física de partículas a altas energias uma análise introdutória eduardo andré flach basso...

36
FíSICA DE PARTíCULAS A ALTAS ENERGIAS Uma análise introdutória Eduardo André Flach Basso [email protected]

Upload: internet

Post on 16-Apr-2015

107 views

Category:

Documents


1 download

TRANSCRIPT

Page 1: FíSICA DE PARTíCULAS A ALTAS ENERGIAS Uma análise introdutória Eduardo André Flach Basso ebasso@if.ufrgs.br

FíSICA DE PARTíCULAS A ALTAS ENERGIAS

Uma análise introdutória

Eduardo André Flach Basso [email protected]

Page 2: FíSICA DE PARTíCULAS A ALTAS ENERGIAS Uma análise introdutória Eduardo André Flach Basso ebasso@if.ufrgs.br

Tópicos

1- Motivação geral

2- Visão geral sobre espalhamento

3- Forma geométrica do núcleo

4- Espalhamento elástico de nucleons

5- Conclusões e panorama para o futuro

Page 3: FíSICA DE PARTíCULAS A ALTAS ENERGIAS Uma análise introdutória Eduardo André Flach Basso ebasso@if.ufrgs.br

Introdução/motivação

Familiarização com os aspectos introdutórios da física de partículas elementares.

Conhecer a dinâmica das interações mediadas pela força forte.

Page 4: FíSICA DE PARTíCULAS A ALTAS ENERGIAS Uma análise introdutória Eduardo André Flach Basso ebasso@if.ufrgs.br

Visão geral sobre espalhamento

Processos de espalhamento Para se entender como se dão as interações a nível nuclear

e subnuclear é preciso saber: como extrair informação a respeito dos constituintes fundamentais da matéria? A resposta é, analisando processos de espalhamento.

Em um experimento típico, o objeto a ser estudado (o alvo), é bombardeado com um feixe de partículas com energia bem definida. Podemos representar o processo da seguinte forma:

a + b c + d

Page 5: FíSICA DE PARTíCULAS A ALTAS ENERGIAS Uma análise introdutória Eduardo André Flach Basso ebasso@if.ufrgs.br

Espalhamento elástico

a + b a’ + b’

Partículas permanecem em seu estado fundamental.

Absorvem somente momento de recuo, mudando sua energia cinética.

Espalhamento inelástico

a + b a’ + b*

↳ c + d

presença do estado excitado b*, que logo retorna ao estado fundamental.

Page 6: FíSICA DE PARTíCULAS A ALTAS ENERGIAS Uma análise introdutória Eduardo André Flach Basso ebasso@if.ufrgs.br

a) espalhamento elástico;

b) Espalhamento inelástico – produção de um estado excitado que decai em duas partículas;

c) Produção inelástica de novas partículas;

d) Reação de feixes em colisão.

Page 7: FíSICA DE PARTíCULAS A ALTAS ENERGIAS Uma análise introdutória Eduardo André Flach Basso ebasso@if.ufrgs.br

Cross-sections probabilidade de reação entre

duas partículas em colisão. A “seção de choque de reação

geométrica” é dada por:

bab N

N

onde

toespalhamen de centros de Nº :N

incidente partículas de Fluxo :

reação de Taxa :

b

.

a

N

Page 8: FíSICA DE PARTíCULAS A ALTAS ENERGIAS Uma análise introdutória Eduardo André Flach Basso ebasso@if.ufrgs.br

Esta descrição pode ser uma boa aproximação em muitos casos, mas geralmente a probabilidade de reação entre duas partículas é diferente.

Na pratica, uma grande dependência com a energia é observada.

A forma, força e alcance do potencial da interação é que, a priori, determina a área efetiva da seção de choque.

Page 9: FíSICA DE PARTíCULAS A ALTAS ENERGIAS Uma análise introdutória Eduardo André Flach Basso ebasso@if.ufrgs.br

A interação pode ser determinada da taxa de reação se o fluxo do feixe de partículas e a densidade de área dos centros de espalhamentos são bem conhecidos.

Assim a seção de choque total é definida analogamente àquela geométrica:

área) de to/unidadeespalhamen de (centros tempo)de /unidadefeixe-s(particula

tempode unidadepor reações de º

ntot

Page 10: FíSICA DE PARTíCULAS A ALTAS ENERGIAS Uma análise introdutória Eduardo André Flach Basso ebasso@if.ufrgs.br

Unidades Seções de choque têm dimensão de área. Uma unidade freqüentemente usada é o barn definido por:

1 barn = 1b = 10-28 m2

Page 11: FíSICA DE PARTíCULAS A ALTAS ENERGIAS Uma análise introdutória Eduardo André Flach Basso ebasso@if.ufrgs.br

Seções de choque diferenciais Somente uma parte das reações é medida.

Uma taxa destas reações é proporcional a seção de choque diferencial d(E,)/d.

Pode-se determinar a seção de choque duas vezes diferenciável d2(E,E’,)/ddE’, se o detector puder medir a energia E’ das partículas espalhadas.

''

),',()(

'max

0 4

2

dEddEd

EEdE

E

tot

Page 12: FíSICA DE PARTíCULAS A ALTAS ENERGIAS Uma análise introdutória Eduardo André Flach Basso ebasso@if.ufrgs.br

Forma geométrica do núcleo

Espalhamento por elétrons para investigar pequenos objetos.

Dificuldades:

os projéteis são objetos extensos, o que reflete também na seção de choque.

As forças nucleares entre o projétil e o alvo são complexas e ainda não são bem entendidas.

Page 13: FíSICA DE PARTíCULAS A ALTAS ENERGIAS Uma análise introdutória Eduardo André Flach Basso ebasso@if.ufrgs.br

Cinemática do espalhamento com elétronsGeralmente, usa-se partículas altamente relativísticas, o que

implica no uso de quadri-vetores nos cálculos cinemáticos:

Onde os termos em negrito indicam os tri-vetores.

O produto escalar invariante de Lorentz de dois vetores é defido como

Aplicando esta ao quadri-momento ao quadrado,

ba 0033221100 babababababa

p

x

,/,,,

,,,,

3210

3210

cEppppp

ctxxxxx

22

22 p

c

Ep

Page 14: FíSICA DE PARTíCULAS A ALTAS ENERGIAS Uma análise introdutória Eduardo André Flach Basso ebasso@if.ufrgs.br

Este último é igual ao quadrado da massa de repouso m multiplicado por c2.

A quantidade

é chamada de massa invariante. Das duas últimas obtem-se a relação energia-momentum relativística:

No sistema do laboratório, a energia do elétron espalhado é:

cpm /2

42222 cmcE p

cos11 2'

McE

EE

Page 15: FíSICA DE PARTíCULAS A ALTAS ENERGIAS Uma análise introdutória Eduardo André Flach Basso ebasso@if.ufrgs.br

A seção de choque de Rutherford

Em termos de b, a seção de choque diferencial é igual a área de um anel de raio b e espessura db: ;Como pode ser visto nas figuras acima , um específico parâmetro de impacto resulta em um especifico ângulo de espalhamento.

bdbd 2

Page 16: FíSICA DE PARTíCULAS A ALTAS ENERGIAS Uma análise introdutória Eduardo André Flach Basso ebasso@if.ufrgs.br

Quando o parâmetro de impacto está entre b e b + db, o ângulo de espalhamento estará entre e - d. Assim escreve-se e seção diferencial de choque como: 

Deve-se examinar como b depende de cos para chegar em uma expressão para a distribuição angular da partícula espalhada . Pode-se derivar uma eq. Para b achando duas expressões independentes para a variação de momentum p da partícula espalhada que envolvam b e .Tomando:

cos2

coscos d

dbb

d

db

db

d

d

d

toespalhamen do depois de momentum p

toespalhamen do antes de momentum

2

1

p

cos2 2121

22

221

2 ppppppp

então

Somente a direção do momentum muda e não sua magnitude, já que a massa do núcleo é muito maior que a massa da partícula .

Page 17: FíSICA DE PARTíCULAS A ALTAS ENERGIAS Uma análise introdutória Eduardo André Flach Basso ebasso@if.ufrgs.br

Temos então a primeira das expressões para p:

A transferência de momentum se dá ao longo de uma linha que bissecsiona o ângulo ( - ), como mostra a figura abaixo.

1 cos12cos12 vmpp

Com isso escreve-se:

 Assim,

 

cos12

cos22cos222

222222

pp

pppppp

21 vmpp

partícula da e velocidad

partícula da massam

v

Page 18: FíSICA DE PARTíCULAS A ALTAS ENERGIAS Uma análise introdutória Eduardo André Flach Basso ebasso@if.ufrgs.br

Ao resolver esta última, deve-se ter em mente que ambos ( e r ) dependem do tempo. A integral se torna mais simples se usarmos o conceito de conservação de momentum angular. Em qualquer ponto ao longo da trajetória da partícula , a componente da velocidade perpendicular (VT) a direção da força é 

dt

drVT

A magnitude da força (F) sobre a partícula é:onde  A componente da força na direção da transferência do momentum p é Fcos. Desta forma p pode ser escrita como a integral temporal da força: 

221

r

qkqF

núcleo do cargaq

de carga 2

2

1

Ze

eq

2

1

2

1221

coscos

t

t

t

t rdtqkqdtFp

Page 19: FíSICA DE PARTíCULAS A ALTAS ENERGIAS Uma análise introdutória Eduardo André Flach Basso ebasso@if.ufrgs.br

Agora, devemos converter o ângulo 0 de volta no ângulo

de espalhamento. Os dois ângulos estão relacionados por 

22 2 00

O momentum angular (L) da partícula em relação ao núcleo é:

com .dt

drmr

dt

drmrVmrVmL TT

2

rVT

Quando a partícula está a uma longa distância do núcleo, antes do espalhamento, tem-se por definição do parâmetro de impacto,

vbmL Pela conservação do momentum angular temos,

dt

drmvbm

2

Então, escreve-se p como

021

002121 sen

2]sen[sencos

0

0

vb

qkq

vb

qkqd

vb

qkqp

vb

d

2r

dt

Page 20: FíSICA DE PARTíCULAS A ALTAS ENERGIAS Uma análise introdutória Eduardo André Flach Basso ebasso@if.ufrgs.br

Equacionando (1) e (2) temos, Resolvendo para o parâmetro de impacto, 

Para calcular a seção de choque faz-se a mudança de variável: Assim,

Diferenciando b2 temos: 

cos12

cos12 21 vb

qkqvmp

cos1

cos1b

cos1

cos12

2212

221

vm

qkq

vm

qkqb

cos

2

2

221

2

2

221

12

1

112

d

vm

qkqd

vm

qkqbdb

1

1b

2

2212

vm

qkq

Assim

Usando a identidade trigonométrica:

temos,

2cos

2

22sen

2 2121 vb

qkq

vb

qkqp

2

cos1

2cos

2 cos12 21

vb

qkqp

Page 21: FíSICA DE PARTíCULAS A ALTAS ENERGIAS Uma análise introdutória Eduardo André Flach Basso ebasso@if.ufrgs.br

Supondo a carga elétrica do projétil como q1=ze e sendo a carga

elétrica do núcleo Ze, tem-se:

Em termos da constante de acoplamento eletromagnética ( ) tem-se: 

2

2

21

cos1

1

2cos

kE

qkq

d

d

222

cos1

1

2cos

kE

zZke

d

d

cke 2

2

2

222

cos1

1

2cos

kE

cZz

d

d

bdbd 2Como temos:

voltando à variável cos:

Podemos escrever esta em termos da energia cinética da partícula incidente ( ), obtendo: 

2

2

221

cos1

12

cos

vm

qkq

d

d

2/2vmEk

2

2

211

1

12

vm

qkq

d

d

Page 22: FíSICA DE PARTíCULAS A ALTAS ENERGIAS Uma análise introdutória Eduardo André Flach Basso ebasso@if.ufrgs.br

Notas:

1. Seção de choque proporcional à α2 ; e inversamente proporcional a Ek.

2. Existe uma singularidade na seção de choque para = 0, onde esta é infinita.

Sem a integração no ângulosólido teríamos:

2sen44 422

0

22

E

Ze

d

d

ruth

Esta é a fórmula de Rutherford para a seção de choque diferencial.

Page 23: FíSICA DE PARTíCULAS A ALTAS ENERGIAS Uma análise introdutória Eduardo André Flach Basso ebasso@if.ufrgs.br

A seção de choque de Mott Considera-se o spin da partícula

do feixe. Esta só é valida para |q| 0 ; à grandes valores de |q|, reduzido do fóton virtual diminui e a resolução aumenta.

O elétron espalhado não sente mais toda a carga do núcleo, mas somente parte dela.

O asterisco indica que o recuofoi negligenciado.

2sen1 22

*

RuthMott d

d

d

dc

v

2

cosqc

4

2cos 2

4

'2222

* 2

EcZ

d

d

d

d

RuthMott

Page 24: FíSICA DE PARTíCULAS A ALTAS ENERGIAS Uma análise introdutória Eduardo André Flach Basso ebasso@if.ufrgs.br

gráfico para as seções de choque de Rutherford e Mott; e o gráfico para a taxa de espalhamento, que é proporcional a esta última. Neste último vê-sea inconsistência de um núcleo pontual. Ambos representam espalhamento deElétrons com energia de 125 MeV por núcleos de ouro.

Page 25: FíSICA DE PARTíCULAS A ALTAS ENERGIAS Uma análise introdutória Eduardo André Flach Basso ebasso@if.ufrgs.br

Fatores de forma nucleares: F(q2)Descrevem a extensão espacial dos núcleos.Experimentalmente temos:

Teoricamente, sob certas condições temos:

drrrq

rqrfqF 22 sen

4

22

*

exp

qFd

d

d

d

Mott

Page 26: FíSICA DE PARTíCULAS A ALTAS ENERGIAS Uma análise introdutória Eduardo André Flach Basso ebasso@if.ufrgs.br

Exemplos de fatores de forma com suas respectivas distribuiçõesde carga

Page 27: FíSICA DE PARTíCULAS A ALTAS ENERGIAS Uma análise introdutória Eduardo André Flach Basso ebasso@if.ufrgs.br

 

Gráfico dos fatores de forma para algumas distribuições de carga.

Page 28: FíSICA DE PARTíCULAS A ALTAS ENERGIAS Uma análise introdutória Eduardo André Flach Basso ebasso@if.ufrgs.br

Distribuição de carga nuclearNúcleos não são esferas com uma superfície bem definida.A distribuição radial de carga na superfície pode ser bem aproximada pela função de Fermi com dois parâmetros:

acre

r

1

0

A constante c é o raio onde cai pela metade.Empiricamente, para núcleos pesados, c e a são dados por:

r

31A [fm] 07.1c [fm] 54.0a

Page 29: FíSICA DE PARTíCULAS A ALTAS ENERGIAS Uma análise introdutória Eduardo André Flach Basso ebasso@if.ufrgs.br

Gráfico da densidade de carga nuclear para o carbono. A densidade de cargano centro foi normalizada à um.

Page 30: FíSICA DE PARTíCULAS A ALTAS ENERGIAS Uma análise introdutória Eduardo André Flach Basso ebasso@if.ufrgs.br

Espalhamento elástico por nucleons

Fatores de forma dos nucleons

Devemos aqui, fazer algumas considerações a respeito dos nucleons (alvos):

Recuo:

Momento magnético:

Momento magnético anômalo:

2tan21. 2

1/2spin point

Mottd

d

d

d22

2

4 cM

Q

NNp

p

g 79.2

2NNn

n

g 91.12

E

E

d

d

d

d

MottMott

'*

.

Page 31: FíSICA DE PARTíCULAS A ALTAS ENERGIAS Uma análise introdutória Eduardo André Flach Basso ebasso@if.ufrgs.br

Onde o magnéton nuclear é:

A seção de choque para o espalhamento de um elétron por um nucleon é dada pela fórmula de Rosenbluth:

pN M

e

2

2tan)(2

1

)()( 2222222

QGQGQG

d

d

d

dM

ME

Mott

Onde e são os fatores de forma elétrico e magnético,ambos dependentes de .

)( 22 QGE )( 22 QGM

2Q

Page 32: FíSICA DE PARTíCULAS A ALTAS ENERGIAS Uma análise introdutória Eduardo André Flach Basso ebasso@if.ufrgs.br

O fator de forma elétrico do próton e os fatores de forma magnético de ambos, prótons e neutrons decaem similarmentecom Q2. Eles podem ser aproximados pelo chamado dipole fit:

onde

222

2

91.179.2QG

QGQGQG dipole

nM

pMp

E

2

2

22

/71.01

cGeV

QQG dipole

Este modelo corresponde a uma distribuição de carga quecai exponencialmente:

com arer 0 -1fm 71.4a

Page 33: FíSICA DE PARTíCULAS A ALTAS ENERGIAS Uma análise introdutória Eduardo André Flach Basso ebasso@if.ufrgs.br

Raio de carga de Pions e Kaons Como pions e kaons são partículas com spin zero, eles têm

apenas um fator de forma elétrico. Ambos podem ser descritos pelo chamado fator de forma de monopolo:

Os raios médios quadrados, que saem da declividade das curvas próximas a origem, são dados por:

12222 )1()( aQQGE2

2 6r

a

22 fm 02.044.0

r 22 fm 05.034.0

r

Page 34: FíSICA DE PARTíCULAS A ALTAS ENERGIAS Uma análise introdutória Eduardo André Flach Basso ebasso@if.ufrgs.br

Fatores de forma para píon e kaon como função de Q2. As linhas sólidas correspondem ao fator de forma de monopolo.

Page 35: FíSICA DE PARTíCULAS A ALTAS ENERGIAS Uma análise introdutória Eduardo André Flach Basso ebasso@if.ufrgs.br

Analisando estes gráficos vê-se que ambos, o píon e o kaon, têm diferentes distribuições de carga e são bem menosespalhadas no espaço do que a distribuição de carga para opróton. Isto pode ser entendido como o resultado das diferentes estrutras internas de seus constituintes:enquanto o próton é formado por três quarks, o pion e o kaon são formados por umquark e um antiquark.

O kaon tem menor raio de carga que o pion. Assim, conclui-seque estes possuem constituintes diferentes.

Page 36: FíSICA DE PARTíCULAS A ALTAS ENERGIAS Uma análise introdutória Eduardo André Flach Basso ebasso@if.ufrgs.br

Para o futuro...

Entender mais a fundo o DIS, o modelo de partons e suas implicações na funções de estrutura.

Aplicação dos conhecimentos ao processo de espalhamento próton-próton, para entender o processo mais geral Pb-Pb produzindo píons.