folha carioca / dezembro 2010 / ano 10 / nº 83

36
Dezembro 2010 - Ano 10 - N o 83 27 4 16 Mensagem de Natal Tecnologia Pilates Um presente de graça Projetando ilusões Treinamento funcional

Upload: folha-carioca

Post on 07-Mar-2016

232 views

Category:

Documents


0 download

DESCRIPTION

Edição dezembro 2010

TRANSCRIPT

Page 1: Folha Carioca / Dezembro 2010 / Ano 10 /  nº 83

Dezembro 2010 - Ano 10 - No 83

27

4

16

Mensagem de Natal

Tecnologia

Pilates

Um presente de graça

Projetando ilusões

Treinamento funcional

Page 2: Folha Carioca / Dezembro 2010 / Ano 10 /  nº 83
Page 3: Folha Carioca / Dezembro 2010 / Ano 10 /  nº 83

editorial

Para a equipe da Folha Carioca o ciclo que se completa agora em dezembro, dez anos após a primeira edição, nos convida a olhar para frente e sonhar com um futuro promissor. Mas para um pequeno grupo que está desde o início este momento nos impõe uma agradável nostalgia. Não é o caso de ficar aqui fazendo autopromoção, mas o fato de comemoramos dez anos de atividade faz com que nos sintamos vitoriosos. Durante todo esse tempo muitas pessoas contribuíram decididamente para o sucesso da revista. Algumas delas não estão mais entre nós, outras seguiram novos caminhos, buscaram outros rumos, mas todas, de alguma forma, foram importantes e merecem nosso reconhecimento.

Foram anos de luta, desafios, erros, acertos, aprendizado e muitas conquis-tas. Partimos com um grupo que tinha pouca experiência na área de publicação de jornal de bairro. Nossa história foi construída com o apoio e a confiança dos profissionais, colaboradores, parceiros, anunciantes e, sem dúvida, dos milhares de leitores. Não há segredos em nossa receita. Apenas colocamos em prática uma premissa que pode levar qualquer boa ideia ao sucesso: fazer o trabalho com dedicação e entusiasmo.

Queremos ir sempre além quando o assunto é levar aos leitores uma boa leitura e informação da cidade. E nesses dez anos fomos além várias vezes, criando diferenciais. Por isso, para nós, mais do que celebrar os primeiros dez anos, estaremos empenhados em construir sobre essa base mais uma, duas, sei lá quantas, décadas de boa leitura e oferecer gratuitamente aos cariocas.

A Folha Carioca deste mês foi resgatar um pouco daquela comunicação especialíssima tão diversa da comunicação do século XXI: as cartas manuscri-tas, envelopadas com cuidado, seladas, aquelas que chegam pelas mãos dos carteiros, cartas com destino certo e invioláveis. Lilibeth Cardozo teve bastante trabalho, mas também uma enorme satisfação. Encontrou diversas cartas, cartas com boas notícias, cartas com notícias importantes, cartas com saudades, cartas contando histórias, relatando viagens, cartas ridículas. Encontrou cartas de amor e conheceu histórias escritas através delas. Leu cartas de crianças que, com a fantasia da infância escreveram com poesia seus desejos e percepções da vida.

Com a agilidade da internet e a comodidade do celular, somadas à típica falta de tempo, sensações passadas manualmente para o papel estão prestes a desaparecer. As cartas e os cartões de Natal, cheios de votos de paz, saúde e alegrias, que antes lotavam as caixas de correspondências, aos poucos vêm sendo substituídos por mensagens eletrônicas ou, simplesmente, deixaram de existir. Bem, não quero me expandir mais e convido a todos para que acompanhem essas histórias a partir da página 19.

Nesta edição você também encontra uma exclusiva matéria de Fred Alves sobre Video Mapping. A técnica, que tem apresentado experiências estonteantes ao redor do mundo, pode ser traduzida como mapeamento de vídeo e é o que há de mais contemporâneo neste segmento.

Boa leitura!

Começa uma nova década

FundadoraRegina Luz

EditoresPaulo Wagner / Lilibeth Cardozo

DistribuiçãoGratuita

JornalistaFred Alves (MTbE-26024/RJ)

ColaboradoresAlexandre Brandão, Ana Cristina de Carvalho,

Ana Flores, Arlanza Crespo, Ericson Khalil,

Fábio Parente, Gisela Gold, Haron Gamal,

Leonardo Sahium, Lilibeth Cardozo, Maria

Luiza de Andrade, Oswaldo Miranda, Sandra

Jabur Wegner, Sérgio Besserman Vianna, Stella

Maris Rezende, Susan Lee Hanson, Tamas

Captação de AnúnciosAngela: 2259-8110 / 9884-9389Marlei: 2579-1266

O conteúdo das matérias assinadas, anúncios e informes publicitários é de responsabilidade dos autores.

Capa Arte: Vladimir Calado

Projeto gráfico e arteVladimir Calado ([email protected])

Revisão Marilza Bigio

Ilustração Loreine Araujo

2295-56752259-81109409-2696

ENTRE EM CONTATO CONOSCOLeitor, escreva pra gente, faça sugestões e comentários. Sua opinião é importante.

[email protected]

índice

colunas

4

9

10

12 16

19

22

28

33

Mensagem de NatalUm presente de graçaGastronomiaO tempero zattarEducaçãoFim de anoCrônicaA casa do tempoTecnologiaAs novas projeçõesCapaA magia das cartasPerfilWalter BoechatSaúdeRecuperação cardiovascular para idososDenúnciaSOS Hospital Rocha Maia

5 Sérgio Besserman6 Gisela Gold6 Arlanza Crespo10 Patrícia Lins e Silva10 Ana Flores13 Lilibeth Cardozo

14 Sandra Jabur15 Alexandre Brandão24 Oswaldo Miranda27 Ana Cristina de Carvalho32 Tamas32 Haron Gamal

Page 4: Folha Carioca / Dezembro 2010 / Ano 10 /  nº 83

4

Dez

embr

o 20

10

mensagem de natal

O melhor presente de Natal é de graça! Em tempos de consumo intenso, agendas cheias de lojas para visitar, orçamentos reforçados pelo miraculoso décimo terceiro salário e muita disposição para agradar a quem se ama, podemos ser surpreendidos com a descoberta de um presente maravilhoso que não é necessário ser comprado.

Quando dezembro anuncia o fim do ano, temos, no coração, um sentimento de dever cumprido. Ven-cemos mais um ano! As crianças, adolescentes e jovens terminam o ano letivo e apresentam suas notas com a aprovação da escola e dos pais. Agora é tempo de relaxar e dormir até tarde. No trabalho, fechamos as contas do ano e celebramos a vitória da sobrevivência no mercado extremamente competitivo. Assim todos estão realizados e dezembro, com suas festas, coroa o tempo da celebração.

Então descobrimos que a vida é uma realidade de fé que interage com todos os aspectos de nossa exis-tência. Muito mais que uma mistura genética e cultural o ser humano é complexo e simples ao mesmo tempo. Como diz Eugene Peterson: “Ao nascer, penetramos em um mundo criado por Deus, já tomado por uma história rica, repleta de participantes dedicados num mundo de animais, montanhas, política e religião, onde as pessoas constroem casas, criam filhos, onde vulcões cospem lava e rios correm para o mar; mundo onde, por mais cuida-do que tenhamos ao observar, analisar e estudar, fatos surpreendentes sempre acontecem. Sempre ficamos surpresos porque estamos lidando com elementos além de nossas forças, que está acima de nossas cabeças.”

Somados os elementos de realização, descontração, celebração e fé chegamos à breve descrição da equação da vida em sua plenitude. Ao final, o que desejamos realmente é o abraço, carinho, amor e aconchego de quem se importa conosco e daqueles quem amamos. Um amor de família, amigos e pessoas que nos são extremamente queridas. Nos momentos de turbulência urbana e conflitos mundiais, nos preocupamos em pri-meiro lugar com quem amamos. Como presenteá-los? Saímos às ruas cheios de questionamentos sobre valores, cores e gostos. Cada loja é um desafio, cada compra uma expectativa, será que a pessoa vai gostar do presente?

O melhor presente é o amor! O amor não se pode comprar, vender ou pedir emprestado! O amor é fruto da graça de Deus em nossos corações. Nós temos amor porque Deus nos capacitou a amar. A forma mais preciosa de demonstrar amor é cuidar do outro como quem cuida de si mesmo. Estar ao seu lado na jornada da vida, nos momentos de prazer e nas dificuldades. O amor amigo que sabe a impor-

tância da presença, do telefonema, do abraço fraterno e da solidariedade. O amor da família que não se isola, mas se interessa, destrói barreiras e constrói as pontes do diálogo. O amor romântico, poético e apaixonado dos casais que se completam e firmam compromissos para construir uma vida a dois.

Neste universo lúdico as palavras são as pedras que edificam o castelo da vida. Quando as pedras são colo-cadas sem o devido cuidado, o castelo fica sem a beleza da simetria dos blocos, sejam grandes ou pequenos, eles se misturam em uma total desarmonia arquitetônica. Mas quando as palavras são bem pensadas, elas são pedras bem trabalhadas, simétricas, colocadas umas sobre as outras com todo cuidado. De longe se percebe sua beleza e seu encanto. Uma cidade pode se tornar apenas a mol-dura de um belo castelo. Nos relacionamentos cheios do verdadeiro amor, as palavras compõem o todo com sin-geleza e simpatia. A alegria coroa a vida e se faz perceber.

No Natal, a Palavra doce de Jesus Cristo, sua figura como um Deus menino, nos faz pensar no amor do Deus que vem em forma tão frágil para servir um mundo tão rude. O menino cresce, o mundo descobre seu amor na força de suas palavras e no poder de seus gestos. Para James Houston: “esta harmonia de vida em Cristo é o segredo de minha própria harmonia interior. Capacita-me a ter compaixão de outras pessoas, a viver em paz com meus amigos e a viver cheio de alegria e felicidade. Ajuda-me a viver na gentileza, na paciência, na firmeza de propósitos, na estabilidade e na liberdade interior. Isso me ajuda a ter uma vida sintonizada com meus amigos e com meu Deus.”

Vamos distribuir neste natal este presente maior e melhor que vem da graça de Deus e pode ser distribu-ído a todos gratuitamente. Que nossas palavras sejam cheias de doçura, perdão, bondade e principalmente amor. Vamos abrir o coração e dizer a plenos pulmões: “Feliz Natal no amor de Jesus Cristo!”.

Que Deus nos abençoe!

Um presente de graça

Rev. Dr. Leonardo Sahium

Page 5: Folha Carioca / Dezembro 2010 / Ano 10 /  nº 83

Dez

embr

o 20

10

5

A verdade reveladaUma coisa que eu trouxe dos Estados Unidos está mudando um pouco a minha vida, e para pior. Meu tempo de leituras ou programas bacanas na TV caiu bastante. Já explico por que.

http://oglobo.globo.com/rio/ancelmo/besserman/

Sérgio Besserman Vianna

Um parênteses: na TV sou ligado nas notícias, no National Geographic, no Futura, no Discovery, no Animal Planet e em séries americanas do tipo que o sumosacerdotelulo-petista Marco Aurélio Garcia denunciou como armas potentes do neo liberalismo imperialista ianque judaico cristão ocidental.

Estou aproveitando para dizer que é difícil ouvir bobagem maior. Como tudo na vida, essas séries têm muita besteira, mas também têm arte no nível mais alto, e, como tal, arte emancipatória do humano, cultura libertária às vezes. Eu me amarro mais nas de humor e considero Seinfeld, por exemplo, no mesmo

nível de irmãos Marx, Chaplin, Peter Sellers ou Monty Phyton.

O humor cáustico e cotidiano de Seinfeld fez mais na luta contra a alienação nos anos noventa do que todos os programas do PC do B reunidos. Sem falar em outras séries geniais.

Mas agora eu descolei um desses vídeo games sem fio e demonstro a mim mesmo e ao mundo que sou excelente tenista, luto boxe, jogo golfe e encaro todos aqueles ho-menzinhos na tela.

Tem um tenista lá que tá me estranhando e eu a ele. Já já ele vai ver com quem está se metendo. Aliás, como economista fiz uma descoberta genial: seria caro demais desen-volver algoritmos e softwares que criassem todos esses carinhas eletrônicos com suas personalidades e formas de jogar.

A verdade que eu agora revelo é que cada vez que, no mundo todo, um cara entra nesses

jogos para enfrentar um deles, a conexão pela rede se estabelece e um chinês ou indiano de verdade entra no sistema e joga com você.

Deve haver galpões e galpões com mi-lhares de chineses, indianos e tailandeses de verdade, sempre de prontidão para fingirem serem esses carinhas eletrônicos. E tem um chinês lá que tá me encarando disfarçado de Peter Sampras. Ainda acabo com ele...

Page 6: Folha Carioca / Dezembro 2010 / Ano 10 /  nº 83

6

Dez

embr

o 20

10

Gisela Gold

Arlanza Crespo

[email protected]

[email protected]

Poesia

Eu estava em Lisboa quando conheci Flo-rinda e ela me falou de um grupo de mulheres chamado “as lobas” do qual ela participava, e eu logo me interessei. Chegando ao Brasil procurei-a e ela me apresentou à Regina Clara Palmeira, a “loba-mor”. Fui então entrevistá-la. Conversamos pouco tempo, mas deu pra sentir o quanto aquelas mulheres são fortes e como é forte também o elo que as une.

Mas afinal, o que são as lobas? O grupo surgiu em 2004 criado pela própria Regina. Ela, que fez faculdade de História, mas acabou trabalhando no Banco do Brasil por 28 anos, um dia leu o livro “mulheres que correm com lobos” e resolveu que queria ter uma vida

Moça de quinze disse que não vive sem amor e pronto.

Mulher de trinta disse que não sabe se ama alguém ou se ama o amor.

Senhora de sessenta disse que ama a vida e um amor é sempre bem-vindo se amar também.

Moço de quinze disse que quer ser bandi-do que nem o pai pra matar quem não presta e pronto.

Homem de trinta disse que não sabe se quer ser político que nem o pai, conseguindo tudo o que quer, sem saber se é amado.

Senhor de sessenta disse estar feliz por não ter sido policial como seu pai, após ter levado uma bala perdida.

Muito mais do que um grupo de leitura

mais criativa, resgatar seu prazer de viver. Não que o banco a incomodasse muito, mas estava na hora de mudanças, estava na hora de fazer o que realmente gostava, e o livro foi muito importante nesse processo. Aposentou-se, estudou astrologia, taro e um dia resolveu formar um grupo de leitura. Chamou primeiro as amigas mais próximas, começaram a se reunir quinzenalmente e o primeiro livro escolhido, claro, foi “mulheres que correm com os lobos”. Foram três anos e meio lendo, comentando, debatendo. Depois vieram outros livros, entraram novas lobas, saíram algumas. Das vinte e três lobas atuais só seis são do grupo inicial. E hoje, seis anos

depois, Regina me conta com emoção os momentos bonitos que passaram, as amizades que se fortaleceram ao longo das leituras. Das muitas lembranças a que mais marcou foi a história da “manta para curar uma amiga”. A amiga era uma das lobas, que teve câncer de mama e teve que operar. Veio então a idéia de fazer uma manta com vários pedaços de pano onde cada uma bordou, pintou ou desenhou alguma mensagem de afeto para amiga saber o quanto ela era que-rida. A manta foi dada antes da cirurgia e levada para o hospital, onde fez o maior

sucesso. Nesse momento Regina me disse que sentiu realmente como o grupo era forte.

As reuniões são simples, sem protocolo, o ambiente é descontraído. Elas vão chegando, lancham, riem, colocam os assuntos em dia. Depois se concentram para que tenha início o capítulo do dia, que vai ser comentado e deba-tido num tempo que pode ser longo ou curto, de acordo com o texto que se apresenta. As lobas são psicólogas, historiadoras, médicas, professoras, funcionárias do Banco do Brasil, mulheres interessadas e interessantes. ”Já cho-ramos juntas, já rezamos juntas, já vivenciamos perdas, mas para nós, trazer o pulsar da vida, fazer a vida vibrar é o que importa. Temos que reaprender a viver”, finaliza Regina Clara, consciente de que as lobas são muito mais do que um grupo de leitura.

Quinze, trinta, sessenta. Um quarto, meia, inteira. É assim que conto o tempo. Gente não!

Somos todos humanos. Às vezes com cabeça de quinze, corpo de trinta e jeito de sessenta. Ora fazemos cocô, ora fazemos jar-dins. Em terrenos diferentes. Na mesma Terra.

Porque poesia boa, não rima palavra; balança discurso.

Page 7: Folha Carioca / Dezembro 2010 / Ano 10 /  nº 83

Dez

embr

o 20

10

7

Novidades Serviços e Entregas

Page 8: Folha Carioca / Dezembro 2010 / Ano 10 /  nº 83

8

Dez

embr

o 20

10

Eu flerto com a culinária desde que me entendo por gente - comecei por volta dos sete anos fazendo brevidade com a receita da caixinha de Maisena na casa de minha avó, lá em Mato Grosso do Sul. Isso após muita insistência, afinal, na casa dela, lugar de criança não era na cozinha.

Continuei interessada nos temas de forno & fogão, numa espécie de contramão familiar: nunca tive alguém em casa que pudesse divi-dir comigo conhecimento ou interesse pelo assunto. Minha mãe, intelectual e profissional muito ativa, passava longe da cozinha e da ad-ministração corriqueira do lar, e, nossa querida Odete, que trabalha há anos na casa dos meus pais, era exímia arrumadeira, mas detestava cozinhar, exceto pela melhor das farofas, paraibana ortodoxa, em termos alimentares, que sempre foi. Meu pai, o verdadeiro admi-nistrador da casa, recebeu uma lista de com-pras, em algum longínquo passado, e, desde então, sem interesse pelo assunto, a repetiu, profissionalmente, pelo resto da vida – galinha,

Brincando de cozinharcarne assada, bife, arroz, feijão e uma salada única composta de cenoura, vagem e chuchu. Ah, e arroz e feijão, é claro. No final, vocês hão de concordar comigo, todos contribuíram decisivamente para que eu assumisse minha solitária veia gastronômica e tentasse reverter esse deserto alimentar familiar, apesar de que amplamente alimentado, em espírito, por um oásis de livros e cultura.

Parti então para minha segunda fase de interesse culinário, onde, dos nove aos treze anos, levantava receitas em revistas e velhos livros, criava elaboradas listas de compras e in-sistentemente treinava a Detinha, sob risonhos e condescendentes protestos. Era a época da salada Waldorf, salada Niçoise e Medalhão à Piamontese, clássicos insustentáveis numa cozi-nha de dia a dia sem a administração implacável e motivada de um adulto.

A próxima fase foi na adolescência, quando eu e meu irmão tínhamos total liberdade para brincarmos na cozinha nos fins-de-semana – eu era a mestre-cuca, e ele minha recep-tiva cobaia, dadas as alternativas de que ele dispunha... Mesmo errando eu tinha total aprovação. Que ambiente poderia ser mais favorável para a aprendizagem? Era a época das tortas de maçã inspiradas na Vovó Donalda, fondues para os amigos, croissants, bolos de chocolate, e, mais um clássico de época, a sopa de cebola francesa, aquela com uma fatia de pão no fundo da travessa individual, coberta de queijo e gratinada ao forno. Quem tem mais de 40 anos deve se lembrar.

A curiosidade continuou ao longo dos anos, até que eu iniciasse uma experiência semi-profissional, montando um catering de

comidas étnicas. Compromissos financeiros me levaram de volta à vida profissional corpo-rativa, mas nunca abandonei o namoro com a culinária, que foi se transformando para mim numa mistura de encontro com as diversas culturas e uma busca pelos sabores e métodos tradicionais – básicos, simples e originais. Com todo respeito, e alguma curiosidade, minhas experiências e interesse prático passam longe da culinária “química”, com suas espumas e receitas doces com aspecto de ovo frito, para não falar de combinações ousadas como chocolate com limão ou arroz com morangos. Busco as misturas consagradas por anos de experimentação e aprovadas massivamente, mas com o frescor da renovação vindo de outras culturas. Culinária como expressão de cultura, mas sem o radicalismo da busca pelo “verdadeiro” ou “autêntico” sabor. Colho o que sinto na alma, tradicional ou não, local ou global. Viva a diversidade!

Escolho três receitas com esse espírito:- Entrada: queijo artesanal temperado com

sementes crocantes, inspirado numa receita de um livro utilizando apenas ingredientes mencio-nados na Bíblia, Primeiro Testamento;

- Prato principal: frango dourado na caçarola e cozido no azeite, temperos e vinho branco - uma adaptação de uma receita demonstrada por uma anciã do interior da Espanha em um desses programas de viagem/culinária da TV a cabo;

- Acompanhamento: salada verde e batatas cozidas, salteadas na manteiga com ervas;

- Torta crumble de maçã – um clássico da cozinha americana caseira.

As receitas estão disponíveis por solicitação através do e-mail [email protected]

Suzan Lee Hanson

Page 9: Folha Carioca / Dezembro 2010 / Ano 10 /  nº 83

Dez

embr

o 20

10

9

Muitos componentes do cardápio árabe são vistos como alimentos saudáveis, como é o caso do zattar: um misto de especiarias, de sabor picante e salgado, composto por gergelim, cominho, coentro, orégano,

manjerona, sal re-finado e colorau. É também conhecido como “blend” do Oriente Médio.

Na tradição ára-be, quando crian-ças, os pais as fa-ziam comer o zattar porque, segundo os povos antigos ele é um santo remédio para a memória. Condimento salga-

Zattar, um tempero árabe aromático bom para a memória, afrodisíaco e antioxidante

gastronomia

do da culinária árabe e libanesa, o zattar possui propriedades incríveis que atuam em nosso cérebro. Estudos de universidades no Líbano comprovaram que esta especiaria ajuda a pro-teger a mielina e o consumo de zattar deve ser feito todos os dias, a fim de obter resultados satisfatórios em nosso sistema nervoso central.

A mielina é uma substância lipídica, prove-niente de células do hipotálamo responsáveis pela maioria das fibras nervosas, acelerando a transmissão dos impulsos nervosos a outras partes do corpo. A perda de mielina pode reduzir ou mesmo impedir estes impulsos, conduzindo ao aparecimento de vários sinto-mas como perda de memória e comprometi-mentos neuronais.

Este tempero de forte aroma possui tam-bém propriedades afrodisíacas e antioxidantes sendo uma das principais e mais populares

especiarias na culinária árabe presentes em vários pratos como tempero de carnes (kaf-tas e quibes), vegetais, queijos, patês, pães, massas de esfiha e também usado como aromatizante de azeites.

Os valores nutricionais em cada 50 g dessa especiaria árabe são: valor energético 47kcal carboidratos 0,5g proteínas 3,8g gorduras totais 3,3g e Sódio 193mg combinados nas adequadas proporções acompanhada dos pratos árabes, promovem a ingestão suficiente dos nutrientes de que precisamos para manter o organismo saudável.

“Comer comida árabe é viver com saúde, o tempero árabe zattar é saúde”

Ericson Khalilcontatos: 3259-1229 / 9173-8384

email: [email protected]

Page 10: Folha Carioca / Dezembro 2010 / Ano 10 /  nº 83

10

Dez

embr

o 20

10

educação

Começa a corrida das festas de fim de ano e nossos filhos mal ter-minaram o ano letivo. No mundo de hoje tudo parece tão rápido! O que fazer com os meninos em casa? Espera-se que todos tenham se esforçado muito durante o ano e agora usufruam um repouso das rotinas escolares. Mas é bom lembrar que o pensamento, faculdade humana interessantíssima e que vale a pena usar conscientemente, nunca descansa, nunca para. O pessoal do Sítio do Picapau Amarelo gostava de se divertir numa brincadeira de tentar ‘não pensar’. Todas as crianças costumam ficar fascinadas quando lhes é proposto brincar de ‘não pensar’. O fascínio vem pela própria impossibilidade de realizar a tarefa. Mas há diversos modos de pensar. Podemos deixar os acontecimentos passarem à nossa frente sem ter nenhuma interação consciente com os fatos, como naquela frase que algum dia todos dissemos: “hoje vou sentar em frente à televisão porque não quero pensar em nada”. E podemos, assistindo à própria, ter consciência do que vemos, ao escolher um programa, criticar, mudar de canal num movimento voluntário e não automático, isto é, interagir conscientemente com o que nos é oferecido.

Certamente desejamos que nossos filhos sejam pessoas críticas, em permanente relação produtiva com o mundo e que usem a capacidade de pensar conscientemente. Assim, ao acabar o ano letivo, ao invés de apenas ‘entrar em férias’, aguardar os acontecimentos, sem interação consciente da vontade, do desejo e da crítica, podem escolher atividades que os interessem e engajem para além de ‘não fazer nada’, ficar ‘de bobeira’, esperar ‘a galera se mover’ para ir atrás.

Antes das festas de fim de ano, há muitas coisas que os jovens podem fazer e que acabam sendo atividades prazerosas pela sua natureza altru-ística. Participar de atividades socialmente úteis, que permitem a inserção no mundo, como as ações da cidadania contra a fome e tantas outras próximas de nós, atende às características adolescentes de generosidade e empenho nas lutas por causas. Vamos incentivar a participação social de nossos filhos, vendo neles mais do que menores a espera da chegada à idade adulta. Temos de acreditar que sabem e podem fazer muito, com eficiência, vontade e dedicação. Generosos, francos, doadores, sempre dispostos a defender e ajudar necessitados, os jovens precisam ter reconhecida sua capacidade de ação positiva na sociedade. Na participação social aprendem a se exercitar como cidadãos.

Fim de ano Patrícia Lins e Silva

Pra inglês ver

[email protected]

Ana Flores

Ao sediar a ECO-92, o Rio tomou banho de banheira com sais aromáticos, se arrumou, cuidou da segurança e pin-tou a favela de azul. Não que os cariocas tivessem se transformado da noite para o dia em objetos do desejo de seus admi-nistradores; é que a cidade se preparava para receber autoridades estrangeiras que aqui passariam duas semanas e circulariam pelas ruas em limusines, com batedores abrindo caminho por entre carros e pe-destres menos nobres.

Ah, bom. Tudo funcionou às mil ma-ravilhas: as balas perdidas se retraíram, os assaltos se encolheram de medo das metralhadoras nas mãos de soldados do Exército, as regras de trânsito foram severamente vigiadas, tudo para que os visitantes levassem do Rio a melhor das impressões. Nota dez para a organização do evento. Os estrangeiros devem ter adorado a temporada; e os cariocas, surpresos, viram sua cidade entrar nos eixos por alguns dias.

Depois de tudo terminado, a volta à velha rotina: pivetes faturando nas janelas dos carros e nas calçadas, balas encontrando novamente os quartéis, a imundície voltando às ruas e o caos urba-no de volta. Tudo dentro dos conformes. Aquele sonho de Primeiro Mundo foi um rio que passou em nossas vidas e que rapidamente seguiu correnteza abaixo.

Agora, assistimos ao prenúncio de o carioca outra vez viver minitemporadas

de paraíso primeiromundista. Depois de terminados os Jogos Pan-americanos não muito bem, em 2007, a cidade vai sediar a Copa do Mundo em 2014 e as Olim-píadas em 2016. Oba! E vamos nós! Nesses megaeventos teremos o olhar generoso dos administradores sobre nosso dia a dia para fazer bonito diante dos visitantes, antes de novamente con-viver com as baratas, às quais temos sido entregues paulatinamente.

Xô, pessimismo! Que mal-agrade-cida, reclamando dos benefícios que o Rio pode vir a receber! Em vez de se queixar, curta a oportunidade de ver sua cidade limpa, segura, ordenada, alegre e funcionando.

Está bem: corações ao alto! Quero tudo isso para o cotidiano da minha cidade e de todos os que moram aqui. Mas não de 20 em 20 anos, ora! Se é possível organizar-se nas emergências, por que não na situação de guerra civil em que o Rio e outras cidades brasileiras vivem há tantos anos? A expressão “pra inglês ver” nasceu em outras circunstâncias, mas cabe direitinho nessas horas em que a sujeira se esconde temporariamente sob o tapete para não chocar as visitas.

Sejam sempre bem-vindos, turistas brasileiros e estrangeiros, o Rio nasceu para receber e brilhar. Mas que seja sempre e também para os cariocas, de cujo bolso também vem a grana para a festa.

Page 11: Folha Carioca / Dezembro 2010 / Ano 10 /  nº 83

Dez

embr

o 20

10

11

Page 12: Folha Carioca / Dezembro 2010 / Ano 10 /  nº 83

12

Dez

embr

o 20

10

A casa do tempo

Qualquer pessoa que passe por aquela casa vê coisas, sente e entremeia coisas, pen-sou a escritora na Julius Brasserie, Rua Portugal. Ela tomava um café com leite, enquanto olhava a Baía de Guanabara e a Prainha.

Ana Helena fazia caminhada beirando o muro de pedra que rodeia a Urca, o bairro predileto. Morava no Grajaú com a mãe e os quatro irmãos mais novos, num aparta-mentinho escuro, daí precisava andar, ver o sol e respirar aliviada, por diferentes lugares, desde que fossem perto do mar. Podia ser o mar do Leblon, o de Ipanema, o de Copa-cabana, o de Botafogo ou o do Flamengo, cada um tem o seu encanto, mas a Urca é o bairro mais charmoso, ela afiançava, com o olhar misterioso.

Naquela tarde de sábado, depois de termi-nar um trabalho de Química, pegara um ôni-bus, saltara na Praia de Botafogo e andara a pé até a Urca, tão perto, tão simples, a vida pode ser simples e bonita, ela dizia baixinho. Dava aulas particulares para crianças traumatizadas com Matemática, por meio de um método que ela mesma inventara, cheio de jogos e surpresas, arte que matava o trauma, fazia os pais dizerem que ela fazia milagres, mas ela dizia: que nada, na verdade, os números é que são mágicos e têm muitos poderes. Devido a essas aulas, Ana Helena sempre tinha dinheiro para as despesas básicas.

Ana Helena de frente para A Casa do Ven-to, numa curva da Rua Portugal. A tia Almerinda parecia estar ao lado, e dizia:

- Quando jovem, estive ali na TV Tupi, pra ver os artistas. Eu também queria ser cantora, sabe? Sonhei muito com isso.

Ela fingiu indiferença, até falou:- Não quero lembrar do seu sonho, viu, tia?Só queria olhar para aquela casa impo-

nente e perturbadora. Ficar divagando sobre as pessoas lá dentro.

Sentou-se na mureta, meio de lado, para assuntar o mar, os barcos, e ao mesmo tempo a casa. O vento ainda não estava muito forte, mas ela esperava, sabia que a qualquer mo-mento tudo poderia mudar.

A escritora tomou mais um gole de café com leite. Respirou fundo. Sentiu uma alegria, uma impaciência e depois um medo. Manteve-se atenta.

A tia Almerinda não dava descanso:- E o seu sonho? A sobrinha não queria revelar que era

entrar em todos os cômodos de uma casa chamada A Casa do Tempo. E não fugir dos retratos, das cortinas, dos passos, das pessoas, da vida célere, da morte estranha.

Queria guardar segredo. Sempre que guardava segredo, a coisa ficava mais bonita e mais solene.

Então, aconteceu.Começou a ventar muito forte.Parecia que o mundo ia acabar.Determinada a se embrenhar nas histórias

que compunham A Casa do Tempo, Ana He-lena se manteve quietinha no muro de pedra, com o olhar misterioso. Não foi fácil suportar a ventania, o frio repentino, o desconsolo.

A escritora viu o vento acalmar e pediu uma água sem gás.

Ana Helena continuava a pensar na tia Almerinda e sua TV Tupi Canal 6, a Bossa Nova, a Jovem Guarda e a Tropicália. Era um sonho tão claro e tão importante. No entanto, fincara na pele da tia um renitente amargor. Ana Helena danou a pensar num método que facilitasse as coisas.

Pois bem. Abre-se a porta principal.Sai um rapaz magro, olhar triste. Ana

Helena conjectura o motivo da tristeza dele. O rapaz não a vê e vai andando em direção

à Prainha, o cabelo despenteado, a camisa enorme, o passo vagaroso. Talvez ninguém interceda por esse rapaz, não por enquanto, mas é sábado de tarde e Ana Helena passeia pela Urca.

A escritora adivinha que eles vão se en-contrar na Julius Brasserie, daqui a três meses, numa outra tarde de sábado. Talvez o rapaz ainda esteja triste. Mas vai olhar para Ana He-lena, vai achá-la interessante, vai se aproximar.

Enquanto bebe um café carioca bem quentinho, ela ouve a pergunta:

- Posso me sentar com você?Ana Helena o observa com atenção, antes

de responder que sim. E quando a conversa estiver adiantada, vai dizer que ele parece um poeta.

crônica

Stella Maris Rezende

Stella Maris Rezende é mineira de Dores do Indaiá, mestra em Literatura Brasileira pela Universi-dade de Brasília, escritora, cantora e atriz. Tem 30 livros publicados, entre romances, novelas, crô-nicas, contos e poemas, para o público adulto e o infantil e juvenil. Recebeu prêmios importantes: Prêmio Nacional de Literatura João-de-Barro (1986, 2001 e 2008), Bienal Nestlé (1988), Alta-

mente Recomendável para Jovens/FNLIJ (14 livros), Redescoberta da Literatura Brasileira/

Revista Cult/categoria conto (2002), Menções Honrosas da Câmara Brasileira do Livro (1987 e 1988), Prêmio Fundação Biblioteca Nacio-nal/ Bolsa para Autores com Obra em Fase de Conclusão (2007), Literatura Para Todos/categoria conto/MEC (2008) e 3 indicações ao Jabuti. Em setembro de 2010 recebeu o Prêmio Barco a Vapor/Fundação SM, com A menina guardiã dos segredos de família. Seus livros são recomendados em revistas e catálogos de países latino-americanos e europeus. O livro mais premiado, Último dia de brincar (1987), está entre os melhores livros de Literatura Infantil do Século XX, Programa Nacional Biblioteca

da Escola/FNDE/MEC. O romance juvenil A filha da vendedora de crisântemos acaba de ser selecionado para o Programa Nacio-nal Biblioteca da Escola 2011. No final dos anos 1970 e no início dos 80, interpretou a personagem Fada Estrelazul do programa Carrossel, TV Manchete/Brasília, e a Tia Stella do programa Recreio, TV Record/Brasília. Viveu parte da infância em Belo Horizonte, mudou-se para Brasília em 1962 e desde 2007 reside no Rio de Janeiro.

Mais informações: www.stellamarisre-zende.com.br

[email protected]

Stella Maris Rezende

Page 13: Folha Carioca / Dezembro 2010 / Ano 10 /  nº 83

Dez

embr

o 20

10

13

Sem epílogo

[email protected]

Lilibeth Cardozo

Ela estava, num dia qualquer, daqueles vazios de acontecimentos, onde até o clima é bobo na amenidade primaveril de uma cidade onde não há primaveras. Só as cores vibrantes dos ipês floridos marcavam a estação dos ca-lendários. Ela entrou numa livraria. Folheando os novos livros na estante de romances o en-controu e leu a pequena biografia na orelha do livro. Um escritor português de 59 anos. Perto da estante seus cotovelos se tocaram. Estava ali, o autor do livro que ela abria. Encantou-se com o que leu, mas, envergonhada, não falou com ele. Deixou sobre o balcão da loja um bi-lhete para o escritor: “Me escreva, me encantei com seu perfil”. Dias depois se encontraram na mesma livraria. Já conhecidos, silenciosos, passaram a trocar bilhetes nas tardes das sextas-feiras, quando iam atravessando os cor-redores das estantes na mesma livraria. Foram se encantando. Queriam sair da virtualidade que inventaram, tudo diferente dos modernos encontros virtuais. Marcaram um jantar e um novo romance já estava sendo escrito com detalhes que criavam. No primeiro encontro, combinaram a indumentária: ela vestiria um vestido branco, o mesmo que ele já vira numa das vezes que se encontraram. Ele, a pedido dela, estaria vestido com um bem talhado blazer azul marinho sobre uma camisa rosada e um blue jeans. Jantaram juntos, pela primeira vez, num aprazível restaurante. Eram noivo e noiva. A paixão era escrita pelos dois em pági-nas de afagos, beijos e atração. Ele falava e não só escrevia. Ela, afoita, escrevia e lia. A noite foi curta para tantas emoções. Noite de frio e lua brilhante. Depois do jantar se amaram. Dormiram sonos juntos em sonhos separados,

abraçados sob lençóis brancos já com perfu-mes dos corpos em noite de amor. Com o sol da manhã seguinte o romancista, enquanto ela ainda dormia, partiu e deixou, sob um pequeno vaso de flores que enfeitava a mesa da sala, uma página dobrada do seu romance. Ela, sonolenta, abriu a página. Era uma página arrancada, aquela última que fica sempre em branco em todos os livros. Nada escrito por ele. Tudo ficou sem letras, sem palavras, sem porquê. Ele partiu sem se despedir. Não havia nenhum motivo. Ela esperou. Pensou: palavras seriam ditas por telefone. Nunca! Frases seriam escritas por correio eletrônico: nunca!. Os carteiros ainda traziam cartas. Nunca trouxe nenhuma. O tempo foi levando a imagem, o perfume, o som da voz. Ela esperava, todos os dias, como se espera com apertadas saudades aqueles que a morte leva quando não houve funeral e nenhuma despedida. As saudades doídas foram amarelando as páginas daquele romance. Muitas vezes ela ia à livraria. Folheava livros e mais livros. Comprava os romances daquele escritor e os lia, buscando, em algum parágrafo, em algum capítulo, escondido numa metáfora qualquer, o seu paradeiro. No livro comprado, as primeiras e últimas páginas lidas ficaram rotas de tantas marcações. Ela, cansada de esperar uma razão, uma despedida, arran-cou do livro, com força e lágrimas e rasgou a pequena biografia daquele romancista. O livro do romancista por quem se apaixonara, era como ele, sem epílogo, sem as palavras que tanto os encantavam. Durante meses, as sextas-feiras ela voltava à livraria. Ninguém sabia dele, ninguém mais o viu e o livreiro dizia: “Romancistas não sabem dizer adeus!”.

Page 14: Folha Carioca / Dezembro 2010 / Ano 10 /  nº 83

14

Dez

embr

o 20

10

Sandra Jabur Wegner

Watsu durante a gestaçãoWatsu é um relaxamento aquático passivo,

em que o aluno ou paciente é carregado no colo do terapeuta, através da água, com mo-vimentos suaves ondulatórios, mobilizações da pelve e nos pontos dolorosos, alongamentos da coluna cervical lombar e etc.

Durante a gestação, a mulher está mais sensível, sentindo necessidade de conforto e aconchego; por este acolhimento global, o Watsu é recomendado para gestantes, após o terceiro mês, quando a freqüência dos enjoos diminui.

A partir do segundo trimestre, as altera-ções hormonais continuam, porém a parte emocional é afetada com maior intensidade, assim como o desconforto físico. O acréscimo de peso pode causar dores lombares ou inten-

sificar dores já existentes. O volume uterino aumenta, comprimindo a pelve e dificultando o retorno venoso, e edemas nas pernas podem surgir durante esse período.

A gravidez não é sinônimo de doença, mas há transformações significativas na parte emocional, fisiológica e física, principalmente quando a futura mamãe encontra-se só ou tem pouca estrutura sócio-familiar. Exercícios na água são recomendados nesta fase, devido ao aumento do peso corporal, à hiperlordose, e à mudança do centro de gravidade, que acar-retam uma maior pressão sobre as articulações dos membros inferiores. A pressão é reduzida quando o corpo fica submerso.

Há aulas de hidrogestante, natação, alonga-mento aquático e hidroterapia específica para

gestantes, porém, nenhuma destas ativida-des trabalha tanto a parte emocional como o Watsu. No último trimestre gestacional, essa atividade se torna extremamente importan-te, atuando sobre o sistema nervoso central, diminuindo dores lombares, tranqüilizando o bebê, pois mãe e filho são embalados.

Com a redução dos edemas nas pernas e a redução da lombalgia (dores nas costas) a gestante passa a dormir melhor, a ficar mais confiante, preparando-se para o grande dia: o nascimento do seu filho.

Dúvidas sobre o assunto podem ser

esclarecidas através do e-mail:

[email protected]

Com a chegada do verão esta é uma preocupa-

ção constante das mulheres. Não tem jeito! Praia, sol

e biquíni não combinam com aqueles furinhos que

derrubam a auto-estima.

A celulite é um termo comum usado para des-

crever as bolsas de gordura acumuladas por baixo

da pele causando covas nas ancas, coxas, nádegas

e abdómem. Este fenomeno estético ocorre em 90%

das mulheres logo após a adolescência e raramente

acontece nos homens. Ao contrário do que se diz, a

celulite não está relacionada com a obesidade. Apa-

rece em pessoas obesas, normais e magras.

Dentre as causas para o desenvolvimento da celu-

lite estão a falta de exercícios, alimentação inadequada

e fatores genéticos. As alterações circulatórias, tanto

na nutrição dos tecidos como no retorno do líquido

dos mesmos é o mecanismo mais citado como causa

dessa alteração.

O treinamento com vibração é o método de

exercícios mais utilizado no mundo como ferramenta

de tratamento para esse mal. Seus benefícios vêm

da integração entre um maior gasto das gorduras

corporais associado a uma melhoria na circulação

e drenagem local. A ativação ampla da musculatura

faz com que o gasto calórico seja elevado durante os

exercícios, e a adoção de posturas específicas torna o

Bye bye celuliteretorno linfático aumentado em até 30%. Os resultados

podem ser percebidos em poucas sessões, basta um

pouco de dedicação!

Não só as mulheres podem se beneficiar com esse

método, os homens apesar de não apresentar com

frequencia a celulite, podem aproveitar os benefícios de

Av. Ataulfo de Paiva, 1079 / ssl 119Vitrine do Leblon

estímulo muscular como forma de manter seu tonus

e até aumentar sua massa muscular.

É importante saber que não existem métodos

milagrosos. Como a celulite tem várias causas, tratá-la

exige uma abordagem multidisciplinar. Isso significa

que, além de adotar um programa de alimentação

equilibrada e, de preferência, ter uma rotina regular de

atividade física, os especialistas acreditam que a melhor

saída é combinar dois ou mais tratamentos estéticos.

Os treinamentos devem ser realizados de forma

regular, de duas a três vezes por semana, com inter-

valo de 24 a 48 horas, dependendo da intensidade

do treinamento realizado e sempre acompanhado por

um especialista. Na Attitude Center a primeira sessão

é grátis, bastando agendar um horário, e ainda temos

descontos especiais.

Breno Moreira-Leite,

professor de Educação Física

e fisioterapeuta, sócio da Attitude Center

Tel.: 2259-0469

www.ace3.com.br

[email protected]

Page 15: Folha Carioca / Dezembro 2010 / Ano 10 /  nº 83

Dez

embr

o 20

10

15

Alexandre Brandão

Mais ou menos tuiteiras

No [email protected]

Altinha como estava, já já pisaria em ovos e não tardaria muito para ver-se frita.Conheço um sujeito. É pouco. Também é mentira.Passou o rodo. Criou um rolo. O chão, de um susto, molhou-se rubro.Não é corrupto; o dízimo é caro.Nenhum filme revela o que o cego desvê.Só há uma maneira de passar a perna no ladrão: em visita íntima.Se fosse pássaro, invejaria o voo terrestre dos homens.Dou um pernilongo para não entrar na briga, mas não confio muito no método.Abortaram as ideias na última campanha presidencial. Na frente das crianças.Caco cafônico: Vivi viu a vida vil, todavia olvidou o que ouviu.Mafiosa: vender a mãe ao irmão.Música é um troço danado para nos manter presos ao passado. Poesia é um troço danado para nos fazer perder a noção do tempo.Alguns deixarão de ler um livro eletrônico por medo de choque.Foi linda. Não é mais. O álbum com fotos antigas passou a fazer sala às visitas.Foi forte. Não é mais. Bêbado, se acha.O galo. O gato. O cachorro. O pombo. O rato. Domésticos.A mulher. Os filhos. A faxineira. A síndica. Selvagens.À deriva, vou feito barco. Sem mar ou rio. Entrou num ambiente estranho. Abordou uma estranha. Estranhou a si mesmo.Com quantos paus se faz uma garoa?Vão-se os anéis, ficam os medos.A situação da situação é não sair da situação numa situação dessas.Quem morre do susto não sabe como é bom viver sem soluçar.Nasceu. Cresceu. Procriou. Envelheceu. Ao fazer o balanço de tudo, concluiu: comeu poucas... empadas.Não sei bem ao certo, mas o certo – bem, sei não – parece que não se sabe ao certo o que seja.Número de caracteres não é documento.

Page 16: Folha Carioca / Dezembro 2010 / Ano 10 /  nº 83

16

Dez

embr

o 20

10

Imagine você andando pela cidade, olhando as belezas que esta terra tanto tem a oferecer e quando ao admirar o Cristo Redentor, a estátua fecha os braços em um abraço gigante e se curva em reverência em sua direção. Pode até soar uma ideia surreal, mas isso aconteceu. A ilusão só foi possível graças a uma moderna técnica de projeção conhecida como Video Mapping.

A técnica, que tem apresentado experiên-cias estonteantes ao redor do mundo, pode ser traduzida como mapeamento de vídeo e é o que há de mais contemporâneo neste seg-mento. Consiste em um complexo método de projeção que permite utilizar qualquer superfície como tela, encaixando-se a imagem perfeita-mente em cada aresta, curva, vão, forma ou onde mais o artista quiser mapear. Atualmente no universo da criação em vídeo, todo lugar vira tela e, com uma boa ideia, pode-se transformar totalmente qualquer espaço, inclusive uma está-tua tão gigantesca como o Cristo. Práticas como essa são denominadas VJing, que consiste na manipulação em tempo real de imagens, através de meios tecnológicos e para uma audiência, em diálogo com música ou som.

Quem está a frente dessa revolução visual são os VJs. O termo é geralmente dado ao artista que mixa imagens durante sua performance visual, e ficou popular através da sua associação com o Vídeo Jockey da

MTV. Assim como os DJs ganharam fama desde a década de 70, mixando músicas ao vivo durantes suas apresentações, os VJs surgiram como manifestações visuais na cena noturna novaiorquina, com projeções e re-petições de imagens, os chamados loops, que acompanhavam as mixagens musicais. Ante-riormente suas apresentações eram feitas, quase sempre, acompanhando os músicos ou outras formas de expressões artísticas, mas isso mudou. O movimento subiu para um novo patamar nas últimas décadas, ganhou

o mundo e rompeu as paredes das baladas da cidade americana.

A vídeo arte evoluiu, assim como as diferentes maneiras desses artistas se apresentarem, passando a não só mixar imagens e projetá-las como pano de fundo, mas a criar verdadeiras experi-ências sensoriais para o público em conjunto ou não com outros artistas. O desenvolvimento tec-nológico dos programas de edição

de imagem e equipamentos de projeção têm revolucionado o universo de quem trabalha ou se expressa por este meio. Para a geração do audiovisual, o céu não é o limite. É com essa ideia em mente que artistas e profissionais de vídeo trabalham atualmente.

A v ideomaker Tat iana R abelo, da Mirabólica|Video & Design, é entusiasta das possibilidades desta tecnologia. “A imagem é sedutora. É a forma com que melhor consigo me expressar, por isso estou sempre em busca de telas diferentes, lugares interessantes para in-terferências urbanas. Poder pintar uma cidade, re-significar os espaços, atiçar a imaginação de quem observa e, num piscar de olhos, devolver ao lugar seu significado inicial é extraordinário”, diz.

Com o advento das tecnologias 3D, proje-ções desse tipo extrapolam a tela bidimensio-nal, podem dar vida a um objeto inanimado, ou mesmo criar ilusões gigantescas como a que aconteceu no Corcovado no último mês. A ação denominada Abraço do Cristo Redentor faz parte da campanha “Carinho de Verdade”, do SESI, deste ano, e pode ser vista no Youtube (www.youtube.com/watch?v=EG6lggL8Fag). A direção do projeto e criação de conteúdo ficou a cargo do cineasta e artista plástico Fernando Salis. “Me interessa pensar o espaço urbano como interface, como possibilidade artística. Tenho uma pesquisa sobre construção

tecnologia

Fred Pacífico Alves

O mapeamento de vídeo faz as

paredes das casas do morro de

tela, transformando o ambiente

Projetando ilusões

Divulgação / Visual Farm

A tecnologia do

mapeamento de vídeo

utilizada sobre o Cristo

Redentor possibilitou

que acontecesse o maior

abraço do mundo

Page 17: Folha Carioca / Dezembro 2010 / Ano 10 /  nº 83

Dez

embr

o 20

10

17

visual e percebo a projeção como um forte meio de expressão. As tecnologias existentes na atualidade possibilitam construções em grandes escalas como a realizada no Cristo. Foi o maior abraço do mundo”, comenta o artista.

Vários movimentos no audiovisual

Salis é professor da UFRJ e pós-doutorado em comunicação audiovisual e performance. Parte de sua pesquisa navega na área das projeções, principalmente experimentos de projeções em movimento e em grande escala. “Ações como esta vêm ocorrendo em todos os cantos do planeta. Estamos em comunicação com o mundo e conectados à cultura de transmissão de imagens que vemos por aí”, pontua. E o país não deixa mesmo a desejar. Já é possível dizer que há uma tradição e o reconhecimento internacional dos artistas brasileiros de VJing. Inclusive os atuais campeões do maior torneio de VJ do mundo - o VJ Torna, em Budapeste - são os brasileiros Robson Victor, na categoria Champion (que usa loops do próprio VJ) e o VJ Erms, na categoria Battle (onde todos usam os mesmos loops).

Para o professor, quatro grandes tendên-cias são vistas nessa área. O Mapeamento de objetos, que adequa a imagem à forma tem sido vastamente utilizado em ações de marketing de grandes corporações, como as automobilísticas. Há também os LEDs, que são lâmpadas pequenas sem filamento que se ajustam facilmente em um circuito elétrico, possibilitando a construção de painéis, visores ou mesmo verdadeiras instalações, como a arrumação de natal deste ano vista em frente ao Botafogo Praia Shopping. Esta tecnologia está cada vez mais acessível e em constante desenvolvimento, para uso comercial ou artístico. O uso de LEDs em grande escala está reinventando a paisagem urbana e ar-quitetônica das cidades. Há várias exemplos pelo mundo da utilização desta tecnologia como decoração ou detalhe da arquitetura. Podemos citar a Crown Fountains, no Millen-nium Park de Chicago, que converte sinais de vídeo, ao vivo ou gravados, e os projeta num enorme painel dessas lâmpadas. Os LEDs são controlados individualmente e mudam de cor gradativamente, projetam fotografias dos rostos de residentes e cenas de natureza. Outro exemplo marcante é o uso dado no shopping Fremont Street Experience, em Las

Vegas, onde um longo teto de LEDs ocupa mais de 5 quarteirões e forma atualmente o maior display desta tecnologia do mundo.

Outra tendência seria a Interatividade, como vista na instalação permanente “Beco das Palavras”, no Museu da Língua Portugue-sa, em São Paulo, onde termos se movem sobre uma mesa seguindo o movimento das mãos dos visitantes e, sempre que um novo vocábulo surge, a mesa vira uma tela de pro-jeção que mostra filmes e animações sobre a origem e o significado da palavra formada. Outro exemplo prático desta propensão é em ações do chamado graffiti virtual, onde utilizam-se tablets, mesas de escrita, e o desenho feito é projetado sobre um local, alterando-o. O Canal Futura, durante a grava-ção do seu vídeo de fim de ano, transformou o Morro Santa Marta durante uma noite. A interatividade fez parte das técnicas utilizadas e os moradores puderam literalmente colo-rir a comunidade virtualmente. As crianças foram as que mais se divertiram com a brin-cadeira. Guilherme Santos, de 9 anos, ficou maravilhado ao ver seus desenhos dando cor às casas. “É muito legal. Risco aqui no computa-dor e a casa fica azul, amarela, vermelha. É muito bonito”, diz encantado.

Outra técnica utili-zada para transformar o morro, também conceituada por Salis, foi o mapping sobre

as casas, que consistem em ações de grande escala concebidas para serem apresentadas sobre construções de enormes proporções. Várias casas da comunidade tomaram vida com imagens dançantes, formas geométricas e uma infinidade de desenhos.

Mapeando o mundoO Rio de Janeiro já foi palco de diversas

ações como essa. Além da já citada ocorrida no Corcovado e diversos eventos promo-cionais de empresas, houve mega projeções no Morro do Pão de Açúcar e no Parque das Ruínas, em Santa Tereza. Esta última organi-zada pela produtora Inova.tv, que realizou pelo segundo ano consecutivo um encontro internacional de Video Mapping no Rio de Janeiro: o Video Ataq.

“Vídeo Ataq é um evento de interven-ções audiovisuais com projeções em larga escala, que reúne vídeo artistas, fotógrafos, técnicos de luz e designers, junto com DJ’s e MC’s. Tendo como temática principal a

O grafite virtual coloriu

os ambientes e fez a

alegria dos moradores

Divulgação / Visual Farm

São Paulo teve a famosa Rua

Augusta tomada por artistas do

audiovisual, em mais uma edição

do Vídeo Ataq

Page 18: Folha Carioca / Dezembro 2010 / Ano 10 /  nº 83

projeção arquitetural em vídeo mapping. O objetivo do Video Ataq é associar a arte de novas mídias a outras formas já consolidadas como a música e a poesia em um espaço público”, explica o VJ e curador do evento Jodele Larcher. Outra ação realizada pelo grupo ocupou a famosa Rua Augusta, em São Paulo, com trabalho de artistas nacionais e internacionais. O intercâmbio no meio é algo comum. “Os artistas convidados com-põem uma multiplicidade de expressões. O evento fomenta o intercâmbio cultural e a difusão do conhecimento”, explica Lar-cher. Diversos encontros mundiais de VJs, videomakers e artistas visuais acontecem constantemente em redor do globo. E mega projeções podem ser vistas por todo canto. Paris, Berlim, Budapeste, Londres, Nova

York, São Paulo, Sydney, Rio de Janeiro, entre muitos outros.

Mas para a realização de ações como estas, é necessário um potente aparato tecnológico no que diz respeito aos projetores. Poucas empresas atendem a esse mercado, mas as que existem estão dando conta do recado. Quem vem suprindo boa parte desta demanda é a Visual Farm, empresa pioneira na criação e desenvolvimento de soluções visuais no país. Fundada pelo VJ Alexis Anastasiou há 8 anos e com escritórios em São Paulo, no Rio e Brasí-lia, solicitação é o que não vem faltando para eles. Juliana Amorim, gerente de projetos do escritório carioca, explica que as possibilidades são as mais diversas. “A utilização da arquitetura como suporte unida às tecnologias 3D dá um outro patamar ao universo das projeções, tanto

artísticas como comerciais. Para ser possível concretizar as visões dos artistas, é preciso uma variedade ampla de equipamento de ponta e know-how técnico dos profissionais envolvidos. E isso buscamos fornecer para o mercado nacional”, diz Juliana.

O movimento é tão forte que há atualmen-te prédios sendo concebidos e construídos já prevendo a utilização de seu exterior como tela. Salis conceitua essa nova forma de pensar as construções das cidades como Mídia-arqui-tetura. E pelo que indica, há muito mais por vir. A empresa Tameer Holding, dos Emirados Árabes Unidos, por exemplo, irá construir em Dubai o maior painel LED curvado do mundo, que terá 100 metros de altura e poderá ser visto a 1,5 quilômetros de distância. O projeto, batizado de Podium, ocupará a fachada de uma torre comercial da cidade e servirá como um meio de comunicação para transmissão de mensagens ao público.

Segundo Tatiana Rabelo, podemos apostar para um futuro próximo em novidades saídas diretamente das telas de ficção-científica de pouco tempo atrás, “para mim o próximo pas-so é a holografia. E não demorará muito para vermos essa tecnologia disponível. O futuro está logo aí. Quero ver gente projetando em nuvem. Nem o céu será limite”.

tecnologiaA interação da comunidade com

as projeções alegraram a noite

do Morro Santa Marta

O uso na arquitetura tem

possibilitado intervenções

urbanas extremamente

interessantes

Divulgação / Visual Farm

Page 19: Folha Carioca / Dezembro 2010 / Ano 10 /  nº 83

Dez

embr

o 20

10

19

capa

Nos últimos tempos, com a comunicação via internet e o crescimento do acesso à tele-fonia celular, aumentou, por vezes assustado-ramente, o volume de informações que cada cidadão recebe diariamente. Além dos meios eletrônicos, revistas, jornais e todo tipo de mídia informam, deformam, criticam, causam polêmica, mas, indiscutivelmente ampliam conhecimentos. A Folha Carioca deste mês foi resgatar um pouco daquela comunicação especialíssima tão diversa da comunicação do século XXI: as cartas manuscritas, envelopadas com cuidado, seladas, aquelas que chegam pelas mãos dos carteiros, cartas com destino certo e invioláveis.

Lilibeth Cardozo

Cartas manuscritas

Que belo trabalho encontrá-las! Quantas cartas de amor, cartas com boas notícias, cartas com notícias importantes, cartas com saudades, cartas contando histórias, relatando viagens, cartas ridículas. Encontramos cartas de amor e as histórias escritas através delas. Lemos cartas de crianças que, com a fantasia da infância escrevem com poesia seus desejos e percepções da vida. Lindo ver uma cartinha escrita por uma menina que pede de presente ao Papai Noel um pedacinho de sua barba, como publicamos na Folha Carioca numa de nossas edições passadas.

E as cartas continuam circulando pelo país, escritas em belos e caros papéis ou em pedacinhos arrrancados de qualquer emba-lagem, revista, cadernos. Ainda chegam nas casas aquelas cartas esperadas nos portões, nas janelas. Cartas escritas com belas caligarfias ou letras quase ilegíveis. Mas a carta ainda encanta e causa desencantos. Esperar o carteiro, no Rio de Janeiro, para os que não acessam os meios de comunicação digitais, pode ser uma espera cheia de poesia e encantamento. Como por exemplo nos contou o carteiro, Washington Pereira da Silva que trabalha nos Correios há 13 anos e atuou no bairro de Santa Teresa. Ele nos diz que durante seis anos, sempre que passava pela Rua Triunfo, uma senhorinha de uns 90 anos de idade, que ficava na sacada de uma casa, lhe per-guntava: “Já chegou a minha carta?” Washington, relata: “Ela me fazia a pergunta diariamente e eu respondia dizendo ‘não’ em tom de brincadeira,

porque pensava, realmente, tratar-se de uma brincadeira dela. Num determinado dia, na correspondência a ser entregue na Rua Triun-fo, eu vi uma carta destinada ao endereço da senhorinha. O envelope era muito lindo, cheio de corações desenhados e o endereçamento escrito com uma letra bonita. Quando ela me fez a pergunta de sempre, eu respondi afirma-tivamente. Ela percebeu tratar-se da carta pela qual aguardava há tanto tempo, e então falou com alegria:’Chegou, chegou!’, e veio correndo ao meu encontro. Ao receber a carta, beijou o envelope muitas vezes e disse: ‘O meu amor me escreveu’. Eu fiquei extasiado com tudo aquilo. Depois a senhorinha me contou que, na juven-tude, em Volta Redonda, ela e o remetente da carta foram namorados, mas não casaram por impedimento das respectivas famílias. Os dois se casaram com outras pessoas. Ele continuou vivendo em Volta Redonda; ela mudou-se para o Rio. Quando ambos já tinha enviuvado, voltaram a se reencontrar. Como moravam em cidades diferentes e tinham dificuldade de loco-moção, por conta da idade avançada, passaram a se corresponder. Ele já faleceu; ela hoje está com a doença de Alzheimer”.

Luiz, um carioca que almoçava sozinho num restaurante da Zona Sul, nos contou com carinho e emoção que conheceu a história de amor de seus pais lendo lindas cartas que seu pai, antes de falecer lhe entregou. Segundo Luiz, seu pai, um médico e professor da UFRJ, foi ao Sul a trabalho. Lá conheceu sua mãe,

Dez

embr

o 20

10

19

“Será de alegria, ou será de tristeza,quanta verdade tristonha,ou mentira risonha,uma carta nos traz,e assim pensando rasguei,tua carta e queimei,para não sofrer mais...”

Verso da letra “Mensagem” de Aldo Cabral e Cícero Nunescantada por Maria Betânia

Page 20: Folha Carioca / Dezembro 2010 / Ano 10 /  nº 83

20

Dez

embr

o 20

10

capa

estudante muito jovem, de uma cidadezinha pequena perto de Florianópolis. Ele, já sepa-rado de um primeiro casamento, carioca, era muito mais velho que sua jovem paixão e a familia da moça foi totalmente contra o namoro. Além do estado civil do professor, os cariocas, àquela época, eram sempre vistos como uma ameaça para uma jovem de uma cidadezinha do interior, principalmente se tratando de um homem descasado e vindo de uma metrópole. Segundo Luiz o casal não desistiu e começou um namoro que se deu principalmente por cartas. “Sem negociação familiar”, nos diz Luiz, “o casal acertou uma fuga dela para o Rio de Janeiro onde, à revelia da familia, se casaram numa cerimônia religiosa tendo como padrinhos os dois irmãos dele”. Luiz nos diz que seu pai era um homem romântico e guardou num cofre por toda a vida as cartas, história daquele amor, e pouco antes de falecer lhe deu as chaves do cofre. Ele prossegue, “Meu pai era um bom escritor e junto com as cartas dirigidas a minha mãe estavam guardadas, também, cartas de outras histórias amorosas anteriores.”

Helena, moradora de Laranjeiras, nos conta que ao comprar um apartamento, encontrou num velho baú do antigo proprietário grandes preciosidades em cartas de amor, guardadas numa bela caixa florida, amarrada com fita de cetim. Helena xeretou as cartas e encantou-se com tudo que leu. A antiga proprietária, falecida, por cartas, viveu uma história de amor resgatada depois de muitas cartas de saudades e despedidas. As cartas dela falavam das ausências, do seu casamento mal sucedido. As dele, eram quase um romance, escritas a lápis, e descre-viam os desencontros e o empenho em tê-la de volta como o amor de sua vida. Pelas cartas a história do casal morreu junto com eles, sem se concretizar a união de um amor tão grande.

Cesar, um engenheiro bem sucedido de 59 anos, nos conta que aos 17 anos, quando passou para a Faculdade de Engenheria, re-cebeu de um tio muito querido uma carta de felicitações e aconselhamento para sua carreira. Ele nos diz: “Tenho esta carta até hoje guardada comigo. Ele escrevia bem e certamente aquela carta teve muita importância em minha vida. Foi carinho, cuidado e sobretudo responsabi-lidade carregada de amor, tudo escrito com uma caligrafia linda”.

A história dos CorreiosNa história dos Correios no Brasil é regis-

trado que a primeira correspondência oficial ligada ao país surgiu em 1500 com a chegada de Pedro Álvares Cabral ao Brasil. A carta escrita por Pero Vaz de Caminha e enviada ao rei de Portugal, relatava entusiasticamente o descobri-mento de uma nova terra. O Correio no Brasil, com a carta de Caminha, considera que estava sendo escrita a primeira página do surgimento do Correio no Brasil. No site dos Correios está registrado que “os primórdios dos ser-viços postais no Brasil Colônia reportam-se ao Correio de Portugal e à sua atuação neste novo território. Durante os primeiros tempos da colonização, os portugueses não dispunham de um sistema postal bem organizado, tendo, inclusive, que recorrer ao de nações vizinhas. Nem a criação do Correio-Mor das Cartas do Mar, em 1673, resolveu o problema de ligação postal entre a nova terra e a metrópole. Deste modo, a dificuldade na comunicação entre Portugal e o então Brasil Colônia fez com que fossem instituídos, definitiva e oficialmente em 1798, os Correios Marítimos. Anos depois surgiu a necessidade de promover a expansão dos serviços para o interior da Colônia. A chegada da Família Real ao Novo Mundo abriu

caminhos para que o serviço postal melhor se desenvolvesse com o progresso comercial, advindo a elaboração do primeiro Regulamento Postal do Brasil, o funcionamento regular dos Correios Marítimos e a emissão de novos de-cretos criando os Correios Interiores.

Com o retorno de D. João VI a Portugal, houve um período bastante conturbado que culminou com a independência do país em 1822, quando os Correios desempenharam importante papel, trazendo informações do Velho Mundo e aglutinando aqui as forças em prol do rompimen-to com Portugal. Com o desenvolvimento dos setores produtivos do Brasil tornava-se necessária a reorganização do serviço postal acerca de um modelo mais moderno que o do DCT, que não apresentava infraestrutura compatível com as necessidades dos usuários. Em 20 de março de 1969, pela Lei nº. 509, a Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos (ECT), como empresa pública vinculada ao Ministério das Comunica-ções. O surgimento da ECT correspondia a uma nova postura por parte dos poderes públicos, com relação à importância das comunicações e, particularmente, dos serviços postais e telegrá-ficos para o desenvolvimento do país. O ciclo de desenvolvimento ocorrido na década de 70 correspondeu às novas necessidades de uma clientela que, pouco a pouco, viu as distâncias serem encurtadas e percorridas graças ao serviço postal, que se estruturou e passou a desenvolver e oferecer produtos e serviços, de acordo com a realidade do mercado e as necessidades de sua clientela. A partir de 1980 se intensificava a preocupação com a ação cultural e o desen-volvimento de ações voltadas à preservação do patrimônio cultural do Brasil, sobretudo no que se referia à memória postal. Em janeiro de 2001, com a Inauguração da agência dos Cor-reios de Rio do Fogo, no Rio Grande do Norte, concretizou-se a cobertura de 100% dos 5.561 municípios brasileiros. Nenhuma outra instituição nacional jamais registrou tamanha capilaridade no território nacional.

Cartas/Correios/Carteiros/Palavras/Mensagens

Fomos visitar a agência Central dos Correios, ler cartinhas escritas por crian-ças que acreditam que o Papai Noel recebe a correspondência com pedidos de presentes e na noite de Natal lhes trará os brinquedos tão sonhados. As cartas fazem parte do projeto “Papai Noel dos Correios”. Hoje os Correios transformaram o belo projeto, muito

Page 21: Folha Carioca / Dezembro 2010 / Ano 10 /  nº 83

Dez

embr

o 20

10

21

bem aceito pela população, ligando às es-colas públicas da cidade, vinculando-se aos objetivos de desenvolvimento do milênio de educação básica para todos. O projeto hoje está direcionado para crianças até 10 anos de idade matriculados nas escolas da rede pú-blica localizadas em áreas de vulnerabilidade social. Antes o projeto contemplava crianças até 14 anos de idade e residentes em áreas carentes da cidade. Bela iniciativa, mas é indiscutível que as cartas escritas em salas de aula perderam muito da magia e poesia dos sonhos infantis. A Folha Carioca, como fez anteriormernte, foi ler algumas cartas e notou que as cartas estão bem diferente dos anos anteriores, quando as crianças eram mais espontâneas e, sem nenhuma inter-vensão de professores, faziam suas cartinhas com pedidos inusitados, muitos impossíveis, mas revelando a poesia da imaginação infantil ou suas carências mais sentidas como “Papai Noel, eu quero ganhar um colchão, porque sempre dormi em cima de pedaços de pa-pelão” ou uma outra que pedia um prato de rabanadas para comer na noite de Natal. O projeto dos Correios foi criado em 1997 e no ano de 2009 recebeu 13 mil cartas. Destas, cerca de 9 mil foram presenteadas por algum carioca sensível à importância das fantasias dos nossos carioquinhas sonhadores que não vivem em familias com possibilida-des de presenteá-las. Um dos destaques do projeto é a motivação de sua criação que, segundo a asssessoria de imprensa dos Correios, “nasceu do interesse despertado pelos próprios empregados, em especial dos carteiros no ato da triagem”. A Folha Carioca destaca este trabalho dos carteiros, pois são eles que vivem a realidade das emoções de recebimento das cartas e emocionam-se com as muitas manifestações de alegria ou tristeza ao irem, de casa em casa, entregar emoções escritas em folhas de papel.

Encontramos nas ruas, trabalhando, o carteiro Manuel, que nos falou de suas emo-ções. “É muito cansativo o nosso trabalho, mas temos grandes recompensas, porque lidamos com pessoas e em determinadas regiões, principalmente onde vivem muitos que vieram de outros estados, a carta é o mais eficiente e constante contato. Não tem internet que acabe com a magia das cartas. Já vi moça chorando o fim do namoro, mãe pulando de alegria por saber que vai ganhar um neto, criança feliz, ve-lhinhos e jovens apaixonados, muitos sorrisos e, também, muitas lágrimas de notícias ruins. Carta é carta e é muito bom levar às pessoas alguma coisa que elas esperam tão ansiosa-mente. Sou carteiro há muitos anos e nada é melhor que ver alguém abrindo um envelope e nos agradecendo por nosso trabalho! Temos muita responsabilidade e há mais de 20 anos honro minha empresa entregando momentos de vidas escritas em cartas.”

Fomos à estação de trem Central do Brasil procurar o projeto que foi inspirador do belís-simo filme “Central do Brasil”, em que a atriz Fernanda Montenegro escrevia cartas ditadas pelos analfabetos. Soubemos não mais existir o posto para escrever cartas por solicitação. Não conseguimos apurar quem gerenciava o projeto e que orgão, se público ou privado, o implementou. Lamentamos muito, pois muitos cariocas analfabetos se beneficiavam da facilidade de ditar uma carta e tê-la posta-da. O analfabetismo trava o ser humano para comunicar-se e a beleza do projeto era um serviço de levar palavras escritas para quem não sabe desenhá-las em letras. Apuramos na prefeitura do Rio e fomos informados que não era da área de Comunicação, não era da Educação e nem tampouco da Assistência social. A Folha Carioca ficou sem interlocutor sobre tão importante inciativa. Quem sabe os nossos leitores escrevam cartas à prefeitura solicitando a implementação do projeto?

Page 22: Folha Carioca / Dezembro 2010 / Ano 10 /  nº 83

22

Dez

embr

o 20

10

Médico psiquiatra e analista junguiano, com formação no Instituto Jung de Zurique, Walter Boechat foi o revisor da tradução para o português do Livro Vermelho, de C.G.Jung, editado pela Vozes e que acaba de ser lançado simultaneamente na Europa e Estados Unidos. O livro foi mantido inédito por quarenta anos. Somente em 2000, os herdeiros de Jung decidiram liberar a pu-blicação. Tarefa que envolveu uma equipe numerosa, dada a complexidade da tarefa. Jung trabalhou por mais de 16 anos no LV, chave sem dúvida para a compreensão de sua obra.

FC – Qual o conteúdo do Livro Vermelho?

WB – O Livro Vermelho ou Liber Novus, como o chamou Jung, trata de suas experiên-cias subjetivas, transcritas em fase de grande transição existencial. Tal processo ele deno-minou “confrontação com o inconsciente”, constituindo marco significativo em sua obra criativa. É um constante relato de personifica-ção de conteúdos subjetivos, um constante diálogo do ego com diversos personagens em cenários imaginários os mais diversos

Quanto à forma, trata-se de um volume caligráfico, à maneira do pergaminho, com iluminuras e letras góticas. O texto utiliza o latim, o grego e o alemão. Jung ilustrou suas visões e personagens do inconsciente com belíssimas figuras usando têmpera, pigmentos misturados à água e clara de ovo. Na Idade Média, a têmpera era usada para ornamentar a madeira dos altares. As ilustrações adqui-rem, assim, um extraordinário e fascinante brilho místico.

Por que Jung manteve o LV como “opus privado” separado do “opus público erudito”?

Há indicações de que Jung pretendia pu-blicar o Livro Vermelho. Tão logo terminou o manuscrito, enviou-o a um círculo íntimo de amigos pedindo a opinião deles. Modificou algumas partes, expandiu outras, até chegar

perfil Walter Boechat

O Livro Vermelho de Jung

Maria Luiza de Andradeà forma final. Mas acabou optando por mantê-lo secreto, fechado aos estudio-sos e ao público em geral. Ao ser trazido à luz, o texto precioso provavelmente fará com que a obra de Jung seja revista sob uma nova e mais ampla perspectiva.

Como a publicação de uma obra tão original interfere na aceitação da Psicologia Junguiana hoje em dia?

Nada demonstra de modo mais vigoroso a ampla aceitação de Jung na cultura contem-porânea do que a recente exposição, em Washington, dos originais do Livro Vermelho (texto e ilustrações com painéis explicativos) na National Library, a mais importante Biblio-teca do país, dedicada à memória da nação americana. Considero altamente significativa a abertura de tal espaço para uma mostra das experiências mais centrais e subjetivas de Jung.

Freud respondeu às questões e conflitos mais imediatos do homem europeu. Jung fala ao homem global, num mundo de culturas interligadas. A permanência de Jung em sociedades tribais na África, na Índia e no Novo México demonstra seu interesse pelo homem de sociedades diversas com suas ca-racterísticas gerais, independente da cultura.

Como Jung lidou com as visões e com os habitantes do seu mundo interior?

Imagens brotavam de forma espontânea de seu inconsciente. Teve uma primeira visão enquanto viajava de trem para visitar uma parente, perto de Zurich. Era dezembro de 1913. Viu a Europa coberta por um mar de sangue desde o norte até as fronteiras dos Alpes ao sul. Ficou profundamente impres-sionado, pois a espantosa visão se repetiu. Médico psiquiatra, viu na manifestação um possível sintoma de desequilíbrio psíquico. Quando, meses depois, a Europa entrou na primeira guerra mundial (1914-1918) Jung pode entender o caráter antecipatório de sua percepção. A visão demonstrava, de forma simbólica, profundas modificações no mundo de fora, e também, é necessário sublinhar, no

espaço psicológico subjetivo de Jung: estava rompendo com Freud e com o movimento psicanalítico, abandonando a Associação Psicanalítica Internacional (IPA), da qual fora seu primeiro presidente. Era um momento de grande transição também interna, um pro-cesso que Jung chamaria mais tarde de “crise da metade da vida”, experiência arquetípica comum na maturidade.

Em que consiste a Imaginação

Ativa?Jung sempre disse que as emoções, quan-

do autônomas, são perigosas e influem de modo patológico na consciência. O processo de personificação das emoções em forma de imagens e figuras diversas, a Imaginação Ativa, é forma criativa de lidar com elas e aos poucos integrá-las na consciência.

Como Jung uniu o mundo da per-

cepção externa com o mundo da per-cepção do inconsciente?

O processo de desdobramento interno da psique, que Jung chamou de processo de individuação, não é um processo separado do mundo objetivo. Experiências internas são vinculadas por Jung a acontecimentos externos, a começar por sua primeira visão do mar de sangue invadindo a Europa antes do começo da I Guerra. Bastante tempo de-pois, Jung iria formular o sofisticado princípio da sincronicidade, tentando explicar de forma sistemática coincidências significativas entre eventos externos e acontecimentos psico-lógicos subjetivos. Sincronicidade, porém, é diverso de sincronismo, efeitos coincidentes no tempo de forma causal.

Dr. Walter Boechat, fundador da

Associação Junguiana do Brasil para

formação de analistas

Page 23: Folha Carioca / Dezembro 2010 / Ano 10 /  nº 83

Dez

embr

o 20

10

23

Esporte é o caminhoO caminho para o Si-mesmo (Self)

leva à Individuação?À época da escrita do Livro Vermelho

o conceito de um centro da personalidade total que inclui os mundos consciente e inconsciente não estava ainda totalmente formalizado por Jung. Esse centro é diferente do ego, centro da personalidade consciente. Mais tarde ele iria conceituar esse centro da personalidade total, chamando-o Si-mesmo, ou Self. Um dos símbolos importantes do Self é a personalidade supra-ordenada, que expressa valores mágicos e uma maturidade psicológica muito superior à da personalidade consciente. No Livro Vermelho o mago Phi-lemon personifica esse centro transcendente. Ele aparece como um orientador espiritual de Jung. Há momentos, entretanto, em que a personalidade Jung se aproxima bastante do sábio Philemon. É um processo gradual de integração de uma energia diferenciada que Jung, em certa medida, realizou com idade avançada.

SERVIÇO:Livro Vermelho de C.G.Jung

Editora VozesRua Sete de Setembro, 132 loja A

Tel: 2215-6386

Instituto Junguiano do Rio de JaneiroAv. Copacabana, 1052 grupo 1204Tel: 2247-2433 (período da tarde)

TRECHO DO LIVRO(Eu): Por que você não me deixa

dormir quando estou cansado?(Alma): Agora não é tempo de dor-

mir, mas de ficar acordado e preparar coisas importantes no trabalho noturno. // ... Não há tempo para dormir se você não encontra tempo durante o dia para permanecer na obra. // ...Tudo está esperando por você. E você? Você permanece em silêncio e nada tem a dizer. Mas você deve falar. Por que você recebeu a revelação? Você não deve escondê-la. Você está preocupado com a forma? É importante a forma quando se trata de revelação?

(Eu): Mas você não está pensando que devo publicar o que escrevi. Seria uma desgraça, quem iria compreendê-lo?

projeto social

A atividade esportiva é, comprovada-mente, um dos melhores instrumentos para a melhoria da qualidade de vida, da afirmação da auto-estima, do bem-estar, da saúde e da integração social da população.

Na Gávea, um importante trabalho está sendo desenvolvido por Ariel de Abreu Barros, professor de Educação Física, em parceria com o Inosel – Instituto Nossa Senhora de Lourdes, localizado na Estrada Santa Marinha. Trata-se de uma escola de futebol e tem por objetivo promover a inclusão social através do oferecimento de atividade esportiva e recreativa, atendendo crianças e adolescentes da Rocinha e da co-munidade do Parque da Cidade. O projeto iniciou suas atividades em setembro deste ano e atualmente atende aproximadamente 30 jovens de várias idades. Uma das condi-ções para o jovem participar é estar regu-larmente matriculado e frequentando uma escola. O projeto se desenvolve utilizando um método de iniciação do jogo de futebol, adaptado à capacidade e necessidade dos alunos. Durante as atividades os alunos são separados em duas turmas, para evitar que a diferença de tamanho entre eles cause alguma contusão durante as partidas. O projeto conta inclusive com a participação feminina. O número de meninas é peque-no, mas percebe-se que elas jogam em igualdade de condição técnica, mostrando que futebol não é apenas para garotos.

A ocupação dos jovens no turno in-verso ao da escola com a prática esportiva representa uma ação positiva e de apoio efetivo às famílias. A atividade física é capaz de contribuir com a questão pedagógica

da própria escola, afastando-os da rua, redu-zindo a evasão escolar e contribuindo para a integração social. Através do esporte pode-se conseguir uma melhora significativa nas atitudes do jovem e, por consequência, um melhor aproveitamento escolar. Os alunos se sentem gratificados por receberem uma atenção especial por parte do professor Ariel e por conviverem em um ambiente diferente daquele do seu dia a dia, muitas vezes reco-nhecendo que o esporte pode representar uma grande chance em suas vidas.

A prática do futebol constitui uma impor-tante ferramenta na educação e socialização dos adolescentes, a partir do momento em que auxilia no seu desenvolvimento físico e emocional, e na construção de valores éticos e morais. No projeto os alunos pra-ticam exercício físico, treinam controle de bola, aprendem fundamentos do futebol, desenvolvem disciplina, amizade, respeito e senso de equipe. Com isso, os princípios fundamentais do futebol são ampliados da esfera esportiva à social, satisfazendo as necessidades de diversão, movimento e integração dos alunos, fazendo com que estabeleçam laços afetivos espontâneos.

O projeto acontece duas vezes por semana, às quartas e sextas-feiras, das 8h às 9h30, na quadra de esporte do Inosel e não irá interromper as atividades nas férias escolares. As inscrições estão abertas a todos interessados e deverão ser feitas pelos pais diretamente com o professor Ariel através do telefone 7715-2005. O candidato deverá residir nas proximidades, estar regularmente matriculado em uma escola e apresentar um atestado médico.

Page 24: Folha Carioca / Dezembro 2010 / Ano 10 /  nº 83

24

Dez

embr

o 20

10

Espaço Oswaldo [email protected]

Natal: arte e superaçãoMoacir Ferraz, Fernando Fernades dos Reis,

Maria de Lourdes Alesse, Gonçalo A. Pinto Borges, Ensudemia Rufino Vieira, Claudete Corpo, Juracir Batista de Oliveira, Rose Mary Orth, José Henri-que Teixeira Breda, Clênio Márcio Ventura, Jadir Raimundo, José Marcos dos Santos, Paulo César T. Duarte, Eliana Zaqgui, Maria aparecida Falleiros, Tetê Fernandes... Vocês sabem quem são essas pessoas, já ouviram falar seus nomes, conhecem-nas? Não, certamente que não. Com prazer, apresento-lhes: essas pessoas integram aquele fantástico grupo da superação, do ideal sempre à frente, da vontade que jamais se perde, da consciência, da evolução, do inconformismo frente à adversidade, do exemplo que todos nós devemos assimilar, sem derrotismos, sem esse abandono ao viver, vencidos pelo nada, apenas à espera do fim, num complexo “deixa a vida me levar”, aqui, longe do sentido grotesco que lhe dá Zeca Pagodinho ao cantar seu samba, - eles é que levam a vida – são os anti-desiludidos, na ação, diria heróica, que se impõe ao ego de cada um que de nós deve merecer o respeito, o aplauso, tudo. E nem sei se consegui, emocionado, expressar-me como desejaria para anunciar que estou me refe-rindo ao grupo dos pintores na Com a boca e os pés. Trata-se de uma entidade de São Paulo, uma associação não beneficente, mas sim, como me informo, uma sociedade de membros importantes,

os sem membros, que aprenderam a pintar - e como pintam - sustentando o pincel com os lábios ou os pés, a partir de um projeto humanitário aberto em 1956. São gigantes da fé e da confiança que ainda na lida profissional procuram estimular ao trabalho pessoas outras tam-bém marcadas por deficiências físicas. Eis o que se deve chamar propriamente de super-autoestima e dignidade, pois esses inspirados mestres se negam a representar um peso para a sociedade, independentes que são, até, financeiramente.

* * *

Então, que os prestigiemos agora, nesta bela quadra do tempo que nos traz a lembrança do Nascimento de Jesus, oferecendo-lhes a melhor porção de solidariedade, ao adquirir seus belos tradicionais cumprimentos de boas festas, dando-lhes o indispensável retorno à sua solicitação, na gentil cartinha de Tetê. Os pedidos podem ser feitos pelo telefone (11) 5051-1008, em meio às compras comuns dos perus, das castanhas, dos brin-quedos das crianças, todos nós praticando, corações abertos, uma justa ação cristã.

míd

ia

Deu na

TODA A MÍDIA: “Barraco total no Exame. Nacional de Ensino Médio - pela segunda vez.” E nem (com trocadilho...) tudo veio ao conhe-cimento do público. // SEXY: capa - “Leonardo - Um homem sem chifre é como animal indefeso.” Meu Deus, como artista diz bobagem. // GLOSS - capa - “Mariana Ximenes - ficar solteira não me deixa arrasada.” Não sei se entendi... // FOLHA DE S. PAULO: “Para contemplar aliados Dilma teria de criar outras 21 pastas.” Em trocados: iriamos para 55 ministérios, um super-trem da alegria. // TV-CULTURA - His-toriador Marco Antonie Villa falando ao apresentador Haroldo Barbeiro: “O presidente Lula devia ser demitido por abandono de emprego.” Caberia justa causa // HOJE - Viriato Costa: “O turismo da terceira idade está movimentando 20 milhões por ano. “ É o peso dos velhinhos na economia. // ÉPOCA - Capa: “O vento vai soprar a favor de Dilma?”. Vento que venta lá, venta cá e Cabral só descobriu o Brasil por causa da calmaria... // FOLHA DE S. PAULO - Fernando Rodrigues: “Se Dilma fizer um bom governo, bem sucedido, por que razão abriria a porta para Lula? Se for péssimo ou medíocre, o retorno dela também se tornará incerto. “ Nunca na história deste país houve uma pessoa envolvida em tantas interrogações. // DESTAK: “Um quarto das empresas não sobrevive ao primeiro ano. Das 464 mil abertas a partir de 2007, 23.9% fecharam as portas um ano depois da inauguração.” Esta política de entrega das chaves não esteve na plataforma da presidente Dilma, que se empossa daqui a pouco. // PIAUI -”André Singer explica por que o Lulismo veio para ficar.” Ou seria o Fiquismo, já consagrado pelo Chávez? // GLOBO NEWS: “Dificuldade de votação entre os índios ianomanis foi a falta de fotografia do eleitor. Lei eleitoral desconhece situação que fere a liberdade de crença e de cultura.” Que a Funai encontre solução, já que para os ianomanis a alma é roubada pela fotografia... // VEJA - capa - Caricatura de Lula com a chamada: “Ele sairá presidente. Mas a presidência sairá dele?” Dilma o incorporará. // JORNAL DO RIO – BAND: “Em Madureira, rua Edgar Romero, 40% das lojas já desapareceram por causa da ação terrorista dos bandidos da Serrinha - bala para todo lado com a polícia.” Serrinha no meu tempo era só a sede da Escola de Samba Império Serrano, Mano Décio e gente boa...

Pincel na boca, Jerzy Omelczuk pintou

este Nascimento de Jesus, uma das

sugestivas imagens que ilustram os cartões

produzidos pelos “Pintores com a boca

e os pés”, cujo trabalho recomendo aos

leitores, agradecendo.

Page 25: Folha Carioca / Dezembro 2010 / Ano 10 /  nº 83

Dez

embr

o 20

10

25

É isso. Antigo leitor do Zózimo, de sua bela coluna no JB, deu de trazê-lo a compartilhar também, de lá, onde está, das alegrias cristãs dos festejos de Natal. É como se a minha criação – Imprensaudade - começasse a tomar forma... Quem colocou o gorrinho na cabeça do jornalista foi original e, por que não? - fofo - não acham?

A lembrança dos filmes sobre tubarões aterro-rizando banhistas nas praias, as notícias de tubarões arrancando pernas de nadadores na orla pernambu-cana e outros eventos que relacionam esse peixe à barbárie provocam em todos nós uma sensação de pavor quando nos referimos a esse animal marinho. Foi assim, tomado de surpresa, que ao chegar na praia do Leblon deparei-me com essas dezenas de barba-tanas fincadas na areia, como a sugerir, de imediato, uma terrível invasão, um gigantesco cardume, uma avalanche de tubarões prontos a devorar quem se aventurasse a um simples mergulho.

Era apenas um fantástico cenário ali montado visando a despertar a consciência popular para uma campanha que tem por objetivo - imaginem: salvar os tubarões! E aqui eu já diria, coitadinhos! Verdade. Neste ano que acaba, nasceu uma entidade “Divers for skarkes” - Mergulhadores pelos tubarões - que tem como objetivo mobilizar a comunidade inter-nacional de mergulho, incluindo seus empresários, para ajudar a salvar esses animais de extinção. Eles são absolutamente importantes para os ecossistemas marinhos, disse-me um dos funcionários no servi-ço. Está escrito: “Venha ajudar-nos hoje mesmo a reverter o declínio dos tubarões rumo à extinção e contribua para restaura-mos a saúde dos ocea-nos”. Leigo, transcrevo: “Sendo predadores de topo da cadeia nas teias alimentares marinhas, os tubarões ajudam a man-ter o equilíbrio da vida nos oceanos. Regulam a diversidade e abun-

ImprensaudadeO tubarão - essa pobre criatura injustiçada...

dância de espécies sobre as quais predam, inclusive diversa espécies de peixes de grande valor comercial. Ajudam a manter saudáveis seus ambientes, incluindo pradarias de gramíneas marinhas e recifes de coral. Declínios de populações de tubarões resultam com-provadamente em efeito cascata de degradação dos ecossistemas marinhos”.

O tubarão existe no planeta há 400 anos e - está lá - não vive preparado para enfrentar as ameaças dos impactos humanos sobre eles. Suas característi-cas biológicas como crescimento lento, reprodução tardia e produção de poucos filhotes fazem dele espécie particularmente vulnerável à sobrepesca e dificultam sua recuperação quando dizimada. A sopa de barbatanas de tubarão representa a morte de 73 milhões deles todos os anos!

O rapaz com quem conversei me disse: - Não compre carne ou produtos de tubarão, vendidos também com cação.

Uma virada de 360 graus no meu errado conceito sobre essa fera – fera, coisa nenhuma! – um amor de peixe que passa, então, a representar para todos nós, terráqueos, não um assassino, mas um ser vivente que faz por merecer de nós um tratamento, digamos, mais humano. Que nos leve, em consequência, a

reconsiderar o uso inde-vido de seu nome para identificar e qualificar certos industriais, co-merciantes, banqueiros, políticos etc. na melhor gíria popular: tubarão.

Anotem, para apoiar: http://www.facebook.com/diversforsharks

Page 26: Folha Carioca / Dezembro 2010 / Ano 10 /  nº 83

26

Dez

embr

o 20

10

A mudança é uma característica da natu-reza como um todo, tanto da realidade que nos cerca como de nós mesmos. Tudo ao nosso redor está em constante mudança e nós mesmos temos essa tendência de mudar, de buscar coisas novas, de explorar novos mundos. Um exemplo disso é Nadjanara, 43 anos, casada, mãe de três filhas, que resolveu há quatro anos empreender e hoje está à frente de um mercado na Gávea, o Econô-mico. Muita gente se surpreende ao saber que no Alto Gávea, no local conhecido como Largo do Rodo, onde antigamente o bonde fazia a volta, tem outro comércio, por achar que o bairro só tem um supermercado. Sua proprietária nasceu em Salvador e vive há 11 anos no Rio de Janeiro. Inicialmente seu marido é quem era sócio do mercado e, em 2007, tendo outros compromissos profissionais, passou o negócio para ela administrar. Pouco tempo depois Nadjanara comprou a parte do outro sócio e agora dirige a empresa com a experiência adquirida ao longo desses anos e com a visão de uma exigente dona de casa. Do antigo mer-cado pouco restou, pois ela fez reformas e mudanças importantes. Seguindo essa linha, pretende melhorar ainda mais a loja.

Nadjanara lembra que desde que assumiu o mer-cado seu tempo livre diminuiu muito, principalmente aos sábados e feriados, pois acredita que é necessária uma dedicação total ao negócio. Diariamente ela é encontrada nos corredores do mercado, dando seu toque particular. A apresentação dos produtos é um detalhe importante enfatizado por ela. “A embalagem colorida agrada o cliente, bem como preços bem legí-veis”, destaca. Dos produtos expostos na loja, ela chama a atenção para as carnes, os hortifrutigranjeiros e para os alimentos orgânicos como ovo, frango, hortifruti, arroz, feijão, entre outros, que a cada dia atraem mais a clientela e precisam ser sempre de boa qualidade e com preços atrativos.

Perguntada sobre quais são os pontos chaves para fazer uma boa gestão de um mercado, prontamente responde: bom atendimento, limpeza, preço, qualidade e variedade dos produtos, preços legíveis e visíveis, pro-ximidade do consumidor e organização das gôndolas.

Quem frequenta o Econômico da Gávea nota uma diferença dos outros mercados com relação ao atendimento. Em uma época em que a tecnologia concede grande poder ao cliente através da rapidez

Um mercado para chamar de seu

na busca de informação, não basta descobrir os locais onde os produtos estão sendo vendidos mais baratos. É preciso também receber um bom atendimento, evitar filas, ter facilidade no pagamento, o estabelecimento ser próximo de casa, ter serviço de entrega, produtos frescos e por aí vai. Ela explica que a principal vantagem de um mercado de menor porte é a possibilidade de criar um relacionamento mais estreito com os clientes, ter um serviço personalizado. E isso gera satisfação. Na medida do possível os funcionários sabem o que o cliente deseja, sua expectativa, o que gosta ou o que não gosta. Muitas das pessoas que vão ao Econômico são conhecidas dos funcionários pelo nome, retomando um costume antigo no qual os proprietários das mer-cearias conheciam os clientes, os filhos e as famílias, e muitas vezes ajudavam a carregar as compras até o automóvel. É pena que esta prática esteja acabando, que o mercado esteja sendo substituído por hipermer-cados, locais enormes, frios, impessoais, onde o cliente é apenas mais um. Quanto aos preços, nem sempre é verdade que os supermercados pratiquem preços menores. Em tempo: a taxa cobrada pelo Econômico para entrega das compras é R$5,00, contra os R$7,99 do supermercado Zona Sul.

A carne vendida no mercado Econômico é um caso à parte. Nadjanara percebeu que o cliente consumidor de carne, tanto da bovina quanto de frango, é formado por pessoas de alta escolaridade, que, pelo seu maior poder aquisitivo e facilidade para viajar, já tiveram a oportunidade de comer em bons restaurantes, tornando-se mais exigentes do que o consumidor médio. Eles estão preocupados com a qualidade da carne definida pela cor, maciez, sabor e

suculência, que são características determi-nantes no momento da decisão de compra. Pela prática da vida ela sabe que o consu-midor escolhe o corte da carne baseado na experiência anterior, do modo de preparar e com o grau de satisfação na refeição, sendo influenciado pela aparência, ou seja, pela cor da carne, quantidade e distribuição da gordura, firmeza e, no caso do produto embalado, pela quantidade de líquido livre. Para este consumidor, a decisão de voltar a comprar no mesmo ponto de venda, ou do mesmo tipo de carne, vai depender de terem sido satisfeitas suas expectativas iniciais. Baseado nessas informações, Nadja-nara optou por receber carnes diariamente,

frescas, não congeladas, já desossadas, de um ótimo fornecedor. Indagada sobre se isso não eleva o valor dos produtos, ela explica que por o consumidor ser exigente, ele não se importa de pagar um sobrepreço de um produto comum, desde que não seja muito, que tenha uma qualidade superior e suas necessidades e desejos específicos sejam atendidos.

Desde julho entrou em vigor uma lei que determina que supermercados e estabelecimentos comerciais de médio e grande porte do Rio de Janeiro substituam sacos plásticos por sacolas reaproveitáveis. As sacolas ecológicas, feitas de pano, palha ou mesmo as caixas de papelão utilizadas para levar as compras para casa se tornaram uma bandeira para Nadjanara na luta contra o aquecimento global e geração de lixo - atitude que a fez restringir o uso dos sacos plásticos em seu estabelecimento. Os clientes do mercado se dividiram em dois grupos: os entusiastas da medida e aqueles que acreditam que as sacolas plásticas são injustiçadas e vão fazer falta na hora de descartar o lixo produzido em suas residências. O chaveiro Pedro Pereira aprovou a lei e chamou a atenção para o fato de que em muitos supermercados pequenas compras são colocadas em enormes sacos plásticos.

- Nós, consumidores, podemos rejeitar muitas sacolas colocando compras pequenas em caixas de papelão e sacolas retornáveis.

Mude você também.

Serviço:Mercado Econômico da Gávea

Rua Marquês de São Vicente, 438Tel: 2274-2806

pela Gávea

Como um resgate do comércio tradicional, onde o cliente é conhecido pelo nome, o mercado Econômico da Gávea chama a atenção pelo atendimento

Bruna, Nadjanara, Josué Estrela e Marcos Vinícius

Page 27: Folha Carioca / Dezembro 2010 / Ano 10 /  nº 83

Dez

embr

o 20

10

27

O Treinamento Funcional traz boa forma para todas as idades, estilos de vida e capacidades físicas. Utiliza os princípios de propriocepção para estimular de formas variadas, sensores que existem em nossas articulações, desta forma, a resposta a algum movi-mento brusco ou mais complexo, torna-se mais rápida e mais segura.

É um treinamento físico que visa desenvolver as qualidades motoras que o corpo necessita para manter sua funcionalidade durante o processo do envelheci-mento, prevenindo quedas e fraturas, e fazendo com que o corpo continue a executar os movimentos simples do nosso dia a dia.

A propriocepção é a percepção do corpo através de um estímulo ou um movimento que desafia o sistema nervoso. Os indivíduos que mais podem se beneficiar com esse treinamento são os atletas e os idosos.

Treinamento funcional: boa forma para todas as idades

saúde e bem-estar

Os esportes exigem demais dos atletas. Em praticamente todas as modalidades esportivas são realizados movimentos bruscos, impactos excessivos, mudança de direção, contato físico, dentre outros, necessitando do treinamento proprioceptivo onde a instabilidade criada externamente provoca respostas inconscientes ou reflexos que são a resposta natural do corpo à propriocepção.

Os idosos também precisam trabalhar seus mecanismos protetores, pois com o passar da idade perdemos o equilíbrio corporal e a propriocepção funciona muito bem como um procedimento de defesa e manutenção do equilíbrio desses indivíduos, evitando, assim, traumas, quedas e possíveis fraturas.

O Método Pilates utiliza a propriocepção como fundamento de seus programas de exercícios. Nas aulas observamos inúmeros exercícios que envolvem, por exemplo, superfícies instáveis (cama elástica, bosu, pranchas de equilíbrio, fit board, fit ball etc.), a fim de proporcionar ao cérebro oportuni-dades para avaliar a orientação no espaço, desenvol-

vendo e treinando a consciência corporal, a respiração diafragmática e a força no Core tão importantes na nossa rotina diária.

O Método Pilates apresenta vários benefícios tais como a reabilitação das articulações do corpo, como artroses, tendinites, torções, estiramentos musculares, entre outros. Portanto, o estímulo proprioceptivo é extremamente importante, pois eles bem ativados e potencializados de forma eficiente podem melhorar muito o sistema de proteção ósteo-articular, melhoran-do sua capacidade física como coordenação motora, equilíbrio, força, velocidade, flexibilidade, além de atuar nas reabilitações de lesões restaurando a estabilidade funcional, reduzir os riscos de lesões e trazer um alívio às dores crônicas em especial os problemas de coluna.

Os melhores programas de musculação e de ginástica de hoje em dia devem incluir o treinamento funcional em seu planejamento. Ele inclui exercícios e movimentos para desafiar, ampliar e melhorar a atuação dos mecanismos proprioceptivos e gerar melhor postura e maior equilíbrio. Ao contrário dos localizados, os exercícios funcionais solicitam diversos músculos simultaneamente (cadeias musculares) per-mitindo melhora do controle neuromuscular e assim melhor desempenho, enquanto os demais exercícios são utilizados para manutenção do condicionamento físico.

Esses exercícios exigem controle, equilíbrio e concentração. É uma forma divertida de trabalhar seu corpo!

Fique atento às novas tendências e busque sempre um programa de exercícios que inclua o treinamento funcional.

Experimente!

Ana Cristina de CarvalhoEspaço Pilates Gávea

[email protected]

Page 28: Folha Carioca / Dezembro 2010 / Ano 10 /  nº 83

28

Dez

embr

o 20

10

Com o passar dos anos todos nós tere-mos patologias relacionadas à idade, espe-cialmente no que se refere à nossa função cardíaca. Patologias como o Diabetes Mellitus e a Hipertensão Arterial, geram perturbações sistêmicas, que devem ser combatidas ou amenizadas com a prática regular e segura de exercícios físicos orientados. Os idosos, ho-mens e mulheres, devem realizar, sobretudo, exercícios de força, para que seus músculos não atrofiem, mas ao contrário, cresçam em volume, resistência e beleza. Os músculos, tendo maior força, moldam os ossos, que assim ficam mais densos e menos propensos à osteoporose. Para que os efeitos do envelheci-mento cronológico e fisiológico ocorram mais lentamente, exercícios devem ser realizados seguindo uma linha de esforço crescente e ponderado para melhor adaptação do corpo aos novos estímulos.

Existem diversas modalidades de atividade física que devem ser individualmente planeja-das para os idosos e para os que necessitam aumentar sua resistência cardiovascular e muscular, num programa cuidadosamente orientado por um fisioterapeuta experiente. Cada atividade tem seu foco em partes especí-ficas do corpo e a sua prática deve ser moldada ao paciente de modo que, a cada dia, ele o faça com mais prazer e evolua tanto qualitativa como quantitativamente.

O trabalho de condicionamento cardio-vascular deve ser realizado com o máximo

Reabilitação cardiovascular para idosos e pessoas com problemas cardíacos

de cuidado para que nada fuja ao controle. O cuidado deve começar com a escolha, feita em conjunto com o idoso, da melhor atividade a ser realizada, passando pelo preparo e evoluin-do até aos níveis de esforço físico e cardíaco desejados para cada idade.

As pessoas que vão iniciar um programa de atividade física devem gostar de praticá-la, assim os resultados virão mais rápidos e serão mais consistentes. Uma atividade bastante comum e adequada à maioria dos quadros patológicos é a caminhada. Acessível a todos, pode gerar aumento do gasto calórico, au-mento da capacidade pulmonar, redução de alguns níveis sanguíneos como o colesterol e a glicose, além de contribuir para o acúmulo de cálcio nos ossos.

O trabalho que realizo com meus pa-cientes é iniciado com uma avaliação bastante abrangente e completa, para que as neces-sidades próprias da pessoa sejam atendidas. Nessa avaliação são utilizados recursos técnicos e inspeções clínicas, para encontrar a causa do problema que aflige o paciente e programar o tratamento adequado. Dependendo do nível da lesão ou comprometimento, exercícios de maior ou menor complexidade serão realizados.

Para que a aptidão física tenha uma me-lhora significativa, realizamos, além de alonga-mento e alívio de dores musculares freqüentes, exercícios de equilíbrio, caminhada, corrida e fortalecimento muscular, além de outros que

podem ser planejados, dependendo de cada paciente e da etapa do tratamento.

Para auxiliar na segurança e facilitar a ve-rificação do ritmo cardíaco, utilizamos relógio com frequencímetro para aferir o ritmo dos ba-timentos cardíacos. Um ganho relevante com a prática regular de exercícios é a freqüente redução e até suspensão da ingestão de alguns medicamentos, por causa da melhora das taxas sanguíneos, do aumento da auto-estima e do bem estar geral.

Não basta aumentar somente o potencial físico do idoso. É preciso ajudá-lo no seu desenvolvimento psíquico e maior estabili-dade emocional, como também ajudá-lo a melhorar sua convivência com as pessoas em seu entorno.

A prática planejada de atividade física super-visionada pode não regenerar todos os tecidos lesados, mas pode proteger ou amenizar pa-tologias crônicas comuns aos idosos. O mais importante é maximizar as funções fisiológicas do organismo que ainda estão preservadas, aumentar a auto-estima fazendo com que o idoso tenha uma velhice mais tranqüila e com maior qualidade de vida.

Fabio Parente, fisioterapeutaPós-graduação em Neurologia e Geriatria Atendimento domiciliar ou no consultório

Tel.: 8884-7857E-mail: [email protected]

www.pontoharmonia.com.br

Fabio Parente

Page 29: Folha Carioca / Dezembro 2010 / Ano 10 /  nº 83

Dez

embr

o 20

10

29

EMERGÊNCIA Tel.:2529-4505

GERALTel.:2529-4422

André da Luz Moreira

cirurgião colorretal

alto teor de gordura e carnes vermelhas, pouca ingestão de fibra vegetal, obesidade, sedentarismo, tabagismo e uma história familiar positiva para câncer de intestino.

A prevenção do câncer colorretal é possível através de exames complementares que permitem a identificação de pólipos no interior do intestino. Sabe-se que o câncer colorretal se inicia com o aparecimento de pequenos pólipos benignos que após cinco a dez anos se transformam em tumores malignos de forma silenciosa, sem dar qualquer sinal ou sintoma de alerta. Quando estes sinais ocorrem (tais como sangramento digestivo, dor abdominal, alteração do hábito intestinal) estamos lidando na maioria das vezes com um tumor já em fase avançada.

A colonoscopia é o melhor exame na preven-ção e no diagnóstico precoce do câncer colorretal. Ela é capaz de detectar estes pequenos pólipos benignos e removê-los antes que se transformem em tumores malignos. O exame necessita de um preparo intestinal para adequada limpeza do intes-tino e é realizado sob sedação do paciente devido ao desconforto e cólicas abdominais causados pela introdução do aparelho pelo ânus. O preparo para o exame necessita da ingestão de uma bebida via oral que resultará em intensa diarréia e na total remoção das fezes do intestino. Assim, o aparelho de colonos-copia é capaz de percorrer todo o intestino grosso e visualizar adequadamente qualquer área suspeita.

Câncer intestinal: quem está em risco?

Todos nós estamos muito bem informados em relação à prevenção e detecção precoce do câncer de mama em mulheres e do câncer de próstata em homens, dois dos mais prevalentes tumores malignos em nosso meio. Entretanto, poucos conhecem ou são informados sobre o câncer do intestino grosso, ou câncer colorre-tal, uma vez que não temos campanhas eficazes para a população.

O câncer colorretal é um dos mais co-muns na nossa sociedade, principalmente nas classes sociais mais altas e nos centros mais industrializados. Além disso, se detectado precocemente, ele é também um dos tumo-res malignos com maiores chances de cura e prevenção. Podem atingir tanto os homens quanto as mulheres, sendo a primeira causa de câncer do aparelho digestivo e a terceira em incidência entre todos os tumores malignos no Brasil. Dados do Instituto Nacional de Câncer projetam mais de 25.000 casos novos casos para 2010.

Existem alguns fatores de risco que estão associados à maior chance de desenvolvimento do câncer colorretal. Dentre eles, podemos listar a idade acima de 50 anos, uma dieta com

André da Luz Moreira O tratamento do câncer colorretal se ba-seia na extração cirúrgica da parte do intestino grosso acometida pelo tumor por via abdomi-nal, necessitando ou não de complementação com quimioterapia, dependendo do estágio do tumor. No caso dos tumores de reto (parte do intestino grosso mais próxima ao ânus), a ra-dioterapia antes da cirurgia poderá ser indicada para melhor controle de cura. A cirurgia poderá ser realizada por via laparoscópica ou pela via mais antiga que chamamos de cirurgia aberta. Ambas as vias apresentam bons resultados oncológicos, traduzidos por longa sobrevida e baixas taxas de recidiva. A técnica laparoscópica no câncer colorretal é apenas uma via de acesso menos invasiva, representando uma menor incisão no abdome, portanto menos dor após a cirurgia e recuperação mais rápida com efeito cosmético superior.

Finalmente, a melhor forma de tratamento do câncer colorretal está na sua prevenção ou diagnóstico precoce. Homens e mulheres com idade superior aos 50 anos devem procurar um médico gastroenterologista ou coloproc-tologista para mais informações e orientação individualizada sobre as medidas a serem tomadas para evitar essa doença que atinge milhares de brasileiros.

Page 30: Folha Carioca / Dezembro 2010 / Ano 10 /  nº 83

30

Dez

embr

o 20

10

Pelo menos Fujas do lugar comum Se tomas por empreitadaDefinir essa mãe-mulher-poetaIndefinível!

Semente-flor hibernadaNa estufa do lar Em paciência sacrossantaPara eclodir, vicejar, florir No inesperado das circunstanciasQuando tantas fenecem.

Mulher-música, sem ataviosAluna da vida, mestra de nósInda por cima poeta De luminosidade própriaComo as estrelas A quem basta a própria luz.

Seus versos agasalham Espíritos ao relento Que deles sugam A seiva encantada Do nosso Olímpio provisório.

Assim foi, assim é, assim será Essa voz-mensagem Que não precisa de um tempo ou lugar Para ecoar E promover, na sua simplicidadeNosso encontro com nossos mistérios.

Irá de Souza Pinto

Gostaria que meus sonhosFossem como fumaça,Que saíssem da chaminé realizados,Em cada espiral um sonho muito

/ idealizado.

Ao sair, fluíssem todos os sentimentosQue guardamos por tanto tempo, Que nosso coração ficou tão cansado De tanto esperar pela resposta.

Se eles viessem logoNosso sorriso seria felizE nossos sonhos realizados,Mais contentes ficaríamos.

Mas a fumaça se espalha ao ventoE nossos sonhos vão levitarE quem sabe num passe de mágicaEm nossa casa vai morar.

Ser feliz é ter alegriasTantas que não dá para descreverSó mesmo em nosso pensamentoEles têm espaço para ficar.

A felicidade não se contaSe sente, ri ou chora E com os amigos partilhamos, As coisas boas ou más.

Selva Aretuza

Espaço do leitor

Cora Coralina

Como fumaça

Dia 11 de dezembro - sábado - das 9h às 14hFeira de Saúde, Serviços & informação & Feira de

artesanatoLocal: Praça Edmundo Bittencourt (atrás do Hospital

Copa D’Or) no Bairro Peixoto – Copacabana

Dia 13 de dezembro – 2a feira – às 19h30Show SAMBA DE MESTRE com Eduardo CantoParticipação especial: Sergio Chiavazzoli e DorinaBanda Zero Telles na percussão e Israel Dantas no violãoLocal: Sala Municipal Baden PowellAv. N.S.Copacabana, 360 – CopacabanaTelefones: 2255-1067 e 2255-1366Ingressos: R$ 30,00 (inteira) / R$ 15,00 (meia)

Dia 15 de dezembro – 4a feira – às 15hPalestra gratuita: A SAÚDE EM OUTRAS CULTURAS A medicina cigana, a medicina indígena, a medicina

africana, o xamanismo, simpatias e muito mais – com a jornalista e pesquisadora Maria Helena Farelli

Local: Teatro do Centro Cultural da Justiça FederalAv. Rio Branco, 241 – Centro

Dia 16 de dezembro – 5a feira – às 15hApresentação teatral e vivênciaCriação e direção: Claudio FelicianoLocal: Teatro do Centro Cultural da Justiça FederalAv. Rio Branco, 241 – CentroIngressos: R$ 20,00 (inteira) / R$ 10,00 (meia)

Dia 16 de dezembro – 5a feira – às 19h30Show: NATAL DE CAVAQUINHO & OUTROS PRE-

SENTESCom Sergio Chiavazzoli na direção musical, no cavaqui-

nho e violão, Fábio Lessa no Baixo e Flávio Santos na Bateria Participação especial: Eduardo CantoLocal: Sala Municipal Baden PowellAv. N.S. Copacabana, 360 – CopacabanaTelefones: 2255-1067 e 2255-1366Ingressos: R$ 20,00 (inteira) / R$ 10,00 (meia)

Eventos, serviços e projetos para a 3ª idadewww.flickr.com/people/terceiraidade/www.projetosoparamaiores.zip.net/

Agenda aberta para “Só para maiores”

Page 31: Folha Carioca / Dezembro 2010 / Ano 10 /  nº 83

Dez

embr

o 20

10

31

Você dizia que ia partir para um lugar imaginário.Sentia-se perdido e, no entanto, não se importava mais com o que dizia. Suas palavras eram

efêmeras e repletas de mistérios que surgiam após longos dias de reflexão. Pensava esculpir uma figura de bronze para poder lustrá-la quando seus pensamentos ficassem difusos. Estava preso a um ser que o atormentava dia e noite.

Talvez o seu conflito interior o cobrisse de incertezas; devaneava, criava frases e poemas líricos.Quanta inquietude apertava o seu frágil coração. Você mudava da água para o vinho, assim como

do vinho para a amargura.Perdido, desiludido e praticamente solitário, sabia muito bem que já não existia mais esperança

em cultivar aquele amor tão profundo. Então a solução seria esquecer...Sua alma ficou escura, triste.Dias se passaram e o sol chegou bem forte iluminando a escuridão.

Georgine Tadei

Uma fuga da realidade

Onde moroMoro, de novo, na Selva de Pedra. De

novo, porque vim de Petrópolis em desa-balada carreira serra abaixo, fugindo do frio que consegui suportar apenas por uns cinco anos. Eu voltei para esse recanto do Leblon, mas não digo que voltei para ficar. Meu espí-rito cigano não me permite afirmar tal coisa. Adoro mudanças. A idéia de criar raízes me incomoda demais.

Gostei de rever o meu antigo ninho, as árvores bem mais crescidas e fartas, propor-cionando bastante sombra e frescor. Da minha janela avisto um verdadeiro bosque e entendo que também por isso, numa época em que tanto se valoriza o verde, os imóveis dessa superquadra tenham subido tanto de preço. Uma dessas árvores, impetuosa amendoeira, tapou a mísera visão que eu tinha da Lagoa. Adeus, contemplação da árvore de Natal! Disso não gostei.

Como também não gostei de ver que os bancos da praça da Selva imploram uma substituição ou, pelo menos, uma boa pintura. Parecem tão alquebrados quanto alguns idosos que neles se sentam para jogar conversa fora. Eu me lembro que havia uma Associação para o Desenvolvimento da Selva de Pedra – a Adespe - mas me disseram que ela se faz de morta e não providencia coisa alguma. Afortunadas são as crianças, pois para elas os brinquedos do playground ainda dão para o gasto.

O antigo pipoqueiro sumiu. Parece que foi conferir se, afinal de contas, as estrelas não são pipocas com glitter. Continua visível o rapaz que vendia bombinhas. Eu o detesto, por causa dos irritantes estalinhos, mas admiro o seu amor à leitura.

O que mais se vê na Selva de Pedra é cachorro. De todos os tamanhos, raças e temperamentos. Durante a minha ausência, a população canina aumentou notavelmente. A maioria dos donos é bem educada e recolhe os dejetos dos “filhinhos”, mas sempre há um ou outro que deixa pelo caminho um “brinde” para o pedestre distraído. Outros transformam os canteiros em banheiros. E depois... nossa! O cheiro que exalam não é propriamente de rosas.

Procurei no Orkut comunidades do tipo Amo a Selva de Pedra, Amigos da Selva, etc. etc. mas o que encontrei não foi nada convidativo. Duas ou três comunidades que não parecem ligadas aos problemas daqui e, portanto, nem um pouco interessadas em contribuir para solucioná-los.

Um dia, eu vou morar em outro lugar. Mas conservarei aqui o meu velho ninho. Sabe-se lá se eu resolvo voltar? Este é o único oásis que conheço nesse Rio quente e turbulento, selva de pedra e de asfalto. Só espero poder então avistar da minha janela um pedacinho de lagoa e, nela, a árvore iluminada de mais um Natal.

Maria Zuleika

classificadosALOE VERA - BABOSA NUTRITIVA E MEDICINALPoder regenerador dos tecidos da pele e das células em geral, cicatrizante, antinflamatória, ação antibiótica e muito mais. Obtenha in-formações para adquirir produtos feito com o puro gel da Aloe Vera.Marlei ReginaTel.: 2579-1266

PSICOTERAPIAAbordagem corporal, base analítica.Depressão/ansiedade, insônia, compulsões, síndrome do pânico, fobias, doenças psicos-somáticas... Propiciando vitalidade, bem-estar e desenvolvendo confiança, auto-estima, criatividade, auto-realizações.Ana Maria – psicóloga – CRP 05-5977Tel.: 2259-6788 / 9952-9840 - Gávea

PSICOTERAPIAAtendimento para adultos com abordagem corporal Reichiana. Trabalho com foco na saúde física e emocional, através de desen-volvimento funcional do corpo e da mente.Thaís Germano – psicóloga – psicotera-peuta corporal – CRP 05/37804Tel.: 21 8197-7227 - Humaitá

AULAS PARTICULARES DE INGLÊSProfessora experiente, dinâmica, ex Cultura, ex Britânia dá aulas particulares desde princi-piantes até professores. Conhecimento de Inglês técnico.Prof. Lilian - 2286-2026 / 9941-2984

MEL PURODiretamento do produtor. Apiário Manacá de Nova Friburgo. Safra silvestre e assapeixe. Embalagem de 450g – R$10,00. Entregas na Gávea e Leblon grátis com míni-mo de 4 unidades. Tel.: 2259-8266

Page 32: Folha Carioca / Dezembro 2010 / Ano 10 /  nº 83

32

Dez

embr

o 20

10t

[email protected]

“O desejo é um mundo individual.”

“Passos rápidosrumo ao nada.”

“Muitos motivos para amar.O coração saberá dizerqual caminho escolher.”

“$ in => dependência => out $”

“A alma duvida da própria existência.”

“A sutileza enriquece a vida.”

“Me divirto em sonhos com mulheres irreais.”

“A felicidade encontra-se entre o chão e o pulmão.”

“Pego hard mas sou soft.”

“O universo é antropofágico.”

“Sorrir, rir e gargalhar.A felicidade saindo pela boca.”

“Na hora de acabar com a preguiça,deu preguiça.”

passar dos dias

sensações da vida

discussões noturnas

amigos distantes

dilemas de amor

noites escuras

súbito

surge

surda

a saudade

dias

amigos

amores

noites escuras

sutil é o beijo

que nunca se esquece

Tamas

Pens

amen

tos

Pró-

fund

os

Pont

o po

étic

o A primeira parte do livro Loja de amo-res usados, de Carmen Moreno, chama-se “Morte Versus Vida”, eis o primeiro poema, Movimento: “O fim abraça tudo / que mal se inicia. / Qual feto morto, / na barriga do dia.” Versos prenunciando a vitória da morte, que, inclusive, aparece em primeiro lugar no próprio título. Poderíamos pensar que para essa devastação impossível de ser contida nada restaria. Mas, mergulhando livro adentro, envolvendo-se no ardor da hora poética, logo se percebe que essa morte, que a tudo e a todos devora, não consegue levar consigo a poesia. Permanece esta como marco de uma vitória, como a vida dos deuses olímpicos, que se não eram tão eternos assim, ao menos o são enquanto duram. E duram até hoje.

Num idioma que, entre tantos poetas difíceis de serem hierarquizados, há um Camões e um Pessoa, a própria opção de escrever poemas torna-se uma temeridade. Mas Carmen Moreno arrisca-se, não teme o desafio, parecendo talhada para tal ofício. A epígrafe inicial, colhida na obra de João Ca-bral, aponta o propósito: “gosto de chegar ao fim, de atingir a própria cinza.”

Em tudo que escreve, ela não deixa ideias nem modos de dizer na superficia-lidade:

“Ninguém parte: aparta-se de nós / apenas o palpável. / Perde-se a casca densa do amado ser. / Seus sonhos, mirados do Alto, / a terra não morde.”

“Arriscar é ser mais que o medo.”“Busco o poema como quem se espar-

rama, / tateando a cama vazia. / Quero, no colo da palavra, / a cor que falta no dia.”

Na segunda parte, “Ecos da Casa”, os poemas percorrem o universo da memória:

“A família se esvai, / por entre os dedos dos anos. / Encardida fotografia. Grande útero decomposto.”

Trata-se, na verdade, de uma memória drummondiana, lembranças que não apenas transmitem saudade, amargor de uma vida sempre vulnerável a perdas, a separações, ao silêncio, mas essa memória também revela o peso da ancestralidade, que per-

manece em cada um e que é impossível ser descartada.

“A família tomba sobre nós com seus guardados. / Quem seríamos, sem tantas vozes compondo nossos passos?”

Versos que nos lançam à presença perene daqueles que nos antecederam, presenças em pequenos gestos, olhares, palavras perdidas, impossível se livrar do passado, impossível a autossuficiência:

“Meu pai morava no desamparo. / Sorte, que a casa amparava sorriso nas frestas de cal, / nas tréguas do caos. / E havia alegrias resistentes nos cantos dos quartos, /

nas rosas das janelas... / E havia o mo-vimento dos irmãos, / e as mãos da mulher partindo pedaços de pão, / para não per-dermos o caminho.”

Mais adiante:“Tenho minha mãe entre as pernas, /

Há anos tento pari-la, pari-la de mim, / mas minha mãe não se desgarra.”

E, ainda uma vez, a própria poesia surge (metaforicamente, é claro) como um meio de salvação, uma barreira capaz de nos proteger das mazelas do dia-a-dia:

“Vem, poema, me salva do sorriso de minha mãe, / da loucura da minha irmã.”

Momento em que alegria e loucura se unem, porque, tanto no universo familiar quanto no percurso da memória, a palavra surge como meio de organização do mun-do, não a palavra comum, mas a da poesia, a palavra surpreendente, a palavra até mesmo impossível.

Na terceira parte, “De Cama e Cortes”, o livro enfoca o papel do amor, também como antídoto à solidão, ao caos provocado pela inexplicabilidade da vida. A sedução se faz presente como tentativa de driblar a morte:

“Os amantes se penetram. / Injetam-se no outro, e perdem o rosto.”

“De que recanto do amor o pássaro da morte / levou no bico o teu beijo.”

A temática da morte, como nos gran-des poetas de nossa língua, quase sempre se faz presente no texto de Carmen, ora apontando a dualidade amor versus morte,

Haron Gamal [email protected]

“O fim abraça tudo”, menos a poesia

Page 33: Folha Carioca / Dezembro 2010 / Ano 10 /  nº 83

Dez

embr

o 20

10

33

Hospital Rocha Maia: uma unidade de saúde que agoniza

Até o final dos anos 90, funcionava à Rua General Severiano, 91, Botafogo, a Unidade Integrada de Saúde Rocha Maia. Os serviços oferecidos à população eram: emergência de médio porte, aberta 24 ho-ras, com equipes compostas por 4 clínicos, 2 pediatras, 2 acadêmico-bolsistas e 10 estagiários não-remunerados; ambulatórios de clínica médica, cardiologia, pediatria, me-dicina alternativa, cirurgia geral, ginecologia, odontologia e geriatria; laboratório, centro de imagens; enfermarias para adultos masculinas e femininas; centro cirúrgico bem equipado para cirurgias de pequeno e médio porte; serviço de cirurgia ginecológica; serviço de tratamento de AIDS (CADIT). Após o ano 2000, a unidade ganhou status de Hospital, mas, paradoxalmente foram extintos o centro cirúrgico, o serviço de cirurgia ginecológica (ambos transferidos para o Hospital da Lagoa).Os ambulatórios de clínica médica e medicina alternativa foram também extintos. Recen-temente, foi iniciada obra, com recursos do Governo Federal para a reforma da “nova Emergência”, que se encontra em estado adiantado, seguindo o projeto original ainda do governo César Maia. No entanto, há na atual secretaria de saúde um grupo dominante que objetiva transformar o Hospital em uma “policlínica”, com ambulatórios de várias especialidades e exames complementares ainda não definidos. O problema é que nessa

denúncia

ora vida versus morte, que na verdade tem como origem o próprio amor.

Apesar da divisão do livro em partes, torna-se impossível ocultar temas recor-rentes. Memória, amor e morte sempre reaparecem para configurar uma tessitura poética coesa.

“Acariciar sonhos, / enchendo gavetas de guardados. / Amarelados papéis, roídos por baratas e tempo.”

A última parte, “Sobre Saias e Sobre (saltos)” enfoca especificamente a condi-ção feminina, apresentando questões do tempo, que apontam o papel da mulher na contemporaneidade:

“A mulher que mora em mim tem tantos mundos, / que todos os homens sou eu.” Aqui a mulher tornando-se uma entre todos os gêneros.

“O amor roçou no tempo até esgarçar-se de vez, por excessos. / Quando caminho as coxas roçam uma na outra, por excessos. / Cortar gorduras é exercício estóico (às vezes esmoreço e espreguiço). / Mas tenho apreço pela assepsia da alma: limpo desde menina o lixo entranhado na história.”

Ou ainda: “escondo a barriga sem lipo, / mas a

alma - renovada - mostra a cara.” Neste trecho, apresentam-se as exigên-

cias da modernidade em oposição ao desejo do eu poético pela autenticidade.

E há também a crít ica ao universo masculino, este equilibrado no fio tênue entre o desejo do macho e sua fragilidade, a inobservância do masculino pelo próprio reflexo, difícil de ser admitido:

“viril de crachá / ele é macho de etiqueta / lançar-se no pódio / é sua muleta / Para qualquer suspeito / ele arma sua mira / persegue o gay / que o espelho lhe atira!”

Carmen Moreno é autora de vários livros, tanto de ficção como de poesia. Este Loja de amores usados vem apenas confir-mar um talento que há muito se destaca, e revelar uma poeta que sabe trabalhar tanto com os temas universalmente abordado pela poesia, como com aqueles que fazem parte do tempo presente.

Loja de amores usadosCarmen Moreno

Editora Multifoco, 119 páginas

Encomendas: [email protected]

mudança de perfil está previsto o fechamento da Emergência, ficando aberto apenas um Serviço de Pronto Atendimento (SPA), e das enfermarias, sob a alegação que após a criação das UPAS o Rocha Maia tornou-se desneces-sário enquanto atendimento de emergência para a população residente na área da AP 2.1. O que vemos na prática, porém, é que a procura permanece intensa, não apenas de moradores das áreas vizinhas como também da Rocinha, Santa Teresa, Caju, Lapa, dentre outros bairros distantes.

Como houve reação aos planos da secre-taria por parte do Conselho Distrital e associa-ções de moradores, talvez como retaliação, o Hospital parou de receber reforços humanos e materiais, pela primeira vez não recebeu acadêmicos-bolsistas, e está funcionando precariamente, com equipes incompletas, com a Emergência fechada ao público em vários horários, tanto no atendimento adulto como infantil, e falta de medicamentos e aparelhagem básica.

O grande alerta à população é que, se abrirem a “nova Emergência” em dezembro próximo com o quantitativo de profissionais hoje existente e a falta de equipamentos e materiais essenciais, será o caos, com graves riscos à saúde da população que, inadver-tidamente, procurar socorro no Hospital, especialmente em casos graves.

É preciso salvar o Hospital Rocha Maia!

Politicagem e irresponsabilidade municipal

podem causar mortes evitáveis

Page 34: Folha Carioca / Dezembro 2010 / Ano 10 /  nº 83

GÁVEABanca do CarlosRua Arthur Araripe, 1Tel.: 9463-0889

Banca Feliz do RioRua Arthur Araripe, 110Tel.: 9481-3147

Banca João BorgesClínica São Vicente

Banca MSVRua Mq. de São Vicente, 30Tel.: 2179-7896

Banca New LifeR. Mq. de São Vicente,140Tel.: 2239-8998

Banca Alto da GáveaR. Mq. de São Vicente, 232 Tel.: 3683-5109

Banca dos FamososR. Mq. de São Vicente, 429Tel.: 2540-7991

Banca SperanzaRua dos Oitis esq. Rua JoséMacedo Soares

Banca SperanzaPraça Santos Dumont, 140Tel.: 2530-5856

Banca da GáveaR. Prof. Manuel Ferreira,89Tel.: 2294-2525

Banca Dindim da Gá-veaAv. Rodrigo Otávio, 269Tel.: 2512-8007

Banca da BibiShopping da Gávea 1º pisoTel.: 2540-5500

Banca PlanetárioAv. Vice Gov. Rubens Be-rardoTel.: 9601-3565

Banca PinnolaRua Padre Leonel Franca, S/NTel.: 2274-4492

Galpão das Artes Urba-nas Hélio G.PellegrinoAv. Padre Leonel Franca, s/nº - em frente ao PlanetárioTel: 3874-5148

Restaurante Villa 90Rua Mq. de São Vicente, 90Tel.: 2259-8695

MenininhaRua José Roberto Macedo Soares, 5 loja CTel.:3287-7500

Da Casa da TataR. Prof. Manuel Ferreira,89Tel.: 2511-0947

Delírio TropicalRua Mq. São Vicente, 68

Chez AnneShopping da Gávea 1º pisoTel: 2294-0298

Super BurguerR. Mq.de São Vicente, 23

Igreja N. S. da Con-ceiçãoR. Mq.de São Vicente, 19Tel.: 2274-5448

Chaveiro Pedro e Cá-tiaR. Mq. de São Vicente, 429Tels.: 2259-8266 15ª DP - GáveaR. Major Rubens Vaz, 170Tel.: 2332-2912

J. BOTÂNICOBibi SucosRua Jardim Botânico, 632 Tel.: 3874-0051

Le pain du lapinRua Maria Angélica, 197 tel: 2527-1503

Armazém AgriãoRua Jardim Botânico, 67 loja H tel: 2286-5383

Carlota PortellaRua Jardim Botânico, 119 tel: 2539-0694

Supermercado CrismarRua Jardim Botânico, 178 tel: 2527-2727

Posto YpirangaRua Jardim Botânico, 140 tel:2540-1470

HUMAITÁBanca do AlexandreR.Humaitá esq. R.Cesário AlvimTel.: 2527-1156

LEBLONBanca ScalaRua Ataulfo de Paiva, 80Tel.: 2294-3797

Banca Café PequenoRua Ataulfo de Paiva, 285

Banca MeleRua Ataulfo de Paiva, 386Tel.: 2259-9677

Banca NovelloRua Ataulfo de Paiva, 528Tel.: 2294-4273

BancaRua Ataulfo de Paiva, 645Tel.: 2259-0818

Banca RealRua Ataulfo de Paiva, 802Tel.: 2259-4326

Banca TopRua Ataulfo de Paiva, 900 esq. Rua General UrquisaTel: 2239-1874

Banca do LuigiRua Ataulfo de Paiva, 1160 Tel.: 2239-1530

Banca PiauíRua Ataulfo de Paiva, 1273 Tel.: 2511-5822 Banca Beija-FlorRua Ataulfo de Paiva, 1314 Tel.: 2511-5085

Banca LorenaR. Alm.Guilhem, 215 Tel.: 2512-0238

Banca Cidade do Le-blonRua Alm. Pereira Guima-rães, 65 Tel.: 8151-2019

Banca BB ManoelRua Aristides EspínolaEsq.R. Ataulfo de PaivaTel.: 2540-0569

Banca do LeblonAv. Afrânio M. Franco, 51 Tel.: 2540-6463

Banca do IsmaelRua Bartolomeu Mitre, 144Tel: 3875-6872

BancaRua Carlos Goes, 130Tel.: 9369-7671

Banca Encontro dos AmigosRua Carlos Goes, 263Tel.: 2239-9432

Banca LuísaRua Cupertino Durão, 84Tel.: 2239-9051

Banca HMRua Dias Ferreira, 154Tel.: 2512-2555

Banca do CarlinhosRua Dias Ferreira, 521 Tel.: 2529-2007

Banca Del SolRua Dias Ferreira, 617 Tel.: 2274-8394

Banca Fadel Fadel Rua Fadel Fadel, 200 Tel.: 2540-0724

Banca QuentalRua Gen. Urquisa, 71 BTel.: 2540-8825

Banca do Vavá Rua Gen. Artigas, 114 Tel.: 9256-9509

Banca do MárioRua Gen. Artigas, 325 Tel.: 2274-9446

Banca Canto LivreRua Gen. Artigas s/n Tel.: 2259-2845

Banca da Vilma Rua Humberto de CamposEsq. Rua Gen. Urquisa Tel.: 2239-7876

Banca Canto das Le-tras Rua Jerônimo Monteiro, 3010 esq. Av. Gen. San Martin

BancaRua José Linhares, 85Tel.: 3875-6759

BancaRua José Linhares, 245Tel.: 2294-3130

Banca GuilherminaR. Rainha Guilhermina, 60 Tel.: 9273-3790

Banca RainhaR. Rainha Guilhermina,155 Tel.: 9394-6352

Banca Rua Venâncio Flores, 255 Tel.: 3204-1595

Banca Miguel CoutoRua Bartolomeu Mitre, 1082Tel.: 9729-0657

Banca Palavras e PontosRua Cupertino Durão, 219Tel.: 2274-6996

BancaRua Humberto de Campos, 827Tel.: 9171-9155

Banca da EmíliaRua Adalberto Ferreira, 18Tel.: 2294-9568

BancaRua Ataulfo de Paiva com Bartolomeu Mitre

Banca Novo LeblonRua Ataulfo de Paiva, 209Tel.: 2274-8497

BancaRua Humberto de Campos, 338Tel.: 2274-8497

BancaRua Alm. Pereira Guima-rães, 65

Banca J LeblonRua Ataulfo de Paiva, 50Tel.: 2512-3566

BancaAv. Afrânio Melo Franco, 353Tel.: 3204-2166

BancaRua Prof. Saboia Ribeiro, 47Tel.: 2294-9892

Banca Largo da Me-mória Rua Dias Ferreira, 679Tel: 9737-9996

Colher de PauRua Rita Ludolf, 90Tel.: 2274-8295

Garapa Doida R. Carlos Góis, 234 - lj FTel.: 2274-8186

Banca do AugustoRua Humberto de Campos, 856Tel: 3681-2379

Sapataria Sola ForteRua Humberto de Campos, 827/ETel.: 2274-1145

Copiadora Digital 310

Loteria EsportivaAv. Afrânio de Melo Franco

Loteria EsportivaAv. Ataulfo de Paiva

Vitrine do LeblonAv. Ataulfo de Paiva, 1079

Café com LetrasRua Bartolomeu Mitre, 297

Café Hum LeblonRua Gen. Venâncio Flores, 300

Tel.: 2512-3714

Leblon Flat ServiceRua Almirante Guilhem, 332

BOTAFOGOBanca Bob’sRua Real Grandeza, 139 Tel.:2286-4186

FLAMENGORepública Animal Pet-shopRua Marquês de Abrantes, 178 loja bTel: 2551-3491 / 2552-4755

COPACABANAModern SoundRua Barata Ribeiro, 502 D Tel.: 2548-5005

URCABar e restaurante UrcaRua Cândido Gafrée, 205Próximo à entrada do Forte São João

Banca do Ernesto

Banca da Teca

Banca da Deusa

Banca do EPV

Page 35: Folha Carioca / Dezembro 2010 / Ano 10 /  nº 83
Page 36: Folha Carioca / Dezembro 2010 / Ano 10 /  nº 83