figuras de estilo

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LEITURA Figuras de Estilo Uma figura de estilo é uma das marcas do texto literário. Além do seu valor artístico, que confere à frase originalidade, criatividade, ou beleza, importa apreciar o seu contributo para a melhoria do discurso, para a clareza ou sugestividade da frase em que é utilizada: com o uso de uma figura, o autor pretende apresentar o que escreve (ou o que diz) de uma forma mais bela ou mais eficaz, traduzir significações mais amplas, mais intensas, provocar em que o lê uma determinada impressão, isto é, conferir uma maior expressividade ao que escreve. Ao analisarmos o uso de uma qualquer figura, importa perguntarmo-nos: o que é que a frase ganhou por ter sido utilizada esta figura? E podemos até tentar ver como é que se expressaria aquela ideia se a figura não tivesse sido utilizada. A comparação entre a expressão de uma ideia de uma forma neutra e a sua expressão com o recurso a uma figura de estilo leva-nos a compreender o valor expressivo desta. Principais Figuras de estilo 1. Aliteração 2. Anáfora 3. Antítese 4. Apóstrofe 5. Comparação 6. Enumeração 7. Eufemismo 8. Gradação 9. Hipálage 10. Hipérbole 11. Ironia 12. Metáfora 13. Metonímia 14. Oxímoro 15. Perífrase 16. Personificação 17. Preterição 18. Prosopopeia 19. Sinestesia 1

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LEITURA

Figuras de Estilo

Uma figura de estilo é uma das marcas do texto literário. Além do seu valor artístico, que confere à frase originalidade, criatividade, ou beleza, importa apreciar o seu contributo para a melhoria do discurso, para a clareza ou sugestividade da frase em que é utilizada: com o uso de uma figura, o autor pretende apresentar o que escreve (ou o que diz) de uma forma mais bela ou mais eficaz, traduzir significações mais amplas, mais intensas, provocar em que o lê uma determinada impressão, isto é, conferir uma maior expressividade ao que escreve.

Ao analisarmos o uso de uma qualquer figura, importa perguntarmo-nos: o que é que a frase ganhou por ter sido utilizada esta figura? E podemos até tentar ver como é que se expressaria aquela ideia se a figura não tivesse sido utilizada. A comparação entre a expressão de uma ideia de uma forma neutra e a sua expressão com o recurso a uma figura de estilo leva-nos a compreender o valor expressivo desta.

Principais Figuras de estilo

1. Aliteração2. Anáfora3. Antítese4. Apóstrofe5. Comparação6. Enumeração7. Eufemismo8. Gradação9. Hipálage10. Hipérbole11. Ironia12. Metáfora13. Metonímia14. Oxímoro15. Perífrase16. Personificação17. Preterição18. Prosopopeia19. Sinestesia20. Sinédoque

Consultar a definição e exemplo de cada uma em: http://dt.dgidc.min-edu.pt

C. Análise do discurso, Retórica, Pragmática e Linguística textualC.1. Análise do discurso e áreas disciplinares correlatas

C. 1.3. Instrumentos e operações da retóricaC.1.3.1. Figuras de retórica e tropos

1. Aliteração

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Repetição da mesma consoante, muitas vezes na sílaba inicial de palavras contíguas, tanto no verso como na prosa. A aliteração contribui poderosamente para a musicalidade e para o ritmo do verso e da prosa, em particular da prosa poética, gerando efeitos de harmonia imitativa.Exemplos:“Solidões lacustres… / Lemes e mastros… / E os alabastros / dos balaústres” (Camilo Pessanha)“Deita o lanço com cautela / Que a sereia canta bela…” (Almeida Garrett)

2. AnáforaRepetição da mesma ou das mesmas palavras ou de expressões análogas no início de frases sucessivas ou de membros de uma frase, como processo de sublinhar e intensificar a expressão de um sentimento ou de uma ideia. Na anáfora, importa observar o que significa a palavra utilizada. Porque é que essa palavra (ou essa expressão) está repetida? O que se conseguiu com a repetição dessa palavra específica?Exemplo:“Amor é fogo que arde sem se ver,é ferida que dói, e não se sente;é um contentamento descontente,é dor que desatina sem doer.

É um não querer mais que bem querer;é solitário andar por entre a gente;é um nunca contentar-se de contente;é cuidar que se ganha em se perder.

É querer estar preso por vontade;é servir a quem vence, o vencedor;é ter com quem nos mata lealdade.” (Luís de Camões)

3. AntíteseFigura pela qual se exprime uma oposição de natureza lógico-semântica com base lexical ou sintática. Deverá analisar-se o que levou a essa oposição: complexidade de sentimentos, incerteza, contradições, estado de perturbação?…Exemplo:“O tempo o claro dia torna escuro,e o mais ledo prazer em choro triste;o tempo a tempestade em grã bonança” (Camões)

4. ApóstrofeFigura que consiste em o autor se dirigir exclamativamente a um destinatário antropomórfico ou inanimado, vivo ou morto, presente ou ausente, real ou fictício. Deverá ver-se qual a intenção desse chamamento.Exemplo:“Alma minha gentil que te partisteTão cedo, desta vida descontente,Repousa lá no céu eternamenteE viva eu cá na terra sempre triste.” (Camões)

5. ComparaçãoFigura que estabelece explicitamente uma relação de analogia entre dois termos que figuram nomeados no texto, normalmente correlacionados gramaticalmente por uma conjunção, um advérbio ou uma locução nominal apropriados. Na comparação, é notório o elemento comum entre os dois termos, visível num adjetivo, num substantivo ou numa forma verbal. A comparação pode contribuir para a revelação de relações novas e surpreendentes entre os seres, os objetos, os sentimentos, etc.

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Exemplos:“Vai como um cão de caça o meu olfato” (David Mourão-Ferreira)“A via-láctea se desenrolava / como um jorro de lágrimas ardentes” (Olavo Bilac)

6. EnumeraçãoFigura que consiste na nomeação acumulativa das partes de um todo ou de elementos que mantêm entre si uma correlação lógica ou semântica.Exemplo:“Mas agora fica exarado / num palimpsesto de inverno, por entre temporais, / inundações, ventos ciclónicos, neve e granizo, / temperaturas negativas, gente que ficou rasurada, ou /sem haveres e sem casa” (Vasco Graça Moura)

7. EufemismoFigura que consiste em atenuar ou suavizar o significado de palavras cruéis, grosseiras ou desagradáveis, substituindo-as por expressões em que essa carga negativa desaparece. Exemplo:Dizer “passou a melhor vida” ou “deixou este mundo” em vez de “morreu”.

8. GradaçãoFigura que consiste numa sucessão de palavras ou de grupos de palavras que, pela sua expressividade e intensidade de sentido, amplificam ou diminuem o significado e, se for caso disso, a força ilocutória do elemento textual anterior, podendo esta relação ter uma direção ascendente, até culminar num clímax, ou uma direção descendente. Importa salientar esse movimento ascendente ou descendente, interpretando-o..Exemplo:“Ameaçando a terra, o mar e o mundo” (Camões)

9. HipálageFigura que consiste em deslocar uma palavra, em geral um epíteto, para a associar a outra palavra, em geral um nome, à qual não convém semanticamente. Em regra, a hipálage associa a um nome de objeto ou de coisa um epíteto que convém a pessoas.Exemplo:“Ele olhava as sábias lombadas dos livros” (Carlos de Oliveira)

10. HipérboleFigura que consiste no aumento ou na dimensão excessivos do significado de uma palavra ou expressão, fazendo com que o seu conteúdo seja algo impossível de acontecer. Com esta figura pretende-se mostrar: excecionalidade, força, dimensão, extensão, poder…Exemplo:“ E julgareis qual é mais excelente, / se ser do mundo rei, se de tal gente” (Camões)

11. IroniaFigura que consiste na produção de um frase com um significado literal que diverge ou é mesmo contraposto ao significado que corresponde à intenção do emissor. É pelo contexto que se consegue compreender a ironia.Exemplo:“Se acha que a vida não é boa / utilize gás da Companhia / o combustível de Lisboa” (Alexandre O’Neill)

12. MetáforaConsiste na substituição de uma palavra própria por uma palavra com a qual aquela possui elementos de significação comuns. A translação ou a transposição do significado baseia-se

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numa analogia manifesta ou oculta, que a metáfora dá a conhecer. A metáfora contribui de modo relevante para a plurissignificação dos textos literários.A metáfora pode exprimir-se sob várias formas gramaticais: 

a) metáforas nominais (“A vida / é o bago de uva / macerado / nos lagares do mundo”, Carlos de Oliveira);

b) metáforas verbais (“Que flauta rude aveludou a minha noite?”, Vitorino Nemésio);c) metáforas adjetivais (“hão-de nos dar enfim uma sangrenta rosa”, David Mourão-

Ferreira).

13. MetonímiaFigura pela qual uma palavra ou expressão remete para um referente diverso daquele que designa normalmente, em virtude de uma relação de contiguidade entre ambos (continente/conteúdo, espaço/instituição,  autor/obra, parte/todo, causa/efeito). A metonímia permite fazer referência a um objecto, perspectivando-o de forma relevante (pelo destaque de uma característica pragmática ou cognitivamente mais saliente).No enunciado “Os capacetes azuis já chegaram ao local do conflito”, a expressão sublinhada refere por metonímia os soldados da ONU. No enunciado “Pessoa e Garrett estão na primeira prateleira”, os nomes dos escritores designam por metonímia as respectivas obras. No enunciado “Belém vetou a lei”, a palavra sublinhada designa metonimicamente o Presidente da República.

14. Oxímoro15. TENHO DE ME LEMBRAR DE COMO SCREVER(AM I RAYT?) ISTO

Figura que associa duas palavras ou expressões com significados logicamente opostos ou incompatíveis. Trata-se de uma associação de palavras contrária à lógica.Exemplo:“Amor é fogo que arde sem se ver,é ferida que dói, e não se sente;é um contentamento descontente,é dor que desatina sem doer.

(Luís de Camões)

16. PerífraseFigura que consiste em dizer com várias palavras o que se poderia dizer com uma única palavra ou de uma forma mais simples ou direta. Exemplo:“Era no tempo alegre, quando entrava / no roubador de Europa a luz febeia, / quando um e o outro corno lhe aquentava,/ e Flora derramava o de Amalteia” (Camões) (perífrase mitológica para designar a Primavera)

17. PersonificaçãoConsiste em atribuir propriedades humanas a uma coisa, a um ser inanimado ou a um ente abstrato.Exemplo:“Enquanto nesta manhã tão calma tão horizontal tão lisa / que me apetece passar-lhe a mão pelo dorso certamente dócil / manhã sem nenhuma ruga na testa” (Ruy Belo)

18. PreteriçãoConsiste em fingir não dizer o que efetivamente se está a dizer. Em geral, utiliza-se uma negação que incide sobre os chamados verbos dicendi – “eu não vou dizer”, “não

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mencionarei”, etc. - , ao passo que o complemento do verbo diz o que se finge querer omitir.Exemplo:“Nem tão-pouco direi que tome tanto / em grosso a consciência limpa e certa, / que se enleve num pobre e humilde manto / onde a ambição acaso ande encoberta” (Camões)Consiste em tratar um determinado assunto ao mesmo tempo que se afirma que ele será evitado, fingindo que não se quer falar dele.É conhecido o seguinte exemplo traduzido de Cícero: “Não vos direi pois, senhores, quão grandes e quão afortunados foram seus feitos na paz e na guerra, por terra e por mar; não só os cidadãos consentiram sempre nos seus quereres, os aliados lhe obedeceram, os inimigos se lhe sujeitaram, como os próprios ventos e tempestades lhe foram favoráveis.” E ainda este, de Camões, n’Os Lusíadas (I, 26), palavras de Júpiter a respeito dos Portugueses: “Deixo, Deuses, atrás a fama antiga, / Que com a gente de Rómulo alcançaram, / Quando com Viriato, na inimiga / Guerra Romana, tanto se afamaram.”

19. Prosopopeia20. LEMBRATE DISTO TAMBEM SEU FAGIT

Figura que tem muitas semelhanças com a personificação, mas que desta se diferencia por introduzir num enunciado, a falar, personagens mortas ou ausentes, seres sobrenaturais e seres inanimados.Exemplo:“Eu sou aquele oculto e grande Cabo / a quem chamais vós outro Tormentório” (Camões)

21. SinestesiaConsiste na associação, na mesma frase, de elementos semânticos provenientes de domínios sensoriais ou de esferas de perceção diferentes.Exemplo:“E o escuro ruído da chuva / é constante em meu pensamento” (Fernando Pessoa)

22. SinédoqueConsiste na translação do significado de uma palavra para outra, fundando-se na relação entre a parte e o todo ou entre o todo e a parte.Exemplos:“Vistes aquela insana fantasia / de tentarem o mar com vela e remo” (Camões)“As armas e os barões assinalados / que da ocidental praia lusitana / por mares nunca dantes navegados / passaram inda além da Taprobana…” (Camões)

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