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ESCOLA DE ARTES, CIÊNCIAS E HUMANIDADES EACH Fim da escravidão e Fim do Império. A modernização brasileira? Disciplina: FORMAÇÃO ECONÔMICA E SOCIAL DO BRASIL Prof. Dr: José Renato Aluno: Wagner Kimura Dez / 2010

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ESCOLA DE ARTES, CIÊNCIAS E HUMANIDADES – EACH

Fim da escravidão e

Fim do Império.

A modernização

brasileira?

Disciplina: FORMAÇÃO ECONÔMICA E SOCIAL DO BRASIL

Prof. Dr: José Renato

Aluno: Wagner Kimura

Dez / 2010

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Resumo

O artigo tem por objetivo trazer um apanhado histórico sobre o desenvolvimento e

formação da sociedade brasileira, conceituando a modernidade e relacionando-a ao período

final da escravidão e desenrolar da República. Para este intento, este artigo será calcado em

artigos já publicados e livros que discorram sobre a temática ou parte dela. Estaremos

também antagonizando correntes de pensamento conservadoras com correntes liberais e

como influíram para a formação da sociedade política brasileira. O período central tratado

iniciará no século XIX e percorrerá as primeiras décadas do século XX. Discorreremos

também sobre a mudança de ares no cenário político brasileiro, onde a política oligárquica

do regime imperial dá lugar à sociedade política competitiva da República que começa a

impingir traços de modernidade à sociedade brasileira.

Palavras-chaves: Escravidão, modernização, Primeira República

INTRODUÇÃO

O adentrar de diversas formações sociais num período de modernidade é alvo de

diversos estudos e trabalhos desenvolvidos por cientistas sociais1. Teóricos como Marx,

Weber e Durkheim em trabalhos desenvolvidos ou elaborados com a perspectiva central

voltada a conceituação e explicação da teoria da modernização e as nuances que a partir do

marxismo se apresentaram, acrescentaram e trouxeram uma riqueza de pensamentos muito

grande para essa questão. No Brasil, uma vasta literatura a esse respeito foi elaborada,

corroborando com a definição e com o desenho da identidade brasileira. Em textos de

grandes teóricos brasileiros como Oliveira Vianna e Nestor Duarte, Sérgio Buarque de

Holanda e Gilberto Freyre, Caio Prado Jr. e Raymundo Faoro, entre outros, temos a

investigação história do Brasil presente e sendo contada de forma abrangente, parcimoniosa

e esmiuçada. As visões e abordagens possuem antagonismos posicionais e interpretativos,

mas, é inegável e impossível de refutar as visões particularizadas, pois estas trazem à luz da

1 Consiste em um tema importante e trabalhado no sentido de formar a própria

sociologia

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temática relações com estruturas, escolas e fundamentações em fatos e conceitos inseridos

no meio acadêmico decorrentes de um arcabouço já amplamente estudado que qualquer

cidadão, afere um ganho expressivo quando toma conhecimento das diversas obras

produzidas. (HANNA, 2003; DOMINGUES, 2002)

O nosso passado colonial recente, o período do pós-independência, o período do

pós-república e o fim do período da primeira república, nos remetem a dados e fatos que

auxiliam na identificação de elementos essenciais e elucidativos para o entendimento da

modernidade brasileira e o desenvolvimento da sociedade. (DOMINGUES, 2002)

No Brasil, diferente do que acontece em países centrais, as teorias que analisam a

transição para a modernidade não explicam plenamente o processo, com isto é imperiosa a

necessidade de se ajustar o entendimento, de relativizar a teoria com uma nova ótica ou

uma nova composição social, afinal o Brasil não percorreu os mesmos caminhos nas áreas

políticas e econômicas que os países primeiro mundistas. No Brasil o transcorrer dos fatos e

situações diferiram dos países centrais , o que justifica uma análise desprovida de conceitos

enraizados e pré-moldados. Como exemplificação apontamos uma das teorias mais bem-

sucedidas na tentativa de analisar essas transições para a modernidade, em países centrais,

ela foi elaborada por Barrington Moore Jr. (1966). Em sua abordagem, Moore, identifica três

possíveis caminhos para alcance da modernidade. Em Moore, os Junkers alemães serviram

de exemplo para aquilo que chamou de "modernização conservadora", estimular e

contemplar a transição, mantendo suas propriedades conquistadas no período feudal e

empreendendo controle de campo. No Brasil, a oligarquia agrária dominante transpassou

períodos e se manteve durante muito tempo como sustentáculo do poder instituído. O

conceito de "modernização conservadora" pode ser entendido através das seguintes

premissas: recusa a mudanças fundamentais na propriedade da terra – a elite dominante

manteria o controle sobre a força de trabalho, que não seria capaz, de se libertar de relações

de subordinação e de apropriação do "excedente" econômico diretamente. Na

modernização conservadora, a oligarquia agrária dominante forçou uma burguesia relutante

e desinteressada de processos de democratização. (DOMINGUES, 2002)

Na sequências trataremos de épocas distintas e iremos procurar abordar nuances e

fatores relacionados a modernidade, bem como seus impactos na questão racial.

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A COLONIA

Quando ocorreu no Brasil-colônia o processo de independência, a junção de fatores

de cunhos ideológicos privilegiaram o regime monárquico de representação centralizado,

evitando o fortalecimento exacerbado e predomínio militar e centralizando arrecadação de

tributos e emolumentos. A organização da estrutura política do Brasil, quando de sua

transição do império para a República, ocorreu sem rupturas drásticas e consideráveis. Ao

superar a etapa oligárquica (1822-1889), em que a sociedade estava calcada na aristocracia

escravocrata para uma sociedade republicana calcada em lideranças populistas e de massas,

percebemos que tanto o sistema político partidário como o sistema econômico

(agroexportador) não sofreram mutações sensíveis que colocassem em contraposição os

atores presentes e defensores do conservadorismo com os atores presentes e defensores do

liberalismo. (DUARTE, 2010)

Mas como era composta a elite dominante no período do império?

“As elites econômica, política e intelectual nos anos de estabilidade do Império

brasileiro estiveram praticamente sobrepostas. Do universo de proprietários saiam

os governantes e os eruditos.

Esta elite era socializada para a política em dois estágios sucessivos. O primeiro era a

obtenção do bacharelado em Direito, passando pelas escolas de São Paulo ou do

Recife, de preferência pelas duas. Este deslocamento dava uma visão geral do país,

do norte e do sul, ao postulante. As escolas de instrução superior tinham sido

planejadas para viveiros dos homens de mando. O ingresso em um dos dois partidos

através da família ou de padrinhos era o passo seguinte que permitia a eleição para

deputado. Seguia-se daí uma circulação pelos vários níveis de poder central, com

destaque para a presidência de província, que fortificava o ponto de vista nacional da

elite. Dali se atingia o senado, depois o ministério e, finalmente, o mais alto posto,

que era o assento no conselho de estado, onde chegavam tão somente uma dúzia de

sumidades, em geral, já consolidados como chefes partidários.” (ALONSO, 1988)

Como a sociedade brasileira, diferentemente dos países de primeiro escalão

econômico, era desprovida de laços de identidade com teorias elaboradas em virtude de

experiências dos países centrais, de lutas e conquistas sociais de seu povo ou parte dele, de

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ações coletivas reivindicatórias de autonomia, liberdade e garantia de direitos fundamentais,

o desenvolvimento e a modernização só seriam possíveis através das ações promovidas pelo

próprio Estado. Corroborando com esse ponto de vista temos a realidade vivida por

excluídos como os escravos e os indígenas na formação do Estado-Nação independente e

posteriormente na formação da República. Escravos e indígenas excluídos que foram

cerceados de qualquer possibilidade de reivindicação. Nesse aspecto, podemos inferir, sob

uma ótica mais contemporânea e desprovida de ranços do passado, que com a existência de

segmentos sociais (escravos e índigenas) relegados, a constituição do Estado-Nação nunca

foi plena de fato (um pouco de filosofia). (DUARTE, 2010)

O modelo oligárquico do Estado-Nação, conservou uma estrutura econômica agrária

e intensificou a escravidão, apesar de evocar o liberalismo como norteador do sistema

colonial (o entendimento da articulação de uma ideologia liberal com o movimento

escravagista, traz a reflexão do modo de pensar da aristocracia dominante entre 1831 e

1860). O Estado-Nação foi quem respaldou o processo de fortalecimento político da

oligarquia escravocrata e agrária, sendo utilizado, por esta, como escudo de defesa e como

instrumento de ataque para a manutenção de seus interesses. (BOSI, 1988; DUARTE, 2010)

A dissonância do escravismo com o liberalismo trouxe um paradoxo do império

brasileiro e a revolução industrial européia. Teóricos apontam que o chamado liberalismo

brasileiro não chegou a ser uma ideologia dominante e que a permissividade com a

escravidão o descaracterizou totalmente. (BOSI, 1988)

Na percepção de Celso Furtado, os economistas liberais tupiniquins, a partir do

visconde de Cairu, foram adeptos e mais fiéis a Adam Smith do que os próprios anglicanos e

estadunidenses que sempre impingiram regras protecionistas para dosagem do livre

comércio e para garantir suas próprias indústrias. No caso brasileiro, o liberalismo com

escravidão foi a união insensata do laissez-faire com o trabalho escravo, e que estabeleceu,

durante um longo período, o escravo como uma mercadoria, pura e simplesmente. (BOSI,

1988)

Caio Prado, também defendia a tese de que as relações de produção tipicamente

capitalistas já ocorriam na agricultura brasileira desde a colonização. Com isto, a destarte

dos conservadores, admitia que o emprego de uma reforma agrária seria uma atitude

anticapitalista.(HANNA, 2003; MERA, 2008)

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É interessante notar essas circunstâncias que retratam a pequena importância e

significação do que constituiria, na economia agrária da colônia, um setor propriamente

camponês, em contraste com a grande exploração, operada em larga escala na base do

trabalho servil, e dedicada exclusivamente à produção de mercadorias exportáveis. Essa

situação, fruto das circunstâncias gerada da colonização, e que lhe são peculiares, terá

importante papel tanto na configuração da estrutura social brasileira – é um dos

principais fatores que contribui para a insignificância das categorias médias da população-

, como na dinâmica da nossa evolução econômica, social e mesmo política (PRADO JR,

1996)

Partindo para uma conotação de desenvolvimento, observado no período colonial, a

elite oligárquica, para conservar e preservar a ordem nacional, de forma que seus interesses

fossem garantidos, permitiu e empreendeu algumas ações no sentido da modernidade.

Iniciativas como a do Barão de Mauá na execução de obras de infra-estrutura pública,

criaram uma dicotomia estrutural. Se por um lado começava a se constituir uma nação, em

termos de infra-estrutura, por outro, era caótico o atraso causado pela escravidão. (DUARTE,

2010)

Esse antagonismo formal foi sendo observado até a abolição da escravidão (1888),

um país que estava se edificando estruturalmente, mas que economicamente retrocedia, à

medida que outras nações livres prosperavam. O pseudo-liberalismo oligárquico puxava os

lucros para uma elite latifundiária e agrária, em detrimento de uma possível redistribuição

de renda e crescimento econômico nacional. As necessidades da elite eram satisfeitas com a

exportação de bens industrializados e as do povo não. (DUARTE, 2010)

No período regencial, contudo, começa a surgir uma categoria social diferenciada,

são burgueses liberais e urbanos (médicos, protéticos, pequenos empresários, etc.), para

atendimento de necessidades da elite dominante. Esta categoria irá atuar com determinação

e alto grau de importância na libertação dos escravos e na proclamação da república e irá,

ainda que modestamente, promover a inserção do Brasil num universo capitalista industrial.

(DUARTE, 2010)

Joaquim Nabuco, Rui Barbosa, José do Patrocínio, André Rebouças, Luís Gama,

Antônio Bento entre outros, concebiam a abolição como o remédio mais urgente a ser

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ministrado para que se cumprissem programas como a reforma agrária e a entrada de

trabalhadores em um sistema de concorrência e oportunidades. No horizonte, viam os

regimes europeus e estadunidenses escorados na indústria, no trabalho assalariado, na

pequena e média propriedade, no ensino primário gratuito, no sufrágio universal, enfim em

tudo aquilo que não dispunham, graças ao regime monárquico instaurado, e questionavam:

progresso ou escravidão? (BOSI, 1988)

A REPÚBLICA

Os abolicionistas lutavam pela liberdade dos negros2, já os cafeicultores precisavam

substituir o negro. Daí surge uma diferença de velocidade e importância. Graças aos

abolicionistas o processo foi acelerado, os fazendeiros retardaram o quanto puderam a ação

do Estado, pois não conseguiam mensurar o impacto e o mal que estavam causando, não só

com relação ao sofrimento do escravo, mas com relação ao subjulgo econômico perante

países industrializados. (BOSI, 1988)

O final do regime monárquico em 1889 causou certas mudanças cruciais nas relações

entre as cidades (províncias) e o governo nacional. Com a descentralização política e fiscal os

estados emergentes ficaram mais poderosos, através do controle de terras, do domínio

sobre depósitos minerais e recursos, do direito de criar impostos e taxas, do poder de tomar

empréstimos no exterior e de vender ônus fora das divisas nacionais e da permissividade de

criação de forças armadas próprias. O resultante inicial foi um considerável aumento nas

receitas dos estados. (SCHMIDT, 1979; GILENO, 2008; NÓBREGA, 2009)

A república diferentemente do período monárquico, ao invés de promover uma

união e unificação do país, acabou, ao contrário, trazendo ao palco político, estados

autônomos e desunidos, bem como novas categorias sociais com interesses divergentes

entre si, resultando num maior dinamismo e desestabilizando a ordem natural do regime

monárquico (união e centralização). Com este fato, passamos a ter uma maior participação

2 Com o final da escravidão, porém, o que se viu foi uma espécie de “obsolescência” do

negro na sociedade e seu total desalinho com as novas demandas de serviço que

emergiram. Sem instrução, sem capacitação e sem qualquer experiência em relações de

trabalho, o negro passou a ser preterido de oportunidades, além do fato da grande

maioria rechaçar a possibilidade de permanência em situações de trabalhos que outrora

os aviltaram.(MENTA, 2008)

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social e um maior movimento reivindicatório nas arenas políticas, atingindo setores médios

da sociedade brasileira. (GILENO, 2008; DUARTE, 2010)

A república foi constituída por três correntes: liberais, positivistas e militares sem

vinculação doutrinária. Os positivistas foram afastados das decisões mais importantes do

novo governo, já os liberais impuseram a Constituição, o pensamento político oficial da

época e o sistema constitucional calcado no federalismo, atabalhoado e mal empreendido,

mas vigente. Apesar do liberalismo, oriundo do período monárquico, ser dissociado da idéia

de democracia, sua presença na república aconteceu naturalmente.(STRUMINSKI, 2007)

Nesse período, a conceituação de representação política passa a ter uma outra

conotação. As ações de camadas da sociedade mais populares e até as camadas médias,

promovem uma certa ruptura com o sistema político oligárquico, mas se dobram diante de

propostas e práticas de políticas populistas e clientelistas, bem como ao autoritarismo que

emerge diante de uma reorganização da sociedade política. Os alicerces da oligarquia

permanecem presentes durante as primeiras décadas da República, pois o próprio cenário

econômico continua monocultor e agrário, contudo remodelados em um misto de

autoritarismo e populismo. (GILENO, 2008; DUARTE, 2010)

Ao analisarmos as questões raciais, percebemos que mesmo diante de uma nova

ordem, a república e a abolição da escravidão, a discriminação racial e a desigualdade social

persistiram e impediram maiores avanços na área social. A elite dominante tentou relativizar

o problema diante de teses eugenistas e promoveu o chamado “branqueamento” da

população com a imigração de colonos europeus. (STRUMINSKI, 2007)

O Estado financiou a imigração, beneficiando os grandes latifundiários

empodeirados, que na prática, eram quem sustentavam o império e que passaram a

sustentar a república em seus primórdios. Na república eles se reorganizaram e promoveram

novos pactos oligárquicos. As economias regionais do sul e sudeste praticamente

sustentaram a república no seu início, principalmente com o café. Permanecia, assim, a

continuidade do conceito e da idéia colonialista abordada por Sérgio Buarque de Holanda,

de que “sustentabilidade era terra farta para gastar e braços para trabalhar”, no caso, braços

de imigrantes. c

De um prisma econômico, a república em seus primórdios tinha característica que

levavam a uma continuidade do que acontecia com o império. As oligarquias agropecuárias

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dominantes, oriundas de Minas Gerais e São Paulo iriam se revezar no poder, o que gerou o

codinome de época para a política “a política do café com leite”. (STRUMINSKI, 2007)

A MODERNIZAÇÃO

O processo de modernização do país pode ser remontado como se tivesse iniciado

através de um membro de destaque do período final do império, o Visconde de Rio Branco.

As atividades econômicas e o dinamismo do cenário particularmente forte no oeste paulista

por causa do café forçavam o país a certos avanços. Durante seu período de gabinete (1871-

1875), Rio Branco buscou atentar para as necessidades dos cafeicultores, e procurou prover

melhoramentos materiais para este intento. Construiu com isto, ferrovias3 e através do

telégrafo conseguiu ligar o Brasil com a Europa e as principais cidades umas com as outras.

Além disso, alterou o sistema judiciário, na organização e no recrutamento militar. No

universo escravocrata, avançou em direção à abolição, pois conseguiu a liberdade para os

filhos de escrava nascidos a partir de então. Na área da educação, tentou criar cursos

técnicos profissionalizantes. Essas reformas modernizadoras acabaram por contrapor

instituições modernas e valores tradicionais, como a religião de estado, e com os próprios

preceitos fundamentais da sociedade imperial, como a própria escravidão. Politicamente,

acabou gerando um enfraquecimento dos partidos, pois tratou de assuntos e empreendeu

ações que ou os partidos evitavam de discutir, ou levavam com certa morosidade. (FAORO,

1992; ALONSO, 1998)

Num período pós-monárquico, vemos um cenário de grande desenvolvimento local,

onde estados mediante arrecadações mais fartas passam a empreender ações voltadas ao

desenvolvimento, porém de forma atabalhoada e sem um controle central específico e

direcionado. Proliferam-se as criações e estabelecimento dos municípios em áreas de

3 “A intrínseca relação entre a expansão do café e a construção de um complexo sistema

ferroviário, na segunda metade do último século, ilustra a importância decisiva que teve

a expansão cafeeira para a instalação de uma economia industrial no Brasil. Em

contraste com casos como o dos Estados Unidos, onde a criação de um sistema de

transportes baseado na ferrovia serviu como cinto de transmissão para expandir as bases

materiais de uma moderna ordem industrial, no Brasil o sistema ferroviário foi criado

pela expansão do cultivo do café, assim, representa um caso no qual a preexistência de

um produto estratégico tornou necessária a criação de um moderno sistema de

transporte."(SCHMIDT, 1979)

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aglomerados, sempre focando no sentido de autonomia para o desenvolvimento. (SCHMIDT,

1979)

Em termos urbanos e arquitetônicos áreas de cortiços foram sendo demolidos para a

construção de avenidas e novos palacetes centrais. O êxodo de migrantes para as áreas

urbanas começa a ter um fluxo crescente, com isso surgem ocupações precárias distantes. A

primeira república ou República Velha não conseguiu promover a sustentabilidade social

para a sociedade, pois as elites que se formaram carregavam as mazelas do colonialismo e

da escravidão. Inicialmente, criou-se uma cidadania precária, originária de uma completa

iniquidade das estruturas sociais, continuando com a problemática vivida no período

monárquico. a geografia oligárquica imperial. (AITA, 2006; STRUMINSKI, 2007)

Num período posterior, dominado pelo sistema político populista, onde o controle

das massas urbanas começa a ser tratado com concessões de direitos trabalhistas e

benefícios sociais, como o maior acesso à educação, a ampliação do direito do voto (mesmo

que ainda muito restritivo), urbanização, saneamento e abastecimento públicos. A

industrialização começa a criar corpo e passa a despertar interesse da massa urbana e de

uma massa rural despojada de oportunidades. (STRUMINSKI, 2007;DUARTE, 2010)

Esse período de evolução econômico industrial, forjada pelo estado, fez com que

contraditoriamente, a própria sociedade começasse a impingir uma certa pressão junto ao

Estado no sentido de obter atendimento à demandas que emergem com o crescimento das

áreas urbanas. (AITA, 2006; DUARTE, 2010)

CONCLUSÃO

No espectro do período evolutivo da sociedade política brasileira, em que saímos de

um sistema colonial oligárquico escravocrata e agrário, que impeliu o Estado-Nação de um

possível desenvolvimento capitalista efetivo, para um período republicano, permeado de

autoritarismo e populismo, onde a industrialização começa a tomar corpo, o processo pode

ser analisado sob uma ótica econômica, onde o poder público das elites dominantes

conserva suas características patrimonialistas e territorialistas. (DUARTE, 2010)

A modernização, de 1850 em diante, trouxe ao Brasil, país de dimensões

continentais, com população dispersa, e carente de uma sociedade urbana anterior, um

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desenvolvimento deliberado e sem qualquer planejamento, fato que comprovamos quando

analisamos o desenvolvimento da própria estrutura férrea do país (circunscrita ao setor

cafeeiro em sua grande extensão). (SCHMIDT, 1979; FAORO, 1992)

Em termos de modernização, o processo no Brasil foi norteado por um

conservadorismo resultante da própria estrutura burocrática que transpassou o período do

império e adentrou à república, e por um processo evolutivo sem grandes revoltas e

rebeliões populares com cunhos ideológicos. (DUARTE, 2010)

A manutenção do sistema escravocrata, subsidiado pela justificativa de garantia da

unidade territorial e a estabilidade institucional, mostrou-se equivocada e afastou o país do

cenário de desenvolvimento industrial promovido em países de primeiro mundo. Porém

somente mais tarde, as evidências cientificas e os avanços dos estudos da ciência da

economia trariam à tona os equívocos envoltos com a tardia libertação dos escravos.

(ENDERLE, 2008)

O pensamento liberal durante o período da regência, levou à busca de um sistema

capitalista. No entardecer do período monárquico, houve a ascensão de uma classe

burguesa urbana, que buscou sua própria estruturação intelectual e material e assumiu o

processo de modernização política e econômica do Estado brasileiro, tendo como principal

reivindicação o fim da escravidão. Posteriormente veremos o emprego de práticas

populistas, autoritárias e clientelistas. (ENDERLE, 2008; DUARTE, 2010)

Por volta de 1930, na era Vargas, através de ações do Estado, o país adentrou num

movimento desinvolvimentista, tido como o bastião de uma futura inserção do país num

regime democrático. Nesse período, porém, tivemos a concessão expressiva de direitos

sociais, mas em contrapartida, tivemos uma redução dos direitos políticos. O estado

burocrático-autoritário colocou o Brasil numa rota rumo ao capitalismo, em busca de uma

modernização, mas conservou estruturas oligárquicas, centralizou ações, apresentou

deficiências que iriam desde a corrupção ao mau aparelhamento do Estado. O

patrimonialismo se destacou no cenário político. (DUARTE, 2010)

Sob um enfoque econômico podemos analisar que o desenvolvimento brasileiro

carecia no final do século XIX de um sistema econômico integrado, onde a produção de

mercadorias e suas negociações dentro do território nacional eram desordenadas e

feneciam diante da ausência do próprio capitalismo. Essa deficiência só virá a ser

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efetivamente combatida e com o aparecimento da industrialização massiva, de 1930 em

diante. Uma reordenação nas relações do trabalho, irão expandir o capitalismo brasileiro e

constituirão pólos regionalizados de produção consolidando as regiões sul e sudeste nesse

espectro produtivo, transformando-os em pólos industriais. (SCHMIDT, 1979) Para alguns

teóricos conservadores, o Brasil “comeu” etapas. Como se elas fossem fielmente necessárias

e seguidas como receituário. (FAORO, 1992)

Apesar do que se discorreu até aqui, não podemos afirmar que após a Revolução de

1930, a sociedade brasileira presenciou a hegemonia da indústria no Brasil, isso não foi tão

tranqüilo. A economia ainda ficou por um bom período atrelada ao agronegócio de

exportação, porém é inegável que os grandes passos da indústria nacional foram dados na

Primeira República e é inegável que sem uma sociedade burguesa que não presenciou à

criação de um proletariado nacional, tudo poderia ter sido diferente.(FABER, 2008)

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