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R R E E D D A A Ç Ç Ã Ã O O Laerte. Folha de S.Paulo, 10 de junho de 2014. Declaração de Chapultepec (Redigida em 1994, por 100 especialistas, a pedido da Sociedade Interamericana de Imprensa (SIP), foi assinada pelo Presidente Fernando Henrique Cardoso, em 1996, e pelo Presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em 2006. Seu assunto é a liberdade de expressão e de imprensa.) Uma imprensa livre é condição fundamental para que as sociedades resolvam seus conflitos, promovam o bem- estar e protejam sua liberdade. Não deve existir nenhuma lei ou ato de poder que restrinja a liberdade de expressão ou de imprensa, seja qual for o meio de comunicação. Porque temos consciência dessa realidade e a sentimos com profunda convicção, firmemente comprometidos com a liberdade, subscrevemos esta declaração. ––––––––––––––––––––––––––––––––– Quando lhe convém, a imprensa se denomina o quarto poder. E todo poder deve ser regulado pela sociedade, por meio de lei. Imagine-se o poder financeiro sem regulação, o poder político sem fiscalização. E até o poder religioso: de repente surge uma religião que permite sacrifícios humanos. E o único poder em que não se pode tocar é o midiático? Temos que superar esses tabus. Rafael Correa, Presidente da República do Equador. Folha de S.Paulo, 23 de julho 2014. É preciso tratar de compreender esse discurso, que agora se torna raivoso, de uma direita que está presente no espaço público e nos estádios de futebol e já disputa as eleições, com as armas que tem. (...) Seu maior poder é o controle da mídia. É por meio dela que a direita disputa a opinião pública e impõe sua visão de mundo. Sílvio C. Bava, Le Monde diplomatique Brasil, Ano 7, Número 84, julho de 2014. Adaptado. ––––––––––––––––––––––––––––––––– Apesar de já exercer um grande controle ideológico sobre o conteúdo dos meios de comunicação, a esquerda quer asfixiá-los economicamente, consolidando o sonhado controle totalitário da imprensa. José M. e Silva, Jornal Opção. F F G G V V - - D D I I R R E E I I T T O O 1 1 ª ª F F A A S S E E - - 1 1 º º D D I I A A - - N N O O V V E E M M B B R R O O / / 2 2 0 0 1 1 4 4

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RREEDDAAÇÇÃÃOO

Laerte. Folha de S.Paulo, 10 de junho de 2014.

Declaração de Chapultepec

(Redigida em 1994, por 100 especialistas, a pedido daSociedade Interamericana de Imprensa (SIP), foi assinadapelo Presidente Fernando Henrique Cardoso, em 1996, epelo Presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em 2006. Seuassunto é a liberdade de expressão e de imprensa.)

Uma imprensa livre é condição fundamental para queas sociedades resolvam seus conflitos, promovam o bem-estar e protejam sua liberdade. Não deve existir nenhumalei ou ato de poder que restrinja a liberdade de expressãoou de imprensa, seja qual for o meio de comunicação.Porque temos consciência dessa realidade e a sentimoscom profunda convicção, firmemente comprometidos coma liberdade, subscrevemos esta declaração.

–––––––––––––––––––––––––––––––––Quando lhe convém, a imprensa se denomina o quarto

poder. E todo poder deve ser regulado pela sociedade, pormeio de lei. Imagine-se o poder financeiro sem regulação,o poder político sem fiscalização. E até o poder religioso:de repente surge uma religião que permite sacrifícioshumanos. E o único poder em que não se pode tocar é omidiático? Temos que superar esses tabus.

Rafael Correa, Presidente da República do Equador.

Folha de S.Paulo, 23 de julho 2014.

É preciso tratar de compreender esse discurso, queagora se torna raivoso, de uma direita que está presenteno espaço público e nos estádios de futebol e já disputaas eleições, com as armas que tem. (...) Seu maior poderé o controle da mídia. É por meio dela que a direitadisputa a opinião pública e impõe sua visão de mundo.

Sílvio C. Bava, Le Monde diplomatique Brasil, Ano 7,

Número 84, julho de 2014. Adaptado.

–––––––––––––––––––––––––––––––––Apesar de já exercer um grande controle ideológico

sobre o conteúdo dos meios de comunicação, a esquerdaquer asfixiá-los economicamente, consolidando osonhado controle totalitário da imprensa.

José M. e Silva, Jornal Opção.

FFGGVV -- DD IIRREE II TTOO —— 11ªª FFAASSEE -- 11ºº DDIIAA -- NNOOVVEEMMBBRROO//22001144

Os textos acima apresentam, de maneira enfática,diferentes opiniões sobre a questão da regulação daimprensa em sociedades democráticas. Tendo em vista assugestões neles contidas, redija uma dissertação em prosa,na qual você exponha o seu ponto de vista sobre o temaImprensa e democracia: a regulação da imprensa nassociedades democráticas.

Comentários à Proposta de RedaçãoPropôs-se a elaboração de uma dissertação em prosa,na qual o candidato expusesse seu ponto de vista sobreo tema “Imprensa e democracia: a regulação daimprensa nas sociedades democráticas”.

Ofereceram-se, como base para reflexão, cinco textos:no primeiro, uma personagem de charge do cartunistaLaerte fazia um questionamento sobre o controle daimprensa; o segundo texto trazia um trecho da Decla -ração de Chapultepec, assinada pelos ex-presidentesFernando Henrique Cardoso e Luiz Inácio Lula daSilva, na qual se defendia “a liberdade de expressãoou de imprensa, seja qual for o meio de comunicação”.O terceiro texto continha uma declaração dopresidente equatoriano Rafael Correa, afirmando anecessidade de fiscalização governamental sobre aimprensa, que, como “quarto poder”, deveria ser“regulado pela sociedade, por meio de lei”. O quartotexto, extraído do periódico Le Monde diplomatiqueBrasil, denunciava o uso da mídia, por parte da“direita”, para impor a própria visão de mundo. Noúltimo texto, a denúncia voltava-se contra a “esquer -da”, em seu afã de exercer um “grande controle ideo -lógico sobre o conteúdo dos meios de comunicação”.

O candidato deveria selecionar, entre os textosapresentados, as ideias e informações com as quais seidentificasse, a fim de defender um posicionamentosobre a necessidade ou não de regulação da imprensa.Para tanto, o candidato deveria refletir sobre os pila -res que sustentam a democracia, sendo um deles aliber dade de expressão, refletida inclusive na liberda -de de imprensa. A partir daí, caberia questionar o queestaria por trás do discurso de governos simpáticos aototalitarismo que defendem veementemente o controleestatal da mídia, alegando estarem protegendo asociedade de possíveis manipulações.

O candidato poderia também reconhecer eventuaisexcessos por parte de alguns veículos da mídia, que sevalem impunemente de expedientes antiéticos, recor -ren do a mentiras, sensacionalismo e destruição dereputações, o que representaria um prejuízo à socie -dade, já que deturparia o sentido de liberdadeessencial em regimes democráticos.

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Seria apropriado propor medidas de autorregulamen -tação da imprensa, bem como formas de controle quepartissem da própria sociedade civil. Assim, seriapossível assegurar a liberdade de expressão e deimprensa.

Outro aspecto da questão envolveria um marcoregulatório da imprensa que se referisse a aspectoseconômicos da atividade, como a proibição da posseconcomitante, por uma mesma pessoa ou grupo, demeios variados de difusão de notícias, como mídiaimpressa, tv e rádio. Tal regulamentação de naturezaeconômica, destinada a limitar a influência de pessoasou grupos nas atividades de informação, é adotada emdiversos países democráticos e não se confunde comcontrole de conteúdo, mas pode ser utilizada para talpor governos desejosos de acuar a imprensa, como sevê em vários exemplos do mundo atual (Argentina eVenezuela, que servem de modelos para a pretensãodo presidente equatoriano – para ficar só na AméricaLatina).

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PPOORRTTUUGGUUÊÊSSTexto para as questões 1 e 2. Este texto será usadotambém para as questões 3, 4 e 5, para efeito decomparação.

Texto I

QUAL O PODER DA LEITURA NESTES TEMPOS DIFÍCEIS?

Hoje, é possível dizer que o mundo inteiro é um“espaço em crise”. Uma crise se estabelece de fatoquando transformações de caráter brutal – mesmo sepreparadas há tempos –, ou ainda uma violência perma -nente e generalizada, tornam extensamente inoperantesos modos de regulamentação, sociais e psíquicos, que atéentão estavam sendo praticados. Ora, a aceleração dastransformações, o crescimento das desigualdades, dasdisparidades, a extensão das migrações alteraram oufizeram desaparecer os parâmetros nos quais a vida sedesenvolvia, vulnerabilizando homens, mulheres ecrianças, de maneira obviamente bastante distinta, deacordo com os recursos materiais, culturais, afetivos deque dispõem e segundo o lugar onde vivem.

Para boa parte deles, no entanto, tais crises semanifestam em transtornos semelhantes. Vividas comorupturas, ainda mais quando são acompanhadas daseparação dos próximos, da perda da casa ou daspaisagens familiares, as crises os confinam em um tempoimediato – sem projeto, sem futuro –, em um espaço semlinha de fuga. Despertam feridas antigas, reativam o medodo abandono, abalam o sentimento de continuidade de sie a autoestima. Provocam, às vezes, uma perda total desentido, mas podem igualmente estimular a criativi da de ea inventividade, contribuindo para que outros equilíbriossejam forjados, pois em nosso psiquismo, como disse RenéKaës, uma “crise libera, ao mesmo tempo, forças de mortee forças de regeneração”. “O de sas tre ou a crise sãotambém, e sobretudo, oportuni dades”, escreveramChamoiseau e Glissant, após a passagem de um ciclone.“Quando tudo desmorona ou se vê transformado, sãotambém os rigores ou as impossibi lidades que se veemtransformados. São os improváveis que, de repente, seveem esculpidos por novas luzes”.

A leitura pode garantir essas forças de vida? O queesperar dela – sem vãs ilusões – em lugares onde a criseé particularmente intensa, seja em contextos de guerraou de repetidas violências, de deslocamentos depopulações mais ou menos forçados, ou de vertiginosasrecessões econômicas?

Em tais contextos, crianças, adolescentes e adultospoderiam redescobrir o papel dessa atividade nareconstrução de si mesmos e, além disso, a contribuiçãoúnica da literatura e da arte para a atividade psíquica.Para a vida, em suma.

Michèle Petit, A arte de ler ou como resistir à adversidade.

São Paulo: ed. 34, 2009.

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Questão 1Responda ao que se pede:a) Você concorda com a autora quando, no último

parágrafo, ela se refere à “contribuição única daliteratura para a atividade psíquica”, “para a vida, emsuma”? Em que consiste essa contribuição? Justifiquecom base em sua experiência de leitor.

b) Reescreva o trecho “de acordo com os recursosmateriais, culturais, afetivos de que dispõem esegundo o lugar onde vivem”, substituindo o que estásublinhado por sinônimos e, se for o caso, fazendo astransformações necessárias, de tal forma que osentido não se altere e a correção se preserve.

Resoluçãoa) Sim, a literatura é uma fonte única para

enriquecimento da “atividade psíquica”. Nossoconhecimento da vida, do psiquismo alheio e donosso próprio são grandemente moldados pelaficção, ou seja, por representações da vida comque tomamos contato desde o berço, nas históriasque nos contam, e ao longo da vida, nos filmes,novelas televisivas e outros produtos da indústriacultural, inclusive relatos jornalísticos e tantasformas onipresentes de representação daexperiência que nos chegam. Mesmo games sãoformas de representação da vida. As formassupremas de ficção, porém, não se encontram – ourarissimamente podem encontrar-se – nos gênerosmencionados, que em geral são modalidadespobres, acríticas, estereotipadas ou mesmodegradadas de ficção (degradadas especialmentepor motivos ideológicos). Na leitura de obrasliterárias de qualidade, ao contrário, o poder daarte da linguagem e da imaginação criativa sãoinstrumentos para a revelação de aspectosprofundos da vida, de nós mesmos e dos outros.Experimentos recentes conduzidos em umauniversidade norte-americana e outra europeiademonstraram que leitores de ficção literária, emcomparação com pessoas jejunas de literatura, sãonotavelmente mais capazes de empatia com osoutros, o que é um trunfo importante não apenaspara a vida social, mas também para oentendimento de si.

b) ... de acordo com os recursos materiais, culturais,afetivos que possuem (de que podem utilizar-se) econforme (consoante) o lugar onde vivem.

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Questão 2Após analisar os seguintes comentários sobre duaspassagens do texto, responda se eles são pertinentes ounão, justificando sua resposta.a) Ao empregar, no final do primeiro parágrafo, o

advérbio “obviamente”, a autora pretende dizer que a“vulnerabilização”, tal como ela ocorre, dispensacomprovação.

b) A expressão “sem vãs ilusões”, no penúltimoparágrafo, tem a finalidade de relativizar a ideia do“poder da leitura nestes tempos difíceis”.

Resoluçãoa) Não, pois “obviamente“, no texto, significa que é

evidente o fato de que a “vulnerabilização” se dáde formas distintas, dependendo dos “recursosmateriais, culturais e afetivos” com que possamcontar as suas vítimas, assim como do “lugar ondevivem”.

b) Sim, pois a expressão “sem vãs ilusões” chama aatenção para o fato de que o poder da leitura nassituações catastróficas mencionadas é imenso eprofundo, tal como se esclarece no últimoparágrafo; da leitura, porém, não se devemesperar efeitos (materiais, por exemplo) que nãosão compatíveis com a sua natureza de atividademental ou, se se quiser, espiritual.

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Questão 3Leia o seguinte texto.

Texto II

Paradoxalmente, o caos em que a humanidade correo risco de mergulhar traz em seu bojo sua própria eúltima oportunidade. Por quê? Para começar, porque aproximidade do perigo favorece as instâncias de cons -cien tização, que podem então multiplicar-se, ampliar-see fazer surgir uma grande política de salvação do mundo.E, sobretudo, pela seguinte razão: quando um sistema éincapaz de resolver seus problemas vitais, ou ele sedesintegra, ou é capaz, dentro de sua própria desintegra -ção, de metamorfosear-se num metassistema mais rico,capaz de buscar soluções para esses problemas.

Edgar Morin, http://www.comitepaz.org.br

a) Apesar do texto acima abordar um tema genérico e otexto I, um tema mais específico, é possívelidentificar no conteúdo de ambos alguma ideiacomum? Justifique sua resposta.

b) Sem provocar alterações no sentido do texto, quesinônimos poderiam substituir, respectivamente, aspalavras “Paradoxalmente” (início do texto) e“metamorfosear-se” (final do texto)?

Resoluçãoa) O texto II refere-se ao “caos em que a humanidade

corre o risco de mergulhar”; o texto I refere-se ao“mundo inteiro” como um “espaço em crise”,enumerando situações em que “transformações decaráter brutal” ou “violência permanente” criamsituações caóticas em vários âmbitos da vida sociale psíquica. Mas, apesar da diferença de grau degeneralidade entre os dois textos, é possíveldiscernir neles um tema comum na ideia de que aprópria crise ou o risco de caos (também umasituação de crise) podem propiciar a “regene ra -ção” individual (texto I) ou “uma grande políticade salvação do mundo” (texto II). Em ambos ostextos, portanto, apesar dos níveis diversos dereferência, a crise é associada à oportunidade desua superação.

b) Paradoxalmente = contraditoriamente (ou deforma aparentemente contraditória); metamorfo -sear-se = transformar-se.

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Texto para as questões 4 e 5

Texto III

O que diz o vento (07/10/1991)

Para o Brasil chegar afinal ao Primeiro Mundo sófalta vulcão. Uns abalozinhos já têm havido por aí, ecada vez mais frequentes. Agora passa por Itu essevendaval, com tantas vítimas e tantos prejuízos a lastimar.Alguns jornais não tiveram dúvida: ciclone. Ou tornado,quem sabe.

Shelley que me desculpe, mas vento me dá nosnervos. Desarruma a gente por dentro. Mas, em matériade vento, poeta tem imunidades. Manuel Bandeiraassociou à canção do vento a canção da sua vida. Ovento varria as luzes, as músicas, os aromas. E a sua vidaficava cada vez mais cheia de aromas, de estrelas, decânticos.

Fúria dos elementos, símbolo da instabilidade, ovento é ao mesmo tempo sopro de vida. Uma aragemacompanha sempre os anjos. E foi o vento que fez descersobre os apóstolos as línguas de fogo do Espírito Santo.Destruidor e salvador, com o vento renasce a vida, diz a“Ode to the West Wind”, de Shelley. No inverno só umpoeta romântico entrevê o início da primavera.Divindade para os gregos, o vento inquieta porquesacode a apatia e a estagnação.

Com esse poder de levar embora, suponhamos queuma lufada varresse o Brasil, como na canção do ManuelBandeira. Que é que esse vento benfazejo devia levarembora? Todo mundo sabe o mundo de males que nosoprime nesta hora. Deviam ser varridos para sempre. Sevento leva e traz, se vento é mudança, não custa acreditarque, passada a tempestade, vem a bonança. E com ela, osopro renovador — garante o poeta. A casa destelhada,a destruição já começou. Vem aí a reconstrução.

Otto Lara Resende, Bom dia para nascer: crônicas publicadas na

Folha de S.Paulo. São Paulo: Cia. das Letras, 2011. Adaptado.

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Questão 4Responda ao que se pede:a) O autor ilustra o tema de sua crônica com um

provérbio. Esse provérbio poderia ilustrar também ostemas dos textos I e II? Justifique sua reposta.

b) Diferentemente do texto I e II, a crônica de Otto L.Resende, tendo em vista o gênero a que pertence, temcaracterísticas tanto do estilo jornalístico quanto doliterário. Identifique duas marcas linguísticaspresentes no texto: uma, própria do estilo literário;outra, própria do estilo jornalístico.

Resoluçãoa) O provérbio mencionado no texto III é “passada a

tempestade, vem a bonança”. Nos dois textosanteriores, fala-se de efeitos positivos decorrentesde catástrofes ocorridas ou iminentes (no texto I,a “regeneração” que pode seguir-se à crise; notexto II, a oportunidade de uma políticasalvadora, num “metassistema mais rico”,consequente ao risco do caos que confronta ahumanidade). Pode-se, portanto, aplicar oprovérbio aos dois textos, mas com duasrestrições: (1) se as catástrofes mencio na daspodem ser associadas metaforica mente atempestades, os efeitos positivos não decorremneces sariamente delas, diferentemente do provér -bio, em que a bonança parece decorrer automa -ticamente da tempestade; (2) os efeitos positivosde que tratam os dois primeiros textos não podemser inteiramente identificados com o estado decalma e ventura (felicidade) sugeridos porbonança.

b) A referência a evento atual, a linguagem próximado coloquial culto, o emprego de expressõesinformais como “Shelley que me desculpe”, assimcomo o tom geral do texto, anunciado pela frasede abertura, que é bastante conversacional – estassão características próprias da crônica jornalís -tica. O terceiro parágrafo, porém, não apresentaessas características e é mais típico da elaboraçãoliterária, tratando de tema atemporal emlinguagem mais formal e com referênciasliterárias eruditas.

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Questão 5No texto III, o autor, por meio de um procedimentointertextual, cita um poema de Manuel Bandeira, cujaprimeira estrofe é:

O vento varria as folhas, / O vento varria os frutos, / Ovento varria as flores…E a minha vida ficava / Cada vez mais cheia / De frutos,de flores, de folhas.

a) A ambivalência atribuída ao vento na crônica de OttoL. Resende também se aplica ao poema de Bandeira,tendo em vista os versos citados? Justifique suaresposta.

b) Pode-se identificar nos versos acima o emprego dealgum recurso expressivo de caráter sonoro comfinalidade mimética? Explique.

Resoluçãoa) Sim: na crônica como no poema, o vento “leva e

traz”, destrói e constrói, promove mudança.b) Sim, pois o varrer do vento é acompanhado de

longas aliterações das consoantes /v/, que coliteracom sua homorgânica /f/, e /R/, o erre forte,também dito erre múltiplo: Vento, VaRRia, Folhas,Vento, VaRRia, Vento, VaRRia, Frutos, Vento,VaRRia, Flores. A sequência aliterativa da vibran -te /R/ mimetiza o caráter abrupto da varredura,os /v/ e /f/ constritivos sugerem o sopro do vento.

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IINNGGLLÊÊSS

SPY VS. SPY

Last month, Attorney General Eric Holder announcedthat the United States was charging members of theChinese military with economic espionage. Stealing tradesecrets from American companies, he said, enabled Chinato “illegally sabotage” foreign competitors and propel itsown companies to “success in the internationalmarketplace.” The United States certainly understandsChina’s behavior, because that’s pretty much how we gotour start as a manufacturing power, too.

For example, throughout the late eighteenth and earlynineteenth centuries, American industrial spies searchedthe British Isles, looking not only for new machines butalso for skilled workers who could run and maintain thosemachines. One of these workers was Samuel Slater, oftencalled “the father of the American industrial revolution.”He emigrated to the U.S. in 1789, bringing with him anintimate knowledge of the Arkwright spinning frames thathad transformed textile production in England, and he setup the first water-powered textile mill in the U.S. Twodecades later, the American businessman Francis CabotLowell talked his way into a number of British mills, andmemorized the plans to the Cartwright power loom.When he returned home, he built his own improvedversion of the loom. Then, by making it part of the firstintegrated textile factory in America, he became the mostsuccessful industrialist of his time.

The American government often encouraged suchpiracy. Alexander Hamilton, in his 1791 “Report onManufactures,” called on the country to reward those whobrought us “improvements and secrets of extraordinaryvalue” from elsewhere. State governments financed theimportation of smuggled machines. And although federalpatents were supposed to be granted only to people whocame up with original inventions, in practice, Americanswere receiving patents for technology pirated fromabroad.

Piracy was a big deal even in those days. Great Britainhad strict laws against the export of machines, and bannedskilled workers from emigrating. Workers who violatedthe ban could lose their property and be convicted oftreason. The efforts of Thomas Digges, America’s mosteffective industrial spy, got him repeatedly jailed by theBrits—and praised by George Washington for his“activity and zeal.”

These days, of course, things have changed. TheUnited States is the world’s biggest advocate forenforcing strong intellectual-property rules, which itinsists are necessary for economic growth. Yet, as ourown history suggests, the economic impact of technology

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piracy isn’t straightforward. On the one hand, patents andtrade secrets can provide an incentive for people toinnovate. If you realized that a new invention was goingto be stolen by China, you might not invest the time andmoney needed to come up with it in the first place. Onthe other hand, patents and trade secrets limit thediffusion of new technology — and sometimes slowdown technological progress—while copying acceleratesit. Samsung, for instance, is known for being a “fastfollower” in its consumer business, which really meansthat it’s adept at copying other companies’ good ideas.That’s not the same as theft, but evidence from its recent

patent trials with Apple shows that Samsung’s response tothe iPhone was, in large part, simply to do it “like theiPhone.” This was bad for Apple’s profits, but it meantthat many more people ended up enjoying the benefits ofApple’s concepts.

–James Surowiecki

Adapted from The New Yorker, June 9 & 16, 2014

Introduction

This passage, adapted from an article in The New Yorker,discusses economic espionage, the activity through whicheither private or governmental agents of one countryattempt to steal secrets and/or materials from anothercountry in order to gain some kind of commercialadvantage. In his text, the author highlights a controversyinvolving economic espionage and also provides a briefhistory of that activity, as well as his own thoughts on thematter. Read the text and answer the questions below. You

are advised to read the questions carefully and giveanswers that are of direct relevance. Remember: Youranswer to Question 1 must be written in Portuguese, butyour answers to Questions 2 and 3 must be written inEnglish. With these last two questions, you may useAmerican English or British English, but you must beconsistent throughout.

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Question 1(to be answered in Portuguese)

(This question tests your understanding of the text, as wellas your ability to identify and paraphrase the relevantpieces of information. You should write approximately120 words.)

The article begins by mentioning a recent U.S.-Chinaeconomic-espionage incident. In your own words, tellwhat happened and how the U.S. government reacted.What does the author think about the U.S. government’sattitude in this specific case and what examples does hegive in the article to support his point of view? Regardingthis U.S.-China matter, in your opinion, is the author’sposition sensible and well formulated or equivocal andunconvincing? In answering, you may take into account

legal, ethical, and practical considerations.

ResoluçãoEssa primeira questão deveria ser respondida emportuguês. O candidato deveria fundamentar-se notexto proposto para descrever o que aconteceu e comoo governo americano reagiu.Pela leitura, depreende-se que os americanos estavamacusando militares chineses de espionagem econômicapelo fato de se aproveitarem de tecnologias e estraté -gias anteriormente desenvolvidas pelos EstadosUnidos. O governo americano interveio nessa questãopara tentar aplicar as devidas sanções.O ponto de vista do autor é uma forte crítica à hipo -cri sia do governo americano, apoiando-se emexemplos de diversos casos em que os própriosamericanos se beneficiaram da apropriação detecnologia e conhecimento ao longo da história,incentivando a pirataria, importação de máquinas,contrabandiadas, possibilitando a patente detecnologia e ideias trazidas do exterior.O candidato deveria posicionar-se defendendo se acrítica do autor foi sensata e bem colocada ou se foiequívoca e pouco convincente. Para responder, ovestibulando deveria levar em conta aspectos legais,éticos e práticos.

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Question 2(to be answered in English)

(This question tests your ability to express yourself in amanner that is clear, precise, and relevant. You shouldwrite approximately 120 words.)

In 1876, in what many Brazilians consider an act of “bio-piracy,” the English adventurer Sir Henry AlexanderWickham smuggled around 70,000 rubber-tree seeds outof the Amazon region and delivered them to the RoyalBotanic Gardens, Kew, London. The resultant seedlings[mudas] were then cultivated in Ceylon (Sri Lanka),Malaysia, Africa, Batavia, and other tropical locations.Sir Henry’s economic espionage caused Brazil to lose itsmonopoly on rubber production; the Amazon region –especially the city of Manaus – fell into a decline fromwhich it has never fully recovered.

Although the loss of its rubber monopoly was harmful toBrazil, in what ways may the world have benefited from thedispersal of rubber production? Do such benefits justify SirHenry’s action? Did Brazil have the right to hold such amonopoly? In answering, you should consider rubber’s globalmilitary and industrial importance. Moreover, even knowingthat espionage of any kind is illegal, would you encourageBrazil’s current government to practice vigorous economicespionage? In other words, if important advantages could begained, should Brazil, in its condition as a developing country,engage in such a practice against any other country, no matterhow rich or poor, friendly or unfriendly?

ResoluçãoEsta questão testa a habilidade do candidato em seexpressar de maneira clara, precisa e relevante.Para responder à questão, o vestibulando deveriabasear-se em um texto que falava sobre a biopiratariasofrida pelo Brasil com o contrabando de sementes deserigueiras da região amazônica, transferidas para osRoyal Botanic Gardens e, posteriormente cultivadasno Ceilão (Sri Lanka), Malásia, Africa, Batavia eoutras localidades tropicais. A espionagem fez comque o Brasil perdesse o monopólio da produção deborracha e a região amazônica caísse em declínio doqual nunca mais se recuperou totalmente.O candidato deveria responder às seguintes questões:* Apesar dessa perda de monopólio ter sido prejudi -

cial ao Brasil, de que formas o mundo pode sebeneficiar da dispersão da produção de borrachapara outras regiões?

* Tais benefícios justificam a ação de Sir Henry?* O Brasil teria o direito de manter o monopólio da

borracha?* Mesmo sabendo que a espionagem é ilegal, você

encorajaria o atual governo brasileiro a praticarintensa espionagem econômica?

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* Deveria o Brasil, na sua condição de país emergente,envolver-se em tal prática contra outros países,sejam eles ricos ou pobres, amigáveis ou não?

Question 3(to be answered in English)

(This question tests your ability to construct a balanced,considered, and fluent argument in the form of a shortcomposition. The quotations below underscore twoaspects of the economic-espionage issue. Read thequotations and answer the question. You should writeapproximately 120 words.)

At the end of his New Yorker article, author JamesSurowiecki takes a pragmatic view of economicespionage in general by declaring, “…engaging inespionage is something developing countries do. Whenyou’re not yet generating a lot of intellectual property onyour own, you imitate. These days, China is going to tryto steal, and the West is going to try to stop it.”

However, in a recent article (“The Morality of Spying”)in the British magazine Prospect, the writer and educatorAC Grayling discusses the U.S.-China economic-espionage scandal and wonders whether pragmatismshould override ethics:

“Is spying moral? Some would argue that it is necessary,and necessity knows no morality….The fact that othersare spying on us – so some argue – is good enoughjustification for returning the compliment…becauseadvantage and disadvantage in matters of informationtranslates into such solid facts as factories opening andclosing, and people gaining or losing jobs: real thingshappening to real people….If an entity such as agovernment or a business steals information from anotherentity – say, potentially useful results of research paid forby the latter – then it is not only a criminal but a moraltransgression. Harm has been done, injustice perpetrated:that is what interests morality….Because spying consistsof snooping [bisbilhotar] and stealing it deservesjudgment in moral terms.”

Do you agree with either of the above opinions, eitherpartly or completely? In the end, is economic espionagean immoral as well as criminal act, or can it be justifiedas an action that provides the greatest good for thegreatest number of people?

Once again, in answering, you may take into accountlegal, ethical, and practical considerations, but pleasestrive to be as clear-sighted and logical as possible.

FFGGVV -- DD IIRREE II TTOO —— 11ªª FFAASSEE -- 11ºº DDIIAA -- NNOOVVEEMMBBRROO//22001144

ResoluçãoA questão apresenta duas citações que enfatizam doisaspectos referentes à espionagem econômica. O autorJames Surowiecki declara que envolver-se emespionagem é algo que os países em desenvolvimentofazem. Se você ainda não estiver gerando uma boaquantidade de propriedade intelectual, você imita.Já o autor AC Grayling discute o escândalo daespionagem econômica Estados Unidos-China e sepergunta se o pragmatismo deveria passar por cimada ética.O candidato deveria discorrer se concordava ou não,integral ou parcialmente: a espionagem econômicadeve ser considerada um ato imoral criminoso ou podeser justificada como um ato que promove um bemmaior para um maior número de pessoas?Ao responder à questão, o vestibulando poderia levarem conta aspectos legais, éticos e práticos, mantendosua argumentação lógica e clara.

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