filosofia · as competências e habilidades exigidas pelo enem. por que estudar por esse e-book?...

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    Página | 1

    SUMÁRIO

    CONSIDERAÇÕES INICIAIS...................................02

    UNIDADE I – FILOSOFIA ANTIGA......................03

    Capítulo 1 – Origem da Filosofia..................................03

    Contexto histórico..............................................................03

    O Mito..................................................................................04

    A pólis e o surgimento da Filosofia...................................04

    Pré-socráticos – Os primeiros filósofos...........................05

    Capítulo 2 – Filosofia Clássica......................................07

    Atenas em questão..............................................................07

    Os Pluralistas.......................................................................09

    Sofistas..................................................................................10

    Sócrates................................................................................10

    Platão....................................................................................11

    Aristóteles............................................................................13

    Capítulo 3 – Filosofia Helenística................................16

    Contexto histórico - Alexandre o Grande.......................16

    Epicurismo..........................................................................17

    Estoicismo...........................................................................17

    Ceticismo/Pirronismo.......................................................17

    Cinismo................................................................................17

    Questões...............................................................................17

    UNIDADE 2 – FILOSOFIA MEDIEVAL...............20

    Capítulo 4 – A Patrística e Santo Agostinho..............20

    Capítulo 5 – Escolástica e São Tomás de Aquino....21

    UNIDADE 3 – FILOSOFIA MODERNA...............22

    Capítulo 6 – Renascimento............................................22

    Contexto histórico..............................................................22

    Galileu Galilei e o início da ciência experimental..........24

    Maquiavel e o dilema do príncipe.....................................24

    Capítulo 7 – Formação e consolidação do Estado...26

    Thomas Hobbes e a mecânica do Estado........................29

    Questões...............................................................................30

    Capítulo 8 – Empirismo e Racionalismo..................33

    Descartes e o Grande Racionalismo.................................33

    Francis Bacon – Conhecimento (empírico) é poder.......35

    Isaac Newton e o Grande Relógio Celeste.......................36

    Questões...............................................................................37

    Capítulo XX – Iluminismo............................................39

    Iluminismo na Inglaterra....................................................39

    John Locke: empirismo e liberalismo..................39

    George Berkeley....................................................41

    David Hume e o poder do hábito........................42

    Adam Smith e o livre mercado.............................43

    Iluminismo na França.........................................................44

    Voltaire e a tolerância............................................44

    Montesquieu e os três poderes ............................44

    Rousseau e a vontade geral...................................45

    Enciclopédia...........................................................46

    Iluminismo na Alemanha...................................................46

    Immanuel Kant......................................................46

    Questões...............................................................................49

    GABARITO.......................................................................51

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    Página | 2

    CONSIDERAÇÕES INICIAIS

    Sobre o ENEM.

    Que o ENEM não é um vestibular tradicional você já está cabeludo de saber. Ele não aborda os conteúdos das disciplinas como fins em si mesmos. O que o Ministério da Educação quer saber é se você consegue compreender, avaliar e ter um posicionamento crítico sobre a realidade que o rodeia.

    Para isso, mais do que testar sua decoreba, o governo quer saber se você tem as competências e habilidades necessárias para entender o seu contexto sócio-histórico-cultural, fundamentado nos conteúdos adquiridos no ensino médio. Ele quer saber se você é um cidadão crítico e consciente. Pelo menos, essa é a ideia.

    Mas para se ter uma compreensão desse nível sobre a realidade é necessário uma visão, não multidisciplinar, mas interdisciplinar e contextualizada sobre a mesma. Esses são os conceitos chaves desse exame.

    Tanto é que não há no edital o conteúdo das disciplinas da Área de Humanas divididos da forma tradicional em Português, Literatura, História, Geografia, Filosofia e Sociologia. Linguagens, Códigos e suas Tecnologias e Ciências Humanas e suas Tecnologias são a forma que esses conteúdos aparecem. E isto é assim para que se possa, por meio dos conhecimentos dessas disciplinas, ter uma visão da realidade como um todo inter-relacionado e contextualizado.

    Por isso, o estudo de Filosofia é tão importante para esse exame, mas contraditoriamente relegado a um segundo plano, seja nos colégios ou nos cursinhos preparatórios.

    Não é sem propósito que a Filosofia vem ganhando destaque nesse exame, a ponto de ter 18 questões com conteúdo filosófico na última prova. Isso equivale a 40% da prova de Ciências Humanas, e 10% de todo o ENEM.

    A Filosofia é a única disciplina que nos possibilita ter uma visão de conjunto interdisciplinar sobre a nossa realidade. E não estou falando aqui do estudo de mais uma disciplina escolar em que se tem de aprender mais conteúdos dissociados de nossa vivencia diária.

    Não é a simples leitura do pensamento de determinado filósofo que viveu numa época totalmente diferente da nossa e que por isso não pode nos dar nenhuma lição para os nossos problemas atuais.

    Nesse e-book vamos ver como as respostas às perguntas formuladas sobre os problemas de sociedades tão distintas da nossa podem nos ajudar a superar muitos dos nossos problemas atuais.

    E para isso não podemos estudar o pensamento de determinado filósofo dissociado de seu ambiente social, alheio à sua história. Somente com a consciência de que todo grande pensador formula suas teorias a partir de seu meio social e dentro de seu contexto histórico, podemos entender melhor todo e qualquer filósofo.

    Todos nós temos uma história, mas somente tendo consciência da teia, dos enredos das diversas histórias das instituições que nos cercam e que formam o contexto em que nossa própria história vai se desenrolar, é que poderemos tomar consciência dela e, por conseguinte, de nós mesmos.

    Dessa maneira, vamos fazer uma viajem histórico-filosófica das ideias que formaram a nossa sociedade e suas instituições para que posamos assim, compreendermos como e por que nossa situação atual chegou a ser o que é hoje. Somente dessa maneira teremos um melhor embasamento para fazermos julgamentos sobre o sentido de alguma coisa.

    Creio que abordar o conhecimento filosófico dessa maneira seja a melhor forma para você desenvolver as competências e habilidades exigidas pelo ENEM.

    Por que estudar por esse e-book? Ele é voltado

    especificamente para o ENEM, abordando os conteúdos

    como o edital exige. Esse material está escrito em

    linguagem fácil, prática, direta, e bem descontraída. Além

    de trazer, divididas por assunto, todas as questões de

    filosofia que já caíram no ENEM.

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    Página | 3

    IDADE 1 – FILOSOFIA ANTIGA

    CAPÍTULO 1 – ORIGEM DA FILOSOFIA

    Para uma melhor compreensão da matéria, é importante deixar bem claro que é um erro chamar as póleis gregas de cidades-estados, dentre tantos motivos destacarei apenas dois. O primeiro é a imprecisão histórica; o termo cidade é romano (civitas em latim), e o Estado é invenção da modernidade, ainda não existindo nesse tempo.

    Alguns podem retrucar e argumentar que isso não tem importância. Para eles eu destaco o segundo motivo, que é a carga de preconceitos que esses termos carregam. E quando uso o termo preconceito não estou usando-o de forma pejorativa, mas em seu sentido literal, isto é, de ideias preconcebidas, sem reflexão.

    Quando se fala em “cidade” imaginamos nossas formas de aglomeração humana em um mesmo espaço, uma arena em que cada indivíduo procura o seu bem, se dar bem sem prejudicar a busca do bem do outro, estejam esses bens correlacionados ou não. O termo “bem”, aqui, não está sendo usado no sentido metafísico, mas no sentido de propriedade mesmo, seja ele (bem) posses materiais, fama, dinheiro ou poder.

    Noutra vertente, quando usamos o termo “estado” vem à nossa cabeça um poder exterior a nós que por meio de um governo, quer se intrometer em nossas vidas, quer seja positivando/regulando nossas relações sociais, quer seja tributanto nossos salários ou negócios, quer seja ditando quando, onde, e como será gasto nossas riquezas.

    Quando se fala em estado, temos um governo, uma sociedade civil (organizada ou não) e uma democracia representativa. Uns que comandam e outros que são comandados.

    Como veremos a seguir, a Grécia, melhor dizendo, a Atenas da época clássica, gerou uma forma de organização da vida humana que serviu de base durante esses milênios para nossas sociedades. Mas é importante deixar claro que usar o termo “cidade-estado” para designar essa forma de organização político-social dos gregos é uma monstruosidade que precisa ser corrigida pelos manuais do ensino médio.

    Continuar com isso é permanecer no erro de olhar o outro pelo nosso umbigo, querer entender suas formas de expressão a partir das nossas. Esse tipo de pensamento é que causa discórdia e não aceitação do outro, o que gera guerras e mais guerras.

    CONTEXTO HISTÓRICO

    Na antiguidade a região conhecida como Grécia não era um estado unificado, com poder centralizado, governo único, e suas cidades-estados (póleis) obedecendo a esse poder. Era na verdade, uma região que por suas peculiaridades históricas e geográficas abrigava povos de origem, costumes e crenças comuns, unidos por uma mesma língua.

    A história desse povo na antiguidade é dividida em quatro períodos. A sua formação se dá pela união das civilizações Cretense e Micênica no período que ficou convencionado chamar de pré-homérico (Secs. XX a XII a. C.), cujo fim ocorre com a invasão dórica que ocasionou a primeira diáspora grega, quando eles ocuparam todas as áreas banhadas pelo mar Egeu na forma de pequenos núcleos rurais.

    Começa a partir de então o período homérico (Secs. XII a VIII a. C.), que leva esse nome por causa das obras do grande poeta Homero, que nos conta, por meio da Ilíada e Odisseia, como foi essa época.

    Os pequenos núcleos rurais deram origem aos genos que, comandado por um pater, eram formados por pessoas que acreditavam ser de uma mesma descendência. Apesar de terem um líder, a terra era de propriedade de todos.

    Nesse período, houve um grande aumento populacional que não foi acompanhado pela produção de alimentos, pois haviam poucas terras férteis. Muitos genos se dividiram, houve disputas e distribuição desigual de terras que passaram a ser propriedade privada. Foi um período de turbulência e muitas pessoas ficaram marginalizadas.

    Desse modo, a sociedade, que era essencialmente agrária e patriarcal, ficou estruturada da seguinte forma:

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    1) Eupátridas = os paters e seus parentes mais próximos que detinham as maiores e melhores terras;

    2) Demiurgos = trabalhadores livres 3) Georgoi = pequenos proprietários de terras; 4) Thetas = homens livres, mas marginalizados por

    que sobraram na divisão e disputas por terras; 5) Escravos

    Essa instabilidade gerou a necessidade de alguns genos se aliarem. Dessas alianças resultaram as fratrias, e da união destas, as tribos. O poder do pater passou a ser exercido por grupos de latifundiários bem nascidos conhecidos como eupátridas. Até que finalmente foram formados os demos que tinha como líder o basileu (rei), que era o mais fodão dos eupátridas.

    Para sobreviver, muitos gregos tiveram que buscar terras férteis para o cultivo de alimentos. Eles se lançaram ao mar à procura dessas regiões e se estabeleceram, além do Mar Egeu, por quase toda região europeia banhada pelo Mar Mediterrâneo (principalmente no sul da península itálica e na região da Sicília, que ficou conhecida como Magna Grécia), adentrando também na região do Mar Negro fundando apoikias (novos demos - colônias) em todos esses territórios. Essa busca de novas terras foi Segunda Diáspora grega.

    Foi basicamente nessa época que houve o ressurgimento da escrita entre os gregos, quando eles adaptaram o alfabeto fenício à sua língua.

    A Ilíada e a Odisseia descrevem vários aspectos da cultura e as diversas formas de relacionamento social dessa época, e mais importante, influenciaram muito as várias gerações gregas que tiveram o guerreiro bom e belo como um ideal de formação a ser alcançado.

    O MITO

    Antes mesmo do advento da Filosofia o homem tinha já possuía a curiosidade de saber sobre a origem das

    coisas, e mesmo sem ter a tecnologia de que dispomos hoje, eles tinham a imaginação trabalhando a todo vapor.

    Com ela criaram diversas histórias que foram passadas de forma oral por várias gerações. A palavra grega mythos significa contar, narrar, conversar.

    O mito é uma narrativa fantasiosa que visa dar uma explicação para a origem de determinada coisa, seja ela o homem, o amor, a doença, o mundo, os deuses, etc.

    Mas além disso, é também uma forma de justificação da estrutura social da época. Dito de outro jeito, o mito é uma forma de ver não só o mundo natural, como também de entender e aceitar a divisão e funcionamento da sociedade.

    Tanto é que os mitos se sustentam apenas na autoridade de quem os conta. O poeta-rapsodo, tem autoridade inquestionável, seja porque recebeu a narrativa de uma tradição oral respeitada, seja porque é considerado alguém escolhido pelos deuses para receber uma revelação e passá-la aos outros. Esses devem receber a informação como verdade inquestionável.

    Desse modo, os mitos não dão espaço para questionamentos e nem reflexão, perpetuando a forma de ver e entender tanto o mundo natural quanto o social. Perceba que os grandes reis (basileu) são protegidos ou escolhidos pelos deuses e os grandes guerreiros, como Aquiles, possuem vínculos com eles. Você se atreveria a discutir com eles, ou questionar sua autoridade? Fica difícil, não é?

    Os mitos sobre a origem do mundo são as cosmogonias (cosmos = mundo ordenado + gonia = gerar), já os que narram a origem dos deuses são as teogonias (theos = seres divinos + gonia = gerar. Admitem incoerências, contradições e são muito limitados deixando vários questionamentos em aberto.

    No entanto, sucessivos acontecimentos acabaram derrubando muitas dessas explicações e uma nova forma de ver o mundo (incluindo a sociedade) precisava ser criada.

    A PÓLIS E O SURGIMENTO DA FILOSOFIA

    Com a segunda diáspora, começa o período arcaico (Sécs. VIII a VI a. C.), quando tivemos a formação de vários demos espalhados por todo o mediterrâneo, intensificando as trocas de mercadorias e fazendo florescer novamente o comércio. É importante destacar que nessa época surge a moeda como um meio de facilitar as transações comerciais.

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    A partir daí, foi só questão de tempo para que os demos se unissem e formassem as póleis (eram mais de 1000), que foram governadas por conselhos de eupátridas (proprietários de terras) dando início aos regimes oligárquicos (governo de poucos). Eles desenvolveram leis, distribuíam a justiça, e ditavam a divindade a ser cultuada.

    Agora, com um número muito maior de póleis, e várias delas sendo importantes centros comerciais e portos estratégicos para a navegação, a principal atividade econômica deixou de ser a agricultura, e o comércio passa a ser o seu principal fator de desenvolvimento econômico.

    Esse desenvolvimento econômico proporcionou uma melhora significativa na qualidade de vida material da população. A partir daí os gregos passaram a ter tempo para fazer algo além de comercializar, eles agora iriam pensar.

    A consolidação das póleis seguido de uma relativa estabilidade política e econômica, e um longo período de prosperidade foi o terreno fértil para o nascimento da Filosofia. Algumas invenções e atividades que se desenvolveram, ou foram criadas, juntamente com a polis foram cruciais para o seu surgimento. São elas:

    As navegações – ao desbravarem os mares os gregos iriam realmente descobrir se existiam os monstros e sereias que os mitos contavam.

    A invenção do calendário – isso proporcionou aos gregos verem que as estações do ano não eram vontade dos deuses mas fenômenos naturais que podiam ser previstos.

    A moeda – Você certamente sabe quanto custa uma caneta, um caderno ou uma meia. Mas você sabe quanto vale um real? Sabe porque um real vale um real, e cem reais vale cem reais? Pois é, esse é um exercício de abstração que requerem cálculos complexo. Os gregos deixaram de trocar as coisas e passaram a usar a moeda quando adquiriam essa capacidade de abstração.

    A escrita alfabética – se eu desenhar um homem e te mostrar, você vai saber que aquilo representa um homem. Mas se eu te mostrar esse símbolo A política – Esse ponto é bastante importante porque marca uma ruptura no modo de encarar a organização social. A pólis é um lugar onde os homens decidem o seu próprio destino, e não mais os deuses. E esse governo dos homens só era possível porque eles eram livres para criarem suas próprias leis, que eram fruto do debate público, ou seja, da palavra que era posta sob questionamento.

    E esse tipo de discurso proporcionado pela atividade política foi fundamental para o surgimento do discurso filosófico, que nasceu como diálogo. A palavra que sempre pode ser debatida e questionada. Lembrem-se que no mito, a palavra era inquestionável.

    Nas póleis gregas não havia muita diferença de riqueza entre os cidadãos e a monarquia não era a forma de governo predominante entre eles.

    Todos eram responsáveis pela defesa da pólis, então, não fazia sentido não terem participação na tomada de decisões sobre os rumos da mesma. Foi assim que nasceu a política na forma de democracia.

    Os gregos acreditavam que um homem livre que vivia em pleno gozo de suas faculdades mentais e corporais deveria viver em uma comunidade política que se autodeterminava por leis que ela mesma criava por meio do debate, e não por um homem (rei) ou alguma divindade.

    A vida na pólis era voltada para que eles desenvolvessem plenamente suas capacidades humanas, fruto de sua natureza. Cada cidadão era estimulado a exercitar as virtudes e reprimir os vícios. E a justiça necessária para controlar esse lado ruim só pode ser encontrada em uma comunidade bem ordenada, de homens virtuosos, justos e livres, que governam a si mesmos, ou seja, na pólis.

    Essa visão histórica da formação da sociedade grega desde os núcleos rurais até a formação das póleis, nos ajuda a entender não apenas o surgimento da filosofia, mas o por que dela ter sido uma invenção grega. Ela não foi um “milagre” repentino desse povo, mas o resultado de uma gestação que vinha acontecendo no seio das transformações ocorridas na sociedade grega durante séculos.

    PRÉ-SOCRÁTICOS – OS PRIMEIROS FILÓSOFOS

    Tendo Sócrates como a grande referência na filosofia antiga, os historiadores consentiram em chamar esse primeiro período filosófico de pré-socrático.

    É de se ressaltar que essa convenção tem como critério não apenas uma ordem cronológica, mas a linha de investigação filosófica, pois ao tempo de Sócrates ainda haviam pré-socráticos.

    Esses primeiros filósofos se preocuparam em tentar explicar a physis (natureza/mundo/universo) de

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    uma forma racional (cosmologia), dando uma explicação diferente da dos mitos, que recorriam aos deuses.

    Diferentemente da explicação mítica que dizia que o universo havia sido criado do nada, para eles o universo havia sido gerado de um princípio universal. E descobrir essa arché seria a chave para entender todas as coisas.

    Eles acreditavam que a physis apesar de estar em constante movimento (devir) possuía um elemento de permanência e que este seria o seu princípio originador, seu fundamento, e explicaria a causa da mudança.

    Dentre esses filósofos haviam os que acreditavam que a arché era um único elemento, estes eram os monistas. Mais tardiamente, outros pré-socráticos começaram a defender que eram vários, e ficaram conhecidos como pluralistas.

    Tales de Mileto (640-546 a. C.), que talvez tenha sido o primeiro filósofo, e estava na lista dos sete sábios da Grécia, acreditava que a água era a origem de tudo.

    Anaximandro (610-547 a. C.) dizia que o princípio criador não poderia ser conhecido pelos sentidos, mas somente pelo intelecto já que ele é o apeiron (indeterminado).

    Anaxímenis (588-524 a. C.) argumentava que o ar seria esse princípio originador de tudo.

    Pitágoras de Samos (570-490 a. C.) creditava aos números a origem de tudo, mas desde que entendidos como harmonia e proporção. Ou seja, tudo na natureza é proporcional e harmônico.

    Heráclito de Éfeso (535-475 a. C.), um dos filósofos mais importantes desse período, atribuía ao fogo a origem das coisas, já que para ele a realidade/physis é uma eterna luta de contrários que tem esse elemento como sua causa.

    Autor da famosa frase que caracteriza bem o seu pensamento: “Um homem não pode se banhar duas vezes no mesmo rio, porque na segunda vez o rio e o homem não serão os mesmos.”

    Para ele, o universo está em constante mudança, tudo flui, tudo está em transformação constante. E isso é assim porque todas as coisas possuem os oposto em constante guerra. O real é a mudança e a permanência é ilusória.

    Você já não é tão jovem quanto quando começou a ler essas palavras, mas ainda é jovem, mas está envelhecendo, mas ainda é jovem, mas está envelhecendo, mas ainda é jovem, mas está envelhecendo, mas ainda é jovem, mas está envelhecendo.

    Parmênides (510-470 a. C.) de Eleia, rompe com os filósofos que o precederam na maneira de pensar o mundo. E por isso não se adequa a classificação de monista ou pluralista.

    Ele afirmava que o elemento de permanência, de

    origem, de fundamento, das coisas/mundo (physis) não pode ser encontrado na sua mutabilidade constante.

    Melhor dizendo, não se pode encontrar o princípio (arché) imutável do universo na sua própria mudança, ainda mais quando a investigação é conduzida pelos sentidos.

    Para ele a mudança seria apenas uma ilusão dos sentidos, e o que é essencial nas coisas só pode ser captado pelo pensamento. Por esse motivo, é que haviam tantas opiniões contrárias sobre o Ser das coisas, porque os filósofos estavam trilhando um caminho errado que só os levava à ilusão.

    A mudança (devir) não existe, é uma ilusão dos sentidos, Heráclito estava errado. “O Ser é e o não ser não é”. O Ser é o Logos (razão), a permanência, é imutável e sem contradições.

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    Continuaremos a estudar os outros filósofos pré-socráticos (pluralistas) quando adentrarmos no período clássico, por que contextualizando-os socialmente poderemos entender melhor suas teorias e a influência delas em seu meio social.

    CAPÍTULO 2 – FILOSOFIA CLÁSSICA

    A maturação e desenvolvimento da filosofia clássica ocorre em Atenas devido a uma série de acontecimentos que passaremos a analisar a seguir.

    É importante entendermos o contexto histórico para que as teorias filosóficas desse período possam fazer sentido, pois a Filosofia como construção humana está limitada a seu tempo e contexto social, embora muitos queria fazer parecer que não.

    ATENAS EM QUESTÃO

    Atenas foi fundada pelos jônios na região da Ática. Inicialmente esteve sob o regime monárquico, e depois oligárquico. Era governada pelos Eupátridas (bem nascidos), que além de possuírem as maiores e melhores terras, ainda tinham como escravos outros atenienses, que foram pequenos proprietários de terras que não conseguiram saldar suas dívidas.

    Sem um solo propício para agricultura, e com um porto (Pireu) estrategicamente localizado no Mediterrâneo, os Atenienses se lançaram ao mar. Tornaram-se grandes marinheiros e desenvolveram o comércio de forma significativa.

    O comércio enriqueceu muitos atenienses que não tinham o sangue azul dos eupátridas e estavam doidos por participação política. A isso, some a insatisfação dos escravizados por dívidas, dos potencialmente escravos, e ainda, rebeliões provocadas por estes. Pronto, o barril de pólvora estava cheio e prestes a explodir.

    Dracon em 620 a. C., tentou acalmar os ânimos tornando públicas por meio da escrita, as leis da pólis, que antes eram conhecidas só pelos eupátridas. Não adiantou muita coisa.

    Agora pasmem, em 594 a. C., os grupos dominantes da época, decidiram eleger um homem sábio para fazer reformas que pudessem colocar fim ao clima de guerra que afligia a sociedade ateniense.

    Escolheram Sólon, um dos sete sábio da Grécia, que instituiu profundas reformas na sociedade. Dentre as quais podemos citar:

    Perdoou a dívida dos atenienses escravizados, e acabou com a escravidão por dívidas;

    Limitou o tamanho da propriedade;

    Modificou o critério de classificação social, do nascimento para a riqueza;

    Com isso, modificou o critério para participação nos cargos públicos (magistraturas), permitindo a participação dos comerciantes na política;

    Permitiu a participação de todos os atenienses na Assembleia (Eclésia), mesmo o mais pobre;

    Criou a boulé, que era um conselho de 400 membros escolhidos pela Eclésia, e que tinha a função de criar projetos de leis para serem votados por esta;

    Deu cidadania a todo aquele que contribuísse com a pólis.

    Ficou decidido que, o que Sólon fizesse não poderia ser modificado por 10 anos. Então, depois de fazer essas reformas Sólon deixou Atenas, tanto para não perder sua vida, quanto para não usar de seu prestígio e tornar-se um tirano.

    Apesar de profundas, essas reformas trouxeram ainda mais tensões. E de toda insatisfação emergiu em 546 a. C. o primeiro tirano de Atenas, Pisístrato.

    Nessa época o termo tirano não tinha toda a carga negativa que tem hoje, e designava apenas uma forma ilegítima de governo. Não é que o tirano fosse cruel e mandasse cortar a cabeça de quem olhasse torto pra ele, é que ele não chegou ao poder com o apoio dos que detinham o poder.

    Pisístrato foi até um bom governante, manteve inalteradas as leis de Sólon, construiu grandes obras, patrocinou as artes, os jogos e os festivais, e projetou Atenas como grande centro comercial e cultural da Grécia.

    Seus sucessores foram uns bocós e não souberam se manter no poder, abrindo espaço novamente para conflitos internos, quando Clístenes toma o poder em 510 a. C.

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    Clístenes governou Atenas de 510 a 507 a. C, e ousou muito ao dividir o território da Ática em 10 tribos, e cada tribo em 03 DEMOS. Com isso ele queria acabar com a influência das tradicionais famílias nobres aristocráticas.

    É claro que para ocupar cargos públicos ainda era necessário ter uma certa quantidade de riqueza, como Sólon havia estipulado. Mas cada vez menos isso dependia da família a que se pertencia.

    A boulé (que criava projeto de lei) passou a ter 500 membros. Cada DEMO elegia 50, e cada tribo a presidia sucessivamente durante o ano. Perceba o salto qualitativo nesse regime de participação política que mais tarde viária a ser chamado de DEMOCRACIA.

    A Eclésia (assembleia popular) passou também a, além de votar, discutir os projetos de lei. Provavelmente a boulé tinha mais poderes que a Eclésia no início do processo de construção desse novo regime, mas com o tempo a situação se inverteu.

    O OSTRACISMO foi uma instituição muito famosa criada também por ele. Não era uma pena, mas uma forma de defender o novo regime contra levantes tirânicos. Se uma pessoa estava se tornando demasiadamente famosa, prestigiada, e influente, ela era banida da pólis por um período de 10 anos e depois retornava como se nada tivesse acontecido.

    Pense bem. Num regime onde todos devem ser iguais, não deve haver essas grandes personalidades, senão, não haveria isonomia, que era a base do sistema.

    As reformas de Clístenes no sistema político de Atenas acabou influenciando toda a Grécia, e seu governo foi a transição entre o período arcaico e o clássico.

    No período clássico (Sec. V ao IV a. C.), as Guerras Médicas (os medos faziam parte do povo Persa, daí o nome) foram o pano de fundo para um maior destaque de Atenas dentre todas as póleis gregas. Eles já estavam se sentido os maiorais por terem suas instituições como modelo do que de melhor se poderia ter. Agora, iam colocar os músculos para trabalharem.

    Diante dessas invasões as póleis gregas, persuadidas por Atenas, fizeram uma aliança militar conhecida como Liga de Delos. Claro que isso tinha um custo, e que ninguém era obrigado a participar. No entanto, seria bom contar com uma certa segurança não é mesmo?

    Inicialmente os recursos obtidos ficaram na ilha de Delos (por isso o nome), mas com o tempo foram transferidos para Atenas. Mesmo com o fim das ameaças externas a Liga permaneceu, e ninguém mais poderia dela se desligar, pois Atenas logo interferia. O que antes não era obrigação, tornou-se submissão.

    Dessa maneira, portanto, Atenas, sob a liderança de um líder democrático, construiria com as riquezas dos outros a sua ERA DE OURO. Foi nessa época que a cidade foi embelezada com grandes templos e obras públicas. Só para se ter uma ideia, o Partenon, um dos maiores feitos de arquitetura da humanidade, foi erguido nesta época.

    É inegável que toda a glória alcançada por Atenas teve como sustentação material a submissão das outras póleis.

    No entanto, deve-se deixar bem claro que apesar da relação dos atenienses com os outros fosse de hostilidade, entre eles, imperava os ideais mais nobres como igualdade, liberdade e justiça. Em virtude disso, a forma de governo que tem por base esses ideais pôde florescer em sua plenitude.

    Em Atenas o exercício da atividade política era básico, algo comum na vida de seus habitantes. A participação na tomada de decisões dos assuntos que dizem respeito à administração da pólis era a principal e mais nobre atividade que um homem livre poderia se dedicar.

    Foi nessa época que surgiu na cena política ateniense um grande orador, de família aristocrática, e excelente estrategista militar.

    Péricles (495 – 429 a.C.) liderou Atenas em seu esplendor (não é à toa que esse século recebeu seu nome), quando na assembleia, juntamente com seus concidadãos, aprimorou o regime democrático a ponto de afirmar o seguinte em seu discurso fúnebre:

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    “Nosso regime político não se propõe tomar como modelo as leis de outros: antes somos modelos que imitadores. Como tudo nesse regime depende não de poucos, mas da maioria, seu nome é democracia. Nela, enquanto no tocante às leis todos são iguais para a solução de suas divergências particulares, no que se refere à atribuição de honrarias o critério se baseia no mérito e não na categoria a que se pertence...”

    O primeiro cidadão ateniense instituiu a mistoforia, que era uma justa quantia em dinheiro para que mesmo o mais lascado dos homens livres pudesse participar diretamente da administração da cidade. Agora, não precisava mais nem ser de família nobre, e nem ter riqueza suficiente para ocupar determinado cargo.

    Tal salário era necessário porque esses gregos acreditavam que todos os cidadãos eram iguais (isonomia) e por esta razão, tinham direito de se expressar (isegoria) na assembleia, e de ter participação no poder (isocracia). Para eles não havia outra maneira, a única forma de DEMOCRACIA era a DIRETA.

    Basicamente, a estrutura política estava arquitetada da seguinte forma:

    ASSEMBLÉIA – Conselho de cidadãos que tomavam as decisões mais importantes da pólis. Eles se reuniam no monte Pnyx (imagem abaixo). Claro que não tinham essas cadeiras, mas olhe a vista que eles tinham da acrópole. Imagine os atenienses tomando as decisões da pólis com a vista das maravilhas que eles foram capazes de fazer. Era mesmo algo grandioso.

    BOULÉ – Conselho de 500 cidadãos que propunham as leis.

    ESTRATEGO – 10 generais com mandatos de 01 ano.

    Para todos os cargo públicos uma pessoa só podia ser eleita uma única vez na vida, para dar oportunidade para outros participarem do poder. Na boulé podia-se eleger duas vezes, e para estrategos podia ser indefinidas vezes, isso por que esse cargo exigia habilidades especiais de guerra.

    Somente podiam participar desses cargos os homems filhos de pais atenienses maiores de 20 anos, pois apenas eles eram considerados Zoôn politikons. Eram membros de famílias aristocráticas, pequenos proprietários de terras, comerciantes e artesãos.

    Mas a sociedade ateniense não era formada apenas por eles; haviam também os que eram excluidos da cidadania. Nesse grupo temos os metecos, que eram os estrangeiros residentes ou não na pólis; as mulheres, que serviam basicamente para cuidar da casa e reproduzir; e finalmente os escravos, que eram os prisioneiros de guerra.

    Não por coincidencia, os escravos começaram a aumentar quando a democracia estava em seu auge. Ora, para haver tempo livre para os cidadãos se dedicarem à política alguem tinha que ficar trabalhando. Estimasse que eles fossem ¼ da popolação, no máximo.

    Em Atenas não havia tratamento duro com os escravos, não existiam pessoas acorrentadas andando pelas ruas, chicotadas e esquartejamentos em praça pública. Pelo contrário, era muito comum os escravos serem libertados.

    Habitantes de outras póleis estranhavam quando andavam nas ruas de Atenas e viam escravos andando na rua como se fossem livres.

    Nas fazendas e no mercado eles trabalhavam lado a lado com o seu senhor. Não há nenhum registro de rebeliam de escravos em Atenas. A possibilidade de conquista da liberdade que estava no horizonte, abrandava a relação entre senhor e escravo.

    OS PLURALISTAS

    Nesse período a filosofia continuou progredindo com os filósofos pré-socrático. O próprio Péricles tinha um desses sábios como mestre, seu nome era Anaxágoras (499-428 a. C.). Ele defendia que o princípio gerador de todas as coisas não é único, que

    a physis era formada de várias partículas (sementes – espermatas) ordenadas por uma inteligência universal.

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    Diferentemente dele, Empédocles (490-430 a. C.) acreditava que os elementos água, terra, ar e fogo eram os princípios criadores, que formavam as coisas pela união e repulsão, pelo amor e ódio.

    Demócrito (460-370 a. C.) era contemporâneo de Sócrates, mas como o objeto de sua investigação ainda era a physis, ele é considerado um pré-socrático.

    Segundo ele, o mundo é formado por partículas invisíveis e indivisíveis chamadas átomos, que se chocavam ao acaso no vazio para formar os corpos percebidos pelos nossos sentidos.

    Percebam que esses pré-socráticos do período clássico, defendem não um, mas vários os elementos criadores do universo.

    Será coincidência eles defenderem isso no tempo em que a constituição da pólis, ou seja, do mundo social, dependesse de muitos e não de um só? Ou terá sido essa forma de organização social fundamentada nessa nova visão da constituição do universo?

    Independentemente da resposta, o fato é que havia agora uma nova visão do mundo, seja ele físico ou social, e em ambos não havia mais o predomínio de uma arché que a tudo governava, mas, a relação entre vários elementos que regidos por leis constituíam o cosmos.

    No mundo da physis cabia aos homens descobrirem essas leis, no mundo da pólis cabia a eles criarem-na. E essa atividade divina de criarem as leis, que trariam ordem ao caos, era feita no espaço público da pólis, na ÁGORA (praça central onde se discutiam diversos assuntos), por meio da palavra, através do discurso.

    SOFISTAS

    É também nesse contexto de valorização do humano, da palavra, de se expressar bem e de convencer o público por meio da oratória para se sair bem no cenário político, que surgiram os sofistas, um conjunto de sábios que ensinavam retórica (arte de falar bem e persuadir o público).

    A palavra sofista vem do grego sophós e quer dizer sábio. Eles eram homens que viviam viajando entre as

    póleis vendendo seu conhecimento, pois não eram ricos para se manter no ócio intelectual.

    Protágoras (480-410 a. C.) foi o primeiro e mais ilustre dos sofistas. Nascido em Abdera, mudou-se para Atenas onde se tornou muito famoso e requisitado pelas famílias ricas.

    Defendia que não havia um conhecimento e uma verdade absolutas sobre as coisas, e que o mundo era relativo ao que os homens percebiam dele. Daí sua famosa frase: “o homem é a medida de todas as coisas”.

    Sua doutrina relativista impossibilitava a construção de um saber objetivo no qual se pudesse chegar a critérios que estabelecessem e diferenciassem o verdadeiro do falso, o certo do errado. Tudo dependia de quem ou que grupo estava falando. As regras sociais, bem como a própria pólis são convenções, e como tal, mudam de acordo com que as convencionou, sendo, portanto, relativas.

    O maior crédito que se deve atribuir aos sofistas foi o de ter voltado o debate filosófico da cosmologia, para a área do humano, da pólis, da ética, da política. Pois foi por se contrapor a eles que Sócrates deu início ao conhecimento filosófico herdado pelo ocidente.

    SÓCRATES

    Sócrates (470 – 399 a. C.) foi um marco na filosofia grega. Não deixou nada escrito e o que sabemos de seu pensamento é o relatado por seu discípulo Platão. Ele nasceu em Atenas, foi contemporâneo de Péricles, e crítico do regime democrático.

    Ele viveu na época da GUERRA DO PELOPONESO (431-404 a. C.), que foi motivada pela forma autoritária e abusiva com que Atenas tratava os seus aliados.

    Um grupo de póleis cansada da tirania Ateniense, sob a liderança de Esparta, formaram a Liga do Peloponeso, para enfrentá-la. Essa guerra foi o grande motivo da decadência das póleis gregas, pois elas foram se destruindo e abrindo espaço para que inimigos externos pudessem conquista-las.

    Sócrátes participou de algumas batalhas, sendo condecorado por bravura.

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    O Oráculo de Delfos o celebrou como o mais sábio dos homens por ele ter consciência de sua própria ignorância.

    Ele travou um grande embate com os sofistas ao dizer que estavam errados, que poderíamos sim obter um conhecimento objetivo, um saber verdadeiro. Sustentava que o homem poderia conhecer a essência das coisas e que a primeira pergunta a ser respondida era qual a sua própria essência.

    Para ele, a essência do homem é a sua alma, entendida como consciência de si. É isso que distingue o homem dos outros animais. Não é à toa que ele instigava seus discípulos a terem esse conhecimento, pois era isso que os tornavam humanos. “Conhece-te a ti mesmo” estava escrito no pórtico do oráculo que afirmou ser ele o mais sábio dos homens.

    Mas essa consciência de si não era só o simples saber de um eu individual. Era a consciência de que somos parte integrante de um conjunto de relações que formam um todo maior, e que por fazer parte desse todo é que temos o poder e o dever de conhecer sua essência.

    Desse modo, temos o poder de ter essa consciência moral que nos guia na interação com nossos semelhantes. Nessas relações só podemos agir conscientes se tivermos conhecimento da essência das coisas, sejam elas o bem, a amizade, a virtude, ou até mesmo a democracia.

    O interessante é que Sócrates não trazia respostas prontas. Por meio do diálogo, ele se posicionava como um ignorante e começava a questionar as pessoas sobre o que eles pensavam saber, mostrando-lhes que nada sabiam, e que o que sabiam eram crenças que lhes foram passadas como verdades sem nenhum tipo de reflexão crítica. E ao final, ele fazia a própria pessoa chegar à verdade.

    Talvez se ele aparecesse com verdades prontas não teria sido Sócrates, mas apenas mais um sabichão metido a besta. No entanto, como ele fazia a pessoa ver a verdade pro si própria, por meio da maiêutica, ele foi o mais sábio dos homens e por isso um perigo para o sistema.

    Ora, pensemos um pouco. No auge do imperialismo ateniense, quando eles eram tomados como modelos pelas outras pólis (como o próprio Péricles afirmou acima); quando eles tratavam seus “aliados” da Liga de Delos como bem entendiam, usando os recursos da Liga para tornar Atenas a mais bela e poderosa pólis que já existira; quando eles estavam maravilhados com seu regime político, que eles próprios criaram; vem um cara e começa a botar caraminholas na cabeça dos jovens

    perguntando: “será mesmo que vivemos uma democracia, quando temos um regime político que permite a um bom orador ir à assembleia e fazer um discurso bonito e pomposo que leve o povo a aprovar o que ele quer sem o mínimo de reflexão?”, “será que é certo tratarmos nossos aliados com toda essa arrogância, e usando mais a força que a justiça em nossas relações?”, “será mesmo bom essa democracia onde qualquer um possa influir nos destinos da pólis, mesmo não tendo conhecimento do que seja bom e justo?”.

    Entendem agora porque Sócrates era um perigo a ser exterminado o mais rápido possível? Era um traidor, um corruptor da juventude.

    A Guerra do Peloponeso durou 27 anos e terminou com a vitória de Esparta, no entanto, acabou deixando as partes envolvidas enfraquecidas.

    Desde a derrota de Atenas nessa guerra, o regime democrático ficou desacreditado pelos próprios ateniense, e muitos deles começaram a criticá-lo. Eles argumentavam que em momentos cruciais da guerra, foram tomadas muitas decisões estúpidas por que foi colocado para a maioria decidir, e isso levou à derrota de Atenas.

    O regime democrático ateniense foi substituído por uma oligarquia comandada por 30 tiranos indicados por Esparta. Nesse tempo ficou proibido o debate em público e o ensino de retórica. Mas, alguns anos depois a democracia foi restaurada e Sócrates voltou a importunar.

    Ele foi acusado e, por mais forte que fossem seus argumentos de defesa, foi condenado, porque sua condenação já era certa desde antes mesmo do julgamento começar. Bebeu cicuta mas não renunciou ao que disse. O cara era macho, que nem outro barbudo que vocês ouvem falar desde criancinha.

    PLATÃO

    Platão (427 – 347 a. C.) foi o maior discípulo de Sócrates, e era um homem de família aristocrática e influente na política. Como todo jovem ateniense, era um entusiasta do regime democrático até conhecer seu mestre aos vinte anos de idade.

    Sob influência de Sócrates passou a ser também crítico do regime, e depois de sua morte deixou de

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    acreditar na possibilidade de uma vida justa e feliz. Deixou Atenas para fazer uma longa viagem, quando voltou e fundou a Academia, onde pôde desenvolver suas teorias e repassá-las a seus vários discípulos.

    Na busca de um conhecimento verdadeiro, buscou um meio de contornar o beco sem saída deixado por Heráclito e Parmênides. Grande parte de suas ideias estão escritas em sua mais famosa obra, a República.

    Metafísica

    O constante devir que Heráclito afirmava ser a realidade foi chamado de mundo sensível (material) por Platão. Esse mundo captado pelos sentidos, a causa de nossos erros e ilusões, era uma cópia imperfeita do mundo das ideias (inteligível), que correspondia à permanência de Parmênides, um mundo captado apenas pelo pensamento, e, portanto, perfeito.

    Tudo que existe nesse mundo material é porque tem sua ideia no mundo superior. Apesar da multiplicidade com que ela possa aparecer no mundo sensível, a ideia é uma só, indestrutível e eterna. Segundo

    Platão, apesar de existirem diferentes tipos de cavalo, a ideia de cavalo é uma só. Quando pensamos em cavalo, pensamos a ideia e não determinado cavalo.

    Mas como foi que aconteceu essa cópia? Platão nos diz que foi um demiurgo (construtor) que plasmou do mundo das ideias esse mundo imperfeito. Tudo que existe nesse mundo em que vivemos, já existe no mundo superior das ideias.

    Seguindo esse raciocínio, a pólis deveria ser organizada de acordo com a pólis ideal, para que seus cidadãos pudessem viver de acordo com o supremo bem e a justiça.

    Mas como fazer isso? Como conhecer esse mundo ideal e verdadeiro para viver de acordo com o que é bom e justo nesse mundo de erros, se eu estou nesse segundo e tudo que percebo vem dele?

    Platão afirma que somente pela dialética é possível alcançar gradativamente o que é verdadeiro, e passar das ilusões ao real. Importante deixar claro que a dialética Platônica é o que a etimologia da palavra sugere, um diálogo crítico em busca da verdade que se passa do senso comum ao conhecimento verdadeiro.

    Ele explica essa passagem do falso ao real pela alegoria do mito da caverna, ilustrada na figura abaixo.

    Aqueles caras deitados no chão nasceram e cresceram ali, e a única coisa que eles viam eram aquelas sombras. Por nunca terem visto outra coisa, eles julgavam que aquelas sombras eram os objetos verdadeiros.

    Só que um dia, um deles consegue se soltar e sair da caverna. Lá fora, ele não consegue enxergar nada porque é quase cegado pela luz do sol. Aos poucos ele vai conseguindo ver as coisas e se dá conta que aquilo que viam na caverna eram apenas as sombras, que eles tomavam por verdadeiro aquilo que era falso.

    Depois, ele volta para alertar os outros de sua condição, mesmo sabendo que eles podem não acreditar no que ele estava dizendo. Alguns dizem que ele está louco e outros decidem acompanhá-lo.

    Política

    Platão não via a democracia como um bom regime, foi a democracia que matou o mais sábio dos homens. E foi a democracia que levou Atenas à guerra e à ruía. Como é que pessoas não instruídas sobre valores como o bem comum, amizade, virtudes, justiça, podem governar? Já imaginou dar poder de governar àqueles caras acorrentados na caverna que só veem sombras? Seria um desastre. Como de fato foi.

    Por isso que ele defende que quem deve governar a cidade são os filósofos, aqueles que saíram da caverna (mundo sensível) e conheceram a realidade (mundo das ideias). Só eles possuem as virtudes e o conhecimento necessário (as ideias) para dar à pólis uma estrutura bem ordenada de forma que o bem e a justiça possam reger as relações entre seus cidadãos.

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    Esses filósofos não pertenceriam a classe social alguma. Em, A República, ele apresenta um processo de educação que começa aos 07 e vai até os 30 anos, sendo que todos participam, independente da classe social e do sexo. Isso mesmo, Platão defendia que as mulheres poderiam ser educadas para participar da vida pública.

    Platão entendia o homem como sendo corpo e alma. Esta, que antes era livre no mundo das ideias, agora vive prisioneira no corpo, esquecendo-se de tudo que já havia contemplado. Ela seria composta por três partes: a racional, representada pela inteligência; a emotiva, representada pelas emoções; e a apetitiva, representada pelos desejos carnais de sobrevivência e reprodução. Se livrar das emoções e desejos carnais era necessário para contemplar o mundo das ideias, porque eles não fazem parte daquele mundo.

    Esse processo educacional, serviria para fazer a alma atingir o mundo das ideias, ou seja, relembrar (processo de reminiscência da alma) do lugar de onde veio. Por isso, só completariam todo o percurso educacional aqueles que adquirissem e exercitassem as virtudes necessárias a fazer com que a parte racional de sua alma se sobrepusesse acima das partes emotiva e apetitiva que o deixa preso nesse mundo de aparências. Somente esses seriam filósofos.

    Em uma pólis bem ordenada os seus habitantes seriam divididos em três grupos, de acordo com suas virtudes, assim como a alma. Os que cuidam da subsistência (agricultores, comerciantes, artesão, etc), os que a defendem (guerreiros), e os que a governam (os filósofos). Cada um, ao exercitar suas virtudes, desempenha um papel na sociedade, contribuindo como podem para o seu bom funcionamento.

    ARISTÓTELES

    Juntamente com Platão, Aristóteles (384 – 322 a. C.) é a grande referência da filosofia grega antiga que vai influenciar na construção do mundo ocidental. Dante Alighieri dizia que ele foi o mestre dos mestres, e São Tomaz de Aquino se referia a ele como “o” filósofo.

    Ele foi o pensador que analisou todo o pensamento grego e o melhorou; escreveu sobre quase tudo, de metafísica à biologia. Em resumo, ele foi “o cara”. Por isso, devemos estudar Aristóteles como o

    porta-voz dos gregos instruídos, pois era assim que ele se considerava.

    Apesar de ter sido um dos maiores pensadores que Atenas produziu, ele era um meteco, e como tal, sem direitos políticos.

    De Estagira, na Macedônia, Aristóteles sai aos 18 anos para estudar na Academia de Platão em Atenas. Isso, provavelmente, uns 10 anos antes do domínio macedônico sobre a Grécia. Com uma mente notável, permanece por lá durante 20 anos até a morte de Platão.

    Após a morte do mestre, a quem Aristóteles era muito amigo e admirador, não vê mais motivos de continuar na academia e sai de Atenas para viajar por um bom tempo.

    Em 335 a. c., o rei Felipe II o chama para morar em Pela, capital do império macedônico, e ser professor de seu filho Alexandre, condição na qual permaneceu até este assumir o poder. Essa proximidade com a corte macedônica se dava pelo fato de Nicômaco, seu pai, ter sido o médico do rei Amintas, pai de Felipe.

    Aristóteles foi um grande pensador sistemático, que dividiu os saberes em:

    Produtivos – que se destinam a produção das coisas que são úteis aos homens. Ex: artes, arquitetura, carpintaria, etc.

    Práticos - que tratam das práticas que os homens mantem entre si. Ex: política, ética, economia, etc.

    Teóricos – dispõem sobre os conhecimentos contemplativos da realidade, das coisas que existem independentes do homem. Ex: física, matemática, astronomia, etc.

    Metafísica

    Segundo ele, enquanto os saberes particulares refletem sobre os seres particulares sujeitos ao movimento (devir), existe um saber que reflete sobre todos esses seres em conjunto, que estuda o que há de comum a todos eles, e que os estruturam em um todo organizado.

    Esse saber ele chamou de Filosofia Primeira, que mais tarde ficou conhecida como Metafísica (meta + físico = além do físico). É ela que analisa os princípios e a essência última do mundo, do universal, contida em todos os seres. É ela que diz se o objeto (esse mundo que nos rodeia) dos saberes particulares é real e verdadeiro.

    Na sua investigação do que seja a realidade, afim de fundar um conhecimento verdadeiro das coisas,

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    Aristóteles superou Heráclito, Parmênides, e deu uma resposta diferente da de Platão, criticando a posição de seu mestre.

    Para ele, esse mundo material que nos envolve e que é mutável, não é uma ilusão ou cópia imperfeita de algo (Parmênides e Platão), mas também não é toda a realidade (Heráclito).

    A mudança não é algo que torne as coisas ilusórias ou imperfeitas, mas é na realidade a sua essência. E se Parmênides e Platão dizem que não dá para construir um conhecimento verdadeiro sobre ela, Aristóteles afirma que eles estão errados, que dá para obter um conhecimento verdadeiro desse mundo, esse conhecimento é a Física.

    Crítico do dualismo platônico, ele não acreditava que deveríamos conhecer primeiro um mundo intelectual para só assim conhecermos o mundo material. Aristóteles voltou a investigação filosófica para a matéria afirmando que o ser (o real/inteligível) encontra-se nela, na matéria, e que a possibilidade de compreensão e apreensão do real (ser) deve-se dar a partir dela. Essa discordância com Platão ficou bem retratada na obra do renascentista Rafael Sanzio.

    Ele acreditava que existe uma ordem (inteligência) regendo todos os seres (matéria). Cada objeto que existe possui essa ordem dentro de si, que o constitui, que o faz ser como ele é, e que pode fazer ele se tornar algo melhor, sempre almejando uma finalidade. Ou seja, o inteligível está nas coisas e não separado dela em um mundo exterior.

    O que faz cada ser, ser o que é, Aristóteles denominou de Substância/essência, e pelo fato do homem ser dotado de consciência (racional), ele pode conhecer a essência/substância das coisas.

    Esse conhecimento se dá, segundo ele, quando investigamos vários particulares até abstrairmos uma essência comum a todos, na qual podemos generalizar através do conceito geral/universal. Esse método de ir do particular ao geral é a indução.

    Para Aristóteles, os seres se diferenciam pela quantidade de movimento a que estão sujeitos, e a depender dessa quantidade existe um conhecimento próprio ao seu estudo.

    De acordo com a metafísica aristotélica, todo ser físico possui uma matéria de que é feito e uma forma que o individualiza. Essa matéria possui a capacidade de se tornar algo diferente, de assumir outra forma, atualizando-se. E é o movimento que lhe é inerente, essencial, que faz acontecer essa mudança.

    Desse modo, os conceitos que Aristóteles desenvolveu em sua metafísica para entender a realidade são:

    Matéria – é aquilo do que o ser é feito.

    Forma – é o que o individualiza, tornando-o o que ele é.

    Potência – é capacidade/possibilidade que a matéria tem de mudar.

    Ato – é a forma que ele está assumindo agora.

    Substância – é a essência do ser, aquilo que o faz ser o que é.

    Acidente – são as características não essenciais do ser, que, caso ele tenha ou não, não o impede de ser o que ele é. Exemplo: grande/pequeno, amarelo/azul, leve/pesado, etc.

    Mas quais são as causas dessa mudança, do movimento. Aristóteles diz que são quatro, a saber:

    Causa material – refere-se à sua matéria. Uma pedra nunca vai ser um homem adulto

    Causa eficiente/motora – refere-se àquilo que age sobre a matéria para que ela adquira outra forma.

    Causa formal – refere-se àquilo que a matéria tende a se tornar.

    Causa final – refere-se ao propósito ao qual a matéria sofreu todo o movimento para se tornar o que é.

    Lembre-se sempre que no pensamento aristotélico, TODAS as coisas tem uma finalidade, tudo tem um propósito e uma função. A causa final é a causa mais importante de todas, é a inteligência (o logos)

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    ordenando o mundo, e todos os seres estão sujeitos a ela, sejam eles animados ou inanimados. Tudo tem seu propósito e fim. Por essa razão é que o pensamento aristotélico é chamando de teleológico (telos + lógico = fim ordenado).

    E quando ele investiga a causa das causa ele se depara com o princípio causador de todas as causas, qual seja, o Primeiro Motor Imóvel. Ele é ato puro, não sujeito a nenhum tipo de movimento, é o incausado que é a causa de todas as causas.

    Política

    Assim como o próprio Platão percebeu mais tarde que seu projeto de funcionamento de uma pólis ideal governada por reis filósofos não era viável, Aristóteles também sabia que esse projeto nunca daria certo.

    Tendo isso em mente, ele elaborou um projeto político que fosse viável, e desenvolveu uma política para o homem comum. Mas não entenda esse homem como qualquer um. É o homem bem instruído, e de determinadas posses, que o permitisse ter ócio suficiente para se voltar aos estudos e à política.

    Nessa linha de raciocínio, a polis que esse homem habitaria seria a melhor possível. Ela teria sua constituição como sendo um reflexo desse tipo de homem. E como seria essa polis?

    Para dar essa resposta, Aristóteles analisou 158 constituições diferentes, e definiu os tipos possíveis de governo conforme o quadro abaixo:

    BOM RUIM

    UM MONARQUIA TIRANIA

    POUCOS ARISTOCRACIA OLIGARQUIA

    MUITOS REPÚBLICA DEMOCRACIA

    A corrupção de um regime a outro, acontece quando quem governa se desvia do objetivo de atingir o bem comum, e passa a governar de acordo com seus interesses.

    Quanto à melhor forma de governo, Aristóteles diz que vai depender do tipo de povo. Segundo ele, existe uma disposição natural em cada povo que o torna propício a determinada forma de governo. Particularmente, ele prefere a monarquia, e argumenta

    que dentre as formas corrompidas de governo, a democracia é a melhor.

    Para compreendermos bem o pensamento aristotélico sobre a política e a ética é importantíssimo sabermos que ele não entendia as duas separadamente. Isso porque ele, assim como os gregos instruidos, não entendia um modo de ser, um comportamento do ánthropos (homem) que não fosse o mesmo do zoôn politikon (animal político). Ser homem para ele era ser cidadão.

    Tanto é que a palavra ética vem de ethos que de forma abrangente quer dizer modo de ser, e a palavra política vem de polis + ética, ou seja, o modo de ser da pólis. Não existe comportamento racional/inteligível que não seja dentro da pólis.

    Segundo ele, um homem que não vivesse em comunidade, ou era um deus, ou uma fera. E se vivesse em comunidade que não fosse uma pólis, seria inferior. Por isso que um estrangeiro era inferior a um grego e era legítimo que ele fosse escravizado. Por isso, Aristóteles condenava a escravidão entre homens livres, por ser contrário à natureza das coisas.

    Aí você pode pensar, mas não é todo mundo gente do mesmo jeito? Nananinanan, não. Vamos botar os pingos nos ís. Aristóteles tinha em mente que todos nós, gregos ou não, somos zoôn (animais), mas apenas os que vivem numa comunidade política, numa pólis, são zoôn polítikon, são ánthropos (ανθρώπου).

    Ora, nós vimos acima que o pensamento racional surgiu com a pólis. A racionalidade, que é uma descoberta grega, que era, portanto, grega, é uma racionalidade política, no sentido de comunitária, e o que faz o ánthropos (homem) ser superior aos outros animais é justamente isso, ser racional. Mas ele só pode ser racional se fizer parte dessa comunidade política que é a pólis, pois somente nela, ele pode desenvolver a sua natureza racional. E se é assim, a pólis também é algo natural ao homem.

    As leis que regem a pólis são criações da palavra (logos/razão), que não é mais ditada pelos deuses a um sacerdote que a transmite aos homens. Ela é genuinamente humana, fruto do debate, da dialética, expressão do logos (razão) que organiza a pólis e reina sobre os homens, não todos os homens, mas sobre os gregos.

    É essa palavra (logos) que é o conhecimento do que é útil, do bem e do mal, do justo e do injusto; e viver de acordo com a justiça é viver a boa vida, permitida apenas na pólis. É isso que faz de um grego, um zoôn

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    (animal) politikon (superior), e somente este é ánthropos (ανθρώπου).

    Repito, tudo isso de que estamos falando foi construído por eles, por isso, não é obra do homem em geral, mas dos gregos em particular. Aristóteles está falando para os gregos, ele está ensinando a eles, e não a todos os homens do planeta. E por que não?

    Por que ele acreditava que só os gregos eram capazes de entender o que ele estava dizendo, e é aqui que reside o preconceito que não é só de Aristóteles, mas dos gregos em geral.

    Ética

    Como viver essa boa vida, que só era possível participando da pólis? Aristóteles deixou essa resposta em sua obra Ética a Nicômaco. Como já vimos, ele concebia que tudo tem um fim, e não seria diferente com as ações humanas, que devem ser realizadas objetivando atingir o bem supremo que é a eudaimonia, comumente traduzida por felicidade.

    Não devemos entender essa felicidade como uma emoção que temos quando algo bom nos acontece. Ela está mais para um estado de plenitude, uma forma de viver plena, voltada para o bem, para o saber, para a justiça, no aperfeiçoamento constante do caráter. E viver dessa forma não é possível sem as virtudes.

    As virtudes são as qualidades do caráter que nos permitem conseguir os bens necessários (materiais e imateriais) para viver plenamente, ou seja, ter uma vida feliz. E a principal delas é a phronesis, a nossa conhecida prudência.

    Ela é a sabedoria, o saber prático necessário, a chave da felicidade, para viver moderadamente. É a prudência que nos permite viver sem exageros e nem deficiências, ou seja, no meio termo. É essa virtude que nos permite saber como agir moderadamente em cada situação particular.

    CAPÍTULO 3 – FILOSOFIA HELENISTICA

    CONTEXTO HISTÓRICO - ALEXANDRE O GRANDE

    Enfraquecidos pela Guerra do Peloponeso, os gregos não resistiram ao ataque macedônico na BATALHA DE QUERONEIA (338 a. C.) e sucumbiram diante do rei Felipe II.

    O domínio macedônico não ficou só na Grécia. Com a morte do rei Felipe II, seu filho Alexandre (336 –

    323 a. C.) de apenas 18 anos, assume o poder e conquista os grandes domínios do Império Persa, expandindo o poderio macedônico até a Índia.

    Alexandre foi educado nos costumes gregos, teve Aristóteles como seu professor, e espalhou a cultura grega por um vastíssimo território. A expansão e mistura da cultura grega com a dos povos orientais originou o que foi conhecido de Helenismo.

    Seu império não resistiu à sua morte, foi dividido entre seus generais, e foi conquistado pelos romanos. No entanto, as cidades fundadas por ele continuaram transmitindo a cultura grega pra diversos povos ao longo de séculos. Como exemplo, podemos citar Alexandria no Egito, Pérgamo na Ásia Menor, e a Ilha de Rodes no Mar Egeu.

    Alexandria foi a que mais se destacou ao possuir a maior biblioteca do mundo de sua época, e por ter formado uma escola com grandes pensadores.

    Abaixo, mapa indicando o tamanho da expansão do Império Macedônico.

    Alexandre com suas expansão promove gradualmente a queda da pólis. Ele dá início ao primeiro projeto de globalização, com a convivência de povos de diferentes costumes vivendo sob um mesmo território e domínio.

    Esse novo mundo que Alexandre estava criando requeria um novo homem, que deixaria de ser um cidadão da pólis para ser um cidadão do mundo, da cosmopólis, ou seja, um cosmopolita.

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    Dessa maneira, todo aquele corpo teórico sustentado pelos filósofos gregos, que concebia a pólis como sendo o único lugar onde o homem poderia exercitar suas virtudes e fazer florescer suas potencialidades, foi perdendo sentido, pois a pólis estava deixando de existir em seu formato original.

    Essas mudanças na forma de ver o mundo colocava novas questões que não podiam ser respondidas pelos escritos filosóficos já existentes.

    É nesse contexto que surgem novas correntes de pensamento filosóficas, como respostas às novas questões postas por essas transformações.

    Epicurismo

    Fundada por Epicuro (341 – 271 a. C), o epicurismo ensinava que os homens devem se libertar dos medos e viver uma vida voltada para os simples prazeres (hedonismo), como beber quando se tem sede, comer quando se tem fome, aproveitar a presença dos amigos e familiares. Tudo com moderação.

    Estes prazeres seriam entendidos como a superação dos desejos estimulados em sociedade, como a busca por fama, riqueza e poder. A felicidade seria, portanto, essa libertação dos desejos e prazeres, com o objetivo de se levar uma vida serena e simples, própria de um sábio.

    Estoicismo

    Outra doutrina foi a de Zenão de Cício (336 – 263 a. C.), que ficou conhecida por estoicismo. Segundo ela, o homem deveria viver indiferente aos problemas da vida. Teria que desprezar totalmente qualquer tipo de prazer, pois os entendia como a causa dos males.

    Para esse filósofo, o homem deveria dedicar-se apenas à sabedoria sobre a ordem do cosmo para viver de acordo com ele, pois o homem não pertence a lugar nenhum, mas ao mundo.

    Ceticismo

    Pirro de Élida (360-270 a.C.) foi o maior nome dessa corrente filosófica. Ele tirou suas conclusões depois de participar das expedições de Alexandre o Grande, onde percebeu, ao ter contato com diversas culturas, que não há como se ter conhecimento do que seja verdadeiro ou falso, e que a maior sabedoria que o homem poderia alcançar é a aceitação desse fato. E negar isso é a causa de todos os males e infelicidades.

    Cinismo

    Figura emblemática do cinismo é Diógines de Sínope (400-325 a. C.), mais conhecido como Diógines o cão. Ele viveu em Atenas de acordo com o que acreditava, morando em um barril e comendo apenas o os outros lhe davam, pois o cinismo pregava que as pessoas deveriam viver da forma mais simples possível, como um cão, desprezando todas as convenções sociais.

    Tudo que era natural deveria ser feito aos olhos de todos, e considerava coisas tolas a riqueza, fama, poder, e honras.

    Em busca de uma pessoa que não fosse corrupta, ele andava com uma lanterna interpelando a todos que encontrava.

    Certa vez o imperador Alexandre foi ao seu encontro e disse que lhe daria qualquer coisa que ele pedisse, quando então, Diógenes pediu apenas que eles saísse da frente do sol, pois estava impedindo-o de receber sua luminosidade.

    QUESTÕES 1. (2012) TEXTO I

    Anaxímenes de Mileto disse que o ar é o elemento originário de tudo o que existe, existiu e existirá, e que outras coisas provêm de sua descendência. Quando o ar se dilata, transforma-se em fogo, ao passo que os ventos são ar condensado. As nuvens formam-se a partir do ar por feltragem e, ainda mais condensadas, transformam-se em água. A água, quando mais condensada, transforma-se em terra, e quando condensada ao máximo possível, transforma-se em pedras.

    BURNET, J. A aurora da filosofia grega. Rio de Janeiro: PUC-Rio, 2006 (adaptado).

    TEXTO II

    Basílio Magno, filósofo medieval, escreveu: “Deus, como criador de todas as coisas, está no princípio do mundo e dos tempos. Quão parcas de conteúdo se nos apresentam, em face desta concepção, as especulações contraditórias dos filósofos, para os quais o mundo se origina, ou de algum dos quatro elementos, como ensinam os Jônios, ou dos átomos, como julga Demócrito. Na verdade, dão impressão de quererem ancorar o mundo numa teia de aranha.”

    GILSON, E.: BOEHNER, P. Historia da Filosofia Crista. São Paulo: Vozes, 1991 (adaptado).

    Filósofos dos diversos tempos históricos desenvolveram teses para explicar a origem do universo, a partir de uma explicação racional. As teses de Anaxímenes, filósofo

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    grego antigo, e de Basílio, filósofo medieval, têm em comum na sua fundamentação teorias que a) eram baseadas nas ciências da natureza. b) refutavam as teorias de filósofos da religião. c) tinham origem nos mitos das civilizações antigas. d) postulavam um princípio originário para o mundo. e) defendiam que Deus é o princípio de todas as coisas.

    2. (2012) Para Platão, o que havia de verdadeiro em Parmênides era que o objeto de conhecimento é um objeto de razão e não de sensação, e era preciso estabelecer uma relação entre objeto racional e objeto sensível ou material que privilegiasse o primeiro em detrimento do segundo. Lenta, mas irresistivelmente, a Doutrina das Ideias formava-se em sua mente.

    ZINGANO, M. Platão e Aristóteles: o fascínio da filosofia. São Paulo: Odysseus, 2012 (adaptado).

    O texto faz referência à relação entre razão e sensação, um aspecto essencial da Doutrina das Ideias de Platão (427 a.C.-346 a.C.). De acordo com o texto, como Platão se situa diante dessa relação? A) Estabelecendo um abismo intransponível entre as duas. B) Privilegiando os sentidos e subordinando o conhecimento a eles. C) Atendo-se à posição de Parmênides de que razão e sensação são inseparáveis. D) Afirmando que a razão é capaz de gerar conhecimento, mas a sensação não. E) Rejeitando a posição de Parmênides de que a sensação é superior à razão.

    3. (2014)

    No centro da imagem o filósofo Platão é retratado apontando para o alto. Esse gesto significa que o conhecimento se encontra em uma instância na qual o homem descobre a A) suspensão do juízo como reveladora da verdade. B) realidade inteligível por meio do método dialético. C) salvação da condição mortal pelo poder de Deus. D) essências das coisas sensíveis no intelecto divino. E) ordem intrínseca ao mundo por meio da sensibilidade. 4. (2009.2) Segundo Aristóteles, “na cidade com o melhor conjunto de normas e naquela dotada de homens absolutamente justos, os cidadãos não devem viver uma vida de trabalho trivial ou de negócios — esses tipos de vida são desprezíveis e incompatíveis com as qualidades morais —, tampouco devem ser agricultores os aspirantes a cidadania, pois o lazer é indispensável ao desenvolvimento das qualidades morais e a pratica das atividades políticas”.

    VAN ACKER, T. Grécia. A vida cotidiana na cidade-Estado. São Paulo: Atual, 1994.

    O trecho, retirado da obra Política, de Aristóteles, permite compreender que a cidadania A) possui uma dimensão histórica que deve ser criticada, pois é condenável que os políticos de qualquer época fiquem entregues a ociosidade, enquanto o resto dos cidadãos tem de trabalhar. B) era entendida como uma dignidade própria dos grupos sociais superiores, fruto de uma concepção política profundamente hierarquizada da sociedade. C) estava vinculada, na Grécia Antiga, a uma percepção política democrática, que levava todos os habitantes da pólis a participarem da vida cívica. D) tinha profundas conexões com a justiça, razão pela qual o tempo livre dos cidadãos deveria ser dedicado as atividades vinculadas aos tribunais. E) vivida pelos atenienses era, de fato, restrita aqueles que se dedicavam a política e que tinham tempo para resolver os problemas da cidade. 5. (2013) A felicidade é, portanto, a melhor, a mais nobre e a mais aprazível coisa do mundo, e esses atributos não devem estar separados como na inscrição existente em Delfos “das coisas, a mais nobre é a mais justa, e a melhor é a saúde; porém a mais doce é ter o que amamos”. Todos estes atributos estão presentes nas mais excelentes atividades, e entre essas a melhor, nós a identificamos como felicidade.

    ARISTOTELES. A Politica. São Paulo: Cia das Letras, 2010.

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    Ao reconhecer na felicidade a reunião dos mais excelentes atributos, Aristóteles a identifica como a) busca por bens materiais e títulos de nobreza. b) plenitude espiritual e ascese pessoal. c) finalidade das ações e condutas humanas. d) conhecimento de verdades imutáveis e perfeitas. e) expressão do sucesso individual e reconhecimento público. 6. (2014)

    TEXTO I Olhamos o homem alheio às atividades públicas não como alguém que cuida apenas de seus próprios interesse, mas como um inútil; nós, cidadãos atenienses, decidimos as questões públicas por nós mesmos na crença de que não é o debate que é o empecilho para à ação, e sim o fato de não se estar esclarecido pelo debate antes de chegar a hora da ação.

    TUCÍDIDES. História da guerra do Peloponeso. Brasília: UnB, 1987 (adaptado).

    TEXTO II

    Um cidadão integral pode ser definido por nada mais anda menos que pelo direito de administrar justiça e exercer funções públicas; algumas destas, todavia, são limitadas quanto ao tempo de exercício, de tal modo que não podem de forma alguma ser exercidas duas vezes pela mesma pessoa, ou somente podem sê-lo depois de certos intervalos de tempo prefixados.

    ARISTÓTELES. Política. Brasília: UnB, 1985.

    Comparando os textos I e II, tanto para Tucidides (no século V a.C.) quanto para Aristóteles (no século IV a.C.), a cidadania era definida pelo(a)

    A) prestígio social. B) acúmulo de riqueza. C) participação política.

    D) local de nascimento. E) grupo de parentesco. 7. (2014) Alguns dos desejos são naturais e necessários; outros, naturais e não necessários; outros, nem naturais nem necessários, mas nascidos de vã opinião. Os desejos que não nos trazem dor se não satisfeitos não são necessários, mas o seu impulso pode ser facilmente desfeito, quando é difícil obter sua satisfação ou parecem geradores de dano.

    EPICURO DE SAMOS. Doutrinas principais. In: SANSON, V.F. Textos de filosofia. Rio de Janeiro: Eduff, 1974.

    No fragmento da obra filosófica de Epicuro, o homem tem como fim

    A) alcançar o prazer moderado e a felicidade. B) valorizar os deveres e as obrigações sociais.

    C) aceitar o sofrimento e o rigorismo da vida com resignação. D) refletir sobre os valores e as normas dadas pela divindade.

    E) defender a indiferença e a impossibilidade de se atingir o saber.

    8. (2014) Compreende-se assim o alcance de uma reivindicação que surge desde o nascimento da cidade na Grécia antiga: a redação das leis. Ao escrevê-las, não se faz mais que assegurar-lhes permanência e fixidez. As leis tornam-se bem comum, regra geral, suscetível de ser aplicada a todos da mesma maneira.

    VERNANT, J. P. As origens do pensamento grego. Rio de Janeiro: Bertrand

    Brasil, 1992 (adaptado).

    Para o autor, a reivindicação atendida na Grécia antiga, ainda vigente no mundo contemporâneo, buscava garantir o seguinte princípio:

    A) Isonomia – igualdade de tratamento aos cidadãos. B) Transparência – acesso às informações governamentais.

    C) Tripartição – separação entre os poderes políticos estatais. D) Equiparação – Igualdade de gênero na participação política.

    E) Elegibilidade – permissão para candidatura aos cargos públicos.

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    UNIDADE 2 – FILOSOFIA MEDIEVAL

    CONTEXTO HISTÓRICO – A QUEDA DE ROMA

    Antes da queda, numa tentativa desesperada de salvar o Império Romano, em 380 o imperador Teodósio torna o cristianismo, que já era a seita religiosa com o maior número de seguidores, a religião oficial.

    O Império caiu, mas a Igreja Católica (do grego

    καθολικος /katholikos = universal) Apostólica, e agora, Romana emergiu e se tornou a maior instituição do mundo (até hoje).

    Em um cenário de fragmentação, a Igreja surgia como um elemento de união, crescendo no vácuo que foi deixado pelo desaparecimento do império. Ponte entre o homem e Deus, ela teria a última palavra (a única) sobre como deveria ser a vida de seu rebanho e sobre o que era o bem e o mal, o certo e o errado, o justo e o injusto. Seria, portanto, a dona da mente e, por conseguinte, dos corpos das pessoas.

    Poderosa não apenas do ponto de vista espiritual, mas também político, ninguém melhor do que ela para dizer como Deus queria que a sociedade fosse organizada, legitimando assim, uma sociedade hierarquizada, desigual e sem mobilidade social. Definida pelo critério de sangue, quem nascia nobre morria nobre, quem nascia servo, morria servo.

    Por esses tempos o pensamento filosófico entrou de férias, pois os homes letrados, com raras exceções, eram os sacerdotes da igreja. Eles centralizaram o ensino em torno de si nos mosteiros, e posteriormente nas universidades. Desenvolveram o pensamento teológico, no entanto, não conseguiram fugir do estudo dos grandes filósofos.

    Nesse período inicial de expansão da doutrina católica, os sábios da igreja tinham que deixar a fé cristã bem palatável aos olhos das classes mais cultas que conheciam bem os textos filosóficos. Esse movimento ficou conhecido como PATRÍSTICA por ter sido protagonizado pelos padres, e teve como seu principal expoente o africano Aureliano Agostinho.

    CAPÍTULO 4 - A PATRÍSTICA E SANTO AGOSTINHO

    O primeiro grande doutor da igreja foi o cara mais cachaceiro e raparigueiro que existia na cidade de Tagaste, uma província romana no norte da África.

    Depois de passar por uma grande crise existencial na qual se perguntava pelo sentido da vida, Agostinho (354 – 430) se converteu ao cristianismo e passou a ser um grande pregador. Essa crise está descrita em sua obra autobiográfica As Confissões.

    Ele acreditava e pregava que o homem bom é aquele voltado para o seu interior na procura de Deus e em busca de sua salvação, pois já nascera desgraçado, fruto do pecado original de Adão e Eva.

    Não via como antagônicas fé e razão, mas afirmava que para se compreender era necessário crer, subordinando, portanto, a razão à fé.

    Apropriou-se de muitos elementos da filosofia platônica para fundamentar sua explicação da doutrina cristã. Muitos autores afirmam que Santo Agostinho cristianizou Platão.

    Assim como Platão julgava o intelecto superior à matéria, Santo Agostinho pregava a superioridade da alma ante o corpo, e sendo a alma um presente de Deus, devíamos nos voltar inteiramente à Ele.

    Contemporâneo do declínio do Império Romano, Agostinho respondeu à acusação de que fora o cristianismo o culpado pela queda, e pôs a culpa no paganismo.

    Sua resposta veio na obra Cidade de Deus, onde, segundo ele, há a cidade espiritual de Deus e a cidade material dos homens. Elas não coexistem separadamente, mas no plano de nossa existência a depender de nossa vontade de viver uma vida de pecado na cidade terrena dos homens, ou se voltar para deus e viver em sua graça como um de seus servos.

    Percebam que a boa vida não é mais aquela voltada para o desenvolvimento da racionalidade humana dentro de uma comunidade política, cujo Bem era encontrado por meio da razão e ensinado por meio de um processo educacional virtuoso, como teorizaram os gregos.

    Agora, o conhecimento do bem não dependia mais de uma instrução racional, mas apenas da vontade individual de cada um, por meio do livre-arbítrio, de viver uma vida voltada para Deus. E a compreensão de como vivê-la é obra da graça divina que ilumina o coração de quem estiver aberto para isso.

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    Mas quem dizia o que era ter uma vida voltada para Deus? E ainda, quais pessoas viviam dessa maneira? Um xero no olho para quem respondeu: a Igreja.

    Mas aí meu amigo, deu no que deu.

    CAPÍTULO 5 - A ESCOLÁSTICA E SÃO TOMÁS DE AQUINO

    No século VIII, o imperador franco Carlos Magno começou a estimular e difundir o ensino ao construir escolas que seriam dirigidas pela Igreja, retirando dos mosteiros o monopólio do ensino.

    A cultura greco-romana passa a ser divulgada nos moldes romanos, ou seja, passa a ser ensinado gramática, retórica, e dialética (trivium), além de geometria, aritmética, astronomia e música (quadrivium), todas elas, é claro, sob um viés teológico.

    Essa nova fase do pensamento da Igreja é chamado de escolástica e tem como principal expoente Tomás de Aquino.

    Natural de Nápoles na Itália, Tomás de Aquino (1225 – 1274) foi ordenado monge dominicano e estudou

    na universidade de sua cidade natal e na de Bolonha. Mais tarde tornou-se professor da maior universidade europeia daquela época, a de Paris.

    Se Santo Agostinho cristianizou Platão, Tomaz de Aquino cristianizou Aristóteles ao usar sua teoria filosófica para

    explicar a fé e até mesmo a existência de Deus. A influência de seu pensamento penetrou toda a Europa a ponto dele ser considerado o conselheiro dos conselheiros dos reis. Ou seja, o mestre dos mestres. Sua obra principal foi a Suma Teológica.

    Se em Santo Agostinho o lema era “crer para entender”, aqui é “entender para crer”. Apesar de dar uma valorizada na razão, ele também a entendia como a serviço da fé.

    Prova racional da existência de Deus

    São Tomás desenvolve a teoria das cinco vias para explicar racionalmente a existência de Deus.

    1. Movimento – Todo o movimento existente no mundo é causado por Deus.

    2. Causa eficiente – não podendo ser causa de sua própria existência, os seres tiveram uma causa primeira que é Deus.

    3. Contingente e necessário – sendo os seres contingentes, isto é, não podendo ser eles a causa de sua própria existência, existe algo necessário, que é a causa da existência de todas as coisas.

    4. Graus de perfeição – os seres existem em graus diferentes de perfeição, mas somente Deus é a perfeição máxima.

    5. Causa final – para que haja ordem, tudo no mundo tem uma finalidade, tem um propósito, seja uma pedra ou o homem. E o que rege a finalidade de tudo é Deus, a inteligência ordenadora.

    Ética

    O primeiro motor de Aristóteles, que era a causa de tudo, o puro ato, São Tomás o transforma em Deus, que tudo criou (a causa de tudo). Assim como Aristóteles entendia que a felicidade poderia ser alcançada e vivida na pólis, São Tomás também entende que ela pode ser vivida ainda nesse mundo, mas a felicidade que ele defende é uma felicidade mais alta, o conhecimento de como Deus é em si mesmo.

    Política

    Na época dele os reinos já estavam fortalecidos, pois as cruzadas haviam deixados os nobres senhores feudais empobrecidos e dependentes de um poder mais centralizado. Com isso, ele pôde desenvolver teorias sobres as leis internacionais, aquelas que regulam as relações entre os reinos, e sobre a melhor forma de governo. Não preciso nem dizer que era a monarquia, não é mesmo?!!!

    Ele entendia que os reinos, orientados pela Igreja, guiavam seus súditos até certo pondo, quando então a Igreja os orientavam para a felicidade eterna.

    O pensamento de São Tomás de Aquino, por ser o que de melhor a Igreja produziu na idade média, influenciou suas ações durante