem atividades profissionais além da docência. Quando

questionados sobre as atividades que mais despertam o interesse nos alunos, os

professores citaram as atividades relacionadas no Quadro 1.

Categorias %Aula Prática 59,3Atividades em dupla e grupo 7,4Demonstração de experimentos em sala de aula 7,4Aulas no Laboratório de Informática 3,7Discussão de temas sociais 3,7Exercícios de revisão 3,7Oficinas 3,7Pesquisas na Internet 3,7Seminários 3,7Visitas 3,7Quadro 1 - Atividades que despertam interesse nos alunos

A aula prática foi a atividade mais citada pelos professores, comprovando o

que é constatado nas escolas que possuem uma estrutura que permita a inclusão

das aulas práticas nos planejamentos de Química. A demonstração de experimentos

em sala de aula também é uma atividade que desperta interesse nos alunos, porém

como o Quadro 1 indica, as aulas práticas onde os alunos desenvolvem os

experimentos são mais significativas. As atividades que envolvem o uso da

informática, como as aulas no laboratório de informática e as pesquisas na Internet,

estimulam a participação dos alunos, já que estas atividades fazem uso das

ferramentas tecnológicas que nossos alunos utilizam com habilidade.

Outra questão abordada no ICD I foi em relação aos conteúdos com maior

nível de dificuldade para serem trabalhados em sala de aula. Os conteúdos

apontados pelos professores estão relacionados no Quadro 2.

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Categorias %Equilíbrio Químico 16,7Estequiometria 13,3Reações 13,3Termoquímica 13,3Cinética 10,0Atomística 6,7Radioatividade 6,7Eletroquímica 3,3Forças Intermoleculares 3,3Nomenclatura 3,3Propriedades Coligativas 3,3Soluções 3,3Tabela Periódica 3,3Quadro 2 – Conteúdos com maior nível de dificuldade a serem trabalhados em sala de aula

A maioria dos conteúdos apontados pelos professores são desenvolvidos

preferencialmente na segunda série e envolvem além dos conceitos químicos,

cálculo e interpretação.

As dificuldades sentidas pelos professores ao ensinar determinados

conteúdos são decorrentes de vários fatores, como a complexidade da Química, a

falta de recursos que facilite o aprendizado e as deficiências dos alunos em relação

a conhecimentos básicos de matemática e a dificuldade de interpretação, entre

outros. As falas a seguir identificam estes fatores.

“Apesar de tentar contextualizar ao máximo, eles ainda têm muita dificuldade em diversos tópicos. Isso se deve ao baixo poder de interpretação de texto, matemática básica e a falta de interesse”.

“Considero que os conteúdos de Eletroquímica, Pilhas e Equilíbrio Químico são os mais difíceis para o professor trabalhar por não haver muitas possibilidades de material diversificado e diferenciado para as aulas (vídeos, experimentos para o Ensino Médio, jogos, etc)”.

Sobre o conteúdo de Atomística, conteúdo desenvolvido na primeira série e

citado no Quadro 2, uma professora argumentou:

“Não há tempo hábil para atualização e as informações são insuficientes para esclarecer as dúvidas com pouco embasamento”.

No comentário acima fica evidente a necessidade da atualização dos

docentes, não só sobre as questões pedagógicas, mas também especificamente

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sobre os conteúdos químicos. A formação continuada deve proporcionar momentos

para que os professores possam expor as dificuldades, rever suas metodologias,

pesquisar e em conjunto procurar alternativas para a inovação da prática

pedagógica. Em um dos seus livros, MALDANER (2003), relata a experiência de um

grupo de professoras que aderiram à pesquisa, e passaram a estudar temas

definidos em função das dificuldades sentidas por elas em sala de aula. Segundo

GALIAZZI (2003), a transformação da sala de aula em um ambiente de pesquisa,

significa incluir a pesquisa como princípio metodológico diário de sala de aula.

Os professores foram questionados sobre os recursos utilizados em sala de

aula e citaram vários, como o quadro e giz, vídeos, DVD, kits de experiências,

textos, data-show, retroprojetor, revistas, modelos tridimensionais de moléculas,

tabelas periódicas e livros (didáticos e paradidáticos).

Quanto à utilização da informática durante as aulas, onze professores

responderam que não utilizam, ou seja, a maioria. Sobre esta pergunta alguns

professores comentaram:

“Não me sinto preparada para levar os alunos à sala de informática”. “Nem os alunos, nem os professores tinham acesso ao computador na

escola. Os únicos computadores na escola eram utilizados pelo pessoal da secretaria”.

“O laboratório é usado apenas pelo curso Técnico de Informática.”

Alguns dos professores que utilizam a informática fizeram as seguintes

colocações:

“Existem vários softwares de Química que podem ser utilizados em nossas aulas, além de sites que contém muitas informações valiosas para as pesquisas direcionadas”.

“Toda a pesquisa e preparo das aulas é feito em computador, seja na escola ou em casa”.

“Na preparação das aulas, na elaboração de provas, pesquisas pelos alunos sempre que possível”.

“Forneço um roteiro para pesquisas bibliográficas na Internet. Nesse roteiro consta: tema do trabalho, itens e subitens. Levo as turmas para o laboratório de informática e acompanho as pesquisas, orientando sobre a seleção de assuntos significativos para a pesquisa em curso. Para essas aulas, tenho a assistência do agente de execução, em cada colégio em que trabalho.

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Quanto à digitação: forneço as normas para a apresentação do trabalho – capa, folha de rosto, sumário, lista de figuras, margens, fonte (tamanho e tipo), espaço entre linhas, inserção de figuras, introdução, desenvolvimento, conclusão, numeração de páginas, bibliografia, anexos, etc. No laboratório de informática, acompanho os grupos durante a digitação, orientando os alunos”.

Diante das falas dos professores verificaram-se quatro situações em relação

ao uso da informática. Há professores que não se sentem aptos a fazer uso deste

recurso, os que não utilizam por não terem acesso aos laboratórios nas escolas,

outros que utilizam a informática no preparo de materiais didáticos e aqueles que

utilizam para o ensino da Química. Fica evidente a necessidade de uma infra-

estrutura na escola que estimule a utilização da informática no processo ensino-

aprendizagem e também de formação continuada nesta área.

Instrumento de Coleta de Dados II – A Leitura dos Professores

Os dados levantados com a aplicação do ICD-II demonstram que os

professores que realizam leituras o fazem a partir de artigos, revistas científicas,

sítios eletrônicos, livros e também de textos pedagógicos dos eventos de Formação

Continuada, principalmente nas semanas pedagógicas e nos grupos de estudos.

Os professores fizeram algumas colocações sobre as dificuldades para a

realização das leituras, citando a falta de tempo, o custo dos livros e também a falta

de motivação, principalmente em relação às leituras específicas da área pedagógica.

Nas falas a seguir é possível constatar algumas dificuldades apontadas pelos

professores.

“Não é possível, com carga horária extendida às atividades que são realizadas além das horas atividades (insuficientes) em casa, ainda ter tempo para fazer leituras e ter vida normal fora dos limites da vida profissional”.

“Não tenho interesse nos temas da área pedagógica. No momento, em relação aos temas da Química, não leio por falta de tempo”.

“Falta de tempo (50 aulas semanais), custo das literaturas e falta de motivação”.

Quando questionados sobre a influência das leituras em suas práticas em

sala de aula, onze professores responderam que as leituras de alguma forma

provocaram mudanças em suas aulas. Alguns comentários dos professores:

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“As leituras possibilitam fazer uma análise mais abrangente da prática realizada, ora reforçando alguns conceitos, ora produzindo questionamentos a respeito da prática docente.”

“Toda leitura leva a uma reflexão que pode influenciar a prática em sala de aula.”

“Talvez faça com que reflitamos sobre o que verdadeiramente deve ser ensinado. O que é importante para o aluno e, principalmente, em que cada conteúdo vai poder fazer desta pessoa em formação, um cidadão consciente.”

“Contribuíram para aumentar a minha visão e a minha experiência sobre educação, ensino e avaliação. Proporcionaram um maior conhecimento da minha disciplina e das técnicas de ensino e avaliação da mesma.”

“Com certeza, pois a medida que adquirimos conhecimentos, as aulas se tornam mais atraentes, conseguimos dar respostas mais convincentes para as perguntas dos alunos e, também aprendemos com as experiências dos outros, comentários, explicações. É claro que não reproduzimos as experiências dos outros da mesma maneira, mas saber os pontos negativos e positivos de outras experiências nos conduz ao caminho bem mais tranqüilo.”

Com estes relatos pode-se observar que os professores fazem leituras, que

contribuem na reflexão crítica da prática pedagógica e também no ensino e

aprendizagem da Química.

Os professores sugeriram leituras que gostariam de realizar nos eventos de

Formação Continuada. As sugestões estão relacionadas no Quadro 3.

Categoria %Química e Atualidade 20,8Experimentos 20,8Química e o Meio Ambiente 12,5Combustíveis 4,1História da Química 4,1Instrumentalização para o ensino de Química 4,1Metais 4,1Metodologia para o ensino de Química 4,1Metodologia sobre avaliação no ensino de Química 4,1Mídias na Educação 4,1Nanotecnologia 4,1Polímeros 4,1Química no Cotidiano 4,1Radioatividade 4,1Quadro 3 – Sugestões para leituras na Formação Continuada

Percebe-se nas sugestões, que os professores desejam leituras relacionadas

à Química, direcionadas principalmente à experimentação e às atualidades na área.

Há interesse em leituras que tratem das tecnologias que envolvem o conhecimento

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químico e também do ensino da Química (metodologias e avaliação). Alguns

comentários dos professores:

“Leituras relacionadas principalmente ao conteúdo específico de Química porque é o que realmente melhora a prática em sala de aula, auxilia a criar novas maneiras de abordar com mais facilidade determinados conteúdos levando também o aluno a se interessar mais”.

“Gostaria de ler sobre química, ciências, que nos trouxessem práticas que possam nos ajudar tanto a nível de informação como a prática pedagógica.”

“Leituras mais direcionadas ao uso do laboratório.”“Metodologia para o ensino de Química, incluindo orientações e estudos

sobrecontextualização, interdisciplinaridade e a fundamentação pedagógica necessária.Construção de planos curriculares (planejamentos) adequados aos estudantes dosperíodos diurno e noturno. Metodologia de avaliação no ensino de Química eInstrumentação para o ensino de Química, incluindo uso da informática e outrasTecnologias.”

As leituras propostas nos eventos de Formação Continuada são importantes e

são organizadas de acordo com os objetivos do evento, mas quando estes objetivos

não ficam claros para os professores, ou não vão de encontro com as expectativas

dos professores, estes momentos de leituras deixam de ser produtivos. Organizar os

eventos e as leituras de acordo com o interesse dos professores é uma maneira de

tornar a Formação Continuada realmente um meio de estudo permanente para os

professores, com a obtenção de resultados que repercutam na sala de aula no

trabalho com os alunos.

Instrumento de Coleta de Dados III – A Formação Continuada dos Professores de

Química

Os dados coletados no ICD III revelaram que nos últimos cinco anos, os

professores participaram de vários eventos de formação continuada promovidos pela

SEED, como os grupos de estudos, semanas pedagógicas, simpósios, oficinas,

seminários e cursos, entre outros.

O comentário abaixo reflete a conscientização por parte dos professores,

sobre a importância da participação nos eventos que visam proporcionar ao docente,

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momentos de estudos e reflexões, que poderão repercutir na sua atuação em sala

de aula.

“Sempre que tenho oportunidade, participo de eventos como grupos de estudos, simpósios e outros e reconheço a importância de estudarmos, visando a melhora da nossa prática pedagógica”.

Quando questionados sobre as dificuldades enfrentadas para a participação

nos eventos, os professores que enfrentaram dificuldades apontaram a falta de

opção de horário, poucas vagas, distância, falta de recursos financeiros, dificuldade

para receber a liberação da escola, divulgação com pouca antecedência, a

reposição da carga horária do aluno, a falta de organização do material para estudo,

e temas que não correspondem à realidade das escolas. Esta última dificuldade

citada, SCHNETZLER (2002), aponta como sendo uma das razões da pouca

efetividade das ações de formação continuada. Segundo a autora, “o que é tratado

ou ensinado em tais cursos não tem relação com os problemas vivenciados pelos

professores” [...]

Essas afirmações podem ser confirmadas nas falas dos professores:

“Muito cansativo e desmotivador porque os cursos se baseiam muito em leituras pedagógicas que pouco tem a ver com a realidade atual da escola.”

“Quanto aos horários ofertados para a realização de alguns cursos. Professores que trabalham em outros colégios (particulares), não conseguem participar dos eventos devido aos horários ofertados”.

“A dificuldade maior é que os eventos não são organizados com antecedência, sempre recebemos os recados dias antes, dificultando a organização do trabalho em sala. Deixar atividades para serem corrigidas ao retornarmos, fica complicado em função da carga horária arrojada que temos, pois acaba acumulando as atividades, os conteúdos, etc... O número limitado de vagas oferecidas é um fator inconveniente pois não oportuniza a todos os profissionais da área de conhecimento.”

A divulgação dos eventos precisa acontecer em tempo hábil para a

organização do professor e da própria escola que ficará sem o docente. São

freqüentes as situações em que as informações sobre os eventos chegam ao

conhecimento dos professores na véspera do encerramento das inscrições,

impossibilitando muitas vezes a participação.

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Os grupos de estudos e as semanas pedagógicas, eventos dos quais os

professores mais participam, foram discutidos e avaliados. É de consenso a

importância de tais eventos, porém na avaliação dos professores, estes momentos

poderiam ser mais produtivos se os temas para estudos fossem selecionados de

acordo com as necessidades dos professores e se as atividades pudessem ser

desenvolvidas em horários flexíveis. Em relação às semanas pedagógicas, que

atualmente só acontecem nos turnos da manhã e tarde, os professores consideram

que deveriam ocorrer também no turno da noite. E em relação aos grupos de

estudos aos sábados, os professores demonstraram o desejo da possibilidade de

organizar os encontros durante a semana. Esta flexibilidade dos horários permitiria

uma maior participação dos professores. As falas abaixo refletem a preocupação

dos professores em relação à organização destes eventos.

“Os temas dos grupos de estudos poderiam ser mais atuais, o material melhor organizado e a carga horária deveria ser diferenciada para que todos os professores pudessem participar”.

“O encontro dos professores a cada ano início de ano letivo é necessário para discutirmos os anseios e as novas metas do novo ano, mas quando os temas já vem pré-definidos, não há um comprometimento e preocupação dos professores, se os temas fossem escolhidos pelos professores de cada escola, isso não ocorreria”.

“Não é possível comentar as programações das semanas pedagógicas considerando que participo apenas meio período por trabalhar em outro estabelecimento de ensino. Acrescido do fato da SEED não considerar o curso para quem cumpre a carga horária concursada de um padrão, ou seja, vinte aulas”.

De um modo geral há um descontentamento e uma expectativa de mudanças

na dinâmica destes eventos que possibilitem e motivem a participação de um

número mais significativo de professores. Muitos professores possuem um padrão e

atuam também em escolas particulares e por esse motivo, não conseguem participar

integralmente da programação das semanas pedagógicas. Estes professores são

penalizados duplamente, pois não participam de todas as atividades das semanas, e

não atingem pontuação para efeito de certificação. As horas realizadas pelos

professores deveriam ser consideradas mesmo que não na totalidade da carga

horária.

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Vários professores demonstraram insatisfação quanto aos textos

encaminhados para as leituras, e manifestaram o desejo de participar da seleção

dos mesmos, conforme pode ser observado na fala de um professor.

“Normalmente, em semanas pedagógicas, o que mais desanima são os textos longos e desvinculados das disciplinas, ou seja, parecem mais voltados aos pedagogos da escola”.

Outro dado levantado pelo ICD III foi o desejo por momentos nas semanas

pedagógicas, destinados à troca de experiências entre os professores da mesma

escola e também de diferentes escolas, como pode ser observado no comentário

abaixo.

“Voltamos para um ano letivo novo e já nos estressamos com esses textos e perdendo a oportunidade de interagirmos com os projetos de outros professores e elaborarmos um projeto, em grupos, interdisciplinares, para a escola que trabalhamos”.

No início do ano letivo de 2007, em um dos dias da semana pedagógica,

ocorreu um encontro entre professores de Química de diferentes escolas. Foi um

momento de interação importantíssimo para os professores, como pode ser

percebido pelas falas a seguir.

“Foi a melhor iniciativa dos últimos anos, pois oportunizou aos profissionais da área, trocas de experiências”.

“Muito significativo pela oportunidade de conhecer os companheiros, professores de Química. Trocamos várias experiências, além de agora trocarmos informações no dia a dia, algo que era impossível anteriormente quando não tínhamos contato nenhum”.

“Achei muito significativa a oportunidade. Foi possível discutir vários tópicos importantes relativos ao nosso trabalho.”

Momentos como estes colaboram para amenizar as dificuldades dos

docentes, que lecionam em cidades ou escolas onde o número de professores de

Química é pequeno. Há escolas que possuem apenas um ou dois professores de

Química. Nestes casos os estudos ficam comprometidos tanto nas semanas

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pedagógicas como nos grupos de estudos, como pode ser observado pelas falas a

seguir.

“Por ser um colégio pequeno, não comporta dois padrões de química, então, quando temos que discutir os problemas da área, estou sempre sozinha.”

“Em minha cidade estou meio sozinha, devido os demais professores não serem da área, e na semana pedagógica ou grupos de estudos, acabam optando por outra área. Somos em três professores de química, eu e mais dois, mas eles são formados em matemática e física, só completam as aulas com química. A semana pedagógica deveria reunir os professores de várias cidades (núcleos) e que tivéssemos alguns cursos com pessoas capacitadas, e principalmente cursos como práticas de laboratórios, e também momentos para troca de experiências entre os professores. Gostaria de participar mais de eventos na área de Química, pois acredito sim que esses momentos fazem muita diferença”.

Outro ponto importante levantado com o ICD III foi a falha na comunicação

entre a SEED, NRE (Núcleo Regional de Educação) e os professores, quanto aos

objetivos das atividades e dos textos encaminhados para leitura nas semanas

pedagógicas e nos grupos de estudos. Sobre esta situação, alguns professores

comentaram:

“Acredito que a falta de motivação por parte dos professores é grande por falta de comunicação entre a SEED/Professores, sobre o que realmente o professor precisa como suporte para a prática pedagógica”.

“As propostas de trabalho não são muito claras quanto aos objetivos a serem alcançados”.

Há uma distância considerável entre os organizadores (SEED e NRE) e os

professores. A comunicação entre SEED, NRE e a equipe pedagógica da escola,

que gerencia os encontros, precisa ocorrer de maneira que as informações possam

chegar aos professores com clareza quanto aos objetivos das atividades. O

encaminhamento das atividades quando se restringe simplesmente à entrega dos

textos para leitura e o repasse das questões que devem ser respondidas pelos

professores, transforma um momento que seria de reflexão e discussão, em uma

mera e enfadonha realização de tarefas. Os professores são constantemente

levados à reflexão de como estimular os alunos no processo de ensino e

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aprendizagem. Da mesma maneira, também precisam de estímulo para participar

dos momentos de estudos, como pode ser verificado na fala abaixo.

“A programação da semana pedagógica poderia ser mais diversificada. Todas as semanas pedagógicas parecem ser repetidas, sem inovação”.

Sobre as expectativas dos professores em relação aos eventos de Formação

Continuada, ficou evidente que os professores esperam por eventos que

proporcionem alternativas que possam ser realmente aplicadas em sala de aula e

que não fiquem apenas na discussão. Estas expectativas podem ser identificadas

nos comentários dos professores:

“Considero que o evento deve ter em foco aquilo que realmente o professor poderá aplicar em sala de aula. O que realmente pode ser realizado considerando a realidade das escolas públicas e o objetivo principal da disciplina”.

“Que os eventos tragam as novidades, os avanços na área, que os conteúdos levem em consideração práticas que nos auxiliem e possam ser aplicadas em sala”.

“Que o evento possa trazer informações importantes para o desenvolvimento das atividades pedagógicas, e que estas idéias sejam adequadas a atual realidade do ensino”.

“Deve proporcionar ao professor um enriquecimento dentro da disciplina que reflita na aprendizagem do aluno”.

“Que o evento seja voltado à prática em sala de aula; que traga informações úteis para a atualização”.

Analisando as falas dos professores, constata-se que os eventos que tratam

apenas de aspectos teóricos da educação, não contribuem para a formação

continuada e não estimulam a participação dos docentes, pois não há uma

articulação entre a teoria e prática na sala de aula.

O ICD III investigou ainda, o interesse na formação de um grupo de estudos

na escola, com a participação efetiva dos professores na organização dos temas e

das atividades. A possibilidade de participar da organização dos grupos estimulou os

professores, como pode ser percebido pelas falas a seguir.

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“É interessante, pois os professores sabem da realidade da sua escola, dos problemas enfrentados em sala de aula e por este motivo, sabem quais os assuntos mais pertinentes para sua formação”.

“Desde que este grupo tenha a possibilidades de escolher o melhor horário na semana para que o encontro aconteça e a SEED disponibilize a certificação (contagem de pontos para avanço)”.

“É tudo o que queremos”.

“Isso garantiria a participação efetiva de todos, já que vem de encontro às necessidades específicas daquela escola/colégio”.

“Acredito que se assim for, aumentará a participação dos professores, já que estará levando em consideração o seu tempo disponível e a sua própria organização”.

“Se for por município sim, é viável”.

Esta última fala reflete a situação dos docentes que lecionam em escolas

onde são os únicos professores de Química. Independente do grupo ser formado por

escola ou por município, o que fica claro é o interesse dos professores participarem

da elaboração das programações dos grupos de estudo.

Este modelo de grupo defendido por autores, como alguns já citados neste

artigo, também tem sido visto pelas Instituições de Ensino Superior como uma

modalidade de formação continuada. Professores da Universidade Estadual do

Sudoeste da Bahia afirmaram: “Uma possibilidade de trabalho vislumbrada por nós,

a partir de agora, seria o incentivo direto à formação de grupos de estudos dentro

das escolas ou por escolas, nos quais nos faríamos presentes, num trabalho

mediado, que poderia levar a diferentes caminhos cada um dos grupos formados” (A

EDUCAÇÃO NUMA VISÃO MAIS AMPLA, 2007).

Um dos professores participante da pesquisa relatou a experiência da

formação de um grupo de estudos com estas características em Cianorte,

comprovando que já existe um trabalho acontecendo nestes moldes e

principalmente, que é possível tal organização.

“Criamos um grupo de estudos aqui em Cianorte em outubro/2005, logo após o último encontro das diretrizes de química. Em conversas com meus amigos professores da

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disciplina de outros colégios da cidade, os mesmos solicitaram que eu apresentasse os conteúdos discutidos e resultados definidos nos encontros das diretrizes, pois gostariam de se interar dessas diretrizes. Criamos o grupo e, com o apoio do NRE local, enviamos convites a todos os professores de química da nossa região (11 municípios). Quase todos os professores aderiram à idéia. Marcamos as reuniões e começamos a nos reunir a cada 14 dias nos colégios da cidade, alternando os locais das reuniões. Preparei apostilas com resumos dos principais textos sobre a construção das diretrizes, o NRE apoiou fornecendo xerox do material. No ano seguinte, elaboramos um planejamento básico conjunto para todos os colégios da cidade, observando as orientações das diretrizes curriculares de química. Nesse ano (2006), além da montagem dos planejamentos, trocamos muitas idéias sobre metodologia e instrumentação para o ensino da química, atividades que continuamos a realizar neste ano de 2007, independentemente das reuniões do grupo de estudos promovido pela SEED; porém, nossas reuniões são menos freqüentes agora, mas proveitosas. Por outro lado, eu e meus amigos professores de química gostaríamos muito que a SEED, através da equipe do DEB e em conjunto com nosso NRE, crie normas para certificação e validação desse nosso trabalho, e que essa validação conte pontos para efeito de avanços. Estamos dispostos a dialogar sobre essa nossa proposta e colaborar fornecendo documentos que comprovam nossa atuação no grupo de estudos voluntariamente criado aqui em Cianorte”.

Nesta fala também está registrada a importância da certificação do grupo,

assim como na fala já citada anteriormente. Estas iniciativas dos professores em

relação à formação continuada deveriam ser apoiadas e reconhecidas pela SEED,

visando o crescimento pessoal, profissional e possibilitando o avanço na carreira.

Outro ponto abordado no ICD III foi sobre a preferência dos professores em

relação às modalidades de Formação Continuada. Alguns professores relataram não

possuir preferência sobre a modalidade, e sim sobre os temas apresentados e a

organização do evento, como podemos observar nos seguintes relatos.

“Acho que todas as modalidades podem ser significativas, desde que trabalhe temas e situações atuais e dentro da realidade vivida pelo professor”. Ficar apenas em leituras ou palestras que nada tem a ver com a prática pedagógica, só gera críticas”.

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“Não tenho preferência, desde que oportunizados com o objetivo de promover um aprimoramento profissional. Devem ser com maior freqüência e seqüência de assuntos, e organizados por área de conhecimento”.

A geração de críticas citada em uma das falas acima é comentada por

GALIAZZI (2003), quando a autora faz uma reflexão sobre a distância da teoria dos

palestrantes e a prática dos professores, referindo-se aos comentários que resultam

após uma palestra.

Outros professores citaram algumas modalidades, como: cursos presenciais,

cursos à distância, grupos de estudos, oficinas, seminários e simpósios. Nas falas a

seguir, alguns professores justificaram as suas preferências em relação às

modalidades de formação continuada.

“Grupos de estudos e seminários, nestes momentos podem ocorrer troca de experiências entre os profissionais da área e também aquisição de novas informações trazidas pelos palestrantes (seminários)”.

“Simpósios e seminários, devido a possibilidades de trazer palestrantes e editores de livros didáticos”.

“Acredito que todos são significativos, vai depender do aproveitamento do docente. Mas ainda seria importante ter oficinas, poderia até ser organizada pelos núcleos. Para os professores poderem ter um domínio maior das áreas de laboratórios, manipular reagentes e vidrarias. Pois muitas faculdades deixam a desejar nesse sentido”.

“Acho que todas as modalidades são ótimas desde que sejam bem planejadas e executadas. No meu entender, a modalidade “seminário” (em grupos ou individual) seria a mais significativa porque exige um “estudo prévio profundo do tema a ser discutido” e permite que o(s) participante(s) apresente(m) sua(s) proposta(s) ou sugestão(ões) aos demais. Após as apresentações, procede-se o “debate”, momento muito importante para que os participantes possam trocar experiências. A seguir, será elaborada a “conclusão” dos trabalhos. Todos os tópicos apresentados e discutidos bem como a conclusão ficarão registrados (documentados) para posteriores consultas”.

“Acredito que todas são significativas, mas, para quem tem uma carga horária muito cheia, onde fica mais complicado comparecer aos locais da capacitação, os cursos à distância são mais interessantes”.

Os dados levantados no ICD III revelaram a preocupação dos professores

sobre a importância da Formação Continuada e a disposição em participar dos

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eventos com esta finalidade. Contudo, é fundamental proporcionar condições que

favoreçam a participação dos professores. Segundo SCHNETZLER (2002), “sem

tempo, espaço, incentivo assegurados por parte da administração escolar, não há

programa de Formação Continuada que se mantenha. E isto não pode ser entendido

como uma concessão aos professores, mas como um direito deles”.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Este artigo visou traçar um panorama sobre as necessidades, expectativas e

posicionamento dos professores participantes da pesquisa, quanto aos programas

de Formação Continuada oferecidos pela SEED. Pela análise geral dos dados

coletados, ficou evidente que os professores reconhecem a importância da

Formação Continuada, e que dentro das suas possibilidades procuram participar dos

eventos.

Os professores apontaram alguns problemas existentes nos atuais eventos,

principalmente nas semanas pedagógicas e nos grupos de estudos, e fizeram

sugestões com o propósito de contribuir com possíveis alternativas, visando a

participação mais significativa e produtiva dos professores. O ponto mais relevante

dos dados coletados foi a importância da participação dos professores na seleção

dos temas dos eventos, que de acordo com os professores, devem estar

diretamente relacionados à realidade da sala de aula.

As iniciativas dos professores nas atividades pertinentes à Formação

Continuada, precisam ser valorizadas e reconhecidas por todos. Desta forma o

professor terá estímulo para participar, podendo ainda sensibilizar outros

professores quanto à importância da participação nestes eventos.

A participação das Universidades nos programas de Formação Continuada é

fundamental, visto que estas instituições são responsáveis pela formação inicial dos

professores. No processo formativo dos professores que inicia na Universidade e

prossegue durante toda a atividade docente, devem estar envolvidos todos os

segmentos da Educação. A atuação da Universidade na formação continuada, não

repercute somente na vida profissional dos professores, mas também proporciona à

instituição uma oportunidade de estar em contato com a realidade da Educação

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Básica. Desta forma, podendo conhecer os problemas dos professores em relação à

prática pedagógica, diagnosticar falhas da formação inicial, e rever os cursos de

licenciatura.

A organização dos programas de Formação Continuada requer critérios que

conduzam a ações que repercutam em mudanças significativas na prática dos

professores em sala de aula. A interação entre as Universidades e a SEED deve

ocorrer no sentido de abrir espaço para que o professor possa apontar as suas

necessidades, as dificuldades e os anseios em relação ao processo ensino-

aprendizagem de Química. O professor precisa de incentivo para participar dos

programas de Formação Continuada e também de condições contextuais que

permitam a participação. Estas condições contextuais devem ser entendidas

principalmente como os dias e horários das atividades planejadas e o apoio

financeiro, visando a participação nos eventos.

As discussões em torno da Formação Continuada dos professores de

Química do estado do Paraná, não se encerram neste artigo, pois, esta pesquisa se

constitui em uma ferramenta para a reflexão sobre o tema. É fundamental que outros

autores possam dar continuidade a esta pesquisa, visando contribuir com a SEED e

com as Universidades, para os futuros programas de Formação Continuada.

REFERÊNCIAS

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GALIAZZI, M. C. Educar pela pesquisa: ambiente de formação de professores de ciências. Ijuí: Unijuí, 2003.

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MALDANER, O. A. A formação inicial e continuada de professores de química. professores/pesquisadores. 2. ed. Ijuí: Unijuí, 2003.

MUNFORD, D. et al. Construindo modelos de avaliação de programas de educação continuada de professores do ensino básico: a história do foco.Disponível em: <http://www.ufmg.br/proex/arquivos/8Encontro/Educa_4.pdf>. Acesso em: 10 jul. 2007.

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SCHNETZLER, R. P. Concepções e alertas sobre formação continuada de professores de química. Disponível em:<http://sbqensino.foco.fae.ufmg.br/uploads/p-/2n/p- 2nZG_yBkVnuZn8GbJTnQ/v16_A05.pdf>. Acesso em: 1 out. 2007.

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