filosofia e sociologia - uceff.com.bruceff.com.br/downloads/material didatico/caderno de...

98
FILOSOFIA E SOCIOLOGIA Profa. Marinilse Netto [Mestre em Educação. Doutora em Engenharia e Gestão do Conhecimento] Chapecó2016

Upload: hoangxuyen

Post on 05-Nov-2018

220 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Page 1: FILOSOFIA E SOCIOLOGIA - uceff.com.bruceff.com.br/downloads/Material Didatico/CADERNO DE ESTUDOS... · Sociologia – Controle e ... 3 APRESENTAÇÃO ... estudo, pois, compreendemos

FILOSOFIA E SOCIOLOGIA

Profa. Marinilse Netto

[Mestre em Educação. Doutora em Engenharia e Gestão do Conhecimento]

Chapecó2016

Page 2: FILOSOFIA E SOCIOLOGIA - uceff.com.bruceff.com.br/downloads/Material Didatico/CADERNO DE ESTUDOS... · Sociologia – Controle e ... 3 APRESENTAÇÃO ... estudo, pois, compreendemos

1

Elaboração:

Prof.ª. Marinilse Netto

Propriedade da Faculdade Empresarial de Chapecó

FICHA CATALOGRÁFICA

M476f Netto, Marinilse

Filosofia e sociologia/ Marinilse Netto – Chapecó, SC: Unidade

Central

de Educação Faem Faculdade/UCEFF, 2016.

96 p.

Conteúdo online

1. Filosofia. 2. Sociologia. 3. Conhecimento. I. Título

CDD 100

Catalogação elaborada por Sara Weschenfelder CRB 14/1147

Page 3: FILOSOFIA E SOCIOLOGIA - uceff.com.bruceff.com.br/downloads/Material Didatico/CADERNO DE ESTUDOS... · Sociologia – Controle e ... 3 APRESENTAÇÃO ... estudo, pois, compreendemos

2

DISCIPLINA:

FILOSOFIA E SOCIOLOGIA

EMENTA:

Sociologia geral. Ciência e sociologia. Controle. Estratificação. Mobilidade e mudanças sociais.

O sistema empresarial moderno: suas tendências. Visão sociológica das teorias das

organizações. Sociologia do processo produtivo. Sociologia do poder. O universo filosófico.

Conceito, objeto e caráter da filosofia. O conhecimento mítico, religioso e filosófico. O método

da filosofia. A filosofia como reflexão crítica. Filosofia e seus problemas. A lógica e seus

problemas. Operações básicas do intelecto: o silogismo. A problemática do conhecimento:

análise e possibilidades.

PROGRAMA DIDÁTICO:

Os materiais de estudo estão agrupados em três unidades nos dois grandes campos:

No campo da Filosofia:

Unidade I – Breve Introdução ao campo filosófico. Conceitos fundamentais da

Filosofia; O pensamento pré-socrático; O conhecimento mítico, religioso e filosófico.

Unidade II – A história da filosofia e a relação com a vida social; Base do

pensamento filosófico ocidental; Aristóteles: o caminho da ciência; A lógica.

Unidade III – Filosofia e Cultura; as questões discutidas na filosofia contemporânea;

Ética e sociedade.

No campo da Sociologia:

Unidade I – Breve Introdução ao Campo Sociológico; Sociologia geral; Ciência e

Sociologia – Controle e estratificação; Mobilidade e mudanças sociais.

Unidade II – O sistema empresarial moderno: suas tendências; Visão sociológica da

Teoria das Organizações.

Unidade III – Cultura organizacional. Sociologia do processo produtivo. Sociologia

do poder.

Page 4: FILOSOFIA E SOCIOLOGIA - uceff.com.bruceff.com.br/downloads/Material Didatico/CADERNO DE ESTUDOS... · Sociologia – Controle e ... 3 APRESENTAÇÃO ... estudo, pois, compreendemos

3

APRESENTAÇÃO

Viver sem filosofar é o que se chama ter os olhos fechados

sem nunca os haver tentado abrir.

René Descartes (1596-1650).

Caro (a) Acadêmico (a)!

Iniciamos uma nova jornada de estudos e é uma grande satisfação mediar um canal de

(in) formação sobre Filosofia e Sociologia através deste Caderno de Estudos. As matérias aqui

apresentadas têm por objetivo contribuir com a sua formação profissional e, do mesmo modo,

gerar meios de reflexões sobre a vida na sociedade atual.

Ao final de cada unidade de estudo você encontrará encaminhamentos de atividades que

proporcionarão reflexões sobre os assuntos abordados, constituindo possibilidades de

construção e organização do conhecimento.

Como qualquer proposição pedagógica, há um ‘recorte’ histórico e conceitual na seleção

dos conteúdos e na escolha didática demonstrando, deste modo, as próprias escolhas ou visão

de mundo desta docente.

Neste sentido, reiteramos que o material apresentado neste Caderno de Estudos constitui-

se um guia que pode ser ampliado através das referências bibliográficas apresentadas ao final

do mesmo. Do mesmo modo, salientamos que a sua participação por meio do auto estudo será

fator primordial para alcançarmos os objetivos aqui propostos, ou seja: Conhecer e refletir sobre

as perspectivas filosóficas e sociológicas no contexto histórico de formação do pensamento e

suas contribuições para a análise da vida social.

Conforme já destacado, de modo didático, os materiais de estudo estão agrupados em três

unidades nos dois grandes campos:

No campo da Filosofia estudaremos os seus princípios, conceitos e histórico, refletindo

sobre as principais questões discutidas na filosofia contemporânea, destacando a questão da

ética na sociedade, a política e as estruturas de poder.

No campo da Sociologia veremos quais são seus conceitos fundamentais, passando pela

formação do pensamento sociológico e as diferentes perspectivas clássicas e contemporâneas

de análise da vida social, refletindo sobre as principais transformações e suas imbricações na

sociedade contemporânea.

Salienta-se a necessidade de seu empenho e dedicação através da pesquisa e do auto

estudo, pois, compreendemos a tarefa docente como de um mediador na criação de condições

Page 5: FILOSOFIA E SOCIOLOGIA - uceff.com.bruceff.com.br/downloads/Material Didatico/CADERNO DE ESTUDOS... · Sociologia – Controle e ... 3 APRESENTAÇÃO ... estudo, pois, compreendemos

4

para aqueles que buscam o conhecimento. Jacques Delors (2010) diz que aprender é exercitar

sua cidadania plena, ter coragem de executar, de experimentar e erar na busca por acertar.

Aprender a fazer é aprender a usar construtivamente sua visão crítica, compreender o contexto

ao qual está inserido e agir ativamente sobre ele, fazendo-se auto de sua própria história.

Finalizando, a partir desse registro, entendemos que aprender a conhecer e aprender a

fazer são elementos indissociáveis e relacionam-se tanto com a tarefa docente quando a

discente.

Estarei à disposição para elucidar possíveis problemas ou recomendar novos materiais e

atividades, contudo, cabe a você acadêmico (a) o interesse no aprofundamento dos estudos de

forma disciplinada e autônoma.

Bons estudos!

Profa. Marinilse Netto, Dra.

Julho de 2016.

Page 6: FILOSOFIA E SOCIOLOGIA - uceff.com.bruceff.com.br/downloads/Material Didatico/CADERNO DE ESTUDOS... · Sociologia – Controle e ... 3 APRESENTAÇÃO ... estudo, pois, compreendemos

5

FILOSOFIA

Caderno de Estudos

UNIDADE I

Breve Introdução ao Campo Filosófico

Conceitos fundamentais da Filosofia - O pensamento pré-socrático

O conhecimento mítico, religioso e filosófico

UNIDADE II

A história da filosofia e a relação com a vida social

Base do pensamento filosófico ocidental

Aristóteles: o caminho da ciência. A lógica

UNIDADE III

Filosofia e cultura - Relações

As questões discutidas na filosofia contemporânea

Ética e sociedade

Professora/Autora

Marinilse Netto, Dra.

Page 7: FILOSOFIA E SOCIOLOGIA - uceff.com.bruceff.com.br/downloads/Material Didatico/CADERNO DE ESTUDOS... · Sociologia – Controle e ... 3 APRESENTAÇÃO ... estudo, pois, compreendemos

6

APRESENTAÇÃO DOS ESTUDOS

Caro (a) acadêmico (o) da UCEFF Faculdades!

Para facilitar a sua compreensão, organizamos este Caderno de Estudos de Filosofia em

três unidades. Esta primeira unidade divide-se em três temas/assuntos:

Breve Introdução ao Campo Filosófico

Conceitos fundamentais da Filosofia - O pensamento pré-socrático

O conhecimento mítico, religioso e filosófico

Ao final de cada tema estudado indicamos atividades de auto estudo que são de grande

importância para a compreensão dos assuntos apresentados. Será através delas que você terá a

possibilidade de construção do conhecimento e a reflexão crítica, estabelecendo relações entre

o que estudou com a sua prática pessoal e profissional.

De modo geral, a disciplina está voltada para as reflexões que abarcam os usos, as

possibilidades e os limites da razão, do conhecimento, da ciência e da ética, especialmente a

partir de um percurso histórico que possa contribuir para as tematizações referentes à cultura

contemporânea.

Esta unidade busca estabelecer as primeiras noções sobre o campo filosófico, seus

principais conceitos e fundamentações.

Vamos aos estudos!

1BREVE INTRODUÇÃO AO CAMPO FILOSÓFICO

O que são questões filosóficas e como os filósofos tentam respondê-las?

Por exemplo: De onde veio o universo? Por que as coisas existem?

A filosofia faz perguntas fundamentais e muitas vezes perturbadoras sobre a vida.

Mas a filosofia nasceu como exatamente o exercício de perguntar “o que é isso ou aquilo? ”, o que é

a essência de cada coisa.

Os estudos filosóficos se voltam para a compreensão e interpretação da realidade em

todos os seus aspectos, desde a origem e a essência do ser até questões mais concretas da vida,

como a cultura, a política, a ética e a estética.

Historicamente a Filosofia nasceu na ‘ágora’, praça pública, espaço de interação entre os

antigos gregos, principalmente os atenienses, discutiam assuntos ligados à vida da cidade

AULA 1

Page 8: FILOSOFIA E SOCIOLOGIA - uceff.com.bruceff.com.br/downloads/Material Didatico/CADERNO DE ESTUDOS... · Sociologia – Controle e ... 3 APRESENTAÇÃO ... estudo, pois, compreendemos

7

(pólis). A ‘ágora’ era um espaço para discutir sobre religião (eventos, cerimônias) e economia

(negociações, acordos econômicos, comércio de mercadorias, etc). Era ali que tomava forma a

‘eclésia’, a assembleia dos cidadãos para decidirem sobre os temas importantes de sua cidade.

Filosofar é o ato de refletir e questionar a realidade humana, formando conceitos que

sejam capazes de traduzir a realidade pensada. Como um campo científico, a Filosofia age de

modo a mudar a forma de pensar, operando na ideia de desconstruir a visão de senso comum

ou o pensamento mítico, e desse modo, elevando o pensamento ao senso crítico e à razão.

Neste sentido, a formação do pensamento filosófico se deu na passagem entre o

entendimento a partir do mito para a compreensão a partir da razão. As crenças ou o

entendimento de senso comum dá lugar para a razão baseada em elementos físicos presentes na

natureza, os fenômenos.

Normalmente, a Filosofia é reconhecida como uma criação do gênio grego, ou seja,

ela teria nascido em Mileto, cidade localizada em uma colônia grega (Jônia) da Ásia

Menor, atual Turquia, no século VI antes de Cristo, com Tales de Mileto. A esse

respeito, porém existem divergências, contestações, que podemos encontrar mesmo

entre os antigos, entre historiadores do século XVIII, e entre orientalistas em geral,

que não creem ser a Filosofia uma criação original da Grécia, mas que elementos

anteriores oriundos de outras civilizações já conteriam elementos que desdobrar-se-

iam no que hoje conhecemos como Filosofia. (HOBUSS, 2014, p.17).

A concepção do surgimento da Filosofia na Grécia, no século VI a.C, se dá apresentação

de pensadores denominados pré-socráticos que buscavam a ‘arché’, ou seja, o princípio

primeiro de todas as coisas ou ainda, o princípio pelo qual tudo vem a ser

Entre as razões para a origem da Filosofia na civilização grega está a produção literária

(poemas de Homero e de Hesíodo), composta por características que mostram, entre outras

questões que: (a) as narrativas épicas retratam o senso de harmonia, de proporção e de limite;

(b) não se limitam a narrar os fatos, mas buscam suas causas e razões; (c) apresentam a realidade

A palavra Filosofia possui origem grega nos

termos philos = amigo e sophia = sabedoria.

Filósofo é aquele que é amigo do saber.

Arché ou Arqué (em grego antigo: ἀρχή)

caracteriza o início, o desenvolvimento e o fim de

tudo ou de todas as coisas.

Page 9: FILOSOFIA E SOCIOLOGIA - uceff.com.bruceff.com.br/downloads/Material Didatico/CADERNO DE ESTUDOS... · Sociologia – Controle e ... 3 APRESENTAÇÃO ... estudo, pois, compreendemos

8

em sua inteireza: deuses e homens, céu e terra, guerra e paz, bem e mal, alegria e dor, etc; (d)

exaltam a justiça como valor supremo e enfatizam a justa medida: nem o excesso, nem a falta;

(e) os deuses têm a mesma natureza dos homens; tudo faz parte de uma mesma natureza, tudo

é natural, nada há fora da natureza.

Outra questão importante é que não existe um livro sagrado da civilização grega, o que

denota amplo espaço cultural para o desenvolvimento do pensamento filosófico, o que não

aconteceu nos países em que havia uma religião comandada por sacerdotes zelosos dos

ensinamentos sagrados. Ainda, o povo grego beneficiou-se de uma grande liberdade política,

em comparação aos outros povos.

Durante os séculos VII e VI a.C, a Grécia passou por um desenvolvimento econômico

muito acentuado, com uma forte indústria artesanal que deu origem a centros de distribuição

fora da Grécia. Essas colônias sustentaram uma classe de pessoas livres que fez oposição ao

poder político dos feudos. A filosofia é grega, mas não surgiu no interior da Grécia: surgiu nas

colônias gregas. Mileto foi uma das primeiras colônias a atingir uma situação de bem-estar

social que proporcionou uma liberdade política inédita e foi justamente nessa colônia,

localizada onde hoje é a Turquia, que surgiram os primeiros filósofos.

O pensamento filosófico (com origem nas colônias) diferenciava-se do pensamento

mítico pois pretendia explicar a totalidade da ‘physis’; buscava indicar o elemento fundamental

e o princípio de todo o ‘cosmos’, ou seja, o ‘arché’; o ‘arché’ era compreendido como algo que

pertencia à própria ‘physis’; a razão (logos) era considerada capaz de compreender inteiramente

a ‘physis’.

Todos esses fatores, considerados juntos, são exclusivos da civilização grega; é muito

provável que sem eles a filosofia não viesse a surgir naquele momento e lugar, e concebível

que a filosofia, tal como a conhecemos, não tivesse jamais surgido. “Outros povos possuem

santos, enquanto os gregos, por sua vez, têm sábios”, diz Nietzsche (2008, p.36).

Muitas das coisas que defenderam provaram-se falsas, e mesmo inconsistentes, mas o

método subjacente era claro, a tentativa de compreensão da realidade baseada apenas e

tão somente na razão, o que os diferenciava dos orientais, a quem certamente não faltava

racionalidade, mas uma racionalidade perpassada pelo aspecto mítico-religioso.

(HOBUSS, 2014, p.19-20).

Physis = conjunto de todas as coisas. Origem.

Cosmos = Ordem, organização. Contrário de

Caos.

Logos = Razão, a linguagem, a palavra.

Page 10: FILOSOFIA E SOCIOLOGIA - uceff.com.bruceff.com.br/downloads/Material Didatico/CADERNO DE ESTUDOS... · Sociologia – Controle e ... 3 APRESENTAÇÃO ... estudo, pois, compreendemos

9

Sobre o papel da Filosofia nos diferentes aspectos da vida humana, pode-se dizer que, por

sua característica pela busca do conhecimento, propicia o desenvolvimento e aprimoramento

da consciência crítica e da emancipação do ser. Como um instrumento da razão, propõe o

despertar para o pensar, o refletir sobre as coisas ou sobre aquilo que é aparentemente finito.

Os estudos filosóficos possibilitam a criação de conceitos, ou seja, o conjunto de ideias que

formam o juízo sobre algo. O conceito é um signo determinado para um objeto, ou seja, o

conceito em filosofia manifesta a subjetividade da interpretação do sujeito de sua realidade de

forma crítica.

Fonte: www.agenciaapz.com.br. Acesso em 26/07/2016.

Como ressaltado, a forte característica da Filosofia é o questionamento, a reflexão e a

dúvida. O questionamento gera reflexão, a reflexão gera novos questionamentos (e novas

dúvidas), impulsionando para novos processos de reflexão. Tanto a ciência quanto a religião

assumem uma resposta como objetivo final, absoluta e verdadeira. Para o filósofo, a dúvida é

uma possibilidade de reflexão e a pergunta é tão ou mais importante quanto a resposta. “Todos

os homens possuem opiniões, mas poucos homens pensam” cita Berkeley apud Hobuss (2014,

p.5).

Agora que demos os primeiros passos para a compreensão da Filosofia e a relação com

o conhecimento e com base nas questões apresentadas realize a atividade 1.

Para refletir:

O que temos a aprender com as origens e princípios da

Filosofia? Qual é o nível de questionamentos que

colocamos em nossa vida e em nossas atividades

profissionais? Por que a dúvida nos causa insegurança?

Page 11: FILOSOFIA E SOCIOLOGIA - uceff.com.bruceff.com.br/downloads/Material Didatico/CADERNO DE ESTUDOS... · Sociologia – Controle e ... 3 APRESENTAÇÃO ... estudo, pois, compreendemos

10

Todos nós temos crenças filosóficas

[Eyewitness Companions: Philosophy, 2007].

A filosofia é por vezes rejeitada como uma disciplina com “a cabeça nas nuvens”, sem

relevância para a vida cotidiana. A verdade é que ela pode ser, e com muita frequência é,

de fato muito relevante. Embora talvez sem o perceber, todos temos crenças filosóficas.

Tenho certeza, p.ex., de que você, como eu, supõe que o passado é um guia razoavelmente

confiável para o futuro. Essa é uma crença filosófica. Podemos acreditar que Deus existe.

Ou podemos acreditar que não. Essas também são crenças filosóficas. Todos nós temos

crenças filosóficas. Alguns creem que temos almas imortais, enquanto outros supõem que

somos seres puramente materiais. Muitos acreditam que as coisas são moralmente certas

ou erradas independentemente do que possamos supor, enquanto outros afirmam que certo

e errado são uma questão de preferência subjetiva. Cremos que o mundo que vemos à

nossa volta é real e que existe mesmo quando não o observamos.

Com base nos estudos realizados, podemos dizer que os aspectos principais que propõe o

campo da Filosofia são: a dúvida, o questionamento e a reflexão.

Exponha sua visão sobre o tema estudado, justificando a relação entre os

três aspectos, relacionando-os com o campo filosófico e a busca pelo

conhecimento.

[ATIVIDADE 1]

Sugestões de leituras e vídeos complementares:

Filme: “O nome da Rosa” – Adaptação do livro de Humberto Eco. Retrata a relação com o

conhecimento no período medieval.

Vídeos:

Sabedoria e Antiguidade: Gregos - Documentário Discovery Civilization -

http://www.filosofia.com.br/tv_show.php?id=428

Sites: http://www.filosofia.com.br/dicionario.php.

O Que é Filosofia por Mário Sérgio Cortella. Disponível: https://www.youtube.com/watch?v=Xsi6L9HeDCM

Page 12: FILOSOFIA E SOCIOLOGIA - uceff.com.bruceff.com.br/downloads/Material Didatico/CADERNO DE ESTUDOS... · Sociologia – Controle e ... 3 APRESENTAÇÃO ... estudo, pois, compreendemos

11

2 CONCEITOS FUNDAMENTAIS DA FILOSOFIA - A FILOSOFIA PRÉ-

SOCRÁTICA

No estudo da história da filosofia, os primeiros filósofos são chamados de pré-socráticos.

Já vimos que durante o longo período pré-socrático, os conceitos fundamentais segundo Barnes

(1997, p.20-24) eram quatro: 1- Kosmos (Universo): esse conceito pressupõe que o universo é

um ser totalmente ordenado, composto de beleza e harmonia; 2 - Physis (Natureza): a natureza

possui dois aspectos fundamentais. Em primeiro lugar, é a natureza que subjaz a todas as coisas.

Os pré-socráticos estudam qual é a natureza das coisas, isto é, aquilo que lhe é próprio, que lhe

pertence a si mesma; 3 -Arché (Princípio): é o princípio originário de todas as coisas, de onde

todas provêm; 4 - Logos (Razão): é o caráter distintivo da filosofia antiga, sua característica

fundamental. Devemos dar razões, explanar, o porquê das ocorrências do mundo. Os primeiros

filósofos foram chamados ‘physikoi’, físicos, eram assim denominados porque estudavam a

‘physis’, a natureza. Eram, pode-se dizer, cientistas em um período em que não havia uma

distinção entre ciência e filosofia.

O termo pré-socrático indica uma tendência de pensamento, estando relacionado também

com filósofos que viveram na mesma época de Sócrates e até mesmo depois dele. Os pré-

socráticos buscavam a origem natural do universo, as transformações que ocorriam e seu

destino. Para isso utilizavam aforismos (expressão moral que é compreendida por meio de

poucas palavras) para relatar sobre a natureza utilizando conceitos metafísicos e místico-

religiosos.

Aquilo que une os filósofos pré-socráticos é a preocupação em perguntar e compreender

a natureza do mundo (a physis). Queriam entender a origem, aquilo que originou todas as coisas,

o princípio delas. Os filósofos pré-socráticos são divididos em escolas do pensamento: Escola

Jônica, Escola Itálica, Escola Eleática, Escola Atomística; de acordo com o local e problemas

discutidos por seus pensadores.

2.1 A ESCOLA JÔNICA

A filosofia da Escola de Milesiana (ou de Mileto) tem como característica fundamental a

busca pelo princípio (arché) primeiro de todas as coisas do universo e tem como principais

representantes Tales de Mileto (625/4-558/6 a.C.), Anaximandro de Mileto (610-547 a.C.),

Anaxímenes (585-528/5 a.C.) e Heráclito de Éfeso (540-470 a.C.)

AULA 2

Page 13: FILOSOFIA E SOCIOLOGIA - uceff.com.bruceff.com.br/downloads/Material Didatico/CADERNO DE ESTUDOS... · Sociologia – Controle e ... 3 APRESENTAÇÃO ... estudo, pois, compreendemos

12

Segundo Tales é a água o princípio a partir do qual são formadas todas as coisas,

contrariando filósofos que acreditavam que o princípio de todas as coisas se reduzia aos

princípios materiais. Para Anaximandro a terra é esférica e ocupa o centro do universo. Ao

contrário de Tales, Anaximandro não apresenta um elemento material específico como o

princípio de todas as coisas. Para ele o princípio primeiro de todas as coisas é o ‘apeiron’ (o

ilimitado), ou seja, “todo o nascimento e morte de todas as coisas existentes” segundo Hobuss

(2014, p.31). Anaxímenes, sucessor de Anaximandro retorna a teoria original de Tales e

estabelece o ar como o princípio de todas as coisas.

Heráclito é um dos principais filósofos do mundo grego, sendo uma referência nas

filosofias que se seguiram. Pensador complexo, considerado “o obscuro” pelo fato de sua forma

enigmática de se expressar. Heráclito é conhecido pela famosa fórmula “tudo muda” (panta

rei), ou seja, tudo está submetido a um fluxo contínuo, sejam os indivíduos, sejam os processos

naturais. De acordo com Heráclito, o elemento que representa a natureza das coisas é o fogo.

Apesar das diferenças sobre qual seria o elemento primeiro, os filósofos da Escola Jônica

pensavam o mundo como algo em movimento, a água que congela e evapora, o ‘ápeiron’ que

não pode ser determinado e não é estático, o ar nada palpável e o fogo que está sempre em

movimento e transformando o que queima.

2.2 A ESCOLA ITÁLICA

A Escola Itálica se desenvolveu no sul da Itália. O filósofo principal desta escola foi

Pitágoras de Samos. Nascido na ilha de Samos, foi na península itálica, na cidade de Crotona,

onde ele desenvolveu suas ideias. Pensou serem os números as essências das coisas. Suas

investigações da física e matemática eram misturadas com misticismo. São atribuídos aos

discípulos de Pitágoras, os pitagóricos, diversas descobertas matemáticas.

De acordo com Hobuss (2014, p. 15), Pitágoras aperfeiçoou a geometria – descobrindo

“os princípios por um exame dos teoremas”, a partir de “um método não empírico, mas

puramente intelectual; é ele precisamente quem descobriu a teoria das proporções e a existência

de uma estrutura das formas do universo”, tendo se dedicado mais detidamente ao aspecto

aritmético dessa última, tendo sido o descobridor de que, em um triângulo retângulo, o quadrado

da hipotenusa é igual à soma dos quadrados dos catetos, o conhecido Teorema de Pitágoras.

Page 14: FILOSOFIA E SOCIOLOGIA - uceff.com.bruceff.com.br/downloads/Material Didatico/CADERNO DE ESTUDOS... · Sociologia – Controle e ... 3 APRESENTAÇÃO ... estudo, pois, compreendemos

13

Pitágoras deixou contribuições importantes no que concerne a uma filosofia da

matemática, não podendo ser enquadrado no mesmo âmbito temático dos filósofos da Escola

Jônica, na medida em que sua pretensão não era estabelecer o princípio constitutivo do mundo,

mas apenas mostrar as relações numéricas que podem ser encontradas no mesmo.

2.3 ESCOLA ELEÁTICA

A Escola Eleática desenvolveu-se e Eléia, no sul da Itália, e teve como característica

básica a afirmação de que o movimento não existe, sendo, por conseguinte, antípoda à

concepção de Heráclito sobre o devir, a mudança constante. Para os Eleatas, existe somente o

Ser, aquilo que é/existe, a permanência, negando de modo peremptório a existência do devir: a

ideia de mudança é apenas um erro proveniente dos nossos sentidos. Os nomes que compõe a

Escola são Xenofonte de Eléia, Parmênides de Eléia (530 – 460ac), Zenão de Eléia (504/1 -

?a.C.) e Melisso de Samos. Trataremos aqui dos dois principais nomes, Parmênides e seu

discípulo Zenão, famoso pelos seus exemplos sobre a irrealidade do movimento.

Interessante:

Do ponto de vista místico-religioso, a teoria pitagórica seguia regras estritas,

tais como: não atiçar o fogo com uma faca, não forçar a balança, não sentar

sobre a medida de grãos, não comer o coração, ajudar a depor a carga e não

agravá-la, ter sempre as cobertas enroladas juntas, não pôr a imagem de

um deus na placa de um anel, não deixar a marca de uma panela nas cinzas,

não esfregar um vaso com uma tocha, não urinar voltado para o sol, não

caminhar por fora da estrada, não apertar mãos com facilidade, não ter

andorinhas sob o próprio teto, não criar animais com os artelhos aduncos, não

urinar nem pisar sobre unhas ou cabelos cortados, afastar de si as facas afiadas,

não voltar atrás na fronteira quando sair da pátria” (DL VIII 17) [...] Pitágoras

prescrevia a abstinência de favas porque provocavam flatulência [...] Pitágoras

preconizava a abstinência de favas porque estas se assemelham aos órgãos

genitais ou às portas do Hades [...] (DL VIII 24, 34). Obviamente, estes

preceitos têm a sua razão de ser no interior da escola, como, por exemplo, o

preceito de não atiçar o fogo com a faca, já que isso expressaria “não se deve

provocar a ira ou o orgulho ferido dos poderosos”, ou mesmo “não

forçar a balança, não atentar contra a equidade e a justiça”. (HOBUSS

(2014, p.34-35).

Page 15: FILOSOFIA E SOCIOLOGIA - uceff.com.bruceff.com.br/downloads/Material Didatico/CADERNO DE ESTUDOS... · Sociologia – Controle e ... 3 APRESENTAÇÃO ... estudo, pois, compreendemos

14

2.4 A ESCOLA ATOMÍSTICA

A Escola Atomística, ou atomismo, desenvolveu-se a partir da ideia de que são vários os

elementos que formam as coisas. A ideia de átomo (a = negação e tomos = divisão, ou seja,

aquilo que não pode ser dividido) foi desenvolvida por Leucipo de Mileto e depois trabalhada

por Demócrito de Abdera e Epicuro de Samos. Para Leucipo, o mundo é formado a partir do

choque aleatório e imprevisível de infinitos átomos.

3 O CONHECIMENTO MÍTICO, RELIGIOSO E FILOSÓFICO

A Filosofia diverge da religião especialmente porque a religião busca as causas e os

princípios por meio de crenças e dogmas e as respostas são dadas por meio da devoção e fé. A

Filosofia também diverge da ciência por não depender somente da experiência. Entretanto, a

Filosofia relaciona-se tanto com a religião como com a ciência. Vamos entender como isso é

possível?

A partir das concepções e principais filósofos apresentados nesta aula, identifique e

explique qual é a oposição entre a Escola Jônica e a Escola Italiana.

[ATIVIDADE 2]

Sugestões de leituras e vídeos complementares:

Artigo: Teorema de Pitágoras. Disponível:

http://cejarj.cecierj.edu.br/Material_Versao7/Matematica/Mod0/Matematica_Unidade_10_S

eja.pdf

Vídeos:

Mário Sérgio Cortella. Se você não existisse, que falta faria? Disponível:

https://www.youtube.com/watch?v=3rzvOqrtWIc.

Teorema de Pitágoras. Disponível: https://www.youtube.com/watch?v=NZZpRJ6lIz4

AULA 3

Page 16: FILOSOFIA E SOCIOLOGIA - uceff.com.bruceff.com.br/downloads/Material Didatico/CADERNO DE ESTUDOS... · Sociologia – Controle e ... 3 APRESENTAÇÃO ... estudo, pois, compreendemos

15

Já vimos que a forte característica da Filosofia é o questionamento, a dúvida e a reflexão.

Existem aspectos da natureza e dos seres humanos que despertam a busca pelo conhecimento

novo, algo a ser explorado que possa justificar a compreensão das coisas, entre outros aspectos

da vida humana.

A ciência e a religião buscam uma resposta final para seus dilemas, a Filosofia aceita a

dúvida, pois esta é para ela uma possibilidade de reflexão.

Os mitos podem ser descritos como a base das religiões, pois eles não somente explicam

a origem do mundo e dos animais (incluindo os humanos), mas apresentam seus deuses e

deusas, que geralmente são os protagonistas e autores da criação, são aqueles que detém o poder

e a sabedoria e realizam a distinção entre o bem e o mal. Também são os deuses e deusas

responsáveis pelo julgamento dos humanos.

3.1 A PASSAGEM DO MITO PARA A RAZÃO – O NASCIMENTO DA FILOSOFIA

Os gregos usavam as narrativas de mitos para explicar a origem do mundo (cosmos). Mito

é uma narrativa sobre a origem de alguma coisa (origem dos astros, da terra, dos homens, do

fogo, das guerras, etc.). O mito narra a origem das coisas que acontecem por meio de lutas, de

alianças, de trocas, relações sexuais entre forças sobrenaturais que governam o mundo e o

destino dos homens. Os escolhidos dos Deuses eram os narradores que recebiam as revelações.

O mito, visto dessa forma, era, incontestável e inquestionável.

Page 17: FILOSOFIA E SOCIOLOGIA - uceff.com.bruceff.com.br/downloads/Material Didatico/CADERNO DE ESTUDOS... · Sociologia – Controle e ... 3 APRESENTAÇÃO ... estudo, pois, compreendemos

16

A Filosofia em sua origem é uma cosmologia, ou seja, uma explicação racional para a

origem do mundo e sobre as causas das transformações e repetições das coisas. Há uma

explicação que diz que a Filosofia rompeu com os mitos, sendo a primeira explicação cientifica

da realidade. Por outro lado, pesquisadores das ciências sociais dizem que a Filosofia nasceu

(de modo lento) no interior dos próprios mitos, como uma forma de racionalizá-los. Mas há

outra corrente de pensamento que diz que a Filosofia, percebendo as contradições dos mitos,

foi racionalizando as narrativas, transformando-as em uma explicação nova e diferente.

Segundo Tomelin e Siegel (2004, p.21) até o século XIX o termo ‘Filosofia’ incluía o que

hoje conhecemos como ‘ciência’. Cada área da ciência passou a ter um objeto de investigação

exclusivo e a Filosofia estabeleceu-se como a ‘mãe das ciências’. De acordo com os autores,

“todas as coisas, além de poderem ser examinadas em nível científico, podem sê-lo também em

nível filosófico”. As ciências estudam determinada dimensão da realidade, a Filosofia tem por

objeto o todo, a totalidade, o universo tomado globalmente. (p.23).

O quadro abaixo as diferenças entre o Mito e a Filosofia.

MITO FILOSOFIA

Tinham por objetivo narrar as coisas

como eram ou tinham sido no

passado.

Preocupa-se em explicar como e por

que, no passado, no presente e no

futuro (na totalidade do tempo) as

coisas são como são.

O mito narra a origem através de

genealogias, rivalidades e alianças

entre seres mortais e imortais.

A Filosofia explica a produção natural

das coisas por elementos e causas

naturais e impessoais.

O mito narra a origem dos seres

celestes (astros), terrestres (plantas,

animais, seres humanos) e marinhos

pelo casamento entre Deuses.

A Filosofia explica o surgimento

desses seres por composição,

combinação e separação dos quatro

elementos úmido, seco, quente e frio,

ou água, terra, foro e ar.

O mito não se importa com as

contradições.

A Filosofia não aceita a contradição.

Entre os séculos VI e VII, a sociedade grega passa por uma grande transformação,

impulsionada pelas navegações marítimas, a invenção da escrita, do calendário e da moeda,

pelo surgimento da vida urbana e o afloramento da política e os mitos vão aos poucos sendo

substituídos por novos modos de narrar as histórias, a origem das coisas e vida do ser humano.

Por não explicarem de modo racional, os mitos são relegados a um saber comum, não científico.

Page 18: FILOSOFIA E SOCIOLOGIA - uceff.com.bruceff.com.br/downloads/Material Didatico/CADERNO DE ESTUDOS... · Sociologia – Controle e ... 3 APRESENTAÇÃO ... estudo, pois, compreendemos

17

[ATIVIDADE 3]

Sugestões de leituras e vídeos complementares:

Livro: O poder do mito / Joseph Campbell, Flowers; tradução de Carlos Felipe

Moisés. -São Paulo: Palas Athena, 1990. Disponível:

http://www.projetovemser.com.br/blog/wp-

includes/downloads/joseph_campbell_%20o_poder_do_mito.pdf Filme: Filme Pompéia Completo Dublado HD. Disponível: https://www.youtube.com/watch?v=r2jrO0z2FWo

Vídeo:

MITOS, RITOS E RELIGIÕES. Disponível: https://www.youtube.com/watch?v=QIfSXfzKdjY

Com base no texto estudado, responda:

1. De que forma o mito contribuiu para o

pensamento filosófico?

2. Por que as condições históricas

possibilitaram a passagem para o pensamento

racional?

Page 19: FILOSOFIA E SOCIOLOGIA - uceff.com.bruceff.com.br/downloads/Material Didatico/CADERNO DE ESTUDOS... · Sociologia – Controle e ... 3 APRESENTAÇÃO ... estudo, pois, compreendemos

18

Caderno de Estudos

UNIDADE II

A história da filosofia e a relação com a vida social

Base do pensamento filosófico ocidental

Aristóteles: o caminho da ciência. A lógica

Professora/Autora

Marinilse Netto, Dra.

Page 20: FILOSOFIA E SOCIOLOGIA - uceff.com.bruceff.com.br/downloads/Material Didatico/CADERNO DE ESTUDOS... · Sociologia – Controle e ... 3 APRESENTAÇÃO ... estudo, pois, compreendemos

19

APRESENTAÇÃO DOS ESTUDOS

Caro (a) acadêmico (o) da UCEFF Faculdades!

Estamos nos dirigindo para a segunda unidade deste Caderno de Estudos de Filosofia.

Nossos estudos serão guiados por três temas/assuntos:

A história da filosofia e a relação com a vida social

Base do pensamento filosófico ocidental

Aristóteles: o caminho da ciência. A lógica

Ao final de cada tema estudado indicamos atividades de auto estudo que são de grande

importância para a compreensão dos assuntos apresentados. Será através delas que você terá a

possibilidade de construção do conhecimento e a reflexão crítica, estabelecendo relações entre

o que estudou com a sua prática pessoal e profissional.

De modo geral, os temas escolhidos para essa unidade mostram como a Filosofia está

presente em nosso dia a dia. Vamos ver as qualidades do pensamento filosófico no ocidente e

suas grandes contribuições para a ciência.

Iniciando...

4 A HISTÓRIA DA FILOSOFIA E A RELAÇÃO COM A VIDA SOCIAL

Nas relações entre a Filosofia e a vida social, poderíamos escolher entre os campos da

cultura, o social, o político e o educacional.

Definimos começar pela educação já que a Filosofia propicia ao aluno a oportunidade de

desenvolver um pensamento independente e crítico, permitindo que o mesmo experimente um

pensar individual.

De acordo com o educador Anísio Teixeira, na Filosofia, a educação é vista como o

processo pelo qual os indivíduos descobririam suas potencialidades. Segundo o educador norte

americano John Dewey, as relações entre filosofia e educação são intrínsecas, pois as filosofias

são, em essência, teorias gerais de educação.

Sendo o campo educativo espaço onde os jovens adquirem ou formam, conforme cita

Teixeira “as atitudes e disposições fundamentais, não só intelectuais como emocionais, para

AULA 4

Page 21: FILOSOFIA E SOCIOLOGIA - uceff.com.bruceff.com.br/downloads/Material Didatico/CADERNO DE ESTUDOS... · Sociologia – Controle e ... 3 APRESENTAÇÃO ... estudo, pois, compreendemos

20

com a natureza e o homem”, torna-se seguro dizer que a educação constitui o campo de

aplicação das filosofias.

Muito antes, que a Filosofia fosse formuladas em sistemas, a educação já consistia em o

meio de transmissão da visão do mundo e do homem. Os estudos filosóficos formais nascem,

assim, como estudos de educação.

Outra relação importante é a que ocorre entre a Filosofia e a Política. Na civilização grega

havia a organização das cidades-estados chamadas ‘pólis’, as quais influenciaram na criação de

termos como ‘politiké’, a política. De modo geral, a política passou a liderar todos os assuntos

referentes à ‘pólis’, e por consequência, as sociedades. Assim nasce a Filosofia Política que

investiga todas as questões referentes ao convívio em sociedade e aos espaços públicos e

políticos.

Antonio Gasparetto Junior, em seu artigo publicano no site Info Escola, diz que os gregos

refletiam sobre suas inquietações e buscavam soluções que acreditavam ser eternas e aplicáveis

para todas as sociedades. Na origem, a filosofia grega empenhou-se ao entendimento da

natureza, seus eventos e fenômenos. A partir de Sócrates, Platão e Aristóteles ocorrem grandes

mudanças no pensamento grego, pois esses filósofos colocam o ser humano como ponto central

de abordagem em seus estudos e teses.

Sócrates (469-399 a.C) foi julgado e condenado à morte por ser considerado um

subversor, mas deixou um grande legado reflexivo, ainda que fosse analfabeto. Seu discípulo e

seguidor Platão encarregou-se de manter vivo o pensamento socrático, mas também ofereceu

sua própria contribuição para a filosofia, especialmente com a obra “A República”, na qual

discutiu as possibilidades de uma sociedade justa e ideal. No entanto, Aristóteles é que se

tornaria célebre para a teoria política grega, estabelecendo o formato de democracia dos gregos.

A Filosofia Política é indissociável de nossa vida social, foi com base nela que forma

criados os ideais e práticas sobre os limites e a organização do Estado, as relações entre

sociedade e Estado, entre economia e política, sobre o poder do indivíduo, a liberdade, questões

de justiça e de Direito, entre outras questões.

Page 22: FILOSOFIA E SOCIOLOGIA - uceff.com.bruceff.com.br/downloads/Material Didatico/CADERNO DE ESTUDOS... · Sociologia – Controle e ... 3 APRESENTAÇÃO ... estudo, pois, compreendemos

21

5 BASE DO PENSAMENTO FILOSÓFICO OCIDENTAL

- SÓCRATES, PLATÃO E ARISTÓTELES

Sócrates (469-399 a.C) não deixou registros escritos de sua teoria. O que se sabe desse

filósofo é composto pelos escritos de pensadores que vieram depois dele, especialmente seus

alunos Platão e Xenofonte. Para alguns historiadores e filósofos, os registros de Platão,

chamados “Diálogos” são os relatos mais abrangentes de sua teoria. Sócrates se tornou

renomado por suas contribuições no campo da Ética e até hoje seus pensamentos são utilizados

em discussões.

Segundo Platão (428/427-348/347 a.C), Sócrates acreditava que o relevante era o espírito

crítico, assim como o reconhecimento da própria ignorância era o primeiro e decisivo passo

Sugestões de leituras e vídeos complementares:

Artigos:

Anísio Teixeira. Filosofia e educação. Revista Brasileira de Estudos Pedagógicos. Rio de

Janeiro, v.32, n.75, jul./set. 1959. p.14-27.

Disponível: http://www.bvanisioteixeira.ufba.br/artigos/filosofia.html.

Educação e Política. Disponível:

http://www.portalconscienciapolitica.com.br/educa%C3%A7%C3%A3o%20e%20politica/

A Filosofia: "filha da cidade". Disponível:

http://www.portalconscienciapolitica.com.br/filosofia-politica/

[ATIVIDADE 4]

CONSCIÊNCIA POLÍTICA

[SITE DEDICADO A INFORMAÇÃO E ESTUDOS POLÍTICOS]

ENDEREÇO: http://www.portalconscienciapolitica.com.br/

Caro(a) Acadêmico (a)!

Visite o sitio indicado abaixo (Portal Consciência

Política). Escolha 1 (um) entre os vários artigos e temas

apresentados pelo Portal.

Elabore uma resenha apresentando:

a) Titulo do artigo

b) Autor(es)

c) Principal argumentação apresentada pelo artigo

d) Diga qual foi a sua motivação para a escolha do

artigo selecionado.

AULA 5

Page 23: FILOSOFIA E SOCIOLOGIA - uceff.com.bruceff.com.br/downloads/Material Didatico/CADERNO DE ESTUDOS... · Sociologia – Controle e ... 3 APRESENTAÇÃO ... estudo, pois, compreendemos

22

para o conhecimento. Neste sentido, somente quando nos damos conta de que não sabemos (o

que pensávamos saber) é que damos início à busca para a descoberta do conhecimento.

Segundo registros de Platão, Sócrates possuía um talento especial para motivar as pessoas

‘a dar à luz’ o conhecimento inato que residia em suas mentes. O método ficou conhecido como

‘elenchus’, ou como nomeamos atualmente, dialética. Para o filósofo Hegel (1770-1831), a

dialética é regida segundo um conjunto de três elementos inter-relacionados -“tríade”, ou seja,

(1) a Tese - Afirmação de uma ideia; (2) Antítese - A negação da tese (afirmação de uma ideia

oposta, mas relacionada à tese); (3) Síntese – Negação da antítese, ou “negação da negação”.

Nova tese.

Dialética era, na Grécia antiga, a arte do diálogo. Aos poucos, passou a ser a arte de,

no diálogo, demonstrar uma tese por meio de uma argumentação capaz de definir e

distinguir claramente os conceitos envolvidos na discussão. (KONDER, 2000, p. 3).

A primeira etapa do método socrático consiste em reconhecer a própria ignorância,

assumindo que não sabemos tudo, reconhecendo nossos limites e as contradições de nossos

pensamentos através da interrogação ou do grego ‘ironia’ e do questionamento. Somente

quando reconhecemos a ignorância é que estamos preparados para reconstruir as nossas ideias,

neste sentido. Sócrates propunha a ‘maiêutica’, que em grego significa “parto das ideias”. A

maiêutica tinha por finalidade levar as pessoas a desenvolverem suas próprias ideias.

Para Sócrates ordem e coesão garantiam a promoção da ordem pública e a ética deveria

respeitar as leis, à coletividade. Como base de sua teoria, o filósofo acreditava que basta saber

o que é bondade para que seja bom. O conhecimento é visto como virtude e a educação como

forma de conhecer a si mesmo. É por meio do autoconhecimento que conhecemos melhor o

mundo e alcançamos a felicidade, segundo Sócrates. Ele não via a felicidade (como a sociedade

moderna convencionou) em bens materiais, mas em cultivar a verdade e a virtude. Sócrates via

também a superioridade do coletivo sobre o individual e acreditava que a obediência às leis

garantiriam a ordem e a vida em sociedade.

Page 24: FILOSOFIA E SOCIOLOGIA - uceff.com.bruceff.com.br/downloads/Material Didatico/CADERNO DE ESTUDOS... · Sociologia – Controle e ... 3 APRESENTAÇÃO ... estudo, pois, compreendemos

23

Contrariando as ideias dos sofistas, Sócrates desenvolveu uma filosofia baseada no

autoconhecimento, que consistia na investigação e no questionamento de sua própria vida.

“conhece-te a ti mesmo”, é uma de suas expressões que melhor representa o seu pensamento e

está diretamente relacionada com os seus ensinamentos.

Em sua tese, o filósofo Platão acreditava na vida após a morte e por isso não gozava dos

prazeres terrenos, conforme declarado no diálogo ‘República’. A felicidade estava para ele na

vida após a morte. Para tanto, Platão contemplava a ideia do Ser e do Bem, que para ele, a

partir desse Bem superior, o homem deveria procurar descobrir uma escala de bens que o

ajudasse a chegar ao absoluto.

Segundo sua teoria, o homem sábio é o homem virtuoso, que busca a ordem, a harmonia

e o equilíbrio em sua vida. A virtude o purificava e através da purificação o homem aprende a

desapegar do corpo e de tudo o que terreno. Idealista, Platão acreditava que o homem sábio era

aquele que buscava imitar ou assemelhar-se a Deus e para ele são as virtudes: justiça, prudência

ou sabedoria, fortaleza ou valor e temperança.

Na filosofia de Platão existem dois mundos, o primeiro é o mundo que podemos perceber

ao nosso redor, com nossos sentidos e o outro é o mundo das ideias, onde tudo é perfeito e

imutável. Vejamos uma história que Platão criou: o Mito da Caverna.

Quem eram os Sofistas?

Eram filósofos que defendiam a arte da argumentação como forma de evidenciar a

verdade dos fatos, “os sofistas ensinavam técnicas de persuasão para os jovens, que

aprendiam a defender a posição ou opinião A, depois a posição ou opinião contrária,

não-A, de modo que, numa assembleia, soubessem ter fortes argumentos a favor ou

contra uma opinião e ganhassem a discussão”. Etimologicamente a palavra sofista

significa sábio, porém ao longo dos tempos passaram a ser conhecidos como

impostores. Diziam que os ensinamentos dos filósofos cosmológicos estavam

repletos de erros e contradições e que não tinham utilidade para a vida da ‘polis’.

Apresentavam-se como mestres de oratória ou de retórica, afirmando ser possível

ensinar os jovens tal arte para que fossem bons cidadãos.

Page 25: FILOSOFIA E SOCIOLOGIA - uceff.com.bruceff.com.br/downloads/Material Didatico/CADERNO DE ESTUDOS... · Sociologia – Controle e ... 3 APRESENTAÇÃO ... estudo, pois, compreendemos

24

Segundo essa metáfora, vemos as coisas que conhecemos como se fossem reais, mas estas

não passam de sombras da realidade, ou seja, são ilusões. A verdade está do lado de fora da

caverna, no mundo das ideias, na luz.

Entre o mundo dos sentidos e o mundo das ideias estão as sensações e os erros que podem

provocar. Segundo Platão, tudo o que vemos e pecebemos são cópias mal feitas das ideias, que

O MITO DA CAVERNA

O mito fala sobre prisioneiros (desde o nascimento) que vivem presos em

correntes numa caverna e que passam todo tempo olhando para a parede do

fundo que é iluminada pela luz gerada por uma fogueira. Nesta parede são

projetadas sombras de estátuas representando pessoas, animais, plantas e

objetos, mostrando cenas e situações do dia-a-dia. Os prisioneiros ficam dando

nomes às imagens (sombras), analisando e julgando as situações.

Vamos imaginar que se um dos prisioneiros fosse forçado a sair das

correntes para poder explorar o interior da caverna e o mundo externo.

Entraria em contato com a realidade e perceberia que passou a vida

toda analisando e julgando apenas imagens projetadas por estátuas.

Voltaria para a caverna para passar todo conhecimento adquirido fora

da caverna para seus colegas ainda presos. Porém, seria chamado de

louco ao contar tudo o que viu e sentiu, pois, seus colegas só

conseguem acreditar na realidade que enxergam na parede iluminada

da caverna.

Veja o vídeo: O mito da caverna-Filosofia. https://www.youtube.com/watch?v=7-

BBKQ1sszI

Vamos entender:

A caverna é o mundo em que vivemos. As sombras representam as coisas

materiais e sensoriais que percebemos. O prisioneiro que se arrisca a sair da

caverna é o filósofo. A luz do exterior da caverna é a luz da verdade. O mundo

exterior é o mundo das ideias verdadeiras ou da verdadeira realidade. O

instrumento que liberta o filósofo e com o qual ele deseja libertar os outros

prisioneiros é a dialética. A visão do mundo real iluminado é a Filosofia.

Os prisioneiros chamam de louco e matam o filósofo (Platão está se

referindo à condenação de Sócrates) porque imaginam que o mundo

sensível é o mundo real, único verdadeiro.

Page 26: FILOSOFIA E SOCIOLOGIA - uceff.com.bruceff.com.br/downloads/Material Didatico/CADERNO DE ESTUDOS... · Sociologia – Controle e ... 3 APRESENTAÇÃO ... estudo, pois, compreendemos

25

são perfeitas e eternas. O que o filósofo almeja é que saibamos distinguir o verdadeiro do falso,

o semelhante do diferente, a essência da aparência.

Aristóteles (384-322 a.C) foi um filósofo grego, aluno de Platão, mas seguia as ideias de

Sócrates. Aristóteles é visto como um dos fundadores da filosofia ocidental e segundo seus

estudos, todo conhecimento e todo o trabalho visa a algum bem. O bem é a finalidade de toda

a ação, a busca do bem é que diferencia a ação humana da dos outros animais.

O filósofo considerava as virtudes éticas como justiça e coragem, habilidades emocionais

e sociais. Então, a ética, quando estudada e praticada melhora a nossa vida. Para vivermos bem

precisamos de amizade, prazer, honra e riqueza e a sabedoria deve ser adquirida através da

prática e de habilidades emocionais e sociais. “A educação tem raízes amargas, mas os frutos

são doces” e "o verdadeiro discípulo é aquele que consegue superar o mestre" escreveu

Aristóteles.

Em nossa próxima aula veremos como os estudos de Aristóteles relacionam-se com a

ciência e a lógica. Antes, porém, desenvolva as seguintes atividades:

Com base nos estudos dessa aula, realize as seguintes atividades:

1 – Pesquise o conceito de dialética;

2 - Exponha as principais ideias dos filósofos Sócrates, Platão e Aristóteles.

[ATIVIDADE 5]

Segundo Aristóteles há quatro causas na existência de algo:

1- Causa Material: daquilo que é feita a coisa, por exemplo, o ferro.

2- Causa Formal – é a coisa em si, por exemplo, a faca de ferro.

3- Causa Eficiente – aquilo que dá origem a coisa feita, por exemplo, as

mãos de um ferreiro.

4- Causa Final – seria a função para a qual a coisa foi feita, como por

exemplo, cortar a carne.

Page 27: FILOSOFIA E SOCIOLOGIA - uceff.com.bruceff.com.br/downloads/Material Didatico/CADERNO DE ESTUDOS... · Sociologia – Controle e ... 3 APRESENTAÇÃO ... estudo, pois, compreendemos

26

6 ARISTÓTELES: O CAMINHO DA CIÊNCIA. A LÓGICA

Konder (2000, p.4) diz que “segundo Aristóteles, todas as coisas possuem determinadas

potencialidades; os movimentos das coisas são potencialidades que estão se atualizando, isto é,

são possibilidades que estão se transformando em realidades efetivas”. Conforme já

apresentado, e de acordo com D’Ottaviano e Feitosa (2003, p.3):

Na antiguidade, os gregos foram preponderantes no cultivo, prática e gosto pelo

argumento. Entre os predecessores de Aristóteles (Platão, sem dúvida) devemos

chamar a atenção para o trabalho dos sofistas, classe de tutores privados da Grécia

antiga; e convém mencionarmos que paradoxos e argumentos falaciosos, argumentos

que, de premissas aparentemente verdadeiras e por passos aparentemente válidos,

levam a conclusões aparentemente falsas, eram conhecidos na Grécia antiga. A maior

parte da contribuição relevante de Aristóteles, para a lógica, encontra-se no grupo de

trabalhos conhecidos como Organon, mais especificamente nos Analytica Priora e no

De Interpretatione.

De acordo com UNESP (2013, p.10) a lógica surge como um “instrumento ao

conhecimento (em Grego, “episteme”) contraposto a mera opinião (em Grego, “doxa”),

distinção essa (entre conhecimento e opinião) que remonta, ao menos, ao filósofo grego Platão

(429–347 a.C.), mestre de Aristóteles.

Nesta aula veremos como estrutura-se a lógica na teoria aristotélica e suas relações com

o desenvolvimento da ciência moderna, como a conhecemos. Por exemplo, quando damos

início a uma pesquisa científica, devemos, a priori, escolher o método que guiará nossos passos.

As contribuições da estrutura criada por Aristóteles nos indicam caminhos seguros que poderão

dar credibilidade a nossa investigação e consequente análise dos resultados obtidos.

6.1 A LÓGICA

A história da Lógica começa com os trabalhos do filósofo desenvolvidos com formas de

raciocínio que, a partir de conhecimentos considerados verdadeiros, permitiam obter novos

Sugestões de site e vídeo complementares:

Vídeo: Filosofia e educação: Sócrates, Platão e Aristóteles. Disponível:

https://www.youtube.com/watch?v=K2mu76u8KKY.

Site: Só Filosofia. Disponível: http://www.filosofia.com.br/.

AULA 6

Page 28: FILOSOFIA E SOCIOLOGIA - uceff.com.bruceff.com.br/downloads/Material Didatico/CADERNO DE ESTUDOS... · Sociologia – Controle e ... 3 APRESENTAÇÃO ... estudo, pois, compreendemos

27

conhecimentos. Caberia à Lógica, a formulação de leis gerais de encadeamentos de conceitos e

juízos que levariam à descoberta de novas verdades.

A Lógica é a ciência que visa estudar e estabelecer leis formais que bem dirijam as

operações mentais. Como uma forma científica, a lógica trata das formas do pensamento em

geral (dedução, indução, hipótese, inferência etc...) e das operações intelectuais que visam à

determinação do que é verdadeiro ou não. Ou seja, a lógica é o estudo dos métodos e princípios

que permitem distinguir argumentos corretos e incorretos.

Para Aristóteles, o raciocínio (dedutivo) reduz-se essencialmente ao tipo determinado que

se denomina silogismo. A validade do argumento está diretamente ligada à forma pela qual ele

se apresenta.

D’Ottaviano e Feitosa (2003, p.3) dizem que muitos filósofos e historiadores

consideram a teoria do silogismo como a mais importante descoberta em toda a história da

lógica formal, pois não constitui apenas a primeira teoria dedutiva, mas também um dos

primeiros sistemas axiomáticos construídos.

Como um instrumento para verificar a validade ou não dos raciocínios, de modo

analítico, está estruturado segundo Aristóteles, a partir de:

1. INSTRUMENTAL – É instrumento do pensar.

2. FORMAL – Ocupa-se com a forma do pensamento.

3. NORMATIVA - Fornece leis e normas do pensamento.

4. DOUTRINA DA PROVA – Permite comprovar a verdade.

5. GERAL E ATEMPORAL – É universal e necessária.

SILOGISMO

Dedução formal tal que, postas duas proposições, chamadas de premissas, delas, por

inferência, se tira uma terceira, chamada conclusão.

Premissa: Todos os animais são

mortais.

Premissa: O gato é um animal.

Conclusão: O gato é mortal.

Argumento válido!

Premissa: Se eu ganhar na loteria

serei rico.

Premissa: Não ganhei na loteria.

Conclusão: Não sou rico.

Argumento inválido!

Page 29: FILOSOFIA E SOCIOLOGIA - uceff.com.bruceff.com.br/downloads/Material Didatico/CADERNO DE ESTUDOS... · Sociologia – Controle e ... 3 APRESENTAÇÃO ... estudo, pois, compreendemos

28

Há ainda, três princípios lógicos fundamentais:

• 1. Princípio de Identidade – Um ser é sempre idêntico a si mesmo (A = A).

• 2. Princípio da não-contradição – É impossível que um ser seja e não seja idêntico a si

mesmo ao mesmo tempo e na mesma relação (A = A) e (A não A) é impossível.

• 3. Princípio do 3º excluído – Dadas duas proposições com o mesmo sujeito e o mesmo

predicado, uma afirmativa e outra negativa, uma delas é necessariamente verdadeira e a outra

necessariamente falsa, não havendo uma 3ª possibilidade.

A lógica não se preocupa com o relacionamento entres as premissas e a conclusão, com

a estrutura e a forma de raciocínio, e não com seu conteúdo, isto é, com as proposições tomadas

individualmente. Dispõe de duas ferramentas principais que podem ser utilizadas pelo

pensamento na busca de novos conhecimentos: Dedução e Indução, as quais dão origem a dois

tipos de argumentos: Dedutivos e Indutivos.

O argumento dedutivo:

Pretende que suas premissas forneçam uma prova conclusiva da veracidade da

conclusão.

É válido quando suas premissas, se verdadeiras, fornecem provas convincentes para

sua conclusão.

Importante: Premissas verdadeiras não fornecem conclusão falsa, quando isto

acontecer o argumento dedutivo é inválido.

O argumento indutivo:

Não pretende que suas premissas forneçam provas cabais da veracidade da

conclusão, mas apenas que forneçam indicações dessa veracidade.

Importante: Os termos “válidos” e “inválidos” não se aplicam aos argumentos

indutivos, pois podem ser avaliados de acordo com a maior ou menor possibilidade

com que suas conclusões sejam estabelecidas.

A função mais importante da lógica, segundo estudos de Aristóteles, é ser instrumento

para o conhecimento do verdadeiro, daquilo que é (oposto ao que não é, ao falso). Por meio do

“raciocínio demonstrativo”, podemos não apenas vir a conhecer o que é (o verdadeiro), mas

também a razão de ser das coisas, suas causas, permitindo-nos atingir o inteligível daquilo que

e. Assim, a Lógica é condição necessária (mas não suficiente) para chegar ao conhecimento.

(UNESP, 2013, p.11).

Page 30: FILOSOFIA E SOCIOLOGIA - uceff.com.bruceff.com.br/downloads/Material Didatico/CADERNO DE ESTUDOS... · Sociologia – Controle e ... 3 APRESENTAÇÃO ... estudo, pois, compreendemos

29

A partir dos estudos do filósofo e matemático inglês George Boole (1815-1864) e do

filósofo e matemático alemão Friedrich L. G. Frege (1848-1925), a Lógica começará um

desenvolvimento que culminará na disciplina ampla que se tornou em nossos dias.

FILOSOFIA

[ATIVIDADE 6]

Vimos que a partir dos estudos do filósofo e matemático inglês George Boole

(1815-1864) e do filósofo e matemático alemão Friedrich L. G. Frege (1848-1925), a

Lógica começará um desenvolvimento que culminará na disciplina ampla que se

tornou em nossos dias.

Pesquise os dois filósofos (Georges Boole e Friedrich L.G. Frege) e escreva,

de forma breve, suas contribuições ao estudo da lógica.

Sugestões de leitura e vídeos complementares:

Artigo: Sobre a História da lógica. Disponível:

ftp://ftp.cle.unicamp.br/pub/arquivos/educacional/ArtGT.pdf. Acesso em 27/07/2016.

Vídeos:

Filosofia e Lógica - Aula 1. Disponível:

https://www.youtube.com/watch?v=p8MTNLa4kGg.

Filosofía de la Ciencia en el siglo XX - Gabriel Zanotti. Disponível:

https://www.youtube.com/watch?v=-q0EQxLs2bU.

Page 31: FILOSOFIA E SOCIOLOGIA - uceff.com.bruceff.com.br/downloads/Material Didatico/CADERNO DE ESTUDOS... · Sociologia – Controle e ... 3 APRESENTAÇÃO ... estudo, pois, compreendemos

30

Caderno de Estudos

UNIDADE III

Filosofia e cultura - relações

As questões discutidas na filosofia contemporânea

Ética e Sociedade

Professora/Autora

Marinilse Netto, Dra.

Page 32: FILOSOFIA E SOCIOLOGIA - uceff.com.bruceff.com.br/downloads/Material Didatico/CADERNO DE ESTUDOS... · Sociologia – Controle e ... 3 APRESENTAÇÃO ... estudo, pois, compreendemos

31

APRESENTAÇÃO DOS ESTUDOS

Caro (a) acadêmico (o) da UCEFF Faculdades!

Estamos nos dirigindo para a terceira e última unidade deste Caderno de Estudos de

Filosofia. Nossos estudos serão guiados por três temas/assuntos:

Filosofia e cultura - relações

As questões discutidas na filosofia contemporânea

Ética e Sociedade

Ao final de cada tema estudado indicamos atividades de auto estudo que são de grande

importância para a compreensão dos assuntos apresentados. Será através delas que você terá a

possibilidade de construção do conhecimento e a reflexão crítica, estabelecendo relações entre

o que estudou com a sua prática pessoal e profissional.

De modo geral, os temas escolhidos para essa unidade contemplam reflexões no campo

da cultura e problematizam questões importantes do mundo contemporâneo, entre elas a

promessa do progresso através do desenvolvimento industrial e da técnica, os dilemas de uma

sociedade que busca minimizar as desigualdades e injustiças e, em especial o papel da Filosofia

na compreensão de todas essas variáveis.

Vamos lá!

7 FILOSOFIA E CULTURA - RELAÇÕES

Sobre a Filosofia, já vimos nas páginas deste caderno, vários elementos que nos

direcionaram para a compreensão dos fundamentos desse grande campo. Contudo, vale dizer,

toda e qualquer ideia, fato, argumentação ou visão está condicionada a um contexto social, a

uma cultura. A seguir vamos compreender algumas questões que nos fazem pensar sobre como

a cultura está intimamente ligada a nossa relação com o mundo e com as pessoas. E se

lembrarmos de que a Filosofia também adentra aos âmbitos mais profundos da vida humana,

podemos afirmar que filosofia e cultura são campos muito próximos, porque não dizer, íntimos.

AULA 7

Page 33: FILOSOFIA E SOCIOLOGIA - uceff.com.bruceff.com.br/downloads/Material Didatico/CADERNO DE ESTUDOS... · Sociologia – Controle e ... 3 APRESENTAÇÃO ... estudo, pois, compreendemos

32

7.1 BREVE CONCEITUAÇÃO DO TERMO CULTURA

A proposta de discutir cultura é sempre polêmica e plural, o que pode ser atribuído ao seu

caráter polissêmico. Essa dificuldade acentua-se quando se trata de discutir os diversos

conceitos, derivados das diferentes interpretações sobre os processos culturais que se

desenvolveram, historicamente, em nossas sociedades.

Assim, falar, por exemplo, de cultura de elite/cultura popular, ou de nacional-popular,

implica abordar não apenas a conceituação, mas também a origem histórica e filosófica dos

mesmos.

Tratar de cultura é sempre um exercício importante, na medida em que a concebemos

como espaço onde são construídas as múltiplas relações entre os homens, as mulheres, os

objetos produzidos por eles/elas, as motivações (ideologias), os sonhos que projetam nos seres

humanos o desejo da descoberta (e também da negação dela), os modos como essas variáveis

se entrecruzam, produzindo outros tantos modos de interação. A cultura é uma palavra “é

pública” e, por refletir os modos pelos quais a palavra é interpretada pelas diferentes áreas,

comporta diferentes interesses ou ideologias.

A filósofa Marilena Chauí (2006, p.105-6), resgatando as origens históricas do conceito

de cultura destaca que “[...] a cultura era a moral (o sistema de valores ou de costumes de uma

sociedade), a ética (a forma correta da conduta de alguém graças à modelagem de seu ethos

natural pela educação) e a política (o conjunto de instituições humanas, relativas ao poder

e à arbitragem de conflitos pela lei)”. Ainda para a autora cultura significa os: “[...] resultados

expressos em suas obras, feitos, ações e instituições: as artes, as ciências, a filosofia, os ofícios,

a religião e o Estado.”

A autora realiza tais fundamentações a partir da descrição do verbo latino ‘colere’ que,

originalmente, traz a ideia do cuidado, do cultivo, do tomar conta de, estabelecendo relações

entre o homem (corpo e alma) e a natureza. Cultura, nesse sentido, é descrita como intervenção

deliberada do homem em relação à natureza de outros homens: “O vocábulo estendia-se, ainda,

ao cuidado com os deuses, os ancestrais e seus monumentos, ligando-se à memória e, por ser o

cuidado com a educação, referia-se ao cultivo do espírito” (CHAUÍ, 1987, p.11). A vinculação

com a ideia de cultivo parece ter-se mantido até meados do século XVII, quando cultura estava

ligada às tradições. O termo germânico ‘kultur’ simbolizava todos os aspectos espirituais de

uma comunidade, “[...] enquanto que a palavra ‘civilization’ referia-se principalmente às

realizações materiais de um povo” (LARAIA, 1986, p.25). De acordo com Laraia, na língua

inglesa, o termo ‘culture’, tomado em seu amplo sentido etnográfico, a partir da conceituação

Page 34: FILOSOFIA E SOCIOLOGIA - uceff.com.bruceff.com.br/downloads/Material Didatico/CADERNO DE ESTUDOS... · Sociologia – Controle e ... 3 APRESENTAÇÃO ... estudo, pois, compreendemos

33

feita por Edward Tylor, “[...] é este todo complexo que inclui conhecimentos, crenças, arte,

moral, leis, costumes ou qualquer outra capacidade ou hábitos adquiridos pelo homem como

membro de uma sociedade”

Nesse sentido, é importante ressaltar os modos pelos quais a antropologia enquanto

ciência se construiu a partir das discussões e tentativas de definição do que seria cultura,

desenvolvendo metodologias para melhor compreender essa dimensão da vida humana. A

abrangência das ideias conceituais projetadas na área científica, e aqui em especial a partir da

visão construída pela antropologia através de Tylor e Geertz (1989, p.3), denuncia o ecletismo

conceitual nas definições de Tylor:

Não sei se é exatamente dessa forma que todos os conceitos científicos basicamente

importantes se desenvolvem. Todavia, esse padrão se confirma no caso do conceito

de Cultura, em torno do qual surgiu todo o estudo da antropologia e cujo âmbito essa

matéria tem se preocupado cada vez mais em limitar, especificar, enfocar e conter

(sic) para substituir “o todo mais complexo” de E.B.Tylor, o qual, embora eu

não conteste sua força criadora, parece-me ter chegado ao ponto em que confunde

muito mais do que esclarece.

É possível perceber também as discordâncias projetadas como interpretações conceituais,

pois, para Geertz (1989, p.4), a defesa pelo conceito de cultura passa pela linguagem semiótica,

ou seja, a linguagem dos signos:

Acreditando, como Max Weber, que o homem é um animal amarrado as teias de

significados que ele mesmo teceu, assumo a cultura como sendo essas teias e a sua

análise; portanto, não como uma ciência experimental em busca de leis, mas como

uma ciência interpretativa, à procura do significado. É justamente uma explicação

que procuro, ao construir expressões sociais enigmáticas na sua superfície.

Diante de tais contradições e extensões conceituais nos escritos de Tylor, Laraia

concordando com Clifford Geertz, afirma que: “[...] as centenas de definições de Tylor serviram

mais para estabelecer uma confusão do que ampliar os limites do conceito” (1989, p.4).

Seguindo essa linha de análise, a crítica dos autores citados se dá pela ampliação do termo

cultura, que de uma forma geral não reflete um conteúdo conceitual a partir das “[...] realidades

estratificadoras políticas e econômicas, dentro das quais os homens são reprimidos em todos os

lugares – e com as necessidades biológicas e físicas sobre as quais repousam essas superfícies”

(GEERTZ, 1989, p.21). Neste sentido, tais teorias são vistas por Geertz como uma interpretação

em nível de observação.

Nos estudos realizados da realidade cultural brasileira, no período de desenvolvimento

industrial, a partir do século XVIII, o termo cultura surge a partir do conceito de civilização,

termo derivado do latim ‘civese civitas’, como forma de moldagem aos valores da sociedade.

Como nível para determinar o grau de desenvolvimento de um grupo social o termo cultura,

Page 35: FILOSOFIA E SOCIOLOGIA - uceff.com.bruceff.com.br/downloads/Material Didatico/CADERNO DE ESTUDOS... · Sociologia – Controle e ... 3 APRESENTAÇÃO ... estudo, pois, compreendemos

34

numa visão iluminista, passa a ser visto como medida de civilização ou progresso de uma

sociedade a partir de seus valores e de sua produção, daí as discussões dos termos arte culta e

arte popular.

Roger Keesing (1974) em seu artigo “Theories of Culture”, apresenta teorias que

consideram a cultura como um sistema adaptativo. Nessa perspectiva, Cultura são sistemas de

padrões, de comportamentos socialmente transmitidos, que servem para adaptar as

comunidades humanas aos seus embasamentos biológicos. Esse modelo inclui tecnologias e

modos de organização econômica, padrões de estabelecimento, de agrupamento social e de

organização política, crenças e práticas religiosas, e assim por diante (KEESING, apud

LARAIA,1996, p.60-61).

Keesing (1974) ainda refere-se às teorias idealistas de cultura, subdividindo-as em três

abordagens:

a) Cultura como sistema cognitivo, produto dos chamados novos etnógrafos, que se

apropriam de métodos linguísticos – essa abordagem antropológica distingue-se pelo

estudo dos sistemas de classificação de ‘folk’, cuja análise de modelos é construída pelos

membros da comunidade a respeito do universo em que vivem, cultura neste sentido

constitui-se como forma de conhecimento;

b) Cultura como sistemas estruturais, definida como “[...] um campo simbólico que é uma

criação acumulativa da mente humana. O seu trabalho tem sido o de descobrir na

estruturação dos domínios culturais – mito, arte, parentesco e linguagem – os princípios

da mente que geram essas elaborações culturais” (KEESING apud LARAIA,1996, p.62);

c) Cultura como sistemas simbólicos – pesquisadores como Clifford Geertz e David

Schneider estão entre os que defendem primeiramente a definição do homem baseada na

definição da cultura, negando as ideias iluministas e antropológicas ditas clássicas. Para

Geertz “[...] um dos mais significativos fatos sobre nós pode ser finalmente a constatação

que todos nascemos com um equipamento para viver mil vidas, mas terminamos no fim

tendo uma só!” (LARAIA,1996, p.63).

Os fatos sociais são simbólicos. Desta forma, a cultura é simbólica, pois pode ser

considerada como um conjunto de sistemas simbólicos, como por exemplo, a linguagem, as

regras coletivas, as leis, as relações econômicas, a arte, a ciência, a religião, entre outros.

Outra dimensão para a cultura está no campo do empreendedorismo ‘cultura

organizacional’. Este tema será tratado nesse caderno nos estudos que abrangem o campo da

Sociologia. Mas podemos dizer de antemão que alguns dos atributos mais valorizados da cultura

Page 36: FILOSOFIA E SOCIOLOGIA - uceff.com.bruceff.com.br/downloads/Material Didatico/CADERNO DE ESTUDOS... · Sociologia – Controle e ... 3 APRESENTAÇÃO ... estudo, pois, compreendemos

35

organizacional de uma empresa são: ética, responsabilidade social, competência, compromisso,

etc.

8AS QUESTÕES DISCUTIDAS NA FILOSOFIA CONTEMPORÂNEA

Entre os temas de maior destaque nos últimos anos, precisamente naqueles que fecharam

o século XX e deram início ao XXI, de acordo com a pesquisadora e filósofa Marilena Chauí,

estão aqui em destaque: História e progresso; As ciências e as técnicas; As utopias

revolucionárias; A cultura; O fim da filosofia.

Como registrado, um dos atributos da cultura organizacional é a ética. Pesquise

na internet uma empresa que apresente em sua visão ou missão, características

fundamentais que a caracterizem como uma empresa ética e responsável socialmente.

Exponha a sua pesquisa. Apresente a empresa justificando sua escolha.

[ATIVIDADE 7]

Sugestões de leituras complementares:

Artigos:

Cultura organizacional e ética empresarial: dois pesos, duas medidas? Disponível:

https://maldeiaexploratoria.files.wordpress.com/2009/08/cultura-organizacional-e-etica-

empresarial-dois-pesos-duas-medidas.pdf. Acesso em 27/07/2016.

A importância do comportamento ético nas organizações. Disponível:

http://www.unioeste.br/campi/cascavel/ccsa/IISeminario/trabalhos/a%20import%C3%A2nci

a%20do%20comp.%20%C3%A9tico%20nas.......pdf. Acesso em 27/07/2016.

AULA 8

Page 37: FILOSOFIA E SOCIOLOGIA - uceff.com.bruceff.com.br/downloads/Material Didatico/CADERNO DE ESTUDOS... · Sociologia – Controle e ... 3 APRESENTAÇÃO ... estudo, pois, compreendemos

36

8.1 HISTÓRIA E PROGRESSO

Na Filosofia, o século XIX é considerado o grande período da descoberta da historicidade

do ser humano, em seus aspectos sociais, científicos e artísticos. Segundo o filósofo Hegel, a

história é o modo de ser da razão e da verdade, o modo de ser dos seres humanos e portanto,

em sua visão, somos seres históricos.

No século XX a concepção hegeliana levou o mundo à visão de progresso, de que os seres

humanos, as sociedades, as ciências e as artes (incluindo a técnica) melhoram, aperfeiçoam-se

com o passar do tempo, acumulando novos conhecimento e práticas. Essa visão institui que o

presente é melhor que o passado. Ainda, que o tempo presente é superior ao passado e o futuro

será superior ao tempo presente.

De modo otimista, o filósofo Augusto Comte atribuía ao progresso o desenvolvimento

das ciências denominadas “positivas”. Seriam essas ciências que permitiriam os seres humanos

a “saber para prever, prever para prover”. Conhecimento gera progresso. O desenvolvimento

social aconteceria pelo crescimento científico e controle científico da sociedade. Foi Augusto

Comte que criou a frase “Ordem e Progresso”, que estampa a bandeira do Brasil republicano.

Ainda no século XX, a tese da historicidade dos seres humanos, da razão e da sociedade

levou a ideia de que a história é feita de modo descontínuo e não progressista, pois cada

sociedade tem sua história própria.

A visão de progresso passa a receber críticas porque, do modo como formulada, serve de

desculpa para legitimar padrões, como os colonialismos e imperialismos, pois nesta visão os

povos mais adiantados teriam direito de dominar os mais atrasados. Ainda, passa a ser criticada

a visão progressista na ciência e nas técnicas, mostrando que cada tempo histórico e cada

sociedade o conhecimento e as práticas responde a sentidos e valores próprios que podem

desaparecer na época seguinte quebrando a ideia da transformação contínua e progressiva.

8.2 AS CIÊNCIAS E AS TÉCNICAS

A Filosofia do século XIX estava entusiasmada com o desenvolvimento das ciências e

das técnicas promovida pela revolução industrial. A Filosofia confiava de modo pleno no saber

científico e na tecnologia como instrumentos de dominação e controle da natureza, da sociedade

e dos indivíduos.

A Sociologia explicava o funcionamento das sociedades, afirmando que os seres humanos

poderiam organizar racionalmente o âmbito social, evitando revoluções ou desigualdades. No

Page 38: FILOSOFIA E SOCIOLOGIA - uceff.com.bruceff.com.br/downloads/Material Didatico/CADERNO DE ESTUDOS... · Sociologia – Controle e ... 3 APRESENTAÇÃO ... estudo, pois, compreendemos

37

campo da Psicologia, acreditava-se que esta ensinaria como funciona a mente humana, de modo

definitivo e esclarecedor quais as causas dos comportamentos e como controlá-los, ainda quais

as causas das emoções e como controlá-las (afinal, nesta visão, emoção não combina com

razão). Supunha-se que era possível livrar os seres humanos da angústia, do medo, da loucura

por meio de uma pedagogia baseada em conhecimentos científicos, adaptado as formação e

exigências da sociedade. Acreditava-se ser possível educar as crianças segundo suas vocações

e potencialidades psicológicas.

Contudo, no século XX a Filosofia começa a desconfiar do otimismo científico-

tecnológico em virtude de acontecimentos dramáticos como as duas guerras mundiais, o

bombardeio de Hiroshima e Nagasaki, os compôs de concentração nazista, as guerras da Coréia,

do Vietnã, do Oriente Médio, do Afeganistão, entre outros sérios problemas sociais.

A Escola de Frankfurt (escola alemã de Filosofia) elaborou uma teoria crítica na qual

define duas formas da razão: A razão instrumental, ou razão técnico científica, que faz das

ciências e das técnicas não um meio de libertação dos seres humanos, mas uma forma de

intimidação, de medo e de terror. Já a razão crítica, analisa e interpreta os limites e perigos do

pensamento instrumental, afirmando que as mudanças sociais, políticas e culturais, só serão

atingidas se tiverem como finalidade a emancipação do ser humano e não somente as ideias de

controle e de domínio técnico-científico sobre a natureza, a sociedade e a cultura.

8.3 AS UTOPIAS REVOLUCIONÁRIAS

Ainda no século XIX, em decorrência do otimismo progressista a Filosofia apostou no

movimento das utopias revolucionárias, ou seja, o anarquismo, socialismo, comunismo, os

quais criariam uma sociedade justa e igualitária. No entanto, no século XX, as chamadas

sociedades totalitárias (fascismo, nazismo, stalinismo) e com o aumento do poder das

sociedades autoritárias e ditatoriais, a Filosofia passa a desconfiar do otimismo revolucionário

e das utopias e começa a indagar se os seres humanos, os explorados e dominados, são capazes

de criar e manter uma sociedade nova.

O crescimento das burocracias (regras, visões que dominavam as organizações estatais,

empresariais, político-partidárias, escolas, hospitais), levou a Filosofia se o povo seria capaz de

derrubar tudo isso.

Page 39: FILOSOFIA E SOCIOLOGIA - uceff.com.bruceff.com.br/downloads/Material Didatico/CADERNO DE ESTUDOS... · Sociologia – Controle e ... 3 APRESENTAÇÃO ... estudo, pois, compreendemos

38

8.4 A CULTURA

Então no século XIX a Filosofia descobre a cultura como espaço e contexto da existência

dos seres humanos. Os animais são seres naturais, os humanos são seres culturais. A natureza

é governada por leis necessárias de causa e de efeito e a cultura é o exercício da liberdade.

Conforme já vimos em nossos estudos, a cultura é o espaço (concreto, subjetivo) coletivo

de criação de ideias, de símbolos e de valores com os quais a sociedade define o que é bom, o

que é ruim, o que é justo ou injusto, o que é belo e o que é feio, e assim por diante. A cultura se

realiza por meio do trabalho, da linguagem, das relações e do tempo.

Para a Filosofia do século XIX, segundo a visão de Hegel, a cultura se transforma em um

movimento progressivo. Para outros filósofos (românticos) a cultura não formava um

movimento progressivo e era nacional, ou seja, relativa ao contexto e cabia a Filosofia conhecer

o “espirito do povo” apropriando-se de suas raízes, pois o mais importante da cultura ali estaria,

no passado, na sua origem. Então surge a ideia dos estudos folclóricos brasileiros. Contudo, a

Filosofia do século XX afirma que a história é descontinuada, afirmando que não há cultura,

mas há muitas culturas.

8.5 O FIM DA FILOSOFIA?!

No século XIX pensava-se que no futuro a ciência seria o imperativo e que todos os

conhecimentos e todas as explicações seriam dadas por ela. Desse modo, a Filosofia não teria

sentido ou necessidade. Contudo, no século XX, a Filosofia passou a mostrar que as ciências

não possuem princípios totalmente certos e seguros para as investigações e que os resultados

podem se duvidosos.

Os princípios, métodos, conceitos e os resultados da ciência podem ser equivocados ou

desprovidos de fundamentos. Neste caso, a Filosofia voltou a firma-se como importante para a

compreensão e interpretação crítica das ciências, discutindo a validade de seus princípios,

procedimentos de pesquisa, resultados e modos de exposição dos dados ou conclusões.

Foi, essencialmente, a falta de rigor das ciências que levaram o filósofo Husserl a propor

que a Filosofia fosse o estudo do conhecimento rigoroso da possibilidade do próprio

conhecimento científico.

O que podemos perceber nos escritos de Marilena Chauí, é que a Filosofia, ainda que por

um longo período tenha sido deixada de lado pela ciência, no século XX retorna ao seu posto e

assume com propriedade que toda investigação científica está apoiada por uma visão filosófica,

Page 40: FILOSOFIA E SOCIOLOGIA - uceff.com.bruceff.com.br/downloads/Material Didatico/CADERNO DE ESTUDOS... · Sociologia – Controle e ... 3 APRESENTAÇÃO ... estudo, pois, compreendemos

39

que justifica e ampara os métodos e procedimentos. A Filosofia desde sua origem é ciência. É

descoberta.

Para Lawrence Sklar (2005) o papel da filosofia não é o de funcionar como fundamento

ou extensão das ciências, mas como sua observadora crítica. O papel da filosofia da ciência

seria assim o de clarificar essas relações conceituais e é o de descrever os métodos usados pelas

ciências e explorar as bases de justificação desses métodos, isto é, compete à filosofia mostrar

que os métodos são apropriados para encontrar a verdade na disciplina científica em questão.

-----------------------------------------------

Texto para leitura e análise: Positivismo, ciência e progresso: uma provocação

De autoria de Renato Chaves Azevedo. 2010.

A Promessa

No final do século 18, a maior parte dos cientistas responsáveis pela grande revolução científica

europeia, como Descartes, Galileu e Newton já haviam morrido, mas seu legado permanecia, e a Ciência

ocidental continuava passando por um período muito fértil. No entanto, ela ainda era vista como

apenas mais uma forma de conhecer a natureza, e não como a melhor forma de fazê-lo. A Ciência ainda

não tinha o poder de legitimar o que era verdade e o que não era, já que o misticismo e o conhecimento

religioso ainda tinham um grande poder explicativo na sociedade. Nesse contexto surgiu uma corrente

filosófica de afirmação do conhecimento científico como sendo o único conhecimento autêntico e, mais

do que isso, do homem (e não Deus) como sendo o produtor desse conhecimento. Ou seja, o positivismo

é uma corrente filosófica que nos redime do pecado original de Adão e Eva e, mais do que isso, prega

que temos mesmo que nos banquetear na Árvore do Conhecimento do Bem e do Mal.

August Comte (1798-1857), o “pai do positivismo”, escreve a obra que inaugura essa corrente filosófica,

o Curso de Filosofia Positiva. Nesse livro, Comte formula sua Lei dos Três Estados, que parte do

princípio de que a humanidade está evoluindo, avançando de uma época bárbara e mística para outra

civilizada e esclarecida. Comte explica que essa evolução intelectual humana tem três fases muito bem

definidas: a fase teológica, em que todos os fatos são explicados pelo sobrenatural (Deus); a fase mística

ou metafísica, em que o homem começa a pesquisar a realidade, mas ainda com um viés sobrenatural

muito forte (criam-se categorias alegóricas como “a Natureza”, “o Povo”, etc.); e a fase científica ou

positiva, que seria o apogeu do intelecto humano. Os outros dois estados do conhecimento são apenas

degraus pelos quais a humanidade teve que passar para atingir o estado mais elevado, em que o homem

explica os fenômenos naturais por leis gerais que ele mesmo descobre a partir do estudo da natureza.

Dessa forma, para os positivistas o progresso da humanidade estaria intimamente relacionado com o

progresso da Ciência. O conhecimento positivo (a Ciência) é o auge da evolução intelectual humana,

então devemos investir nesse tipo de conhecimento e abandonar de vez a teologia e a metafísica, pois

somente o conhecimento positivo poderá tirar a humanidade da ignorância e da superstição e colocá-la

no caminho do progresso.

Page 41: FILOSOFIA E SOCIOLOGIA - uceff.com.bruceff.com.br/downloads/Material Didatico/CADERNO DE ESTUDOS... · Sociologia – Controle e ... 3 APRESENTAÇÃO ... estudo, pois, compreendemos

40

A Aposta

Por algum motivo, Comte e seus seguidores foram ouvidos. Foram muito ouvidos. O positivismo ganhou

muita força. O lema positivista está estampado em nossa bandeira nacional, que diz “Ordem e

Progresso”. A humanidade apostou boa parte de suas fichas na ideia de que para progredir seria

necessário investir na Ciência.

Alguns séculos depois, aqui estamos. Agora temos satélites monitorando nosso planeta e chegamos à

Lua. Temos super computadores com internet e carros ultra velozes. Sequenciamos o DNA dos

organismos e trocamos genes entre eles. Temos geladeira, microondas, ar condicionado, chuveiro

quente, telefone celular, GPS, viajamos de avião e frequentamos cinemas 3D. Fizemos descobertas

médicas que aumentaram bastante a nossa expectativa de vida. Certamente temos uma vida muito mais

confortável do que Comte e seus contemporâneos tiveram, e isso é fruto do investimento que a

humanidade fez na Ciência.

Progresso?

Mas, será que podemos dizer que a humanidade progrediu? Não podemos esquecer que enquanto alguns

fazem fila para comprar o iPad no primeiro dia, mais da metade da população da Terra não tem

saneamento básico. Andamos nas ruas e vemos pessoas sem comida, sem teto, sem escolaridade e sem

esperança. O que é o progresso da humanidade? Ser capaz de inventar robôs que deixam milhões de

pessoas desempregadas? Inventar tranqueiras supérfluas que menos de 10% da população mundial tem

dinheiro pra comprar? Às vezes me parece que os bons e velhos índios, que andavam descalços na mata

e não tinham energia elétrica estavam muito na nossa frente em termos de “progresso humano”.

A pergunta que fica é: será que valeu a pena? E, se valeu, será que ainda vale a pena continuar investindo

bilhões de dólares todo ano e sacrificar milhares de espécies e habitats para que a Ciência continue

avançando? Aparentemente os positivistas estavam errados. O investimento no conhecimento científico

não trouxe progresso pra humanidade (se entendermos que a humanidade consiste de todos os seres

humanos, e não somente daqueles que têm boas condições econômicas). Talvez, inclusive, tenha

agravado ainda mais as desigualdades e reforçado alguns preconceitos. Será que não está na hora de

procurar uma outra forma de progredir? Porque eu não acho que uma sociedade que tem gente morrendo

de fome possa ser considerada uma sociedade evoluída, não importa quão poderosos seus computadores

sejam.

Page 42: FILOSOFIA E SOCIOLOGIA - uceff.com.bruceff.com.br/downloads/Material Didatico/CADERNO DE ESTUDOS... · Sociologia – Controle e ... 3 APRESENTAÇÃO ... estudo, pois, compreendemos

41

9 ÉTICA E SOCIEDADE

Neste capítulo, registramos o tema a ser estudado com um texto de autoria de Joelma

Coêlho dos Santos, Ranessa Lira Teixeira, Nory Lana Godinho de Souza (disponível no

site http://www.portalconscienciapolitica.com.br/products/filosofia-etica-e-sociedade/).

Acesso em 17/07/2016.

O texto foi escolhido por suas qualidades de exposição sobre as relações entre ética,

filosofia e vida social. Vamos ao texto:

Caro (a) Acadêmico (a)!

Leia, analise e reflita sobre o texto de autoria de Renato Charles Azevedo. Depois

exponha, de modo dissertativo, suas ideias sobre as questões que envolvem a

inovação da ciência e a vida na sociedade atual.

Sugestões de leituras e vídeos complementares:

Artigo: O sofrimento da insatisfação dos desejos e a sedução da sociedade de consumo.

Disponível: http://www.revistavoluntas.com.br/uploads/1/8/1/8/18183055/v5-n1-1-2014-

art5-bitterncourt_renato_nunes.pdf

Vídeos:

Desenvolvimento cientifico-tecnológico e sociedade. Disponível:

https://www.youtube.com/watch?v=bXFWuVP6gzI

Sociedade, Tecnologia e Inovação - Aula 1 - Criatividade e evolução. Disponível:

https://www.youtube.com/watch?v=c77J1BZnCiY

[ATIVIDADE 8]

AULA 9

Page 43: FILOSOFIA E SOCIOLOGIA - uceff.com.bruceff.com.br/downloads/Material Didatico/CADERNO DE ESTUDOS... · Sociologia – Controle e ... 3 APRESENTAÇÃO ... estudo, pois, compreendemos

42

Existe uma profunda ligação entre ética e filosofia: a ética nunca pode deixar de ter como

fundamento uma concepção filosófica do homem que nos dá uma visão total deste como um ser social

e histórico. Dentre os vários conceitos com os quais a ética trabalha e que pressupõe um prévio

esclarecimento filosófico, como os de liberdade, necessidade, valor, consciência, vamos dar ênfase ao

de sociabilidade, ou seja, como a ética deve estar inserida nas relações humanas em sociedade.

A ação humana é fruto de uma escolha entre o certo e o errado, e entre o que é bom e o que é

mal. O indivíduo procura se basear em parâmetros socialmente aceitos que lhe permite conviver com as

outras pessoas, em outras palavras, ele busca sempre se guiar pelos conceitos que norteiam a prática dos

valores positivos e das qualidades humanas. A ética não somente serve de base para as relações humanas,

mas, trata também das relações sociais dos homens na medida em que os filósofos consideram a ética

como base da justiça ou do direito, e até mesmo das leis que regulam a convivência entre todos que

vivem na sociedade.

Primeiramente para entendermos sobre a ética devemos pelo conceito filosófico entender que é

a área que investiga o comportamento humano em suas relações entre si, considerando conceitos

utilizados para avaliá-las como: valor, virtude, justiça, moral, bem, normas morais, dever, liberdade e

principalmente responsabilidade; promove também reflexões sobre a busca humana pelas melhores

formas de agir, viver e conviver. De forma mais específica, segundo Gilberto Cotrim,

A ética é uma disciplina teórica sobre uma prática humana, que é o comportamento moral... A ética tem também preocupações

práticas. Ela orienta-se pelo desejo de unir o saber ao fazer. Como filosofia prática, isto é, disciplina teórica com preocupações

práticas, a ética busca aplicar o conhecimento sobre o ser para construir aquilo que deve ser (COTRIM, 2004, p.264).

Como teoria filosófica, a ética se caracteriza como estudo das ações individuais dos homens,

cuja finalidade consiste em elaborar uma orientação normativa para as ações humanas que seja

estabelecido como bem. Com o filósofo grego Aristóteles a ética passou a ser a “ciência do moral”, ou

seja do caráter e das disposições do espírito. Enfatizamos que a ética é um conjunto de argumentos que

são utilizados pelos indivíduos para justificar suas ações, solucionando com diferentes problemas em

que há o conflito de interesses com bases em argumentos universais. Ou salientamos que a ética é uma

filosofia responsável por estudar a moral, contestando e identificando o que podemos chamar de regras

morais vigentes, as quais são alteradas com o tempo. A Ética como teoria filosófica tem por objetivo

estudar o comportamento dos indivíduos frente aos apelos morais da sociedade em que este vive. Ela se

manifesta de diferentes maneiras conforme a cultura, costumes e hábitos de determinadas populações.

As reflexões da ética abrangem aspectos da vida pública e das leis estabelecidas no plano social

para a existência humana. Envolvem questões ligadas ao direito, ao poder, a cidadania e a política, e

abrange também aspectos da vida privada, analisando algumas questões morais de foro íntimo ligadas

as condutas e escolhas de indivíduos em nosso cotidiano, e são elas que determinam o modo como cada

um convive consigo próprio e com os outros.

As respostas filosóficas para as questões éticas variam no tempo e no espaço, e ainda apresentam

uma característica fundamental que envolve a posição dos indivíduos em relação ao valor e as virtudes

que são defendidos em seu meio cultural. Com isso, os filósofos investigam o que leva diferentes grupos

sociais a se enfatizarem sobre questões e valores semelhantes, sem ignorar que, os significados

atribuídos a eles nem sempre são os mesmos. Há filósofos que concebem o homem como um ser dotado

de um senso moral inato, ou seja, da capacidade natural para avaliar como as coisas e como elas

deveriam ser. Alguns acreditam que as diversas tendências culturais e individuais atuam sempre sobre

a capacidade comum entre os seres humanos e são determinantes da formação do caráter e da

personalidade. E há filósofos que afirmam a existência da liberdade, ressaltando sempre que, apesar da

pressão de costumes e leis, nós sempre podemos refletir sobre as questões éticas e sobre a moral

aprendida, e que, segundo eles, há uma possibilidade que nos faz responsáveis por nossas próprias

escolhas e que nos permite contribuir para a renovação com as normas com que nos deparamos no dia

a dia.

Nos tempos áureos da filosofia grega a justiça e todas as demais virtudes éticas eram políticas e

sociais, o que denota uma certa inseparabilidade entre a ética e política, ou seja, está relacionado entre

a conduta do indivíduo e os valores da sociedade.

No pensamento dos Antigos filósofos a existência humana só pode ser pensada em sociedade

onde os seres humanos aspiram ao bem e a felicidade, que só pode ser alcançada pela conduta virtuosa.

Page 44: FILOSOFIA E SOCIOLOGIA - uceff.com.bruceff.com.br/downloads/Material Didatico/CADERNO DE ESTUDOS... · Sociologia – Controle e ... 3 APRESENTAÇÃO ... estudo, pois, compreendemos

43

Além disso, existe uma preocupação constante com a busca dos valores morais inscritos no interior do

próprio homem, como acreditava Sócrates. Dessa forma – para ser ético – o homem deveria entrar em

contato com a sua própria essência, a fim de alcançar a perfeição. O homem, como qualquer ser, busca

a sua perfeição, que acontecerá quando sua essência estiver plenamente realizada. E como afirma

Mondin, “A ética ou moral... é o estudo da atividade humana com relação a seu fim último que é a

realização plena da humanidade” (1980, p.91)

Sócrates, que se tornou símbolo da própria filosofia, dedicou atenção especial as questões éticas,

sendo que ele julgava o ser humano que era dotado de uma natureza racional e voltada para o bem. Ele

tentava sempre compreender a essência das virtudes e do bem, tal como a justiça, a prudência, a coragem,

e entre outras. Sócrates de alguma forma procurava saber dos cidadãos atenienses sobre a virtude, a

essência, saber se uma conduta é boa ou não, e porque o bem é uma virtude e o mal um erro, e com tudo

isso as perguntas ética-socráticas não estão destinadas somente ao indivíduo, mas também a sociedade.

Pode-se resumir a ética dos antigos em pelo menos dois aspectos: o agir em conformidade com a

razão e a união permanente entre ética (a conduta do indivíduo) e política (valores da sociedade). A ética

é uma maneira de educar o sujeito moral (seu caráter) no intuito de propiciar a harmonia entre o mesmo

e os valores coletivos.

Na Idade Média a Filosofia sofrerá uma forte influência da tradição cristã. Uma vez, que todos

os Filósofos deste período são teólogos, bispos, abades e padres. Dessa forma a filosofia permanecerá,

ao longo de todo período medieval, subordinada a teologia, de tal modo, que é impossível separar o

pensamento filosófico da tradição grega, do pensamento teológico cristão. Neste caso a vida ética era

definida por sua relação espiritual e interior com Deus e pela caridade com o seu próximo, por meio da

revelação divina. A ética cristã se fundamenta no amor, no qual foi colocado como primeiro e maior

mandamento: o amor a Deus acima de todas as coisas e o amor ao próximo. É no amor que o cristianismo

encontra sua realização espiritual mais profunda e as bases fundamentais para a vida em sociedade.

Os primeiros filósofos cristãos procuravam conciliar fé e razão como instrumento de análise e

reflexão. A partir desse pressuposto a filosofia insurge no campo da ética cristã, como tentativa de

justificar seus princípios e normas de comportamento, se submetendo a lei divina revelada pelas

Sagradas Escrituras implicando uma determinação racional do próprio conteúdo sobrenatural da

Revelação, mediante uma disciplina específica, a teologia dogmática (veja mais em: Filosofia Cristã:

Interioridade e Dever).

Assim como Sócrates e Platão, o bispo, teólogo e filósofo do início da Idade Média, Santo

Agostinho, foi um homem profundamente voltado para a sua interioridade, uma vez que é nessa

interioridade que podemos realizar nosso encontro com Deus e nossa verdadeira essência. É dentro desta

perspectiva de uma filosofia introspectiva que Agostinho agrega uma série de conceitos fundamentais.

Os filósofos medievais herdaram elementos da tradição filosófica grega, reconfigurando-se no interior

de uma ética cristã e tal como Santo Agostinho, a filosofia de São Tomás de Aquino representa uma

aproximação entre fé e razão mas, neste caso, usando o pensamento aristotélico como base fundamental.

Inspirado na filosofia aristotélica e amparado na visão cristã de mundo, Aquino reflete sobre a conduta

ética que é aquela na qual o agente sabe o que está e o que não está em seu poder realizar, referindo-se,

ao que é possível e desejável para um ser humano. A ética tomista também deve ser trabalhada no âmbito

da sociedade. Analisando a natureza humana, resulta que o homem é um animal social (político) e,

portanto, forçado a viver em sociedade com os outros homens. A primeira forma da sociedade humana

é a família, de que depende a conservação do gênero humano; a segunda forma é o Estado, de que

depende o bem comum dos indivíduos. Sendo que apenas o indivíduo tem realidade substancial e

transcendente, se compreende como o indivíduo não é um meio para o Estado, mas o Estado um meio

para o indivíduo. Segundo Tomás de Aquino, o Estado não tem apenas função negativa (repressiva) e

material (econômica), mas também positiva (organizadora) e espiritual (moral). Embora o Estado seja

completo em seu gênero, fica, porém, subordinado, em tudo quanto diz respeito à religião e à moral, à

Igreja, que tem como escopo o bem eterno das almas, ao passo que o Estado tem apenas como escopo o

bem temporal dos indivíduos.

Mas não foi apenas na antiguidade e na Idade Média que os filósofos tiveram essa preocupação

ética e social. Longe de pretender fazer uma análise sistemática das mais diferentes visões filosóficas

sobre o assunto vamos apenas ressaltar as duas correntes que já mencionamos no início do texto. A

primeira sobre a qual já falamos, corresponde às ideias de filósofos como Sócrates e Santo Agostinho

que acreditam que o ser humano é dotado de um senso moral inato, ou seja, da capacidade natural para

Page 45: FILOSOFIA E SOCIOLOGIA - uceff.com.bruceff.com.br/downloads/Material Didatico/CADERNO DE ESTUDOS... · Sociologia – Controle e ... 3 APRESENTAÇÃO ... estudo, pois, compreendemos

44

avaliar como as coisas e como elas deveriam ser e, desta forma, a questão de como devemos nos

comportar e agir em sociedade passa por uma questão de foro íntimo e espiritual, introspectivo, que

pode ser resumida na frase: “conhece-te a ti mesmo”. Mas essa visão não é a única e filósofos há que

acreditam que que as diversas tendências culturais são determinantes da formação do caráter e da

personalidade e por isso dão uma ênfase maior em como os aspectos sociais e culturais são determinantes

das relações humanas.

Um exemplo desta perspectiva nós encontramos no século XIX, com o filósofo alemão Friedrich

Hegel, que aprofundou de maneira ímpar a perspectiva Homem – Cultura e História, sendo que a ética

deve ser determinada pelas relações sociais. Como sujeitos históricos culturais, nossas ações devem ser

determinadas pela harmonia entre vontade subjetiva individual e a vontade objetiva cultural. O homem

é visto como sujeito histórico-social, e como tal sua ação não pode mais ser analisada fora da

coletividade, por isso a ética ganha um dimensionamento político: uma ação eticamente boa é

politicamente boa, e contribui para o aumento da justiça e distribuição igualitária do poder entre os

homens. O ideal ético para Hegel estava numa vida livre dentro de um Estado livre, um Estado de direito,

que preservasse os direitos dos homens e lhes cobrasse seus deveres, onde a consciência moral e as leis

do direito não estivessem nem separadas e nem em contradição. E os grandes problemas éticos se

encontram em três momentos da eticidade que são a família, a sociedade civil e o Estado, e uma ética

concreta não pode ignorá-los (VALLS, 1994).

Em relação à sociedade civil os problemas atuais continuam os mais urgentes: referem-se ao

trabalho e à propriedade. Não é um problema ético a falta de trabalho, o desemprego, as formas

escravizadoras do trabalho, quando a maioria não recebe as condições mínimas nem de salário nem de

infra estrutura para sobreviver? Em relação ao Estado, os problemas, éticos são muito ricos e complexos.

A liberdade do indivíduo só se completa como liberdade do cidadão de um Estado livre e de direito. As

leis, a Constituição, as declarações de direitos, a definição dos poderes, a divisão destes poderes para

evitar abusos, e a própria prática das eleições periódicas aparecem hoje como questões éticas

fundamentais.

Uma outra perspectiva de uma moral social encontramos no sociólogo Emile Durkheim. A

comparação que Durkheim faz da sociedade com um organismo biológico traz ricas analogias. A

sociedade é um imenso corpo social, como um “organismo biológico” (o conjunto das instituições

sociais formam este corpo), possuindo vários órgãos (entre eles: a família, o Estado, a escola, a Igreja),

cada qual com suas funções específicas de modo que a “anatomia social” será saudável se todos os

órgãos funcionarem bem. Durkheim leva essa analogia ainda mais além quando afirma que a partir do

momento em que um desses órgãos deixa de funcionar convenientemente, todo corpo social se ressente

e adoece. E o que torna saudável uma sociedade, fazendo com que ela funcione harmoniosamente, é a

existência de uma moral social. Cabe aos indivíduos desenvolver planos de ação que possam influir na

transformação dos aspectos deficientes da sociedade a partir de valores que possam orientar,

efetivamente, a conduta social dos indivíduos. Vale destacar aqui, a importância que a ideia

de solidariedade representa no pensamento do sociólogo francês. A solidariedade, dentro do contexto

das regras morais e sociais, pode e deve contribuir para a harmonia da sociedade.

Enfim, qual a contribuição que a Filosofia e, por sua vez, a Ética, podem oferecer para nós,

homens e mulheres do século XXI? No momento histórico em que vivemos existe um problema ético-

político grave. O Brasil sempre quis ser visto o país dos justos, da democracia, da ética acima de tudo,

porém não é bem essa a realidade vivida por todos (veja mais em: Ética na democracia brasileira).

Verifica-se uma realidade conflitante fundamentada em uma crise de sentido e de valores que se

apresenta na vida pessoal e nas relações sociais das pessoas. A partir desse contexto percebe-se uma

inquietação acerca do sentido da vida e do papel do “ser no mundo”, vindo assim a reaparecer com mais

força o interesse pelo tema da ética, enquanto coluna vertebral da reflexão sobre a conduta do ser

humano e seus valores. Não é suficiente para o homem comum e contemporâneo superar a crise da ética

atual conhecendo o outro e suas necessidades para se chegar a sua convivência harmônica. Não há como

superar esta crise sem um modelo de ética voltada para uma comunidade, como na polis grega. Hoje se

aposta no individualismo, na competição, na sociedade do espetáculo e do consumo.

Acerca das reflexões sobre o ponto de vista dos filósofos, fica claro o entendimento sobre a ética,

sendo um elemento imprescindível na sociedade. Somos formados por princípios e valores que estão

relacionados a nossa cultura e esses fatores são essenciais, para a formação do nosso caráter no que diz

Page 46: FILOSOFIA E SOCIOLOGIA - uceff.com.bruceff.com.br/downloads/Material Didatico/CADERNO DE ESTUDOS... · Sociologia – Controle e ... 3 APRESENTAÇÃO ... estudo, pois, compreendemos

45

respeito a nossa conduta ética e moral de modo que, irremediavelmente, o que se entende por Filosofia

e Ética está relacionado ao conhecimento e comportamento do indivíduo na sociedade.

Referências Bibliográficas

COTRIM, Gilberto. Fundamentos de Filosofia. 15ª Ed. São Paulo: Saraiva 2004.

MONDIN, B. Introdução à Filosofia: problemas, sistemas, autores, obras. Tradução de J. Renard. São

Paulo: Paulus, 1980.

VALLS, Álvaro L. M. O que é ética. São Paulo: Editora Brasiliense, 1994. (Coleção Primeiros Passos,

177). Em nosso website você encontra uma resenha da obra de Álvaro Valls: acesse o link: O que é

Ética (resenha).

-----------------------------------------------------------------------------------

A história (e a humanidade) tratou de formar muitas concepções sobre o termo ética as

quais exercem influências em nossos pensamentos, sobre o que é certo e o que é errado, o que

é bom e o que é ruim. Tais concepções não devem ser vistas como um conjunto fixo de

prescrições, mas identificadas em seu contexto histórico e temporal. Neste sentido, os

pensadores como Sócrates, Kant, Marx e até mesmo a própria Igreja Católica são referenciais

de compreensão e de entendimento da ética em cada uma das épocas correspondentes.

Vejamos as principais reflexões que o texto propõe:

Questões que envolvem a escolha entre o bem e o mal – a moral.

O significado e importância da ética na sociedade.

O papel do ser humano no mundo contemporâneo.

Page 47: FILOSOFIA E SOCIOLOGIA - uceff.com.bruceff.com.br/downloads/Material Didatico/CADERNO DE ESTUDOS... · Sociologia – Controle e ... 3 APRESENTAÇÃO ... estudo, pois, compreendemos

46

Caro (a) Acadêmico (a)!

Escolha uma, entre as três questões apresentadas acima e elabore uma redação

apresentando sua visão sobre o tema.

OBS: O trabalho deve compor uma lauda com fonte Times, tamanho 12.

[ATIVIDADE 9]

Sugestões de leituras complementares:

Artigos:

A importância do comportamento ético nas organizações. Disponível:

http://www.unioeste.br/campi/cascavel/ccsa/IISeminario/trabalhos/a%20import%C3%A2nci

a%20do%20comp.%20%C3%A9tico%20nas.......pdf

Cultura organizacional e ética empresarial: dois pesos, duas medidas? Disponível:

https://maldeiaexploratoria.files.wordpress.com/2009/08/cultura-organizacional-e-etica-

empresarial-dois-pesos-duas-medidas.pdf

Page 48: FILOSOFIA E SOCIOLOGIA - uceff.com.bruceff.com.br/downloads/Material Didatico/CADERNO DE ESTUDOS... · Sociologia – Controle e ... 3 APRESENTAÇÃO ... estudo, pois, compreendemos

47

REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS – FILOSOFIA

BARNES, J. Filósofos pré-socráticos. 2.ed. São Paulo: Martins Fontes, 1997.

BRASIL. Relatório para a Unesco. Educação – Um tesouro a descobrir. 2010. (Jacques Delors

– Presidente), 2010. 43p.

CHAUÍ, Marilena. Cidadania cultural o direito à cultura. São Paulo: Editora Perseu

Abramo, 2006.

_______.Conformismo e resistência. 2.ed. São Paulo: Brasiliense, 1987.

D’OTTAVIANO, Ítala M.L.; FEITOSA, Hércules de A. Sobre a história da lógica, a lógica

clássica e o surgimento das lógicas não-clássicas. V Seminário Nacional de História da

Matemática. UNESP, Rio Claro, 2003.

GASPARETTO JUNIOR, Antônio. Filosofia e Política. Info Escola. Disponível:

http://www.infoescola.com/filosofia/filosofia-politica/. Acesso em 28/07/2016.

GEERTZ, Clifford. A Interpretação das culturas. Rio de Janeiro: LTC, 1989.

HOBUSS, João. Introdução a História da Filosofia Antiga. [Recurso eletrônico], 2014. 172p.

Disponível: http://nepfil.ufpel.edu.br/dissertatio/acervo/12.pdf.

KONDER, Leandro. O que é dialética. São Paulo: Editora Brasiliense, 25ª ed. 2000.

LARAIA, Roque de Barros. Cultura – um conceito antropológico. 11.ed. Rio de Janeiro:

Jorge Zahar Editor, 1996.

LUCKESI, Cipriano C.; PASSOS, Elizete S.. Introdução à filosofia. 7 ed. São Paulo: Cortez,

2012.

TEIXEIRA, Anísio. Filosofia e educação. Revista Brasileira de Estudos Pedagógicos. Rio de

Janeiro, v.32, n.75, jul./set. 1959. p.14-27.

TOMELIN, Janes F.; SIEGEL, Norberto. Cadernos de Filosofia. Indaial-SC: Editora Asselvi.

2004, 68p.

UNESP. Introdução à lógica contemporânea. 2013. Disponível:

http://www.marilia.unesp.br/Home/Instituicao/Docentes/RicardoTassinari/2013ILC.pdf,

Page 49: FILOSOFIA E SOCIOLOGIA - uceff.com.bruceff.com.br/downloads/Material Didatico/CADERNO DE ESTUDOS... · Sociologia – Controle e ... 3 APRESENTAÇÃO ... estudo, pois, compreendemos

48

SOCIOLOGIA

Caderno de Estudos

UNIDADE I

Breve Introdução ao Campo Sociológico

Sociologia Geral

Ciência e Sociologia – Controle e estratificação

Mobilidade e mudanças sociais

UNIDADE II

O sistema empresarial moderno: suas tendências

Visão sociológica da Teoria das Organizações

UNIDADE III

Cultura Organizacional

Sociologia do processo produtivo

Sociologia do poder

Professora/Autora

Marinilse Netto, Dra.

Page 50: FILOSOFIA E SOCIOLOGIA - uceff.com.bruceff.com.br/downloads/Material Didatico/CADERNO DE ESTUDOS... · Sociologia – Controle e ... 3 APRESENTAÇÃO ... estudo, pois, compreendemos

49

APRESENTAÇÃO DOS ESTUDOS

Caro (a) acadêmico (o) da UCEFF Faculdades!

Para facilitar a sua compreensão, organizamos este Caderno de Estudos de Sociologia em

três unidades. Esta primeira unidade divide-se em quatro temas/assuntos:

Breve Introdução ao Campo Sociológico

Sociologia Geral

Ciência e Sociologia – Controle e estratificação

Mobilidade e mudanças sociais

Ao final de cada tema estudado indicamos atividades de auto estudo que são de grande

importância para a compreensão dos assuntos apresentados. Será através delas que você terá a

possibilidade de construção do conhecimento e a reflexão crítica, estabelecendo relações entre

o que estudou com a sua prática pessoal e profissional.

De modo geral, a disciplina está voltada para compreensões gerais sobre o campo

Sociológico, dando ênfase para questões que tratam da origem e conceito de fato social, da

modernidade e seus contornos. Busca, ainda, identificar o objeto de estudo da Sociologia e

entender elementos como coerção e o controle social, mobilidade e mudanças sociais.

Vamos aos estudos!

10 BREVE INTRODUÇÃO AO CAMPO SOCIOLÓGICO

“A construção do ser social, feita em boa parte pela educação, é a assimilação pelo indivíduo de uma

série de normas e princípios – sejam morais, religiosos, éticos ou de comportamento – que balizam a

conduta do indivíduo num grupo. O homem, mais do que formador da sociedade é um produto dela.”

(Emile Durkheim).

Augusto Comte (1798-1857) é, tradicionalmente, considerado “pai” da Sociologia, pois

foi esse pensador que mencionou pela primeira vez a palavra “Sociologia”, no ano de 1839 em

seu curso de Filosofia Positiva. Contudo, foram os estudos de Emile Durkheim (1858-1917)

tornaram a Sociologia uma ciência o que o designa “pai da Sociologia acadêmica”.

AULA 10

Page 51: FILOSOFIA E SOCIOLOGIA - uceff.com.bruceff.com.br/downloads/Material Didatico/CADERNO DE ESTUDOS... · Sociologia – Controle e ... 3 APRESENTAÇÃO ... estudo, pois, compreendemos

50

Estudos no campo da Sociologia se preocupam com a vida social humana, grupos e

sociedades, com enfoque no comportamento desses sistemas, ou seja, como funcionam, que

tipo de normas e padrões estabelecem, como e por que ocorrem suas transformações.

Ao entrar nos estudos sociológicos desenvolvemos nossa capacidade de pensar, nos

distanciando de ideias ou visões preconcebidas. O grande desafio aceito pela Sociologia é o de

investigar a ligação que existe entre o que a sociedade faz de nós, seres humanos e o que nós

fazemos de nós mesmos.

Mas, registra-se, a preocupação pela compreensão do comportamento humano no

campo social é recente. Foi somente no século XIX que pesquisadores da área, ou os “cientistas

sociais”, se empenharam em investigar, entre outras questões, como as ações com origem em

motivações individuais podem ser estendidas a ações coletivas, como regras ou normas de

conduta são incorporadas e internalizadas pelos indivíduos e em especial, como a prática

coletiva determina o comportamento de diferentes grupos sociais, aproximando-os ou

separando-os.

A Sociologia desenvolve estreita relação com outras disciplinas como a Antropologia –

que estuda as culturas humanas antigas; a História – que estuda o passado e o presente dos

grupos sociais, estabelecendo uma comparação entre os fatos atuais e os fatos antigos; a

Economia – que estuda os processos de produção, distribuição, acumulação e consumo de bens

materiais e; a Política – que estuda instituições ou organizações cujas estruturas e processos de

ação se aproximem de um governo, em complexidade e interconexão.

Vejamos a seguinte situação

Sociologia: autoconsciência crítica da realidade social.

Ciência que estuda os fenômenos sociais.

Page 52: FILOSOFIA E SOCIOLOGIA - uceff.com.bruceff.com.br/downloads/Material Didatico/CADERNO DE ESTUDOS... · Sociologia – Controle e ... 3 APRESENTAÇÃO ... estudo, pois, compreendemos

51

Essa narrativa nos coloca em uma perspectiva social muito corriqueira e que se repete

em muitos tempos históricos e sociedades. É muito comum as pessoas seguirem tipos de

comportamento ou procedimentos sem a autorreflexão crítica. Ano após ano, cultuamos

hábitos, costumes que nos foram ensinados sem sabermos bem quais são suas utilidades e

objetivos. Também assimilamos novos hábitos, os chamados ‘modismos’ pelo simples fato de

nos sentirmos incluídos em determinado grupo social e sua cultura.

10.1 FATO SOCIAL

De acordo com Emile Durkheim são os instrumentos sociais e culturais que determinam

na vida de um indivíduo em suas maneiras de agir, pensar e sentir, obrigando-o a se adaptar às

regras da sociedade. Os fatos sociais existem, independente da vontade do indivíduo e em sua

tese, Durkheim cita que o fato social está na percepção do indivíduo, que é condicionada por

realidades sociais que impõem limites do comportamento a fim de ser aceito pela sociedade.

Durkheim presenciou um tempo em que algumas das mais importantes criações da

sociedade moderna foram criadas, a invenção da eletricidade, do cinema, dos carros de passeio,

entre outros. Nesse período reinava certo otimismo em relação as novas descobertas e inovações

Um grupo de cientistas colocou cinco macacos em uma jaula, em cujo centro

pôs uma escada e, sobre ela, um cacho de bananas. Quando um macaco subia

as escadas para apanhar as bananas, os cientistas lançavam um jato de água

fria nos que estavam no chão. Depois de certo tempo, quando um macaco ia

subir a escada, os outros o enchiam de pancadas. Passado mais algum tempo,

nenhum macaco subiu mais a escada, apesar da tentação das bananas. Então

os cientistas substituíram um dos macacos. A primeira coisa que ele fez foi

subir a escada, dela sendo rapidamente retirado pelos outros, que lhe bateram.

Depois de algumas surras, o novo integrante do grupo não subia mais a

escada. Um segundo macaco foi substituído, e o mesmo ocorre, tendo o

primeiro substituto participado, com entusiasmo na surra ao novato. Um

terceiro macaco foi trocado e repetiu-se o fato. Um quarto e finalmente, o

último dos veteranos foi trocado. Os cientistas ficaram então com um grupo

de cinco macacos que, mesmo nunca tendo tomado um banho frio,

continuavam a bater naquele que tentasse alcançar as bananas. Se fosse

possível perguntar a algum deles porque batia em quem tentasse subir a

escala, ele diria: não sei... as coisas sempre foram assim por aqui. (Autoria

atribuída a Albert Einstein).

---Veja o vídeo: https://www.youtube.com/watch?v=2WkazAAuKnk

Page 53: FILOSOFIA E SOCIOLOGIA - uceff.com.bruceff.com.br/downloads/Material Didatico/CADERNO DE ESTUDOS... · Sociologia – Controle e ... 3 APRESENTAÇÃO ... estudo, pois, compreendemos

52

científicas, contudo, o sociólogo estava empenhado em investigar os problemas de ordem

social, para tanto, propôs regras de observação e de procedimentos para sua investigação.

Neste sentido, de acordo com Durkheim, o fato social deve atender a três características:

A generosidade – ocorre quando os fatos sociais são coletivos, desse forma, atingem toda a

sociedade; A exterioridade – é a característica que denomina os fatos sociais exteriores ao

indivíduo e que já estão organizados quando ele nasce; A coercitividade – relaciona-se com o

poder ou ainda a força que os padrões da cultura de uma determinada sociedade exercem e são

impostos aos indivíduos, obrigando-os a cumprir determinados padrões.

Do mesmo modo que a Biologia e a Física estudam os fatos da natureza, a Sociologia

pode fazer o mesmo com os fatos sociais. “A análise sociológica desdobra-se, assim, em uma

série de procedimentos comparativos que procuram confrontar os fenômenos sociais concretos

em toda a variedade de sua manifestação”. (MUSSE, 2011, p.8).

Emile Durkheim abordou a educação como um fato social. Para Durkheim a criança, ao

nascer, traz consigo somente a sua natureza individual e a sociedade trata de ensiná-la a viver

no convívio com outros seres. Segundo seus escritos, “a sociedade encontra-se, a cada nova

geração, na presença de uma tábua rasa sobre a qual é necessário construir novamente”.

A educação, segundo sua tese, é utilizada na sociedade - principalmente para os jovens –

como “um esforço contínuo para impor às crianças maneiras de agir, de pensar e de sentir” que

tem na coletividade. Nesta visão, a escola exerce um caráter de coerção no comportamento do

indivíduo.

Também a cultura, pois os fenômenos podem incentivar ou suscitar diferentes tipos de

sentimentos e reações entre as pessoas, por exemplo, os casos de linchamentos (ação deliberada

de pessoas comuns) com acusados de algum tipo de crime, as manifestações populares contra

regimes autoritários ou antidemocráticos que levam multidões para as ruas gritando palavras de

ordem ou ainda, estádios de futebol e a cultura do xingamento ao time ou ao juiz. De acordo

com Musse (2011, p.11) “Esses tipos de conduta ou de pensamento não são apenas exteriores

ao indivíduo, mas também dotados de um poder imperativo e coercitivo em virtude do qual se

impõem a ele, quer queira, quer não”.

Para Emile Durkheim a Sociologia é o estudo dos Fatos

Sociais. Os Fatos Sociais tem características próprias que os

distinguem pelos que são estudados por outras ciências.

Page 54: FILOSOFIA E SOCIOLOGIA - uceff.com.bruceff.com.br/downloads/Material Didatico/CADERNO DE ESTUDOS... · Sociologia – Controle e ... 3 APRESENTAÇÃO ... estudo, pois, compreendemos

53

Vejamos um exemplo de Fato Social segundo a visão de Durkheim:

- Se um aluno ou uma aluna chegasse à escola vestido com roupas diferentes dos demais,

certamente ficaria numa situação muito desconfortável: os colegas ririam dele/dela, o professor

lhe daria uma enorme bronca e provavelmente o diretor o/a mandaria de volta para vestir uma

roupa adequada. Existe um modo de vestir que é comum, que todos seguem, que não é

estabelecido pelo indivíduo. Quando ele/ela entrou no grupo, já existia tal norma e quando

ele/ela sair, a norma provavelmente permanecerá. Quer a pessoa goste, quer não, vê-se obrigada

a seguir o costume geral. Se não o seguir, sofrerá uma punição.

Vocês lembram esse fato social?

Foi publicado no site R7 em 07/11/2009 às 19h28: atualizado em: 07/11/2009 às 20h18 e

disponível no endereço http://noticias.r7.com/educacao/noticias/uniban-anuncia-expulsao-de-

aluna-que-usou-vestido-curto-20091107.html.

Page 55: FILOSOFIA E SOCIOLOGIA - uceff.com.bruceff.com.br/downloads/Material Didatico/CADERNO DE ESTUDOS... · Sociologia – Controle e ... 3 APRESENTAÇÃO ... estudo, pois, compreendemos

54

Agora que demos os primeiros passos para a compreensão do campo da Sociologia, realize a

atividade 10.

11 SOCIOLOGIA GERAL

A história é um elemento importante para entendermos qualquer tipo de fenômeno

(conforme vimos na aula anterior, a História é um campo de estudo muito próximo ao campo

da Sociologia). Não conseguimos entender algo sem estabelecer contato com a sua história,

assim, vamos iniciar nosso estudo dessa aula a partir do surgimento da modernidade (como um

fenômeno social), exatamente no período em que a Sociologia surge.

Selecione (escolha) uma matéria que circulou em jornais, redes sociais ou

outro meio de informação e comunicação nesta semana. Apresente-a

estabelecendo sua crítica pessoal. Você pode escolher o tema de sua preferência:

política, esportes, educação, cultura, etc... Mencione os seguintes dados: título da

matéria, autor (a), a fonte. Mas não esqueça, estabeleça uma apresentação crítica

sobre o assunto que você selecionou.

[ATIVIDADE 10]

Sugestões de leituras e vídeos complementares:

Livro: Emile Durkheim – Fato social e divisão do trabalho. Ricardo Musse comenta. (versão

online). Disponível:

http://disciplinas.stoa.usp.br/pluginfile.php/352563/mod_resource/content/1/MUSSE%2C%20Ri

cardo%3B%20DURKHEIM%2C%20%C3%89mile%2C%20Fato%20social%20e%20divis%C3

%A3o%20do%20trabalho.pdf

Artigo:

Vídeos:

Teorias e Pensadores da Sociologia - Auguste Comte. Disponível:

https://www.youtube.com/watch?v=hCZatEhnEH0

O Fato Social - E. Durkheim. Disponível: https://www.youtube.com/watch?v=f-rYZI3zR8I

AULA 11

Page 56: FILOSOFIA E SOCIOLOGIA - uceff.com.bruceff.com.br/downloads/Material Didatico/CADERNO DE ESTUDOS... · Sociologia – Controle e ... 3 APRESENTAÇÃO ... estudo, pois, compreendemos

55

11.1 O QUE É A MODERNIDADE?

A modernidade é um período de tempo que se caracteriza pela realidade social, cultural e

econômica vigente no mundo. Ao tratarmos da era moderna, pré-moderna ou ainda a pós-

moderna, fazemos referência à ordem política, à organização de nações, a forma econômica que

essas adotaram, entre outras características.

É comum nos referirmos à nossa realidade como moderna, o que está tão naturalizado em

nossa cultura que passou a ter o mesmo sentido de contemporâneo (ou seja, o que coexiste em

um mesmo período de tempo).

A literatura entende que, como a passagem de um período de tempo para outro ocorre o

rompimento de pensamento ou visões de mundo. Neste sentido, eventos que deram início ao

movimento que culminou com a Revolução Francesa se tornam palco da superação de

pensamento e da mentalidade que impregnaram o período medieval. O rompimento com o

pensamento ‘escolástico’, método de pensamento ligado aos códigos da Igreja Católica, e o

estabelecimento da razão como forma de construção de conhecimento, caracterizam-se como

primeiros passos em direção à construção do pensamento do período moderno.

O desenvolvimento da Revolução Francesa teve como base a construção ideológica do

Iluminismo. A ideia iluminista de que o conhecimento verdadeiro está na experiência a partir

dos sentidos (empiria), estabeleceu a razão e a ciência como o modo verdadeiro de se chegar

ao conhecimento do mundo. A monarquia francesa (com base na tradição fundamentalmente

teológica) e seu poder garantido pela providência divina foram derrubados. Surge o princípio

de igualdade que, mais tarde, seria o ponto de partida para os movimentos pela democracia nas

Américas.

O filósofo, físico e matemático francês René Descartes (1596-1650) foi um dos principais

pensadores desse período. Em sua mais emblemática obra, denominada ‘Discurso do método’,

Descartes apresenta o método cartesiano, direcionando o caminho a ser trilhado para a

construção do conhecimento cientifico: a evidência, a análise, a síntese e a enumeração.

Nessa direção, o pensamento racional e o método cartesiano tornam-se base para a

revolução industrial. A Europa passava por grandes transformações originadas pelas guerras, o

que exigiam uma produção de bens materiais em maior escala. Há uma severa modificação na

estrutura social, também as relações entre indivíduos tornam-se complexas, pois, havia uma

nova realidade.

O sentido de ‘mundo agrário ou rural’ e ‘meio urbano’ passa a ser reconfigurado. O

contexto dá origem a conflitos nunca antes vivenciados entre os indivíduos, por exemplo, nas

Page 57: FILOSOFIA E SOCIOLOGIA - uceff.com.bruceff.com.br/downloads/Material Didatico/CADERNO DE ESTUDOS... · Sociologia – Controle e ... 3 APRESENTAÇÃO ... estudo, pois, compreendemos

56

relações de trabalho. Não podemos deixar de citar as questões que envolvem conflitos

ideológicos. O pensamento tradicional, ‘amarrado’ as ideias teológicas ou religiosas são

abandonadas. Max Weber (1864-1920) nomeou esse período como o processo de

“desencantamento do mundo”, no qual o sujeito moderno deixa de lado suas crenças e tradições

religiosas e passa a seguir explicações baseadas na razão.

A complexa situação das sociedades modernas fez com que o sociólogo polonês Zygmunt

Bauman (1999) definisse que uma das principais características da modernidade é a busca pela

ordem. Após o estabelecimento da ordem veio a busca pelo progresso.

Aqui apresentamos apenas um recorte da enorme trajetória histórica que culminou com o

rompimento de padrões e o surgimento de novas ideias e fenômenos sociais. É possível perceber

a complexidade que envolve os caminhos pelos quais o pensamento humano e nossas

organizações sociais passaram e ainda passam. O mundo moderno está em constante reinvenção

e, assim como já aconteceu, chegará um momento em que este período também será rompido e

outro nascerá.

11.2 O OBJETO DE ESTUDO DA SOCIOLOGIA

Por suas características interpretativas, no campo da Sociologia, o pesquisador sociólogo

define e elege o que ele entende como sendo o objeto da Sociologia. Ao definir o seu objeto, o

sociólogo cria uma linguagem que transmite a sua própria teoria, articulada a uma metodologia,

que dará a “forma” de como o pesquisador realizará a sua pesquisa.

Page 58: FILOSOFIA E SOCIOLOGIA - uceff.com.bruceff.com.br/downloads/Material Didatico/CADERNO DE ESTUDOS... · Sociologia – Controle e ... 3 APRESENTAÇÃO ... estudo, pois, compreendemos

57

Segundo Oliveira (2004) a atitude científica em Sociologia se dá a partir da constatação

de um problema social. Ao observar os fatos e a realidade dos indivíduos e grupos, suas

relações, o pesquisador formula uma hipótese de explicação e, ao final, profere leis ou

tendências de que um fato ocorre por motivos ‘tais e tais’.

Já vimos que Emile Durkheim focou seus estudos na análise dos fatos sociais. Augusto

Comte pesquisava a sociedade para compreendê-la, desejando que fosse organizada e

reformada. Nesta visão, os estudos da sociedade deveriam ser feitos com espírito científico e

objetividade.

Karl Marx se empenhou em investigar as classes sociais. Embora ele não tenha vivido

para ver a aplicação de suas ideias, seu trabalho teve grande influência na formação dos regimes

comunistas, no início do século XX. Cria a ideologia socialista para contrapor ao capitalismo.

Para Marx cada época histórica é construída a partir de um tipo de produção econômica,

organização de trabalho e controle da propriedade, desenvolvendo sua própria dinâmica.

Entender sua obra é um exercício complexo pois o pensador aborda em suas teses, a filosofia,

política, história, religião e economia. A partir dos estudos de Marx a Sociologia assume uma

postura mais crítica.

A Sociologia busca debruçar-se sobre

os agentes de transformação social

para melhor entender as diferentes

organizações sociais, não apenas como

forma de justificar os fatos e

acontecimentos, mas também como

meio para compreender o presente e

projetar o futuro.

Karl Max

(1818-1883)

Max Weber

(1864-1920)

Augusto Comte

(1798-1857)

Page 59: FILOSOFIA E SOCIOLOGIA - uceff.com.bruceff.com.br/downloads/Material Didatico/CADERNO DE ESTUDOS... · Sociologia – Controle e ... 3 APRESENTAÇÃO ... estudo, pois, compreendemos

58

“Ao desenvolver os métodos para o aumento da mais-valia, Marx mostra criticamente

que a mais-valia é produzida nas organizações pelo emprego da força do trabalho. O capital

compra a força de trabalho e paga em troca de salário”. (SILVA; PAULINI, 2004. p.39).

Max Weber, considerado um dos fundadores dos estudos sociológicos moderno, estava

preocupado em compreender a sociedade a partir do indivíduo. Afirmou que a Sociologia deve

sempre buscar compreender os fenômenos “no nível do significado” dos indivíduos, ou seja, o

que os indivíduos veem e sentem durante as ações que exercem na sociedade. “Também é

necessário examinar o contexto cultural criado quando os atores sociais interagem” dizem Silva

e Paulini (2004, p.41).

Ao definir características da ação social, Max Weber organizou-as em quatro diferentes

tipos: (1) Ação social racional com relação a um objetivo; (2) Ação social racional com relação

a valores; (3) Ação social tradicional e; (4) Ação social emotiva ou afetiva.

1) Ação racional com relação a um objetivo: Determina uma ação que envolve

racionalidade lógica. O indivíduo possui um objetivo e calcula como conseguirá atingi-

lo. Contudo, o fato dele não alcançar sua meta, não retira da ação a busca por um objetivo

e sua racionalidade.

2) Ação racional com relação a valores: O indivíduo age racionalmente não para alcançar

um objetivo, mas para preservar um valor. Esse tipo de comportamento pode parecer

irracional, mas é o indivíduo que dá sentido à ação e não o observador. Nesse caso, o

indivíduo está defendendo algo que lhe é importante ou de valor.

3) Ação afetiva ou emotiva: Não há aqui, objetivos a serem alcançados ou valores a serem

preservados. O que caracteriza a ação do indivíduo é seu estado emocional.

4) Ação tradicional: O indivíduo age de acordo com alguma convenção tradicional,

incorporada em seu comportamento. Um costume, um hábito que ele não sabe explicar

quando foram internalizados. Ele não racionaliza sua ação e não procura saber quais as

consequências da ação.

A partir dessa classificação, Weber salienta que as condutas humanas não podem ser

classificadas de modo exato. Os quatro tipos de ação social não são puros e nem isoladas na

realidade humana.

“Nem todo tipo de contato entre pessoas tem caráter social,

senão apenas um comportamento que, quanto ao sentido, se

orienta pelo comportamento de outras pessoas. Um choque entre

dois ciclistas, por exemplo, é um simples acontecimento do

mesmo caráter de um fenômeno natural. Ao contrário, já

constituiriam 'ações sociais' as tentativas de desvio de ambos, o

xingamento, a pancadaria ou a discussão pacífica após o

choque”. (MAX WEBER)

Page 60: FILOSOFIA E SOCIOLOGIA - uceff.com.bruceff.com.br/downloads/Material Didatico/CADERNO DE ESTUDOS... · Sociologia – Controle e ... 3 APRESENTAÇÃO ... estudo, pois, compreendemos

59

Também a conduta do cientista é uma ação social com relação a um valor, que neste caso

seria a verdade. A verdade é um valor construído ao longo da história em diferentes contextos

sociais e culturais. Para Max Weber, A crença no valor da verdade científica não procede da

natureza, mas é produto de determinadas culturas.

Conforme você pode observar caro (a) acadêmico (a), trouxemos um apenas uma pequena

dose do que é, em seu todo, o campo sociológico. Há outros autores que buscaram, nas décadas

que se seguiram a completar o campo, acrescentando novas ideias e visões da sociedade. Isso é

tema para a próxima aula.

12CIÊNCIA E SOCIOLOGIA

CONTROLE E ESTRATIFICAÇÃO

Com o avanço do conhecimento da sociedade, as ciências sociais foram divididas em

diversas áreas do saber.

Sugestões de leituras e vídeos complementares:

Livro: OLIVEIRA, Luiz Fernandes de; COSTA, Ricardo Cesar Rocha da. Sociologia para jovens

do século XXI. Rio de Janeiro: Imperial Novo Milênio, 2007.

Site: Site do Ministério da Fazenda. Disponível:

http://www.fazenda.gov.br/noticias/2016/maio/200bspe-divulga-relatorio-sobre-a-distribuicao-

da-renda-no-brasil

Vídeos:

O que é a modernidade?. Disponível: https://www.youtube.com/watch?v=jZCDmsbBnTU

Aula 35 - Filosofia e Sociologia - Pós - Modernismo ou Modernidade Líquida - Parte I.

Disponível: https://www.youtube.com/watch?v=6vaBUqnhrm8

Exemplifique, a partir das quatro categorias de Max Weber, ações humanas que

correspondem a: (1) Ação social racional com relação a um objetivo; (2) Ação social

racional com relação a valores; (3) Ação social tradicional e; (4) Ação social emotiva ou

afetiva. Use ações do cotidiano. Reflita como nossas ações podem ter correspondência

com a classificação do autor.

[ATIVIDADE 11]

AULA 12

Page 61: FILOSOFIA E SOCIOLOGIA - uceff.com.bruceff.com.br/downloads/Material Didatico/CADERNO DE ESTUDOS... · Sociologia – Controle e ... 3 APRESENTAÇÃO ... estudo, pois, compreendemos

60

Desde o século XIX o campo as Sociologia produziu um importante conjunto de

conceitos, ideias e categorias, contudo, por sua complexidade e variedade, seria difícil

contemplar todas as suas premissas neste Caderno de Estudos.

Selecionamos, de modo reduzido, conceitos fundamentais registrados pela literatura,

dando destaque para aqueles que são mais circulares no estudo dos fenômenos sociais, no

campo das organizações.

12.1 COERÇÃO SOCIAL

Do latim ‘coercĭo’, coerção é uma pressão que se exerce sobre uma pessoa para

forçar/obrigar a uma conduta ou uma mudança na sua vontade.

Conforme registramos na aula anterior, ao explicar a ideia de fato social, Emile Durkheim

já expressava a condição coercitiva inerente às relações sociais ao dizer que os fatos sociais

possuem um poder coercitivo. Nos diferentes tipos de grupos sociais (também nas

organizações), observamos que existe uma grande dificuldade de o indivíduo lutar contra a

força que os fatos exercem, conformando-se às regras do grupo social a que pertence.

12.2 INSTITUIÇÕES SOCIAIS

A existência e manutenção das instituições sociais em uma sociedade vincula-se a ideia

de que há organização social e que esta é estruturada. As instituições sociais são identificadas

de acordo com sua capacidade de equilíbrio e de identificação de seus objetivos fundamentais.

No âmbito das ciências sociais, a estrutura social é formada pelas organizações que

compõe a sociedade, as quais são emergentes e/ou determinantes das ações dos indivíduos. A

estrutura social é o sistema de estratificação socioeconômico (como a estrutura de classe),

instituições sociais, ou outras relações padronizadas entre grandes grupos sociais. Numa

microescala, ela pode ser descrita como normas que formam o comportamento de indivíduos

pertencentes a um sistema social.

A ideia de estrutura social apareceu desde o pensamento clássico da sociologia pela

necessidade de compreender as relações sociais através de uma sistematização dos elementos

que compõem a sociedade. Estes elementos formam então uma estrutura.

A Sociologia apresenta como requisitos básicos para a compreensão estrutural das

sociedades as seguintes necessidades: As instituições econômicas, políticas e governamentais,

de família e parentesco, religiosas e educacionais.

Page 62: FILOSOFIA E SOCIOLOGIA - uceff.com.bruceff.com.br/downloads/Material Didatico/CADERNO DE ESTUDOS... · Sociologia – Controle e ... 3 APRESENTAÇÃO ... estudo, pois, compreendemos

61

12.3 ESTRATIFICAÇÃO SOCIAL E CLASSE SOCIAL

Por estratificação social entende-se a distribuição de indivíduos e grupos em camadas

hierarquicamente superpostas em uma sociedade. Essa distribuição ocorre pela posição social

que os indivíduos ocupam, pelas atividades que eles exercem e pelos papeis que desempenham

na estrutura social.

Estratificação social por ser defina como a classificação dos indivíduos em grupos com

base em condições socioeconômicas comuns. “A maneira pela qual se estratifica uma sociedade

depende da maneira pela qual os homens se reproduzem socialmente. E a maneira pela qual os

homens se reproduzem socialmente está diretamente ligada ao modo pelo qual eles organizam

a produção econômica e o poder político” (IANNI, 1973, p.11).

Trata-se das formas de divisão das sociedades em classes ou estratos de forma que essas

divisões se organizem numa hierarquia de poder, prestígio ou privilégio. A literatura da

sociologia geral e de introdução à sociologia costuma caracterizar quatro principais tipos de

estratificação social: escravidão, estados, castas e classe social e status. Estas formas de divisão

social são antigas na sociedade, constituem-se grupos que caracterizam as sociedades

industriais que se desenvolveram a partir das revoluções Industrial e Francesa (séculos XVIII e

XIX).

De acordo com Oliveira (1997, p.71):

Podemos dividir a sociedade capitalista em dois grupos, segundo suas situação em

relação aos elementos da produção: proprietários e não proprietários dos meios de

produção. As relações de produção dão origem a duas camadas sociais diferentes. A

essas camadas damos o nome de classes sociais. Classicamente, designamos essas

classes sociais como burguesia e proletariado. Apesar de ser correntemente usada para

designar as camadas sociais em vários momentos da história da humanidade, esta

designação é aplicada com maior precisão para a sociedade capitalista. Assim, o

prestígio social, o poder político e a capacidade de consumo de luxo, de modo geral,

são privilégios dos proprietários dos meios de produção.

Podemos dizer que as pessoas estão distribuídas nas seguintes camadas: (1) alta (classe

A); (2) média (B); (3) ou inferior (C), as quais correspondem a graus diferentes que envolvem

além da riqueza, poder e prestígio social.

Na sociedade capitalista contemporânea, as posições sociais são definidas pela situação

dos indivíduos no desempenho de suas atividades produtivas. Assim, os grandes empresários,

donos de terras, banqueiros e grandes comerciantes estão no topo da sociedade. Já, os

trabalhadores, por disporem somente de sua força de trabalho, estão na parte inferior da

sociedade. Vale dizer ainda que em nossa sociedade, há indivíduos que alcançam poder e

Page 63: FILOSOFIA E SOCIOLOGIA - uceff.com.bruceff.com.br/downloads/Material Didatico/CADERNO DE ESTUDOS... · Sociologia – Controle e ... 3 APRESENTAÇÃO ... estudo, pois, compreendemos

62

prestígio (e novas posições sociais) através da política, da religião, da militância social, entre

outros.

Há três tipos de estratificação social:

ESTRATIFICAÇÃO ECONÔMICA: Definida pela posse de bens materiais, de

capital. Isso faz com que existam pessoas ricas, pobres e em situações intermediárias.

ESTRATIFICAÇÃO POLITICA: Estabelecida pela posição de mando na sociedade

(grupos que tem poder e grupos que não tem).

ESTRATIFICAÇÃO PROFISSIONAL: Baseada nos diferentes graus de

importância atribuídos a cada profissional pela sociedade.

Importante registrar que todos os aspectos de uma sociedade – economia, política, social,

cultural, etc. – estão interligados. Desse modo, os vários tipos de estratificação não podem ser

entendidos de modo separado. Outra questão importante é que a composição de sociedades

estratificadas socialmente é um fenômeno histórico. As diferenciações sociais, de definem suas

características ocorrem em um processo histórico que em sua própria lógica. Desse modo não

podem ser considerados fenômenos “naturais”, derivados de alguma lógica exterior ao próprio

ser humano. São processos construídos por agentes humanos que se opõem, sob a forma de

grupos, no campo do conflito.

Pessoas que ocupam altas posições econômicas, em geral, também têm poder e

desempenham posições profissionais valorizadas socialmente. Há sociedades em que os

indivíduos nascem em uma camada social considerada mais baixa e podem alcançar, com o

decorrer do tempo, e com apoio de vários fatores, uma posição social mais elevada. Contudo,

existem sociedades em que, mesmo usando sua capacidade e esforço, o indivíduo não consegue

alcançar uma posição social mais elevada.

A divisão da sociedade em castas é determinada a partir

da hereditariedade. As castas se definem de acordo com a

posição social que determinadas famílias hindus ocupam. Fator

que estabelece um tipo de “hierarquia” social marcada por

privilégios e deveres.

Page 64: FILOSOFIA E SOCIOLOGIA - uceff.com.bruceff.com.br/downloads/Material Didatico/CADERNO DE ESTUDOS... · Sociologia – Controle e ... 3 APRESENTAÇÃO ... estudo, pois, compreendemos

63

Classe social define-se como conjunto de agentes sociais nas mesmas condições no

processo de produção e que têm afinidades políticas e ideológicas. As classes sociais e a ordem

social estão determinadas pela situação de mercado e pelas relações econômicas, sendo que o

poder também é determinado economicamente.

Fonte: Elaboração com base em Ianni (1973). (Blog cafécomsociologia.com).

12.4 CONTROLE SOCIAL

Entende-se por controle social o conjunto de meios e de recursos que as sociedades ou

grupos usam para convencerem os indivíduos a se sentirem conformados com as normas

definidas por estas mesmas sociedades ou grupos. Os meios podem ser de origem positivo ou

negativa. De modo geral, constituem-se de recursos usados para coibir, restringir ou ainda

Faixas Salariais x Classe Social - Qual a sua classe social?

Atualizado em 30.06.2016 08:41 por Thiago Rodrigo Alves Carneiro com

564518 visualizações.

Há vários critérios para definir classes sociais, sem uma predileção

específica na literatura. Saiba mais sobre dois dos critérios mais utilizados:

o critério Brasil e o critério por faixas de salário-mínimo.

Duas visões relevantes sobre Classes Sociais

Atualmente, muitas e muitas pesquisas sobre consumo costumam relatar

hábitos segundo as classes sociais. Entretanto, a metodologia de cálculo e

caracterização de cada uma das classes é bastante difusa e há, atualmente,

pelo menos duas visões relevantes:

(1) ABEP - Associação Brasileiras de Empresas de Pesquisa, mais

conhecida como Critério Brasil.

(2) IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, utilizado no censo

populacional.

Page 65: FILOSOFIA E SOCIOLOGIA - uceff.com.bruceff.com.br/downloads/Material Didatico/CADERNO DE ESTUDOS... · Sociologia – Controle e ... 3 APRESENTAÇÃO ... estudo, pois, compreendemos

64

impedir que ocorram, por parte individual ou coletiva, ações não vinculadas as normas

estipuladas. Agem de modo a motivar e incentivar a adesão do maior número possível de

indivíduos.

O controle social, como forma de regulamentar as ações individuais e coletivas, buscando

consenso a partir de normas e padrões determinados, são exercidos a partir de: conjunto de

mecanismos de sanções e punições (externo ao indivíduo/grupo) e o disciplinamento dos

membros desde as primeiras socializações de maneira que estes internalizem e mentalizem

aquelas normas fundamentais da ordem social (controles internos).

Page 66: FILOSOFIA E SOCIOLOGIA - uceff.com.bruceff.com.br/downloads/Material Didatico/CADERNO DE ESTUDOS... · Sociologia – Controle e ... 3 APRESENTAÇÃO ... estudo, pois, compreendemos

65

Vejamos a matéria publicada no jornal O Estadão.

Classe A tem maior fatia da renda do País

Estudo com base nos dados da Receita Federal aponta que a distribuição de renda é pior que a

mostrada pelos números da Pnad Luiz Guilherme Gerbelli,

O Estado de S.Paulo

16 Janeiro 2016 | 20h00

A distribuição de renda no Brasil é pior do que se imaginava. Um estudo elaborado pela

Tendências Consultoria Integrada mostrou que a classe A – famílias com rendimento superior a

R$ 14.695 – detém uma fatia ainda maior da massa de renda nacional.

O levantamento elaborado pelos economistas Adriano Pitoli, Camila Saito e Ernesto Guedes foi

feito com base nos dados da Receita Federal e mostrou que as 2,5 milhões de famílias da classe A

são responsáveis por 37,4% da massa da renda nacional. Nos dados mais conhecidos, obtidos por

meio da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio (Pnad), estimava-se que os mais ricos

tenham 16,7% da renda nacional.

Os economistas chegaram ao novo número sobre distribuição de renda com base numa espécie de

Pnad ajustada. O ajuste foi feito analisando a renda de duas formas. Para as famílias com ganhos

de até cinco salários mínimos, foram utilizados os dados tradicionais da Pnad. Para as faixas mais

ricas, o estudo levou em conta as declarações de Imposto de Renda.

“Todo mundo sabia que a desigualdade de renda no Brasil era enorme, mas ela é muito maior do

que se imaginava”, afirma Adriano Pitoli.

Dados omitidos. A vantagem de analisar os dados da Receita para as classes mais ricas é explicada

pelo fato de a Pnad ser declaratória e, portanto, limitada para mensurar dados envolvendo fontes

de renda com ativos financeiros e aluguéis. “As pesquisas declaratórias (como a Pnad) são

ineficientes para capturar a renda de aplicações financeiras, aluguéis e ganhos de capital”, afirma

Pitoli. “Na verdade, ninguém tem esses números de cabeça”.

O exercício da Tendências deixa evidente a dificuldade da Pnad em apurar o tamanho da

desigualdade brasileira. Nas famílias com renda entre cinco e dez salários mínimos, a massa de

renda apurada pela Pnad é 13% menor do que mostra o dado da Receita Federal. A diferença é

crescente conforme o topo da pirâmide se aproxima.

Na faixa de brasileiros com ganhos acima de 160 salários mínimos, a massa de renda captada pela

Pnad é 97% menor do que os dados obtidos pela análise do Imposto de Renda.

“A desigualdade com base nos dados da Pnad é menor do que mostram os dados da Receita”,

afirma Naercio Menezes Filho, coordenador do Centro de Políticas Públicas do Insper. “Existe

uma dificuldade da Pnad em captar a renda da fatia mais rica da população”.

Abismo entre classes. O estudo da consultoria Tendências também chegou a outras duas

conclusões relevantes: o abismo entre as classes sociais é maior do que se imaginava e as classes

A e B são um pouco maiores do que indicavam as pesquisas tradicionais.

Pela Pnad tradicional, a classes A responde por 2% do total das famílias brasileiras, e a classe B,

por 12,6%. Nos dados ajustados pela consultoria, a fatia das classes aumenta para 3,6% e 15%,

respectivamente.

Com relação ao distanciamento entre as classes sociais, o estudo da consultoria apontou que a

renda das famílias da classe A é 40,9 vezes maior do que as da classe D/E. Na Pnad original, a

diferença apurada era de 23,3 vezes. “A intenção do estudo não é substituir os dados da Pnad e da

Receita. O exercício é continuar olhando a Pnad para as classes de menor renda, e na faixa das

classes de maior renda fazer os ajustes para eliminar o viés da omissão de renda”, afirma Pitoli.

Responda: Na sua opinião quais são as principais causas que levam a população

brasileira a tamanha desigualdade social?

[ATIVIDADE 12]

Page 67: FILOSOFIA E SOCIOLOGIA - uceff.com.bruceff.com.br/downloads/Material Didatico/CADERNO DE ESTUDOS... · Sociologia – Controle e ... 3 APRESENTAÇÃO ... estudo, pois, compreendemos

66

13MOBILIDADE E MUDANÇAS SOCIAIS

Como um campo de estudo da Sociologia, usado para a compreensão das formas pelas

quais os diferentes grupos humanos distinguem os integrantes de uma mesma cultura, a

mobilidade permite compreender as vias e possibilidades de troca, ascensão ou rebaixamento

que um determinado indivíduo possui no grupo social.

Neste sentido, mobilidade social significa o fenômeno em que um indivíduo (ou um

grupo) que pertence à determinada posição social transita para outra, de acordo com o sistema

de estratificação social.

Conforme vimos na aula anterior, estratificação social indica a existência de diferenças

e/ou desigualdades entre indivíduos de determinada sociedade. Indica a existência de grupos de

pessoas que ocupam posições diferentes.

Na era moderna, a disseminação dos valores liberais transformaram o conceito de

mobilidade social em uma meta política para as nações guiadas por princípios democráticos.

Os números de desenvolvimento social e econômico enxergam na mobilidade ascendente um

claro indício do acúmulo e distribuição menos desigual da riqueza entre a população. Contudo,

não podemos restringir a concepção de mobilidade somente à variação das condições materiais

que uma pessoa tem ao longo de sua vida.

A mobilidade é mais frequentemente medida de forma quantitativa em termos de

mudança de mobilidade econômica, tais como mudanças na renda ou riqueza, mas em algumas

culturas, a posição social de um indivíduo pode estar ligada à sua descendência familiar ou

algum tipo de função política ou religiosa desempenhada. Existem dois tipos de mobilidade

social: horizontal e vertical.

Sugestões de leituras e materiais complementares:

Artigo: Controle Social. Notas em torno de uma noção polêmica.

Disponível:

http://www.depen.pr.gov.br/arquivos/File/controlesocialnotasemtornodeumanocaopolemica.pdf

Site: Site do Ministério da Fazenda. Disponível:

http://www.fazenda.gov.br/noticias/2016/maio/200bspe-divulga-relatorio-sobre-a-distribuicao-

da-renda-no-brasil

Vídeo:

Sociologia Descomplicada: Direito e Controle Social. Disponível: https://www.youtube.com/watch?v=1wSOrQ8M1Rw

AULA 13

Page 68: FILOSOFIA E SOCIOLOGIA - uceff.com.bruceff.com.br/downloads/Material Didatico/CADERNO DE ESTUDOS... · Sociologia – Controle e ... 3 APRESENTAÇÃO ... estudo, pois, compreendemos

67

Mobilidade social horizontal: gerada por uma alteração de posição provocada por

fatores geracionais (geração) ou profissionais, contudo, não implica uma mudança de

classe social. A mobilidade ocorre dentro da mesma classe.

Mobilidade social vertical: gerada por uma alteração de classe social que pode

acontecer de forma ascendente (de uma classe baixa para outra superior) ou descendente

(de uma classe alta para outra inferior).

Há autores que afirmam que uma sociedade estratificada é aquela onde não se verifica a

mobilidade social. Em uma sociedade estruturada dessa forma, um determinado indivíduo

mantém a sua classe social, independentemente das circunstâncias.

Por mudança social entendemos as transformações das sociedades e do seu modo de

organização, ocasionas por uma ruptura ou quebra de paradigma. Por exemplo, eventos como

a abolição da escravatura, o êxodo rural, os retirantes brasileiros que fogem da seca, a evolução

dos meios de transporte, as tecnologias de informação e comunicação como rádio, tv, telefone

e internet, são apenas alguns exemplos de acontecimentos que transformam, ou transformaram,

a sociedade. Constituem-se, desse modo, ocorrências de mudança social. Pelos eventos citados,

podemos notar que as mudanças sociais são constantes e afetam o desenvolvimento, o modo de

pensar dos indivíduos e a organização das sociedades.

Vejamos os diferentes pontos de vista sobre mudança social, segundo os sociólogos, ao

longo dos tempos:

Mobilidade social no Brasil

A mobilidade social no Brasil tem crescido rapidamente nas últimas

décadas, e segundo dados do IBGE, de 1970 até 2000, aumentou para 63%.

Apesar disso, não é possível afirmar que a mobilidade social é sinônimo de

igualdade social. A sensação que existe muitas vezes no Brasil é que a

classe média está desaparecendo, enquanto as classes alta e baixa estão

crescendo. O grande problema no Brasil é que a grande maioria sobre

pouco na "escada" social, enquanto uma pequena percentagem sobre

muito.

O mercado de trabalho atual exige trabalhadores mais qualificados, o que

implica uma educação com mais qualidade e mais especializada. A falta de

qualificação dos trabalhadores funciona como um freio para a mobilidade

social, porque indivíduos pouco qualificados estão desempregados ou não

conseguem empregos que permitam alcançar uma classe social mais

elevada. Assim, o investimento na educação e enriquecimento profissional

da população é um fator essencial para fomentar a mobilidade social e

diminuir a desigualdade verificada atualmente.

Fonte: http://www.significados.com.br/mobilidade-social/. Acesso em 31/07/2016.

Page 69: FILOSOFIA E SOCIOLOGIA - uceff.com.bruceff.com.br/downloads/Material Didatico/CADERNO DE ESTUDOS... · Sociologia – Controle e ... 3 APRESENTAÇÃO ... estudo, pois, compreendemos

68

Augusto Comte - admitia a importância da mudança desde que a ordem não fosse afetada.

Max Weber - a principal causa da mudança da sociedade está na origem do capitalismo,

especialmente como resultado do progresso e da urbanização.

Karl Marx - acreditava que as condições econômicas e a luta entre as classes são a principal

causa da mudança social.

Emile Durkheim - a mudança social é resultado das relações de trabalho e descarta a

necessidade de revoluções.

Nos tempos atuais, a internet é citada como uma das principais causas da transformação

das sociedades, isso se dá, não só pela sensível mudança na forma como as pessoas se

comunicam ou recebem informações, mas, sobretudo, sobre os principais benefícios que a

internet pode gerar em nossa vida diária. Esse é o assunto para a nossa próxima atividade.

Sugestões de leitura e vídeos complementares:

Artigo: Tendências tecnológicas de alto impacto para 2016, segundo a Gartner

Disponível: http://idgnow.com.br/ti-corporativa/2015/10/26/10-tendencias-tecnologicas-de-

alto-impacto-para-2016-segundo-a-gartner/

Vídeos: Clássicos da Sociologia Karl Marx. Disponível:

https://www.youtube.com/watch?v=I2AZAbg1rLw

Videoaula de Sociologia - Mudanças Sociais. Disponível: https://www.youtube.com/watch?v=XRZ6KpiWVvE

Em qualquer mudança social há uma série de consequências benéficas e outras

menos benéficas para a sociedade.

De acordo com Manuel Castells “A rede é a infraestrutura de nossas vidas”.

“Somos anjos e demônios. Viver na internet tem um perigo: nós mesmos”. [Disponível: http://www1.folha.uol.com.br/ilustrada/2013/06/1293805-somos-anjos-e-demonios-

na-internet-diz-o-sociologo-manuel-castells.shtml. Acesso em 31/07/2016.]

Caro (a) Acadêmico (a)!

Na sua opinião, quais foram as principais mudanças (benéficas e menos

benéficas que a internet trouxe para a sociedade?

[ATIVIDADE 13]

Page 70: FILOSOFIA E SOCIOLOGIA - uceff.com.bruceff.com.br/downloads/Material Didatico/CADERNO DE ESTUDOS... · Sociologia – Controle e ... 3 APRESENTAÇÃO ... estudo, pois, compreendemos

69

Caderno de Estudos

UNIDADE II

O sistema empresarial moderno: suas tendências

Visão sociológica da Teoria das Organizações

Professora/Autora

Marinilse Netto, Dra.

Page 71: FILOSOFIA E SOCIOLOGIA - uceff.com.bruceff.com.br/downloads/Material Didatico/CADERNO DE ESTUDOS... · Sociologia – Controle e ... 3 APRESENTAÇÃO ... estudo, pois, compreendemos

70

APRESENTAÇÃO DOS ESTUDOS

Caro (a) acadêmico (o) da UCEFF Faculdades!

Estamos nos dirigindo para a segunda unidade deste Caderno de Estudos de Sociologia.

Nossos estudos serão guiados por dois temas/assuntos:

O sistema empresarial moderno: suas tendências

Visão sociológica da Teoria das Organizações

Ao final de cada tema estudado indicamos atividades de auto estudo que são de grande

importância para a compreensão dos assuntos apresentados. Será através delas que você terá a

possibilidade de construção do conhecimento e a reflexão crítica, estabelecendo relações entre

o que estudou com a sua prática pessoal e profissional.

De modo geral, os temas escolhidos para essa unidade mostram como a Sociologia

percebe as questão que envolvem o sistema empresarial do período moderno, identificando

quais são suas principais tendências. Por fim, o estudo desta unidade vai percorrer uma visão

sociológica da Teoria das Organizações.

Iniciando...

14 O SISTEMA EMPRESARIAL MODERNO: SUAS TENDÊNCIAS

O cenário empresarial atual é caracterizado por significativas transformações

tecnológicas, organizacionais, informacionais, culturais e sociais. A competição da era

industrial transformou-se na era da competição pela informação. É certo que o conhecimento é

hoje, a matriz que move toda e qualquer empresa que está preocupada com as tendências

mundiais. Para tanto, elegemos três questões vinculadas ao desenvolvimento de sistemas

empresariais competitivos e inovadores, que acompanham as tendências modernas na área

organizacional, a seguir:

14.1 A INTELIGÊNCIA EMPRESARIAL COMO VANTAGEM COMPETITIVA

AULA 14

Page 72: FILOSOFIA E SOCIOLOGIA - uceff.com.bruceff.com.br/downloads/Material Didatico/CADERNO DE ESTUDOS... · Sociologia – Controle e ... 3 APRESENTAÇÃO ... estudo, pois, compreendemos

71

Segundo Davenport e Prusak (2000), nos últimos anos, as organizações passaram a

valorizar a experiência e o know-how de seus funcionários – isto é, aquilo que eles conhecem

ou sabem. Foi um longo período até as empresas perceberem que perdiam o conhecimento

gerado dentro da organização, por exemplo, com o afastamento (demissão, morte,

aposentadoria) do funcionário. Ou seja, um conjunto de conhecimentos subjacentes, adquiridos

em rotinas e práticas da produção (de bens e serviços) e no relacionamento (com clientes e com

fornecedores), são perdidos, sem que tivessem sido compartilhados ou ainda sistematizados.

Neste sentido, desenvolve-se a visão da importância de criar e implantar processos que

criem, armazenem, organizem, compartilhem, disseminem e usem o conhecimento produzido

e utilizado na empresa de modo sistemático, explícito, confiável e acessível à comunidade da

organização. Todos esses aspectos contribuem para a capacidade competitiva da organização.

É preciso investir em conhecimento e para tanto, é necessário que a cultura organizacional

esteja aberta para a inovação, flexível e não opressora.

14.2 A CRIAÇÃO DO CONHECIMENTO ORGANIZACIONAL

De acordo com Davenport e Prusak (1998, p.6) o conhecimento “é uma mistura fluída de

experiência condensada, valores, informação contextual e insight experimentado, a qual

proporciona uma estrutura para a avaliação e incorporação de novas experiências e

informações”. Tem origem e é aplicado na mente das pessoas. Pragmático, Sveiby (1998, p.44)

define conhecimento como “uma capacidade para agir”. Stanoevska-Slabeva (2002) considera

o conhecimento como um estado interno dos seres humanos resultante da ação de ‘entrada e

processamento’ da informação que ocorre durante a aprendizagem e na realização de tarefas.

O conhecimento é sempre pessoal segundo Michael Polanyi (2009, p.14). Caracteriza-se

como “uma ação interna que somos totalmente incapazes de controlar ou até mesmo de

perceber”. Para explicitar sua acepção, Polanyi cita a figura de um grande iceberg explicando

que sua forma aparente, na superfície, representa o conhecimento explícito e a parte submersa

corresponde à sua dimensão tácita. De difícil ou por vezes, impossível explicitação, o

conhecimento tácito constitui-se a base de sustentação daquilo que se mostra, do que é explícito.

Essa analogia ilustra seu pensamento de que todo saber é tácito ou enraizado em um

conhecimento tácito.

Segundo Nonaka (2008, p.45) “converter o conhecimento tácito em conhecimento

explícito significa encontrar uma forma de expressar o inexpressável”. Entretanto, Takeuchi e

Page 73: FILOSOFIA E SOCIOLOGIA - uceff.com.bruceff.com.br/downloads/Material Didatico/CADERNO DE ESTUDOS... · Sociologia – Controle e ... 3 APRESENTAÇÃO ... estudo, pois, compreendemos

72

Nonaka (2008, p.20) argumentam que “o conhecimento não é explícito ou tácito. O

conhecimento é tanto explícito quanto tácito” (...) e “não são apenas complementares um ao

outro, como também interpenetrantes” (p.22).

Há uma dimensão “técnica”, de razoável potencial de explicitação, que engloba as

habilidades informais (know-how), bem como as atividades manuais e habilidades

concretas, os insigths, derivados da experiência corporal. Há também uma dimensão

“cognitiva” que representa a visão de mundo, incluindo os valores, as emoções,

crenças e modelos mentais. (TAKEUCHI; NONAKA, 2008)

O conhecimento explícito é codificado, pode ser encontrado, assimilado e utilizado. Por

suas características, representa um acúmulo de experiência na organização (memória), é um

tipo de conhecimento que pode ser posto à disposição e transmitido ou compartilhado de modo

sistemático e rotineiro, dispondo de formas acessíveis de busca e de reprodução (difusão e/ou

disseminação).

14.3 APRENDIZAGEM ORGANIZACIONAL E GESTÃO DO CONHECIMENTO

De acordo com Senge (1999) a palavra ‘learning’ (aprender) é derivada do termo que

significa “trilha” ou “sulco na terra”. ‘To learning’ significa aumentar a capacidade através da

experiência. Os processos de aprendizagem ocorrem no tempo e em contextos cotidianos. A

aprendizagem gerada nesse contexto pode ser difícil de ser sistematizada, mas possui muito

valor, pois gera novos conhecimentos que por conseguinte, maior capacidade de ação eficaz em

contextos relevantes para aquele que aprendeu.

O conceito de gestão do conhecimento surgiu no início da década de 1990 e, segundo

Sveiby (1998, p. 3), “a Gestão do Conhecimento faz parte da estratégia empresarial.”

Em suma, a Gestão do Conhecimento deve ter por finalidade utilizar o conhecimento

para que, por meio do desenvolvimento de suas competências, possa promover e

incentivar nas pessoas e empresas o desenvolvimento de uma cultura voltada para o

desenvolvimento sustentável. Essa cultura será a direcionadora de condutas para a

criação, compartilhamento e disseminação do conhecimento da sustentabilidade na

prática, com a preocupação de satisfazer as necessidades das gerações atuais e futuras.

(FIALHO et al., 2008, p.84).

Para compreender a Gestão do Conhecimento, deve-se iniciar descrevendo os conceitos

de dado, informação e conhecimento. Nesta direção podemos dizer que para uma organização,

dado é o registro estruturado de transações e é uma informação bruta, uma descrição exata de

algo ou de algum evento. Os dados em si não são dotados de relevância mas são importantes

para o processo seguinte, transformá-los em uma informação. Informação é uma mensagem

(audível ou visível), transmitida por um emitente e recebida por um receptor. O conhecimento

que deriva desse processo é uma mistura de dados e de informações e é estruturado e

Page 74: FILOSOFIA E SOCIOLOGIA - uceff.com.bruceff.com.br/downloads/Material Didatico/CADERNO DE ESTUDOS... · Sociologia – Controle e ... 3 APRESENTAÇÃO ... estudo, pois, compreendemos

73

contextualizado. É a informação que ‘passa pelos filtros - modelos mentais’ e possibilita a

ampliação do conhecimento.

Fonte: http://slideplayer.com.br/slide/1642566/. Acesso em 01/08/2016.

O objetivo principal da Gestão do Conhecimento é aproveitar os recursos que já existem

na organização. Otimizando tempo e custos. A Gestão do Conhecimento também indica que os

funcionários busquem conhecer e empregar as melhores práticas, ou seja, experiências que

estão legitimadas. Através da aprendizagem contínua, a organização exercita a sua competência

e inteligência coletiva para responder ao seu ambiente interno (objetivos, metas, resultados) e

externo (estratégia). Nas “organizações que aprendem as pessoas expandem continuamente sua

capacidade de criar resultados que elas realmente desejam, onde maneiras novas e expansivas

de pensar são encorajadas, onde a aspiração coletiva é livre, e onde as pessoas estão

constantemente aprendendo a aprender coletivamente.” (SENGE, 1999, p. 21).

Page 75: FILOSOFIA E SOCIOLOGIA - uceff.com.bruceff.com.br/downloads/Material Didatico/CADERNO DE ESTUDOS... · Sociologia – Controle e ... 3 APRESENTAÇÃO ... estudo, pois, compreendemos

74

15 VISÃO SOCIOLÓGICA DA TEORIA DAS ORGANIZAÇÕES

Podemos dizer que três autores tiveram grande importância na construção do pensamento

sociológico nas organizações. Max Weber (elaborou um estudo sistemático sobre as

organizações modernas), Robert Merton (partindo dos estudos de Weber analisou o tipo ideal

de burocracia, destacando seus elementos prejudiciais) e, por fim Michel Foucault (estudou

sobre as relações de poder e o controle das instituições sobre os indivíduos).

AULA 15

Sugestões de leitura e vídeos complementares:

Artigo: Gestão do conhecimento: uma revisão crítica orientada pela abordagem da criação

do conhecimento. Disponível: http://www.scielo.br/pdf/ci/v33n2/a15v33n2.pdf

Vídeos:

Tipos de Conhecimento - Tácito e Explícito. Disponível:

https://www.youtube.com/watch?v=bWHonmRAS6M.

Gestão do Conhecimento - a importância de compartilhar!

https://www.youtube.com/watch?v=emFo3jyXGnQ.

[ATIVIDADE 14]

Importância da Tecnologia da Informação para as organizações.

Esta atividade pode ser realizada em duplas. Convide um/uma colega e

estudem juntos esse tema.

Faça uma pesquisa e apresente as razões pelas quais as TIs são

importantes tendências para a competitividade e inovação das empresas

neste século.

Page 76: FILOSOFIA E SOCIOLOGIA - uceff.com.bruceff.com.br/downloads/Material Didatico/CADERNO DE ESTUDOS... · Sociologia – Controle e ... 3 APRESENTAÇÃO ... estudo, pois, compreendemos

75

Nossos estudos desta aula estão centrados nestes três autores e está baseado na publicação

de Marcia Londero (1999).

15.1 PERSPECTIVA DE MAX WEBER

Max Weber dá enfoque para a burocracia, registrando-a como uma perspectiva histórica

por meio de um paralelo entre a mecanização da indústria e as formas burocráticas de

organização.

Burocracia é empregado por Weber para explicar um modelo organizacional considerado

por ele com ‘ideal’. A idealização se dá pelo sistema ser racional, eficiente, por possuir regras

claras que devem ser seguidas.

Em seu sentido etimológico, ‘burocracia’ tem origem no hibridismo da palavra francesa

‘bureau’ (escritório) e do grego ‘cracia’ (administração). O termo designa a administração da

coisa pública por funcionários de repartições sujeitos a rígida hierarquia e disciplina. Por vezes,

o termo burocrático é visto como sinônimo de lento, contudo, pode-se dizer que a lentidão é um

efeito da tramitação burocrática.

Para Weber as organizações disseminam formas de coordenar atividades e tarefas, de

um modo constante no tempo e no espaço. Em sua teoria sobre ‘administração racional legal’,

o autor entende a legitimidade da autoridade legal, apoiada na competência do funcionário.

Segundo ele, as pessoas deviam ser escolhidas para o exercício das atividades conforme sua

aptidão ou formação, explicando-as as regras já existentes na organização. O conjunto de regras

compõe o estatuto da organização.

O termo burocracia empregado por Weber é utilizado para descrever um modelo

organizacional ideal, eficiente em termos administrativos e não no sentido pejorativo

comumente utilizado hoje, cita Dias (2008, p.78).

Weber percebia a estrutura organizacional fortemente hierárquica, estando a

centralidade da gestão no topo da organização. Segundo seus estudos, as grandes organizações

modernas são por natureza, constituídas pela concentração do poder, de forma burocratizada.

Em relação ao processo de racionalização da modernidade, segundo Weber, este

‘forçaria’ ainda mais a burocratização organizacional e atingiria todas as esferas sociais. Para o

autor, todas as decisões partem de princípios racionais, sendo o caminho mais eficiente para se

chegar aos objetivos. À medida que as tarefas foram se tornando mais complexas, foi necessário

mais medidas de controle e de gestão, de modo a lidar com a complexidade.

Page 77: FILOSOFIA E SOCIOLOGIA - uceff.com.bruceff.com.br/downloads/Material Didatico/CADERNO DE ESTUDOS... · Sociologia – Controle e ... 3 APRESENTAÇÃO ... estudo, pois, compreendemos

76

Vale registrar ainda que, para Max Weber, a superioridade técnica do sistema e

racionalização legal era comparada à precisão das máquinas mais modernas e sofisticadas, o

que garantiria a eficiência nas organizações.

15.2 ROBERT MERTON E AS CRÍTICAS À BUROCRACIA

Sociólogo americano, Robert Merton (1910-2003) viu na teoria de Max Weber grandes

possibilidades de pensar mais profundamente sobre a questão da burocracia e é dele os estudos

que propõe refletir sobre as ‘disfunções prejudiciais no funcionamento da burocracia’.

Para Merton, a obediência às regras possuem grandes chances de virar o fim em si

mesmo, ou seja, a rigidez pode paralisar o funcionário quando este precisa tomar alguma atitude

ou resolver determinado problema através de soluções já registradas e disponíveis. O

funcionário perde a flexibilidade, característica humana. Em outras palavras, as normas

regulamentos, muito enfatizados pela teoria da burocracia, não podem por si só moldar o

comportamento das pessoas.

Merton chamou de disfunções da burocracia as consequências não previstas da mesma

proposta pela teoria inicial de Max Weber, ou ainda um desvio ou exagero (MERTON apud

CHIAVENATO, 2003). São disfunções:

1. Internalização das regras e apego aos regulamentos;

2. Excesso de formalismo e de papelório;

3. Resistência às mudanças;

4. Despersonalização do relacionamento;

5. Categorização como base do processo decisório;

6. Superconformidade às rotinas e aos procedimentos;

7. Exibição de sinais de autoridade;

8. Dificuldade de atendimento a clientes e conflitos com o público.

Em função do cumprimento das regras, seria perigoso perder o objetivo. Merton previu

a possibilidade da existência de tensão entre o público e a burocracia, pois a burocracia

engendra-se por regras e padrões estabelecidos, tornando-se difícil na resolução de casos que

necessitam de um tratamento especial (que fogem às regras).

Page 78: FILOSOFIA E SOCIOLOGIA - uceff.com.bruceff.com.br/downloads/Material Didatico/CADERNO DE ESTUDOS... · Sociologia – Controle e ... 3 APRESENTAÇÃO ... estudo, pois, compreendemos

77

15.3 MICHEL FOUCAULT – RELAÇÕES DE PODER E CONTROLE

Michel Foucault (1926-1984) centrou seus estudos nas questões de controle social e

processos de disciplinarização e normalização. Foucault investigou essas questões em

manicômios e prisões, estendendo seus estudos para o campo das instituições organizacionais.

Segundo sua teoria, as organizações modernas funcionam em espaços físicos especialmente

planejados para seus fins e objetivos, contudo existem características gerais em todas elas. A

organização dos espaços físicos decorados de modo padronizado, o uso de uniformes e crachás

são estratégias criadas com o objetivo de facilitar o controle do tempo o do espaço nestes

ambientes.

Há ainda a distribuição de cargos nos espaços físicos. Altos cargos ocupam espaços

maiores e mais confortáveis, no caso de edifícios a distribuição de cargos e salas obedece a uma

hierarquização. Outra questão que demonstra a distância entre os baixos e altos cargos pode ser

evidenciada nos organogramas das organizações.

O controle do tempo e a produtividade são elementos de poder dentro da organização e

de acordo com Foucault há uma forte correlação entre saber e poder. A escola, o hospital, a

prisão, o abrigo para menores etc. não são instituições politicamente neutras. Nós é que

acreditamos que elas são neutras, legítimas e eficazes porque acreditamos na neutralidade, na

legitimidade e na eficácia dos saberes científicos – como a pedagogia, a medicina, o direito, o

serviço social – que lhes dão sustentação.

Por sua complexidade, a teoria de Foucault merece mais atenção em nossos estudos.

Estudaremos um pouco mais sobre sua obra e ideias em nossa próxima unidade de estudos,

especificamente na aula sobre Sociologia do poder.

Ao final desse estudo caro (a) acadêmico (a), realize a atividade abaixo.

Page 79: FILOSOFIA E SOCIOLOGIA - uceff.com.bruceff.com.br/downloads/Material Didatico/CADERNO DE ESTUDOS... · Sociologia – Controle e ... 3 APRESENTAÇÃO ... estudo, pois, compreendemos

78

16 OUTROS ASPECTOS DA VISÃO SOCIOLÓGICA NAS ORGANIZAÇÕES

Como aspectos importantes que a Sociologia elege na análise das organizações. podemos

indicar a importância da comunicação em todos os setores e grupos de trabalho e as relações

interpessoais. Tanto a questão da comunicação, quanto as relações interpessoais interferem nos

processos organizacionais, pois estão ligados, não somente a técnica ou tecnologia, mas,

sobretudo, a aspectos comportamentais dos diferentes indivíduos envolvidos e a competência

funcional.

AULA 16

A vontade de formalizar as atividades nas micro e pequenas empresas é um

sentimento natural entre os empresários. Afinal, as normas, procedimentos e rotinas

são bastante úteis para que os funcionários trabalhem de forma mais organizada na

busca pelos resultados.

No entanto, o lado negativo desse tipo de iniciativa é que, em meio a tantas regras a

serem cumpridas internamente a empresa pode acabar reduzindo a sua capacidade de

reagir de forma mais ágil às constantes mudanças do mercado lá fora.

Veja a noticia no site: http://blog.bling.com.br/5-dicas-para-reduzir-os-processos-e-

burocracia-dentro-da-minha-empresa/.

- Comente as cinco dicas para diminuir a burocracia indicadas pelo site.

[ATIVIDADE 15]

Sugestões de leituras complementares:

Artigo: A Cultura Organizacional e a Burocracia: a influência de um ambiente burocrático

dentro de uma organização. Disponível:

http://periodicos.unifacef.com.br/index.php/forumadm/article/viewFile/770/70.

Livro: Sociologia da burocracia. Disponível:

http://coloquioepistemologia.com.br/site/wp-content/uploads/2013/03/1-Sociologia-da-

burocracia.pdf.

Vídeos:

Page 80: FILOSOFIA E SOCIOLOGIA - uceff.com.bruceff.com.br/downloads/Material Didatico/CADERNO DE ESTUDOS... · Sociologia – Controle e ... 3 APRESENTAÇÃO ... estudo, pois, compreendemos

79

Sobre o primeiro item, faremos a leitura de trechos de uma longa entrevista com

Margarida M. Krohling Kunsch, Professora-titular da ECA-USP. A professora coordena os

cursos de Relações Públicas e de Pós-Graduação Lato Sensu de Gestão Estratégica em

Comunicação Organizacional e Relações Públicas. Dirige atualmente a ABRAPCORP-

Associação Brasileira de Pesquisadores de Comunicação Organizacional e Relações Públicas e

é membro do Conselho Consultivo da Aberje. A entrevista foi organizada pelo Grupo de

Estudos sobre Práticas de Recepção a Produtos Mediáticos – ECA/USP – Novos Olhares.

Vejamos:

[Texto 1]

Novos Olhares: O desenvolvimento urbano-industrial no Brasil, sobretudo a partir dos anos 1940,

trouxe consigo o desenvolvimento de uma pluralidade de organizações empresariais na esfera da

produção, tanto quanto no âmbito da comunicação social, das novas mídias, necessidades e demandas.

Nesse percurso de mais de meio século, como esse nexo entre desenvolvimento empresarial e

comunicação deu marcas à atualidade da comunicação organizacional?

Margarida Kunsch: Foi justamente com o processo de industrialização que se deu a largada para a

prática efetiva da comunicação nas organizações. Os passos mais significativos começaram a serem

dados na década de 1950, com a política industrial desenvolvimentista de Getúlio Vargas, que foi

incrementada por seu sucessor, Juscelino Kubitschek de Oliveira. Grandes empresas multinacionais

passaram a se instalar no país. Elas criaram os seus departamentos de relações públicas, trazendo as

experiências de suas matrizes. No âmbito interno das empresas, o jornalismo empresarial ganhou força

com a produção dos boletins informativos. As agências de propaganda procuraram se estruturar para

atender bem a seus clientes, que faziam altos investimentos em comunicação massiva. Para tanto,

também montaram também suas divisões de relações públicas. Assim, a comunicação empresarial no

Brasil de fato começou a se destacar com a aceleração do desenvolvimento econômico, político e social.

Mas, na época, ainda não se falava em comunicação empresarial ou comunicação organizacional. O que

ocorria era uma atuação bastante estanque de jornalismo empresarial e de relações públicas. De qualquer

forma, foi com essas duas áreas que teve início a comunicação organizacional. Esta se expandiu a partir

do final da década de 1960, principalmente a partir dos anos 1980, tanto no mercado profissional quanto

no campo acadêmico. Hoje, podemos dizer, nos encontramos em um estágio bastante avançado nesse

setor. Voltando um pouco no tempo, não podemos nos esquecer de que a comunicação organizacional,

é fruto de sementes lançadas já na Revolução Industrial do século XIX, que ensejaria grandes e rápidas

transformações em todo o mundo. Ela, com a consequente expansão das empresas, provocou mudanças

radicais nas relações de trabalho, nas maneiras de produzir e nos processos de comercialização. Nesse

contexto é que se deve buscar o surgimento da propaganda, do jornalismo empresarial, das relações

públicas e da própria comunicação organizacional como um todo. O incremento da industrialização

obrigou as empresas a criarem formas de comunicação com o público interno, por meio de publicações

dirigidas especialmente aos empregados, e com o público externo, por meio de publicações centradas

na divulgação dos produtos, diante da concorrência que ia se expandindo e dos novos processos de

comercialização que iam se estabelecendo. A propaganda foi pioneira em buscar formas de comunicação

mercadológica com o mundo exterior. A comunicação com o público interno iniciou-se com um formato

predominantemente informativo. Com a evolução chegamos ao contexto de hoje, de uma comunicação

inserida na era de uma nova revolução, a digital, e com uma integração cada vez mais efetiva das

diferentes áreas.

Novos Olhares: Hoje há um bom número de termos e conceitos que dão conta dessa relação entre

comunicação e organizações. Na verdade, que objeto define e distingue o campo da comunicação

organizacional hoje?

Margarida Kunsch: Costumo ver comunicação organizacional como uma macro área no Brasil e numa

perspectiva integrada. No entanto, essa visão abrangente que hoje se tem passou por toda uma evolução

ao longo da história. Primeiro a área tinha nomes como relações públicas, jornalismo empresarial e

Page 81: FILOSOFIA E SOCIOLOGIA - uceff.com.bruceff.com.br/downloads/Material Didatico/CADERNO DE ESTUDOS... · Sociologia – Controle e ... 3 APRESENTAÇÃO ... estudo, pois, compreendemos

80

assessoria de imprensa. Depois se passou a falar em comunicação empresarial, terminologia ainda muito

utilizada no mercado profissional. Há ainda os que preferem chamá-la de comunicação corporativa,

relações institucionais, assuntos corporativos etc. Apesar da evolução dos estudos e das práticas, as

organizações ainda adotam muitos adjetivos para dizer algo que, a meu ver, é bastante substantivo. A

comunicação nas organizações tem um significado profundo, que ultrapassa a visão meramente

instrumental e técnica. Para mim, o termo “comunicação organizacional” é mais abrangente, envolvendo

todas as organizações e não só as empresas, como sugere a expressão “comunicação empresarial”. A

comunicação organizacional possui fundamentos teóricos capazes de dar sustentação à prática cotidiana.

Seu conceito se assemelha ao que se entende por comunicação corporativa, pressupondo a e existência

de um corpus único e de um “todo”. Acredito que estamos caminhando para configurar definitivamente

uma epistemologia do campo, com bases conceituais consolidadas.

Novos Olhares: A incorporação feita entre nós de modelos de estruturação das organizações segundo

práticas e experiências do capitalismo internacional, trouxe consigo a necessidade de incorporação

correlata de seus modos de estruturação e gestão da comunicação? Há um pensar-fazer que define a

dimensão especifica do nexo comunicação-organização entre nós?

Margarida Kunsch: Já contamos com uma literatura diversificada sobre as várias vertentes, que

contempla desde as linguagens das mídias institucionais, técnicas e instrumentos, até a questão do

planejamento e da gestão estratégica da comunicação organizacional e das relações públicas. As

organizações, na sociedade de hoje, para fazer frente a todos os desafios da complexidade

contemporânea, necessitam planejar, administrar e pensar estrategicamente a sua comunicação. Não

basta pautar-se por ações isoladas de comunicação, meramente táticas, para resolver questões, gerenciar

crises e gerir produtos, sem uma conexão permanente, bem pensada, com a análise ambiental e as

necessidades dos públicos.

Novos Olhares: A perspectiva de que toda ação humana tem uma racionalidade que envolve meios e

fins, fez com que a comunicação muitas vezes possa perder sua significação de processo social e se ater

à ferramenta, matriz do termo “meios de comunicação”. Como a comunicação organizacional dá conta

dessa racionalidade meios/fins, processo social/instrumento?

Margarida Kunsch: A comunicação organizacional, como já falei, precisa ser entendida como uma

área abrangente e complexa, não como uma simples transmissão de informação. Uma das formas para

entender essa comunicação, além de todos os conceitos disponíveis, é considerá-la nas suas dimensões

humana, instrumental e estratégica, tanto em nível acadêmico, para estudar e compreender as

organizações, como nas práticas cotidianas. A comunicação, em primeiro lugar, tem que ser entendida

como parte inerente à natureza das organizações. Estas são formadas por seres humanos que se

comunicam entre si e que, por meio de processos interativos, viabilizam o sistema funcional. Só assim

elas conseguirão sobreviver e atingir seus objetivos num contexto de diversidades e de transações

complexas. Sem comunicação as organizações não existiriam. Há uma equivalência entre comunicação

e organização. A dimensão instrumental é a mais presente e predominante nas organizações. A

comunicação nessa perspectiva é vista praticamente como uma espécie de “depósito” ou um “contêiner”.

Linda Putnam e outros autores usam a metáfora do conduíte. Ou seja, a comunicação é considerada

como um canal ou uma via de envio de informações. O foco está nas mídias internas e externas. O setor

ou departamento de comunicação atua com ênfase na divulgação de notícias, de forma puramente

técnica e tática. Na dimensão estratégica, a comunicação é considerada parte integrante da gestão das

empresas, como fator de resultados, que agrega valor à organização aos negócios. Ela é valorizada em

todos os sentidos e conta com altos investimentos.

-----------------------------

O texto a seguir foi escrito por Cássia Cristina Nunes de Cerqueira, sob orientação da

Profª Esther Cosso - Faculdade Nossa Cidade - Gestão de Recursos Humanos. Carapicuíba –

SP.

[Texto 2]

A importância das relações interpessoais nas organizações A comunicação hoje é tudo, saber se comunicar é fundamental e para o sucesso de uma organização isso

é imprescindível. Chiavenato (2010, p.417) diz: “A informação não é tangível nem mensurável, mas é

Page 82: FILOSOFIA E SOCIOLOGIA - uceff.com.bruceff.com.br/downloads/Material Didatico/CADERNO DE ESTUDOS... · Sociologia – Controle e ... 3 APRESENTAÇÃO ... estudo, pois, compreendemos

81

um produto valioso no mundo contemporâneo porque proporciona poder.” Diante do exposto vê-se que

o mundo gira em torno da comunicação e da informação e para que uma organização tenha sucesso é

necessário que a comunicação seja clara, direta e transparente assim como as relações interpessoais.

Para que a comunicação seja clara é necessário que se tenham boas relações. É fundamental ter um bom

relacionamento entre os pares, pois isso contribui não somente para uma boa convivência no dia a dia,

mas também para um bom clima e influencia diretamente de forma positiva no resultado da organização.

Segundo Chiavenato (2010) um gestor gasta 80% do seu tempo em comunicação, diante disto nota-se o

quanto é importante a relação do gestor para com os colaboradores e como o gestor é um exemplo a ser

seguido, se ele tem um bom relacionamento com todos influência de forma positiva os colaboradores a

terem também um bom relacionamento entre si.

E a relação interpessoal é imprescindível pois todo trabalho é feito em equipe, direta ou indiretamente,

um depende do trabalho do outro, é uma cadeia de relações e se não há um relacionamento bom entre

as pessoas o resultado também não será bom.

A relação interpessoal nas organizações é bom para o bem estar de cada colaborador pois trabalha mais

disposto e feliz sabendo que tem suporte e pode contar com seus pares para desenvolver seu trabalho e

também para tratar de outros assuntos, mesmo porque essa relação é muito importante pois os

colaboradores passam maior parte do tempo em seu local de trabalho.

Contudo para que o clima esteja bom e as relações sejam boas a organização precisa agir de forma

transparente para com seus colaboradores, fazer valer sua cultura organizacional se a mesma prega esses

valores, precisa de uma postura firme e ativa do gestor que esteja disposto a ajudar a resolver os

problemas que possam vir acontecer e antes de mais nada o respeito ao próximo, saber respeitar as

adversidades, as diferenças, as vontades e a cultura do outro. A partir do respeito tudo é possível e tudo

se alcança.

Sugestões de site e vídeos complementares:

Site: Race Comunicação. http://www.racecomunicacao.com.br/blog/a-importancia-da-

comunicacao-para-as-empresas/

Vídeos:

4 dicas para melhorar relacionamentos interpessoais na empresa. Disponível:

https://www.youtube.com/watch?v=vJDxdSBv_M8

Você em Foco - Relações Interpessoais. Disponível:

https://www.youtube.com/watch?v=0wS-ApAoCPs.

A importância da Comunicação Interna na empresa - Fernando Coelho 1. Disponível:

https://www.youtube.com/watch?v=VcJ-f6491Gc

[ATIVIDADE 16]

Fale sobre a importância da Comunicação e da Relação interpessoal

argumentando como estão relacionadas nos processos produtivos e nas

relações organizacionais.

Escreva um texto de no mínimo, uma lauda, usando a letra Times, nº12.

Page 83: FILOSOFIA E SOCIOLOGIA - uceff.com.bruceff.com.br/downloads/Material Didatico/CADERNO DE ESTUDOS... · Sociologia – Controle e ... 3 APRESENTAÇÃO ... estudo, pois, compreendemos

82

Caderno de Estudos

UNIDADE III

Cultura Organizacional

Sociologia do processo produtivo

Sociologia do poder

Professora/Autora

Marinilse Netto, Dra.

Page 84: FILOSOFIA E SOCIOLOGIA - uceff.com.bruceff.com.br/downloads/Material Didatico/CADERNO DE ESTUDOS... · Sociologia – Controle e ... 3 APRESENTAÇÃO ... estudo, pois, compreendemos

83

APRESENTAÇÃO DOS ESTUDOS

Caro (a) acadêmico (o) da UCEFF Faculdades!

Estamos nos dirigindo para a terceira e última unidade deste Caderno de Estudos de

Filosofia. Nossos estudos serão guiados por três temas/assuntos:

Cultura Organizacional

Sociologia do processo produtivo

Sociologia do poder

Ao final de cada tema estudado indicamos atividades de auto estudo que são de grande

importância para a compreensão dos assuntos apresentados. Será através delas que você terá a

possibilidade de construção do conhecimento e a reflexão crítica, estabelecendo relações entre

o que estudou com a sua prática pessoal e profissional.

De modo geral, os temas escolhidos para essa unidade buscam explicar o que é cultura

organizacional, seus aspectos gerais e elementos que podem contribuir com o ambiente

corporativo. Vamos estudar também o papel da Sociologia no processo produtivo e conhecer

autores e seus estudos que tratam da questão do poder no campo social.

Vamos lá!

17 CULTURA ORGANIZACIONAL

Por cultura organizacional ou cultura corporativa entende-se um conjunto de hábitos e

crenças estabelecidos através de normas, valores, atitudes e expectativas compartilhados por

todos os membros da organização. Refere-se ao sistema de signos (e seus significados)

compartilhados por todos os indivíduos do grupo, os quais distinguem determinada

organização.

A essência da cultura de uma organização se expressa pelo modo como a empresa faz

seus negócios, gerencia seus clientes e funcionários. Ainda pode-se perceber a cultura

organizacional pelo grau de autonomia ou liberdade existente em suas unidades ou setores bem

como, o grau de lealdade expresso pelos funcionários. Na cultura organizacional estão

AULA 17

Page 85: FILOSOFIA E SOCIOLOGIA - uceff.com.bruceff.com.br/downloads/Material Didatico/CADERNO DE ESTUDOS... · Sociologia – Controle e ... 3 APRESENTAÇÃO ... estudo, pois, compreendemos

84

expressas as percepções dos proprietários, gerentes e funcionários, refletindo a ‘mentalidade’

que predomina na organização.

Desse modo, a cultura organizacional representa e expressa às normas informais e não

escritas que orientam o comportamento dos indivíduos e grupos em seu cotidiano, as quais

devem guiar ações para o alcance dos objetivos organizacionais. É a cultura organizacional que

define a missão e os objetivos da organização, por isso, deve estar alinhada com todos os

aspectos que regem as decisões e ações organizacionais, como o planejamento, a organização,

a direção e controle das tarefas, entre outras questões importantes.

De acordo com Kissil (1998) a revitalização e a inovação são fatores importantes para as

empresas, e de certo modo só se consegue isso mudando a cultura da organização. Para tanto,

a empresa deve ter seus objetivos claros, definidos, formalmente estabelecidos e orientados em

médio e longo prazo. Tais procedimentos devem necessariamente ser compartilhados com

todos os funcionários, em diferentes níveis de ação que podem ser reuniões formais ou

informais, rodas de conversa, etc.

Segundo matéria publicada no site Veja Sociologia gerenciado por Reinaldo Dias

(http://vejasociologia.blogspot.com.br/p/a-cultura-organizacional.html):

As principais funções da cultura organizacional são:

1. Estabelece limites;

2. Transmite um senso de identidade;

3. Facilita o compromisso;

4. Fortalece a estabilidade;

5. Dar sentido ao modo de fazer as coisas;

6. Influencia o comportamento;

7. Aumenta a interação;

8. Expressa a memória histórica da organização;

9. Constitui um fator de aglutinação;

10. Permite a adaptação ao ambiente externo;

11. Expressa o caráter distintivo da organização.

Quanto às características da cultura organizacional, pode-se dizer que:

Page 86: FILOSOFIA E SOCIOLOGIA - uceff.com.bruceff.com.br/downloads/Material Didatico/CADERNO DE ESTUDOS... · Sociologia – Controle e ... 3 APRESENTAÇÃO ... estudo, pois, compreendemos

85

1. Cada uma tem sua própria cultura;

2. É aprendida através da experiência do grupo;

3. Está implícita na estrutura formal da organização;

4. As modificações que ocorrem são em geral lentas;

5. Tem uma tendência de se perpetuar;

6. É aceita pela maior parte dos membros;

7. É transmissível aos novos membros.

O autor cita ainda que, entre as estratégias para uma mudança cultural pode-se indicar:

‘descongelar’ a velha cultura; capitalizar os momentos propícios, tornar o alvo de mudança

concreto e claro, manter certa continuidade com o passado, criar segurança psicológica,

selecionar, modificar e criar formas culturais apropriadas – táticas de socialização e cultivar

lidere carismáticos.

Vejamos alguns aspectos da cultura organizacional do Google:

Você, com certeza, já deve ter ouvido falar ou acessado o maior site de buscas do mundo: o Google.

O Google, formado por Larry Page e Sergey Brin, é uma empresa multinacional de serviços online

e software dos Estados Unidos. Além de criar o buscador mais famoso do mundo, dentre seus

serviços destacam-se o Gmail, o Blogger, o GTalk, o Google Earth, o Google Translate o Orkut, o

YouTube, e também serviços de publicidade na internet como AdWords e AdSense.

Você também já deve ter ouvido falar sobre a cultura dessa empresa. Afinal, em que mundo você

pode levar seu cachorro para trabalhar, escolher o horário que quer chegar e sair do trabalho, ter

um café da manhã balanceado, definir o momento e o local para realizar suas atividades, ter à

disposição mesas para jogos durante o expediente, ter uma verba destinada à decoração de sua

mesa, poder agendar sessões de massagem e ioga durante o expediente, reservar uma sexta-feira

por trimestre para que os colaboradores saiam juntos para se divertir, entre muuuitos outros

benefícios? Esse é o Google!

O calendário da empresa é marcado por diversas festas, ora para celebrar datas comemorativas,

ora apenas para que os colegas se reúnam.

Partida de pingue-pongue ao lado do diretor-geral na

América Latina, Alexandre Hohagen / Fonte: Época Negócios

Page 87: FILOSOFIA E SOCIOLOGIA - uceff.com.bruceff.com.br/downloads/Material Didatico/CADERNO DE ESTUDOS... · Sociologia – Controle e ... 3 APRESENTAÇÃO ... estudo, pois, compreendemos

86

“Os benefícios existem para que os funcionários se sintam cuidados e em casa. Aqui, seu chefe

não vai brigar por você estar jogando o expediente, mas sim por não tê-lo chamado [...] Com

tantas mentes brilhantes, é preciso ter menos regras”, brinca o diretor de Recursos Humanos da

empresa para a América Latina em 2009, Sr. Deli Matsuo.

Além de tantos benefícios, a empresa trabalha para que as “mentes brilhantes” permaneçam

brilhantes, incentivando a atualização e aprimoramento de conhecimento por meio da verba

destinada à educação, concedida para que os funcionários possam fazer cursos de línguas, MBA’s

ou cursos de pós-graduação. Cada colaborador pode, ainda, gastar 20% do seu tempo (o que

equivale a um dia por semana) para se dedicar a projetos pessoais.

--------------------------------------

A partir desse exemplo, podemos perceber que a cultura exprime a identidade da

organização. Isso quer dizer, é aquilo que mantêm a integridade de um sistema. Mudanças

internas ou externas podem ocasionar tanto a preservação quanto a perda da identidade da

organização. Quanto maior o potencial da empresa, tanto maior é a sua vocação para manifestar

sua identidade própria. Para o filósofo Aristóteles, “Nós somos o que fazemos repetidas vezes.

Portanto, a excelência não é um ato, mas um hábito”.

Sugestões de leituras e vídeo complementares:

Artigos:

Cultura organizacional em organizações públicas no Brasil. Disponível:

http://www.scielo.br/pdf/rap/v40n1/v40n1a05.pdf.

Cultura organizacional – uma revisão de literatura. Disponível:

http://www.psicologia.pt/artigos/textos/A0441.pdf

Vídeos: Cultura Organizacional - Professor Luis Octavio -

Disponível: https://www.youtube.com/watch?v=dgPWiiaHmB4

[ATIVIDADE 17]

Os elementos que compõem a identidade de uma organização social são,

necessariamente a definição da:

VISÃO - MISSÃO - VOCAÇÃO

Pesquise e apresente (cada um em separado) o que são, as suas

características principais. Indique como esses elementos contribuem com a

cultura organizacional.

Page 88: FILOSOFIA E SOCIOLOGIA - uceff.com.bruceff.com.br/downloads/Material Didatico/CADERNO DE ESTUDOS... · Sociologia – Controle e ... 3 APRESENTAÇÃO ... estudo, pois, compreendemos

87

18 SOCIOLOGIA DO PROCESSO PRODUTIVO

Para essa aula, faremos nossos estudos guiados por um texto escrito por Pedro Inácio

Amor, e divulgado no site http://www.sinprodf.org.br/.

O texto foi escrito em maio de 2013. Apresenta as relações entre o estudo da sociologia -

que analisa as interações sociais nos sistemas implantados e vigentes no Brasil e - o modo

produtivo brasileiro. O texto não está na íntegra, selecionamos o trecho que dá destaque a

questão do estudo planejado.

O sistema produtivo brasileiro

Podemos ver que de acordo com todo o processo histórico do Brasil, incluindo as qualidades e defeitos,

nós acabamos por criar um novo modo de produção, mais baseado na consciência ingênua de nosso

próprio povo para não dizer de nós mesmos. É verdade que ele é por demais dependente, mas mesmo

assim tem uma forma própria de ser, completamente diverso dos outros existentes no mundo, tanto

ocidental quanto oriental. Dentre outras, por coexistirem juntos todos os modos de produção além da

grande miscigenação da população brasileira.

Considerando a mobilidade social como uma das medidas da dinâmica e desenvolvimento social de um

país, uma sociedade estagnada sob esse aspecto apenas reproduz sua estrutura social dia após dia, pouco

ou quase nada oferecendo de progresso social. Para que esse almejado progresso aconteça é necessário

a passagem de indivíduos ou grupos de um nível social a outro. No nosso caso brasileiro isso só acontece

como exceção à regra e nunca como etapa de um processo de desenvolvimento. O tipo de mobilidade

aqui existente é apenas o circular, onde os grupos de mesmo nível se intercalam nas posições pré-

definidas como em um jogo de cartas marcadas.

Por exemplo, quando o Governo JK decidiu realizar a construção na nova capital, escolheu como roteiro

o “Relatório da Missão Cruls” apontando como local ideal o Planalto Central onde a vida era

provinciana, conservadora e centrada em valores tradicionais. No processo de construção de Brasília,

muitas pessoas migraram para esta região, atendendo o chamado do Presidente Juscelino, para realizar

o fato notório: promover o desenvolvimento brasileiro, reduzindo 50 anos em 5 como “candangos”

acreditando que estavam realizando uma verdadeira mobilidade social. De fato houve mobilidade social,

mas só para poucos – a exceção da regra, porque a maioria veio a constituir as camadas populares do

Distrito Federal. E ainda hoje está separação existe. Só para recordarmos, podemos passar uma rápida

olhada na forma de ocupação existente na cidade, como as habitações do Lago Sul ou dos condomínios

fechados, se contrapondo aos aglomerados populacionais de São Sebastião, Recanto das Emas, quadras

1000 da Samambaia, Cidade Estrutural ou Águas Lindas de Goiás, uma autêntica periferia do Entorno

de Brasília.

A perspectiva do desenvolvimento sustentável Para clarear a questão do desenvolvimento recorremos aqui a Pedro Demo em seu livro: Sociologia ,

uma introdução crítica.

“A sociologia do Terceiro Mundo gira em grande parte em torno da questão do desenvolvimento e há

para isso uma razão muito própria: entre as utopias aqui cultivadas, uma das mais importantes é a do

desenvolvimento, ou, dito pelo reverso, a busca de superação da dependência e da pobreza

socioeconômica e política.

AULA 18

Page 89: FILOSOFIA E SOCIOLOGIA - uceff.com.bruceff.com.br/downloads/Material Didatico/CADERNO DE ESTUDOS... · Sociologia – Controle e ... 3 APRESENTAÇÃO ... estudo, pois, compreendemos

88

Há uma distinção importante, hoje geralmente feita entre crescimento e desenvolvimento. Crescimento

significa acumulação de capital, aumento da produção, progresso industrial, incremento da riqueza

material e, assim por diante, apanhando a dimensão propriamente econômica. Desenvolvimento

significa a dimensão propriamente social e, em nosso sentido, mudança na organização da desigualdade

social, tanto dentro do País, quanto em seu relacionamento com os outros. Pode haver crescimento sem

desenvolvimento, embora dificilmente se pudesse imaginar o contrário, pelo menos dentro do

capitalismo onde a desigualdade social é profundamente condicionada pela infraestrutura de ordem

econômica.

De certa forma, muitos autores admitiriam que o capitalismo somente consegue crescer, e nisto possui,

como próprio Marx dizia, uma face positiva e progressista. Trata-se da superação do modo de produção

feudal, a introdução da grande indústria, o incremento da riqueza, condições essenciais para se chegar

ao reino da abundância. Todavia, não conseguiria desenvolver-se, já que, na sua interpretação baseada

na mais-valia, seria impensável sem o acirramento das classes.

Esta visão condensa-se num dos produtos mais típicos desta discussão, que é a questão da dependência.

Quando dizemos que um País é subdesenvolvido, dizemos sobretudo que é dependente. A dependência

mais importante é a econômica, porque o Terceiro Mundo realiza o “sobre-trabalho” necessário à

reprodução do sistema capitalista central. A dependência se consolida nas transações do comercio

externo, onde o Terceiro Mundo entra como perdedor oficial: preços impostos pelos países

industrializados centrais, compra por parte deles de matéria-prima barata, sustentação de monopólios

para impedir industrialização auto-sustentada, e assim por diante.”

Vivemos atualmente uma situação diferente do que vivíamos no início da primeira década do século

XXI. Nosso país hoje ocupa a 6ª posição entre as maiores economias mundiais. Mas a distribuição da

renda continua nos mesmos patamares. Claro que houve uma grande ascensão social que marcou nossa

sociedade a partir do governo Lula, mas ainda temos gritantes diferenças de concentração de renda.

O planejamento e a ação

Todo esse conteúdo nos auxilia a confirmar a necessidade de estabelecer uma estratégia de planejamento

a longo prazo, nos moldes dos países do Primeiro Mundo, que nos permita consolidar nosso

desenvolvimento e sustentá-lo ao longo de décadas. Os planejamentos em execução no Brasil do século

XXI, já são mais duráveis e podem durar 20, 30, 50 anos. Como isso está acontecendo, nossa história

toma um rumo diferente como no caso que se segue.

Em 21 de abril de 1960, Brasília era inaugurada como ”a capital da nova esperança“ – a realização do

sonho místico de Dom Bosco. Com mais alguns anos já estavam instaladas nesta região pessoas dos

mais variados lugares do Brasil e também do mundo.

Comparando-se o passado e o presente observam-se muitas transformações ocorridas em nosso meio.

Elas são de várias ordens como cultural, social, ambiental, política e econômica. Elas foram tão grandes

que muitos referenciais do passado tornaram-se inadequados para a compreensão desta aventura pós-

moderna chamada Brasília.

Pensando no avanço das relações de produção que por aqui se implantaram e prestando atenção no caos

do final do século XX, ou melhor, na “desordem estabelecida” tão bem percebida por Mounier na

primeira metade do século, identificamos um caminho pensado para este modo brasileiro de produção

que é a improvisação de todos os outros modos de produção, objetivando atingir a velocidade de um

raio na obtenção dos lucros rápidos ligados à vida fragmentária de tempos determinados e ao mito da

ascensão social que nasce da necessidade de explicar o mundo para poder dominá-lo afugentando assim

o medo e a insegurança.

Aconteceu um fato histórico concreto e preponderante que mudou completamente o cenário brasileiro.

Lula foi eleito presidente da república e governou o Brasil dois mandatos consecutivos e ainda fez sua

sucessora, a presidenta Dilma. Esse fato aconteceu exatamente no início do da primeira década do século

XXI. Como houve neste governo uma redistribuição da riqueza nacional, modificando o produto interno

bruto (PIB) através da distribuição da cesta básica para mais de 12 milhões de brasileiros.

Page 90: FILOSOFIA E SOCIOLOGIA - uceff.com.bruceff.com.br/downloads/Material Didatico/CADERNO DE ESTUDOS... · Sociologia – Controle e ... 3 APRESENTAÇÃO ... estudo, pois, compreendemos

89

Conclusão

Por esta razão acreditamos ser possível levantar uma crítica ao sistema produtivo brasileiro centrado na

base do conhecimento e da criatividade e improvisação para a realidade atual, lembrando da concepção

evolutiva do pensamento, observando que o universo está em ordem, como “suspeitava” Heráclito de

Éfeso, dizendo que não podemos tomar banho duas vezes na água do mesmo rio, porque nem nós, nem

o rio somos os mesmos e sim que tudo é um eterno devir.

Hoje, temos a possibilidade de refletir o passado da sociedade humana, ao mesmo tempo em que

antevemos um futuro vindouro de construção coletiva com o advento da comunicação global em tempo

real que nos permite estabelecer até mesmo aqui no Brasil um sistema de produção competitivo e de alta

qualidade como o caso de alguns produtos nossos como a fibra ótica, do feijão da EMBRAPA e da

codificação das plantas medicinais, realizado no Brasil, por brasileiros mas que não conseguimos manter

devido a desleal concorrência do primeiro mundo. Para que isso seja possível é necessário estabelecer

um novo paradigma para nossa realidade atual.

“Paradigmas são ‘sínteses’ científicas, filosóficas ou religiosas que servem de referência modelar para

determinada época ou grupo humano. São exemplos a filosofia de Platão, a teologia de São Tomás de

Aquino, a concepção política de Maquiavel, a filosofia de Descartes, a física de Newton, o liberalismo

e o marxismo. Eis os pilares da visão de mundo ou cosmovisão de todos nós que habitamos a esquina

onde termina o segundo milênio e se inicia o terceiro.” (FREI BETTO em A Obra do Artista – Uma

visão holística do Universo)

Neste contexto, é indispensável uma nova abordagem do processo produtivo para nos orientar tanto na

pesquisa quanto na execução de metas para explicar as variáveis naturais que influem nesse processo,

bem como esboçar um mecanismo dialético de produção, ação e reflexão através do qual possamos

elaborar um sistema dinâmico. A isso chamamos planejamento durável. Nosso horizonte deve se

estender por décadas ao invés de biênios ou triênios.

Enfim, ousamos perguntar sobre a desordem estabelecida no sistema econômico brasileiro que provoca

contradições em tal proporção que chega a preocupar os ricos por estarem muito ricos.

Retomando a perspectiva acadêmica, frisamos que a ação educativa é um processo amoroso de

incorporação da linguagem, assim como de agregação de valores. Educar é amar, assim como viver.

Saber é poder. Por isso nossa ação pedagógica realizada hoje tem sem dúvida alguma, um verdadeiro

sentido dialético e reordenar nossos atos.

Pedro Inácio Amor

Page 91: FILOSOFIA E SOCIOLOGIA - uceff.com.bruceff.com.br/downloads/Material Didatico/CADERNO DE ESTUDOS... · Sociologia – Controle e ... 3 APRESENTAÇÃO ... estudo, pois, compreendemos

90

Sugestões de leitura e vídeos complementares:

Artigo: A sociologia, a realidade e o sistema produtivo brasileiro. Disponível:

http://www.sinprodf.org.br/a-sociologia-a-realidade-e-o-sistema-produtivo-brasileiro/

Vídeos:

A racionalização na produção capitalista. Disponível: https://www.youtube.com/watch?v=865c5Yb6WZI

Empresa brasileira se destaca na produção de alta tecnologia. Disponível: https://www.youtube.com/watch?v=rqD1xQRaXtg

[ATIVIDADE 18]

“Hoje, temos a possibilidade de refletir o passado da sociedade humana, ao mesmo

tempo em que antevemos um futuro vindouro de construção coletiva com o advento

da comunicação global em tempo real que nos permite estabelecer até mesmo aqui no

Brasil um sistema de produção competitivo e de alta qualidade como o caso de alguns

produtos nossos como a fibra ótica, do feijão da EMBRAPA e da codificação das

plantas medicinais, realizado no Brasil, por brasileiros mas que não conseguimos

manter devido a desleal concorrência do primeiro mundo. Para que isso seja possível

é necessário estabelecer um novo paradigma para nossa realidade atual”.

Você concorda com a argumentação do autor? Justifique sua resposta com

uma argumentação estruturada a partir do texto lido.

Page 92: FILOSOFIA E SOCIOLOGIA - uceff.com.bruceff.com.br/downloads/Material Didatico/CADERNO DE ESTUDOS... · Sociologia – Controle e ... 3 APRESENTAÇÃO ... estudo, pois, compreendemos

91

19 SOCIOLOGIA DO PODER

Na vida social, poder é a capacidade de produzir ou contribuir para resultados que

afetam significativamente um ou vários indivíduos. Por exemplo, na política, poder é a

capacidade de impor algo sem considerar nenhum tipo de desobediência. O poder político,

quando reconhecido como legítimo e sancionado como executor da ordem estabelecida, se

assemelha a autoridade. O poder se expressa nas diversas relações sociais, e onde existem

relações de poder, existe política, e a política se expressa nas diversas formas de poder.

O exercício do poder está vinculado à cultura de grupos sociais, pois são eles que

estabelecem aquilo que tem ou não valor em determinado contexto. Segundo o sociólogo

americano Talcott Parsons (1902-1979) poder é a capacidade dos sistemas sociais realizarem

objetivos coletivamente e o poder não é uma questão de coerção ou dominação, mas é originado

no potencial dos sistemas sociais em coordenador atividades humanas e recursos, como modo

de atingir seus objetivos.

O filósofo Thomas Hobbes (1588- 1679) registrou em seus estudos que o poder possui

três perspectivas: (1) Unilateral (de causalidade linear) – é o mais explícito. Grosso modo, essa

perspectiva nos leva a pensar que poder é a capacidade que podemos ter de obrigar alguém a

fazer o que nós queremos que ele/ela faça. (2) Bidimensional (de causalidade por propensão) –

é implícito. Existe mas não possui visibilidade. É a situação efeito-causa. (3) Tridimensional

(de persuasão) – é complexo, pois as razões podem não estar claramente definidas. Esse tipo de

poder é muito usado pela política.

AULA 19

Poder é o direito de deliberar, agir, mandar e, dependendo do

contexto, exercer sua autoridade, soberania, a posse de um

domínio, da influência ou da força.

Poder é um termo que se originou a partir do latim ‘possum’, que

significa “ser capaz de”.

Segundo a sociologia, poder é a habilidade de impor a sua

vontade sobre os outros.

Existem diversos tipos de poder: o poder social, o

poder econômico, o poder militar, o poder político, entre outros.

Page 93: FILOSOFIA E SOCIOLOGIA - uceff.com.bruceff.com.br/downloads/Material Didatico/CADERNO DE ESTUDOS... · Sociologia – Controle e ... 3 APRESENTAÇÃO ... estudo, pois, compreendemos

92

Entre os pensadores que contribuíram em estudos sobre o tema podem ser citados,

Michel Foucault, Max Weber e Pierre Bourdieu. Nesta aula vamos aprofundar o conceito de

poder de Michel Foucault e conhecer o pensamento do sociólogo Pierre Bourdieu.

19.1 MICHEL FOUCALT E O PODER

Michel Foucault é considerado o filósofo contemporâneo dos mais polêmicos, isso se

dá por seu histórico de tentativas de suicídio e seu grave olhar crítico de si mesmo. Sobre o

tema poder, segundo os estudos de Foucault, esse não está localizado somente em uma

instituição ou em documentos políticos e jurídicos. No que se refere ao poder, direito e verdade,

sob a análise de Foucault, existe um triângulo em que cada item mencionado (poder, direito e

verdade) se encontra nos seus vértices.

Foucault cita que as relações de poder em diferentes tipos de instituições (escolas,

prisões, quartéis), foram marcadas pela disciplina: “mas a disciplina traz consigo uma maneira

específica de punir, que é apenas um modelo reduzido do tribunal” (FOUCAULT, 2008, p.149).

É pela disciplina que as relações de poder se tornam observáveis, e é por meio da disciplina se

estabelecem as diferentes relações: opressor-oprimido, mandante-mandatário, persuasivo-

persuadido, entre outras.

Page 94: FILOSOFIA E SOCIOLOGIA - uceff.com.bruceff.com.br/downloads/Material Didatico/CADERNO DE ESTUDOS... · Sociologia – Controle e ... 3 APRESENTAÇÃO ... estudo, pois, compreendemos

93

A partir dos diferentes papeis que a sociedade pode apresentar, há, segundo Foucault,

duas tecnologias de poder, divididas em duas séries:

Série corpo - organismo/disciplina/instituições, que são os mecanismos disciplinares;

Série população - processos biológicos (que são os mecanismos regulamentares)

/Estado.

A tecnologia, segundo seus estudos, que não está entrada no corpo, mas na vida, pois

agrupa os efeitos de massa próprios de uma população. Efeitos de massa dizem respeito a

eventos que conseguem agregar maior número possível de pessoas que assimilam ideologias,

perspectivas, atitudes, em consenso.

De acordo com Foucault, a modernidade forçou duas questões fortemente interligadas:

o poder disciplinar (no âmbito dos indivíduos) e a sociedade estatal (no âmbito do coletivo).

19.2 PIERRE BOURDIEU – POSIÇÃO SOCIAL E PODER

Pierre Bourdieu é um dos mais importantes pensadores do século XX. Sua produção

intelectual, desde a década de 1960, estende-se por uma extensa variedade de objetos e temas

de estudo. Crítico mordaz dos mecanismos de reprodução das desigualdades sociais, Bourdieu

construiu um importante referencial no campo das ciências humanas.

A maior parte de seus críticos, numa leitura parcial de seus trabalhos, classifica-o como

um teórico da reprodução das desigualdades sociais. Para ele, os condicionamentos materiais e

simbólicos agem sobre nós (sociedade e indivíduos) numa complexa relação de

interdependência.

A posição social ou o poder que detemos na sociedade não dependem apenas de nosso

capital (dinheiro, bens) mas na articulação de sentidos que esses aspectos podem assumir em

cada momento histórico. Bourdieu salienta que a sociedade ocidental capitalista é uma

sociedade hierarquizada, organizada segundo uma divisão de poderes extremamente desigual.

Para o autor, existe uma ordem relacional e sistêmica no social. Neste sentido, a

estrutura social é vista como um sistema hierarquizado de poder e privilégio, determinado tanto

pelas relações materiais e/ou econômicas (salário, renda) como pelas relações simbólicas

(status) e/ou culturais (escolarização) entre os indivíduos.

Como recursos/poderes, Bourdieu cita: o capital econômico (renda, salários, imóveis),

o capital cultural (saberes e conhecimentos reconhecidos por diplomas e títulos), o capital

social (relações sociais que podem ser revertidas em capital, relações que podem ser

Page 95: FILOSOFIA E SOCIOLOGIA - uceff.com.bruceff.com.br/downloads/Material Didatico/CADERNO DE ESTUDOS... · Sociologia – Controle e ... 3 APRESENTAÇÃO ... estudo, pois, compreendemos

94

capitalizadas) e por fim, mas não por ordem de importância, o capital simbólico (o que

vulgarmente chamamos prestígio e/ou honra).

O conjunto desses capitais seria compreendido a partir de um sistema de disposições de

cultura (nas suas dimensões material, simbólica e cultural, entre outras), denominado por

ele ‘habitus’.

Sugestões de vídeos complementares:

Pierre Bourdieu - Cultura del Poder. Disponível: https://www.youtube.com/watch?v=qgkLuEESV2g

Michel Foucault Por Ele Mesmo - (Michel Foucault Par Lui Même). Disponível:

https://www.youtube.com/watch?v=Xkn31sjh4To

Michel Foucault (Globo Ciência). Disponível:

https://www.youtube.com/watch?v=WwViBuMD5RI.

Ser Ou Não Ser - Foucault e as relações de poder. Disponível: https://www.youtube.com/watch?v=lLCXhefM2i4

[ATIVIDADE 19]

Entre no site da Revista PLURAL – Revista de Ciências Sociais da USP,

Endereço: http://www.revistas.usp.br/plural/article/view/77125/80994.

1) Leia o artigo: Os efeitos do discurso: saber e poder para Michel Foucault e

Pierre Bordieu.

2) Identifique as convergências e divergências nos estudos de cada um dos

autores citados.

Page 96: FILOSOFIA E SOCIOLOGIA - uceff.com.bruceff.com.br/downloads/Material Didatico/CADERNO DE ESTUDOS... · Sociologia – Controle e ... 3 APRESENTAÇÃO ... estudo, pois, compreendemos

95

20 REFLEXÕES SOBRE OS TEMAS ESTUDADOS

Caro(a) Acadêmico(a)!

Estamos chegamos ao fim de nossos estudos. Vimos assuntos importantes para a

compreensão dos campos da Filosofia e da Sociologia, contudo, quero lembrá-los que são

recortes da variedade e profundidade que cada um dos campos apresentados possui. Vale dizer

ainda que os textos e autores escolhidos expressam as minhas convicções nos campos

apresentados. Por isso, não deixe de dar uma olhada nos materiais selecionados como

complementares. Esses materiais podem ajuda-lo (a) a compreender os temas sob outras visões

e paradigmas.

Espero que nossas aulas e atividades tenham contribuído com a sua formação acadêmica,

ainda, com a compreensão da vida e dos mecanismos que regem o mundo atual.

Temos ainda a atividade final do Caderno de Estudos. Essa aula e atividade possuem um

formato diferente das anteriores. Faremos uma atividade coletiva onde escolheremos (por

consenso) um dos temas estudados e realizaremos um fórum de debate online. Veja como

organizei a atividade:

AULA 20

Fórum de Debate:

Em nossa última aula faremos um debate online a partir de um tema (entre aqueles

que foram estudados) e de modo coletivo, reflexivo e participativo, debateremos

suas principais fundamentações ou ainda dúvidas que possam existir sobre o tema.

1) Escolha do tema-assunto;

2) Verificação da presença online de todos os acadêmicos;

3) Primeira rodada:

(a) Lançamento das questões problematizadoras (pela professora)

(b) Argumentação a partir dos estudos e sua visão de mundo (pelos/as

acadêmicos/as);

4) Segunda rodada:

(a) A partir das argumentações apresentadas, serão lançadas no fórum

virtual, duas questões e cada um de vocês terá o tempo de (no máximo)

15 minutos para a resposta, por escrito.

[ATIVIDADE 20]

Page 97: FILOSOFIA E SOCIOLOGIA - uceff.com.bruceff.com.br/downloads/Material Didatico/CADERNO DE ESTUDOS... · Sociologia – Controle e ... 3 APRESENTAÇÃO ... estudo, pois, compreendemos

96

REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS – SOCIOLOGIA

BAUMAN, Zygmunt; Modernidade e ambivalência / tradução Marcus Penchel. — Rio de

Janeiro: Jorge Zahar Ed., 1999.

BERNARDES, Cyro. & Marcondes C. Reynaldo. Sociologia aplicada à administração. 5 ed.

São Paulo: Saraiva, 2003.

CASTRO, Celso A. Pinheiro de. Sociologia aplicada à administração. 2 ed. São Paulo: Atlas,

2003.

CHIAVENATO, Idalberto. Introdução à Teoria Geral da Administração. 7. ed. Rio de Janeiro:

Elsevier, 2003. 632 p.

COSTA, C. Sociologia: introdução à ciência da sociedade. 2 ed. São Paulo: Moderna, 1997.

DAVENPORT, Thomas H.; PRUSAK, Larry. Conhecimento organizacional - como as

organizações gerenciam seu capitual o intelectual. 8ª ed. Rio de Janeiro: Campus, 1998.

DIAS, Reinaldo. Sociologia das Organizações. 1ª ed. São Paulo: Atlas, 2008. 273 p.

FIALHO, Francisco A. P.; MONTIBELLER FILHO, Gilberto; MACEDO, Marcelo;

MITIDIERI, Tibério da C. Gestão da sustentabilidade na Era do Conhecimento: o

desenvolvimento sustentável e a nova realidade da sociedade pós-industrial. Florianópolis:

Visual Books, 2008. 160p.

IANNI, Octavio. Teoria de estratificação social: leitura de sociologia. São Paulo: Editora

Nacional, 1973.

LONDERO, Marcia. Ciências sociais na organização. Curitiba: IESDE/BRASIL S.A, 1999.

160p.

NONAKA, Ikujiro; TAKEUCHI, Hirotaka. Teoria da criação do conhecimento organizacional.

In: TAKEUCHI, H.; NONAKA, I. Gestão do Conhecimento. Porto Alegre: Bookman, 2008.

p.54-90.

OLIVEIRA, Pérsio Santos. Introdução a sociologia. 24 ed. São Paulo, 2004.

POLANYI, Michael. The tacit dimension. University of Chicago Press edition, 2009.

SENGE, Peter. M. A Quinta disciplina: caderno de campo - estratégias e ferramentas para

construir uma organização que aprende. Rio de Janeiro: Qualitymark, 1999.

STANOEVSKA-SLABEVA, K. The concept of knowledge media: The past and future. St.

Gallen, Suiça: University of St. Gallen, 2002.

SVEIBY, Karl Erik. A nova riqueza das organizações. Rio de Janeiro: Campus, 1998.

TAKEUCHI, H.; NONAKA, I. Gestão do Conhecimento. Porto Alegre: Bookman, 2008. p.54-

90.

Page 98: FILOSOFIA E SOCIOLOGIA - uceff.com.bruceff.com.br/downloads/Material Didatico/CADERNO DE ESTUDOS... · Sociologia – Controle e ... 3 APRESENTAÇÃO ... estudo, pois, compreendemos

97