folha do norte - 2005-12-01 a 10

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Folha do Norte Januária-MG, 01 a 10 de dezembro de 2005 Editor: Fábio Oliva - MTb 09423 JP R$ 1,00 Januária tem buraco de R$ 1,2 milhão Justiça mineira homenageia personalidades Técnicos do governo es- tão investigando onde fo- ram parar quase R$ 1 mi- lhão, do total de R$ 1,2 mi- lhão enviados para as obras da Estação de Tratamento de Esgotos de Januária. No local (foto) onde deveria es- tar funcionando uma ETE, No dia 8 de dezembro, dentro das comemorações da Semana da Justiça do Poder Judiciário Estadual, foram realizadas solenidades de entrega da Medalha Desem- bargador Hélio Costa, em 272 comarcas de Minas Gerais. A medalha, instituída em 29/ 12/95, tem como objetivo agraciar aqueles que pres- tam ou que tenham presta- do relevantes serviços ao Po- der Judiciário local. A me- dalha é concedida de dois em dois anos e cada comarca es- colhe o seu homenageado, através de uma comissão for- mada pelo Juiz diretor do Foro, o promotor de Justiça, o representante da OAB- MG, o prefeito municipal e o presidente da Câmara. Entre os agraciados des- te ano estão o presidente do TJMG, Hugo Bengtsson Jú- nior (comarca de Muzambi- nho) e os desembargadores do TJMG, Carlos Batista Franco (Além Paraíba), Zul- man da Silva Galdino (Con- tagem), Branca Margarida Pereira Rennó (Cristina), Lamberto de Oliveira Sant’Ana (Curvelo), Delmival de Almeida Campos (Luz), Herondes João de Andrade (Monte Carmelo), Pedro Ber- nardes de Oliveira (São Go- tardo), Ediwal José de Mo- rais (Tiros), Ernane Fidélis dos Santos (Tupaciguara) e Tibagy Salles de Oliveira (Unaí). Foram homenageados, do Norte de Minas, os juízes Manoel dos Reis Morais (Bra- sília de Minas), José Geral- do Mendes Silva (Francisco Sá), Alair Soares Mendonça (Montalvânia), Sérgio Hen- riques Cordeiro Caldas Fer- nandes (Salinas), Bruno Terra Dias (Senador Firmi- no). Também foram agracia- dos o desembargador do Tri- bunal de Justiça de São Paulo, José Alberto Weiss de Andrade (Três Corações) e o desembargador do Tribunal de Justiça do Rio de Janei- ro, José Slaibi (Visconde do Rio Branco). Receberam ain- da a medalha, em Boa Espe- rança, o professor Ricardo Malheiros Fiuza, secretário da presidência e supervisor da Assessoria de Comunica- ção do TJMG. há apenas um buraco, que aos poucos vai sendo toma- do pelo mato. Com a ETE, pretendia-se tratar o esgoto doméstico de Januária, evitando que ele continuasse sendo despeja- do "in natura" no rio São Francisco, aumentando ain- da mais sua poluição. Os técnicos do governo que vieram recentemente a Januária fazer os levanta- mentos, calculam que ape- nas cerca de R$ 200 mil fo- ram efetivamente gastos no local. O relatório dos técnicos será agora apreciado pelo ministro Guilherme Palmei- da, do Tribunal de Contas da União. A Polícia Federal, que já vem investigando vá- rias fraudes em licitações e outros casos de corrupção na cidade, também deverá entrar em mais este caso. Completou um ano, sem apuração ou punição, o caso do trator da Pre- feitura de Januária fla- grado trabalhando na fa- zenda do então prefeito Valdir Pimenta Ramos, em dezembro de 2004. Sempre alegando sobre- carga de serviço, o Minis- tério Público não tomou qualquer providência em relação ao assunto. Hoje já se sabe que não era apenas um, mas dois os tratores da Prefeitura de Januária que estavam trabalhando em proprie- dades particulares de po- líticos, naquela ocasião. Além do que foi flagrado na fazenda de Valdir Pi- menta Ramos, outro tra- tor trabalhava na fazenda de um vereador, na região do Tejuco. Valdir Pimenta Ramos foi o quarto prefeito de Ja- nuária, entre agosto e de- zembro de 2004. Mas uma denúncia feita por funcio- nário da Prefeitura, em 20 de dezembro daquele ano, levou os diretores da Asa- jan (Associação dos Ami- gos de Januária), organi- zação não governamental voltada para o combate à corrupção, a fotografar duas patrolas trabalhan- do na estrada que dá acesso à fazenda do pre- feito. Enquanto isso, na fa- zenda, um trator fazia o plantio mecanizado de sementes em uma exten- sa área, que já estava ara- da e gradeada, provavel- mente pela mesma máqui- na. As fotos do flagrante foram imediatamente en- tregues ao Ministério Pú- blico, mas o caso está completando seu primei- ro aniversário de impuni- dade. Parte das máquinas, pertencente à Ruralminas e cedidas à Prefeitura de Januária, já foi retirada da cidade, o que dificul- tará as investigações. A demora beneficia os en- volvidos, porque pode prescrever a punibilida- de do crime, antes que haja o julgamento do caso. Cleuber Carvalho Oli- va, presidente em exercí- cio da Asajan, disse que a entidade já solicitou ao Procurador-Geral de Jus- tiça, Jarbas Soares Jú- nior, a designação de uma equipe especial de promo- tores para tratar dos ca- sos de corrupção já inves- tigados pela entidade, e que até agora não sairam das prateleiras do Minis- tério Público, órgão que faz questão de ser conhe- cido como defensor dos direitos do cidadão. Impunidade continua marca registrada dos casos de corrupção em Januária O trator da Prefeitura flagrado trabalhando na fazenda do prefeito Estação de Tratamento de Esgotos: mais uma obra pública que teve o dinheiro desviado para o ralo da corrupção em Januária. 9 DE DEZEMBRO - DIA INTERNACIONAL DE COMBATE À CORRUPÇÃO

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  • Folha do NorteJanuria-MG, 01 a 10 de dezembro de 2005Editor: Fbio Oliva - MTb 09423 JP R$ 1,00

    Januria tem buraco de R$ 1,2 milhoJustia mineira

    homenageiapersonalidades

    Tcnicos do governo es-to investigando onde fo-ram parar quase R$ 1 mi-lho, do total de R$ 1,2 mi-lho enviados para as obrasda Estao de Tratamentode Esgotos de Januria. Nolocal (foto) onde deveria es-tar funcionando uma ETE,

    No dia 8 de dezembro,dentro das comemoraes daSemana da Justia do PoderJudicirio Estadual, foramrealizadas solenidades deentrega da Medalha Desem-bargador Hlio Costa, em 272comarcas de Minas Gerais.A medalha, instituda em 29/12/95, tem como objetivoagraciar aqueles que pres-tam ou que tenham presta-do relevantes servios ao Po-der Judicirio local. A me-dalha concedida de dois emdois anos e cada comarca es-colhe o seu homenageado,atravs de uma comisso for-mada pelo Juiz diretor doForo, o promotor de Justia,o representante da OAB-MG, o prefeito municipal e opresidente da Cmara.

    Entre os agraciados des-te ano esto o presidente doTJMG, Hugo Bengtsson J-nior (comarca de Muzambi-nho) e os desembargadoresdo TJMG, Carlos BatistaFranco (Alm Paraba), Zul-man da Silva Galdino (Con-tagem), Branca MargaridaPereira Renn (Cristina),Lamberto de OliveiraSantAna (Curvelo), Delmival

    de Almeida Campos (Luz),Herondes Joo de Andrade(Monte Carmelo), Pedro Ber-nardes de Oliveira (So Go-tardo), Ediwal Jos de Mo-rais (Tiros), Ernane Fidlisdos Santos (Tupaciguara) eTibagy Salles de Oliveira(Una).

    Foram homenageados,do Norte de Minas, os juzesManoel dos Reis Morais (Bra-slia de Minas), Jos Geral-do Mendes Silva (FranciscoS), Alair Soares Mendona(Montalvnia), Srgio Hen-riques Cordeiro Caldas Fer-nandes (Salinas), BrunoTerra Dias (Senador Firmi-no).

    Tambm foram agracia-dos o desembargador do Tri-bunal de Justia de SoPaulo, Jos Alberto Weiss deAndrade (Trs Coraes) e odesembargador do Tribunalde Justia do Rio de Janei-ro, Jos Slaibi (Visconde doRio Branco). Receberam ain-da a medalha, em Boa Espe-rana, o professor RicardoMalheiros Fiuza, secretrioda presidncia e supervisorda Assessoria de Comunica-o do TJMG.

    h apenas um buraco, queaos poucos vai sendo toma-do pelo mato.

    Com a ETE, pretendia-setratar o esgoto domstico deJanuria, evitando que elecontinuasse sendo despeja-do "in natura" no rio SoFrancisco, aumentando ain-

    da mais sua poluio.Os tcnicos do governo

    que vieram recentemente aJanuria fazer os levanta-mentos, calculam que ape-nas cerca de R$ 200 mil fo-ram efetivamente gastos nolocal.

    O relatrio dos tcnicos

    ser agora apreciado peloministro Guilherme Palmei-da, do Tribunal de Contasda Unio. A Polcia Federal,que j vem investigando v-rias fraudes em licitaes eoutros casos de corrupona cidade, tambm deverentrar em mais este caso.

    Completou um ano,sem apurao ou punio,o caso do trator da Pre-feitura de Januria fla-grado trabalhando na fa-zenda do ento prefeitoValdir Pimenta Ramos,em dezembro de 2004.Sempre alegando sobre-carga de servio, o Minis-trio Pblico no tomouqualquer providncia emrelao ao assunto.

    Hoje j se sabe que noera apenas um, mas doisos tratores da Prefeiturade Januria que estavamtrabalhando em proprie-dades particulares de po-lticos, naquela ocasio.Alm do que foi flagradona fazenda de Valdir Pi-menta Ramos, outro tra-tor trabalhava na fazendade um vereador, na regiodo Tejuco.

    Valdir Pimenta Ramosfoi o quarto prefeito de Ja-nuria, entre agosto e de-

    zembro de 2004. Mas umadenncia feita por funcio-nrio da Prefeitura, em 20de dezembro daquele ano,levou os diretores da Asa-jan (Associao dos Ami-gos de Januria), organi-zao no governamentalvoltada para o combate corrupo, a fotografarduas patrolas trabalhan-do na estrada que dacesso fazenda do pre-feito.

    Enquanto isso, na fa-zenda, um trator fazia oplantio mecanizado desementes em uma exten-sa rea, que j estava ara-da e gradeada, provavel-mente pela mesma mqui-na.

    As fotos do flagranteforam imediatamente en-tregues ao Ministrio P-blico, mas o caso estcompletando seu primei-ro aniversrio de impuni-dade.

    Parte das mquinas,pertencente Ruralminase cedidas Prefeitura deJanuria, j foi retiradada cidade, o que dificul-tar as investigaes. Ademora beneficia os en-volvidos, porque podeprescrever a punibilida-de do crime, antes quehaja o julgamento docaso.

    Cleuber Carvalho Oli-va, presidente em exerc-cio da Asajan, disse quea entidade j solicitou aoProcurador-Geral de Jus-tia, Jarbas Soares J-nior, a designao de umaequipe especial de promo-tores para tratar dos ca-sos de corrupo j inves-tigados pela entidade, eque at agora no sairamdas prateleiras do Minis-trio Pblico, rgo quefaz questo de ser conhe-cido como defensor dosdireitos do cidado.

    Impunidade continua marca registrada dos casos de corrupo em Januria

    O trator da Prefeitura flagrado trabalhando na fazenda do prefeito

    Estao de Tratamento de Esgotos: mais uma obra pblica que teve o dinheiro desviado para o ralo da corrupo em Januria.

    9 DE DEZEMBRO - DIA INTERNACIONAL DE COMBATE CORRUPO

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    Folha do Norte - Pg. 02 Januria-MG, 01 a 10 de dezembro de 2005

    Apelo marca Dia Mundial de Luta Contra a AidsNmeros oficiais mascaram a verdadeira situao da doena na microrregio de JanuriaCASOS DE AIDS (adulto e criana) NOTIFICADOS NA MICRORREGIO DE JANURIA

    POR MUNICPIO DE RESIDNCIA E SEXOPERODO 1982 A OUT/2005

    O dia 1 de dezembro foi insti-tudo pela Organizao das NaesUnidas (ONU), em 1987, como oDia Mundial de Luta Contra aAids. Em Minas Gerais j foram no-tificados 21.663 casos de Aids,69% so do sexo masculino e 31%do sexo feminino. Embora as gran-des cidades concentrem a maioriados casos, j existem registros decasos de Aids em 602 municpiosmineiros. Em 2004 estes munic-pios somavam 580 casos, o quesignifica que ano a ano, tem au-mentado a chamada interioriza-o da Aids.

    Os nmeros oficiais, no entan-to, escondem a verdadeira reali-dade sobre o problema da Aids (Sn-drome da Deficincia ImunolgicaAdquirida) em Januria e na re-gio. Esta a impresso de PauloRodrigues Alves, 63 anos, comer-ciante aposentado, que em 1998descobriu ser portador do vrusHIV. Sua opinio compartilhadapor muitas autoridades ligadas rea de sade.

    Segundo informaes da Se-cretaria de Estado da Sade, nos11 municpios que compem a mi-

    crorregio de Januria (veja o qua-dro acima), haveriam apenas 37aidticos, sendo 20 homens e 17mulheres. Januria concentrariao maior nmero de casos, com 14homens e 7 mulheres infectados.

    "Estes nmeros no so rea-listas. Temos de 300 a 500 pesso-as, apenas em Januria, com a do-ena. Em muitos casos, as pesso-as ainda nem sabe que so porta-doras do vrus", afirma Paulo Ro-drigues Alves. A subnotificiao donmero de casos se justifica. Noh nenhum mdico imunologistaatuando na sade pblica em Ja-nuria.

    "Ficamos particularmente pre-ocupados com o avano dessa do-ena, porquanto observamos acompleta falncia de nosso siste-ma municipal de sade pblica ede assistncia social", afirmou datribuna da Cmara Municipal,quinta-feira (1/12) noite, o ve-reador Jos Patrocnio MagalhesAlmeida, o Zez da Copasa (PT).

    Segundo ele, a situao mui-to grave. "Mais alguns dias, e a atu-al administrao completar umano de mandato. Ao contrrio do

    que muitos imaginavam, esse foimais um ano de retrocesso paraJanuria", afirmou.

    Para o vereador, "os recursosobtidos na administrao anteri-or e aplicados na reforma do Hos-pital Municipal de Januria, nose traduziram em melhorias doatendimento s mais elementaresnecessidades da populao emmatria de atendimento mdico ehospitalar".

    "Num hospital em que falta deremdios at mdicos, o que falardo atendimento aos doentes deAids?" - indagou.

    "No tenho medo de falar so-bre o assunto, de assumir que te-nho a doena. A discriminao muito grande, mas as pessoas quetm o vrus precisam parar de seesconder, at para que as autori-dades saibam quantos somos epassem a dar ao problema a ver-dadeira dimenso que ele tem",afirma Paulo Rodrigues Alves.

    A falta de um mdico imunolo-gista na cidade no o nico pro-blema enfrentado pelos doentes deAids em Januria.Paulo explica que"h um preconceito muito grandequando precisamos de atendimen-to. Tando que sempre somos en-caminhados para Montes Claros".

    Segundo ele, todo ms, todosos aidticos da cidade tm que sedeslocar at Montes Claros parareceber, no ambulatrio da Facul-dade de Medicina (Famed), o co-quetel de medicamentos que pre-cisam tomar. "Todo ms a mes-ma luta. Pegamos o encaminha-mento e vamos at Montes Clarosbuscar os remdios", explica. Se oservio pblico de sade da cidadecontasse com um mdico imuno-logista, o acompanhamento dos do-entes e a distribuio dos remdi-os poderia ser feita na prpria cida-de. "Fica o nosso apelo neste sen-tido s autoridades", finalizou.

    Mais 5 municpiosdevem entrar para

    rea da SudeneO Senado Federal deve votar na prxima tera-feira (13/

    12), emenda do senador Aelton Freitas (PL-MG) que pro-pe a incluso de mais cinco municpios mineiros, inte-grantes da Bacia do Rio das Velhas, na rea de atuao daSudene. A emenda foi apresentada no bojo do projeto querecria a autarquia, mas j foi acatada pelo relator, senadorAntnio Carlos Magalhes (PFL-BA).

    Na prtica, os municpios seriam beneficiados ao fica-rem aptos a receber recursos de programas especiais deinvestimento em agropecuria e de financiamento de ati-vidades econmicas.

    Augusto de Lima, Buenpolis, Joaquim Felcio, Monjo-los e Santo Hiplito, seriam os municpios beneficiados.

    Aelton afirmou que a incluso possibilitar a estes mu-nicpios mineiros acesso a programas de fortalecimentode infra-estrutura hdrica, irrigao e recuperao de po-os artesianos, aes fundamentais para o soerguimentoda agropecuria local.

    Se a incluso for confirmada, os municpios ainda te-ro maior facilidade de acesso aos recursos do Programade Desenvolvimento do Turismo (PRODETUR) e do FundoConstitucional de Financiamento do Nordeste, o que pos-sibilitar crescimento da renda e melhoria de vida de seuhabitantes, concluiu o senador.

    O projeto dever ser votado em plenrio na prximatera-feira (13/12), por acordo entre as lideranas parti-drias. Caso seja aprovado no Senado, voltar Cmarados Deputados para nova votao.

  • Folha do Norte - Pg. 03Januria-MG, 01 a 10 de dezembro de 2005

    Os problemas ambientais que se ob-servam em Januria foram destaque emduas recentes edies do programaGlobo Rural, exibidas em novembro.Apresentados pelos jornalista NelsonArajo e Helen Martins, com reporta-gens de Ivaci Matias, as duas ediesdo programa mostraram a dura realida-de da degradao ambiental que vemocorrendo no municpio, e os seus re-flexos, que comprometem a sobrevivn-cia do rio So Francisco e dos povos docerrado da regio. Veja a ntegra da re-portagem:

    Januria fica na margem esquerdado rio So Francisco, no norte de Mi-nas, regio intermediria entre a nas-cente e a foz do rio, por isso, conheci-da pelo nome de mdio So Francisco.

    Seus casarios coloniais so o regis-tro de uma poca em que a vida da ci-dade se concentrava no porto, onde osvapores atracavam carregados de gen-te e mercadorias.

    A poca dos vapores j faz parte dopassado. As guas do rio j no che-gam at o porto da cidade.

    No seu lugar ancorou um gigantes-co banco de areia e terra, fazendo o lei-to do So Francisco mudar de direo.Agora ele passa ao largo, se afastandode Januria.

    A imagem dos vapores ilustra osmuros da cidade e ficou gravada tam-bm na memria dos moradores maisantigos, como o seu Manoel Vieira.

    Globo Rural: Os vapores encostavamaqui na cidade?

    Eles encostavam. Isso aqui eragua, muita gua. O rio perdeu 50%,60% de gua.

    O assoreamento um dos problemasmais srios do rio So Francisco. Asguas s no diminuram mais aindaat agora, porque a vazo do rio con-trolada pelas barragens das hidreltri-cas construdas no leito, mas na pocade seca at barcos pequenos precisamtomar cuidado para no encalhar.

    Seu Manoel navegou com o GloboRural para mostrar o problema do as-soreamento. O desembarque foi numbanco de areia que avana rio adentro,perto de Pedras de Maria da Cruz.

    Globo Rural: Seu Manoel, de ondevem essa areia toda?

    Das cabeceiras dos afluentes. Elesesto secando e a eroso est vindo dascabeceiras e vai depositando essa gran-de impureza, esse absurdo de areia,pau, folhas de rvore, colocando tudono So Francisco. No vai demorarmuitos anos pra gente ver o So Fran-cisco falecido. Se no cuidar imediata-mente, mas espero em Deus que osmandantes possam enxergar que seesse rio morrer, antes dele, j morreumuita gente.

    Seguindo a explicao do seu Ma-noel, o Globo Rural subiu em direos cabeceiras dos afluentes do mdio

    So Francisco para ver de perto a ori-gem desse problema.

    O rio Pardo um dos principais aflu-entes do So Francisco. Muitos bancosde areia se formam nas curvas do rio.As guas tm tom barrento.

    Hudson de Carvalho supervisor doIEF, Instituto Estadual de Florestas, umrgo do governo de Minas que fiscali-za o meio ambiente. Ele diz que o rioPardo no o nico nessa situao.

    Cinqenta e trs afluentes j seca-ram. O rio Pardo um dos principaisafluentes do So Francisco, com umaextenso de mais de 150 quilmetros eest todo nesta situao.

    Quando chove, a enxurrada arrastamilhes de toneladas de areia para oleito do So Francisco. Isso aconteceupor causa do desmatamento indiscri-minado na bacia do rio, que no pou-pou nem as veredas, lugares midospovoados pela palmeira buriti, ondenascem a maioria dos rios.

    Quando a mata existia, funcionavacomo se fosse uma esponja que arma-zenava a gua da chuva no solo, porentre as razes, fazendo com que escor-resse lentamente para os rios. Sem aproteo da vegetao, a chuva lava acamada superficial do solo e carregatudo para os rios.

    o que acontece em Januria, ondeno final da dcada de 70 o desmata-mento para o plantio de eucalipto atin-giu um milho de hectares. O projetotinha incentivos fiscais do governo fe-deral.

    O sistema utilizado foi o corrento,dois tratores de esteira ligados por umacorrente de ao, que por onde passa-vam iam arrastando tudo, mas o soloarenoso no era apropriado para a cul-tura e maioria das reas foi abandona-da. Ao lado das veredas assoreadas ain-da se v os esqueletos dos eucaliptos.

    No restou quase nada da veredaAlegre, uma das maiores veredas daregio. O desmatamento para o plantiode eucalipto chegou at dentro da ve-reda. Hoje a gente v o assoreamentoentupindo o lugar, onde antes haviamuita gua.

    Aqui tinha muita gua. No davapra passar a p. Hoje a gente v essasituao, tudo assoreado. Ns sentimosmuita dor com isso, disse o agricultorValdenizo Silva.

    Valter Neves, bilogo do Instituto deEstudos Florestais, fala da velocidadecom que a areia encobre os buritis davereda.

    A areia est subindo cada dia mais,daqui a pouco vai chegar na copa. Oburiti cresce menos do que o assorea-mento.

    Globo Rural: Vai entupir essa plan-ta?

    Vai sufocar, vai matar. Daqui a cin-co anos j no vai existir mais. As r-vores esto desaparecendo no meio da

    areia. Esto secando tambm.O Ministrio Pblico est levantan-

    do os nomes das empresas que desma-taram, para intim-los a fazer um ter-mo de ajustamento de conduta, visan-do a recuperao da rea.

    A vereda Alegre foi desmatada poruma das maiores reflorestadoras dopas, a Plantar, com sede em Belo Ho-rizonte. Tarcsio Marques, diretor daempresa. diz que eles plantaram cercade 20 mil hectares de eucaliptos naregio, mas o projeto no deu certo.

    A empresa, assim como outras quedesmataram na regio, foi acionada peloMinistrio Pblico e hoje faz um ajustede conduta para tentar recuperar o es-trago.

    Globo Rural: O que vai ser feito des-sa rea?

    Estamos em conjunto com os rgosgovernamentais, pretendendo implan-tar uma reserva legal de propriedadeparticular, mas com monitoramento dorgo governamental. Seriam aproxima-damente uns 20 mil hectare de reser-va.

    Globo rural perguntou se melhor noteria sido no escolher essa rea praesse tipo de atividade.

    De fato. Como os projetos eram in-centivados, no se preocupava muitocom a produtividade. O incentivo fis-cal era voltado para o plo florestal,com vistas ao aproveitamento da mode obra ociosa, vistas fixao do ho-mem no campo, tudo voltado para osocial nessa poca.

    Mas o problema social da regio sfoi agravado com o desmatamento eabandono das reas. Sem alternativapara viver, muitos moradores dessasreas passaram a queimar a floresta querestou para a produo de carvo.

    Jackson Rodrigues e Walison deSouza esto com 19 anos. Eles traba-lham nos fornos de carvo desde os12. A madeira que eles usam retiradado cerrado que restou na regio.

    Globo Rural: Walison, quanto vocsesto ganhando por ms?

    Na carteira est marcando R$ 260,disse Walison.

    Globo Rural; O que vocs achamdesse servio?

    Ruim demais, no d pra sobrevi-ver com um servio desses no. O tra-balho aqui no tem muita opo.

    Globo Rural: O que pior de traba-lhar no carvo?

    Tirar o carvo do forno. muitopesado e o p prejudica muito a gente.

    Um desmatamento feito recente-mente. No local ser implantada umapastagem. O pessoal j fez a destoca,deixou algumas rvores e j instalouuma bateria de fornos para a produode carvo.

    A rea pertence a um fazendeiro daregio. Com a chegada da fiscalizaodo IEF, no momento da reportagem, o

    responsvel pela rea sumiu rapida-mente.

    Com o auxlio de um equipamento,o GPS (Sistema de Posicionamento Glo-bal), o fiscal do Instituto Estudos Flo-restais marca o local e depois identifi-ca a rea atravs de imagens de satli-te. Trata-se de um desmatamento ile-gal. Agora, resta localizar o propriet-rio e intim-lo a pagar multa.

    Globo Rural: Por que to difcil bar-rar esse desmatamento ilegal e barrara produo de carvo?

    Quando ns chegamos aqui, derru-bamos 500 fornos. Depois de dois me-ses, verificamos que tinham 1.600 for-nos de carvo. Ns termos derrubadoesses fornos, gerou uma revolta muitogrande da comunidade. Ns verifica-mos que uma das dificuldades a con-dio social das pessoas que moram nazona rural, que tm no carvo a suaprincipal fonte de vida, disse Hudson.

    Em uma das inmeras vilas do ser-to de Januria, a populao local viveda explorao do carvo. Dona Alicede Souza lder da comunidade.

    Aqui todos queimam carvo pra so-breviver. O carvo um meio de vidamuito difcil para os pais de famlia etambm no est havendo mais o quequeimar. No momento est tudo des-trudo. A gente no quer mais continu-ar queimando. A gente quer um meiode vida mais digno, porque as pessoasque queimam passam necessidade.Quem ganha com isso quem compra,porque ns ficamos mesmo com o tra-balho.

    Com apoio do governo, do Minist-rio Pblico e de outras entidades, v-rias alternativas esto sendo ofereci-das a eles para substituir a exploraodo carvo. Uma delas a recuperaodos antigos engenhos de cana de a-car. Outra a produo de mel.

    Seu Joo Cordeiro, por exemplo, queantes tirava carvo, virou apicultor ehoje percorre as outras comunidadesdo serto ensinando o que aprendeu.

    Mexendo com abelha, nunca maisvoc vai querer saber de carvo. Nemvoc, nem ningum da sua famlia.Carvo morte. S de voc levar seufilho numa carvoeira, voc no estensinando a ele nada que presta.

    Problemas ambientais em Januria foramdestaque no programa Globo Rural

    Jornalistas Helen Martins e NelsonArajo, apresentadores do Globo Rural

  • Folha do Norte - Pg. 04 Januria-MG, 01 a 10 de dezembro de 2005

    Diga no corrupo

    No deixe que a corrupo faa parte da sua vida.Uma campanha Transparncia Brasil (www.transparencia.org.br ) e

    Associao dos Amigos de Januria - ASAJAN. Filie-se (38) 9104-8806.

    Desde Dom Pedro II, fala-seem desviar as guas do rio SoFrancisco para a regio semi-ri-da do Nordeste. Agora, um novoprojeto de transposio est emdebate. Nesta reportagem, leva-da ao ar domingo (20/11), no pro-grama Globo Rural, voc vai co-nhecer os argumentos de quem a favor e de quem contra atransposio e ver como um ou-tro grande projeto, o Pr-Vrze-as, dos anos 80, contribuiu paraa degradao do rio.

    No incio da dcada de 80,muitas veredas que formavam ascabeceiras de importantes aflu-entes do rio So Francisco foramdesmatadas, queimadas e drena-das com incentivo do governo fe-deral.

    Nascia assim mais um desas-troso projeto governamental da-quela poca, que ganhou o pom-poso nome de Pr-Vrzeas. O ob-jetivo era drenar as vrzeas parao plantio de lavouras. A meta se-ria produzir 20 milhes de tone-ladas de arroz irrigado por ano.

    Dez anos depois, os pionei-ros do Pr-Vrzeas anunciavama falncia do projeto. O custooperacional ficava muito alto pragente. Ns tnhamos que bom-bear a gua, mais da metade eraperdida. Fui obrigado a vendermetade das minhas terras parapoder saldar minhas dvidas.

    O segundo problema, piorainda, foi o desastre ambientalcausado pela drenagem das ve-redas, mudana de cursos de riose soterramento de milhares denascentes.

    O que antes era uma veredacheia de vida, com nascentesbrotando flor da terra, hoje um campo abandonado e seco.Os buritis esto morrendo e agua dos rios diminui cada vezmais.

    Hoje se fala muito na revita-lizao do rio So Francisco, mas preciso levar em consideraoque o que alimenta um granderio so as veredas, os crregos,as nascentes, que vo carrean-do as guas pro rio, alimentandoo rio So Francisco, disse Hud-son de Carvalho, superintenden-te do IEF.

    A morte das vrzeas provocouuma destruio em cascata. Agua que escorria delas alimen-tava centenas de lagoas espalha-das pela bacia do mdio SoFrancisco. Hoje esto quase to-das mortas. Por incrvel que pa-rea, a menos de 20 quilmetrosda margem do So Francisco, jexistem comunidades coletandogua da chuva para matar a sede. o que acontece na vila de Mo-cambinhos, que leva o nome doriacho que abastecia o local e quehoje est morto.

    Ele era um rio perene, corriao ano inteiro e se transformouem rio temporrio, que s recebegua de enxurrada. Pesqueiaqui. Isso era uma me que agente tinha aqui. Fiquei morren-do de medo quando a gua co-meou a baixar, quando eu vi elaacabando a cada dia, pensei como que faramos pra beber, comer,lavar roupa. Agora s tem umacacimbinha, disse o agricultorAntonio de Souza.

    Luciene de Souza mora a trsquilmetros do local. O GloboRural perguntou se l perto da

    sua casa tinha rio tambm comoesse.

    esse mesmo, mas s encon-tros gua aqui. Pego gua aquipra beber, cozinhar, lavar loua,pra fazer tudo.

    Nenhum dos trs netos do seuManoel conheceu o rio Mocam-binho. Lucas, quando nasceu,ainda tinha um pouquinho degua. Quando ele era pequeni-ninho a gente sentava ele nabeira da gua, mas ele no lem-bra, disse dona Ana de Souza.Lucas, nem imagina como era orio.

    Hoje so mais de 50 riachosmortos na regio de Januria,como o rio Mandins, que leva essenome porque tinha um enormecriatrio natural de uma espciede peixe.

    O produtor Jos Lira, disse oque representa para ele a mortede um rio desses. Como se fosseum ser humano, porque da guaque a gente sobrevivia, tomavabanho, pescava, meu cavalo be-bia, dava banho no meu cavalo,que a gente usava dentro de casa. como se fosse a morte de umparente, um filho. o sentimen-to nosso, disse seu Jos Lira.

    Foi para lembrar os rios mor-tos que o povo dos municpios deJanuria e Pedra de Maria daCruz reuniu-se na ponte que ligaos dois municpios, em outubro.Eles despejaram gua retiradados afluentes que esto agoni-zando na bacia do rio.

    Os manifestantes tambmdistriburam panfletos contra oprojeto de transposio do SoFrancisco. Ns queremos mos-trar que o rio So Francisco nopode ser transposto agora. Eleprecisa ser revitalizado, disse aagricultora Maria Jos Freitas.

    Durante o ato, os manifestan-tes leram a carta de dom Luiz Ca-ppio. O bispo pede que no sejafeita a transposio do rio SoFrancisco. A manifestao acon-teceu em outubro durante a gre-ve de fome do bispo dom Luiz Ca-ppio.

    Um dos temores da populaoque vive na bacia do So Fran-cisco que a gua, hoje escassa,no seja suficiente para matar asede, irrigar as terras e produzirenergia eltrica para Minas emais oito estados do Nordeste.

    Ainda est na memria de to-dos o apago de 2001, quando oreservatrio de Sobradinho bai-xou de 29 bilhes de metros c-bicos para apenas quatro, ope-rando com 6,5% de sua capaci-dade. Na poca, faltou gua eenergia para as lavouras, os ani-mais e o povo da regio.

    Um vilarejo no municpio deSento S, em Pernambuco, queficava na margem do lago, se dis-tanciou dez quilmetros da re-presa e a gua, antes farta, che-gou atravs de carros-pipa. De-sapareceu a nossa gua, disseuma moradora.

    No livro Os Descaminhos doSo Francisco, publicado esteano, o pesquisador Marco Ant-nio Coelho, do Instituto de Estu-dos Avanados da USP, tratadesse assunto. uma loucurase pegar essa gua, transport-la, inclusive gastando muitaenergia eltrica, a mais de 300quilmetros de distncia, reali-zando obras que custaro mui-

    to. H necessidade urgente deresolver problema dentro da pr-pria bacia.

    O projeto prev a captao de26 metros cbicos de gua porsegundo e a construo de doiscanais de concreto, que juntossomam 620 quilmetros comnove estaes de bombeamento.Uma delas elevaria a gua a 300metros de altura.

    O custo da obra estimadoem R$ 4,5 bilhes. Os canais se-riam construdos entre as hidre-ltricas de Sobradinho e PauloAfonso, em Pernambuco.

    O eixo norte, de 402 quilme-tros, captaria a gua no municpiode Cabrob e seguiria margeandoa divisa do Cear com a Paraba.Depois de entrar na Paraba, umade suas pontas entraria novamen-te no Cear e terminaria no audeCastanho. A outra ponta, entra-ria no Rio Grande do Norte paraabastecer a represa Engenheiro Ar-mando Ribeiro Gonalves, conhe-cida como Au.

    O eixo leste, previsto para ter220 quilmetros, sairia do munic-pio de Floresta, seguindo at oaude Epitcio Pessoa, na Paraba.

    A licena prvia concedidapelo Ibama ao projeto de trans-posio do rio So Francisco foisuspensa pela justia da Bahia.A deciso atende uma ao civilpblica que pede a realizao deestudos de impacto ambiental nabacia do rio e autorizao doCongresso Nacional antes da re-alizao da obra.

    O projeto enfrenta ainda aoposio do Comit Hidrogrficoda Bacia do So Francisco, quepela lei das guas, teria que apro-var o plano diretor do rio.

    Sobre esse assunto, o GloboRural conversou com Apolo He-ringer, um dos fundadores do co-mit.

    Globo Rural - Porque o co-mit contra a transposio? Ocomit deliberou, com a partici-pao de todos os estados, mi-nistrios, empresrios e ONGs

    que o uso prioritrio da gua queexiste ainda para alocar, deveriaser atividade econmica dentroda prpria bacia. A transposiovisa atividades econmicas forada bacia, ento isso temerrio,porque nos prximos anos, a ten-dncia faltar gua aqui e o rioest morrendo. Ento voc nopode garantir a longo prazo guapara atividades econmicas forada bacia. Voc tem que assegu-rar o desenvolvimento econmi-co da prpria bacia do So Fran-cisco, que atinge inclusive esta-dos do Nordeste, como a Bahia,Pernambuco, Sergipe, Alagoas.

    No governo, quem est bata-lhando pela aprovao do proje-to o ministro da Integrao Na-cional. Ciro Gomes. O Globo Ru-ral tambm o entrevistou.

    Globo Rural - O rio So Fran-cisco um rio doente. Se for com-parar com o ser humano, seriaum ser humano que precisa detransfuso, no de doar sangue.O senhor no concorda? No, dejeito nenhum. Esse um argu-mento, desculpe, picareta. Achance verdadeira do rio agoraentrar num processo srio de re-vitalizao essa, porque ns in-clusive assumimos o projeto, as-sumimos o plano, com compro-misso institucionalizado de apli-

    car ali R$ 6 bilhes. E avana-mos, por impertinncia tcnico-poltica, que se ultrapassa pelomrito do projeto, com a concor-dncia do presidente Lula, que vincular recursos da Unio aoprograma por 20 anos para con-tinuar a revitalizao. Ou a gen-te faz o acordo agora ou menti-ra que algum de fato quer verrevitalizado o rio So Francisco.A chance essa.

    Todo dia quatro de outubro,dia de So Francisco de Assis, apopulao ribeirinha comemoraa data do padroeiro do rio. Esteano, o Sesc e a colnia de pesca-dores de Januria e Pedra deMaria da Cruz, fizeram uma cole-ta de lixo no leito do So Fran-cisco. Em apenas duas horas,juntaram uma montanha de de-tritos.

    A coleta fez parte da soleni-dade em comemorao ao ani-versrio do rio. A festa teve tam-bm uma procisso, cujo pontoalto foi o encontro das imagensde So Pedro, padroeiro dos pes-cadores, e So Francisco de As-sis, o patrono do rio.

    A ao civil pblica contra alicena do Ibama para a obra detransposio do rio So Francis-co ser julgada pelo SupremoTribunal Federal.

    Preservao do rio So Francisco, para geraes atual e futura, corre risco ante a mais um projetogovernamental megalomanaco. Na foto, enorme banco de areia, prximo a Pedras de Maria da Cruz.

    Globo Rural mostra degradao de veredasProblema apontado como uma das causas da morte do rio So Francisco

    FOTO: FELIPE GABRICH

    Um dos deveres mais importantes do cidado acompanhar e fiscalizar os governantes que elege. ficar atento para que esses governantes no destruam oseu futuro. No funo do governo impedir que oscidados se corrompam. funo do cidado impedirque o governo seja corrompido.

  • Folha do Norte - Pg. 05Januria-MG, 01 a 10 de dezembro de 2005

    Mortandade de peixes ameaa o Velho ChicoCentenas de peixes mortos esto descendo o rio So

    Francisco, todos os dias. Alguns espcimes, chegam a pe-sar mais de 50 quilos. So surubins, traras, mandins, curi-mats e outros que poderiam servir de alimento para ospovos ribeirinhos, mas no servem para mais nada. Quemso os responsveis pela mortandade dos peixes, os pesca-dores ainda no sabem. Mas a causa do problema conhe-cida de todos eles, a poluio. Eles tambm sabem que oproblema comea a ocorrer jusante de Pirapora. Os mora-

    dores daquela cidade j se acostumaram a ver os peixesboiando, descendo as pequenas cachoeiras que existemno rio, bem em frente cidade.

    Valdir dos Anjos Silva, pescador que h mais de vinteanos complementa o sustento da famlia com os peixesque pesca no So Francisco, prximo a Pedras de Maria daCruz, no se conforma. "Agora poca de piracema. Se agente pegar um peixe, os fiscais do Ibama e a Polcia Flores-tal multam a gente, tomam a nossa tralha e tudo. Mas

    ningum faz nada com as empresas que esto jogandopoluio no rio e matando milhares de peixes de uma vez.E no so apenas indstrias. A Copasa tambm joga todo oesgoto que recolhe das cidades no rio So Francisco ou emseus afluentes. Ningum incomoda esse pessoal, mas nosaem do p dos pescadores", desabafou.

    Para ele, duas frase resumem a atual situao do rio: "orio So Francisco j acabou. As autoridades que aindano perceberam isso".

  • Folha do Norte - Pg. 06 Januria-MG, 01 a 10 de novembro de 2005

    Unimontes anuncia benefcios para campus de JanuriaA Universidade Estadual de

    Montes Claros (Unimontes),anunciou tera-feira (29/11) aadoo de novas medidas nosentido de atender demandasdos professores, servidorestcnico-administrativos e aca-dmicos do campus que man-tm em Januria. O objetivo assegurar o satisfatrio desen-volvimento das atividades deensino, pesquisa e extenso.A direo da universidademanteve encontro com o pre-feito Joo Ferreira Lima, quan-do foram discutidas estratgi-as para estreitamento das re-laes institucionais entre omunicpio e a Unimontes, fi-cando acertada, na oportuni-dade, a celebrao de novo con-vnio.

    Durante a visita dos direto-res da Unimontes cidade,entre eles a vice-reitora, pro-fessora Tnia Marta Maia Fia-lho, eles aproveitaram parainspecionar, tambm, as obrasque esto sendo executadas nocampus, como a implantaodo laboratrio de Fisiologia econstruo de quadra polies-portiva (para atender professo-res e acadmicos do Curso deEducao Fsica), alm daconstruo de Escola de M-sica, para a qual grande partedos recursos investidos foi as-segurada atravs de emendasde autoria do deputado federalCleuber Carneiro (PTB).

    FOTO: RENATO LOPES - ASCOM DA UNIMONTES

    Direo da Unimontes esteve reunida com a comunidade acadmica de Januria, tera (29/11), durantevisita ao campus local, e prometeu novos benefcios para estudantes e professores.

    O campus da Unimontes emJanuria, o primeiro implan-tado na regio, comeou a fun-cionar em fevereiro de 1995 e,atualmente, oferece os cursosregulares de graduao de Le-tras/Ingls, Letras/Portugus,Educao Fsica (Licenciatura),Normal Superior (Magistriodas Sries Iniciais e Magist-rio em Educao Infantil) e Pe-dagogia, com o total de 376 alu-nos matriculados. A coordena-dora do campus a professoraRoselles Magalhes Felcio.

    NOVOS BENEFCIOS - AUnimontes assegurou que, at28 de fevereiro do prximoano, estar sendo implantadamoderna sala de multimeiostotalmente equipada e estarosendo, ainda, disponibilizadosnovos computadores, tantopara facilitar o acesso inter-net junto Biblioteca Setorial,como para atender exclusiva-mente os professores. Seroadquiridos, tambm, novosaparelhos retro-projetores paraatividades de ensino e o audi-trio do campus ser totalmen-te equipado.

    Durante encontro com pro-fessores e acadmicos, a dire-o da Unimontes confirmouo propsito de, nos prximosmeses, serem desencadeadasnaquele campus diversas aessob a coordenao das pr-rei-torias de Extenso e de Pes-quisa.

  • Folha do Norte - Pg. 07

    Diga no corrupo

    No deixe que a corrupo faa parte da sua vida.Uma campanha Transparncia Brasil (www.transparencia.org.br ) e

    Associao dos Amigos de Januria - ASAJAN. Filie-se (38) 9104-8806.

    O Brasil tem uma das melhores legislaes paraconcorrncias de todo o mundo. O problema que nemtodos obedecem lei. No deixe que ladres tomem contadas compras e obras importantes para a sua comunidade.Acompanhe os processos de concorncia no seu municpio.Se cada um fizer a sua parte, quem ganha a sua cidade.

    Januria-MG, 01 a 10 de dezembro de 2005

    Marco civilizatrio do Norte de Minas - e deMinas -, com 317 anos e 300 quilos, pode ter

    virado borra de cobre a 4 reais o quilo .Asajan oferece R$ 1 mil de recompensa.

    Polcia sem pistas de quem roubou o sino

    Foi roubado o sino de 300 kg da Igrejade Nossa Senhora do Rosrio, uma dasmais antigas igrejas de Minas, constru-da em 1688 no distrito de Brejo do Am-paro, antigo Brejo do Salgado, em Ja-nuria. Apesar do peso, o sino foi rou-bado sem que ningum percebesse. Noh pista sobre os ladres ou seu para-deiro. Fizemos diligncias em ferros-velhos e em outros locais. Mas, at ago-ra, no encontramos nenhum vestgiodo sino, informa, desolado, um polici-al de Januria. O sino teria sido rouba-do ainda no final de outubro, mas so-mente 15 dias depois o seu desapareci-mento foi percebido pelos moradores edenunciado policia, o que atrasou asinvestigaes. Por causa da demora, osino, que feito de cobre, j pode tersido derretido. O material vendidopara ferro-velho, a preos que variamentre 4 e 5 reais o quilo. Aps o roubo,a prefeitura de Januria colocou vigi-lncia permanente na igreja, que ha-

    vida como a segunda mais velha de Mi-nas. No local, perto do Brejo do Ampa-ro, existiu um quilombo pastoreado porjesutas no Sculo 17. A igrejinha agoranovamente vilipendiada por ladres um dos marcos civilizatrios do Nortede Minas, e tambm da prpria MinasGerais, embora esteja praticamenteabandonada. O templo roubado tem pro-pores mdias, com um coro no fundoe tribuna, esquerda, cercada com guar-da-corpo, em ripas trabalhadas; o piso trabalhado em campas de madeira e anave possui dois altares, a capela-more forro pintado com motivos religiosose imagem de Nossa Senhora do Ros-rio, em estilo rococ. No piso, h se-pulturas de 300 anos. Ali perto, no Brejodo Amparo e principalmente na locali-dade chamada de Stio, est a melhorcachaa fabricada no Brasil.

    Nas fotos menores, a tribuna comguarda-corpo, a pintura de Nossa Se-nhora do Rosrio e o altar mor.

    A Associao dos Amigos de Janu-ria (Asajan), est oferecendo R$ 1 milde recompensa para quem der informa-es que levem captura dos ladres e recuperao do sino. O dinheiro sercoletado junto comunidade e empre-sas locais. As informaes podem serencaminhadas por carta, correio eletr-nico ou por telefone para a Asajan (RuaProf. Aurlio Caciquinho n. 130, Cen-tro, em Januria-MG, telefone (38)3083-0095), ou para o seguinte ende-reo eletrnico: [email protected].

    Praticamente abandonada, a Igreja de Nossa Senhora do Rosrio se deteriora rapidamente.

    PAULO NARCISO

    FOTOS: RDIO MONTES CLAROS 98,9 FM

    Copasa condenada a pagar R$ 12 mil deindenizao a consumidora januarense

    Uma consumidora, natu-ral de Januria, mas queatualmente mora em Mon-tes Claros, dever receberR$ 12 mil - o equivalente a40 salrios mnimos - de in-denizao por danos mo-rais, a serem pagos pela Co-pasa. A sentena do juizRichardson Xavier Brant, da2 Vara de Fazenda Pblicada Comarca de Montes Cla-ros.

    A beneficiria da decisojudicial a funcionria p-blica Juscelina Maria deCarvalho Oliva, que traba-lha como auxiliar de secre-taria na Escola Estadual Del-fino Magalhes, em MontesClaros. Ela promoveu a aocontra a Copasa por incon-formar-se com a excessivademora na ligao do padrode gua de um imvel situ-ado no bairro Santo Ant-nio II, naquela cidade.

    O pedido de ligao foifeito em 01-02-2005 e at15-04-2005 ainda no ha-via sido atendido pela Co-pasa, o que s aconteceuaps a concesso de uma li-minar da Justia, no dia 19-04-2005. Depois de remar-car por duas vezes a data

    para ligao do padro degua do imvel rede p-blica de abastecimento, aCopasa acabou alegandoque haviam vencido todosos seus convnios com asempreiteiras terceirizadas,encarregadas da realizaodeste tipo de servio. A con-sumidora foi aconselhada aaguardar que os convniosfossem renovados, para quepudesse ser atendida.

    Inconformada, a consu-midora, fez valer o Cdigo deDefesa do Consumidor e oEstatuto do Idoso, que lhe

    assegura tratamento dife-renciado e preferencial, porter mais de 60 anos de ida-de.

    Para o juiz, ficaram ca-racterizados os danos mo-rais alegados pela consumi-dora. Da deciso ainda caberecurso da Copasa para oTribunal de Justia de Mi-nas Gerais (TJMG). Mas orecursos foi recebido pelojuiz apenas com efeito de-volutivo e no suspensivo,o que permite consumi-dora fazer a execuo pro-visria da sentena.

  • Folha do Norte - Pg. 08 Januria-MG, 01 a 10 de dezembro de 2005

    Contemplando inicialmente um gru-po de 60 adolescentes em situao derisco social, o Servio Nacional deAprendizagem Rural (Senar) de MinasGerais, em parceria com a Secretariade Estado de Desenvolvimento Econ-mico e Social (Sedese), est desenvol-vendo um trabalho pioneiro em Janu-ria, regio norte do Estado. O objetivo garantir a profissionalizao de jo-vens, a maioria deles meninas comidade entre 14 e 19 anos. O trabalhofoi iniciado em julho deste ano, poriniciativa da psicloga Geane MunizCastro, que at pouco tempo prestavaservios Secretaria Municipal de AoSocial.

    Diante da falta de instituies queprestem assistncia aos menores emsituao de risco, a psicloga decidiuprocurar o apoio do secretrio-adjuntode Desenvolvimento Social, Joo Ba-tista Oliveira, para a implementao deum programa de liberdade assistida dejovens no municpio.

    Segundo a psicloga, o problema emJanuria bastante grave, visto que,em mdia, mensalmente, dois adoles-centes so vtimas de assassinatos porenvolvimento com marginais, sobretu-do com traficantes. At o final do anopassado, a Secretaria Municipal de AoSocial tinha um cadastro de 170 ado-lescentes que j cometeram atos infra-cionais no municpio, sendo que des-se total 44 eram reincidentes.

    "Januria est gritando por socor-ro. preciso que a sociedade faa al-guma coisa para reverter esta situaoe no fique apenas esperando o poderpblico agir, o que nem sempre acon-tece. Cada um de ns deve fazer algo,pois a prpria omisso da sociedadeacaba sendo tambm responsvel porinduzir muitas crianas e adolescen-tes para a criminalidade. Isso porque,

    como pode ser verificado em Januria,todos os jovens em situao de riscoso integrantes de famlias de baixopoder aquisitivo e nunca tiveram aces-so a programas de integrao social" -explica a psicloga.

    Mesmo enfrentando uma srie dedificuldades para dar continuidade aotrabalho iniciado neste ano, uma vezque no conta com nenhum apoio deinstituies pblicas locais, GeaneCastro diz estar otimista. "De um jeitoou de outro vou trabalhar para conti-nuar desenvolvendo as atividades por-que os prprios adolescentes esto an-siosos para que o programa continue" -assinala. Segundo ela, foi atravs doscursos ministrados pelo Senar Minas,com o apoio da Sedese, que muitos ado-lescentes e jovens conseguiram tirar acarteira de trabalho e esto esperano-sos de que venham a ter uma oportuni-dade de ingressar no mercado de tra-balho.

    Na opinio da psicloga, a iniciati-va da Sedese em firmar parceria com oSenar Minas foi muito importante por-que os cursos profissionalizantes, mi-nistrados por instrutores experientes,despertam jovens para uma serie depotencialidades que eles nunca havi-am percebido em si mesmos.

    S nos quatro primeiros meses deimplementao do programa em Janu-ria, o Senar Minas realizou cinco cur-sos profissionalizantes, envolvendomais de 60 adolescentes. Os cursosministrados foram nas reas de avicul-tura bsica; corte e costura; cestaria;pintura em tecidos e olericultura. Ainiciativa despertou o interesse de ou-tras comunidades em terem acesso aoprograma, tanto que j esto sendodemandados outros seis treinamentospara serem realizados em Januria eno municpio vizinho de Itacarambi.

    Parceria do Senar e Sedese ajuda a resgatarjovens em situao de risco em Januria

    O juiz Cssio Azevedo Fontenelle, inovando o Poder Judicirio

    Maria das Graas de Almeida Borges, 30 anos dedicados produo rural, e o grupode adolescentes beneficiado com os cursos do Senar/Sedese.

    A psicloga Geane Muniz Castro: Esforo reconhecido na luta, sem apoio local, pararesgatar adolescentes em situao de risco social.

    FOTOS: PEDRO RICARDO

    "Estou no terceiro ano do ensino mdio eo meu sonho fazer o curso superior depedagogia. Tenho 18 anos, trs irmos e gosteimuito dos cursos de avicultura e de artesa-nato. Acho que a iniciativa foi importante por-que, como moramos na zona rural, nem sem-pre temos acesso a oportunidades paraaprendermos coisas novas. Os cursos doSenar trazem uma nova expectativa de me-lhoria para ns, jovens, que nunca tnhamosuma oportunidade como a que nos foi dada".

    O depoimento da jovem Ivoneide deSouza Jos, moradora da comunidade deTejuco, na zona rural de Januria. Assim comoIvoneide, outras jovens estudantes da Esco-la Estadual da Rua So Jos destacam a im-portncia da parceria entre o Senar Minas ea Sedese, na profissionalizao de jovensque se encontram em situao de risco.

    Ana Cludia dos Santos, de 17 anos,compartilha com Ivoneide a opinio sobre aimportncia dos cursos do Senar. Ela, que filha de produtores rurais e est no segundoano do ensino mdio, revela que j comeoua colocar em prtica o que aprendeu no cur-so de avicultura bsica ministrado recente-mente na comunidade rural de Tejuco.

    Outra que tambm est otimista com asnovas perspectivas e com a interiorizao doprograma de assistncia aos jovens em situ-ao de risco Marilene Ferreira Carvalho,de 16 anos. "Aprendi vrias coisas impor-tantes e j estou comeando a produzir vri-as peas de artesanato. Espero que os traba-lhos tenham continuidade" - frisa, ressal-tando que pretende participar de outros cur-sos que a Sedese e o Senar Minas venham arealizar na regio de Januria.

    As estudantes Valdenize Ramos da Silva,de 19 anos, e Rosiane Costa Cardoso, de 17,tambm destacam a importncia dos cursos

    Jovens atestam a importnciada parceria Senar/Sedese

    porque os instrutores ensinam, na prtica,como aproveitar melhor as matrias primasexistentes na regio. Foi o caso, por exem-plo, do curso de artesanato do qual Valdeni-ce e Rosiane participaram. Atualmente elasj esto produzindo vrias peas de borda-dos, pintura em tecidos e arranjos floraisque, neste caso, tm como matrias-primasprincipais a fava danta e diversos tipos desementes facilmente encontradas na regio.As peas so vendidas entre R$ 15,00 e R$25,00 e, segundo Risane Costa, o dinheiroque elas comeam a ganhar caba sendo umaimportante ajuda no complemento da rendafamiliar.

    Mesmo direcionado a jovens em situaode risco, os cursos ministrados pelo SenarMinas em parceria com a Sedese tambmacabam contribuindo para adultos atualiza-rem seus conhecimentos e incrementarem arenda familiar. o caso, por exemplo, dasenhora Maria das Graas de Almeida Bor-ges, que recentemente participou de um cursode apicultura ministrado pelo Senar. Ela, queobteve o melhor desempenho da turma, con-sidera que o trabalho do Senar de levar oconhecimento para as comunidades ruraismais carentes do Estado de fundamentalimportncia para contribuir para os peque-nos produtores rurais aproveitarem melhoras potencialidades de cada regio.

    H mais de 30 anos trabalhando comoprodutora rural, Maria das Graas est oti-mista com a produo de mel que pretendeiniciar neste final de ano, a partir do cursoministrado pelo Senar Minas. Juntamentecom um grupo de colegas ela ter o apoio daCritas, uma instituio ligada Igreja Cat-lica que est ajudando os agricultores a ad-quirir os equipamentos necessrios para oingresso na produo de mel.