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INSTITUTO AGRONÔMICO CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO EM AGRICULTURA TROPICAL E SUBTROPICAL FISIOLOGIA DA MATURAÇÃO DE CANA-DE- AÇÚCAR (Saccharum spp): SINALIZAÇÃO E CONTROLE DO METABOLISMO DE PRODUÇÃO E ARMAZENAMENTO DE SACAROSE GUILHERME GARCIA ROBERTO Orientadora: Dra. Ana Maria Magalhães Andrade Lagôa Tese submetida como requisito parcial para obtenção do grau de Doutor em Agricultura Tropical e Subtropical, Área de Concentração em Tecnologia da Produção Agrícola Campinas, SP 2015

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INSTITUTO AGRONÔMICO

CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO EM AGRICULTURA

TROPICAL E SUBTROPICAL

FISIOLOGIA DA MATURAÇÃO DE CANA-DE-

AÇÚCAR (Saccharum spp): SINALIZAÇÃO E

CONTROLE DO METABOLISMO DE PRODUÇÃO E

ARMAZENAMENTO DE SACAROSE

GUILHERME GARCIA ROBERTO

Orientadora: Dra. Ana Maria Magalhães Andrade Lagôa

Tese submetida como requisito parcial para obtenção do grau de Doutor em Agricultura Tropical e Subtropical, Área de Concentração em Tecnologia da Produção Agrícola

Campinas, SP 2015

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Ficha elaborada pela bibliotecária do Núcleo de Informação e Documentação do Instituto Agronômico R639f Roberto, Guilherme Garcia Fisiologia da maturação de cana-de-açúcar (Saccharum spp): Sinalização e controle do metabolismo de produção e armazenamento de sacarose/ Guilherme Garcia Roberto. Campinas, 2015. 52 fls. Orientadora: Dra. Ana Maria Magalhães Andrade Lagôa Tese (Doutorado) Agricultura Tropical e Subtropical – Instituto Agronômico 1. Cana-de-açúcar 2. Sacarose 3. Maturação 4. Etileno, 5. Déficit hídrico 6. Fitormônios 7.Fotossíntese 8. Carboidratos. 9. Relação fonte/dreno. I. Lagôa, Ana Maria Magalhães Andrade II. Título

CDD. 633.61

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iii

À minha família mais antiga:

Avó D. Neuza, pais Wanderley e Sonia e irmão

Gustavo, que me fizeram como sou,

DEDICO.

À minha nova família:

Letícia, que tanta força me deu nesta jornada,

OFEREÇO.

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AGRADECIMENTOS

Agradeço a todos que de alguma forma contribuíram para a realização e conclusão deste

trabalho.

Ao Instituto Agronômico – IAC - por todo o apoio de infraestrutura, financeiro e

logístico. Ao laboratório de fisiologia vegetal “Dr Coaracy M. Franco”, do Centro de P&D em

Ecofisiologia e Biofísica, em cujas dependências foram realizados os experimentos.

À Dra. Ana Maria Magalhães Andrade Lagôa, pela orientação deste trabalho.

À equipe de pesquisadores e pós-graduandos do IAC que possibilitou a realização deste

trabalho: Dr. Eduardo Caruso Machado e Prof. Dr. Rafael Vasconcelos Ribeiro, coordenadores

do projeto temático de qual a tese faz parte e parceiros intelectuais desde a concepção do

trabalho até a análise dos resultados; Dr. Paulo Eduardo Ribeiro Marchiori e Dra. Norma de

Magalhães Erismann pela contribuição na análise de pré-banca da tese; Dr. José Rodrigues

Magalhães Filho, Dra. Daniela Fávero São Pedro Machado, MsC Cristina Rodrigues Gabriel

Sales, MsC Fernanda Castro Correia Marcos, MsC Neidiquele Maria Silveira, MsC Karina

Iolanda Silva e agrônoma Nathalia Barbosa Lanza, parceiros de trabalho, parceiros de pós-

graduação, de cafés, de conversas, de congresso, de comemorações.

À equipe de apoio técnico e em pesquisa do IAC: Severino Nogueira, pedra fundamental

de todos os trabalhos realizados na sessão, e à Dra. Yolanda Eugenia Alamo Gabrine Boza.

Ao Prof. Marcelo Menossi Teixeira, à MsC Camila Pinto da Cunha e à equipe do

Laboratório de Genoma Funcional do Instituto de Biologia da Universidade Estadual de

Campinas, parceiros na elaboração, execução e financiamento de parte do projeto.

À banca avaliadora da tese, pela solicitude em dispender um precioso tempo na leitura

e na avaliação deste trabalho.

À Leticia Lidiane Silva, revisora deste trabalho, e amiga e companheira.

Aos amigos, os quais deixo de citar nominalmente por, graças a Deus, serem muitos os

ótimos e bons, mas que tenho certeza que sabem o quanto foram, são e sempre serão importantes

para mim.

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SUMÁRIO

CAPÍTULO I: INTRODUÇÃO E REVISÃO BIBLIOGRÁFICA .................................... 1

1. INTRODUÇÃO ................................................................................................................ 1

2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA ........................................................................................ 4

2.1 Cultivo da Cana-de-açúcar no Brasil ................................................................................ 4 2.2 Maturação e Acúmulo de Sacarose em Cana-de-açúcar .................................................... 5 2.3 Reguladores Vegetais e o Acúmulo de Sacarose na Cana-de-açúcar ................................. 6 2.4 Fisiologia da Maturação: Metabolismo de Açúcares e Balanço Hormonal ........................ 7 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .............................................................................. 11

CAPÍTULO II: VARIAÇÃO DA FOTOSSÍNTESE E DOS TEORES DE

CARBOIDRATOS INDUZIDOS POR ETEFOM E DÉFICIT HÍDRICO NA FASE DE

MATURAÇÃO DA CANA-DE-AÇÚCAR ....................................................................... 15

RESUMO ........................................................................................................................... 15

1. INTRODUÇÃO .............................................................................................................. 16

2. MATERIAL E MÉTODOS ........................................................................................... 17

2.1 Material Vegetal ............................................................................................................. 17 2.2 Desenho Experimental ................................................................................................... 18 2.3 Avaliações Biométricas .................................................................................................. 19 2.4 Trocas Gasosas............................................................................................................... 19 2.5 Concentração de Carboidratos ........................................................................................ 21 2.6 Análise Estatística .......................................................................................................... 21 3. RESULTADOS .............................................................................................................. 21

4. DISCUSSÃO .................................................................................................................. 25

5. CONCLUSÕES .............................................................................................................. 26

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .............................................................................. 27

CAPÍTULO III: O ETILENO INDUZ A SÍNTESE DE SACAROSE NO COLMO

DURANTE A MATURAÇÃO NA CANA-DE-AÇÚCAR................................................ 30

RESUMO ........................................................................................................................... 30

1. INTRODUÇÃO .............................................................................................................. 31

2. MATERIAL E MÉTODOS ........................................................................................... 32

2.1 Material Vegetal ............................................................................................................. 33 2.2 Desenho Experimental ................................................................................................... 33 2.3 Trocas Gasosas............................................................................................................... 34 2.4 Concentração de Carboidratos ........................................................................................ 34 2.5 Extração para Análise Enzimática .................................................................................. 35 2.6 Análises enzimáticas ...................................................................................................... 35 2.7 Quantificação Hormonal ................................................................................................ 36 2.8 Análise Estatística .......................................................................................................... 36 3. RESULTADOS .............................................................................................................. 37

4. DISCUSSÃO .................................................................................................................. 42

5. CONCLUSÃO ................................................................................................................ 46

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .............................................................................. 47

CAPÍTULO IV: CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................. 52

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LISTA DE ABREVIAÇÕES

ABA – Ácido abscísico livre

AIA – Ácido indolacético

AVG – aminoetóxi-vinilglicina

DAA – dias após a aplicação dos tratamentos

DH – déficit hídrico

DH+EN – Tratamento com aplicação conjunta de déficit hídrico e etefom

E – Transpiração foliar

EN – Tratamento com aplicação de etefom

Etefom – ácido 2-cloroetilfosfônico

GA4 - Giberelinas

gs – Condutância estomática

IVA – Invertases Ácidas Solúveis

IVN – Invertases Neutras

Pn – Assimilação de gás carbônico

Pni – Assimilação total de gás carbônico durante o período experimental

RFAtot – Radiação fotossinteticamente ativa total

SPS - Sacarose fosfato sintase

SuSy – Sacarose sintase

Tar – Temperatura do ar

Trans-ZR – Trans-zeatina ribose

URmin – umidade relativa do ar mínima

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Fisiologia da maturação de cana-de-açúcar (Saccharum spp): sinalização e controle do

metabolismo de produção e armazenamento de sacarose

RESUMO

Um importante índice para a indústria sucroalcooleira é a produtividade de sacarose em cana-

de-açúcar, que pode ser relacionada à eficiência da planta em acumular sacarose durante a

maturação. Apesar de se conhecer a eficiência de tratamentos como a restrição hídrica e a

aplicação de reguladores para estimular a maturação, é importante para o avanço da tecnologia

de cultivo que se conheça sobre as respostas fisiológicas da planta que conduzem a ela. Durante

a maturação, as relações fonte/dreno são alteradas, ocorrendo aumento do acúmulo de sacarose

nos colmos e a diminuição do crescimento vegetativo. Essas respostas dependem de uma

complexa rede de interações metabólicas, que inclui o metabolismo de sacarose, representado

pela atividade de enzimas como a sacarose fosfato sintase (SPS), a sacarose sintase (SuSy) e as

invertases ácidas e neutras (IVA e IVN); e os hormônios vegetais, como etileno, giberelinas,

ácido abscísico, auxinas e citocininas. Com o objetivo de compreender melhor a fisiologia da

maturação da cana-de-açúcar, foram determinadas como são alteradas as respostas na

assimilação de carbono nas folhas e a produção e armazenamento de sacarose no colmo da

cana-de-açúcar durante a maturação, e qual o papel do etileno na indução e sinalização deste

processo. Foram realizados dois estudos. No primeiro, foram determinadas as principais

alterações fisiológicas que ocorrem durante a maturação, analisando-se respostas na

fotossíntese e no balanço de carboidratos em plantas de duas variedades submetidas a dois

tratamentos indutores de maturação: aplicação de déficit hídrico e de etefom. Concluiu-se que

o efeito do etefom em cana-de-açúcar é genótipo-dependente, estimulando o acúmulo de

sacarose no colmo e o suprimento de fotoassimilados pela fonte na variedade responsiva

(IACSP95-5000). Tais efeitos não são associados à restrição do crescimento. Em relação à

aplicação de etefom em conjunto com a ocorrência de déficit hídrico, o hipotético efeito aditivo

no acúmulo de sacarose no colmo não foi verificado na maturação da cana-de-açúcar. Uma vez

feita esta análise, um segundo estudo analisou o papel do hormônio etileno, princípio ativo do

maturador etefom, na atividade metabólica de síntese de sacarose, na fotossíntese e na

sinalização hormonal da cana-de-açúcar durante a maturação. Concluiu-se que o etileno

aumenta produção e acúmulo de sacarose nos entrenós intermediários dos colmos por estimular

a atividade da SuSy e inibir a atividade de IVA, aumentando assim a concentração de sacarose

nas células parenquimáticas do tecido. Inicialmente, o etileno diminui a assimilação de CO2

fechando os estômatos, mas ao estimular a síntese de sacarose no colmo ele aumenta a força do

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dreno, gerando demanda fotossintética que a médio prazo garante o fornecimento de

fotoassimilados para a síntese de sacarose. Em relação às alterações no balanço hormonal,

observou-se que os teores de giberelinas e ácido abscísico aumentam nas folhas e giberelinas e

citocininas aumentam nos colmos em relação ao controle em resposta à aplicação do etefom.

Palavras-chave: etileno; déficit hídrico; fitormônios; fotossíntese; carboidratos; relação

fonte/dreno.

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Ripening physiology of sugarcane (Saccharum spp): signaling and control of sucrose

production and storage metabolism

ABSTRACT

An important index for ethanol industry is sucrose productivity in sugarcane, which is related

to plant efficiency to accumulate sucrose during ripening. Despite the efficiency of treatments

such as water restriction and application of regulators to stimulate ripening, it is important for

the advancement of culture technology to understand about physiological responses of the plant

that leads to it. During ripening, the source/sink relations changes, and there is an increase of

sucrose accumulation in culms and reduction in vegetative growth. These responses depend in

a complex network of metabolic interactions including sucrose metabolism, represented by the

activity of enzymes such as sucrose phosphate synthase (SPS), sucrose synthase (SuSy) and

neutral and acidic invertase (IVA and IVN); and plant hormones such as ethylene, gibberellins,

abscisic acid, auxin and cytokinin. In order to better understand the physiology of maturation

of cane sugar, it was determined the responses in carbon assimilation in leaves and the

production and storage of sucrose in culms of sugarcane during ripening, and what is the role

of ethylene in the induction and signaling of this process. Two studies were conducted. In the

first one, were determined the main physiological changes that occur during maturation,

analyzing responses in photosynthesis and plant carbohydrate balance at two varieties

submitted to two ripening induction treatments: water deficit and application of ethephon. It

was concluded that the effect of ethephon in sugarcane is genotype-dependent, stimulating the

sucrose accumulation in the culm and photoassimilates supply by source in the responsive

variety (IACSP95-5000). Such effects are not associated with growth restriction. Regarding the

application of ethephon together with water deficit, the hypothetical additive effect on sucrose

accumulation in the culm was not verified in the ripening of sugarcane. Once made this analysis,

a second study analyzed the role of hormone ethylene, active principle of ethephon, in metabolic

activity of sucrose production, photosynthesis and hormonal signaling during ripening. It was

concluded that ethylene increases sucrose production and accumulation in the intermediate

internodes of the culms by the stimulation of SuSy activity and inhibition of VAI activity,

thereby increasing the concentration of sucrose in parenchyma cells of the tissue. Initially, the

ethylene uptake of CO2 decreases due stomata closure, but the stimulation of sucrose synthesis

in the internodes increases the strength of the sink, generating photosynthetic demands that at

medium term ensures the supply of assimilate to sucrose synthesis. With regard to changes in

hormonal balance, it was observed that the gibberellins and abscisic acid levels increase in the

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leaves and gibberellins and cytokinins increase in stems compared to the control in response to

the application of etefom.

Keywords: ethylene; water deficit; plant hormones; photosynthesis; carbohydrates; source/sink

relations.

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CAPÍTULO I

INTRODUÇÃO E REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

1. INTRODUÇÃO

A cana-de-açúcar é uma das principais culturas agrícolas brasileiras, tendo um papel

chave na produção de energias renováveis. Além do etanol, utilizado como combustível, a cana-

de-açúcar pode ser fonte de biomassa. Isso sem contar a importância do cultivo para a produção

do açúcar (Waclawosky et al., 2010).

O melhoramento da cana-de-açúcar visa aumentar o número de colmos por hectare, sem

se preocupar diretamente com a capacidade de acúmulo de sacarose nos colmos (Jackson,

2005). A produtividade da cana-de-açúcar está diretamente ligada à capacidade dos colmos das

plantas em produzirem e armazenarem a sacarose. Quanto maior a capacidade da variedade em

armazenar sacarose nas condições de cultivo a que ela está submetida, maior a produtividade

do cultivo (Rodrigues, 1995).

O acúmulo de sacarose nos colmos ocorre, durante o desenvolvimento da cana-de-

açúcar, na fase de maturação. Esta fase pode ser definida como o momento em que a planta

reduz significativamente seu crescimento vegetativo e passa a acumular maior quantidade de

sacarose nos colmos. Os mecanismos fisiológicos que ocorrem na planta durante esta fase ainda

não são completamente conhecidos. A determinação de quais são esses mecanismos e como

eles operam para culminar na maior concentração de sacaroses no colmo é de grande interesse

para oferecer ferramentas para a seleção e desenvolvimento de variedades mais produtivas

(Watt et al., 2014).

Estes mecanismos podem envolver alterações nas relações fonte/dreno na planta, isto é,

na capacidade das células dos colmos (poderosos drenos de fotoassimilados) em produzir e

armazenar sacarose, e na capacidade das folhas de assimilar CO2, produzir e transportar

carboidratos (McCormick et al., 2009).

A sinalização que ocorre para que a cana-de-açúcar diminua seu crescimento vegetativo

e passe a acumular sacarose depende de sinais ambientais, notadamente da restrição hídrica ou

de quedas na temperatura. Isso indica que a transdução desses sinais é importante para o

estabelecimento da maturação, logo os hormônios vegetais devem estar envolvidos no processo

(Yao et al., 2002). Um importante hormônio que parece estar envolvido é o etileno. A aplicação

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de etefom, um regulador químico que é convertido em etileno quando em contato com o tecido

foliar aumentando a biossíntese autocatalítica de etileno nas células, induz à maturação.

Assim, o objetivo deste trabalho foi compreender melhor a fisiologia da maturação da

cana-de-açúcar, determinando como são alteradas as relações de fonte/dreno, ou seja, quais as

respostas na assimilação de carbono nas folhas e a produção e armazenamento de sacarose nas

células do colmo, e qual o papel do etileno durante esse processo.

Primeiramente, foram determinadas as principais alterações fisiológicas que ocorre

durante a maturação, tendo sido feita a análise de respostas fisiológicas na fotossíntese e

balanço de carboidratos em plantas submetidas à aplicação de déficit hídrico e aplicação de

etefom, visando à indução de maturação. Uma vez feita esta análise, foi estudado o papel do

hormônio etileno, princípio ativo do maturador etefom, na atividade metabólica de síntese de

sacarose, bem como na sinalização hormonal da cana-de-açúcar durante a maturação.

Foram testadas as seguintes hipóteses:

(i) o etefom e o déficit hídrico, enquanto indutores da maturação na cana-de-açúcar,

interferem no balanço fonte/dreno da cana-de-açúcar durante a maturação, diminuindo o

crescimento da planta, afetando a fotossíntese e causando o aumento do armazenamento de

sacarose no colmo;

(ii) por afetarem os mesmos processos fisiológicos, i.e., atividade metabólica da fonte e

do dreno, o déficit hídrico e o etefom apresentam efeitos aditivos na indução da maturação;

(iii) para aumentar o acúmulo de sacarose no colmo o etileno induz diretamente a maior

atividade enzimática de sacarose fosfato sintase (SPS) e sacarose sintase (SuSy) e/ou menor

atividade das invertases;

(iv) A maior demanda por carboidratos decorrente da atividade do colmo estimula o

aumento da fotossíntese;

(v) o metabolismo de açúcares e as relações fonte/dreno alteradas durante a maturação

são respostas sinalizadas por diferenças no balanço hormonal, em que o aumento da

concentração de etileno causada pela sua aplicação exógena leva ao aumento de outros

hormônios envolvidos na maturação.

Os dois estudos realizados e apresentados a seguir na forma de artigos científicos1,

compõem os capítulos deste trabalho. O primeiro trata das repostas fisiológicas no crescimento,

fotossíntese e acúmulo de carboidratos em duas variedades de cana-de-açúcar, com o objetivo

de responder às hipóteses i e ii. O segundo estuda o efeito do etefom, o tratamento mais efetivo

1 Artigos científicos e referências bibliográficas formatados conforme normas da Revista Bragantia.

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na indução da maturação na variedade mais responsiva segundo observações do primeiro

capítulo, analisando as respostas na fotossíntese, metabolismo de carboidratos e sinalização

hormonal nas plantas tratadas com o maturador, verificando assim as hipóteses iii, iv e v.

Desta forma, será defendida a tese de que a maturação é um processo em que a cana-

de-açúcar aumenta a atividade de produção e acúmulo de sacarose nas células dos colmos,

realizando mais fotossíntese para atender à demanda por fotoassimilados (hipótese i). O etileno

é essencial para esta sinalização, induzindo as plantas à maturação mesmo elas estando

submetidas a déficit hídrico (hipótese ii), ao estimular a atividade de enzimas de produção e

inibir as de quebra de sacarose nos colmos (hipótese iii). Apesar da inicial diminuição da

fotossíntese, ela é recuperada com o passar do tempo, suprindo a demanda gerada pela atividade

de síntese de sacarose no colmo (hipótese iv). Ocorrem também alterações nas outras enzimas

ligadas ao metabolismo do açúcar (sacarose fosfato sintase e invertases neutras) e nas

concentrações de hormônios endógenos, como ABA, giberelinas e citocininas (hipótese v).

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2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

2.1 Cultivo da Cana-de-açúcar no Brasil

A cana-de-açúcar é uma fonte importante de alimento e bioenergia e um componente

significativo da economia de muitos países nos trópicos e subtrópicos (Waclawosky et al.,

2010). Cerca de 100 países produzem cana-de-açúcar em uma área de 25 milhões de hectares –

aproximadamente 0,5% da área total mundial usada para agricultura (FAO, 2014). No Brasil, o

agronegócio da cana-de-açúcar é responsável por mais de US$ 20 bilhões/ano e é um dos

principais setores geradores de empregos diretos e indiretos. O país produz 39% da cana-de-

açúcar mundial, sendo o maior produtor (642 milhões tons/ano). O Estado de São Paulo é o

mais importante produtor de açúcar e etanol a partir da cana-de-açúcar, com cerca de 56%

produção nacional na safra 2014-2015 (CONAB, 2014).

O setor açucareiro nacional é suportado pela disponibilidade de variedades de cana-de-

açúcar adaptadas às diferentes condições de cultivo e pela bem estruturada e altamente

tecnológica indústria de etanol, além de condições ambientais favoráveis (Ortolan, 2006). Um

importante índice para a indústria sucroalcooleira é a produtividade de sacarose, que varia de

acordo com a espécie e a variedade de cana-de-açúcar (Landell, 2004; Landell et al., 2006; Watt

et al., 2014). Desde que foram estabelecidos, os programas de melhoramento da cana-de-açúcar

tinham como objetivo produzir mais açúcar por meio do aumento da produção de plantas por

hectare, com pouca ou nenhuma mudança na concentração de sacarose em cada colmo

(Jackson, 2005). Técnicas que visem o desenvolvimento de variedades com maior concentração

de sacarose nos colmos incrementarão a produtividade industrial, uma vez que será obtida mais

sacarose por massa fresca de colmos transportados e processados (Rodrigues, 1995).

Plantas de cana-de-açúcar passam a acumular sacarose quando cessam seu crescimento

vegetativo, num processo denominado maturação. Este processo ocorre de forma natural, em

reposta a condições climáticas (déficit hídrico e frio) que levam a planta à condição de estresse.

Mas ele também pode ser induzido através do uso de maturadores, que são reguladores vegetais

que retardam o crescimento vegetativo da planta (Rodrigues, 1995). A utilização de

maturadores na cultura da cana-de-açúcar permite o manejo da cultura em seu moderno sistema

de produção, tendo como objetivo aumentar a produtividade e antecipar o corte quando aplicado

no início da safra ou prolongar o período de produção, quando aplicado em final de safra (Viana

et al, 2007).

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Em geral, os estudos de uso de maturadores são dirigidos para respostas de aplicação

(Donaldson & Van Staden, 1995; Moore & Maretzki, 1996; Robertson & Donaldson, 1998;

Caputo et al., 2008; Leite et al., 2010, 2011), sendo que pouco se sabe sobre as importantes

alterações fisiológicas que ocorrem nas plantas e que levam à maturação na cana-de-açúcar.

(Gronwald, 1991; Inman-Bamber & Smith, 2005; Chong et al., 2010; Wang et al., 2013a,b). A

determinação de quais são esses mecanismos e como eles operam para culminar na maior

concentração de sacaroses no colmo é de grande interesse para oferecer ferramentas, como por

exemplo melhoramento de genes específicos de enzimas e cofatores envolvidos na fisiologia

da maturação, para a seleção e desenvolvimento de variedades mais produtivas por acumularem

mais sacarose no colmo em menor espaço de tempo e com menor comprometimento do

crescimento vegetativo.

2.2 Maturação e Acúmulo de Sacarose em Cana-de-açúcar

O processo de maturação da cana-de-açúcar pode ser definido como o processo

fisiológico que envolve a formação de açúcares nas folhas e seu transporte e armazenamento

no colmo (Watt et al., 2014). O colmo é composto por uma sucessão de internódios em

diferentes estágios fisiológicos, e é nesses internódios que se acumula grande quantidade de

sacarose em condições favoráveis à maturação. Os internódios imaturos, localizados na região

apical do colmo, apresentam folhas verdes, são fibrosos, com alta concentração de hexoses e

baixa concentração de sacarose. Em um colmo maduro, próximo à base da planta, todo o

internódio tem concentração semelhante de sacarose. A taxa de acúmulo de sacarose é maior

durante a última fase do ciclo da cultura, quando os colmos têm pequena taxa de crescimento,

coincidindo com períodos de restrições induzidas pelo clima que levam à maturação (Watt et

al., 2014).

O clima influencia no desenvolvimento da planta e, consequentemente, na produção de

sacarose da cana-de-açúcar. O clima ideal é aquele com duas estações distintas: uma quente e

úmida para proporcionar a germinação, perfilhamento e desenvolvimento vegetativo, seguido

de outra fria e seca, para promover a maturação natural (Caputo et al., 2008). O crescimento

vegetativo ótimo ocorre em temperaturas entre 28 e 34ºC, enquanto a maturação natural exige

temperaturas abaixo de 21ºC e/ou déficit hídrico, fazendo com que o fotoassimilado (sacarose)

necessário para a expansão dos tecidos da planta seja desviado para armazenamento nos colmos,

restringindo o crescimento vegetativo (Moore & Maretzki, 1996; Andrade, 2006). O processo

de maturação da cana-de-açúcar na Região Sudeste do Brasil ocorre naturalmente a partir de

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abril/maio com clímax em agosto/setembro, período caracterizado pela gradativa queda de

temperatura e diminuição das precipitações pluviais.

Muitos produtores utilizam a limitação de hidratação no período pré-colheita para

aumentar a concentração de sacarose no colmo (Inman-Bamber & Smith, 2005), aumentando

em até 18% o conteúdo de sacarose nos colmos (Robertson & Donaldson, 1998). No entanto,

essa técnica só pode ser utilizada em locais como em regiões da África do Sul, Austrália,

Suazilândia e Sudão, onde há longos períodos de seca, de modo que o cultivo da cana-de-açúcar

depende de irrigação para que haja o crescimento vegetativo das plantas (Inman-Bamber &

Smith, 2005). Na região sudeste do Brasil, a irrigação é utilizada apenas para fornecimento de

água em períodos de seca eventual; para a maturação, ocorrem naturalmente períodos de frio e

seca no inverno, sendo inviável o manejo da safra pelo controle de irrigação. Como a partição

de matéria seca pode ser alterada por reguladores químicos de maneira similar a causada pelo

déficit hídrico e frio (Inman-Bamber & Smith, 2005), uma alternativa para controlar e otimizar

a maturação, e consequentemente a produção e colheita da cana-de-açúcar, é a aplicação

exógena dessas substâncias químicas indutoras de maturação.

2.3 Reguladores Vegetais e o Acúmulo de Sacarose na Cana-de-açúcar

Reguladores vegetais são definidos como substâncias aplicadas exogenamente e que

possuem efeito fisiológico similar aos grupos de hormônios conhecidos. A classe de

reguladores vegetais chamada de maturadores refere-se a compostos químicos capazes de

modificar a morfologia e a fisiologia vegetal, com a propriedade de paralisar e/ou retardar o

desenvolvimento vegetativo da planta, induzindo a translocação e armazenamento dos

açúcares, principalmente sacarose (Leite et al., 2011). O emprego de maturadores químicos

destaca-se como ferramenta importante no cultivo de cana-de-açúcar, promovendo melhorias

na qualidade da matéria-prima, otimizando resultados agroindustriais/econômicos e auxiliando

no planejamento da safra (Caputo et al., 2008). Os maturadores mais utilizados são glifosato,

etil-trinexapac, sulfometuron-metil e etefom (Caputo et al., 2008; Leite et al., 2011).

O etefom, comercialmente conhecido como Ethrel® (Bayer Crop Science, Leverkusen,

Alemanha) é aplicado via foliar. É mantido estável através de pH menor ou igual a 3,5, perdendo

essa estabilidade no contato com o tecido vegetal (pH próximo a neutralidade). Isso causa a

liberação de etileno gasoso, o qual se difunde no tecido vegetal. Como consequência da maior

concentração de etileno na planta, ocorre a diminuição do alongamento dos entrenós imaturos

(Stewart & Freebairn, 1969; Yao et al., 2002; Li & Solomon, 2003).

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O emprego de etefom antecipa a colheita de cana-de-açúcar em pelo menos 21 dias, com

diferentes respostas dependendo do genótipo (Caputo et al., 2008). Ele atua de forma eficiente

ao retardar o processo de crescimento em altura das plantas de cana-de-açúcar, sem ocasionar

alteração no diâmetro dos colmos, levando à melhoria na qualidade tecnológica da matéria-

prima (Leite et al., 2011).

Deste modo, está bem determinada na literatura a importância do controle e otimização

do processo de maturação em cana-de-açúcar, bem como a eficiência do uso de maturadores

químicos como o etefom no controle e acréscimo de produção de sacarose. Porém, pouco se

conhece sobre os processos fisiológicos que levam a cana-de-açúcar a acumular mais sacarose

nos colmos durante este processo. Sabe-se que compostos que estimulam a produção de etileno

induzem plantas jovens de cana-de-açúcar à maior concentração de sacarose nos colmos, bem

como estimulam a fotossíntese nas folhas (Chong et al., 2009). Eles também aumentam a

atividade de enzimas relacionadas à síntese de sacarose nos colmos (Wang et al., 2013).

Existem alguns trabalhos em outras espécies, que relacionam a fotossíntese, o metabolismo de

açúcares (Pinheiro & Chaves, 2011), e o balanço hormonal (Zhang & Tardieu, 1996; Veselova

et al., 2005) que ocorrem na planta em resposta a estímulos naturais da maturação como o déficit

hídrico e frio.

2.4 Fisiologia da Maturação: Metabolismo de Açúcares e Balanço Hormonal

A maturação da cana-de-açúcar envolve um sistema metabólico que se inicia com a

atividade fotossintética nos cloroplastos das células foliares, culminando com o acúmulo de

carboidratos fotossintetizados, principalmente sacarose, nos colmos (Leite et al, 2010). As

células do parênquima e o espaço intercelular dos colmos, onde ocorre o acúmulo de sacarose

durante a maturação, são poderosos drenos regulados pelo metabolismo de produção e alocação

de açúcares e de alta prioridade na alocação de fotoassimilados produzidos nas fontes, as folhas

(McCormick et al., 2006).

As relações fonte/dreno na planta estão relacionadas à produção e alocação do carbono

nos diferentes tecidos vegetais. As fontes são os locais que produzem (tecidos

fotossinteticamente ativos) ou armazenam (tubérculos, colmos) compostos de carbono para

serem distribuídos via sistema vascular para outros tecidos, que são os drenos de compostos de

carbono. Os drenos podem incluir regiões em divisão e expansão celular, tecidos reprodutivos

em formação, ou tecidos de armazenamento em fase de carregamento. A demanda do dreno

pode afetar a atividade da fonte, indicando que o controle do sistema de sinalização é muito

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importante no processo de translocação de compostos de carbono (Hatch & Glasziou, 1963;

McCormick et al., 2006). Na cana-de-açúcar, um bom entendimento dos mecanismos

fonte/dreno pode levar ao aumento na produtividade de sacarose, ao passo que a compreensão

equivocada de respostas de maturação pode levar a perdas. (Inman-Bamber & Smith, 2005).

Sob estresse, alterações no metabolismo de carbono ocorrem em diferentes órgãos e a

regulação fina desse processo é desconhecida (António et al., 2008; Pinheiro & Chaves, 2011).

Os açúcares solúveis (sacarose e hexoses) e os hormônios vegetais são considerados sinais

metabólicos fundamentais entre o ambiente e as respostas celulares nas plantas, agindo como

substratos e moduladores de atividades enzimáticas e controlando a expressão de diferentes

genes relacionados ao metabolismo de carbono. As relações entre alterações ambientais e as

mudanças fisiológicas são frentes dos atuais esforços em pesquisa (Paul & Pellny, 2003; Couée

et al., 2006; Bolouri-Moghaddam et al., 2010).

Um dos principais fatores limitantes no processo de acúmulo de sacarose é a relação

entre assimilação de carbono (fotossíntese) e síntese e translocação de sacarose (Wang et al.,

2013b; Figura 1). A produtividade de sacarose está diretamente relacionada à produção de

fotoassimilados, processo aumentado pela otimização da interceptação e/ou alta eficiência de

conversão de energia solar (Singels et al., 2005). Enzimas citosólicas como sacarose fosfato

sintase (SPS) e sacarose sintase (SuSy) catalisam a síntese de sacarose e parecem exercer

influência no fluxo de açúcares (Huber & Huber, 1996; Batta et al., 2011). Foi observado,

somente na fonte (folha), que a atividade da SPS é altamente correlacionada com o conteúdo

de sacarose em diversas variedades de cana-de-açúcar (Grof & Campbell, 2001). Por outro lado,

enzimas que catalisam a quebra e remobilização de sacarose, como as invertases ácidas (IVA)

e neutras (IVN) podem comprometer o acúmulo de sacarose nos vacúolos das células

parenquimáticas do colmo (Jain et al., 2013).

Drenos com alta capacidade de armazenamento e ativos por um longo período têm o

potencial de aumentar a atividade fotossintética em plantas de cana-de-açúcar através de

mudanças na atividade de enzimas e na expressão genética (McCornick et al., 2006). O oposto

também é verdade, i.e., drenos menos ativos causam acúmulo de açúcar nas folhas e modificam

o metabolismo da fonte, levando a diminuição na fotossíntese (Paul & Pellny, 2003). Foi

demonstrado que a capacidade de transporte do fotoassimilado não limita a alocação de

açúcares, a não ser em condições extremas de déficit hídrico ou frio (Wardlaw, 1990; Lawlor,

1995). Logo, a força do dreno (tamanho e quantidade de entrenós) é que regula a produtividade

de sacarose, afetando a fotossíntese da cana-de-açúcar. A capacidade de acúmulo dos

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compostos de carbono produzidos nas folhas é definida geneticamente, sendo um importante

parâmetro discriminatório do potencial produtivo das diferentes variedades (Rodrigues, 1995).

Figura 1. Diagrama de processos para o movimento de sacarose e metabolismo da cana-

de-açúcar desde a síntese nas fontes (folhas) até sua deposição nos colmos (Wang et al.,

2013b). O movimento de sacarose é mostrado com flechas verdes, e seu metabolismo subsequente e compartimentação com flechas negras. Os transportadores são mostrados com círculos azuis, a parede celular designada com o círculo cinza maior, e o vacúolo é mostrado em laranja. A sacarose é sintetizada nas folhas, translocada no floema para as células parenquimáticas do colmo. Dentro da célula ela pode ser movida inalterada para o armazenamento, mas a transferência apoplástica pode envolver a hidrólise da sacarose em hexoses pelas invertases ácidas (IVA) da parede celular. Tanto as hexoses como a sacarose entram nas células do parênquima pelos transportadores. Hexoses podem também ser formadas da sacarose dentro das células pelas invertases neutras (IVN) no citoplasma ou pelas invertases ácidas do vacúolo. A sacarose é armazenada tanto no vacúolo quanto no espaço intercelular. O suplemento interno de sacarose e seu particionamento para drenos concorrentes também envolve o balanço entre UDP-glu (UDP-glicose), um precursor da biossíntese da parede celular. As reações chave incluem as reações reversíveis da SuSy (sacarose sintase) e da SPS (sacarose fosfato sintase), todas tendo papéis centrais no armazenamento de sacarose nas células.

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Processos enzimáticos relacionados à quebra de sacarose nos tecidos do caule (drenos)

também são essenciais para a determinação da produtividade de sacarose na cana-de-açúcar. A

sacarose é hidrolisada por pelo menos três diferentes isoformas de invertases: uma ativa em pH

neutro no tecido maduro, observada e purificada na cana-de-açúcar; e duas ativas em pH ácido

e caracterizadas em diferentes espécies vegetais: as invertases ácidas localizadas nos vacúolos

e as invertases ácidas localizadas no apoplasto, também conhecidas como invertases de parede

celular (Batta et al., 2011).

O mecanismo de acúmulo de sacarose em tecidos maduros e imaturos do ponto de vista

fisiológico é o mesmo, diferindo nesses tecidos em função de reguladores de crescimento e da

ação das invertases. Nos tecidos imaturos, onde predomina a rápida expansão celular, a sacarose

acumulada é rapidamente hidrolisada pelas invertases ácidas, movendo rapidamente as hexoses

resultantes para o citoplasma, onde são utilizadas no crescimento e desenvolvimento celular.

Nas plantas em fase de maturação ocorre aumento da ação de invertases neutras e a baixa

atividade de invertases ácidas indica que está ocorrendo acúmulo efetivo de sacarose (Jain et

al., 2013).

A produção e a atividade destas enzimas, especialmente das invertases, parecem ser

diretamente reguladas por pelo menos dois hormônios endógenos, auxina (AIA) e ácido

abscísico (ABA) (Alexander, 1973; Pinheiro & Chaves, 2011). Quando submetidas ao déficit

hídrico, as plantas aumentam o conteúdo de ABA sintetizado nas raízes. Esta molécula é um

importante mensageiro na sinalização das plantas, causando fechamento estomático e evitando

a perda de água (Zhang & Tardieu, 1996). Sinalização similar é encontrada em plantas

submetidas a baixas temperaturas (Wan et al., 2004; Veselova et al., 2005). Outras substâncias

de crescimento também estão envolvidas na comunicação raiz-parte aérea como as auxinas e

citocininas (Bano et al., 1993; Vysotskaya et al., 2001; Huang et al., 2008; Jain et al., 2013).

Em menor escala, os açúcares também parecem estar envolvidos na sinalização desses

hormônios (Pinheiro & Chaves, 2011).

Apesar dos impressionantes avanços feitos na última década a respeito da natureza dos

eventos que ocorrem em plantas sujeitas ao estresse, principalmente hídrico, ainda falta uma

visão integrativa da sua regulação metabólica (Rolland et al., 2006; Shinozaki & Yamagushi-

Shinozaki, 2007). Como adequadamente apontado por Hanson & Smeekens (2009), a pesquisa

em sinalização e controle do metabolismo de açúcares apresentará novas oportunidades para a

melhoria nas culturas por atuar nas respostas estratégicas das plantas ao estresse e nas relações

de fonte/dreno, fatores determinantes em cana-de-açúcar para o acúmulo e produtividade de

sacarose nos colmos.

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CAPÍTULO II

VARIAÇÃO DA FOTOSSÍNTESE E DOS TEORES DE CARBOIDRATOS

INDUZIDOS POR ETEFOM E DÉFICIT HÍDRICO NA FASE DE MATURAÇÃO DA

CANA-DE-AÇÚCAR

RESUMO

Um importante índice para a indústria sucroalcooleira é a produtividade de sacarose em cana-

de-açúcar, que pode ser relacionada à capacidade da planta em acumular sacarose durante a

maturação. Apesar de se conhecer a eficiência de tratamentos como a restrição hídrica e a

aplicação de reguladores para estimular o acúmulo de sacarose nos colmos, pouco se conhece

sobre as respostas fisiológicas da planta que levam à maturação. Nesse contexto, o objetivo

deste estudo foi avaliar as respostas fisiológicas da cana-de-açúcar a diferentes tratamentos

indutores de maturação e, assim, compreender melhor a fisiologia deste processo. Duas

variedades, a IACSP95-5000, de alta produtividade e a IACSP94-2094, de produtividade

moderada, foram submetidas ao déficit hídrico, à aplicação de regulador químico (etefom 480

g ha-1) e aos dois tratamentos associados. Foram medidos o crescimento, a concentração de

carboidratos em folhas e colmos e as trocas gasosas. Concluiu-se que o efeito do etefom em

cana-de-açúcar é genótipo-dependente, estimulando o acúmulo de sacarose no colmo e o

suprimento de fotoassimilados pela fonte na variedade responsiva (IACSP95-5000). Tais

efeitos não são associados à restrição do crescimento. Em relação à aplicação dos tratamentos

de déficit hídrico e etefom associados, a variedade responsiva apresenta aumento no teor de

sacarose no colmo nos mesmos níveis apresentados quando apenas etefom é aplicado, de modo

que os tratamentos não apresentam efeitos aditivos na maturação da cana-de-açúcar.

Palavras-chave: Saccharum spp; relações fonte-dreno; sacarose; reguladores vegetais.

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1. INTRODUÇÃO

Um importante índice para a indústria sucroalcooleira é a produtividade de sacarose em

cana-de-açúcar, que varia de acordo com a variedade (Watt et al., 2014). Os programas de

melhoramento da cana-de-açúcar promoveram nas últimas décadas aumento significativo na

produção de sacarose através da maior quantidade de colmos por hectare, com pouca ou

nenhuma mudança na concentração do açúcar no colmo (Jackson, 2005). A principal etapa do

desenvolvimento das plantas que está envolvida com o acúmulo de sacarose é a maturação,

processo fisiológico que envolve a formação de açúcares nas folhas e seu deslocamento e

armazenamento no colmo (Watt et al., 2014), quando as plantas praticamente cessam o

crescimento vegetativo. Por sua vez, a produção e o transporte de fotoassimilados nas plantas

são regulados pela atividade fotossintética e pela força do dreno (Wardlaw & Moncur, 1976).

Fatores como o clima e a disponibilidade de água influenciam decisivamente no

desenvolvimento da planta e, consequentemente, na produção de sacarose pela cana-de-açúcar.

O clima ideal é aquele com duas estações distintas: uma quente e úmida para proporcionar a

germinação, perfilhamento e desenvolvimento vegetativo, seguido de outra fria e seca para

promover a maturação natural (Moore & Maretzki, 1996; Caputo et al., 2008). Devido à

necessidade de restrição hídrica para a maturação, a suspensão de rega em cultivos dependentes

de irrigação é realizada na pré-colheita para aumentar a concentração de sacarose no colmo

(Donaldson & Van Staden, 1995; Inman-Bamber & Smith, 2005), técnica que aumenta em até

18% o rendimento de sacarose (Robertson & Donaldson, 1998). O déficit hídrico interfere

negativamente na fotossíntese e no crescimento vegetativo da planta, sendo o crescimento

afetado pela restrição hídrica antes mesmo de alterações significativas na fotossíntese (Inman-

Bamber et al., 2002). Assim, o déficit hídrico moderado beneficia a maturação uma vez que a

competição entre os drenos da planta por fotoassimilados é reduzida pela restrição do

crescimento.

Uma alternativa para controlar e otimizar a maturação, e consequentemente a produção

e a colheita da cana-de-açúcar, é a aplicação exógena de substâncias químicas indutoras de

maturação. Uma destas substâncias é o ácido 2-cloroetilfosfônico (etefom) que ao entrar em

contato com o tecido foliar libera etileno, estimulando a produção desse hormônio pelas plantas

e aumentando assim a sua concentração endógena. O etileno está envolvido na resposta a

diferentes tipos de estresses (Yang & Hoffman, 1987), atuando na maturação de tecidos,

germinação de sementes, na senescência e causando abscisão foliar e variação no grau de

abertura estomática (Pallas & Kays, 1982; Abeles et al., 1992). Na cana-de-açúcar, o etileno

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está associado também à diminuição do crescimento de entrenós imaturos (Stewart & Freebairn,

1969; Li & Solomon, 2003) e ao acúmulo de sacarose (Chong et al., 2010). O etefom também

estimula o acúmulo de sacarose nos colmos por interferir na atividade de enzimas envolvidas

na síntese de açúcar (Wang et al., 2013), aumentando assim a demanda do dreno por

fotoassimilados.

Donaldson & Van Staden (1995) observaram que a imposição do déficit hídrico

associada à aplicação de maturadores não causou aumento na concentração de sacarose nos

colmos de cana-de-açúcar quando comparado aos tratamentos realizados separadamente. Essa

resposta poderia ser explicada pelo fato de ambos os tratamentos induzirem respostas

fisiológicas semelhantes, já que a diminuição do crescimento induzida pelo etileno e a restrição

hídrica permitiriam o direcionamento do carbono assimilado na fotossíntese para os colmos

(Kaitaniemi & Honkanem, 1996). Alternativamente, as plantas poderiam não acumular mais

sacarose quando tratadas com maturador e submetidas ao déficit hídrico porque o limite

biológico de acúmulo de sacarose teria sido alcançado.

A manutenção da assimilação de carbono tem papel fundamental no processo de

maturação, fornecendo o substrato para a síntese e armazenamento de sacarose nos colmos. Em

geral, os estudos de maturação na cana-de-açúcar se concentram na avaliação do acúmulo de

sacarose nos colmos em função da aplicação de maturadores (Robertson & Donaldson, 1998;

Li & Solomon, 2003; Caputo et al., 2008; Leite et al., 2011), sendo poucas as pesquisas que

avançam na compreensão dos processos fisiológicos afetados (Gronwald, 1991; Chong et al.,

2010; Jain et al., 2013). Nesse contexto, o objetivo deste estudo foi avaliar as respostas

fisiológicas da cana-de-açúcar a diferentes tratamentos indutores de maturação e, assim,

compreender melhor a fisiologia deste processo. Para isso, foram testadas as seguintes

hipóteses: (i) o etefom interfere no balanço fonte-dreno da cana-de-açúcar durante a maturação,

diminuindo o crescimento da planta sem alterar a fotossíntese e aumentando assim o

armazenamento de sacarose no colmo; e (ii) por afetarem processos fisiológicos diferentes, o

déficit hídrico e o etefom apresentam efeitos aditivos na indução da maturação.

2. MATERIAL E MÉTODOS

2.1 Material Vegetal

Foram utilizadas plantas com dez meses de idade de duas variedades comerciais de

cana-de-açúcar (Saccharum spp.) com diferentes produtividades e resiliências frente a

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limitações ambientais. Enquanto a IACSP95-5000 apresenta alta produtividade agrícola e é

indicada para ambientes favoráveis (Landell et al., 2007), a IACSP94-2094 apresenta menor

produtividade e é indicada para ambientes restritivos (Ribeiro et al., 2013). As plantas foram

obtidas a partir de mini-toletes das variedades, que foram germinados em bandejas contendo

substrato comercial (Carolina Soil®, Vera Cruz, RS, Brasil).

2.2 Desenho Experimental

O experimento foi conduzido em casa de vegetação, sendo os tratamentos aplicados no

mês de abril para minimizar o efeito da baixa temperatura do ar como indutor de maturação nas

plantas. A altura da casa-de-vegetação varia de 2,5 a 4 m e as laterais são abertas de tal forma

que há renovação contínua do ar em seu interior. As mudas foram plantadas em 16 tanques de

alvenaria (oito para cada variedade) de 2 m2 de área (4,0 x 0,5 m) e capacidade de 1,54 m3. As

plantas foram conduzidas apenas com o colmo primário, sendo retirados todos os perfilhos

desde o plantio até o fim do experimento. Os tanques continham como substrato terra, analisada

quanto à composição nutricional e adubada seguindo as recomendações de Van Raij et. al.

(1996). Cada tanque continha 15 plantas da mesma variedade, as quais foram submetidas a um

dos tratamentos descritos a seguir: controle (C); déficit hídrico (DH); aplicação de etefom (EN);

e déficit hídrico + aplicação de etefom (DH+EN). Cada tratamento foi induzido em quatro

tanques, dois para cada variedade.

O etefom (Ethrel®, Bayer Crop Science, Leverkusen, Alemanha) foi aplicado no mesmo

dia do início da restrição hídrica, no final da tarde. Utilizou-se um pulverizador costal

automático pressurizado modelo 16L Jett (Sanmaq, São Leopoldo, RS, Brasil) com barra de

três bicos TP8002VK, sendo a pulverização realizada durante 80 s com pressão nominal

máxima de 20 bar e vazão total de 420 mL min-1. A dose aplicada foi equivalente a 480 g ha-1,

concentração recomendada pelo fabricante e aplicada em cultivos comerciais. Para evitar

contaminação entre os tratamentos com e sem o regulador, as plantas foram separadas por lonas

plásticas durante a aplicação e nos dias subsequentes. Os tratamentos que não receberam etefom

foram pulverizados com água e surfactante na concentração 1 mL L-1 (Haiten®, Arysta

Lifescience, Salto de Pirapora, SP, Brasil), utilizados para a preparação da solução de etefom.

O déficit hídrico foi promovido pela diminuição progressiva da rega, sendo a umidade

do substrato monitorada até chegar a 50% da capacidade máxima de armazenamento de água,

o que ocorreu após 23 dias (Figura 1). Nesse momento, a rega foi retomada para a recuperação

das plantas. A umidade do substrato foi monitorada pelo método gravimétrico e o potencial

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total da água no substrato (Ψ) determinado com um medidor de umidade do solo (WaterMark®

200SS, Irrometer, Riverside, CA, EUA).

Figura 1. Potencial total da água no substrato (Ψ) durante o período experimental. A redução da rega foi iniciada no dia 0. Setas no eixo x indicam os dias em que foram feitas medidas de trocas gasosas. Cada ponto representa a média de 8 repetições ± desvio-padrão.

2.3 Avaliações Biométricas

Após 30 dias de tratamento, a área foliar foi avaliada com um planímetro (LI-3100C,

Li-Cor, Lincoln, NE, EUA), sendo as folhas contadas e pesadas para a determinação da massa

fresca. Nessa mesma ocasião, os colmos foram colhidos e pesados. Sub-amostras de folhas e

colmos foram secas em estufa (60 ºC) até atingirem massa constante e assim foi determinada a

massa seca. Essas sub-amostras foram utilizadas para calcular o índice de umidade dos tecidos

[(MF - MS) x MF-1], usado para estimar a massa seca total das plantas a partir da massa fresca

avaliada.

O acúmulo de massa seca no colmo e nas folhas foi avaliado com medidas realizadas

no início e no fim do período experimental. Essa diferença foi dividida pelo período (30 dias),

obtendo-se a variação diária de massa seca de folhas, colmo e total (folhas+colmo).

2.4 Trocas Gasosas

As trocas gasosas foram avaliadas na folha +3 (terceira folha com a lígula aparente) aos

1, 2, 5, 15, 23 e 30 dias de tratamento. A assimilação de CO2 (Pn) foi avaliada com um

Tempo (dias)

0 5 10 15 20 25 30

m (

kP

a)

-180

-150

-120

-90

-60

-30

0

ControleDéficit hídrico

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analisador de gases por infravermelho (LI-6400, Li-Cor, Lincoln, NE, EUA). As medidas foram

realizadas sob concentração constante de CO2 no ar (400 µmol mol-1), radiação

fotossinteticamente ativa (RFA) de 2000 µmol m-2 s-1 e variação natural da temperatura e

umidade relativa do ar (Figura 2), entre 13h00 e 15h00. A RFA foi medida com um quantômetro

modelo LI-190 (Li-Cor, Lincoln, NE, EUA) e a temperatura e umidade do ar foram registradas

continuamente durante todo o período experimental com um sistema de aquisição de dados

modelo LI-1400 (Li-Cor, Lincoln, NE, EUA). Posteriormente, os dados de Pn foram integrados

ao longo do período experimental considerando-se a média de 12 h de fotoperíodo para estimar

o total de CO2 assimilado pelas plantas durante os 30 dias (Pni), conforme descrito por Ribeiro

et al. (2013).

Figura 2. Temperatura do ar (Tar) mínima, média e máxima, umidade relativa do ar mínima (URmin) e radiação fotossinteticamente ativa total (RFAt) na casa de vegetação durante o período experimental. Os tratamentos foram iniciados no dia 0. Setas no eixo x indicam os dias em que foram feitas medidas de fotossíntese.

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2.5 Concentração de Carboidratos

A concentração de carboidratos foi determinada em amostras secas de folhas +2 e de

colmo (entrenós 2, 6 e 10) coletadas após 30 dias de tratamento. Para a determinação dos

açúcares solúveis totais (AST), as amostras foram extraídas em solução

metanol:clorofórmio:água (Bieleski & Turner, 1966) e quantificadas pelo método fenol-

sulfúrico (Dubois et al., 1956), utilizando-se glicose como padrão. A concentração de sacarose

(SAC) foi determinada pelo método descrito por Van Handel (1968) e a dosagem feita pelo

método fenol-sulfúrico, utilizando sacarose como padrão. A concentração de açúcares redutores

(AR) foi estimada como AR=AST–SAC. A quantificação de amido nas folhas foi feita

utilizando-se o método enzimático descrito por Amaral et al. (2007).

2.6 Análise Estatística

O delineamento experimental foi em blocos casualizados, em parcelas subdivididas,

com quatro repetições (plantas) por tratamento para cada variedade. Os fatores de variação

foram as variedades, as condições hídricas e a aplicação de maturador. Os resultados foram

analisados estatisticamente através de análise de variância e quando houve diferença

significativa, as médias foram comparadas pelo teste de Tukey (p≤0,05).

3. RESULTADOS

Durante o período experimental a restrição hídrica causou progressiva diminuição no

potencial matricial da terra, chegando ao mínimo observado de -159,3 kPa no 23º dia (Figura

1). A temperatura média diária variou entre 18,3 e 24,7 ºC, com mínima de 12,5 ºC no 12o dia

de experimento e máxima de 32,7 ºC no 30º dia (Figura 2a). A umidade relativa mínima

observada no período variou de 34% a 87%, com tendência de queda a partir do 11º dia após o

início do experimento (Figura 2b). Neste mesmo dia a RFA total apresentou tendência de

aumento, chegando a 20,4 mol m-2 d-1 no 25º dia (Figura 2c).

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Em relação ao controle, o tratamento EN aumentou o crescimento de IACSP95-5000,

sendo determinado pelo aumento da massa seca na parte aérea (Figura 3a). Já o tratamento

DH+EN causou diminuição do acúmulo de massa, principalmente em função de uma

significativa diminuição da massa seca foliar total (Figura 3a,b). Em IACSP94-2094, o

tratamento DH causou diminuição do acúmulo de massa seca devido ao menor acúmulo de

massa seca nas folhas (Figura 3a,c) e o tratamento DH+EN causou diminuição do crescimento

em relação ao controle (Figura 3a) motivado pelo menor acúmulo de massa nos colmos e

diminuição significativa da massa seca foliar (Figura 3a,c).

Figura 3. Variação da massa seca da parte aérea (ΔMSPA, em a) e do colmo (ΔMSC, em b,c) e folha (ΔMSF, em b,c) de IACSP95-5000 (b) e IACSP94-2094 (c) submetidas aos seguintes tratamentos: controle; déficit hídrico (DH); etileno (EN, aplicação de etefom 480 g ha -1); DH+EN = combinação dos tratamentos DH e EN. Valores médios de três repetições. Em a, as letras diferentes indicam efeito significativo dos tratamentos dentro de cada variedade. Em b e c, letras maiúsculas diferentes indicam efeito significativo dos tratamentos nos colmos e letras minúsculas nas folhas, pelo teste de Tukey (p<0,05).

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Houve aumento na assimilação total de CO2 de IACSP95-5000 no tratamento EN, sendo

reduzida no tratamento DH (Figura 4a). Quando as plantas foram submetidas ao tratamento

DH+EN, não houve diminuição de Pni em relação ao controle (Figura 4a). Em IACSP94-2094,

Pni foi reduzida nos tratamentos DH e DH+EN quando comparados ao controle e o tratamento

EN não afetou Pni i (Figura 4b). Os tratamentos DH e DH+EN causaram redução da área foliar

total ao final do experimento nas duas variedades (Figura 4c,d).

Figura 4. Assimilação total de CO2 (Pni) durante o período experimental (a,b) e área foliar total média (AF) de cada planta (c,d) em IACSP95-5000 e IACSP94-2094 submetidas aos seguintes tratamentos: Controle; DH = déficit hídrico; EN = etileno, com aplicação de etefom (480 g ha-

1); DH+EN= combinação dos tratamentos DH e EN. Cada coluna representa a média de quatro repetições ± desvio-padrão. Letras diferentes representam diferenças estatísticas entre os tratamentos pelo teste de Tukey (p<0,05).

A concentração de carboidratos nos colmos e folhas também foi afetado pelos

tratamentos (Figura 5). No colmo de IACSP95-5000, os tratamentos EN e DH+EN causaram

maior teor de sacarose, sem alterar a concentração de açúcares redutores nas plantas. Quando

comparado ao controle, o tratamento DH causou redução tanto do teor de sacarose como de

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açúcares redutores nos colmos (Figura 5a). Os tratamentos DH e DH+EN causaram diminuição

nas concentrações foliares de amido em IACSP95-5000, sem afetar os teores de sacarose e

açúcares redutores (Figura 5b). Nos colmos da IACSP94-2094, os tratamentos DH e DH+EN

reduziram a concentração de sacarose se comparados ao controle, com os teores de açúcares

redutores permanecendo estáveis (Figura 5c). Nas folhas da IACSP94-2094, o teor de sacarose

foi reduzido no tratamento EN, sendo ainda mais afetado nos tratamentos DH e DH+EN (Figura

5d). O teor de amido na folha em IACSP94-2094 foi reduzido pelos tratamentos DH e DH+EN,

com o teor de açúcares redutores diminuindo apenas nas plantas do tratamento DH (Figura 5d).

Antes da aplicação dos tratamentos, a concentração de sacarose nos colmos das variedades

IACSP95-5000 e IACSP94-2094 era de 216,7±4,8 e 228,0±9,3 mg (g MF)-1, respectivamente.

Como esses valores eram similares, as diferenças nas concentrações de sacarose observadas

após 30 dias de tratamento refletem o acúmulo de sacarose durante o período estudado.

Figura 5. Concentração de sacarose, açúcares redutores e amido em colmos (a,c) e folhas (b,d) de IACSP95-5000 (a,b) e IACSP94-2094 (c,d) submetidas a diferentes tratamentos indutores de maturação: controle; déficit hídrico (DH); etileno (EN, com aplicação de etefom 480 g ha -

1); DH+EN = combinação dos tratamentos DH e EN. Cada coluna representa a média de quatro repetições ± desvio-padrão. Letras diferentes representam diferenças estatísticas entre os tratamentos pelo teste de Tukey (p<0,05).

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4. DISCUSSÃO

Sob o efeito do etefom, houve acúmulo de massa seca nos colmos de IACSP95-5000

(Figura 3b) e aumento da assimilação total de carbono (Figura 4a). A maior fotossíntese pode

estar associada à maior demanda por carbono pelos colmos. De fato, o colmo é um dreno de

alta prioridade na alocação de fotoassimilados (Pammenter & Allison, 2002) e a atividade dos

drenos na cana-de-açúcar regula a atividade da fonte (Inman-Bamber et al., 2011). Deste modo,

o etefom parece ter estimulado o crescimento do colmo (Figura 3b), que passou a acumular

mais sacarose (Figura 5a). Esse aumento da demanda por fotoassimilados teria induzido o

aumento da fotossíntese em IACSP95-5000 (Figura 4a). O efeito do etefom na força do dreno

foi marcante ao se considerar que mesmo com maior acúmulo de sacarose no colmo da

IACSP95-5000, o teor de sacarose nas folhas permaneceu inalterado (Figura 5b).

A resposta à aplicação de etefom foi dependente da variedade estudada, sendo

IACSP95-5000 mais responsiva. Na IACSP94-2094 o crescimento e o acúmulo de sacarose nos

colmos não foram alterados pelo tratamento EN (Figuras 3b e 5c). De fato, a resposta diferencial

das variedades de cana-de-açúcar aos indutores de maturação é conhecida (Caputo et al., 2008;

Li & Solomon, 2002; Donaldson & Van Staden, 1995), assim como a suscetibilidade diferencial

a estresses ambientais (Ribeiro et al., 2013; Sales et al., 2013).

Em cana-de-açúcar, a supressão de crescimento favorece a partição de fotoassimilados

para o armazenamento (Chong et al., 2010), aumentando a concentração de sacarose nos colmos

devido ao sombreamento, desfolha parcial, déficit hídrico ou frio (Robertson & Donaldson,

1998; Pammenter & Allison, 2002; Li & Solomon, 2003; Huang et al., 2015). No presente

trabalho, a imposição do déficit hídrico não alterou o acúmulo de massa seca nos colmos (Figura

3b,c) e diminuiu a concentração de sacarose nos colmos das duas variedades (Figura 5a,c).

Como houve diminuição significativa na área foliar das plantas submetidas ao déficit hídrico

(Figura 4c,d), o acúmulo de sacarose poderia aumentar nesta condição se as plantas

apresentassem aumento de Pni. Tal condição não foi atendida neste estudo (Figura 4a,b) e assim

houve redução do teor de sacarose no colmo das plantas sob déficit hídrico (Figura 4c,d).

Levando-se em consideração que o CO2 assimilado pelo dossel das plantas diminuiu

sensivelmente devido à redução da área foliar, poder-se-ia sugerir que o suprimento de

fotoassimilados foi reduzido pelo déficit hídrico em IACSP95-5000.

A baixa disponibilidade hídrica observada entre 15 e 23 dias após a indução dos

tratamentos (Figura 2) foi suficiente para reduzir Pni (Figura 4a) e se sabe que mesmo períodos

curtos de restrição hídrica podem comprometer o acúmulo de sacarose no colmo (Inman-

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Bamber, 2004). O déficit hídrico causou redução da fotossíntese nas duas variedades (Figura

4a,b) e esta resposta foi associada ao fechamento estomático (resultado não apresentado).

Assim, a redução no teor foliar de amido nas duas variedades sob déficit hídrico (Figura 5b,d)

indica que as plantas utilizaram os reservas foliares disponíveis para suprir a demanda do dreno

e/ou arcar com os custos metabólicos da manutenção da homeostase sob condição estressante.

Concentrações similares de sacarose foram observadas nos colmos de IACSP95-5000

submetida aos tratamentos DH+EN e EN, a despeito do primeiro reduzir a assimilação de CO2

(Figuras 4a e 5a). Este fato sugere que o etileno também atuou na maturação, estimulando a

atividade do dreno e possibilitando que o colmo continuasse a armazenar sacarose, mesmo sem

aumento na assimilação de CO2. Assim, os nossos resultados indicam que o estresse hídrico foi

menos restritivo para a produtividade da cana-de-açúcar quando ocorreu a aplicação de etefom.

Poderia o acúmulo de sacarose nos colmos ser aumentado pela aplicação de etefom antes da

ocorrência do déficit hídrico? Wu et al. (2004) reportaram que o etefom aplicado na fase inicial

do desenvolvimento das plantas aumenta a resistência à seca durante o desenvolvimento da

cana-de-açúcar. Todavia, o seu efeito no acúmulo de sacarose no colmo em condições

ambientais não limitantes deve ser avaliado em pesquisas futuras.

5. CONCLUSÕES

O efeito do etefom em cana-de-açúcar é genótipo-dependente, estimulando o acúmulo

de sacarose no colmo e o suprimento de fotoassimilados pela fonte na variedade responsiva

(IACSP95-5000). Tais efeitos não são associados à restrição do crescimento. Em relação à

aplicação de etefom em conjunto com a ocorrência de déficit hídrico, o hipotético efeito aditivo

no acúmulo de sacarose no colmo não foi verificado na maturação da cana-de-açúcar.

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CAPÍTULO III

O ETILENO INDUZ A SÍNTESE DE SACAROSE NO COLMO DURANTE A

MATURAÇÃO NA CANA-DE-AÇÚCAR

RESUMO

O etefom é um regulador vegetal utilizado no cultivo da cana-de-açúcar que estimula produção

do hormônio etileno na planta, alterando as relações fonte/dreno. Essas respostas fisiológicas

dependem de uma complexa rede de interações metabólicas, ainda não bem estabelecidas. Desta

rede podem constar: i) o metabolismo de sacarose, representado pela atividade de enzimas que

catalisam sua síntese (SPS e SuSy) ou sua quebra (SuSy, IVA e IVN); ii) a assimilação de

carbono na fotossíntese; e iii) a sinalização hormonal do processo. O objetivo deste trabalho

foi determinar quais as alterações no metabolismo, nas relações fonte/dreno e na sinalização

que são alteradas pelo etileno durante a maturação da cana-de-açúcar. As hipóteses testadas

foram: i) para aumentar o acúmulo de sacarose no colmo o etileno induz a maior atividade

enzimática de SPS e SuSy e/ou menor atividade das invertases; ii) A maior demanda por

carboidratos decorrente da atividade do colmo estimula o aumento da fotossíntese,

independentemente do efeito inibidor do etileno na abertura estomática; iii) o metabolismo de

açúcares e as relações fonte/dreno alteradas durante a maturação são respostas sinalizadas por

diferenças no balanço hormonal, em que o aumento da concentração de etileno causada pela

sua aplicação exógena leva à mudança na concentração de outros hormônios, induzindo à

maturação. Para testar as hipóteses, plantas da variedade IACSP95-5000 foram tratadas com o

etefom e com AVG, um composto que inibe a síntese de etileno na planta, além do controle.

Foram medidas concentração de sacarose nos tecidos, fotossíntese, atividade das enzimas do

metabolismo de sacarose e concentração hormonal. Conclui-se que o efeito indutor do etileno

na maturação é determinado pelo seu estímulo ao aumento da atividade da SuSy e diminuição

de IVA nos colmos em maturação. Inicialmente o etileno diminui a assimilação de CO2

fechando os estômatos, mas ao estimular a síntese de sacarose no colmo ele aumenta a força do

dreno, gerando demanda fotossintética que garante o fornecimento de fotoassimilados para a

síntese de sacarose. Não foi possível correlacionar as alterações no balanço hormonal às

respostas observadas na fisiologia da maturação.

Palavras-chave: sacarose sintase; invertases ácidas; fotossíntese; sacarose; fitormônio.

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1. INTRODUÇÃO

Nas plantas, o aumento na demanda de carbono nos drenos resulta no aumento das taxas

de fotossíntese e exportação de sacarose nos tecidos fonte (McCormick et al., 2006). Na cana-

de-açúcar, as folhas são fontes de novos fotoassimilados, produzindo trioses e hexoses e os

colmos funcionam como poderosos drenos de sacarose, concorrendo com outros processos,

como crescimento vegetativo, perfilhamento, respiração e florescimento (Verma et al., 2011).

Durante a fase de maturação, a cana-de-açúcar diminui seu crescimento vegetativo e

aumenta a concentração de sacarose nos tecidos dos colmos, que passam a ser o principal dreno

de fotoassimilados na planta. O aumento da produção de sacarose pelas células parenquimáticas

do colmo faz com que o açúcar seja armazenado em seus vacúolos e mesmo nos espaços

intercelulares do tecido (Glasziou & Gayler, 1972; Rae et al., 2005).

O maior acúmulo de sacarose nas células dos colmos durante a maturação pode estar

ligado à atividade de algumas enzimas relacionadas à produção e/ou à quebra de sacarose (Zhu

et al., 1997). Nessas enzimas inclui-se a Sacarose Fosfato Sintase (SPS, EC 2.4.1.14),

responsável pela síntese de sacarose a partir de hexoses, a Sacarose Sintase (SuSy, EC 2.4.1.13),

que atua tanto na síntese quanto na quebra de sacarose e as Invertases Neutras (IVN, EC

3.2.1.26) e Ácidas (IVA, EC 3.2.1.25), que atuam na quebra de sacarose. Tem sido observado

que a SPS e SuSy aumentam sua atividade durante a maturação, ao passo que as atividades das

invertases, principalmente as ácidas, diminuem (Grof &Campbell, 2001).

A sinalização hormonal é essencial para que ocorra a transdução dos sinais ambientais

que levam uma planta a mudar seu estágio fenológico (Ghanem et al., 2011; Sachs, 2005), como

é o caso da transição da fase de crescimento vegetativo para a maturação na cana-de-açúcar em

resposta a déficit hídrico e frio (Moore & Maretzki, 1996). Durante a fase de maturação natural

da cana-de-açúcar aumentam as concentrações de etileno, ABA e de auxinas (Yao et al., 2002).

Em outras espécies, as invertases têm sido caracterizadas por serem reguladas por estes

hormônios vegetais (Roitsch & Ehness, 2000). Outro grupo de hormônios, as giberelinas estão

positivamente relacionadas ao estímulo da atividade da SPS em espinafre e soja (Cheikh et al.,

1992).

Já foi observado que a aplicação de reguladores vegetais que induzem a produção de

etileno na cana-de-açúcar faz com que algumas variedades entrem em maturação

independentemente das condições naturais (Solomon & Li, 2002; Chong et al., 2010; Wang et

al., 2013a). O principal desses reguladores é o etefom (ácido 2-cloroetilfosfônico). Como

consequência da maior concentração de etileno na planta decorrente da aplicação de etefom, os

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colmos apresentam maior concentração de sacarose (Chong et al., 2010; Wang et al., 2013a) e

ocorre diminuição do alongamento dos entrenós imaturos em cana-de-açúcar (Li & Solomon,

2003).

Como o etefom consegue induzir a um maior acúmulo de sacarose nas células do colmo,

há aumento da demanda por fotoassimilados, o que exige que a atividade fotossintética também

aumente (Inman-Bamber, 2011). No entanto, o etileno compromete a fotossíntese, ao induzir o

fechamento estomático (Vysotskaya, 2001). No processo de maturação da cana-de-açúcar,

ainda não é compreendido completamente quais os mecanismos de sinalização, nem como as

folhas, fontes de carbono, respondem à sinalização para continuar assimilando açúcar, mesmo

com a sacarose estando em grande concentração nos tecidos da planta (Watt et al., 2014).

Neste sentido, o objetivo deste trabalho foi avançar na compreensão de mecanismos

metabólicos relacionados à produção e armazenamento de carboidratos durante a maturação,

através do estudo de como esses mecanismos respondem à aplicação de etefom. As hipóteses

testadas foram: i) para aumentar o acúmulo de sacarose no colmo o etileno induz a maior

atividade enzimática de SPS e SuSy e/ou menor atividade das invertases; ii) A maior demanda

por carboidratos decorrente da atividade do colmo estimula o aumento da fotossíntese,

independentemente do efeito inibidor do etileno na abertura estomática; iii) o metabolismo de

açúcares e as relações fonte / dreno alteradas durante a maturação são respostas sinalizadas por

diferenças no balanço hormonal, em que o aumento da concentração de etileno causado pela

sua aplicação exógena leva ao aumento de outros hormônios envolvidos positivamente na

maturação, como as giberelinas, ácido abscísico, auxinas e citocininas.

2. MATERIAL E MÉTODOS

Para avaliar o efeito do etileno na maturação da cana-de-açúcar foi realizado

experimento em casa de vegetação, com aplicação de tratamento com etefom, para proporcionar

maior concentração endógena do hormônio, e aminoetóxi-vinilglicina (AVG), composto que

inibe a atividade das enzimas responsáveis pela síntese de etileno nos tecidos vegetais, além do

controle sem aplicação de tratamentos. Para avaliar o efeito dos tratamentos no acúmulo de

sacarose nas plantas, foram realizadas medidas de trocas gasosas, quantificação de carboidratos,

análise da atividade de enzimas relacionadas ao metabolismo de sacarose e a quantificação dos

hormônios em colmos e folhas das plantas tratadas.

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2.1 Material Vegetal

Foram utilizadas plantas de cana-de-açúcar com 10 meses de idade da variedade

comercial IACSP95-5000, que apresenta alta produtividade agrícola e é indicada para

ambientes com disponibilidade hídrica e nutricional favoráveis (Landell et al., 2007). As

plantas foram obtidas a partir de mini toletes das variedades que foram germinados em bandejas

contendo substrato comercial (Carolina Soil®, Vera Cruz, RS, Brasil).

2.2 Desenho Experimental

O experimento foi conduzido em casa de vegetação e as mudas foram plantadas em 6

tanques de alvenaria de 2 m2 de área (4 m comprimento x 0,5 m de largura) e capacidade de

1,54 m3. Cada tanque continha 15 plantas. Foi conduzido apenas o colmo primário de cada

planta, sendo excisados todos os perfilhos desde o plantio até o fim do experimento. O substrato

nos tanques era terra, analisada para composição nutricional e adubada seguindo as

recomendações de Van Raij et al. (1996).

Os reguladores foram aplicados com um pulverizador costal pressurizado automático

modelo 16L Jett (Sanmaq, São Leopoldo, RS, Brasil) com barra de 3 bicos TP8002VK, durante

80s com pressão nominal máxima de 20 bar e vazão total de 420 mL min-1. Para evitar

contaminação entre os tratamentos, as plantas nos tanques foram separadas por lonas plásticas

durante a aplicação e nos dias subsequentes. As doses utilizadas foram testadas previamente

em plantas da mesma variedade no campo. A dose de etefom foi testada para conformação do

efeito maturador e a de AVG foi testada de modo a se utilizar a maior dose possível que não

apresentasse fitotoxicidade severa aparente. Cada tratamento foi aplicado em dois tanques,

perfazendo um total de 30 plantas por tratamento. Os tratamentos foram:

- Controle: aspersão de água e tensor utilizado para as caldas dos reguladores (Haiten®

1 mL L-1, Arysta Lifescience, Salto de Pirapora, SP, Brasil);

- AVG: aplicação de aminoetóxi-vinilglicina 155 g ha-1 (Retain®, Valent Bioscience

Corporation, Libertyville, IL, EUA).

- Etileno: aplicação de etefom 480 g ha-1 (Ethrel®, Bayer Crop Science, Leverkusen,

Alemanha).

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2.3 Trocas Gasosas

As determinações de trocas gasosas foram realizadas na folha+3 (terceira folha com a

lígula aparente) aos 1, 2, 5, 15, 23 e 30 dias de tratamento. Foram avaliadas a assimilação de

CO2 (Pn), a condutância estomática (gs) e a transpiração (E) utilizando-se um analisador de

gases por infravermelho (LI-6400, Li-Cor, Lincoln, NE, EUA). As medidas foram realizadas

sob concentração constante de CO2 no ar (400 µmol mol-1), radiação fotossinteticamente ativa

(RFA) de 2000 µmol m-2 s-1 e variação natural de temperatura e umidade relativa do ar (Figura

1. As avaliações foram realizadas entre 13:00 e 15:00h. A RFA foi medida com o quantômetro

modelo LI-190 (Li-Cor, Lincoln, NE, EUA) e a temperatura e umidade do ar foram registradas

continuamente durante todo período experimental com um sistema de aquisição de dados

modelo LI-1400 (Li-Cor, Lincoln, NE, EUA).

Tabela 1. Condições do ambiente na casa de vegetação durante o período experimental, medidas nos dias das medidas de trocas gasosas. Temperatura máxima (Tmax), mínima (Tmin) e média (Tar); Umidade relativa média diária (UR) e Radiação fotossinteticamente ativa total (RFAtot).

2.4 Concentração de Carboidratos

Amostras de folhas+2 e das diferentes porções do colmo (inferior, mediana e superior)

foram secas e a concentração de carboidratos foi determinada nas plantas aos 0, 5 e 30 dias de

tratamentos. Para a determinação dos açúcares solúveis totais (AST) as amostras foram

extraídas em solução metanol:clorofórmio:água (Bieleski & Turner, 1966) e quantificadas pelo

método fenol-sulfúrico (Dubois et al., 1956), utilizando-se glicose como padrão. A

DAA Tmax Tmin Tar UR RFAmax °C °C °C % mmol m-2 s-1

0 30,0 19,2 23,7 79,7 442,4 2 26,4 20,1 22,4 93,1 487,0 5 30,5 18,9 23,7 73,9 478,4

15 29,3 14,7 20,5 70,8 660,4 23 29,2 15,8 21,5 62,3 932,0 30 32,7 16,2 23,5 68,0 846,0

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concentração de sacarose (SAC) foi determinada pelo método descrito por Van Handel (1968)

e a dosagem feita pelo método fenol-sulfúrico, utilizando sacarose como padrão. A

concentração de açúcares redutores foi estimada pela subtração de AST–SAC. A determinação

da concentração de carboidratos total nos colmos foi obtida pela média das medidas nas

diferentes porções da mesma planta.

Como os entrenós do terço mediano foram os que apresentaram maior relação entre o

efeito do etileno e a concentração de sacarose, a atividade de enzimas do metabolismo de

açúcares e a quantificação hormonal foram realizadas nesta porção do colmo, além das folhas.

2.5 Extração para Análise Enzimática

Após 5 dias do início dos tratamentos, período o qual foi testado como o mais indicado

para a observação de alterações induzidas pelos tratamentos nas atividades enzimáticas, tecidos

(folhas+1 e entrenós) foram coletados e congelados em nitrogênio líquido e posteriormente

processados. Os procedimentos realizados para as extrações das enzimas nos colmos e nas

folhas foram iguais, seguindo como base o método de Grof et al. (2007). Foi utilizado cerca de

500 mg de massa do tecido, que foram maceradas com 5% de polivinilpolipirrolidona (PVPP)

e 3,0 mL de tampão Hepes-NaOH 50mM (pH 7,5), contendo MgCl2 10 mM e EDTA 1mM.

Em seguida o extrato foi centrifugado a 14000 g, 4 °C por 30 minutos. Após a centrifugação

2,5 mL do sobrenadante foram dessalinizados em coluna Sephadex G25 modelo Disposable

PD-10 Desalting (GE Healthcare Bio-Sciences Corp, Piscataway, NJ, EUA), previamente

saturada com o tampão de extração. O extrato coletado da coluna após eluição com 3,5 mL do

tampão da extração foi utilizado para análise enzimática.

2.6 Análises enzimáticas

Após a dessalinização e purificação, foram determinadas as atividades da sacarose

fosfato sintase (SPS, EC 2.4.1.14) e da sacarose sintase (SuSy, EC 2.4.1.13) no sentido da

síntese de sacarose. Foram adicionados na proporção 1:1 (v/v) o extrato dessalinizado e o

tampão de reação contendo tampão Tris-HCl 200 mM (pH 7,5) com MgCl2 10 mM, EDTA 2

mM, frutose 25 mM e de uridina difosfato glicose (UDPG) 50 mM para o ensaio da SPS e

tampão Tris-HCl 200mM (pH 7,5) com MgCl2 10 mM, EDTA 2 mM, frutose-6-fosfato 8 mM,

glicose 6-fosfato 40 mM e UDPG 50 mM (Zhu et al., 1997, modificado). As misturas foram

incubadas a 37ºC (SPS) e 30ºC (SuSy) por 30 minutos e a reação parada adicionando-se 100µL

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de KOH 30% e fervura por 3 min. A sacarose produzida por essas reações foi quantificada

utilizando-se o método da antrona (Van Handell, 1968) adaptado por Zhu et al., 1997.

A atividade da invertase ácida solúvel (IVA, EC 2.4.1.25) foi determinada pela adição

do extrato dessalinizado em 250µL de tampão citrato 1M (pH 4,5) e 250µL de solução de

sacarose 0,24 M, na proporção 1:1:2 (v/v/v) e posteriormente incubadas a 37ºC por 30min. A

reação foi paralisada pela adição de 0,2µL de tris-base 3M e fervura da mistura por 3min. Os

açúcares redutores foram determinados pelo método de Somogy-Nelson (Nelson, 1944;

Somogy, 1945; 1952). A determinação da atividade das invertases neutras (IVN, EC 2.4.1.26)

foi similar, exceto pelo pH do tampão citrato, que foi de 7,5 (Zhu et al., 1997).

As atividades das enzimas foram calculadas e expressas como micromoles de produto

formado por grama de massa fresca por minuto.

2.7 Quantificação Hormonal

Aos 1 e 5 DAA, amostras de folhas e das porções intermediárias e superiores do colmo

foram coletadas e imediatamente congeladas em nitrogênio líquido. No laboratório elas foram

liofilizadas, pesadas e enviadas para quantificação do perfil hormonal no Laboratório

Proteomics and Mass Spectrometry Facility do Donald Danforth Plant Science Center, St

Louis, MO, EUA. Os hormônios foram quantificados pela metodologia descrita em Pan et al.

(2010). O sistema LC–MS/MS utilizado foi composto por um LC (Shimadzu, Kyoto, KYT,

Japão) acoplado a um espectrômetro de massas modelo 4000 QTRAP (AB Sciex, Framingham,

MA, EUA) equipado com fonte de íons eletrospray TurboIonSpray (TIS). Foram quantificados

os teores de ácido abscísico livre (ABA), ácido indolacético (AIA), giberelinas (GA1, GA3 e

GA4) e trans-zeatina ribose (trans-ZR), trans-zeatina, ácido salicílico e jasmonatos.

2.8 Análise Estatística

O delineamento experimental foi em blocos casualizados, com delineamento

experimental inteiramente casualizado, com quatro repetições (plantas) por tratamento para

cada variedade. Os fatores de variação foram as aplicações dos reguladores etefom e AVG. Os

resultados foram analisados estatisticamente através de análise de variância (P≤0,01 e P≤0,05)

e quando houve diferença significativa, as médias foram comparadas pelo teste Tukey (P≤0,05).

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3. RESULTADOS

O etileno causou aumento na concentração de sacarose nos colmos tratados (Figura 1).

Inicialmente, aos 5 DAA diminuiu a concentração de açúcares redutores (Figura 1a) e de

sacarose (Figura 1c) nas folhas das plantas tratadas com AVG e etileno em relação ao controle.

Nos colmos a concentração de sacarose (Figura 1b) e açúcares redutores (Figura 1d) foi maior

nos tratamentos em relação ao controle. Aos 30 DAA as concentrações de sacarose e açúcares

redutores foram respectivamente 46% e 20% maiores nos colmos de plantas tratadas com

etefom em relação ao controle (Figura 1b,d), enquanto a concentração de sacarose no

tratamento com AVG foi 20% menor. A concentração de carboidratos nas folhas dos

tratamentos não diferiu do controle ao final do experimento (Figura 1a,c).

Figura 1. Concentrações de sacarose (a,b) e açúcares redutores (c,d) iniciais, aos 5 e aos 30 dias após a aplicação de diferentes reguladores vegetais na folha+2 (a.c) e no colmo (b,d) de cana-de-açúcar da variedade IACSP95-5000. Controle = sem aplicação; AVG = aplicação de aminoetóxi-vinilglicina (195 g ha-1); Etileno = aplicação de etefom (480 g ha-1). Cada ponto representa a média de 4 repetições. Asteriscos representam diferenças estatísticas em relação ao controle, determinadas pelo teste Tukey (p<0,05).

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A concentração de sacarose (Figura 2a) e açúcares redutores (Figura 2b) foram

respectivamente 35% e 23% maiores nas plantas tratadas com etileno em relação ao controle

nos entrenós da porção mediana do colmo e o tratamento com AVG diminuiu em 21% a

concentração de sacarose. Na porção superior do colmo a concentração de sacarose foi 17%

maior no tratamento com etileno (Figura 2a), porém não houve diferença no teor de açúcares

redutores em relação ao controle (Figura 2b). Na porção inferior, o acréscimo do teor de

sacarose no tratamento EN foi de 14%. O tratamento com AVG não induziu diminuição na

sacarose nas porções inferior e superior (Figura 2a). O tratamento com AVG também não

causou alterações nos teores de açúcares redutores em relação ao controle em nenhuma das

partes do colmo (Figura 2b).

Figura 2. Concentração de sacarose (a) e açúcares redutores (b) nos entrenós de diferentes porções do colmo (inferior, mediana e superior) de cana-de-açúcar da variedade IACSP95-5000 submetidas a diferentes tratamentos com reguladores. Controle = sem aplicação; AVG = aplicação de aminoetóxi-vinilglicina (195 g ha-1); Etileno = aplicação de etefom (480 g ha-1). Cada coluna representa a média de 4 repetições e cada barra o desvio-padrão. Letras diferentes representam diferenças estatísticas pelo teste Tukey (p<0,05).

A atividade da SuSy (Figura 3a) foi aumentada em relação ao controle no tratamento

com etileno, mas diminuiu com a aplicação de AVG. IVN também foi mais ativa nas plantas

tratadas com etileno em relação ao controle, que não diferiu do tratamento com AVG (Figura

3d). As atividades da SPS (Figura 3b) e da IVA (Figura 3c) diminuíram em relação ao controle

nos tratamentos com etileno, sem diferir nos tratamentos com AVG. Nas folhas, os tratamentos

foram menos efetivos na alteração das atividades das enzimas do metabolismo de açúcar

(Figura 4). Apenas o tratamento com etileno induziu menor atividade das IVA (Figura 4c), sem

diferenças nas outras enzimas e nos outros tratamentos em relação ao controle.

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Figura 3. Atividade das enzimas do metabolismo de carboidratos: sacarose sintase (SuSy, a), sacarose fosfato sintase (SPS, b), invertases ácidas solúveis (IVA, c) e invertases neutras (IVN, d) nos entrenós centrais do terço mediano do colmo de plantas de cana-de-açúcar da variedade IACSP95-5000, 5 dias após tratamento com reguladores vegetais. Controle = sem aplicação; AVG = aplicação de aminoetóxi-vinilglicina (195 g ha-1); Etileno = aplicação de etefom (480 g ha-1). Cada coluna representa a média de 4 repetições e cada barra o desvio-padrão. Letras diferentes representam diferenças estatísticas pelo teste Tukey (p<0,05).

Figura 4. Atividade das enzimas do metabolismo de carboidratos: sacarose sintase (SuSy, a), sacarose fosfato sintase (SPS, b), invertases ácidas solúveis (IVA, c) e invertases neutras (IVN, d) nos entrenós centrais do terço mediano da folha+1 de plantas de cana-de-açúcar da variedade IACSP95-5000, 5 dias após tratamento com reguladores vegetais. Controle = sem aplicação; AVG = aplicação de aminoetóxi-vinilglicina (195 g ha-1); Etileno = aplicação de etefom (480 g ha-1). Cada coluna representa a média de 4 repetições e cada barra o desvio-padrão. Letras diferentes representam diferenças estatísticas pelo teste Tukey (p<0,05).

Entrenós centrais do terço mediano

Folha

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Inicialmente (2 e 5 DAA) houve diminuição de Pn (Figura 5a), gs (Figura 5b) e E (Figura

5c) nas plantas tratadas com etileno. No entanto, a partir do 15º dia os valores de todos os

parâmetros superaram os observados no controle, igualando-se a ele na última medida, aos 30

DAA. Aos 15 DAA também o tratamento com AVG causou diminuição Pn em relação ao

controle (Figura 5a). Em 23 DAA o AVG causou maior Pn maior do que o controle, se igualando

ao tratamento com etileno. Ainda, as plantas tratadas com AVG apresentaram maior gs e E no

último dia de medidas em relação ao controle e ao etileno (Figuras 5b,c).

Figura 5. Acompanhamento da assimilação de CO2 (Pn, a), da abertura estomática (gs; b) e da transpiração (E; c) em folhas+3 de plantas de cana-de-açúcar da variedade IACSP95-5000 submetidas à aplicação de reguladores vegetais. Controle = sem aplicação; AVG = aplicação de aminoetóxi-vinilglicina (195 g ha-1); Etileno = aplicação de etefom (480 g ha-1). Cada ponto representa a média de 4 repetições; Asteriscos representam diferenças estatísticas em relação ao controle pelo teste Tukey (p<0,05). Setas representam o dia em que foram feitas as análises enzimáticas (Figuras 3 e 4).

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A análise do efeito dos tratamentos no balanço hormonal (Figura 6) mostra alterações

nas concentrações de giberelinas (folhas e colmos), ABA (folhas) e trans-ZR (colmos). Essas

respostas foram observadas com maior intensidade aos 5 DAA. O tratamento com etileno

induziu menor concentração de GA4 nas folhas (Figura 6a) e maior concentração nos colmos

(Figura 6b) em relação ao controle. O etileno também induziu menor concentração de ABA nas

folhas (Figura 6c) e aumento da concentração de trans-ZR no colmo (Figura 6h). O tratamento

com AVG causou aumento dos teores de ABA (Figura 6d) e trans-ZR (Figura 6h) na porção

intermediária dos colmos em relação ao controle. O AIA (Figura 6e,f) apresentou aumento no

tratamento com AVG no colmo, aos 5DAA. As concentrações de GA1, GA3, trans-zeatina,

ácido salicílico e jasmonatos não diferiram em nenhum tecido e em nenhum dos tratamentos

(dados não mostrados).

Figura 6. Hormônios ácido giberélico (GA4; a,b), ácido abscísico (ABA; c,d), ácido indolacético (AIA; e,f) e trans-zeatina ribose (trans-ZR; g,h) em folhas (a,c,e,g) e nos entrenós da porção mediana do colmo (b,d,f,h) de cana-de-açúcar da variedade IACSP95-5000, 1 e 5 dias após tratamento com reguladores vegetais Controle = sem aplicação; AVG = aplicação de aminoetóxi-vinilglicina (195 g ha-1); Etileno = aplicação de etefom (480 g ha-1). Cada coluna representa a média de 3 repetições e cada barra o desvio-padrão. Letras diferentes representam diferenças estatísticas pelo teste Tukey (p<0,05).

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4. DISCUSSÃO

O efeito indutor do etileno na maturação parece estar relacionado a seu estímulo à

atividade de produção e acúmulo de sacarose nos colmos. O etileno estimula a atividade da

SuSy principalmente nos entrenós intermediários das plantas, o que aumentaria a concentração

de sacarose nas células parenquimáticas dos entrenós. Além do metabolismo de acúmulo de

carboidratos, a aplicação de etefom parece interferir também no metabolismo de produção de

trioses. Inicialmente, o tratamento com etefom diminui a assimilação de CO2 fechando os

estômatos, mas ao estimular a síntese de sacarose no colmo ele aumenta a força do dreno, o que

estimula maior fotossíntese a médio prazo, garantindo o fornecimento de substrato para a

síntese de sacarose que culmina na maior concentração do açúcar observada nos colmos ao final

do experimento. Em relação a como se dá a sinalização desses processos, não foi possível

correlacionar conclusivamente as alterações no balanço hormonal às respostas observadas na

fisiologia da maturação, doravante tenha sido observado aos 5DAA aumento nos teores de

giberelinas e trans-ZR nos colmos e diminuição de ABA e giberelinas nas folhas das plantas

tratadas com etefom.

Em um primeiro momento, aos 2 e 5 DAA o etileno altera a partição de fotoassimilados

na planta ao diminuir a concentração de sacarose e açúcares redutores nas folhas, porém sem

alterar a concentração de carboidratos nos colmos (Figura 1). Como observado por Rajala &

Peltonen-Sainio (2001), Desikan et al. (2006), e Vysotskaya et al., (2001), o etileno estimula o

fechamento estomático. A diminuição de gs observada no tratamento com etileno acarreta em

menor Pn (Figura 5) e com menor fotossíntese diminui a concentração de açúcares redutores e

de sacarose nas folhas. No entanto, a concentração de sacarose nos colmos nesse período inicial

do tratamento com etileno não foi comprometida. O que é explicado por dois fatores: (i) o fato

de a cana-de-açúcar apresentar mecanismos fisiológicos que otimizam a assimilação de CO2,

como metabolismo C4 e anatomia krans; e (ii) o etileno ter alterado a atividade das enzimas do

metabolismo de carboidratos, especialmente a maior atividade da SuSy e menor atividade da

IVA que estão relacionadas a maior acúmulo de sacarose nas células do colmo (Wang et al.,

2013a).

Ao final do experimento, aos 30 DAA, o etileno apresentou efeito maturador ao

aumentar a concentração de sacarose nos colmos (Figuras 1b, 2a). Esse aumento foi

determinado principalmente pela porção intermediária do colmo, que apresentou maior

concentração de sacarose e também de açúcares redutores (Figura 2). Wang et al, 2013a

observaram que o etileno age com mais intensidade no que os autores chamaram de colmos

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“em maturação”, os entrenós da porção intermediária do colmo. O presente trabalho reforça o

papel do etileno nesta região do colmo, ao observar que o tratamento com AVG, que inibe a

produção do hormônio, diminuiu a concentração de sacarose nos colmos desta região em

relação ao controle (Figura 2a). Os resultados também indicam que o etileno, cuja produção é

estimulada pelo etefom nas folhas aonde é absorvido e metabolizado, é translocado para outros

tecidos, notadamente as diferentes regiões do colmo aonde ele estimula a produção de sacarose.

Na cana-de-açúcar, o etileno atua no processo de maturação de duas formas: ao diminuir

o crescimento vegetativo e ao aumentar a atividade de acúmulo de sacarose nos colmos (Chong

et al., 2010; Wang et al., 2013a). Com maior atividade de produção de sacarose no colmo,

ocorre aumento da demanda por fotoassimilados e a atividade da fonte também tende a

aumentar (Inman-Bamber, 2011). Por isso, o maior Pn durante a metade final do experimento

nas plantas tratadas com etefom (Figura 5a) pode ser resultado da maior atividade dos colmos,

importantes drenos de carbono na cana-de-açúcar. Vale lembrar que inicialmente (2 e 5 DAA)

o etefom comprometeu a atividade fotossintética ao promover o fechamento estomático (Figura

5a,b). Mas como ao final do experimento a concentração de açúcares redutores nos colmos é

maior nas plantas do tratamento com etileno em relação ao controle (Figuras 1d, 2b), podemos

concluir que a assimilação de CO2 e o transporte de carboidratos para o acúmulo no colmo não

foram comprometidos, uma vez que o tratamento com etefom propiciou maior concentração de

sacarose nos tecidos.

O carbono assimilado na fotossíntese foi rapidamente translocado, o que pode ser

concluído quando se observa que aos 30 DAA nos colmos a concentração de sacarose e

açúcares redutores foram maiores em relação ao controle (Figura 1b,d), mas nas folhas as

concentrações de carboidratos não diferiram (Figura 1a,c). A capacidade de translocar

rapidamente o açúcar produzido é essencial para que variedades mais produtivas possam manter

a atividade fotossintética (Grof & Campbell, 2001), uma vez que se a concentração de sacarose

na folha aumentar muito esta pode inibir enzimas responsáveis pela assimilação de CO2 (Stitt

et al., 1988). Como houve pouca diferença na fotossíntese entre o tratamento com AVG e o

controle (Figura 5) sugere-se que a maior taxa fotossintética nos tratamentos com etefom se dá

pelo estímulo causado pela maior atividade nos colmos, e não pela influência direta do etileno

no metabolismo fotossintético. A maturação é, portanto, controlada pelo aumento da atividade

do dreno, i.e., o acúmulo de sacarose no colmo, e devido a isto a planta aumenta a assimilação

de carbono para suprir a maior demanda.

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A maior atividade de acúmulo de sacarose no colmo está relacionada à alteração na

atividade de enzimas do metabolismo de açúcares (Figuras 3 e 4), em especial nos colmos. No

colmo, o etileno influenciou determinantemente a atividade da SuSy, pois foi observado que

ela foi quase 4 vezes maior no tratamento com etefom em relação ao controle. E além disso, o

tratamento com AVG também inibiu a atividade da enzima. Nas folhas, apenas a atividade de

IVA foi influenciada pelo tratamento com etileno diminuindo em relação ao controle. Isso

reforça o que já havia sido concluído: o etileno atua na maturação ao alterar principalmente a

atividade das células do colmo, e não das folhas.

O aumento na atividade da SuSy (Figura 3a) e a diminuição da atividade de IVA nos

colmos (Figura 3c) estão associados com o maior acúmulo de sacarose. Enquanto a SuSy no

sentido de síntese possibilita maior produção de sacarose (Jain et al., 2013), a menor atividade

de IVA diminui a remobilização de sacarose para outros drenos, como o crescimento e a

respiração (Verma et al., 2011). Tratamentos indutores de maturação na cana-de-açúcar alteram

geneticamente a atividade somente dessas enzimas, promovendo a da SuSy e reprimindo a das

IVA (Jain et al., 2013).

A SuSy tem a particularidade de atuar tanto na síntese quanto na quebra de sacarose,

sendo que normalmente ela atua mais no sentido de quebra do que de síntese em tecidos

maduros (Zhu et el., 1994) e no sentido de síntese em tecido em maturação (Schäfer et al.,

2005). No presente trabalho, a maior concentração de sacarose nos colmos em que também há

maior atividade da enzima sugere que a enzima está atuando no sentido da síntese de sacarose.

Como a SPS, que também atua no sentido da síntese de sacarose, apresentou menor atividade

nos colmos do tratamento com etileno em relação ao controle (Figura 3b), a SuSy é a principal

enzima que está produzindo sacarose a partir dos açúcares redutores presentes no colmo.

A SuSy está envolvida em outros processos além do acúmulo de sacarose, como o

fornecimento de carbono para a síntese de parede celular (Guerriero et al., 2010) e para a

respiração (Wang et al., 2013b). Durante o crescimento vegetativo, o engrossamento e

alongamento da parede celular dependem de um complexo sistema em que a SuSy fornece

UDPG para a síntese de celulose (Guerriero et al., 2010). Com o fim do ciclo vegetativo, durante

a maturação, sua atividade praticamente triplica (Batta et al., 2011) e ela passa a atuar mais no

sentido da síntese de sacarose devido à mudança na produção e ativação das diferentes

isoformas da enzima, que diferem entre si na afinidade pela sacarose, levando à maior atividade

de síntese de sacarose (Schäfer et al., 2005).

As invertases, especialmente as ácidas, têm sido relatadas como peças-chave na

atividade metabólica da cana-de-açúcar em maturação (Slack, 1965), sendo muitas vezes as

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enzimas que apresentam maior correlação com o aumento de sacarose no colmo (Batta et al.,

2011). A atividade das invertases ácidas é maior em tecidos em desenvolvimento, onde tem

papel no controle do turgor (Zhu et al., 2000) e na remobilização de açúcares armazenados para

o tecido em crescimento (Verma et al., 2011). A menor atividade de IVA induzida pelo etileno

é, então, fundamental para inibir o crescimento da planta e possibilitar o acúmulo de sacarose

no colmo durante a maturação. O processo que controla o efluxo de sacarose do colmo

permanece não muito claro, mas acredita-se que as invertases ácidas devem estar presentes para

hidrolisar a sacarose em hexoses que, posteriormente, serão carregadas via transportadores

simporta, sendo então a diminuição de IVA um fator chave limitante para o carregamento do

floema (Watt et al., 2014). Estresses bióticos ou abióticos e sinalização hormonal também

induzem menor atividade de IVA na folha, bem como a atividade de dreno dos colmos (Lara et

al., 2004; Roitch & Gonzales, 2004).

Também foi observado aumento na atividade de IVN nos colmos (Figuras 3d). A maior

atividade de IVN está relacionada à maior quantidade de sacarose presente no citoplasma, que

estimula a realização do chamado ciclo fútil da sacarose, onde esta é continuamente hidrolisada

e ressintetizada dentro do compartimento celular (Rossouw et al., 2007). As invertases neutras

têm sido sugeridas como chave no controle da concentração de hexoses no citosol das células

do colmo, afetando a expressão de genes responsivos a açúcares (Vorster & Botha, 1998).

Tanto a atividade das enzimas do metabolismo de sacarose como a fotossíntese, podem

ser influenciadas por alterações no balanço hormonal induzidas pela aplicação de etefom. Nas

folhas (Figura 6a), as plantas tratadas com etileno apresentaram menor concentração de GA4

aos 5 DAA em relação ao controle. Nos colmos (Figura 6b), foi observado o contrário, i.e., a

concentração de GA4 foi maior que a do controle, indicando que está ocorrendo remobilização

do hormônio entre os tecidos da planta. O acúmulo de açúcares redutores no colmo, que já é

significativamente maior aos 5 DAA (Figura 1d), é relacionado à atividade das giberelinas

(Simko, 1994). Também é interessante ressaltar que foi observada a presença da giberelina ativa

GA4 nesta variedade de cana, sendo que normalmente as giberelinas ativas encontradas na cana-

de-açúcar são GA1 e GA3 (Kuhnle et al., 1983). Durante a maturação natural da cana-de-açúcar

a concentração de etileno, ABA e AIA atingem seus picos no período inicial do processo (Yao

et al., 2002). No presente trabalho, a aplicação de etileno diminuiu a concentração de ABA nas

folhas (Figura 6c) e não altera os teores de AIA (Figura 6e,f).

O etileno e o ABA apresentam comprovada interdependência. Ambos são necessários

para estimular respostas a estresses (Albacete et al., 2008) e atuam sinergicamente na inibição

do crescimento vegetativo de algumas espécies (Ghanem et al., 2011). O etileno é conhecido

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por prevenir o acúmulo de ABA, e vice-versa (Spollen et al., 2000). Foi observado que a menor

concentração de ABA nas folhas aos 5 DAA não preveniu o fechamento estomático (Figura

5b), ao contrário do que poderia se esperar. Isso ocorreu devido ao etileno também estimular o

fechamento estomático (Vysotskaya et al., 2001).

Nos entrenós da região mediana do colmo, onde ocorreu a maior diferença na

concentração de sacarose, foi observado aumento significativo nos teores de trans-ZR no

tratamento com etileno quando comparadas ao controle (Figura 6h). Apesar de ser uma forma

inativa de trans-zeatina associada a moléculas de ribose, a trans-ZR pode ser facilmente

convertida na forma ativa da citocinina (Yamada, et al., 2001). Na cana-de-açúcar, as

citocininas estão diretamente relacionadas ao aumento da força do dreno (Ha et al., 2012). Isso

também foi observado em outras espécies, onde as citocininas aumentam a atividade de genes

envolvidos no ciclo celular e facilitam o descarregamento de carboidratos do floema para as

células dos tecidos (Mohapatra et al., 2011).

5. CONCLUSÃO

O etileno aumenta produção e acúmulo de sacarose nos entrenós intermediários dos

colmos por estimular a atividade da SuSy e inibir a atividade de IVA, aumentando assim a

concentração de sacarose nas células parenquimáticas do tecido. Inicialmente, o etileno diminui

a assimilação de CO2 fechando os estômatos, mas ao estimular a síntese de sacarose no colmo

ele aumenta a força do dreno, gerando demanda fotossintética que a médio prazo garante o

fornecimento de fotoassimilados para a síntese de sacarose. Em relação às alterações no balanço

hormonal, observou-se que os teores de giberelinas e ácido abscísico aumentam nas folhas e

giberelinas e citocininas aumentam nos colmos em relação ao controle em resposta à aplicação

do etefom.

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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CAPÍTULO IV

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Este trabalho traz importante contribuição para o estudo da fisiologia da maturação na

cana-de-açúcar e sua reposta à aplicação de etefom ao destacar como a atividade de síntese de

sacarose nos colmos (drenos) leva à planta a acumular o açúcar e estimula a atividade

fotossintética das folhas (fontes), mesmo em condições adversas que, a priori, causam

supressão fotossintética, como o déficit hídrico e a presença de etileno nas folhas.

Em relação às hipóteses apresentadas no Capítulo I, os dados apresentados permitem

concluir que:

(i) O etefom estimula a maturação por causar aumento no armazenamento de sacarose

no colmo;

(ii) Nas variedades testadas, o déficit hídrico não é capaz de induzir à maturação,

comprometendo o armazenamento de sacarose nos colmos, mas o tratamento com etefom

permite à cana-de-açúcar armazenar sacarose nos colmos na mesma proporção estando ou não

em estresse por déficit hídrico;

(iii) O estímulo ao aumento na concentração de sacarose nos colmos mediados pelo

etileno é resultado do efeito positivo que o etileno tem na atividade da SuSy e IVN, e negativo

em IVA;

(iv) Após inibição inicial da fotossíntese devido ao fechamento estomático, a

assimilação de CO2 é estimulada pelo etileno devido à demanda criada nos colmos em alta

atividade de síntese de sacarose;

(v) As giberelinas e ABA são inibidas nas folhas e as citocininas e giberelinas são

promovidas no colmo nos tratamentos com etileno, mas não é possível correlacionar essas

alterações com a produção e o acúmulo de sacarose durante a maturação.

Trabalhos futuros podem elucidar melhor como se dá o sistema de sinalização

fonte/dreno na planta, relacionando o balanço hormonal aos processos fisiológicos destacados

neste trabalho. Pontos de interesse neste tema seriam a relação entre os diferentes tipos de

açúcares e a sinalização da atividade do colmo e das folhas, e as relações metabólicas e

genéticas do etileno e dos outros hormônios com as enzimas afetadas, especialmente a SuSy e

as invertases.