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CAPÍTULO 1 1.1O pensamento mítico 1. O que é o mito O mito, entre as sociedades tribais, é uma forma de o ser humano se situar no mundo, isto é, de encontrar o seu lugar entre os demais seres da natureza. É um modo ingênuo, fantasioso, anterior a toda reflexão, e não-crítico de estabelecer algumas verdades que não explicam parte dos fenômenos naturais ou mesmo a construção cultural, mas que dão, também, as diretrizes da ação humana. Devemos salientar, entretanto, que, não sendo teórica, a verdade do mito não obedece à lógica nem da verdade empírica, nem da verdade científica. É verdade intuída, que não necessita de provas para ser aceita, porque seu critério de adesão é a fé. Por essa razão, quando existem várias versões do mesmo mito, não devemos nos preocupar em estabelecer uma versão autêntica, pois é o conjunto dessas versões que constituem a sua realidade. O mito nasce do desejo de entender o mundo, para afugentar o medo e a insegurança. O ser humano, à mercê das forças naturais, que são assustadoras, passa a emprestar-lhes qualidades emocionais. As coisas não são mais matéria morta, nem são independentes do sujeito que as percebe. Ao contrário, estão sempre impregnadas de qualidades e são boas ou más, amigas ou inimigas, familiares ou sobrenaturais, fascinantes e atraentes ou ameaçadoras e repelentes. Assim, o ser humano se move dentro de um mundo animado por forças que ele precisa agradar para que haja caça abundante, para que a terra seja fértil, para que a tribo ou o grupo seja protegido, para que as crianças nasçam e os mortos possam ir em paz. O processo mítico está, então, muito ligado à magia, ao desejo, ao querer que as coisas aconteçam de um determinado modo. É a partir disso que se desenvolvem os rituais como meios de propiciar os acontecimentos desejados. O ritual é o mito tornado ação. Os exemplos de rituais são inúmeros: já nas cavernas de Lascaux e Altamira, o homem do Paleolítico (1000 a 5000 a.C.) desenhava os animais, em estilo muito realista, e depois “atacava-os” com flechas, para garantir o êxito da caçada. Os ritos de nascimento e de morte é que dão ao recém-nascido um reconhecimento como ser vivo, pertencente a uma determinada sociedade, ou, ao defunto, a mudança de seu estatuto ontológico (de ser vivo a ser morto)

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CAPÍTULO 11.1O pensamento mítico

1. O que é o mitoO mito, entre as sociedades

tribais, é uma forma de o ser humano se situar no mundo, isto é, de encontrar o seu lugar entre os demais seres da natureza. É um modo ingênuo, fantasioso, anterior a toda reflexão, e não-crítico de estabelecer algumas verdades que não só explicam parte dos fenômenos naturais ou mesmo a construção cultural, mas que dão, também, as diretrizes da ação humana. Devemos salientar, entretanto, que, não sendo teórica, a verdade do mito não obedece à lógica nem da verdade empírica, nem da verdade científica. É verdade intuída, que não necessita de provas para ser aceita, porque seu critério de adesão é a fé. Por essa razão, quando existem várias versões do mesmo mito, não devemos nos preocupar em estabelecer uma versão autêntica, pois é o conjunto dessas versões que constituem a sua realidade. O mito nasce do desejo de entender o mundo, para afugentar o medo e a insegurança. O ser humano, à mercê das forças naturais, que são assustadoras, passa a emprestar-lhes qualidades emocionais. As coisas não são mais matéria morta, nem são independentes do sujeito que as percebe. Ao contrário, estão sempre impregnadas de qualidades e são boas ou más, amigas ou inimigas, familiares ou sobrenaturais, fascinantes e atraentes ou ameaçadoras e repelentes. Assim, o ser humano se move dentro de um mundo animado por forças que ele precisa agradar para que haja caça abundante, para que a terra seja fértil, para que a tribo ou o grupo seja protegido, para que as crianças nasçam e os mortos possam ir em paz.

O processo mítico está, então, muito ligado à magia, ao desejo, ao querer que as coisas aconteçam de um determinado modo. É a partir disso que se desenvolvem os rituais como meios de propiciar os acontecimentos desejados. O ritual é o mito tornado ação.

Os exemplos de rituais são inúmeros: já nas cavernas de Lascaux e Altamira, o homem do Paleolítico (1000 a 5000 a.C.) desenhava os animais, em estilo muito realista, e depois “atacava-os” com flechas, para

garantir o êxito da caçada. Os ritos de nascimento e de morte é que dão ao recém-nascido um reconhecimento como ser vivo, pertencente a uma determinada sociedade, ou, ao defunto, a mudança de seu estatuto ontológico (de ser vivo a ser morto) e sua aceitação pela comunidade dos mortos. Outro exemplo é o da expulsão de uma comunidade: uma vez realizados os ritos, a pessoa expulsa não precisa sair da comunidade, pois todos os outros integrantes passarão a não vê-la, não ouvi-la, enfim, a agir como se ela não existisse ou não estivesse presente. Para a comunidade, terminado o ritual, a pessoa expulsa desapareceu simbolicamente, mesmo que continue de corpo presente. E essa exclusão social acaba, em geral levando à morte.

2. Funções do mito Além de acomodar e

tranqüilizar o ser humano diante de um mundo assustador, dando lhe a confiança de que, através de suas ações mágicas, o que acontece no mundo natural depende, em parte, dos seus atos, o mito também fixa modelos exemplares de todas as funções e atividades humanas.

O ritual é a repetição dos atos executados pelos deuses no início dos tempos e que devem ser imitados e repetidos para que as forças do bem e do mal sejam mantidas sob controle. Deste modo, o ritual “atualiza”, isto é, torna atual o acontecimento sagrado que teve lugar no passado mítico

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O mito é uma primeira fala sobre o mundo, uma primeira atribuição de sentido ao mundo, sobre a qual a afetividade e a imaginação exercem grande papel, e cuja função principal não é explicar a realidade, mas acomodar o ser humano ao mundo.

MÝTHOS: Mito, palavra proferida, discurso. mythéomai: dizer, conversar, contar. Heródoto emprega mýthos para referir-se a relatos confirmados por testemunhas. Platão e Aristóteles empregam mýthos para referir-se a narrativas ou relatos fabulosos, lenda. Pouco a pouco, mýthos passa a significar o lendário e irreal, mentira, relato não histórico, oposto à lógos (saber racional).

3.Características do mitoO mito nas sociedade tribais é

sempre coletivo, ou seja, o sujeito só tem consciência, só se reconhece como parte do grupo.

Como processo de compreensão da realidade, o mito não é lenda, mas verdade. É verdade, intuída. O mito é sempre dogmático, isto é, apresenta-se como verdade que não necessita de provas e que não admite contestação. A sua aceitação se dá, por meio da fé e da crença. O mito não pode ser provado nem questionado.

O mito é portanto uma intuição compreensiva da realidade, cujas raízes se fundam nas emoções e na afetividade.

Como o mito narra a origem do mundo e tudo que nele existe?

1. Encontrando o pai e mãe das coisas e dos seres, isto é, tudo o que existe decorre de relações sexuais entre forças divinas pessoais. Essas relações geram os demais deuses.A narração da origem é uma genealogia, isto é, narrativa da geração dos seres, das coisas, das qualidades, por outros seres, que são seus pais ou antepassados.2. Encontrando uma rivalidade ou uma aliança entre os deuses que faz surgir alguma coisa no mundo. 3. Encontrando recompensas ou castigos que os deuses dão a quem os desobedece ou a quem os obedece.

Vemos, portanto, que o mito narra a origem das coisas por meio de lutas, alianças e relações sexuais entre forças sobrenaturais que governam o mundo e o destino dos homens.

Como os mitos de origem são genealogias, diz-se que são cosmogonias e teogonias.

Gonia quer dizer: geração, nascimento a partir da concepção sexual e do parto. Cosmo, quer dizer, mundo ordenado e organizado.

Cosmogonia é a narrativa sobre o nascimento e organização do mundo, a partir de forças geradoras (pai e mãe) divinas.

Teogonia = theos (deuses) + gonia (origem): Narrativa da origem dos deuses, a partir de seus pais e antepassados.

Cronos castrando o próprio pai Urano

Cronos após castrar o pai, jogou seus testículos ao mar. Formou-se uma espuma, da qual nasceu Afrodite, a deusa do amor.

É importante ressaltar aqui, o significado da palavra cosmologia, pois pode haver confusão na hora da prova com a palavra cosmogonia. Cosmologia (cosmos e logia): A cosmologia é a explicação racional sobre a origem e ordem do mundo natural ou natureza, sobre as causas das transformações, geração e perecimento de todos os seres.

4.Mito hojeNão são só os povos

“primitivos” que elaboram mitos, a consciência mítica persiste em todos os tempos e culturas como componente indissociável da maneira humana de compreender a realidade.

Augusto Comte, filósofo francês do século XIX, fundador do positivismo, condena à morte, o modo mítico. Negar o mito é negar a uma das expressões fundamentais da existência humana. O mito é a primeira forma de dar significado ao mundo: fundado no desejo de segurança, a imaginação cria histórias que nos tranqüilizam, que são exemplares e nos guiam no dia-a-dia. Continuamos a fazer isso pela vida

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afora, independentemente de nosso desenvolvimento intelectual.

Hoje em dia, os meios de comunicação de massa estimulam os desejos e anseios que existem na nossa natureza inconsciente e primitiva.

Os super-heróis dos desenhos animados e dos quadrinhos, também os personagens de filmes como Rambo e outros, passam a encarar o bem e a justiça e assumem a nossa proteção imaginária, pois o mundo moderno revela-se extremamente inseguro.

Artistas e esportistas também são transformados em modelos exemplares: são fortes, saudáveis, bem alimentados, têm sucesso na profissão etc. Como não mitificá-los?

Até a novela, ao trabalhar a luta entre o Bem e Mal, está lidando com valores míticos, pré-reflexivos, que se encontram no interior de todos nós.

Mito e razão, portanto, se complementam nas nossas vidas. Só que o mito de hoje – embora ainda tenha força para inflamar paixões, não se apresenta mais com o caráter existencial que tinha o mito primitivo. Ou seja, os mitos modernos não abrangem mais a totalidade do real. Parece que houve uma especialização do mito. Podemos por exemplo, escolher um mito da sexualidade: Madona.

Dessa forma, como mito e razão habitam o mesmo mundo, o pensamento reflexivo pode rejeitar alguns mitos, principalmente os que veiculam valores destrutivos ou se levam a desumanização da sociedade. Cabe a cada um de nós escolher quais serão nossos modelos de vida.

Mitologia Grega

Mito de Édipo

Reflete a culpa e responsabilidade dos homens perante normas e tabus.

Os gregos cultuavam uma série de deuses, heróis e semideuses. Relatando a vida dos deuses e dos heróis e seu envolvimento com os homens, os gregos criaram uma rica mitologia, conjunto de lendas e crenças que, de modo simbólico, fornecem explicações para a realidade universal.

Deuses do Olímpo

Os mitos surgem ainda quando não havia escrita, portanto eram preservados pela tradição e transmitidos oralmente pelos aedos e rapsodos, cantores ambulantes que davam forma poética aos relatos populares e os recitavam de cor em praça pública. Acreditava-se que o poeta era escolhido dos deuses, que lhe mostram os acontecimentos passados e permitem que ele veja a origem de todos os seres e de todas as coisas para que possa transmiti-las aos ouvintes. Sua palavra-mito- é sagrada porque vem de uma revelação divina. O mito é, pois incontestável e inquestionável.

Era difícil conhecer os autores desses trabalhos de formalização, porque não havia preocupação com a autoria das histórias, que eram engendradas de forma coletiva e anônima.

Homero, um desses poetas, teria sido o provavel autor de dois poemas épicos, as epopéias Ilíada e Odisséia. Ilíada (Tróia em grego é Ìlion) trata da guerra de Tróia e a Odisséia relata o retorno de Ulisses a Ítaca, após a guerra de Tróia (Odisseu- nome grego de Ulisses).

As epopéias foram importantes na vida dos gregos por

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descreverem o período da civilização micênica e transmitirem os valores da cultura por meio de histórias dos deuses e antepassados, expressando uma determinada concepção da vida.

As ações heróicas relatadas nas epopéias mostram a constante intervenção dos deuses, ora para auxiliar o protegido, ora perseguir o inimigo. Nesse período o indivíduo é presa do destino (Moira), que é fixo, imutável, e não pode ser alterado.

O herói vive, portanto, na dependência dos deuses e do destino, faltando a ele a noção de vontade pessoal, de liberdade. Isso não o diminui pois, ter sido escolhido pelos deuses é sinal de valor.

A virtude do herói se manifesta pela coragem e pela força, sobretudo no campo da batalha. Mas também se destaca na assembléia dos guerreiros, pelo poder de persuasão do discurso. Nessa perspectiva a noção de virtude se trata da excelência e superioridade.

Hesíodo, outro poeta, produz uma obra com particularidades que tendem a superar a poesia impessoal e coletiva das epopéias. Essas características novas são indicativas do período arcaico, que então se inicia.

Poe exemplo, Hesíodo valorizava o trabalho e a justiça, destacando a importância das regras que balizam o comportamento humano.

Memo assim sua obra Teogonia (teo= deus, gonia= origem) reflete ainda o interesse pela crença em mitos. Nela, Hesíodo (século VIII a.C.) relata o mito da origem do mundo e dos deuses, em que forças emergentes da natureza vão transformando-se nas próprias divindades. Nesse relato, Gaia (Terra), surge do Caos inicial e, depois, pelo processo de separação, gera Urano (Céu) e Pontos (Mar). Une-se, então, a Urano, e dá início às gerações divinas. No mito, esses seres primitivos não são apenas seres da natureza, mas divindades.

“Sim bem primeiro nasceu Caos, depois também Terra de amplo seio, de todos sede irresvalável sempre, dos imortais que têm a cabeça do Olímpo nevado, eTártaro nevoento no fundo do chão de amplas vias, e Eros: o mais belo entre Deuses imortais, solta membros, dos Deuses todos e dos homens todos ele doma no peito o espírito e a prudente vontade.” HESÍODO. Teogonia, 116-122.

1.2O pensamento filosófico

1.A filosofia é gregaQuando se diz que a filosofia é um fato

grego, o que se quer dizer é que ela possui certas características, que são diferentes das por outras culturas.

A filosofia é um modo de pensar e exprimir os pensamentos que surgiu especificamente com os gregos e que, por razões históricas e políticas, tornou-se, depois, o modo de pensar e de se exprimir predominante na chamada cultura européia ocidental da qual, em decorrência da colonização portuguesa do Brasil, nós também participamos.

A FilosofiaA palavra filosofia é composta dois

termos: Philo (derivada de philia: amizade, amor) e Sophia (vem de sophos: sábio).

Pitá goras teria inventado a palavra philosophia, ao dizer que a sabedoria plena e completa pertence aos deuses, mas que os

homens podem desejá-la e amá-la. Ele afirmava que não era um sophós, um sábio, mas um philosophós, um amigo ou amante do saber. Para o filósofo a verdade não pertence a ninguém, ela é o que buscamos e que está diante de nós para ser contemplada e vista, se tivermos olhos (do espírito) para vê-la.

2.O nascimento da filosofiaA filosofia ao nascer é uma cosmologia

= cosmos e logia. Conhecimento racional da ordem do mundo e ou da natureza.

Ela surge quando alguns gregos, admirados e espantados com a realidade, insatisfeitos com as explicações que a tradição lhes dera, começaram a fazer perguntas e buscar respostas para elas, demonstrando que o mundo e os seres humanos, os acontecimentos e as coisas da Natureza, os acontecimentos e as ações humanas podem ser conhecidos pela razão humana, e a própria razão é capaz de reconhecer-se a si mesma.

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Em suma, a filosofia surge quando se descobriu que a verdade do mundo e dos humanos não era algo secreto e misterioso, que precisasse ser revelado por divindades a alguns escolhidos, mas que, ao contrário, podia ser conhecida por todos, através da razão, que é a mesma em todos; quando se descobriu que tal conhecimento depende do uso correto da razão ou do pensamento e que, além da verdade poder ser conhecida por todos, podia, pelo mesmo motivo, ser ensinada ou transmitida a todos.

Do mito à razãoNa história do pensamento ocidental, a

reflexão filosófica nasce na Grécia no século VI a.C., com os pré-socráticos.

Por meio de longo processo histórico, a filosofia surge promovendo a passagem da consciência mítica e religiosa para a consciência racional, sem entretanto romper bruscamente com todos os conhecimentos do passado.

Durante muito tempo, os primeiros filósofos gregos compartilharam de diversas crenças míticas, enquanto desenvolviam o conhecimento racional que caracterizaria a filosofia. Essa passagem da mentalidade mítica para o pensamento crítico e filosófico, chamada por alguns autores de “milagre grego”, significa precisamente que já havia, de um lado, uma lógica do mito e que, de outro lado, na realidade filosófica ainda está incluído o poder do lendário. Esses dois tipos de consciência coexistiram na sociedade grega, assim como em certos limites coexistem na nossa.

3.O exercício da razão na polis gregaO momento histórico da Grécia antiga

em que se afirma a utilização do logos (a razão) para resolver os problemas da vida está vinculado à organização da polis, cidade-estado grega. A polis era uma nova forma de organização social e política em que os cidadãos dirigiam os destinos da cidade. A polis foi uma criação dos cidadãos e não dos deuses. E podia ser explicada e organizada pela razão. Com o tempo, o raciocínio correto, bem formulado, tornou-se o modo adotado para se pensar sobre todas as coisas, não só as questões políticas.

4.Causas para a origem da filosofia:Algumas novidades e condições

históricas do período arcaico ajudam a transformar a visão que o mito oferecia sobre o mundo e a existência humana. Podemos apontar como principais condições para o surgimento da filosofia:

1) as viagens marítimas, que permitiam aos gregos descobrir que os locais que os mitos

diziam habitados por deuses, titãns e heróis eram, na verdade, habitados por outros seres humanos; que as regiões dos mares que os mitos diziam habitadas por monstros e seres fabulosos não possuíam nem um nem outro. As viagens produziam o desencantamento ou a desmistificação do mundo, que passou, assim, a exigir uma explicação sobre sua origem, explicação que o mito já não podia oferecer.

2) a invenção do calendário, que é uma forma de calcular o tempo segundo as estações do ano, as horas do dia, os fatos importantes que se repetem, revelando, com isso, uma capacidade de abstração nova, ou uma percepção do tempo como algo natural e não como um poder divino incompreensível.

3) a invenção da moeda, que permitiu uma forma de troca que não se realiza através das coisas concretas ou dos objetos concretos trocados por semelhança, mas uma troca abstrata, uma troca feita pelo cálculo do valor semelhante das coisas diferentes, revelando, portanto, uma nova capacidade de abstração e de generalização.

1/6 de Stater de prata do rei Croesus, cunhado em 561/546 a.C., em Sardes, na Lídia

4) o surgimento da vida urbana, com predomínio do comércio e do artesanato, dando desenvolvimento a técnicas de fabricação e de troca; além disso, o surgimento de uma classe de comerciantes ricos, que precisava encontrar pontos de poderio da aristocracia de terras e de sangue (as linhagens constituídas pelas famílias), fez com que se procurasse o prestígio pelo patrocínio e estímulo às artes, às técnicas e aos conhecimentos, favorecendo um ambiente onde a filosofia poderia surgir;

5) a invenção da escrita alfabética, que, como o calendário e a da moeda, revela o crescimento da capacidade de abstração e de generalização, uma vez que a escrita alfabética ou fonética, diferentemente de outras escritas – como, por exemplo, os hieróglifos dos egípcios ou os ideogramas dos chineses -, supõe que não se represente uma imagem da coisa que está sendo dita, mas a idéia dela, o que dela se pensa e se transcreve;

6) a invenção da política, que introduziu três aspectos novos e decisivos para o nascimento da filosofia:

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>A ideia da lei como expressão da vontade de uma coletividade humana que decide por si mesma o que é melhor para si e como ela definirá suas relações internas.>O surgimento de um espaço político, que faz aparecer um novo tipo de palavra ou de discurso. Agora, com a polis (cidade - política) surge a palavra como direito de cada cidadão de emitir em público sua opinião, discuti-la com os outros, persuadi-los a tomar uma decisão proposta por ele, de tal modo que surge o discurso político como palavra humana partilhada, como diálogo, discussão e deliberação humana, isto é, como decisão racional e exposição dos motivos ou das razões para fazer ou não alguma coisa.>A política estimula um pensamento e um discurso que não procuram ser formulados por seitas secretas dos iniciados em mistérios sagrados, mas que procuram, ao contrário, ser públicos, ensinados, transmitidos, comunicados e discutidos. A idéia de um pensamento que todos podem compreender e discutir, que, todos podem comunicar e transmitir, é fundamental para a filosofia.

A Filosofia nasce como uma filha da polis, como uma filha da democracia.

Para filosofar, segundo Aristóteles, é preciso estar admirado com algo. Não há Filosofia sem curiosidade, sem admiração; do contrário, se estamos acostumados com algo e não pensamos sobre ele, não há Filosofia. Filósofos são aqueles que jamais perdem a admiração sobre os grandes ou pequenos segredos do mundo, que passam a vida toda sem deixar se acostumar com as coisas.

5- Mito e filosofiaContinuidade e rupturaJá podemos observar a diferença ente

pensamento mítico e filosofia nascente: os filósofos divergem entre si e a filosofia se distingue da tradição mítica oferecendo uma pluralidade de explicações possíveis, uma atitude característica do filósofo. Além disso, a física jônica é a expressão do pensamento filosófico racional e abstrato, ao recorrer a argumentos e não a explicações sobrenaturais. Por exemplo, Hesíodo relata o princípio do mundo (cosmogonia) e o nascimento dos deuses (teogonia) a partir da sua gênese ou origem no tempo, enquanto as cosmologias dos pré-socráticos são baseadas em explicações racionais. Assim justificamos a perspectiva comumente aceita da ruptura entre mythos e logos (razão).

No entanto, para estudiosos como o inglês Cornford, apesar das diferenças, o pensamento filosófico nascente ainda apresenta vinculações com o mito. Por exemplo, Hesíodo relata na Teogonia como Gaia (Terra) gera sozinha, por segregação, o Céu e o Mar; depois, a união da Terra com Céu, presidida por Eros (princípio de coesão do Universo), resulta na geração dos deuses. Ora, examinando os textos dos filósofos jônicos, Cornford descobre neles a mesma estrutura de pensamento existente no relato mítico: os jônicos afirmam que, de um estado inicial de indistinção, separam-se pares

opostos (quente e frio, seco e úmido) que vão gerar os seres naturais (o céu de fogo, o ar frio, a terra seca, o mar úmido). Para os filósofos, a ordem do mundo deriva de forças opostas que se equilibram reciprocamente, e a união dos opostos explica os fenômenos meteóricos, as estações do ano, o nascimento e a morte de tudo que vive.

Portanto na passagem do mito à razão, há continuidade no uso comum de certas estruturas de explicação. Na concepção de Cornford não existe “uma imaculada concepção da razão”, pois o aparecimento da filosofia é um fato histórico enraizado no passado.

Outra observação interessante sobre esse período de transição pode ser feita a partir da produção literária de tragédias, nos séculos VI e V a.C., cujos autores mais conhecidos foram Ésquilo, Sófocles e Eurípedes. Embora o conteúdo das peças teatrais fosse retirado dos mitos, o tratamento dado aos conflitos denota uma cosnciência trágica que representa a ambiguidade pela qual o destino é questionado, ainda que no final a vontade dos deuses acabe se cumprindo. O esforço humano “na encruzilhada da decisão às voltas com as conseqüências de seus atos”, como diz Vernant, representa o logos nascente. Conclusão

Embora existam aspectos de continuidade entre mito e filosofia, o pensamento é algo muito diferente do mito, por resultar de uma ruptura quanto à atitude diante do saber recebido. Enquanto o mito é uma

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narrativa cujo conteúdo não se questiona, a filosofia problematiza e, portanto, convida à discussão. No mito a inteligibilidade é dada, na filosofia ela é procurada. A filosofia rejeita o sobrenatural, a interferência de agentes divinos na explicação dos fenômenos. Ainda mais: a filosofia busca a coerência interna, a definição rigorosa dos conceitos, organiza-os em doutrinas e surge, portanto como pensamento abstrato.

Na nova abordagem do real caracterizada pelo pensamento filosófico, podemos ainda notar a vinculação entre filosofia e ciência. O próprio teor das preocupações dos primeiros filósofos é de natureza cosmológica, de maneira que, na Grécia Antiga, o filósofo é também o intelectual do saber científico. Só no século XVIII as ciências encontraram seu próprio método e separaram-se da filosofia, formando as chamadas ciências particulares.

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1.3 Primeiros filósofos

Pré-socráticos

Os primeiros filósofos gregos

De acordo com a tradição histórica, a fase inaugural da filosofia grega é conhecida como período pré-socrático, isto é, anterior a Sócrates.

O período pré-socrático abrange o conjunto de reflexões filosóficas desenvolvidas desde Tales de Mileto (623-546 a.C.) até o aparecimento de Sócrates (468-399 a.C.).

Os pensadores de Mileto: a busca da substância primordialQuando afirmamos que a filosofia

nasceu na Grécia, devemos tornar essa afirmação mais precisa. Afinal, nunca houve, na antiguidade, um estado unificado. O que chamamos de Grécia é o conjunto de muitas cidades-Estado gregas (pólis), independentes umas das outras, e muitas vezes rivais.

No vasto mundo grego, a filosofia teve como berço a cidade de Mileto, situada na Jônia, litoral ocidental da Ásia Menor. Caracterizada por múltiplas influências culturais e por um rico comércio, a cidade de Mileto abrigou os três primeiros filósofos. São eles: Tales, Anaximandro e Anxímenes.

Os pré-socráticos, filósofos da natureza (naturalistas) ou fisicistas

O período pré-socrático foi dominado em grande parte, pela investigação da natureza e dos processos naturais. Investigação que tinha sentido cosmológico. Era a busca de explicações racionais para o universo manifestada na procura de uma substância básica, de um princípio primordial, que fosse a causa de todas as transformações da natureza. As respostas à indagação sobre o princípio das coisas foram múltiplas e diversas.

O “principio” é aquilo do qual as coisas vêm, aquilo pelo que são, aquilo no qual terminam. Tal princípio foi denominado de

physis, palavra que significa realidade primeira, originária e fundamental.

Os pré-socráticos foram os primeiros a dar um passo em direção a forma científica de pensar, a partir disso nascem as ciências naturais. Não queriam recorrer aos mitos, assim, a filosofia se libertou da religião.

Filósofos da escola Jônica ( ou milesianos e Heráclito):

Tales de Mileto: água

Nascido a cerca de 625/4-558/6 a.C., Tales foi um destacado político e astrônomo, chegou a prever um eclipse total do sol. Na área da geometria, demonstrou, por exemplo, que todos os ângulos inscritos no meio de um círculo são retos e que em todo triângulo a soma de seus ângulos internos é igual a 180º.

Procurando fugir das explicações mitológicas sobre a criação do mundo, Tales queria descobrir um elemento físico que fosse constante em todas as coisas. Algo que fosse o princípio unificador de todos os seres. Inspirando-se provavelmente em concepções egípcias, acrescidas de suas próprias observações da vida animal e vegetal, concluiu que a água é a substância primordial, a origem única, o “princípio” de todas as coisas. Com isso foi considerado o iniciador da filosofia da physis. Para ele, somente a água permanece basicamente a mesma, em todas as transformações dos corpos, apesar de assumir diferentes estados – sólido, líquido e gasoso.

Segundo Aristóteles, Tales extraiu esta convicção da constatação de que o alimento de

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todas as coisas é úmido, que até o quente se gera do úmido e vive no úmido. O princípio é a água porque tudo vem da água, a própria vida se sustenta com a água, acaba na água. Assim passou-se do mito ao logos (pensamento racional).

Tales também afirmou que o mundo está cheio de deuses. Afirmou isso porque tudo é penetrado pelo princípio água. Ele também disse que o imã possui uma alma, porque é capaz de mover (e, portanto, a alma é o princípio do movimento).

Anaximandro de Mileto: o ilimitado.

Anaximandro (610-547 a.C.) procurou aprofundar as concepções de tales sobre a origem única de todas as coisas. Introduziu o conceito de arché para designar o primum, a realidade primeira e última das coisas. Em meio a tantos elementos observáveis no mundo natural – a água, o fogo, o ar, etc. -, ele acreditava não ser possível eleger uma única substância material como o princípio primordial de todos os seres.

Para Anaximandro, esse princípio é algo que transcende os limites do observável, ou seja, não se situa numa realidade ao alcance dos sentidos. Por isso, denominou-o apeíron, termo grego que significa “indeterminado”, “o infinito”. Infinito porque é algo que não tem princípio nem fim, é ingênito (que não é gerado) e imperecível e, por isso pode ser o princípio de outras coisas.

As coisas nascem do infinito através de uma separação ou destacamento de contrários (quente – frio, seco – úmido, etc) do princípio uno, por causa de um movimento eterno. (Não se compreende bem de que modo os contrários, separando-se geram as coisas).

Então o ápeiron seria a “massa geradora” dos seres, contendo em si todos os elementos contrários.

Como o princípio é infinito, também infinitos são os mundos que se geram do princípio. Existem infinitos cosmos, todos eles

tendo uma origem e um fim que se perpetuam ao infinito.

Anaximandro considerou o seu princípio como divino, porque é imortal e incorruptível.

Anaxímenes de Mileto: ar

Anaxímenes (588-524 a.C) admitia que a origem de todas as coisas é infinita. Entretanto, recusava-se a atribuir-lhes o caráter oculto de elementos situado fora dos limites da observação e da experiência sensível.

Tentando uma possível conciliação entre todas as concepções de Tales e as de Anaximandro, concluiu ser o ar (infinito) o princípio de todas as coisas. Isso porque o ar representa um elemento “invisível e imponderável: o ar é a própria vida, a força vital, a divindade que “anima” o mundo, aquilo que dá testemunho à respiração.

O ar é concebido por Anaxímenes como naturalmente dotado de movimento; bem se presta a ser concebido como em perene movimento. E o processo pelo qual faz do ar derivar as coisas é a condensação e a rarefação. A primeira a água, depois à terra e a segunda origina o fogo.

Heráclito de Éfeso: fogo

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Heráclito (544-484 a.C), leva o discurso dos três milesianos à posições avançadas e novas. Os milesianos notaram o dinamismo das coisas que nascem e perecem, mas não explicitaram e não tematizaram o aspecto preciso de toda realidade, nem puderam refletir sobre as múltiplas implicações desse mesmo aspecto. Foi isso que Heráclito fez. Tal como seus contemporâneos, procurou compreender a multiplicidade do real, mas ao contrário deles, porém, não rejeitou as contradições e quis apreender a realidade na sua mudança, no seu devir.

Para Heráclito, todas as coisas mudam sem cessar, e o que temos diante de nós em dado momento é diferente do que foi há pouco e do que será depois: “Nunca nos banhamos duas vezes no mesmo rio”, pois na segunda vez não somos os mesmo, e também o rio mudou.

O sentido dessa frase é claro: o rio é aparentemente sempre o mesmo, mas na realidade é feito de águas sempre novas, que se acrescentam e se dispersam; por isso à mesma água do rio não pode descer duas vezes, justamente porque, quando se desce a segunda vez, já é outra a água que se encontra; e porque nós mesmos mudamos, no momento em que completamos a imersão no rio, tornamo-nos diferentes do momento em que nos movemos para mergulhar, como sempre diferentes são as águas que nos banham. Assim Heráclito pode dizer que entramos e não entramos no rio, que somos e não somos, porque para ser o que somos em dado momento, devemos não ser mais aquilo que éramos no precedente momento, assim como, para continuar a ser, deveremos logo não ser mais aquilo que somos neste momento. E isto vale para todas as coisas sem exceção.

Segundo Heráclito, as coisas não têm realidade senão, no perene devir. Logo, “tudo flui”. O ser é múltiplo, não no sentido apenas de que existe a multiplicidade das coisas, mas é múltiplo por estar constituído de oposições internas. Daí sua escola filosófica ser chamada de mobilista. O que mantém o fluxo do movimento não é o simples aparecer de novos seres, mas a luta dos contrários, pois “a guerra é pai de todos, rei de todos”. O devir é, pois, um contínuo conflito de contrários que se alternam, uma perene luta de um contra o outro, é uma guerra perpétua. É dessa luta que nasce a harmonia, como síntese dos contrários. “A doença torna doce a saúde, a fome torna doce a saciedade e a fadiga torna doce o repouso.”

Se as coisas só tem realidade enquanto devêm, e o devir é dado pelas coisas que se contrastam, e contrastando-se pacificam-se em superior harmonia, então na síntese dos opostos está o princípio que explica toda a realidade, e é

exatamente nisto que consiste Deus ou o Divino. Em síntese: Deus é a harmonia dos opostos e a síntese dos contrários.

O dinamismo de todas as coisas pode bem ser representado pela metáfora do fogo, forma visível da instabilidade, símbolo da eterna agitação do devir, “o fogo eterno e vivo, que ora se acende e ora se apaga”.

Então para Heráclito o fogo é o elemento fundamental, todas as coisas são a transformação do fogo. O fogo é permanente móvel, é vida que vive da morte do combustível, é incessante transformação em fumaça e cinzas, é unidade de contrários, é fome das coisas, que faz as coisas serem, e saciedade das coisas, que as destrói e faz perecer. Então o divino heraclitiano coincide com o fogo.

Enquanto nos milesianos não se atribuía inteligência ao primeiro princípio divino, fica claro que Heráclito lha atribui. Heráclito chamou este seu princípio de logos, que significa regra segunda a qual todas as coisas se realizam e lei comum a todas as coisas e que a todos governa – incluiu racionalidade e inteligência. Então para este filósofo, a verdade consiste em captar, entender e exprimir esse logos comum a todas as coisas. Ele desconfia dos sentidos, porque estes se detêm na aparência das coisas. Ele despreza as opiniões comuns dos homens, porque a estes foge tudo o que fazem em estado de vigília, assim como não sabem o que fazem quando dormem.

Sobre a alma Heráclito diz: “Os confins da alma não os encontrarias nunca, embora percorrendo os seus caminhos; tão profundo é o seu lógos.” Com essa frase ele quer significar que a alma estende-se ao infinito, justamente o contrário do que é físico. Assim como os órficos, Heráclito admitiu prêmios e castigos depois da morte, portanto uma imortalidade pessoal.

Diz Heráclito que a felicidade não pode consistir nos prazeres do corpo: Difícil é a luta contra o desejo, pois o que este quer, compra-o a preço da alma.”

Costuma-se dizer que Heráclito teve a intuição da lógica dialética, a ser elaborada por Hegel e depois Marx, no século XIX.

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Filósofos da escola Itálica ou pitagorismo:Com os pitagóricos passamos da Jônia

à Itália Meridional. Aqui, a filosofia chega a tocar os limites extremos da physis. Primeiro vamos falar dos pitagóricos em geral, pois não nos é possível distinguir Pitágoras dos Pitagóricos. Pitágoras não escreveu nada, e dele pouco é atestado com precisão. A escola fundada por ele tinha como objetivo a realização de determinado tipo de vida, seria uma seita religiosa. Nela a ciência era um meio para se alcançar o fim, ela era um bem comum, ao qual todos os adeptos aspiravam e buscavam, pesquisando e indagando juntos. Foi isso que trouxe conseqüentemente o anonimato das contribuições individuais.

As doutrinas da escola eram consideradas um segredo, do qual só poderiam participar os adeptos, atitude que impediu inicialmente a divulgação das mesmas.

Os pitagóricos foram os primeiros a notar que toda uma série de realidades e fenômenos naturais são traduzíveis por relações numéricas e representáveis de modo matemático. Pensavam que todo o universo fosse harmonia e número.

Pitágoras de Samos: número.

Pitágoras (570-490 a.C. aproximadamente) nasceu na ilha de Samos, na costa Jônica. Devido a perseguições políticas, instalou-se em Crotona, sul da Itália meridional, região conhecida como Magna Grécia.

Em Crotona, fundou uma poderosa sociedade de caráter filosófico e religioso e de acentuada ligação com as questões políticas. Depois de exercer, por muito tempo, influência política na região, a sociedade pitagórica foi dispersa.

Para Pitágoras e os pitagóricos a essência de todas as coisas reside nos números, os quais representam a ordem e a harmonia. Segundo o historiador de filosofia norte- americano Thomas Giles, “pela primeira vez se introduziu um aspecto mais formal na explicação da realidade, isto é, a ordem e a constância”.

Assim, a essência dos seres, a arché, teria uma estrutura matemática da qual derivariam problemas como: finito e infinito, par e ímpar, unidade e multiplicidade, reta e curva, circula e quadrado etc.

Pitágoras dizia que no “fundo de todas as coisas“ a diferença entre os seres consiste, essencialmente, em uma questão de números (limite e ordem das coisas).

As contribuições da escola pitagórica podem ser encontradas nos campos da matemática (temos por exemplo, o teorema de Pitágoras), da música e da astronomia. A essas contribuições junta-se uma série de crenças místicas relativas à imortalidade da alma, à prescrição de rígidas condutas morais etc.

Filolau de Crotona

Discípulo de Pitágoras, foi o primeiro pitagórico a ter obras publicadas, nessa época a doutrina já tinha certamente evoluído.

Arquitas de Tarento

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Representante da escola pitagórica de grande destaque. Foi um dos responsáveis por mudanças fundamentais na matemática do quinto século antes de Cristo.

Filósofos da escola Eleata: reflexão sobre o ser e o conhecer

As diversas cosmologias que acabamos de estudar despertaram, na época, uma nova questão. Por que tantas opiniões contrárias?

Heráclito acreditava que a luta dos contrários formava a unidade do mundo. Já para os pensadores da cidade de Eléia, a partir de seu principal expoente, Parmênides, os contrários jamais poderiam coexistir. Os dois pensadores representam, portanto, pólos extremos do pensamento filosófico.

Foi a partir dessa discussão sobre os contrários, sobre o ser e o não-ser, que se iniciaram a lógica e a ontologia e suas relações recíprocas.

Parmênides de Eléia: o ser é imóvel

Parmênides (540-470 a.C.) viveu em Eléia, cidade do sul da Magna Grécia (atual Itália) e é o principal expoente da chamada escola eleática. Sua teoria filosófica influenciou de forma decisiva o pensamento ocidental. Ocupa-se longamente em criticar a filosofia heraclitiana: ao “tudo flui” de Heráclito, contrapõe a imobilidade do ser. Ele pode ser

considerado um inovador radical de idéias. Com ele, a cosmologia transforma-se e tende a se tornar algo mais maduro, vale dizer, uma ontologia.

Pamênides escreveu um poema intitulado “Sobre a Natureza”, que está dividido em duas partes, a primeira trata da verdade a segunda da opinião. O poema começa com um preâmbulo no qual, montado em um carro, Parmênides é conduzido pelas filhas do sol até uma deusa. Ao receber o poeta, a deusa diz que é preciso conhecer a verdade e as opiniões. Nestas (opiniões) não está a verdade, mas é preciso que as conheça também para saber que juízo fazer sobre a realidade dos objetos dessas opiniões. A deusa diz ainda:

“Afasta teu pensamento desse caminho (de procura) e não deixa que o hábito de múltiplas experiências te force a projetar nesse caminho olhos cegos, ouvidos ensurdecidos e palavras de uma linguagem grosseira. Mas é com o raciocínio que deves resolver o problema convertido que acabo de te propor. À tua coragem só resta um caminho.”

Dois são portanto, os caminhos que a deusa revela ao filósofo: caminho da razão, que permite encontrar a Verdade, imutável e perfeita (épistêmê), e o dos sentidos, ou da Opinião (doxa) que só nos permite conhecer as aparências das coisas, confusas e contraditórias.

O caminho da absoluta verdade é este: o ser é e não pode não ser; este é o caminho da certeza que acompanha a verdade.

O outro caminho é: o ser não é, e necessariamente o não ser é. Esse é um estreito caminho no qual nada se pode apreender. Pois não se pode apreender pelo espírito o não ser, que está fora de nosso alcance. Também não se pode exprimi-lo por palavras: com efeito é a mesma coisa pensar e ser.

O ser, portanto, é e deve ser afirmado, o não-ser não é e deve ser negado, e esta é a verdade; negar o ser ou afirmar o não-ser é, ao invés, a absoluta falsidade.

A afirmação do ser e a negação do não-ser são justificadas por Parmênides do único modo possível: o ser é a única coisa pensável e exprimível; qualquer pensar, para ser tal, é pensar o ser, a ponto de podermos dizer que pensar e ser coincidem, no sentido de que não há pensamento que não exprima o ser; ao contrário, o não-ser é de todo impensável, inexprimível, indizível e, portanto, impossível.

Neste princípio os intérpretes mais tarde, indicaram a primeira grandiosa formulação do princípio da não-contradição, isto é, aquele princípio que afirma a impossibilidade de os contraditórios coexistirem simultaneamente. Nesse caso, os contraditórios são ‘ser’ e ‘não-ser’: se há ser, não pode haver não-ser. Este

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princípio será a base de toda lógica ocidental e da construção metafísica posterior.

O ser, em primeiro lugar, é ingênito e incorruptível. É impossível que tenha sido gerado, pois se assim fosse, deveria derivar ou do não-ser ou do ser: do não-ser é impossível, porque ele não é; do ser é igualmente impossível, porque já seria e não nasceria. E por estas razões é impossível que se corrompa.

O ser é imutável e absolutamente imóvel, é encerrado, diz Parmênides, nas cadeias do limite, da necessidade inflexível: ele é perfeito e acabado e, como tal, não carece e não tem necessidade de nada e, por isso, permanece em si idêntico no idêntico. Pelo fato de ter um limite o ser é completo, assemelha-se à massa de uma esfera bem arredondada, equilibrando-se em toda parte em si mesma.

O ser também é indivisível em partes diferentes e, portanto, é um contínuo todo igual, já que qualquer diferença implica o não-ser.

Deste modo, a igualdade e finitude juntas sugerem a representação esferiforme atribuída ao ser parmenidico.

Parmênides conclui, a partir do princípio estabelecido, que o ser é único (tudo é uno), imutável, infinito e imóvel. Entretanto, não há como negar a existência do movimento no mundo porque as coisas nascem e morrem, mudam de lugar e se expõem em infinita multiplicidade. Segundo Parmênides, porém, o movimento existe apenas no mundo sensível, e a percepção pelos sentidos é ilusória. Só o mundo inteligível é verdadeiro, pois está submetido ao princípio que hoje chamamos de identidade e de não-contradição.

Uma das conseqüências dessa teoria é a identidade entre o ser e o pensar. Ou seja, as coisas que existem fora de mim são idênticas ao meu pensamento, e o que não conseguir pensar não pode ser na realidade.

Resumo das teses parmenidicas:>Afirmação da identidade do pensamento e do ser ; >Quanto ao ser, suas determinações são: Unidade, pois se o ser fosse múltiplo, constituído de partes distintas, essas partes separar-se-iam ou pelo ser ou pelo não ser. Na primeira hipótese não poderiam distinguir-se, pois o ser é idêntico ao ser, e, na segunda também, porque o não ser não é.Imobilidade, porque, se o ser não fosse móvel, deveria mover-se ou no ser ou no não ser. Em ambas as hipóteses, não há movimento. Eternidade, porque se o ser não fosse eterno, incriado, deveria provir ou do ser ou do não ser. Se proviesse do ser, existiria antes de existir, e do não ser não pode originar-se porque o não ser não é e, do nada, nada pode provir. Se viesse do

nada, por que surgiria neste e não em outro momento qualquer do tempo? Incriado: é imperecível, pois só morre o que nasce, o que começa no tempo. Limitação: porque se o ser fosse ilimitado, ou infinito, seria incompleto, ou imperfeito, e de tudo careceria. A propósito da esfericidade do ser parmenídico, observa Alexandre Kojève: “Mas sua famosa esfera é uma comparação, uma metáfora. Ao que comparar nosso ponto geométrico, senão a uma pequena bola? A esfera, aliás, é plena e não vazia. A esfera é um ponto ivextenso.”

Zenão de Eléia: o que se move sempre está no mesmo agora.

Discípulo e filho adotivo de Parmênides, Zenão de Eléia (488-430 a.C.) elaborou argumentos para defender a doutrina de seu mestre. Com eles pretendia demonstrar que a própria noção de movimento era inviável e contraditória.

Desses argumentos, talvez o mais célebre seja o paradoxo de Zenão, que se refere à corrida de Aquiles com uma tartaruga. Dizia Zenão:a)Se, na corrida, a tartaruga saísse à frente de Aquiles, para alcançá-lo ele precisaria percorrer uma distância superior à metade da distância inicial que os separava no começo da competição.b)Entretanto, como a tartaruga continuaria se locomovendo, essa distância, por menor que fosse, teria se ampliado. Aquiles deveria percorrer, então, mais da metade dessa nova distância.c)A tartaruga, contudo, continuaria se movendo, e a tarefa de Aquiles se repetiria ao infinito, pois o espaço pode ser dividido em infinitos pontos.

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Zenão sabia que Aquiles pode evidentemente alcançar a tartaruga, mas ele pretendia simplesmente demonstrar as conseqüências paradoxais de encarar o tempo e o espaço como constituídos por uma sucessão infinita de pontos e instantes individuais consecutivos, como as contas de uma colar.

Na observação que fazemos do mundo, através dos nossos sentidos, é evidente que os argumentos de Zenão não correspondem à realidade. Entretanto, esses argumentos demonstram as dificuldades por que passou o pensamento racional para compreender conceitos como movimento, espaço, tempo e infinito.

Filósofos da escola da pluralidade Empédoclis de Agrigento: água, fogo,

ar e terra.

Nascido no sul da Silícia, Empédocles (490-430 a.C.) esforçou-se por conciliar as concepções de Parmênides e Heráclito. Aceitava de Parmenides a racionalidade que afirma a existência e permanência do ser (“o ser é”), mas procurava encontrar uma maneira de tornar racional os dados captados por nossos sentidos.

Defendia a existência de quatro elementos primordiais, que constituíam as raízes de todas as coisas percebidas: o fogo, a terra, a água e o ar. Esses elementos são movidos e misturados de diferentes maneiras em função de dois princípios universais opostos:

>Amor (philia, em grego) – responsável pela força de atração e união e pelo movimento de crescente harmonização das coias;>ódio (neikos, em grego) – responsável pela força de repulsão e desagregação e pelo movimento de decadência, dissolução e separação das coisas.

Para ele, todas as coisas existentes na realidade estão submetidas às forças cíclicas desses dois princípios.

Anaxágoras de Clazómena

Leucipo de Abdera

Demócrito de Abdera

Demócrito (430-370) foi discípulo de Leucipo e um pensador brilhante. “Só a tradição impõe o título de pré-socrático a este pensador

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importante, nascido e morto depois de Sócrates”.

Responsável pelo desenvolvimento do atomismo, Demócrito afirmava que todas as coisas que formam a realidade são constituídas por partículas invisíveis e indivisíveis. Essas partículas foram chamadas de átomos, termo grego que significa “não-divisível” (a=negação; tomo = divisível).

Para ele, o átomo seria o equivalente ao conceito de ser em Parmênides. Além dos átomos, existiria no mundo real o vácuo, que representaria a ausência de ser (o não ser). Devido à existência do vácuo, o movimento do ser trona-se possível. O movimento dos átomos permite infinita diversidade de composições. Demócrito distinguia três fatores básicos para explicar as diferentes composições dos átomos:>figura – a forma geométrica de cada átomo. Ex: forma de A diferente da forma de B.>ordem – a sequência espacial dos átomos de mesma figura. Ex: AB BA>posição – a localização especial dos átomos.

Para Demócrito, é o acaso ou a necessidade que promovem a aglomeração de certos átomos e a repulsão de outros. O acaso é o encadeamento imprevisível de causas. As infinitas possibilidades de aglomeração dos átomos explicam a infinita variedade de coisas existentes.

A principal contribuição trazida pelo atomismo de Demócrito à história do pensamento é a concepção mecanicista, segundo a qual “tudo o que existe no universo nasce do acaso ou da necessidade”. Isto é, “nada nasce do nada, nada retorna ao nada”. Tudo tem uma causa. E os átomos são a causa última do mundo.

Importante: Os filósofos que provavelmente ‘caem’ nas provas de vestibulares são Parmênides, Heráclito e talvez Thales. Os demais foram citados para conhecimento do modo de pensar dos pré-socráticos.

1.4 Período Socrático

Os sofistas

A partir do último pré-socrático (Anaxágoras), a filosofia grega migra para Atenas. Segue-se a esse período, uma nova fase filosófica, caracterizada pelo interesse no próprio homem e nas relações do homem com a sociedade. E nesse contexto os sofistas inauguram o período socrático.

Sofista: designa qualquer um que pratique uma forma de sophia. Entretanto com o passar do tempo, a palavra sofista ganhou o

sentido de “impostor” devido sobretudo, às críticas de Platão. Quem eram os sofistas

Os sofistas eram professores ambulantes, que viajavam de cidade em cidade, e que por determinado preço, vendiam ensinamentos práticos de filosofia. Levando em consideração os interesses dos alunos, davam aulas de eloqüência e sagacidade mental. Ensinavam conhecimentos úteis para o sucesso nos negócios públicos e privados.

Contexto históricoO momento histórico vivido pela

civilização grega favoreceu o desenvolvimento desse tipo de atividade praticada pelos sofistas. Foi uma época em que Atenas se encontra diante de lutas políticas e intenso conflito de opiniões nas assembléias democráticas. Ao vencer os Persas, Atenas assume a hegemonia e assim ingressa no mundo internacional com economia, comércio e liderança política.

A partir desses acontecimentos, a areté (virtude política) não dependeria da tradição familiar, seria praticada livremente e igualmente por todos. A democracia é dialogal e dialética. O lógos (palavra), assume papel preponderante.

Os sofistas então surgem atendendo a necessidade de uma nova educação - paidéia, educação racionalista e democrática acessível a todos, destinada a formação do cidadão que deveria viver na pólis (cidade). Vem substituindo a educação tradicional, religiosa, conservadora e aristocrática.Quem procurava seus ensinamentos

Os cidadãos mais ambiciosos sentiam necessidade de aprender a arte de argumentar em público para conseguir persuadir em assembléia e, muitas vezes, fazer prevalecer seus interesses individuais e de classe. Atraiam a juventude ansiosa para participar da vida pública.

O Objetivo de suas liçõesAs lições dos sofistas tinham como

objetivo, o desenvolvimento do poder de argumentação, da habilidade retórica, do conhecimento de doutrinas divergentes. Eles transmitiam, enfim, todo um jogo de palavras, raciocínios e concepções que seria utilizado na arte de convencer as pessoas, driblando as teses dos adversários.

Ensinavam seus discípulos a utilizar a arte da fala que permitia provar o pró e o contra, a tese e a tese contrária. Foi essa indiferença pela conteúdo que o pecado atribuído pelos sofistas.

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Os sofistas e os pré-socráticosOs sofistas se opunham à filosofia pré-

socrática dizendo que estes ensinavam coisas contraditórias e repletas de erros que não apresentavam utilidade nas polis (cidades). Eles então substituíram a natureza que antes era o principal objeto de reflexão pela arte da persuasão.Sofistas e o ceticismo

Críticos aos mitos tradicionais, os sofistas recusavam tudo o que lhes parecia ser especulação filosófica desnecessária. Achavam que mesmo que houvesse resposta para muitas questões filosóficas, os homens nunca poderiam encontrar explicações verdadeiramente seguras para os enigmas da natureza e do universo. Em filosofia, este ponto de vista é designado por “ceticismo”.O homem como ser político

O homem que participa da cidade democrática, deve ser ensinado a pensar, raciocinar e falar. A formação do zôon politikón (cidadão) é atravéz do domínio da palavra, isso o tornará político.A Contribuição de suas lições

Trouxeram grande contribuição à análise da linguagem, à crítica do direito natural e convencional, além de instituírem a cultura propriamente grega.

Nem heróis nem vilõesFoi, sobretudo, devido a Platão que se

considerou a sofística apenas uma atividade viciosa do espírito, uma arte de manipular raciocínios, de produzir o falso, de iludir os ouvintes, sem qualquer amor pela verdade.

Entretanto, abordagens mais recentes sobre a atuação dos sofistas procuram mostrar que o relativismo de suas teses fundamenta-se numa concepção flexível sobre os homens, a sociedade e a compreensão do real. Para os sofistas, as opiniões humanas são infindáveis, divergentes e não podem ser reduzidas a uma única verdade. Não existem valores ou verdades absolutas.

É importante lembrar que não existe uma doutrina sofística única. O que há são alguns pontos comuns entre as concepções de certos sofistas, como Protágoras, Górgias e outros.

Sofistas conhecidosPrimeiros sofistas conhecidos eram

Protágoras, Górgias e Isócratres. Também eram

sofistas: Hípias, Pródico, Crítias, Antifonte e Trasímaco

Protágoras de Abdera (487-420 a.C.)

Protágoras é considerado o primeiro e um dos mais importantes sofistas. Ensinou por muito tempo em Atenas, tendo como princípio básico de sua doutrina a idéia de que o homem é a medida de tudo o que existe. "O homem é a medida de todas as coisas“. Protágoras com essa frase, queria dizer que a justiça e a injustiça, o bem e o mal devem ser sempre avaliados em função das necessidades dos homens. Seu propósito era formar cidadãos, cuja vida em sua plenitude, é a vida pública.

Conforme essa concepção, todas as coisas são relativas à disposição do homem, isto é, o mundo é o que o homem constrói ou destrói. Por isso não haveria verdades absolutas. Toda verdade seria relativa a determinada pessoa, grupo social ou cultura.

A filosofia de Protágoras sofreu críticas em seu tempo por dar margem a um grande subjetivismo: tal coisa é verdadeira se para mim parece verdadeira. Assim, qualquer tese poderia ser encarada como falsa ou verdadeira, dependendo da ótica de cada um.

Górgias de Leontine

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Górgias de Leontine (487-380 a.C) considerado um dos grandes oradores da Grécia, aprofundou o subjetivismo relativista de Protágoras a ponto de defender o ceticismo absoluto. Afirmava que:

>Nada existia;>Se existisse, não poderia ser conhecido;>Mesmo que fosse conhecido, não poderia ser comunicado a ninguém.

1.5 Principais filósofos da Antiguidade

Sócrates, Platão e AristótelesCada um marcou de certa maneira a

civilização européia. Sócrates representa, um marco divisório, da história da filosofia grega. Por isso, os filósofos que o antecederam são chamados de pré-socráticos e os que o sucederam, de pós-socráticos. É o primeiro filósofo nascido em Atenas, e tanto ele como ambos seus sucessores viveram e exerceram sua atividade em Atenas.

A partir da época de Sócrates, Atenas torna-se o ponto de encontro da cultura grega. É importante notar que todo o projeto filosófico muda essencialmente, se passarmos dos filósofos da natureza para Sócrates.

Sócrates

1.Sócrates (470-399 a.C.)Personagem enigmática, não deixou nada

escrito. O que se sabe dele e de seu pensamento vem dos textos de seus discípulos e de seus adversários.

Nasceu em Atenas e aí passou a sua vida. Conta-se que Sócrates era filho de um escultor e de uma parteira. Uma dupla herança que, simbolicamente, o levou a esculpir uma representação autêntica do homem, fazendo-o dar à luz suas próprias idéias.

O estilo de vida de Sócrates assemelhava-se, exteriormente, ao dos sofistas, embora não ‘vendesse’ seus ensinamentos. Desenvolvia o saber filosófico principalmente nas praças públicas e nas ruas, conversando com todo o tipo de gente (principalmente com jovens), sempre dando demonstrações de que era preciso

unir a vida concreta ao pensamento. Unir o saber fazer, a consciência intelectual à consciência prática ou moral.

Tanto quanto os sofistas, Sócrates abandonou a preocupação dos pré-socráticos em explicar a natureza e se concentrou na problemática do homem. No entanto, contrariamente aos sofistas, ele opunha-se, por exemplo, ao relativismo em relação à questão da moralidade e ao uso da retórica para atingir interesses particulares.

Embora tenha sido, em sua época confundido com os sofistas, Sócrates travou uma polêmica profunda com estes, pois procurava um fundamento último para as interrogações humanas, enquanto os sofistas situavam as suas reflexões a partir dos dados empíricos, sem se preocupar com a investigação de uma essência para as coisas.

A pergunta essencial que Sócrates tentava responder era: o que é a essência do homem? Ele respondia dizendo que o homem é a sua alma, entendendo-se “alma”, aqui, como a sede da razão, o nosso eu consciente, que inclui a consciência intelectual e a consciência moral, e que, portanto, distingue o ser humano de todos os outros seres da natureza.

Por isso, o autoconhecimento era um dos pontos fundamentais da filosofia socrática. “Conhece-te a ti mesmo”, frase inscrita no Oráculo de Delfos, era a recomendação básica feita por Sócrates a seus discípulos. Significa: Conhece teus limites e a sabedoria existente dentro de si.

Ele aconselhava às pessoas a saírem da escuridão que havia em seus espíritos. Para alcançarem a luz, seria necessário, buscá-la dentro de nós mesmos – através do auto-conhecimento.

Sua filosofia era desenvolvida mediante diálogos críticos com seus interlocutores. Esses diálogos podem ser divididos em dois momentos básicos: a ironia e a maiêutica.

IroniaNo grego ironia quer dizer “interrogação”.

De fato, Sócrates interrogava as pessoas sobre as coisas que pensavam saber. O que é o bem? O que é a justiça? E a coragem? E a piedade? São exemplos de perguntas feitas por ele.

No decorrer do diálogo, atacava de modo implacável as respostas de seus interlocutores.

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Com habilidade de raciocínio, procurava evidenciar as contradições afirmadas, os novos problemas que surgiam a cada resposta. Seu objetivo inicial era demolir, nos discípulos, o orgulho, a arrogância e a presunção do saber. A primeira virtude do sábio é adquirir consciência da própria ignorância. “Sei que nada sei”, dizia Sócrates.

A ironia socrática tinha um caráter purificador porque levava os discípulos a confessarem suas próprias contradições e ignorâncias, onde antes só julgavam possuir certezas e clarividências.

Nessa fase do diálogo, a intenção fundamental de Sócrates não era propriamente destruir o conteúdo das respostas dadas pelos interlocutores, mas fazê-los tomar consciência profunda de suas próprias respostas, das conseqüências que poderiam ser tiradas de suas reflexões, muitas vezes repletas de conceitos vagos e imprecisos.

Sócrates acreditava que as idéias nascem inatas junto com a alma que é imortal. A função do mestre então seria inquietar, despertar, destruir as falsas certezas, provocar a dúvida, suscitar a curiosidade.

MaiêuticaLibertos do orgulho e da pretensão de que

tudo do sabiam, os discípulos podiam então iniciar o caminho da reconstrução de suas próprias idéias. Novamente, Sócrates lhes propunha uma série de questões habilmente colocadas.

Então com a continuidade do diálogo, Sócrates ajudava as pessoas a lembrar do que já sabiam, já que ele pensava que a sabedoria estava dentro de nós (inata), não fora.

Nesta segunda fase do diálogo, o objetivo de Sócrates era ajudar seus discípulos a conceberem suas próprias idéias. Assim, transportava para o campo da filosofia o exemplo de sua mãe, Fenerata, que sendo parteira, ajudava a trazer crianças ao mundo. Por isso, essa fase do diálogo socrático, destinava-se a concepção de idéias, era chamada maiêutica, termo grego que significa “arte de trazer à luz”.

Sócrates considerava-se um parteiro de idéias: como ele acreditava que elas estavam nas próprias pessoas, sua atividade consistia em interrogá-las até que as idéias nascessem em suas mentes. O mal estar que provoca com suas perguntas se compara com as dores do parto.

Esse processo de destruição e reconstrução do saber, está bem ilustrado nos diálogos de Platão, e é bom lembrar que, no final, nem sempre Sócrates tem a resposta: ele também se põe em busca do conceito e às vezes as discussões não chegam a conclusões definitivas.

O logosSócrates privilegiava as questões morais,

por isso o vemos em muitos diálogos perguntando em que consiste a coragem, a covardia, a piedade, a justiça e assim por diante. Considerava as diversas manifestações de coragem, queria saber o que é a “coragem em si”, o universal que a representa. Observamos então que a filosofia nascente precisa inventar palavras novas ou usar as antigas dando-lhes sentido diferente: Sócrates utiliza o termo logos, que na linguagem comum significava “palavra”, “conversa”, e que no sentido filosófico passa a significar “a razão que se dá a algo”, ou mais propriamente, o conceito.

Explica García Morente: “O que os geômetras dizem de uma figura, do círculo, por exemplo, para defini-lo, é o logos do círculo, é a razão dada do círculo. Do mesmo modo, o que Sócrates pede com afã aos cidadãos de Atenas é que lhe dêem o logos da justiça, o logos da coragem. Pois que é este logos senão o que hoje denominamos conceito? Quando Sócrates pede o logos, quando pede que indiquem qual é o logos da justiça, que é a justiça, o que pede é o conceito da justiça, a definição da justiça”.

Corruptor da juventude?Sócrates não dava importância à posição

socioeconômica de seus discípulos. Dialogava com ricos e pobres, cidadãos e escravos. O que importava eram as condições interiores, psicológicas de cada pessoa, pois essas condições eram indispensáveis ao processo de autoconhecimento.

Para a democracia ateniense, da qual não participava a maioria da população, composta de escravos, estrangeiros e mulheres, Sócrates foi considerado subversivo. Representava uma ameaça social, na medida em que desrespeitava a ordem vigente e dirigia suas atenções para as pessoas sem fazer distinções de classe ou posição social. Interessado tão-somente na prática da virtude e na busca da verdade, contrariava os valores dogmáticos da sociedade ateniense.

Por isso, recebeu a acusação de subversão, por não reconhecer os deuses da cidade, e introduzir novas divindades; e de corrupção da juventude.

No final do processo foi condenado a beber cicuta (veneno extraído de uma planta do mesmo nome).

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A morte de Sócrates - David

“Nada em demasia.”- afasta a desmesura da ânsia de poder e dos egoísmos. Os quais longe de serem naturais, se opõem à ordem divina da natureza.

2.Platão

Platão Nasceu em Atenas (427 a.C. a 347 a.c). Sua vida transcorreu, entre a fase áurea da democracia ateniense e o final do período helênico: sua obra filosófica representará, em vários aspectos, a expansão de um pensamento alimentado pelo clima de liberdade e de apogeu político.

Pertencia a uma família de aristocratas atenienses. Seu nome verdadeiro era Arístocles, mas, devido a sua constituição física, recebeu o apelido de Platão, termo grego que significa “ombros largos”.

Platão começou seus trabalhos filosóficos após estabelecer contato e tornar-se discípulo de Sócrates. Ele considerava seu mestre “o mais sábio e mais justo dos homens”.

A maior parte do pensamento platônico nos foi transmitida por intermédio da fala de Sócrates, nos diálogos socráticos, escritos por ele mesmo, Platão.

Depois da morte de Sócrates, ele empreendeu inúmeras viagens, num período em que ampliou seus horizontes culturais e amadureceu suas reflexões filosóficas.

Por volta de 387 a.C. retornou a Atenas, onde fundou sua escola filosófica, a

Academia, nos jardins construídos por seu amigo Academus. Essa escola foi uma das primeiras instituições permanentes de ensino superior do mundo ocidental. Esta tinha o objetivo de formar filósofos capazes de dirigir a cidade, promovendo a justiça.

Academia de PlatãoNa Academia estudava-se diversas áreas do

conhecimento: ciências, matemática, retórica (arte de falar em público), além da filosofia.

O mito da cavernaA alegoria da caverna narrada na obra “A

Republica”- Livro VII, é uma parábola escrita por Platão para enfatizar o processo de conhecimento do filósofo, que está em uma busca eterna pela verdade, com o objetivo de se libertar do senso comum, ou seja, da ignorância. O mito inicia-se com o convite à Glauco feito por Sócrates a imaginar uma caverna com prisioneiros acorrentados, impossibilitados de se mover e que nasceram e cresceram ali. Esse prisioneiros ficam de costas para a abertura luminosa e de frente para a parede escura do fundo. Assim não podem enxergar a realidade, pois existe apenas uma fresta por onde passa um feixe de luz que os possibilita ver as sombras dos objetos exteriores. Deste modo os prisioneiros julgam ser essas sombras, sua realidade. Um deles consegue se livrar das correntes e ao fazê-lo, depara-se com obstáculos, como a claridade do sol que ofusca seus olhos. Para se adaptar, começa a observar a sombra dos objetos e aos poucos, os próprios objetos, descobrindo que as sombras eram feitas por homens como ele, pela natureza e por diversos tipos de coisas. Se ele voltasse à caverna para contar aos que ficaram, o que encontrou, esses o matariam ou chamariam de louco. Deste modo podemos compreender a caverna como o mundo de aparências ou mundo sensível onde vivemos; as sombras projetadas no fundo da caverna, são as coisas percebidas

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tomadas como verdadeiras; os grilhões e correntes são nossos preconceitos, opiniões e crenças da realidade. A luz vista pelo prisioneiro denotaria a verdade, e o mundo iluminado pelo sol da verdade, seria a própria realidade. A filosofia é o instrumento que tem como objetivo libertar o prisioneiro que conseguiu sair da caverna, sendo esse o filósofo.

O método dialético de PlatãoEsse mito ilustra um dos aspectos mais

importantes da filosofia de Platão, que é a sua teoria das idéias, com a qual procura explicar como se desenvolve o conhecimento humano. Segundo ele, o processo de conhecimento se desenvolve por meio da passagem progressiva do mundo das sombras e aparências para o mundo das idéias e essências.

A primeira etapa do processo de conhecimento é dominada pelas impressões ou sensações advindas dos sentidos. Essas impressões sensíveis são responsáveis pela opinião que temos da realidade. A opinião representa o saber que temos sem tê-lo procurado metodicamente.

O conhecimento, entretanto, para ser autêntico, deve ultrapassar a esfera das impressões sensoriais, o plano da opinião, e penetrar na esfera racional da sabedoria, o mundo das idéias. Para atingir esse mundo, o homem não pode ter apenas “amor às opiniões” (filodoxia); precisa possuir um “amor ao saber” (filosofia).

O método proposto por Platão para atingir o conhecimento autêntico (epistéme) é a dialética.

A dialética consiste na contraposição de uma opinião com a crítica que dela podemos fazer, ou seja, na afirmação de uma tese qualquer seguida de uma discussão e negação desta tese, com o objetivo de purificá-la dos erros e equívocos.

E a diferença entre conhecimento e opinião é que: a opinião nasce da percepção da aparência e da diversidade das coisas. E o conhecimento, por sua vez, é elaborado quando se alcança a idéia, que rompe com as aparências e diversidade ilusória.

Somente quando saímos do mundo sensível e atingimos o mundo racional das idéias é que alcançamos também o domínio do saber

absoluto, eterno e imutável. Nesse mundo das idéias só podemos entrar, segundo Platão, através do conhecimento racional, científico ou filosófico.

E onde podemos encontrar a beleza em toda sua plenitude? Platão responde: no mundo das idéias. Nesse mundo é que moram os seres totais e perfeitos: a justiça, a bondade, a coragem, a sabedoria etc.

Fora do mundo das idéias, tudo o que captamos através dos nossos sentidos possui apenas uma parte do ser ideal. O mundo sensível, portanto, é um mundo de seres incompletos e imperfeitos.

A teoria das idéias de Platão representa a tentativa de conciliar as duas grandes tendências anteriores da filosofia grega: a concepção do ser eterno e imutável de Parmênides e a concepção do ser plural e móvel de Heráclito. Para Platão, o ser eterno e universal habita o mundo da luz racional, das essências e da realidade pura. E os seres individuais e mutáveis moram no mundo das sombras e sensações, das aparências e ilusões.

Existe uma interpretação política do mito da caverna. Vejamos: O filósofo -aquele que se libertou das correntes-, ao contemplar a verdadeira realidade e ter passado da opinião (doxa) à ciência (episteme), deve retornar ao meio dos outros indivíduos, para orientá-los. A política surge da pergunta: como influenciar as pessoas que não vêem? A resposta está na tarefa do sábio, que deve ensinar e governar. Trata-se da necessidade de transformação das pessoas e da sociedade, desde que essa ação seja dirigida pelo modelo ideal contemplado.

Platão e os dois mundos:Mundo sensível: é o mundo que percebemos pelos sentidos, é o mundo da multiplicidade, do movimento, é ilusório, pura sombra do verdadeiro mundo. Mundo inteligível: Acima do ilusório mundo sensível, há o mundo das idéias gerais, das essências imutáveis, que atingimos pela contemplação e pela depuração dos enganos dos sentidos. Como as idéias são a única verdade, o mundo dos fenômenos só existe na medida em que participa do mundo das idéias, do qual é apenas sombra ou cópia. Por exemplo, um cavalo só é cavalo enquanto participa da idéia de “cavalo em si”. Trata-se da teoria da participação, mais tarde duramente criticada por Aristóteles.

Por exemplo, vamos considerar um conjunto de cavalos.

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Apesar deles não serem exatamente iguais, existe algo que é comum a todos os cavalos; algo que garante que nós jamais teremos problemas para reconhecer um cavalo. Naturalmente, um exemplar isolado do cavalo, este sim "flui", "passa". Ele envelhece e fica manco, depois adoece e morre. Mas a verdadeira forma do cavalo é eterna e imutável. Então esses exemplares se encontram no mundo sensível enquanto a verdadeira forma, está no outro mundo, no mundo inteligível. Dessa forma, Platão se aproxima da teoria parmenidica, aliando-se aos ensinamentos de Sócrates, elabora uma teoria original. Do seu mestre aproveita a noção de logos, e ao continuar o processo de compreensão do real, cria a palavra idéia (eidos), para referir-se à intuição intelectual, distinta da intuição sensível.

O bemPara Platão, é a dialética que fará a alma

elevar-se das coisas múltiplas e mutáveis às idéias unas e imutáveis. As idéias gerais são hierarquizadas, e no topo delas está a idéia do Bem, a mais alta em perfeição e mais geral de todas: os seres e as coisas não existem senão enquanto participam do bem. E o Bem Supremo é também a Suprema Beleza. É o Deus de Platão.

Parmênides e HeráclitoPodemos verificar que Platão tenta

superar a oposição entre o pensamento de Heráclito, que afirma a mutabilidade essencial do ser, e o de Parmênides, para quem o ser é imóvel. Platão resolve o problema: o mundo das idéias se refere ao ser parmenidico, e o mundo dos fenômenos ao devir heraclitiano.

A ReminiscênciaComo é possível ultrapassar o mundo

das aparências ilusórias? Platão supõe pela teoria da reminiscência, que o puro espírito já teria contemplado o mundo das idéias, mas tudo esquece quando volta para prisão do corpo (“túmulo da alma”). Platão explica por essa teoria, como os sentidos se constituem apenas na ocasião para despertar na alma as lembranças adormecidas. Em outras palavras, conhecer é lembrar.

A teoria da reminiscência sustenta a hipótese da preexistência da alma em relação ao corpo. Sustenta que a alma é incorruptível e, portanto, é imortal. A doutrina da reminiscência liga a alma às idéias e justifica que o homem as

conheça. No diálogo Menon, Platão descreve como, ao examinar figuras sensíveis que lhe são oferecidas, um escravo é induzido a “lembrar-se” das idéias e a descobrir uma verdade geométrica.

Diálogos platõnicosPlatão compõe Diálogos, geralmente

chamados "diálogos socráticos", pois têm em Sócrates a personagem central. Entre esses está a Apologia de Sócrates, que pretende reproduzir a defesa feita pelo próprio Sócrates diante da Assembléia que o julgou e condenou. Porém, de certa forma, outros diálogos constituem também defesas que Platão faz de seu mestre, mostrando que nem era ímpio nem pervertia os jovens. Nessa categoria podem ser incluídos o Críton, o Laques, o Lísis, o Cármides e o Eutífron. Dentre os primeiros diálogos situam-se ainda o Hípias Menor (talvez também o Hípias Maior), o Protágoras, o Górgias — nos quais aparecem os grandes sofistas — e o lon. É possível que, também que na mesma época que fez estes diálogos, Platão tenha começado a escrever A República. Em geral, os "diálogos socráticos" desenvolvem discussões sobre ética, procurando definir determinada virtude (coragem, Laques; piedade, Eutífron; amizade, Lísis; autocontrole, Cármides). Mas são diálogos aporéticos, ou seja, fazem o levantamento de diferentes modos de se conceituar aquelas virtudes, denunciam a fragilidade dessas conceituações, mas deixam a questão aberta, inconclusa. Isso possivelmente estaria relacionado ao objetivo do próprio Sócrates, que se preocupava antes com o desencadeamento do conhecimento de si mesmo e não propriamente com definições de conceitos. De qualquer modo, algumas teses socráticas básicas podem ser encontradas nesses diálogos, como a da identificação da virtude com certo tipo de conhecimento e a da unidade de todas as virtudes. Os outros diálogos dessa fase manifestam duas preocupações que permanecerão constantes na obra platônica: o problema político (como no Cármides) e o do papel que a retórica pode desempenhar na ética e na educação (Górgias, Protágoras, os dois Hípias).Outro diálogosO BANQUETE: Sócrates, Agatão, Alcibíades e outros conversam a respeito do amor. Para Sócrates, o amor é um meio de atingir a visão do princípio eterno de todas as coisas belas, o belo em si. FÉDON: Na prisão, à espera da cicuta, Sócrates debate sobre a morte. O diálogo relata o caminho socrático, retomado e desenvolvido por

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Platão: o conhecimento como reminiscência e a doutrina das idéias. SOFISTA: A oposição verdade-erro, inerente ao combate socrático-platônico aos sofistas (vistos como mercadores de falsidades), renova-se nessa etapa final do platonismo. POLÍTICO: Platão retoma um dos temas centrais de sua reflexão filosófica: a caracterização do político e da arte de governar.

A República ou Politéia, traduzida comumente pelo latim República (de respública = coisa pública) é a obra mais extensa do autor, pertence à maturidade de Platão. Elaborada ao longo de vários anos, nela já estão presentes suas idéias mestras: Teoria do Mundo das Idéias; o Filósofo Rei, a imortalidade da alma, etc. Seu estilo é o diálogo, perguntas e respostas com o escopo de atingir a verdade (VII-534b). Composta por dez livros, inicia-se e termina com a discussão em torno da justiça como virtude maior, na consecução de um “Estado perfeito”.

A cidade justaPara Platão, a cidade justa deve ser

governada e administrada pelos filósofos e pelos homens da ciência. Cada classe cumprirá sua função para o bem da polis.

A polis injusta é aquela na qual o governo está nas mãos dos proprietários e, naturalmente não pensam no bem comum da cidade e, sem dúvida alguma, lutarão para preservar seus interesses econômicos particulares, ou nos militares que levarão a cidade em estado de guerra constante para contemplar e vislumbrar desejos particulares de honra e glória.

EducaçãoA educação deveria funcionar como

forma de desenvolver o homem moral, e deveria dedicar esforços para o desenvolvimento intelectual e físico dos alunos.

Os alunos deveriam ter aulas de retórica, debates, educação musical, geometria, astronomia e educação militar.

Platão afirmava também que a educação da mulher deveria ser a mesma educação aplicada aos homens.

Para implantar seu sistema de governo, Platão imagina que deve-se começar da estaca zero. O primeiro passo seria tirar os filhos das suas mães, para protegê-los dos maus hábitos. Nos primeiros dez anos, a educação será predominantemente física. Para contrabalançar com as atividades físicas, a música. A música aperfeiçoa o espírito, cria um requinte de sentimento e molda o caráter, também restaura a saúde.

Depois dos dezesseis anos, essas práticas são abandonadas. Assim os membros dessa comunidade teriam uma base psicológica e fisiológica. A base moral será dada pela crença em Deus. O que torna a nação forte seria Ele, pois ele pode dar conforto aos corações aflitos, coragem às almas.

Aos vinte anos, chegará a hora da Grande Eliminação, um teste prático e teórico. Começa a divisão por classes da República. Os que não passarem serão designados para o trabalho econômico.

Depois de mais dez anos de educação e treinamento, outro teste. Os que passarem aprenderão o deleite da filosofia. Assim se dedicarão ao estudo da doutrina e do mundo das Idéias.

A filosofia no poder: os reis-filósofos Na juventude, Platão alimentou o ideal de

participação política em Atenas. Depois, desiludiu com a democracia ateniense, confessou: “Deixei levar-me por ilusões que nada tinham de espantosas por causa de minha juventude. Imaginava que, de fato, governariam a cidade reconduzindo-a dos caminhos da injustiça para os da justiça”.

Abraçando a filosofia, adotou um novo ideal: “Fui então irresistivelmente levado a louvar a verdadeira filosofia e a proclamar que somente à sua luz se pode reconhecer onde está a justiça na vida pública e na vida privada”.

Para Platão, somente os filósofos, eternos amantes da verdade, teriam condições de libertar-se da caverna das ilusões e atingir o mundo luminoso da realidade e sabedoria.

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Por isso, no seu livro A república, imaginou uma sociedade ideal, governada por reis-filósofos. Seriam pessoas capazes de atingir o mais alto conhecimento do mundo das idéias, que consiste na idéia de bem.

3. AristótelesNascido em Estagira, na Macedõnia,

Aristóteles (384-322 a.C.) foi um dos mais expressivos filósofos gregos da Antiguidade, junto com Platão. Há informações de que teria escrito mais de uma centena de obras, sobre os mais variados temas, das quais restam apenas 47, embora nem todas de autenticidade comprovada. Desempenhou extraordinário papel na organização do saber grego, acrescentando-lhe sua contribuição que impactou a história do pensamento ocidental.

Filho de Nicômaco, médico do rei da Macedônia, provavelmente herdou do pai o interesse pelas ciências naturais, que se revelaria posteriormente em sua obra. Aos dezoito anos foi para Atenas em ingressou na Academia de Platão, onde permaneceu cerca de vinte anos, tendo uma atuação crescentemente expressiva. Com a morte de Platão, a destacada competência de Aristóteles o qualificava para assumir a direção da Academia. Seu nome, entretanto, foi preterido por ser considerado estrangeiro pelos atenienses.

Decepcionado com o episódio, deixou a Academia e partiu para Assos, na Mísia, Ásia Menor, onde permaneceu até 345 a.C. Pouco tempo depois foi convidado por Filipe II, rei da Macedônia, para ser professor de seu filho Alexandre (O grande). O relacionamento de Aristóteles e Alexandre foi interrompido quando este assumiu a direção do Império Macedônico, em 340 a.C.

Por volta de 355 a.C., Aristóteles regressou a Atenas, fundando sua própria escola filosófica, que passou a ser conhecida como

Liceu, em homenagem ao deus Apolo Lício. Nesse local permaneceu ensinando durante aproximadamente doze anos.

Em 323 a.C., após a morte de Alexandre, os sentimentos antimacedônicos ganharam grande intensidade em Atenas. Devido a sua notória ligação com a corte macedônica, Aristóteles passou a ser perseguido. Foi então que decidiu abandonar Atenas, dizendo querer evitar que os atenienses “pecassem duas vezes contra a filosofia” (a primeira vez teria sido com Sócrates).Apaixonado pela biologia, dedicou inúmeros estudos à observação da natureza e à classificação dos seres vivos. Tendo em vista a elaboração de uma visão científica da realidade, desenvolveu a lógica para servir de ferramenta do raciocínio. Da sensação ao conceito: o discípulo discorda do mestre

Segundo Aristóteles, a finalidade básica das ciências seria desvendar a constituição essencial dos seres, procurando defini-la em termos reais.

Ao abordar a realidade, reconhecia a multiplicidade dos seres percebidos pelos sentidos. Assim, tudo o que vemos, pegamos, ouvimos e sentimos é aceito como elemento da realidade sensível.

Nesse sentido, rejeitava a teoria das idéias de Platão, segundo a qual os dados transmitidos pelos sentidos não passam de distorções, sombras ou ilusões da verdadeira realidade existente de inúmeros seres individuais, concretos, mutáveis, que são captados por nossos sentidos.

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Partindo dessa realidade sensorial – empírica -, a ciência deve buscar as estruturas essenciais de cada ser. Em outras palavras, a partir da existência do ser, devemos atingir a sua essência, através de um processo de conhecimento que caminharia do individual específica para o universo e genérico.

Aristóteles entendia que o ser individual, concreto, único não pode ser objeto da ciência. O objeto próprio das ciências é a compreensão do universal, visando o estabelecimento de definições essenciais, que possam ser utilizadas de modo generalizado.

A indução (operação mental que vai do particular para o geral) representa, para Aristóteles, o processo intelectual básico de aquisição de conhecimento. Ela possibilita ao ser humano atingir conclusões científicas, de âmbito universal, a partir do trabalho metódico com os dados sensíveis – que sempre representam seres individuais, concretos e únicos.

Assim, por exemplo, o conceito escola – ou qualquer conclusão científica sobre esse conceito – foi elaborado tendo como base a observação sistemática das diferentes instituições às quais se atribui o nome de escola. Dessa maneira, o conceito escola tem sido universal porque reúne em si a estrutura essencial aplicável ao conjunto das múltiplas escolas concretas no mundo.

A nova interpretação para as mudanças do ser

Retomando a questão do ser, Aristóteles pretendeu resolver a contradição entre o caráter estático e permanente do ser em oposição ao movimento e à transitoriedade das coisas. Era a clássica polêmica entre Heráclito e Parmênides. Para esse problema, Aristóteles propôs uma nova interpretação ontológica (relativa ao estudo do ser), segundo a qual em todo ser devemos distinguir:

O ato: manifestação atual do ser, aquilo que já existe;

A potência: as possibilidades do ser (capacidade de ser), aquilo que ainda não é mas pode vir a ser.

Conforme Aristóteles, o movimento e a transitoriedade ou mudança das coisas se resumem na passagem da potência para o ato. Exemplo: a árvore que está sem flores pode

tornar-se, com o tempo, uma árvore florida. Ao adquirir flores, essa árvore manifesta em ato, aquilo que já continha, intrinsecamente, em potência.

Por outro lado, utilizando ainda o exemplo da árvore, pode acontecer que, em virtude de certas condições climáticas, uma árvore frutífera não venha a dar frutos (o que contraria a sua potência de dar frutos). Ou pode ser que as folhas da árvore se apresentem queimadas ou ressecadas, em conseqüência de um clima seco. Esses casos Aristóteles classifica como um acidente, ou seja, algo que não ocorre sempre, somente às vezes, por uma causalidade qualquer (no caso, a falta de chuva ou o excesso de calor).

Assim, segundo Aristóteles, devemos distinguir também em todos os seres existentes:

A substância – aquilo que é estrutural e essencial do ser;

O acidente – aquilo que é atributo circunstancial e não-essencial do ser.

A substância corresponde àquilo que mais intimamente o ser é em si mesmo. Os acidentes pertencem ao ser, mas não são necessários para definir a natureza própria de cada ser.

O que determina a realidade de um ser: a causa

A investigação do ato e da potência do ser depende, no entanto, de alguns esclarecimentos sobre a causalidade. Isto porque essa passagem da potência para o ato não se dá ao acaso: ela é causada.

Aristóteles emprega o termo causa em sentido bastante amplo, isto é, no sentido de tudo aquilo que determina a realidade de um ser. Distingue, assim, quatro tipos de causas fundamentais.Causa material – refere-se à matéria de que é feita uma coisa. Exemplo: o mármore utilizado na confecção de uma estátua;Causa formal – refere-se à forma, à natureza específica, à configuração de uma coisa, tornando-a “um ser propriamente dito”. Exemplo: uma estátua em forma de homem e não de cavalo;Causa eficiente – refere-se ao agente que produziu diretamente a coisa. Exemplo: o escultor que fez a estátua.Causa final – refere-se ao objetivo, à intenção, à finalidade ou à razão de ser de uma coisa.

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Exemplo: o escultor tinha como finalidade exaltar a figura do soldado ateniense.

Segundo Aristóteles, a causa formal está diretamente subordinada à causa final, pois a finalidade de uma coisa determina o que os seres efetivamente são. A potência, em si mesma não é capaz de formalizar o ser em ato. Para que se dê essa passagem, é preciso a intervenção de um agente transformador (causa eficiente), guiado por uma finalidade (causa final).

Assim, segundo Aristóteles, a causa final é que comanda o movimento da realidade. É pela causa final, em última instância, que as coisas mudam, determinando a passagem da potência para o ato.

A felicidade do homemAristóteles define o homem como ser

racional e considera a atividade racional, o ato de pensar, como a essência humana. Para ele:(...) O que é próprio de cada coisa é, por natureza, o que há de melhor e de aprazível, já que a razão, mais que qualquer outra coisa, é o homem. Donde se conclui que essa vida é também a mais feliz.

Aristóteles. Ética a NicômacoApud História do pensamento, v.1, p.97

Para ser feliz, portanto, o homem deve viver de acordo com a sua essência, isto é, de acordo com a razão, a sua consciência reflexiva. E, orientando os seus atos para uma conduta ética, a razão o conduzirá à prática da virtude.

Para Aristóteles, a virtude representa o meio-termo, a justa medida de equilíbrio entre o excesso e a falta de um atributo qualquer. Exemplo: a virtude da prudência é o meio-termo entre a precipitação e a negligência; a virtude da coragem é o meio-termo entre a covardia e a valentia insana; a perseverança é o meio-termo entre a fraqueza de vontade e a vontade obsessiva.

ÉticaAristóteles desenvolveu uma reflexão

racionalista, mas sem o dualismo corpo-alma platônico. Procurou construir uma ética mais realista, mais próxima do homem concreto. Para tanto, perguntou-se sobre o fim último do ser humano. Para o quê tendemos? E respondeu: para a felicidade. Todos nós buscamos a felicidade.

E o que entende Aristóteles por felicidade? Para ele, a felicidade não se confunde com o simples prazer, o prazer das sensações ou o prazer proporcionado pela riqueza e pelo conforto material. A felicidade maior para Aristóteles se encontraria na vida teórica, que promove o que há de mais especificamente humano: a razão.

Para Aristóteles, o homem que se desenvolve no plano teórico, contemplativo, pode compreender a essência da felicidade e realizá-la de forma consciente. Mas isso seria privilégio de uma minoria comum, aquele que não pode se dedicar à atividade teórica, aprenderia a agir corretamente apenas pelo hábito.

Assim, agir corretamente seria praticar as virtudes. E o que seria a virtude? Em seu livro Ética à Nicômaco, Aristóteles explica:

A virtude moral é um meio-termo entre dois vícios, um dos quais envolve o excesso e o outro deficiência, e isso porque a sua natureza é visar à mediania nas paixões e nos atos.ARISTÓTELES, Ética À Nicômaco, livro II.

A coragem, por exemplo, seria uma virtude situada entre a covardia (deficiência) e a temeridade (o excesso). Assim, Aristóteles propôs uma ética do meio-termo, onde a virtude consistiria em procurar o ponto de equilíbrio entre o excesso e a deficiência.

É importante notar que, tanto Platão como Aristóteles, a ética estava vinculada à vida política. Aristóteles se refere mesmo à ética como sendo um ramo da política, já que a primeira trataria do bem-estar individual, enquanto a segunda trataria do bem comum.

QuestõesSobre a teoria das quatro causas de Aristóteles é correto afirmar:I- É próprio da ciência investigá-las, pois são as causas do movimento e do repouso, ou seja, da passagem da potência ao ato.II- A causa eficiente atua sobre a forma, visto ser a matéria o ato a que aspiram os seres.

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III- A causa final é própria daquele ser que deve atualizar as potências contidas em sua matéria para alcançar a finalidade própria.IV- A forma é o princípio de indeterminação dos seres.Assinale a única alternativa que apresenta as assertivas corretas.

A) Apenas I e III.B) I, III e IV.C) Apenas II e III.D) Apenas I e II.

1-a

1.5 Principais filósofos da Antiguidade

Sócrates, Platão e AristótelesCada um marcou de certa maneira a

civilização européia. Sócrates representa, um marco divisório, da história da filosofia grega. Por isso, os filósofos que o antecederam são chamados de pré-socráticos e os que o sucederam, de pós-socráticos. É o primeiro filósofo nascido em Atenas, e tanto ele como ambos seus sucessores viveram e exerceram sua atividade em Atenas.

A partir da época de Sócrates, Atenas torna-se o ponto de encontro da cultura grega. É importante notar que todo o projeto filosófico muda essencialmente, se passarmos dos filósofos da natureza para Sócrates.

Sócrates

1.Sócrates (470-399 a.C.)Personagem enigmática, não deixou nada

escrito. O que se sabe dele e de seu pensamento vem dos textos de seus discípulos e de seus adversários.

Nasceu em Atenas e aí passou a sua vida. Conta-se que Sócrates era filho de um escultor e de uma parteira. Uma dupla herança que, simbolicamente, o levou a esculpir uma representação autêntica do homem, fazendo-o dar à luz suas próprias idéias.

O estilo de vida de Sócrates assemelhava-se, exteriormente, ao dos sofistas, embora não ‘vendesse’ seus ensinamentos. Desenvolvia o saber filosófico principalmente nas praças

públicas e nas ruas, conversando com todo o tipo de gente (principalmente com jovens), sempre dando demonstrações de que era preciso unir a vida concreta ao pensamento. Unir o saber fazer, a consciência intelectual à consciência prática ou moral.

Tanto quanto os sofistas, Sócrates abandonou a preocupação dos pré-socráticos em explicar a natureza e se concentrou na problemática do homem. No entanto, contrariamente aos sofistas, ele opunha-se, por exemplo, ao relativismo em relação à questão da moralidade e ao uso da retórica para atingir interesses particulares.

Embora tenha sido, em sua época confundido com os sofistas, Sócrates travou uma polêmica profunda com estes, pois procurava um fundamento último para as interrogações humanas, enquanto os sofistas situavam as suas reflexões a partir dos dados empíricos, sem se preocupar com a investigação de uma essência para as coisas.

A pergunta essencial que Sócrates tentava responder era: o que é a essência do homem? Ele respondia dizendo que o homem é a sua alma, entendendo-se “alma”, aqui, como a sede da razão, o nosso eu consciente, que inclui a consciência intelectual e a consciência moral, e que, portanto, distingue o ser humano de todos os outros seres da natureza.

Por isso, o autoconhecimento era um dos pontos fundamentais da filosofia socrática. “Conhece-te a ti mesmo”, frase inscrita no Oráculo de Delfos, era a recomendação básica feita por Sócrates a seus discípulos. Significa: Conhece teus limites e a sabedoria existente dentro de si.

Ele aconselhava às pessoas a saírem da escuridão que havia em seus espíritos. Para alcançarem a luz, seria necessário, buscá-la dentro de nós mesmos – através do auto-conhecimento.

Sua filosofia era desenvolvida mediante diálogos críticos com seus interlocutores. Esses diálogos podem ser divididos em dois momentos básicos: a ironia e a maiêutica.

Ironia

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No grego ironia quer dizer “interrogação”. De fato, Sócrates interrogava as pessoas sobre as coisas que pensavam saber. O que é o bem? O que é a justiça? E a coragem? E a piedade? São exemplos de perguntas feitas por ele.

No decorrer do diálogo, atacava de modo implacável as respostas de seus interlocutores. Com habilidade de raciocínio, procurava evidenciar as contradições afirmadas, os novos problemas que surgiam a cada resposta. Seu objetivo inicial era demolir, nos discípulos, o orgulho, a arrogância e a presunção do saber. A primeira virtude do sábio é adquirir consciência da própria ignorância. “Sei que nada sei”, dizia Sócrates.

A ironia socrática tinha um caráter purificador porque levava os discípulos a confessarem suas próprias contradições e ignorâncias, onde antes só julgavam possuir certezas e clarividências.

Nessa fase do diálogo, a intenção fundamental de Sócrates não era propriamente destruir o conteúdo das respostas dadas pelos interlocutores, mas fazê-los tomar consciência profunda de suas próprias respostas, das conseqüências que poderiam ser tiradas de suas reflexões, muitas vezes repletas de conceitos vagos e imprecisos.

Sócrates acreditava que as idéias nascem inatas junto com a alma que é imortal. A função do mestre então seria inquietar, despertar, destruir as falsas certezas, provocar a dúvida, suscitar a curiosidade.

MaiêuticaLibertos do orgulho e da pretensão de que

tudo do sabiam, os discípulos podiam então iniciar o caminho da reconstrução de suas próprias idéias. Novamente, Sócrates lhes propunha uma série de questões habilmente colocadas.

Então com a continuidade do diálogo, Sócrates ajudava as pessoas a lembrar do que já sabiam, já que ele pensava que a sabedoria estava dentro de nós (inata), não fora.

Nesta segunda fase do diálogo, o objetivo de Sócrates era ajudar seus discípulos a conceberem suas próprias idéias. Assim, transportava para o campo da filosofia o exemplo de sua mãe, Fenerata, que sendo parteira, ajudava a trazer crianças ao mundo. Por isso, essa fase do diálogo socrático, destinava-se a concepção de idéias, era chamada maiêutica, termo grego que significa “arte de trazer à luz”.

Sócrates considerava-se um parteiro de idéias: como ele acreditava que elas estavam nas próprias pessoas, sua atividade consistia em interrogá-las até que as idéias nascessem em

suas mentes. O mal estar que provoca com suas perguntas se compara com as dores do parto.

Esse processo de destruição e reconstrução do saber, está bem ilustrado nos diálogos de Platão, e é bom lembrar que, no final, nem sempre Sócrates tem a resposta: ele também se põe em busca do conceito e às vezes as discussões não chegam a conclusões definitivas.

O logosSócrates privilegiava as questões morais,

por isso o vemos em muitos diálogos perguntando em que consiste a coragem, a covardia, a piedade, a justiça e assim por diante. Considerava as diversas manifestações de coragem, queria saber o que é a “coragem em si”, o universal que a representa. Observamos então que a filosofia nascente precisa inventar palavras novas ou usar as antigas dando-lhes sentido diferente: Sócrates utiliza o termo logos, que na linguagem comum significava “palavra”, “conversa”, e que no sentido filosófico passa a significar “a razão que se dá a algo”, ou mais propriamente, o conceito.

Explica García Morente: “O que os geômetras dizem de uma figura, do círculo, por exemplo, para defini-lo, é o logos do círculo, é a razão dada do círculo. Do mesmo modo, o que Sócrates pede com afã aos cidadãos de Atenas é que lhe dêem o logos da justiça, o logos da coragem. Pois que é este logos senão o que hoje denominamos conceito? Quando Sócrates pede o logos, quando pede que indiquem qual é o logos da justiça, que é a justiça, o que pede é o conceito da justiça, a definição da justiça”.

Corruptor da juventude?Sócrates não dava importância à posição

socioeconômica de seus discípulos. Dialogava com ricos e pobres, cidadãos e escravos. O que importava eram as condições interiores, psicológicas de cada pessoa, pois essas condições eram indispensáveis ao processo de autoconhecimento.

Para a democracia ateniense, da qual não participava a maioria da população, composta de escravos, estrangeiros e mulheres, Sócrates foi considerado subversivo. Representava uma ameaça social, na medida em que desrespeitava a ordem vigente e dirigia suas atenções para as pessoas sem fazer distinções de classe ou posição social. Interessado tão-somente na prática da virtude e na busca da verdade, contrariava os valores dogmáticos da sociedade ateniense.

Por isso, recebeu a acusação de subversão, por não reconhecer os deuses da cidade, e introduzir novas divindades; e de corrupção da juventude.

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No final do processo foi condenado a beber cicuta (veneno extraído de uma planta do mesmo nome).

A morte de Sócrates - David

“Nada em demasia.”- afasta a desmesura da ânsia de poder e dos egoísmos. Os quais longe de serem naturais, se opõem à ordem divina da natureza.

2.Platão

Platão Nasceu em Atenas (427 a.C. a 347 a.c). Sua vida transcorreu, entre a fase áurea da democracia ateniense e o final do período helênico: sua obra filosófica representará, em vários aspectos, a expansão de um pensamento alimentado pelo clima de liberdade e de apogeu político.

Pertencia a uma família de aristocratas atenienses. Seu nome verdadeiro era Arístocles, mas, devido a sua constituição física, recebeu o apelido de Platão, termo grego que significa “ombros largos”.

Platão começou seus trabalhos filosóficos após estabelecer contato e tornar-se discípulo de Sócrates. Ele considerava seu mestre “o mais sábio e mais justo dos homens”.

A maior parte do pensamento platônico nos foi transmitida por intermédio da fala de Sócrates, nos diálogos socráticos, escritos por ele mesmo, Platão.

Depois da morte de Sócrates, ele empreendeu inúmeras viagens, num período em

que ampliou seus horizontes culturais e amadureceu suas reflexões filosóficas.

Por volta de 387 a.C. retornou a Atenas, onde fundou sua escola filosófica, a Academia, nos jardins construídos por seu amigo Academus. Essa escola foi uma das primeiras instituições permanentes de ensino superior do mundo ocidental. Esta tinha o objetivo de formar filósofos capazes de dirigir a cidade, promovendo a justiça.

Academia de PlatãoNa Academia estudava-se diversas áreas do

conhecimento: ciências, matemática, retórica (arte de falar em público), além da filosofia.

O mito da cavernaA alegoria da caverna narrada na obra “A

Republica”- Livro VII, é uma parábola escrita por Platão para enfatizar o processo de conhecimento do filósofo, que está em uma busca eterna pela verdade, com o objetivo de se libertar do senso comum, ou seja, da ignorância. O mito inicia-se com o convite à Glauco feito por Sócrates a imaginar uma caverna com prisioneiros acorrentados, impossibilitados de se mover e que nasceram e cresceram ali. Esse prisioneiros ficam de costas para a abertura luminosa e de frente para a parede escura do fundo. Assim não podem enxergar a realidade, pois existe apenas uma fresta por onde passa um feixe de luz que os possibilita ver as sombras dos objetos exteriores. Deste modo os prisioneiros julgam ser essas sombras, sua realidade. Um deles consegue se livrar das correntes e ao fazê-lo, depara-se com obstáculos, como a claridade do sol que ofusca seus olhos. Para se adaptar, começa a observar a sombra dos objetos e aos poucos, os próprios objetos, descobrindo que as sombras eram feitas por homens como ele, pela natureza e por diversos tipos de coisas. Se ele voltasse à caverna para contar aos que ficaram, o que encontrou, esses o matariam ou chamariam de louco. Deste modo podemos compreender a

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caverna como o mundo de aparências ou mundo sensível onde vivemos; as sombras projetadas no fundo da caverna, são as coisas percebidas tomadas como verdadeiras; os grilhões e correntes são nossos preconceitos, opiniões e crenças da realidade. A luz vista pelo prisioneiro denotaria a verdade, e o mundo iluminado pelo sol da verdade, seria a própria realidade. A filosofia é o instrumento que tem como objetivo libertar o prisioneiro que conseguiu sair da caverna, sendo esse o filósofo.

O método dialético de PlatãoEsse mito ilustra um dos aspectos mais

importantes da filosofia de Platão, que é a sua teoria das idéias, com a qual procura explicar como se desenvolve o conhecimento humano. Segundo ele, o processo de conhecimento se desenvolve por meio da passagem progressiva do mundo das sombras e aparências para o mundo das idéias e essências.

A primeira etapa do processo de conhecimento é dominada pelas impressões ou sensações advindas dos sentidos. Essas impressões sensíveis são responsáveis pela opinião que temos da realidade. A opinião representa o saber que temos sem tê-lo procurado metodicamente.

O conhecimento, entretanto, para ser autêntico, deve ultrapassar a esfera das impressões sensoriais, o plano da opinião, e penetrar na esfera racional da sabedoria, o mundo das idéias. Para atingir esse mundo, o homem não pode ter apenas “amor às opiniões” (filodoxia); precisa possuir um “amor ao saber” (filosofia).

O método proposto por Platão para atingir o conhecimento autêntico (epistéme) é a dialética.

A dialética consiste na contraposição de uma opinião com a crítica que dela podemos fazer, ou seja, na afirmação de uma tese qualquer seguida de uma discussão e negação desta tese, com o objetivo de purificá-la dos erros e equívocos.

E a diferença entre conhecimento e opinião é que: a opinião nasce da percepção da aparência e da diversidade das coisas. E o conhecimento, por sua vez, é elaborado quando

se alcança a idéia, que rompe com as aparências e diversidade ilusória.

Somente quando saímos do mundo sensível e atingimos o mundo racional das idéias é que alcançamos também o domínio do saber absoluto, eterno e imutável. Nesse mundo das idéias só podemos entrar, segundo Platão, através do conhecimento racional, científico ou filosófico.

E onde podemos encontrar a beleza em toda sua plenitude? Platão responde: no mundo das idéias. Nesse mundo é que moram os seres totais e perfeitos: a justiça, a bondade, a coragem, a sabedoria etc.

Fora do mundo das idéias, tudo o que captamos através dos nossos sentidos possui apenas uma parte do ser ideal. O mundo sensível, portanto, é um mundo de seres incompletos e imperfeitos.

A teoria das idéias de Platão representa a tentativa de conciliar as duas grandes tendências anteriores da filosofia grega: a concepção do ser eterno e imutável de Parmênides e a concepção do ser plural e móvel de Heráclito. Para Platão, o ser eterno e universal habita o mundo da luz racional, das essências e da realidade pura. E os seres individuais e mutáveis moram no mundo das sombras e sensações, das aparências e ilusões.

Existe uma interpretação política do mito da caverna. Vejamos: O filósofo -aquele que se libertou das correntes-, ao contemplar a verdadeira realidade e ter passado da opinião (doxa) à ciência (episteme), deve retornar ao meio dos outros indivíduos, para orientá-los. A política surge da pergunta: como influenciar as pessoas que não vêem? A resposta está na tarefa do sábio, que deve ensinar e governar. Trata-se da necessidade de transformação das pessoas e da sociedade, desde que essa ação seja dirigida pelo modelo ideal contemplado.

Platão e os dois mundos:Mundo sensível: é o mundo que percebemos pelos sentidos, é o mundo da multiplicidade, do movimento, é ilusório, pura sombra do verdadeiro mundo. Mundo inteligível: Acima do ilusório mundo sensível, há o mundo das idéias gerais, das essências imutáveis, que atingimos pela contemplação e pela depuração dos enganos dos sentidos. Como as idéias são a única verdade, o mundo dos fenômenos só existe na medida em que participa do mundo das idéias, do qual é apenas sombra ou cópia. Por exemplo, um cavalo só é cavalo enquanto participa da idéia de “cavalo em si”. Trata-se da teoria da participação, mais tarde duramente criticada por Aristóteles.

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Por exemplo, vamos considerar um conjunto de cavalos.

Apesar deles não serem exatamente iguais, existe algo que é comum a todos os cavalos; algo que garante que nós jamais teremos problemas para reconhecer um cavalo. Naturalmente, um exemplar isolado do cavalo, este sim "flui", "passa". Ele envelhece e fica manco, depois adoece e morre. Mas a verdadeira forma do cavalo é eterna e imutável. Então esses exemplares se encontram no mundo sensível enquanto a verdadeira forma, está no outro mundo, no mundo inteligível. Dessa forma, Platão se aproxima da teoria parmenidica, aliando-se aos ensinamentos de Sócrates, elabora uma teoria original. Do seu mestre aproveita a noção de logos, e ao continuar o processo de compreensão do real, cria a palavra idéia (eidos), para referir-se à intuição intelectual, distinta da intuição sensível.

O bemPara Platão, é a dialética que fará a alma

elevar-se das coisas múltiplas e mutáveis às idéias unas e imutáveis. As idéias gerais são hierarquizadas, e no topo delas está a idéia do Bem, a mais alta em perfeição e mais geral de todas: os seres e as coisas não existem senão enquanto participam do bem. E o Bem Supremo é também a Suprema Beleza. É o Deus de Platão.

Parmênides e HeráclitoPodemos verificar que Platão tenta

superar a oposição entre o pensamento de Heráclito, que afirma a mutabilidade essencial do ser, e o de Parmênides, para quem o ser é imóvel. Platão resolve o problema: o mundo das idéias se refere ao ser parmenidico, e o mundo dos fenômenos ao devir heraclitiano.

A ReminiscênciaComo é possível ultrapassar o mundo

das aparências ilusórias? Platão supõe pela teoria da reminiscência, que o puro espírito já teria contemplado o mundo das idéias, mas tudo esquece quando volta para prisão do corpo (“túmulo da alma”). Platão explica por essa teoria, como os sentidos se constituem apenas na ocasião para despertar na alma as lembranças adormecidas. Em outras palavras, conhecer é lembrar.

A teoria da reminiscência sustenta a hipótese da preexistência da alma em relação ao corpo. Sustenta que a alma é incorruptível e,

portanto, é imortal. A doutrina da reminiscência liga a alma às idéias e justifica que o homem as conheça. No diálogo Menon, Platão descreve como, ao examinar figuras sensíveis que lhe são oferecidas, um escravo é induzido a “lembrar-se” das idéias e a descobrir uma verdade geométrica.

Diálogos platõnicosPlatão compõe Diálogos, geralmente

chamados "diálogos socráticos", pois têm em Sócrates a personagem central. Entre esses está a Apologia de Sócrates, que pretende reproduzir a defesa feita pelo próprio Sócrates diante da Assembléia que o julgou e condenou. Porém, de certa forma, outros diálogos constituem também defesas que Platão faz de seu mestre, mostrando que nem era ímpio nem pervertia os jovens. Nessa categoria podem ser incluídos o Críton, o Laques, o Lísis, o Cármides e o Eutífron. Dentre os primeiros diálogos situam-se ainda o Hípias Menor (talvez também o Hípias Maior), o Protágoras, o Górgias — nos quais aparecem os grandes sofistas — e o lon. É possível que, também que na mesma época que fez estes diálogos, Platão tenha começado a escrever A República. Em geral, os "diálogos socráticos" desenvolvem discussões sobre ética, procurando definir determinada virtude (coragem, Laques; piedade, Eutífron; amizade, Lísis; autocontrole, Cármides). Mas são diálogos aporéticos, ou seja, fazem o levantamento de diferentes modos de se conceituar aquelas virtudes, denunciam a fragilidade dessas conceituações, mas deixam a questão aberta, inconclusa. Isso possivelmente estaria relacionado ao objetivo do próprio Sócrates, que se preocupava antes com o desencadeamento do conhecimento de si mesmo e não propriamente com definições de conceitos. De qualquer modo, algumas teses socráticas básicas podem ser encontradas nesses diálogos, como a da identificação da virtude com certo tipo de conhecimento e a da unidade de todas as virtudes. Os outros diálogos dessa fase manifestam duas preocupações que permanecerão constantes na obra platônica: o problema político (como no Cármides) e o do papel que a retórica pode desempenhar na ética e na educação (Górgias, Protágoras, os dois Hípias).Outro diálogosO BANQUETE: Sócrates, Agatão, Alcibíades e outros conversam a respeito do amor. Para Sócrates, o amor é um meio de atingir a visão do princípio eterno de todas as coisas belas, o belo em si. FÉDON: Na prisão, à espera da cicuta, Sócrates debate sobre a morte. O diálogo relata o

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caminho socrático, retomado e desenvolvido por Platão: o conhecimento como reminiscência e a doutrina das idéias. SOFISTA: A oposição verdade-erro, inerente ao combate socrático-platônico aos sofistas (vistos como mercadores de falsidades), renova-se nessa etapa final do platonismo. POLÍTICO: Platão retoma um dos temas centrais de sua reflexão filosófica: a caracterização do político e da arte de governar.

A República ou Politéia, traduzida comumente pelo latim República (de respública = coisa pública) é a obra mais extensa do autor, pertence à maturidade de Platão. Elaborada ao longo de vários anos, nela já estão presentes suas idéias mestras: Teoria do Mundo das Idéias; o Filósofo Rei, a imortalidade da alma, etc. Seu estilo é o diálogo, perguntas e respostas com o escopo de atingir a verdade (VII-534b). Composta por dez livros, inicia-se e termina com a discussão em torno da justiça como virtude maior, na consecução de um “Estado perfeito”.

A cidade justaPara Platão, a cidade justa deve ser

governada e administrada pelos filósofos e pelos homens da ciência. Cada classe cumprirá sua função para o bem da polis.

A polis injusta é aquela na qual o governo está nas mãos dos proprietários e, naturalmente não pensam no bem comum da cidade e, sem dúvida alguma, lutarão para preservar seus interesses econômicos particulares, ou nos militares que levarão a cidade em estado de guerra constante para contemplar e vislumbrar desejos particulares de honra e glória.

EducaçãoA educação deveria funcionar como

forma de desenvolver o homem moral, e deveria dedicar esforços para o desenvolvimento intelectual e físico dos alunos.

Os alunos deveriam ter aulas de retórica, debates, educação musical, geometria, astronomia e educação militar.

Platão afirmava também que a educação da mulher deveria ser a mesma educação aplicada aos homens.

Para implantar seu sistema de governo, Platão imagina que deve-se começar da estaca zero. O primeiro passo seria tirar os filhos das suas mães, para protegê-los dos maus hábitos. Nos primeiros dez anos, a educação será predominantemente física. Para contrabalançar com as atividades físicas, a música. A música aperfeiçoa o espírito, cria um requinte de sentimento e molda o caráter, também restaura a saúde.

Depois dos dezesseis anos, essas práticas são abandonadas. Assim os membros dessa comunidade teriam uma base psicológica e fisiológica. A base moral será dada pela crença em Deus. O que torna a nação forte seria Ele, pois ele pode dar conforto aos corações aflitos, coragem às almas.

Aos vinte anos, chegará a hora da Grande Eliminação, um teste prático e teórico. Começa a divisão por classes da República. Os que não passarem serão designados para o trabalho econômico.

Depois de mais dez anos de educação e treinamento, outro teste. Os que passarem aprenderão o deleite da filosofia. Assim se dedicarão ao estudo da doutrina e do mundo das Idéias.

A filosofia no poder: os reis-filósofos Na juventude, Platão alimentou o ideal de

participação política em Atenas. Depois, desiludiu com a democracia ateniense, confessou: “Deixei levar-me por ilusões que nada tinham de espantosas por causa de minha juventude. Imaginava que, de fato, governariam a cidade reconduzindo-a dos caminhos da injustiça para os da justiça”.

Abraçando a filosofia, adotou um novo ideal: “Fui então irresistivelmente levado a louvar a verdadeira filosofia e a proclamar que somente à sua luz se pode reconhecer onde está a justiça na vida pública e na vida privada”.

Para Platão, somente os filósofos, eternos amantes da verdade, teriam condições de libertar-se da caverna das ilusões e atingir o mundo luminoso da realidade e sabedoria.

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Por isso, no seu livro A república, imaginou uma sociedade ideal, governada por reis-filósofos. Seriam pessoas capazes de atingir o mais alto conhecimento do mundo das idéias, que consiste na idéia de bem.