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ii ESCOLA POLITÉCNICA DA USP CURSO DE MBA EM GESTÃO E TECNOLOGIAS AMBIENTAIS FLÁVIO JUN KAMIYA PROJETO COMPOSTA SÃO PAULO: A REDUÇÃO DOS RESÍDUOS SÓLIDOS URBANOS E SEUS PASSIVOS POR MEIO DA VERMICOMPOSTAGEM DOMÉSTICA São Paulo 2014

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Page 1: Flávio Jun Kamiya - Projeto Composta São Paulo A redução dos resíduos sólidos urbanos e seus passivos por meio da vermicompostagem Doméstica

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ESCOLA POLITÉCNICA DA USP

CURSO DE MBA EM GESTÃO E TECNOLOGIAS

AMBIENTAIS

FLÁVIO JUN KAMIYA

PROJETO COMPOSTA SÃO PAULO: A REDUÇÃO

DOS RESÍDUOS SÓLIDOS URBANOS E SEUS

PASSIVOS POR MEIO DA VERMICOMPOSTAGEM

DOMÉSTICA

São Paulo 2014

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FLÁVIO JUN KAMIYA

PROJETO COMPOSTA SÃO PAULO: A REDUÇÃO

DOS RESÍDUOS SÓLIDOS URBANOS E SEUS

PASSIVOS POR MEIO DA VERMICOMPOSTAGEM

DOMÉSTICA

Monografia apresentada ao PECE – Programa de Educação Continuada em Engenharia da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo como parte dos requisitos para a conclusão do curso de MBA em Gestão e Tecnologias Ambientais.

Supervisora: Prof. Letícia Mesquita

São Paulo 2014

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DEDICATÓRIA

Dedico este trabalho ao verdadeiro desenvolvimento sustentável.

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AGRADECIMENTO

Agradeço ao Cláudio Spínola, idealizador e coordenador do Projeto Composta

São Paulo, por acreditar e liderar um movimento tão grande e tão impactante para a

história de São Paulo e do Brasil. Agradeço ao Guilherme Turri por seu envolvimento

e por me ajudar com informações referentes ao Projeto Composta São Paulo.

Agradeço ao Ighor Romero que é meu amigo, estudante de letras da USP e foi

revisor deste trabalho. Agradeço também a todos os integrantes e participantes do

Grupo Composta São Paulo que vêm adicionando membros diariamente para

difundir a vermicompostagem doméstica, a sustentabilidade e a promoção de uma

melhor qualidade de vida. Agradeço a todas essas pessoas pela colaboração que

tiveram com o desenvolvimento do projeto, deste trabalho e por serem corajosos o

suficiente para mudar a cultura de uma das maiores megalópoles do mundo.

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EPÍGRAFE

“Seja a mudança que você gostaria de ver no mundo.”

Mahatma Gandhi

“A culpa no crescimento de resíduos não é de quem lida com ele, e sim o

resultado do consumo de todos.”

Anna-Carin Gripwall

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RESUMO

O Resíduo Sólido Urbano (RSU) é um tema que tem recebido pouca

importância pelas populações das cidades brasileiras. A Política Nacional de

Resíduos Sólidos (PNRS) responsabiliza os geradores de resíduos pela sua

destinação e pela geração dos seus passivos ambientais, porém na prática não

houve grandes mobilizações para a destinação adequada dos RSUs tanto do

governo quanto da população. O Brasil produz cerca de 144 mil toneladas de

resíduos orgânicos por dia e somente 1,6% destes resíduos têm tratamento

adequado como a compostagem. O objetivo deste trabalho é avaliar se a

vermicompostagem doméstica é uma forma adequada e viável para a redução de

RSUs destinados aos aterros ou lixões inadequadamente e a consequente

diminuição de seus passivos ambientais. São Paulo gera cerca de 20 mil toneladas

de resíduos diariamente e 60% são resíduos domésticos que são coletados pelas

concessionárias Ecourbis e Loga. Através da vermicompostagem, é possível tratar

até 51% desses resíduos domésticos (resíduos orgânicos), possibilitando maior

facilidade para a coleta seletiva dos resíduos recicláveis que compõem 32% e

somente 17% (rejeitos) seriam encaminhados aos aterros sanitários que aumentaria

o tempo de vida útil destes e diminuiria a poluição de solo, água e ar. O total de

resíduos encaminhados aos aterros provenientes de domicílios diminuiria em 83%,

de 3,6 milhões de toneladas ano para 744,6 mil toneladas por ano. Por meio das

informações obtidas, verificou-se que a vermicompostagem doméstica é uma

alternativa adequada para redução de custos com passivos ambientais, aumento da

conscientização da população sobre a responsabilidade compartilhada prevista na

PNRS e benéfica ao desenvolvimento sustentável gerando ganhos ambientais,

sociais e econômicos.

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LISTA DE SIGLAS

ABRELPE – Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Urbana

AMLURB – Autoridade Municipal de Limpeza Urbana

EPA – Environmental Protecion Agency

Ipea – Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada

IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

MMA – Ministério do Meio Ambiente

OSCIP - Organização da Sociedade Civil de Interesse Público

PGIRS - Plano de Gestão Integrada de Resíduos Sólidos

PNRS – Política Nacional de Resíduos Sólidos

RSU – Resíduos Sólidos Urbanos

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LISTA DE FIGURAS E TABELAS

Figura 1 - Padronização vasilhames em São Francisco ........................................... 16 Figura 2 - Esquema simplificado do processo de compostagem .............................. 20 Figura 3 - Húmus de Minhoca ................................................................................... 24 Figura 4 - Minhocas Vermelhas da Califórnia............................................................ 25 Figura 5 - Kit de Compostagem Doméstica (vermicompostagem) ............................ 25 Figura 6 – Chorume .................................................................................................. 34 Figura 7 - RSU Gerado e RSU Coletado 2012 e 2013 .............................................. 35 Figura 8 - Destinação final do RSU .......................................................................... 35 Figura 9 - Percentual por região que conta com coleta seletiva ................................ 36 Figura 10 - Composição dos Resíduos Urbano em São Paulo ................................. 37 Figura 11 -- RSU Reciclado em São Paulo diariamente ........................................... 38 Figura 12 - Possibilidade de novos encaminhamentos do RSU de fonte domicilar em toneladas por dia ....................................................................................................... 39 Figura 13 - Coleta não padronizada e sem separação de resíduos por classificação em São Paulo ............................................................................................................ 42 Tabela 1 - Porcentagem de matéria orgânica tratada em relação ao total estimado coletado (2008) ......................................................................................................... 16 Tabela 2- Tamanho e Capacidade das Composteiras .............................................. 26 Tabela 3 - Resultados Parciais .................................................................................. 29 Tabela 4 - Avaliação do Suporte ............................................................................... 30 Tabela 5 - Avaliação do conteúdo ............................................................................. 30 Tabela 6 – Composição dos Resíduos que podem ser compostados ....................... 32 Tabela 7 - Estimativa da composição gravimétrica dos resíduos sólidos coletados no Brasil ......................................................................................................................... 38

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SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO ...................................................................................................... 12 1.1 JUSTIFICATIVA ................................................................................................... 15

2. OBJETIVO ............................................................................................................. 18

3. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA .................................................................................. 19 3.1 POLÍTICA NACIONAL DE RESÍDUOS SÓLIDOS ........................................................ 19

3.2 COMPOSTAGEM ................................................................................................. 20 3.3 MORADA DA FLORESTA ...................................................................................... 21 3.3.1 COMPOSTAGEM DOMÉSTICA (VERMICOMPOSTAGEM) ......................................... 23 3.4 PROJETO COMPOSTA SÃO PAULO ....................................................................... 26

3.4.1 RESULTADOS PARCIAIS DO PROJETO COMPOSTA SÃO PAULO ........................ 27

4. METODOLOGIA .................................................................................................... 31 4.1 AMOSTRA .......................................................................................................... 31 4.2 ABORDAGEM ..................................................................................................... 31

4.3 TÉCNICA ........................................................................................................... 31 4.4 ANÁLISE DOS DADOS........................................................................................... 34

CONCLUSÃO ............................................................................................................ 40

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .......................................................................... 44

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1. INTRODUÇÃO

O “lixo” revela muito sobre os hábitos dos seres humanos e apesar da grande

importância desse tema, não existem muitos trabalhos escritos sobre o “lixo” ao

longo dos séculos. Ainda hoje, não é recorrente tratar sobre esse tema fora do

âmbito técnico, provavelmente pela dificuldade das pessoas em tratarem do assunto

com desconforto e insegurança, pois segundo Eigenheer (2009, p.17), restos de

comida podem ser interpretados pelos seres humanos como ameaças, não só

visuais como olfativas.

Os resíduos não eram um problema grave quando o ser humano vivia em

grupos nômades, pois esses se fixavam em um local durante determinado período

de tempo até que a água e o alimento se tornassem escassos. Então saiam em

busca de uma nova moradia deixando para trás todo os resíduos orgânicos e

dejetos, os quais eram decompostos ao longo do tempo (EIGENHEER, 2009).

Desde a antiguidade os seres humanos sofrem com problemas de

contaminação de águas, pestes e doenças trazidas pela falta de saneamento. A

humanidade teve um grande avanço na limpeza urbana na segunda metade do

século XIX devido à teoria microbiana de doenças, trazendo uma mudança na visão

da saúde pública e dando importância maior em se separar o esgoto de resíduos

sólidos.

Após a revolução industrial, os resíduos deixaram de serem compostos em

sua maior parte de resíduos orgânicos, então iniciaram os grandes problemas com a

destinação. A partir da Segunda Guerra Mundial iniciaram-se os esforços contra o

desperdício, devido à escassez de recursos, com ênfase em reutilização e

reciclagem; mas a questão da destinação final dos resíduos se agravou e

atualmente ainda são encontrados lugares contaminados por diversos poluentes

químicos que serviam como vazadouros da indústria de guerra (EIGENHEER, 2009).

O Brasil é um país continental que se desenvolveu de forma desigual e suas

cidades têm diferenças profundas de renda e alto índice de desigualdade social.

Recentemente, há apenas 4 anos, foi instituída a Política Nacional de Resíduos

Sólidos (PNRS). A Lei no 12.305/10 que institui a PNRS, regulamentada pelo

Decreto 7.404/10, foi uma das grandes iniciativas que permitem o avanço do Brasil

no enfrentamento dos problemas ambientais, sociais e econômicos decorrentes do

manejo inadequado dos resíduos sólidos, pois essa política propõe a prática de

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hábitos do consumo sustentável e conta com instrumentos que incentivam a

reciclagem e reutilização de resíduos sólidos, bem como a destinação adequada dos

rejeitos (resíduos sólidos que, tendo todas as possibilidades de reaproveitamento ou

reciclagem se esgotado, a única destinação plausível seja encaminhá-los para um

aterro licenciado ambientalmente). Um dos instrumentos mais importantes dessa

política é o conceito de responsabilidade compartilhada pelo ciclo de vida dos

produtos.

A lei sancionada em 2010 determinou a proibição do uso de lixões no país e

que as prefeituras deveriam tomar medidas necessárias até a data de 02 de Julho

de 2014. O lixão é uma área a céu aberto onde resíduos de todos os tipos e rejeitos

são dispostos. Não há nenhum tipo de impermeabilização do solo e não atende a

nenhuma norma de controle. Segundo a PNRS, é proibido o encaminhamento de

rejeitos para outro lugar que não seja um aterro sanitário licenciado ambientalmente.

Porém, somente 2.202 do total de 5.570 municípios elaboraram o Plano de Gestão

Integrada de Resíduos Sólidos (PGIRS) e estabeleceram metas e medidas para

garantir o tratamento adequado dos resíduos orgânicos (ou úmidos), a destinação

adequada dos rejeitos e outras ações previstas pela PNRS, como logística reversa e

responsabilidade compartilhada. Mais da metade dos municípios do Brasil não

cumpriram tal determinação e estão sujeitos a multas e ações na Justiça por crime

ambiental (NERI, 2014). Porém, recentemente o Senado aprovou a MP 651/2014,

que inclui o novo prazo para o fim dos lixões - agosto de 2018. Segundo Baptista

(2014), líder do governo no Congresso, e os senadores José Pimentel e Romero

Jucá, um novo dispositivo será incluído em outra medida provisória, a MP 656/2014,

acrescentando que haverá garantia de recursos federais para os municípios

colocarem em prática a nova política de resíduos sólidos.

Anualmente, o Brasil produz cerca de 62 milhões toneladas por ano de

resíduos sólidos urbanos (ABRELPE, 2012). Dados do Ministério da Agricultura

revelam que o Brasil produz cerca de 144 mil toneladas de resíduo orgânico por dia

que correspondem a cerca de 60% dos resíduos urbano. Geralmente o destino dos

resíduos orgânicos domiciliares no Brasil são aterros ou lixões, proporcionando

elevada produção de gás metano e chorume tóxico, que podem poluir lençóis

freáticos. Outro destino, ainda pouco aplicado no Brasil, é a incineração, que se não

tiver infraestrutura de filtros adequados pode poluir o ar. Segundo Baptista (2014), o

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custo anual de um aterro sanitário pode variar de R$2,27 milhões (pequeno) a R$

23,07 milhões (grande). Além disso temos alguns desafios na gestão de resíduos:

O aumento na geração de resíduos: relacionado ao comportamento social e

ao aumento populacional. O crescimento da economia proporciona aumento

de poder aquisitivo e consequentemente um maior consumo da população,

principalmente de descartáveis e de produtos com baixa durabilidade.

Manejo indiferenciado dos diversos tipos e classes de resíduos: o sistema de

coleta e destinação de resíduos recebe uma grande variedade de materiais

que são descartados e misturados, tornando o gerenciamento mais difícil. No

longo prazo as possíveis combinações químicas decorrentes da

decomposição dos resíduos podem causar um grande impacto ambiental de

efeitos ainda desconhecidos.

Destinação final de resíduos: no Brasil há aproximadamente 42% de

inadequação. Outro problema na destinação final de resíduos é o crescimento

das cidades. Há cada vez menos áreas disponíveis, acarretando uma maior

distância entre os centros de geração de resíduos e o destino final,

aumentando o custo logístico e a emissão de gases poluentes no trajeto

consumo – destino final.

Reciclagem: A reciclagem sofre concorrência com uma destinação fácil e

barata e carece de instrumentos de gestão e de formalidade. Também há a

ausência de incentivos econômicos e de incentivos tributários e creditícios

para alavancar as atividades nesse segmento.

Atualmente, calcula-se que o Brasil seja o quinto maior gerador de resíduos

sólidos urbanos do mundo. A cidade de São Paulo gera diariamente 20 mil

toneladas de resíduos, uma média de 1,5 quilo por habitante (LAMAS, 2014). Em

São Paulo, mais de 5 mil toneladas de resíduos orgânicos domésticos são enviados

diariamente a aterros sanitários. Como uma iniciativa para resolver o problema dos

resíduos orgânicos domésticos em São Paulo, o projeto Composta São Paulo, um

movimento para uma cidade mais sustentável através da conscientização da

população paulistana, tem como um dos objetivos centrais o fomento à construção

de uma política pública, que estimule a prática da compostagem doméstica na

cidade de São Paulo como uma solução descentralizada de tratamento dos resíduos

orgânicos domésticos produzidos na cidade, a partir dos dados que serão gerados

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durante o projeto. Na primeira fase, com duração de 8 meses em 2014, o projeto

selecionou 2.000 pessoas de mais de 10.000 famílias inscritas para participarem

voluntariamente. O projeto Composta São Paulo é uma iniciativa da Secretaria de

Serviços da Prefeitura de São Paulo por meio da Autoridade Municipal de Limpeza

Urbana (AMLURB), e contou com a colaboração de recursos das concessionárias de

limpeza urbana Loga e Ecourbis. O projeto foi idealizado e é coordenado por Cláudio

Spínola, sócio diretor da empresa Morada da Floresta, responsável pela execução

do mesmo. O projeto Composta São Paulo é uma das ações do programa municipal

SP Recicla (MORADA DA FLORESTA, 2014).

1.1 JUSTIFICATIVA

Aterros sanitários são grandes poluidores de água, solo e ar. O material

orgânico descartado em aterros acaba gerando grandes quantidades de metano. Os

lixões nos EUA estão entre uma das principais fontes de emissões de metano

globais de acordo com a Defesa dos Recursos Naturais e, segundo a Environmental

Protecion Agency (EPA), cada molécula de metano é de 20 a 30 vezes mais potente

que o CO2 na geração do efeito estufa (JENKINS, 2005). Com a utilização da

compostagem é menor o metano emitido para a atmosfera. Dados da Secretaria de

Serviços de São Paulo apontam que, de 1974 a 2007, já foi destinada uma área de

2,3 milhões de metros quadrados para dispor quase 42 milhões de toneladas de

resíduos. A secretaria estima que a decomposição dos resíduos orgânicos

descartados nesses aterros, encerrados ou em operação, foi responsável pela

geração de 14% dos gases de efeito estufa emitidos pelo município.

Por meio de relatos de cidades de países desenvolvidos, como Estados

Unidos, Suécia e Alemanha, pode-se verificar que há destaques de práticas de

ações sociais em prol do meio ambiente que possam ser utilizadas como referencial

para as cidades brasileiras. Segundo o Ipea (tabela 1), apenas 1,6% dos resíduos

orgânicos no Brasil era reciclado em 2008; a partir de dados do Ministério do Meio

Ambiente (MMA), esse índice chega a 28% na Inglaterra, 12% nos EUA e 68% na

Índia.

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Tabela 1 - Porcentagem de matéria orgânica tratada em relação ao total estimado coletado (2008)

Unidade de análise

Quantidade encaminhada

para unidade de compostagem

(t/d)

Estimativa de quantidade de

matéria orgânica

coletada (t/d)

Taxa de tratamento em

função da quantidade

coletada

Brasil 1.519,5 94.309,1 1,6%

Norte 18,4 7.523,5 0,2%

Nordeste 13,0 24.262,6 <0,1%

Sudeste 684,6 35.004,1 1,9%

Sul 475,3 19.193,7 2,5%

Centro-Oeste 328,2 8.285,2 3,9%

Fonte: Ipea, 2012

Em São Francisco, nos EUA, 75% dos resíduos são reciclados. Com o

programa Zero Waste a meta é chegar a 100% até 2020. A cidade conta com 850

mil habitantes e cada um produz em média 2kg de resíduos por dia, o dobro da

média no Brasil. Uma lei obriga desde 2009 todos os moradores e comerciantes a

separar seus resíduos. Para isso a prefeitura fez uma parceria com a empresa

Recology. Todo cidadão recebe três vasilhames e pagam uma taxa obrigatória de

US$35 por mês. Conforme a figura 1, o vasilhame verde é para resíduos orgânicos

que serão encaminhados para compostagem, o azul é para os recicláveis secos e o

preto para os rejeitos que não são recicláveis secos nem orgânicos. A meta é

eliminar o vasilhame preto até 2020.

Figura 1 - Padronização vasilhames em São Francisco Fonte: KTSF, 2014.

Atualmente cerca de 20% dos resíduos urbanos ainda vão para o aterro; em

2000 chegava a 50%. A estratégia utilizada pela empresa foi aumentar a

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conscientização através da educação dos cidadãos e oferecer ferramentas

necessárias para isso. Atualmente são enviadas 700 toneladas por dia aos centros

de compostagem. Após 60 dias o material se transforma em adubo, que é

comercializado para as fazendas. Outras 700 toneladas diárias são transportadas ao

centro de triagem para separar os resíduos sólidos em 16 tipos de categorias, que é

comercializado para a reciclagem. Os funcionários da Recology recebem cerca de

US$25 a US$35 por hora e são todos sócios (cerca de 1.000 funcionários). Eles

fazem um trabalho duro e difícil, porém ganham um bom salário e plano de saúde.

(TERRON, 2014)

A Suécia virou referência na área ao reduzir para apenas 1% a quantidade de

resíduos que acabam em aterros sanitários. O projeto sueco começou nos anos 60

com uma campanha de conscientização quanto aos resíduos sólidos, destacando a

importância da separação de recicláveis e a responsabilidade de cada um,

conquistando assim a colaboração e a confiança da população. O país importa

resíduos de países vizinhos para fazer a queima energética: 3 toneladas de lixo

geram energia equivalente a 1 tonelada de combustível; esse processo emite 50%

dos poluentes permitidos por lei (TERRON, 2014).

Na Alemanha, a prática de coletar os resíduos orgânicos separadamente para

posterior compostagem iniciou-se há cerca de 25 anos atrás. De acordo com a

Statistisches Bundesamt, cerca de 14 milhões de toneladas de resíduos orgânicos

foram compostados para serem utilizados como fertilizante em horticultura e

agricultura. Em 2012, a lei federal Kreislaufwirtschaftsgesetz exigirá em abrangência

nacional que os resíduos orgânicos sejam recolhidos separadamente; essa prática

se tornará obrigatória a partir de 1 de janeiro de 2015 (UMWELTBUNDESAMT,

2014).

O presente estudo se fará em relação ao Projeto Composta São Paulo,

promovido pela Morada da Floresta, por ter sido a maior iniciativa da história da

cidade de São Paulo e do Brasil na busca da criação de uma política pública que

incentive a separação de resíduos e a compostagem doméstica dos resíduos

orgânicos para diminuição dos resíduos urbano e seus passivos.

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2. OBJETIVO

O objetivo deste estudo é analisar, por meio da vermicompostagem

doméstica, os impactos na redução dos RSUs de São Paulo destinados de forma

inadequada e consequente diminuição de seus passivos ambientais. Pretende-se

também avaliar se o método proposto pelo Projeto Composta São Paulo é

compatível para a criação de uma política pública que incentive a compostagem

doméstica em áreas urbanas.

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3. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

3.1 POLÍTICA NACIONAL DE RESÍDUOS SÓLIDOS

Para o Instituto Akatu, “O lixo parece ser objeto de um passe de mágica: você

o coloca para fora de casa e alguém o leva”. As pessoas acreditam que a partir do

momento que o “lixo” sai do domicílio o problema está resolvido, pois alguém está

cuidando dele. Porém, o impacto acontece nos lixões, que geram enormes

quantidades de chorume, são absorvidos pela terra e poluem lençóis freáticos

(TERRON, 2014). O Instituto Akatu defende uma posição até mais incisiva na

tentativa de conscientizar e determinar responsabilidades do cidadão. A coleta de

resíduos não deveria ser feita nas residências, mas, sim, a partir de pontos pré-

determinados em cada bairro. Caberia a cada um levar seus resíduos até lá. "Com

isso se elimina uma parte grande do custo da coleta. Além de mais econômica, essa

prática faria cada pessoa perceber mais o quanto de lixo ela realmente está

gerando, porque terá de carregá-lo para cima e para baixo".

A maior parte dos resíduos pode ser reciclada, tanto pelo processo da

compostagem, no caso dos orgânicos, como pelo processo da reciclagem dos

resíduos secos. “Antes, os responsáveis pelos resíduos eram os municípios”, explica

Silvano Silvério Costa, presidente da AMLURB de São Paulo, que também já

trabalhou no MMA. “Agora existe a chamada responsabilidade compartilhada. Os

fabricantes, indústria, importadores e comércio passaram a também ser

responsáveis pelos resíduos gerados a partir de produtos que colocaram no

mercado”.

Um ponto pouco debatido da PNRS diz respeito a um incentivo direto à

conscientização do valor gasto com a coleta e tratamento dos resíduos no Brasil;

existe um prazo para que os municípios deixem claro que há um imposto dessa

área. Cidades que têm essa "taxa do lixo" embutida em outros tributos, como IPTU,

terão de separar essas cobranças. Isso tornará as responsabilidades sociais e

financeiras de todos sobre esses serviços mais evidentes. São Paulo teve uma

experiência conturbada com esse tipo de imposto durante a gestão de Marta Suplicy.

O grande desafio é mostrar para as pessoas que elas também são responsáveis

pelos resíduos que produzem e não somente o governo.

Page 19: Flávio Jun Kamiya - Projeto Composta São Paulo A redução dos resíduos sólidos urbanos e seus passivos por meio da vermicompostagem Doméstica

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3.2 COMPOSTAGEM

A definição de compostagem, para o MMA, é uma técnica que permite a

transformação de resíduos orgânicos (sobras de frutas, legumes, papel, restos de

comida, podas de jardim, trapos de tecido, serragem, etc.) em adubo. A

compostagem é um processo biológico no qual microorganismos aceleram a

decomposição do material orgânico, tendo como produto final o composto orgânico,

que pode ser utilizado como adubo. Em termos técnicos, a compostagem pode ser

definida como uma bioxidação aeróbia exotérmica de um substrato orgânico

heterogêneo, no estado sólido, caracterizado pela produção de CO2, água, liberação

de substâncias minerais e formação de matéria orgânica estável (FERNANDES,

1996). O sistema de compostagem pode ser simplificado conforme mostrado na

figura 2 abaixo:

Matéria Orgânica

+ Microorganismos → O2 Matéria Orgânica Estável

CO2 H2O Calor Nutrientes

Figura 2 - Esquema simplificado do processo de compostagem

Fonte: Fernandes e Silva, 1996

A compostagem é praticada desde a História Antiga, os chineses já utilizavam

excrementos humanos para a fertilização do solo há mais de 2.000 anos, os gregos

têm Hércules como o patrono da limpeza urbana por remover os estrumes do

estábulo e encaminhá-los ao campo e existem várias referências bíblicas sobre

práticas de correção do solo (EIGENHEER, 2009). A compostagem moderna foi

disseminada por Albert Howard, um agrônomo de origem inglesa que estudou por

mais de 25 anos práticas indianas de enriquecimento do solo e descobriu a riqueza

dos compostos orgânicos (MORADA DA FLORESTA, 2014)

A compostagem é uma forma de recuperar os nutrientes dos resíduos

orgânicos e levá-los de volta ao ciclo natural, enriquecendo o solo para agricultura

ou jardinagem. Além disso, é uma maneira de reduzir o volume de “lixo” produzido

pela sociedade, destinando corretamente um resíduo que se acumularia nos lixões e

aterros gerando mau cheiro, a liberação de gás metano (gás de efeito estufa 23

vezes mais destrutivo que o gás carbônico) e chorume tóxico (líquido que contamina

o solo e as águas). Hoje, cerca de 55% do “lixo” produzido no país é composto por

Page 20: Flávio Jun Kamiya - Projeto Composta São Paulo A redução dos resíduos sólidos urbanos e seus passivos por meio da vermicompostagem Doméstica

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resíduos orgânicos, que sofrem o soterramento nos aterros e lixões, impossibilitando

sua biodegradação (MMA, 2014).

A compostagem é considerada uma forma de destinação final

ambientalmente adequada para o tratamento de resíduos orgânicos a partir da Lei no

12.305/2010, Artigo 3º, Inciso VII (Ipea, 2012). Segundo o MMA, há várias

experiências internacionais de recolhimento de resíduos orgânicos para

compostagem, com a distribuição gratuita do adubo resultante do processo à

população local. Dessa maneira, fica claro para a sociedade que aquele resíduo tem

valor, pois retorna aos cidadãos como um benefício que os economiza o dinheiro

que empregariam na compra de fertilizantes industrializados. A partir de informações

da EPA dos EUA, a compostagem:

Enriquece o solo: ajuda a regenerar solos pobres. Colabora com o aumento a

produção de micro organismos, com o aumento da capacidade do solo de

reter umidade e também com a diminuição do uso de fertilizantes e pesticidas;

Ajuda a remediar solos contaminados: absorve odores e ajuda a prevenir que

metais pesados migrem para lençóis freáticos ou que sejam absorvidos pelas

plantas;

Previne a poluição: diminui a produção de gás metano e previne erosão;

Oferece benefícios econômicos: reduz a necessidade do uso de água,

fertilizantes e pesticidas. É uma alternativa de baixo custo.

3.3 MORADA DA FLORESTA

A empresa Morada da Floresta Soluções Ecológicas Ltda é um negócio

social, ou seja, juridicamente está registrada no segundo setor, mas na prática trata-

se de um empreendimento cujo seus produtos e serviços causam impactos positivos

na sociedade e no meio ambiente. Também atua no terceiro setor com o Instituto

Morada da Floresta, que é uma Organização da Sociedade Civil de Interesse Público

(OSCIP). Todas as soluções socioambientais, cursos, produtos, serviços e projetos

são para incentivar práticas sustentáveis cotidianas e contribuir para o despertar de

uma conscientização ambiental através da diminuição de resíduos no Brasil.

Page 21: Flávio Jun Kamiya - Projeto Composta São Paulo A redução dos resíduos sólidos urbanos e seus passivos por meio da vermicompostagem Doméstica

22

Desde 1999, Cláudio Spinola realiza a técnica de compostagem na Morada

da Floresta. Já experimentou várias técnicas e considera que a vermicompostagem

em caixas de plástico é a forma mais simples, prática e eficiente para a realização

da compostagem doméstica dos resíduos orgânicos. Atualmente a Morada da

Floresta é a principal responsável por espalhar a técnica no Brasil, incluindo o

fornecimento de tutoriais, manuais, informações para os que querem construir a

própria composteira, cartilhas e vídeos informativos. Todas essas informações

podem ser acessadas pelas diversas mídias sociais da Morada da Floresta:

facebook, website e youtube.

Os produtos que a Morada da Floresta utiliza para compostagem estão:

Composteiras Domésticas:

o Kit de Compostagem Doméstica. Tamanhos: P, P4, M, G, G4 e

GG. (Tabela 2)

o Composteira Ecopedagógica: Composteira transparente que

permite visualizar todo o processo de compostagem, indicado

para atividades educativas

o Minhocas Californianas: Pacote com aproximadamente 300

minhocas vermelhas da Califórnia

o Húmus de minhoca: Pacote de 1,5kg de adubo natural

produzido pelas minhocas vermelhas da Califórnia

o Extrato de Neem: Repelente de insetos para uso animal ou

jardinagem. Utilizado nas composteiras domésticas para evitar a

proliferação de insetos indesejados como moscas drosóphilas.

o Serragem: Pacote de 1,5kg para ser colocada na composteira

doméstica (volume aproximado de 10 litros).

Compostagem Empresarial: Sistemas de compostagem dimensionadas

de acordo com as características específicas de cada local. Serviços

personalizados para a logística operacional, instalação, capacitação,

visitas pós venda, atividades ecopedagógicas, cursos, oficinas e

palestras.

o Empresas

o Escolas

o Condomínios

o Restaurantes

Page 22: Flávio Jun Kamiya - Projeto Composta São Paulo A redução dos resíduos sólidos urbanos e seus passivos por meio da vermicompostagem Doméstica

23

o Eventos

o Hotéis

o Municipal

o Cursos, oficinas e palestras

3.3.1 COMPOSTAGEM DOMÉSTICA (VERMICOMPOSTAGEM)

A vermicompostagem é uma técnica utilizada para acelerar o processo de

compostagem através do metabolismo de minhocas que ocorre em um período

menor de tempo do que se deixasse o resíduo orgânico decompor naturalmente.

Durante a vermicompostagem, as minhocas ingerem e digerem os resíduos

orgânicos, dejetando excrementos que são facilmente assimilados por raízes de

plantas por estarem em estágio avançado de decomposição (humificação).

(LANDGRAF, 1999).

O húmus da minhoca (Figura 3) é o produto resultante da matéria orgânica

decomposta a partir do sistema digestório das minhocas. É um adubo que possui

como característica físico-química: inodoro, rico em micronutrientes (ferro, boro,

cobre, zinco, molibdênio, cloro), macronutrientes (potássio, nitrogênio, fósforo),

possui textura macia e granulada (KRUKEMBERGHE, 2012). Consiste em um

produto estável e homogêneo, de coloração escura e de textura leve (LEE 1985,

AQUINO & NOGUEIRA 2001, ANTONIOLLI et al. 2002).

Page 23: Flávio Jun Kamiya - Projeto Composta São Paulo A redução dos resíduos sólidos urbanos e seus passivos por meio da vermicompostagem Doméstica

24

Figura 3 - Húmus de Minhoca Fonte: Site da Morada da Floresta

Atualmente existem empresas que comercializam composteiras de diferentes

composições e técnicas. No presente trabalho abordaremos o kit de compostagem

doméstica que é disponibilizado pela Morada da Floresta Soluções Ecológicas

LTDA. por ser um dos maiores difusores da compostagem doméstica no Brasil e por

serem uns dos pioneiros a difundirem a técnica no Brasil (MORADA DA FLORESTA,

2014).

Geralmente são utilizadas minhocas californianas vermelhas (Figura 4) nesse

processo devido às suas excelentes características de adaptabilidade em diferentes

regiões do mundo, produtividade elevada na produção de húmus, alta prolificidade,

facilidade na reprodução e crescimento precoce. Por esses motivos também é umas

das melhores minhocas para a criação comercial (Rural News, 2013). As minhocas

dessa espécie podem consumir diariamente matéria orgânica equivalente ao seu

peso, duplicam a população a cada 2 meses e diminuem a reprodução quando o

espaço se torna pequeno.

Page 24: Flávio Jun Kamiya - Projeto Composta São Paulo A redução dos resíduos sólidos urbanos e seus passivos por meio da vermicompostagem Doméstica

25

Fonte: O Autor

A compostagem doméstica é composta por 3 caixas. As caixas e a tampa

possuem encaixe perfeito entre elas. Nas duas caixas digestoras (caixa central e a

de cima) são onde ocorre a decomposição de todo o material orgânico; a caixa da

base é onde se coleta o chorume escorrido (Figura 5). A empresa comercializa

diferentes tamanhos para atender às diferentes necessidades (Tabela 2). Também

há as versões com 3 caixas digestoras (P4 e G4):

Figura 5 - Kit de Compostagem Doméstica (vermicompostagem) Fonte: Morada da Floresta (2014)

Figura 4 - Minhocas Vermelhas da Califórnia

Page 25: Flávio Jun Kamiya - Projeto Composta São Paulo A redução dos resíduos sólidos urbanos e seus passivos por meio da vermicompostagem Doméstica

26

Tabela 2- Tamanho e Capacidade das Composteiras

Tamanho

Volume de cada

caixa (Litros)

Capacidade de compostagem

de resíduos orgânicos por

dia (Litros)

Preço (R$)

Kit P 15 0,5 179

Kit P4 15 0,75 222

Kit M 28 1 239

Kit G 39 1,3 252

Kit G4 39 2 315

Kit GG 60 2 289

Fonte: Morada da Floresta (2014)

3.4 PROJETO COMPOSTA SÃO PAULO

O Projeto Composta SP é uma das ações do município para cumprir o

PGIRS, aprovado no início de 2014. A meta da prefeitura é reduzir, nos próximos 20

anos, 80% da quantidade de resíduos descartados atualmente para os aterros. O

projeto visa conscientizar moradores da cidade de São Paulo sobre a compostagem

doméstica como forma de reciclar resíduos orgânicos produzidos nas residências e

levantar informações pertinentes para a multiplicação dessa prática entre a

população da cidade. Esse projeto é uma das ações do programa SP Recicla. Um

dos objetivos centrais do projeto é gerar informações e aprendizados para serem

utilizados para impulsionar e fomentar a elaboração de uma política pública que

estimule a prática da compostagem doméstica na cidade de São Paulo. As

informações obtidas com a experiência dos participantes serão sistematizadas e

ajudarão a prefeitura a planejar ações para introduzir a compostagem doméstica na

gestão integrada dos resíduos sólidos na cidade de São Paulo. (MORADA DA

FLORESTA, 2014)

O projeto Composta São Paulo contou com mais de 10.000 inscritos

interessados em receber a composteira doméstica, sendo selecionados 2000

residentes da megalópole para receber unidades de kits para compostagem

doméstica. Para haver uma seleção de munícipes que espelhassem a cidade de

São Paulo, as composteiras entregues foram distribuídas de acordo com o índice

populacional e renda domiciliar das regiões da cidade de São Paulo de acordo com

Page 26: Flávio Jun Kamiya - Projeto Composta São Paulo A redução dos resíduos sólidos urbanos e seus passivos por meio da vermicompostagem Doméstica

27

o Censo IBGE 2010 (MORADA DA FLORESTA, 2014). O projeto Composta São

Paulo é uma iniciativa da Secretaria de Serviços da Prefeitura de São Paulo, por

meio da AMLURB, está sendo executado pela empresa Morada da Floresta

Soluções Ecológicas Ltda e financiado pelas concessionárias de limpeza urbana

Loga e Ecourbis. Pelos contratos que essas empresas têm com a prefeitura de São

Paulo, 0,5% do valor que recebem anualmente devem ser gastos em projetos de

pesquisa e educação ambiental. É parte desse recurso que está viabilizando a

realização do projeto Composta São Paulo. (MORADA DA FLORESTA, 2014)

Segundo o Franco (2014), das 2.000 composteiras entregues, 493 foram para

os chamados Centros de Apoio (escolas, entidades, creches, condomínios, etc.) e as

outras 1.507 foram entregues às famílias que se inscreveram. De acordo com

Silvano Silvério, presidente da AMLURB, cada composteira distribuída tem

capacidade de reciclar entre 1 e 2 quilos de resíduos orgânicos por dia, o que pode

reduzir pela metade o volume de resíduos gerados por família. Então, somando as

2.000 unidades distribuídas no projeto, teremos entre 2 e 4 toneladas por dia de

resíduos orgânicos domésticos a menos indo aos aterros sanitários.

O melhor caminho é a compostagem descentralizada por ser mais

econômica, gerar educação ambiental e responsabilidade compartilhada. O ideal

seria que cada subprefeitura possuísse também um centro de compostagem para

atender às feiras livres que atendem a área. “O estímulo à população por meio de

políticas públicas e educação ambiental é a melhor forma de resolver o problema

dos resíduos no Brasil”, conclui Spínola (Franco, 2014).

Junto com a redução do desperdício e outras iniciativas de reciclagem, a

compostagem também pode aumentar a vida útil dos aterros e vai ao encontro das

diretrizes da PNRS.

3.4.1 RESULTADOS PARCIAIS DO PROJETO COMPOSTA SÃO PAULO

O Projeto Composta São Paulo teve 10.067 inscritos de 22 estados do Brasil,

mesmo sendo um projeto da cidade de São Paulo. O projeto atingiu 6.960 pessoas

que são residentes dos domicílios que receberam a composteira doméstica. A partir

de resultados parciais obtidos através da organização do projeto, dos contemplados

que receberam a composteira doméstica, 1.501 responderam ao questionário até o

dia 10 de Dezembro de 2014.

Page 27: Flávio Jun Kamiya - Projeto Composta São Paulo A redução dos resíduos sólidos urbanos e seus passivos por meio da vermicompostagem Doméstica

28

O critério para seleção dos participantes do Projeto Composta São Paulo

foram:

1. Critério prioritário: representação da distribuição populacional

geográfica e por renda domiciliar de cada região do município de São

Paulo, de acordo com os dados do Censo IBGE 2010.

2. Critério de qualificação: foram classificados qualitativamente todos os

candidatos, numa escala de 1 a 4, a partir da pergunta “porque você

acredita que deva ser contemplado pelo projeto?” Sendo:

- 1 Baixa pontuação: menor dedicação na resposta. Motivações ligadas

a benefícios individuais (produzir adubo próprio, cuidar das plantas

domésticas, custo da composteira, fazer “sua parte”com o meio

ambiente);

- 4 Alta pontuação: maior dedicação na resposta. Histórico de prática,

engajamento e conhecimento sobre o tema. Motivações ligadas a

engajamento, mobilização, educação, ações e transformações

coletivas.

3. Critério de equilíbrio: equalização dos critérios de faixa etária, sexo e

perfil do domicílio (aplicado na amostral total de demanda espontânea

e não por região)

4. Critério de desempate final por vaga: consumo de frutas, legumes, e

verduras, priorizando o alto consumo. Motivação na compostagem,

priorizando a produção para o uso coletivo. Número de habitantes no

domicílio, priorizando as maiores quantidades de pessoas impactadas.

Page 28: Flávio Jun Kamiya - Projeto Composta São Paulo A redução dos resíduos sólidos urbanos e seus passivos por meio da vermicompostagem Doméstica

29

Tabela 3 - Resultados Parciais

97,6% Estão satisfeitos ou muito satisfeitos com a

compostagem doméstica

78% Afirmam que a compostagem já foi incorporada aos

hábitos da casa

90% Dos outros moradores ajudam com a separação dos

orgânicos

90% Afirmam que o envio para os aterros diminuiu muito ou

razoavelmente

98% Acreditam que a compostagem doméstica é uma boa

solução para o tratamento de resíduos na cidade

87% Acreditam ser fácil fazer compostagem

83% Compostam mais da metade dos resíduos orgânicos

que produzem

66% Afirmam que até no máximo 10% dos resíduos

orgânicos não vão para a composteira

Fonte: Projeto Composta São Paulo

O resultado da pesquisa (tabela 3), ainda parcial, foi muito positivo de acordo

com o objetivo do projeto, que é fomentar a criação de uma política pública através

da geração de informações e aprendizado. Dos 1.501 que responderam, apenas 7

pessoas deixaram de praticar a compostagem e somente 10 pessoas pensam em

deixar de praticar a compostagem futuramente. Essa pesquisa demonstrou a

facilidade de manusear a composteira e que compostar é um hábito que pode ser

adquirido sem grandes dificuldades, além disso 83% dos respondentes afirmaram

que reduziram mais da metade dos resíduos orgânicos produzidos. Dos

contemplados, 98% acreditam que a compostagem doméstica é uma boa solução

para o tratamento de resíduos na cidade.

Como forma de instrução, as pessoas contempladas no projeto receberam

conteúdo (aberto ao público) explicativo sobre compostagem: manuais, vídeos,

páginas do site, página do facebook. Também podem contar com o suporte de

atendimento telefônico, grupo do Projeto Composta São Paulo no facebook e e-mail.

Sendo 1 a nota mais baixa e 5 a nota mais alta, os respondentes da pesquisa

avaliaram o suporte e o conteúdo conforme tabelas 4 e 5:

Page 29: Flávio Jun Kamiya - Projeto Composta São Paulo A redução dos resíduos sólidos urbanos e seus passivos por meio da vermicompostagem Doméstica

30

Tabela 4 - Avaliação do Suporte

87,0% nota 4 ou 5 para o suporte via grupo Composta São Paulo do facebook

69,0% nota 4 ou 5 para o suporte telefônico

74,0% nota 4 ou 5 para o suporte por e-mail

Fonte: Projeto Composta São Paulo, 2014

Tabela 5 - Avaliação do conteúdo

89,0% nota 4 ou 5 para os manuais

86,0% nota 4 ou 5 para os vídeos

86,0% nota 4 ou 5 para a página do facebook

85,0% nota 4 ou 5 para o suporte por e-mail

Fonte: Projeto Composta São Paulo, 2014

As respostas para essa pesquisa também revelaram que o Projeto Composta

São Paulo oferece materiais explicativos e de fácil entendimento para os usuários.

Os contemplados também contam com um ótimo suporte de atendimento pelos

meios de comunicação pelos quais são atendidos. A partir dos dados obtidos

através dos questionários respondidos pelas pessoas contempladas no projeto, foi

demonstrado que a compostagem doméstica descentralizada é uma alternativa fácil,

efetiva e que gera resultados imediatamente.

Page 30: Flávio Jun Kamiya - Projeto Composta São Paulo A redução dos resíduos sólidos urbanos e seus passivos por meio da vermicompostagem Doméstica

31

4. METODOLOGIA

4.1 AMOSTRA

A seleção de dados para esta pesquisa foi feita através de pesquisas em

artigos, trabalhos, jornais e dados de instituições que atuam no setor de gestão de

resíduos urbanos.

4.2 ABORDAGEM

O método da abordagem utilizado foi o indutivo, pois partiu-se do específico

para o geral por meio da análise de dados e informações atuais.

4.3 TÉCNICA

A tecnologia utilizada foi a vermicompostagem oferecida pela empresa

Morada da Floresta através de suas cartilhas, site, cursos e treinamentos. Na tabela

6 pode-se verificar quais tipos de resíduos orgânicos podem ser colocados ou não

dentro das caixas digestoras da composteira. Essas recomendações foram

pensadas para quem está iniciando a prática de compostagem com minhocas e as

restrições indicadas tem intuito de evitar maiores problemas. Com o crescimento da

população de minhocas, estabilização do ecossistema da composteira e com maior

experiência do praticante, é possível introduzir aos poucos maiores quantidades de

cítricos, alimentos cozidos e demais elementos que estão nas restrições “Moderado”.

O adubo orgânico produzido pelas composteiras domésticas é benéfico para

o solo, pois restitui à natureza parte dos nutrientes retirados pelas colheitas. Esse

pode tanto ser utilizado em pequenos plantios domésticos e urbanos, na agricultura

orgânica e/ou agroecológica, como para nutrir árvores da cidade e de

reflorestamento, funcionando como um poderoso estimulante do sequestro de

carbono da atmosfera.

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Tabela 6 – Composição dos Resíduos que podem ser compostados

Livre Moderado Evitar

- Frutas - Legumes - Verduras - Grãos e sementes - Sachê de chá (sem etiqueta) - Borra e filtro de café - Chimarrão

- Frutas cítricas - Alimentos Cozidos - Guardanapos e Papel toalha - Laticínios - Flores e Ervas (medicinais ou aromáticas)

- Carnes - Temperos fortes (alho, cebola e pimenta) - Óleos e gordura - Líquidos - Fezes - Papéis (higiênico, jornais e papelões)

Fonte: Morada da Floresta, 2014.

A compostagem doméstica não produz mal cheiro, e os resíduos orgânicos

devem ser misturados e cobertos com matéria vegetal seca. Não atrai vetores e

demanda poucos cuidados, podendo deixar as minhocas por até 3 meses sem novo

alimento. Cada kit é composto por:

Duas caixas plásticas (caixas digestoras) que possuem furos no lado

inferior para possibilitar o trânsito de minhocas entre as caixas e escoar

o chorume gerado na decomposição dos resíduos orgânicos;

Uma caixa coletora de chorume com torneira, que sempre fica embaixo

das duas caixas digestoras para facilitar o recolhimento do chorume

gerado;

Tampa para evitar a atração de vetores;

Minhocas.

A operação da composteira ocorre da seguinte maneira:

1. A princípio, são utilizadas somente a caixa coletora e uma caixa

digestora empilhadas, essa com aproximadamente 5 cm de terra com

composto orgânico;

2. As minhocas são introduzidas na caixa digestora;

3. Conforme a residência for gerando resíduos orgânicos, esses devem

ser colocados na caixa digestora, misturados e cobertos com matéria

vegetal seca;

4. Ao se inserir o resíduo orgânico, deve ser colocado em montinhos e

coberto completamente com matéria vegetal seca para garantir o

Page 32: Flávio Jun Kamiya - Projeto Composta São Paulo A redução dos resíduos sólidos urbanos e seus passivos por meio da vermicompostagem Doméstica

33

processo de decomposição e evitar a incidência de moscas, larvas e

mau cheiro;

5. Para as minhocas digerirem os resíduos em menos tempo, esses

devem ser cortados ou triturados antes de serem colocados na

composteira;

6. Quando a primeira caixa digestora encher, a segunda caixa digestora

deve ser acoplada acima no encaixe. Repete-se o processo número 3.

Enquanto isso, o material orgânico da primeira caixa digestora estará

entrando em decomposição e as minhocas agilizarão o processo ao

digeri-lo. Naturalmente as minhocas irão transitar até a caixa de cima

em busca de novos alimentos;

7. A caixa coletora (a caixa da base) deve ter chorume (Figura 6), que

através do processo de decomposição escorre das duas caixas. O

chorume deve ser retirado através da torneira e armazenado para sua

posterior diluição, numa proporção de 1 parte de chorume para 10

partes de água, podendo ser utilizado como adubo líquido ou no

combate a pragas em plantas, pode-se borrifar na planta ou colocar

diretamente em terra;

8. É sugerido que cada caixa seja completada num período aproximado

de 30 dias, pois nesse período as minhocas já terão processado os

resíduos orgânicos transformando-os em húmus;

9. Quando a caixa de cima atingir seu limite máximo, a caixa digestora do

meio deve ir para cima e a caixa digestora de cima deve ir para o meio.

Deve-se retirar o composto orgânico que ficou na caixa que está em

cima. Esse composto já é o resultado final da vermicompostagem, que

é conhecido como húmus de minhoca.

10. Para retirada do composto, a caixa digestora deve estar aberta debaixo

de sol ou luz forte, pois devido à intensidade de luz as minhocas cavam

no composto para se protegerem;

11. O adubo deve ser raspado aos poucos enquanto as minhocas fogem

da luz, repetindo a operação até que fique com cerca de 5 cm de altura

de composto no fundo da caixa. A camada deve ser mantida; se estiver

compactada, o composto deve ser misturado com cuidado para que as

minhocas não sejam machucadas.

Page 33: Flávio Jun Kamiya - Projeto Composta São Paulo A redução dos resíduos sólidos urbanos e seus passivos por meio da vermicompostagem Doméstica

34

Figura 6 – Chorume Fonte: Grupo Composta São Paulo

4.4 ANÁLISE DOS DADOS

Os Resíduos Sólidos Urbanos (RSU), nos termos da Lei Federal no 12.305/10,

que instituiu a PNRS, englobam os resíduos domiciliares (provenientes de atividades

domésticas em residências urbanas e os resíduos de limpeza urbana, quais sejam,

os originários da varrição, limpeza de logradouros e vias públicas, bem como outros

serviços de limpeza urbana).

Conforme a Figura 7, em 2012 o Brasil gerou 201 mil toneladas/dia de RSU,

uma média de 1,037 quilo por habitante, e coletou 181 mil toneladas/dia. Teve um

acréscimo de 4,1% na geração de RSU em 2013, gerando 209 mil toneladas/dia,

média de 1,041 quilo por habitante, e coletou uma média de 189 mil toneladas/dia.

Page 34: Flávio Jun Kamiya - Projeto Composta São Paulo A redução dos resíduos sólidos urbanos e seus passivos por meio da vermicompostagem Doméstica

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Figura 7 - RSU Gerado e RSU Coletado 2012 e 2013 Fonte: ABRELPE (2013)

A quantidade dos RSU que tiveram como destino final aterros sanitários em

2013 foi de 58,3%; os 41,7% restantes foram encaminhados para lixões ou aterros

controlados (Figura 8), que pouco se diferenciam de lixões, pois não possuem

medidas necessárias para a proteção do meio ambiente contra danos e

degradações.

Figura 8 - Destinação final do RSU Fonte: ABRELPE 2013

No Brasil, 62% dos municípios contam com a coleta seletiva (Figura 9). A

região sudeste é a que tem o maior percentual de seus municípios com coleta

1,025

1,030

1,035

1,040

1,045

1,050

1,055

1,060

165.000

170.000

175.000

180.000

185.000

190.000

195.000

200.000

205.000

210.000

215.000

2012 2013

Gerado (tonelada/dia) Coletado (tonelada/dia) Por habitante (kg/dia)

Eixo Esquerdo Eixo Esquerdo Eixo Direito

58,0%

58,3%

24,2%

24,3%

17,8%

17,4%

2 0 1 2

2 0 1 3

Aterro Sanitário Aterro Controlado Lixão

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36

seletiva (83%), seguida da região sul (82%). Porém, de nada adianta ter coleta

seletiva se a população não separar os resíduos adequadamente. Por isso existe a

necessidade de educação e conscientização da população sobre a responsabilidade

compartilhada sobre os resíduos gerados.

Figura 9 - Percentual por região que conta com coleta seletiva Fonte: ABRELPE (2013)

A Região Metropolitana de São Paulo (RMSP) é o maior centro urbano da

América do Sul e a sexta maior área urbana do mundo. Estima-se que vivem na

RMSP cerca de 20 milhões de pessoas. Segundo dados da Prefeitura de São Paulo,

a cidade gera, em média, 20 mil toneladas de resíduos diariamente, sendo cerca de

12 mil toneladas de resíduos domiciliares. Para coletar todo este “lixo”, as

concessionárias Ecourbis e Loga percorrem uma área de cerca de 1.523 km2 e

utilizam uma frota de 500 caminhões. A composição do “lixo” em São Paulo é de

51% de resíduos úmidos (orgânicos), 32% de resíduos secos (papel, plástico, metal,

vidro, etc.) e 17% de rejeitos (que não possuem possibilidade de tratamento, tais

como papel higiênico, fraldas, absorvente íntimo descartável, plástico metalizado,

etc.).

A prefeitura paulistana informa que 98% de tudo o que é coletado na cidade

acaba nos aterros sanitários (LAMAS, 2014). O maior aterro sanitário do continente,

a 35 km do centro, é a Central de Tratamento de Resíduos Caieiras (CTR Caieiras).

Em um espaço de 3,5 milhões de metros quadrados (o equivalente à área de 490

campos de futebol) são destinados resíduos das zonas norte e oeste, gerados por

6,5 milhões de pessoas – sendo mais de 7 mil toneladas aterradas por dia. O aterro

49,50%

40%

34%

83%

82%

62%

50,50%

59,60%

66,20%

17,40%

18,10%

37,90%

0,00% 20,00% 40,00% 60,00% 80,00% 100,00%

Norte

Nordeste

Centro-Oeste

Sudeste

Sul

Brasil

Sim Não

Page 36: Flávio Jun Kamiya - Projeto Composta São Paulo A redução dos resíduos sólidos urbanos e seus passivos por meio da vermicompostagem Doméstica

37

Central de Tratamento de Resíduos Leste (CTL) atende as regiões Sul e Leste e

recebe os resíduos coletados pela Ecourbis. Existem também Estações de

Transbordos que são pontos intermediários de destinação dos resíduos coletados na

cidade, criados em função da considerável distância entre a área de coleta e o aterro

sanitário. O volume estimado de movimentação nos transbordos é em torno de 1.200

mil toneladas por dia (AMLURB, 2014). Existem 3 Estações de Transbordo:

1. Transbordo Vergueiro

2. Transbordo Santo Amaro

3. Transbordo Ponte Pequena

Figura 10 - Composição dos Resíduos Urbano em São Paulo Fonte: Morada da Floresta, 2014

Os resíduos recicláveis (úmidos e secos) devem ser separados para serem

reciclados e somente os rejeitos deveriam ir para aterros sanitários. Portanto, a partir

desses dados, se a população fizesse o trabalho de separar os resíduos recicláveis

dos não recicláveis, seria possível diminuir o encaminhamento de resíduos para

aterros em até 83% dos resíduos domiciliares (Figura 10 e Tabela 7).

Page 37: Flávio Jun Kamiya - Projeto Composta São Paulo A redução dos resíduos sólidos urbanos e seus passivos por meio da vermicompostagem Doméstica

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Tabela 7 - Estimativa da composição gravimétrica dos resíduos sólidos coletados no Brasil

Materiais Participação

Quantidade

2000 2008

% t/dia t/dia

Material Reciclável 31,9 47.558,5 58.527,4

Metais 2,9 4.301,5 5.293,5

Papel, Papelão e tetrapak 13,1 19.499,0 23.997,4

Plástico 13,5 20.191,1 24.847,9

Vidro 2,4 3.566,1 4.388,6

Matéria Orgânica 51,4 76.634,5 94.309,5

Outros 16,7 24.880,5 30.618,9

Total Coletado 100 149.094,3 183.481,5

Fonte: Ipea, 2012

Atualmente o resíduo orgânico acaba sendo encaminhado para disposição

final junto com os resíduos perigosos e com aqueles que deixaram de ser coletados

de maneira seletiva. Essa forma de destinação gera despesas que poderiam ser

evitadas caso a matéria orgânica fosse separada na fonte. Um estudo do Ipea

aponta que o Brasil perde mais de R$ 10 bilhões por ano por não reaproveitar seus

resíduos (LAMAS, 2014). Na cidade de São Paulo, hoje a coleta seletiva abrange

apenas 46% dos domicílios e menos de 2% do RSU é de fato reciclado (Rolnik,

2014).

Figura 11 -- RSU Reciclado em São Paulo diariamente Elaboração: O Autor, 2014

De acordo com dados expostos neste trabalho, se a composição dos RSUs

de São Paulo é de 51% de orgânicos, 32% recicláveis secos e 17% rejeitos, e,

19.600

400

Aterro

Reciclado

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considerando as informações da prefeitura, se de um total de 20.000 toneladas de

RSU gerados diariamente, 12.000 são domiciliares, com a colaboração de cada

habitante de São Paulo poder-se-ia então evitar de encaminhar aos aterros cerca de

9.960 toneladas dia. Destas 9.960, 5.580 podem ser compostados e 4.880

recicladas (Figura 12). Portanto, o total de resíduos encaminhados a aterros

provenientes de domicílios diminuiria de 12.000 toneladas dia para 2.040 toneladas

dia, ou uma diminuição de 3,6 milhões de toneladas ano para 744,6 mil toneladas

por ano. Considerando que a diminuição seria em 83%, a frota de caminhões

utilizada para fazer a coleta dos RSUs diariamente poderia ser reduzida, emitindo

menos gases poluentes.

Figura 12 - Possibilidade de novos encaminhamentos do RSU de fonte domicilar em toneladas por dia

Elaboração: O autor

A partir da vermicompostagem de resíduos orgânicos pode-se obter húmus

de minhoca que pode ser utilizado em plantios domésticos e urbanos. Como as

minhocas californianas vermelhas se proliferam com facilidade e têm alto valor de

mercado, essas também podem ser comercializadas gerando renda extra às

residências.

8.000

2.040

5.080

4.880

Não proveniente dedomicílios

Aterro Sanitário provenientede domicílios

Compostagem Orgânica

Reciclagem

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CONCLUSÃO

Observou-se que outras informações importantes como a redução e o reuso

da água, alimentos, resíduos recicláveis, a prática da horticultura e jardinagem foram

discutidas no grupo do Grupo Composta São Paulo. Portanto, a prática da

vermicompostagem promove aos praticantes um interesse maior por hábitos

sustentáveis e a aproximação do ciclo natural de produtos e alimentos (berço ao

berço).

Existem algumas alternativas em estudo para a destinação do resíduo

orgânico, como o encaminhamento a grandes centros de compostagem,

biodigestores e até mesmo incineração. Porém, um dos problemas identificados ao

longo do trabalho foi a falta de conhecimento da população em geral sobre os

processos de compostagem doméstica, os seus benefícios e até mesmo a falta de

conhecimento da responsabilidade compartilhada sobre resíduos gerados. Através

do Projeto Composta São Paulo, pode-se analisar que 87% dos contemplados no

projeto consideraram fácil o processo de compostagem doméstica. Também

verificou-se que hábitos de separação de resíduos foi incorporado pelos usuários e

que os praticantes da compostagem doméstica acreditam que essa seja uma

solução adequada para o tratamento de resíduos orgânicos, por ser econômica e

gerar educação ambiental. Ainda que 62% dos municípios brasileiros contam com a

coleta seletiva, é necessária a educação da população para sobre a importância da

responsabilidade de cada um sobre o resíduo que gera, pois de nada adianta o

município ter coleta seletiva se os geradores de resíduos não colaboram com a sua

separação. A conscientização da responsabilidade compartilhada, aliada à instrução

dos processos de compostagem doméstica, se mostra uma solução eficaz para o

tratamento de resíduos orgânicos domiciliares em áreas urbanas, por sua

consequente diminuição de passivos ambientais gerados pelos resíduos se

destinados de forma apropriada.

Com a destinação adequada dos RSUs, pode-se obter diversos benefícios

que atendem os pilares desenvolvimento sustentável: social, econômico e ambiental.

Ao compostar os resíduos orgânicos domésticos podemos citar:

1. Diminuição em até 51% de resíduos domésticos orgânicos destinados aos

aterros sanitários, aterros controlados ou lixões;

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2. Diminuição da poluição de ar devido a menor emissão de gás metano nos

aterros;

3. Evita a poluição de lençóis freáticos causados pelo chorume tóxico gerado

em aterros ou lixões;

4. Geração de renda e conhecimento através da comercialização de fertilizantes

naturais (húmus e composto orgânico);

5. O composto orgânico ajuda a enriquecer solos, regenerá-los e por

consequência diminui o uso de pesticidas;

6. O adubo orgânico pode tanto ser utilizado em pequenos plantios domésticos

e urbanos, na agricultura orgânica e/ou agroecológica, como para nutrir

árvores da cidade e de reflorestamento, funcionando como um poderoso

estimulante do sequestro de carbono da atmosfera;

7. Facilita a separação de resíduos recicláveis e rejeitos.

Ao separar os resíduos recicláveis que normalmente são destinados aos

aterros sanitários (correspondem por 32% dos RSUs domésticos) podemos citar

outros benefícios como:

1. Facilidade para separar resíduos que podem ser reutilizados;

2. Aumento da reciclagem;

3. Geração de emprego e renda;

4. Facilita a coleta seletiva;

Finalmente, restariam os 17% de rejeitos para serem encaminhados aos

aterros sanitários. Por estes motivos teremos outros benefícios como:

1. Diminuição de rotas e frotas de caminhões para a coleta e destino de RSUs e

a quantidade de gases poluentes emitidos;

2. Redução de uso de solo destinado aos aterros sanitários;

3. Aumento do tempo de vida útil dos aterros sanitários;

4. Estudar novas soluções para destinação final de rejeitos.

A partir da análise das informações obtidas neste trabalho, fica cada vez mais

evidente a necessidade da criação de uma política pública que incentive a

compostagem doméstica para um melhor encaminhamento de RSUs de acordo com

a PNRS. A vermicompostagem, assim como outros tipos de compostagem

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doméstica, se mostrou como uma ótima alternativa, pois é uma forma democrática

de conscientizar e educar a população para que ela entenda os processos de

produção, de reuso, reciclagem, descarte, a responsabilidade compartilhada prevista

na PNRS e atendem os pilares do desenvolvimento sustentável. Foi notado que a

compostagem doméstica é uma solução viável, por motivos já expostos neste

trabalho, para o tratamento dos resíduos domésticos orgânicos urbanos. É

perceptível que a forma de separação de RSU no Brasil ainda é muito confusa e que

gera dúvidas para a população sobre qual modo deve ser descartado cada tipo de

RSU.

Outro ponto que deve ser mencionado é que a padronização de vasilhames

facilita o trabalho dos coletores. O sistema de coleta seletiva facilita a compostagem

da matéria orgânica, a reciclagem e a correta destinação de resíduos perigosos. A

ausência de vasilhames (figura 15) traz inúmeros problemas operacionais desde a

limpeza de ruas até a coleta e destinação dos RSUs. Podemos citar outros

problemas como a proliferação de cachorros de rua e o entupimento de bueiros

(principalmente em dias chuvosos que são comuns no verão paulistano).

Figura 13 - Coleta não padronizada e sem separação de resíduos por classificação em São Paulo

Fonte: LAMAS, 2014.

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Contudo, diante dos fatos expostos, a conclusão que se chega é de que a

criação de uma política pública que incentive a compostagem doméstica, juntamente

com a educação e conscientização da população, mostra-se uma maneira efetiva de

tornar as cidades menos poluidoras, diminuindo diversos passivos ambientais

(poluição de ar, água e solo), gerar ganhos econômicos através do reuso, da

reciclagem e da melhor destinação dos RSUs. O Projeto Composta São Paulo

demonstrou que a forma descentralizada de compostagem é uma alternativa real,

econômica e de resultados imediatos. Por isso, a vermicompostagem se mostrou

efetiva na redução dos RSUs e seus passivos ambientais e o modelo do Projeto

Composta São Paulo deve ser replicado em outras cidades do Brasil.

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