ficha para identificaÇÃo - … · título: trabalhando o gÊnero carta do leitor: em foco, o uso...

30

Upload: buinhan

Post on 07-Oct-2018

215 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

FICHA PARA IDENTIFICAÇÃO PRODUÇÃO DIDÁTICO – PEDAGÓGICA

TURMA - PDE/2012

Título: TRABALHANDO O GÊNERO CARTA DO LEITOR: EM FOCO, O USO DE ELEMENTOS MODALIZADORES

Autora IRACY BOM GARCIA

Disciplina/Área Língua Portuguesa

Escola de Implementação do

Projeto e sua localização

CEEBJA - Centro Estadual De Educação Básica Para Jovens E

Adultos Profª Joaquina Mattos Branco

Município da Escola Cascavel

Núcleo Regional de Educação Cascavel

Professor Orientador Profª Ms Alcione Tereza Corbari

Instituição de Ensino Superior UNIOESTE - Campus de Cascavel

Relação Interdisciplinar História

Resumo

O presente trabalho consiste em verificar como se dá o uso dos modalizadores no gênero discursivo “carta do leitor”. O interesse em analisar o uso dos modalizadores justifica-se por considerarmos que essas marcas linguísticas constituem - se como estratégia argumentativa, marcam presença do locutor no texto. Ainda, acreditamos que o conhecimento e domínio desses recursos são importantes para que o educando da EJA saiba reconhecer e compreendê-los nos diversos textos que circulam socialmente, como também saiba usá-los em seus próprios textos como estratégia argumentativa.O aporte teórico adotado tem como base a teoria dos gêneros discursivos, pautada especialmente em Bakhtin (2010), o reconhecimento do gênero “carta do leitor”, amparando-nos, mais especificamente em Bezerra (2010); sobre os recursos argumentativos da modalização, amparadas em Koch (2011), Neves (2007), Castilho e Castilho (1992).O corpus da investigação é composto por cartas do leitor veiculadas no jornal O Paraná e por cartas do leitor produzidas pelos candidatos ao vestibular da Unioeste/2012. Para desenvolver atividades que propiciem aos educandos do CEEBJA Joaquina Mattos Branco, Cascavel-Pr apreender, refletir e analisar como os modalizadores se constituem na construção de sentido do gênero carta do leitor, a Unidade Didática foi escolhida para abordar o assunto.

Palavras-chave Gênero discursivo; Carta do leitor; Argumentação; Modalização

Formato do Material Didático Unidade Didática

Público Alvo Alunos do Ensino Médio do CEEBJA

2

APRESENTAÇÃO

O presente trabalho consiste em verificar como se dá o uso dos

modalizadores no gênero discursivo “carta do leitor”. O interesse em analisar o uso

desses recursos justifica-se por considerarmos que essas marcas linguísticas

constituem-se como estratégia argumentativa, revelam os sentimentos, as atitudes,

as intenções do locutor, enfim, marcam a sua presença no texto. Além disso, a

opção em trabalhar tais recursos presentes no gênero carta do leitor deve-se,

principalmente, ao fato de este instituir–se em um gênero que retrata diretamente a

interação e o jogo argumentativo entre os interlocutores. E, conforme preconizam as

DCE (PARANÁ, 2008), o gênero discursivo é uma prática social e deve orientar a

ação pedagógica com a língua.

Assim, o gênero carta do leitor se constitui como instrumento que amplia a

concepção do educando a respeito da tessitura do texto, ou seja, cada palavra

utilizada adquire uma dimensão e está associada à concepção e ideologia do seu

produtor. Ainda, propicia ao aluno perceber que esse gênero é permeado por um

jogo dialógico, entre o produtor da carta e o texto que a antecedeu, entre os leitores

e também entre os redatores da mídia em questão. Nesse processo dialógico,

possibilita também o desenvolvimento da competência linguística dos educandos,

aponta-lhes várias possibilidades de participação social como cidadão, usando

efetivamente a linguagem, visto que “eles conhecem o tema abordado, podendo

posicionar-se em relação a ele” (BEZERRA, 2010, p. 226).

Priorizar o estudo dos modalizadores nesse gênero justifica-se pelo fato de

demarcar, na superfície textual, a orientação argumentativa do texto. Também

direcionou a escolha do tema de estudo o pressuposto de que conhecimento e o

domínio dos recursos em questão são importantes para que o educando da

modalidade de educação de jovens e adultos - EJA saiba reconhecer sua função

nos diversos textos que circulam socialmente, como também saiba usá-los em seus

próprios textos como estratégia argumentativa. Ou seja, “para que possam percebê-

los no discurso do outro, como também usá-los em seu próprio discurso” (KOCH,

2011, p.107).

O aporte teórico adotado tem como base a teoria dos gêneros discursivos,

pautada especialmente em Bakhtin (2010); no que tange ao reconhecimento do

gênero “carta do leitor”, amparamo-nos em Bezerra (2010); sobre os recursos

3

argumentativos da modalização, ancoramo-nos em Koch (2011), Neves (2007),

Castilho e Castilho (1992).

O corpus da investigação é composto por cartas do leitor veiculadas no jornal

O Paraná e por cartas do leitor produzidas por candidatos ao vestibular da

Unioeste/2012. O trabalho pedagógico com a carta do leitor propicia ao educando

perceber que tanto a carta do leitor quanto quem a produziu não se constituem

isoladamente, isto é, quem escreve uma carta para ser publicada em um jornal ou

revista quer manifestar sua opinião a respeito de um fato que fora veiculado na

referida mídia. Assim, sua opinião está marcada, carregada de outras vozes,

também seu texto se constitui a partir do diálogo com o texto que foi veiculado e com

outros textos. Dessa forma, a carta do leitor é um texto dialógico, polifônico. Ainda

que o texto aparente objetividade e neutralidade, ele “manifesta sempre um

posicionamento frente a uma questão qualquer posta em debate” (FIORIN, 1995,

p.130).

Para desenvolver as atividades que propiciem aos educandos da EJA

apreender, refletir e analisar como os modalizadores se constituem na construção de

sentido do gênero carta do leitor, escolheu-se abordar o assunto por meio da

Unidade Didática.

4

CONTEXTUALIZAÇÃO DO TRABALHO

Dentre os mais variados tipos de cartas que circulam socialmente, este

trabalho se propõe a analisar o gênero discursivo carta do leitor e o uso dos

modalizadores utilizados como estratégia argumentativa nesse gênero. A opção em

trabalhar a carta do leitor se justifica por esse gênero instituir-se como uma forma

concreta que fornece efetivamente suporte para o uso da leitura e produção textual

com função social, isto é, atua como instrumento adequado aos propósitos

comunicativos dos interlocutores. Além disso, também, possibilita ao educando

conhecer a funcionalidade dos processos interativos, considerando o seu conteúdo

temático, a sua construção composicional e o seu estilo e a articulação desses

conhecimentos à construção da tessitura do texto.

Assim, considerando-se tais pressupostos, propõem-se atividades didáticas

com o gênero carta do leitor estruturadas nas principais etapas:

l) Leitura e análise de textos do gênero carta do leitor publicadas no jornal O

Paraná e cartas do leitor produzidas por candidatos ao vestibular da Unioeste/2012;

ll) Análise dos aspectos contextuais, composicionais e estilísticos que

compõem o gênero textual sob estudo;

lll) Análise dos modalizadores utilizados nas cartas dos leitores e nas cartas

dos candidatos na construção de sentido do texto;

lV) Produção de um texto do gênero carta do leitor a ser enviado à seção de

um jornal local, com o objetivo de manifestar-se a respeito de uma matéria veiculada

pelo mesmo.

5

INICIANDO O TRABALHO

Professor(a):

Converse com seus alunos a respeito dos conhecimentos que eles têm sobre o gênero carta. A seguir, algumas possibilidades de questões para iniciar a discussão.

a) Você costuma escrever cartas?

b) Você recebe cartas? Quais os tipos?

c) Quais os propósitos dessas correspondências?

d) Em algum momento, já teve que redigir uma carta? Em que circunstância?

COMPREENDENDO A FUNÇÃO SOCIAL DO GÊNERO CARTA

Professor(a):

Após a conversa inicial com o aluno, acerca do gênero carta, sugerimos que assistam a um trecho do filme Central do Brasil (1998), no qual é mostrada a personagem Dora, uma professora aposentada que escreve cartas para as pessoas que são analfabetas, na maior estação de trens do Rio de Janeiro, Central do Brasil. Esse trecho mostra que a carta é um dos únicos recursos que as pessoas dispõem para se comunicar com seus familiares, amigos, entre outros.

Disponível em: http://www.youtube.com/watch?v=kfOOjqr-yjQ

Caso os alunos tenham interesse em assistir ao filme todo, ele está disponível em: http://www.youtube.com/watch?v=VUSr_EXK54s

Discussão oral com base no vídeo

a) Com que propósito as cartas foram escritas?

b) Qual é a função que Dora exerce para as pessoas que a procuram?

c) Por que, num determinado momento do vídeo, são apresentadas apenas pessoas

falando de onde são? Justifique.

6

EXPLORANDO O GÊNERO CARTA

Alguns apontamentos sobre o gênero carta

Desde que surgiu na Grécia antiga, o gênero carta tem se adaptado de

acordo com as novas exigências tecnológicas e necessidades dos seus usuários.

Assim, a carta tem sido utilizada para os mais variados propósitos. Souto Maior

(2001) afirma que as cartas nos contam histórias (cartas bíblicas e cartas de épocas

coloniais) e nos possibilitam conhecimentos de tempos passados (cartas bíblicas,

cartas históricas, cartas literárias trocadas entre autores).

Cabe destacar que o primeiro registro documental da história do Brasil e

também considerado o primeiro texto literário brasileiro é uma carta, a Carta do

Achamento do Brasil, tida por muitos historiadores como certidão de nascimento

do Brasil. Nesse documento, o escrivão da frota, Pero Vaz de Caminha, revela ao rei

de Portugal, D. Manuel, suas primeiras impressões a respeito da terra e dos seus

habitantes.

Atualmente, o gênero carta é mais utilizado nas práticas públicas comerciais,

e conforme a intenção, o veículo de circulação e o contexto discursivo se elege um

tipo de carta. “É assim que temos carta pedido, carta resposta, carta pessoal, carta

programa, carta circular, carta ao leitor e tantas outras” (BEZERRA, 2010, p. 227).

Professor(a):

Explique aos alunos que a linguagem (formal ou informal) e o tratamento a serem utilizados na carta vão depender de aspetos relacionados ao contexto de produção, como a relação de intimidade dos correspondentes e do assunto a ser tratado.

EXEMPLOS DE CARTA DO LEITOR

A seguir, são apresentados alguns exemplos de textos do gênero selecionado, e

sugeridas algumas atividades.

7

Inicialmente, serão analisadas cartas de leitor que foram veiculadas no jornal O

Paraná no espaço destinado aos leitores, Do Leitor, caderno Opinião. Para os

interessados em publicar nesse espaço, o jornal informa:

Espaço do leitor Caro leitor, este espaço é destinado para críticas, sugestões, elogios e opiniões. Os comentários podem ser enviados para o e-mail [email protected], com a identificação do autor.

Professor(a):

É importante destacar que o gênero carta do leitor está associado a um texto anteriormente publicado no jornal ou na revista. Assim, ao dialogar com outro texto – concordando, discordando, elogiando, solicitando etc. – a carta constitui-se em um texto argumentativo. Assim, ao trabalhar com o gênero publicado no jornal, é interessante possibilitar ao aluno o acesso ao texto que motivou a escrita da carta.

CONTEXTUALIZANDO

Apresentamos, a seguir, apenas um pequeno trecho da reportagem que trata da

reeleição no país, que motivou a carta abaixo disponibilizada. Para ler o texto na

íntegra, acesse este endereço:

http://www.oparana.com.br/Paginas/20110318/edicaocompleta.pdf.

“A Comissão de Reforma Política do Senado aprovou ontem o fim da reeleição no

País, com a ampliação dos mandatos no Poder Executivo para cinco anos - que

valeria para presidente da República, governadores e prefeitos. Se for aprovada pelo

Congresso.”

(O PARANÁ, 18/03/ 2011) Carta do leitor

Fim da reeleição! Está certo proibir reeleição no Brasil, assim, pelo menos, os governantes se preocuparão em governar, porque, desde que a lei de reeleição foi instituída, governam mais preocupados com o próximo mandato em detrimento de uma boa gestão. Fora que oito anos não darão chance de os velhinhos voltarem à apoteose. Só no Senado tem mais de uma dúzia deles que esperam voltar à glória que o

8

“pudê” lhes dá! É muita estrela quase moribunda à espera do seu último brilho! Argh... Beatriz Campos, São Paulo, SP.

(O PARANÁ, 19/ 03/ 2011)

Professor(a):

Após a leitura silenciosa, procede-se à análise em relação ao contexto de produção, estrutura composicional da carta e conteúdo temático. Sugerem-se, a seguir, algumas questões.

ATIVIDADES

a) Por quem e para quem foi escrita?

b) Na carta, podemos identificar quem é o interlocutor? Justifique.

c) Qual é a função comunicativa dessa carta?

d) Qual é a intenção da leitora ao escrever a carta ao jornal O Paraná?

e) Geralmente, as cartas não apresentam títulos. Porém, ao serem publicadas em

jornal ou revista, normalmente elas são identificadas com títulos. Por que razão isso

ocorre?

f) Qual é o objetivo do jornal ou da revista ao destinar um espaço para os leitores?

g) A carta do leitor geralmente é um texto em que predomina a argumentação, a

exposição de um ponto de vista acerca de um fato ou tema. No caso da carta em

estudo, qual é a opinião da autora sobre o assunto debatido?

h) Você concorda ou não com a opinião da autora da carta? Use dois argumentos

para justificar seu posicionamento.

i) Considerando-se o perfil do público leitor e o veículo de circulação em que a carta

foi publicada, analise: a variedade linguística que predomina no texto é a mais

apropriada nesse caso? Justifique.

9

PALAVRAS NO CONTEXTO DE PRODUÇÃO

Leia:

“Fora que oito anos não darão chance de os velhinhos voltarem à apoteose.”

a) Levante hipótese: qual teria sido a intenção da autora ao utilizar a expressão “os

velhinhos” para se referir aos políticos?

b) Observe que a carta é finalizada com uma expressão que não é comumente

usada no gênero carta do leitor. Que sentidos podem carregar a expressão em

questão?

c) Circule, na carta acima, as retomadas da expressão “os governantes”. Observe

que elas vão agregando novos sentidos ao texto. As formas referenciais, nesse

caso, contribuem para a valorização ou depreciação daqueles que concorrem à

reeleição? Justifique sua resposta.

PESQUISA SOBRE o GÊNERO

Professor(a):

Após a leitura das cartas do leitor, sugerimos que solicite aos alunos que pesquisem exemplos do gênero carta do leitor em revistas diversas e/ou jornais, observando que função (opinar, agradecer, reclamar, solicitar, perguntar, elogiar, criticar, concordar, discordar) é mais frequente nesses textos.

Sugerimos verificar também qual é o veículo de circulação das cartas, destacando que, dependendo do veículo de circulação do gênero, a linguagem e o propósito comunicativo do locutor podem variar.

ALGUMAS CONSIDERAÇÕES SOBRE O GÊNERO CARTA DO LEITOR

Reconhecimento do gênero: contexto de produção, circulação e recepção

O gênero discursivo carta do leitor constitui-se em um gênero discursivo por

meio do qual o leitor interage com o editor do jornal e revista, e com outros leitores a

10

respeito de matérias publicadas nas referidas imprensas, por meio de uma seção

fixa de revistas ou jornais, denominada comumente de Cartas, Cartas do leitor,

Cartas à redação, Painel do leitor, reservada à correspondência dos leitores e que

atende a variados propósitos comunicativos. Conforme Cereja (2005, p. 259), são

alguns dos objetivos desse gênero:

elogiar ou criticar o jornal, a revista pela qualidade da matéria

publicada ou a forma como determinado assunto foi conduzido;

manifestar apoio ou discórdia em relação às ideias de um texto

publicado ou em relação aos fatos mencionados em um texto;

acrescentar informações, além daquelas contidas no texto publicado,

esclarecendo ou aprofundando alguns pontos de um debate;

comentar a carta de outro leitor, seja para concordar, seja para

discordar dela.

Assim, a carta do leitor consiste em um gênero de domínio público, cujo

conteúdo é de caráter aberto e, portanto, de leitura acessível, além de estar

relacionada aos fatos sociais políticos, econômicos, científicos recentes.

ESTRUTURA COMPOSICIONAL

Em relação ao aspecto composicional, a carta do leitor organiza-se a partir

dos seguintes elementos estruturais:

local e data

vocativo

assunto

despedida

assinatura

Cabe ressaltar, no entanto, que normalmente as cartas dos leitores, por

situarem-se num espaço de jornal ou revista, podem ser resumidas,

11

parafraseadas ou ter informações suprimidas, por falta de espaço ou por

posicionamento da edição em favor da revista ou do jornal. Desse modo, não

apresentam, quando publicadas, as aberturas (local, data, vocativo) e nem o

fechamento (despedida), características fixas desse gênero textual.

Ainda, conforme Bezerra (2010), diferentemente das outras cartas, a carta

do leitor configura-se como uma carta com coautoria: o leitor, de quem partiu o

texto original, e o jornalista, que o reformulou.

Dessa forma, a carta do leitor constitui-se num texto dialógico e polifônico,

pois estabelece diálogo entre os interlocutores e entre discursos das mais

variadas esferas sociais. É importante observar que tanto a carta do leitor quanto

quem a produziu não se constituem isoladamente, isto é, quem escreve uma

carta para ser publicada em um jornal ou revista quer manifestar sua opinião a

respeito de um fato que fora publicado na referida mídia. Assim, sua opinião está

marcada, carregada de outras vozes, e seu texto se constitui a partir do diálogo

com o texto que foi veiculado e com outros textos.

Faz-se necessário destacar que quando um leitor envia uma carta a um

jornal ou a uma revista, é necessário que se identifique com nome, número de

identidade e informe seu endereço, como se pode observar nas orientações

dadas pelas revistas, situadas no rodapé da página pertencente à Seção do

leitor.

As ESCOLHAS LINGUÍSTICAS NO GÊNERO CARTA DO LEITOR

No processo interativo e argumentativo em que se constrói o gênero carta

do leitor, o locutor recorre a diversas estratégias argumentativas que a língua lhe

põe à disposição para interagir com seu destinatário e alcançar o(s) objetivo(s)

que motivou a interação. Cada palavra adquire uma dimensão e está associada à

concepção e ideologia do seu produtor. Esse aspecto, segundo Bakhtin (2000),

refere-se às escolhas linguísticas – o vocabulário, as variedades linguísticas, as

formas gramaticais feitas pelo locutor, as quais se alinham à estrutura

composicional do gênero e às finalidades comunicativas.

12

ANÁLISE DE OUTRAS CARTA DO LEITOR

Os textos que seguem também foram publicados no jornal O Paraná no espaço

destinado ao leitor, denominado Do Leitor, no caderno de opinião.

CARTA 1

CONTEXTUALIZANDO

Há mais de vinte anos que representantes de várias entidades do Oeste do Paraná

lutam pela duplicação da BR 277 entre Cascavel e Foz do Iguaçu. A realização da

obra se justifica uma vez que vai garantir segurança a quem trafega pelo trecho, um

dos mais movimentados da 277.

A seguir, apresentamos um trecho de uma reportagem que fala sobre a BR-277.

Para ler o texto na íntegra, acesse o site abaixo:

http://www.oparana.com.br/Paginas/20110505/edicaocompleta.pdf

“Cascavel - Dois dias após o lançamento da campanha que incentiva familiares de vítimas de acidentes na BR-277 a entrarem com ações por danos morais e materiais contra a concessionária Ecocataratas, mais de 30 pessoas de diversas regiões do Estado procuraram a Acamop (Associação das Câmaras de Vereadores do Oeste do Paraná) para obter informações”. (O PARANÁ, 05/05/2011)

Carta do leitor

BR-277 Tanto se fala na questão da “rodovia da morte”, a nossa BR-277. A rodovia não mata ninguém, o que mata é a imprudência de muitos motoristas mal preparados e que não respeitam as limitações. Temos que mudar o foco. Precisamos sim de uma rodovia duplicada entre Cascavel e Medianeira, mas com vistas ao desenvolvimento da região Oeste. Que se tome logo a decisão de duplicar, pois cedo ou tarde quem vai pagar a conta é o cidadão, seja em forma de pedágio ou de impostos pagos todo

13

dia. Que seja cedo então. As vidas que se pouparão serão uma consequência de uma posição bem tomada. Almir Alberto Graeff, Cascavel, PR.

(O PARANÁ, 07/ 05/2011)

CARTA 2

CONTEXTUALIZANDO

Apresentamos, a seguir, apenas um pequeno trecho da reportagem que trata da

abertura da Rua Machado de Assis para criação de um novo binário. Caso queira ler

o texto todo, acesse este endereço:

http://www.oparana.com.br/Paginas/20100124/cidades.pdf.

“Cascavel - A abertura de dois novos trechos da Rua Machado de Assis, na Região do Lago, foi aprovada ontem durante audiência pública realizada na Prefeitura de Cascavel. O debate com a população era uma exigência do IAP (Instituto Ambiental do Paraná), já que a rua passará por dois braços do Lago Municipal de Cascavel”. (O PARANÁ, 24/01/ 2011)

Carta do leitor

Trânsito Já escrevi outras vezes para este espaço, criticando o trânsito conturbado da Avenida Carlos Gomes e Barão do Cerro Azul, em Cascavel. Acho que minha opinião é compartilhada por todos os motoristas e pedestres usuários dessas vias. Agora eu questiono qual é o interesse político na abertura da Rua Machado de Assis? Será que foi efetuado algum estudo para levantar o número de usuários dessa rua? Acho que gastaram dinheiro em uma rua pouco utilizada, visando a algum interesse futuro. Euclides Giehl, Cascavel, PR

(O PARANÁ, 23/03/ 2011)

Professor(a):

Para chamar a atenção dos estudantes sobre o contexto de produção das cartas, após a leitura dos textos citados, sugerimos algumas questões:

14

ATIVIDADES

a) Por quem e para quem foram escritas?

b) Qual o interlocutor preferencial das cartas?

c) Quando foram publicadas?

d) A linguagem está adequada ao veículo de circulação? Justifique.

e) A respeito de que fato ou tema os leitores/autores se posicionam, nas cartas sob

análise? Qual a opinião que apresentam sobre o assunto debatido?

f) Você concorda ou discorda com o ponto de vista expostos pelos leitores/autores?

Justifique seu posicionamento usando dois argumentos.

g) Nos dois textos, os autores utilizaram palavras ou expressões para manifestar sua

intenção, atitude e sentimentos em relação ao assunto por eles debatido. Identifique-

as.

h) Tais expressões são produtivas na argumentação instaurada no texto?

i) Os sinais de pontuação, em muitos casos, são usados para marcar as diferentes

entonações, reproduzir as emoções e intenções do falante. Diante disso, que efeito

de sentido as aspas utilizadas na expressão “rodovia da morte” imprimem ao

texto?

A) Palavras no contexto de produção

1 - Em relação à carta BR-277, uma das estratégias usadas pelo produtor do texto é

envolver seu interlocutor com o problema debatido. Procure no texto palavras ou

expressões que ilustrem essa análise.

2 - Essa forma de o produtor se apresentar na Carta 1 também é verificada na Carta

2? Explique.

3 - Compare as duas cartas e observe o efeito argumentativo dessas duas

estratégias.

15

B) Estrutura Composicional

Analise, na carta apresentada acima, os itens estruturais característicos desse

gênero discursivo. Para isso, responda às seguintes questões:

1 - Os aspectos formais da carta não estão presentes nos textos em estudo

(verificar explicação sobre estrutura da carta). Que itens foram suprimidos? Qual a

razão disso?

2 - Muitas vezes, além dos itens característicos da carta, omitem-se também

algumas partes do assunto para que a carta caiba na seção a ela destinada, em

jornais ou revistas. Isso pode comprometer o conteúdo da carta e os sentidos

propostos pelo leitor que a escreveu? Por quê?

MODALIZADORES

A expressão do ponto de vista do enunciador em relação a um fato é o que

chamamos de modalização. Podemos afirmar que a modalização é a projeção, no

enunciado, de marcas explícitas da opinião do enunciador.

Por ser frequente nos textos em que o enunciador deixa clara sua opinião a

respeito do assunto tratado, ela é bastante comum em textos argumentativos

(FARACO, 2011, p.182).

Professor(a):

É importante ressaltar que, no processo interativo e argumentativo em que se constrói o gênero carta de leitor, o locutor faz uso da linguagem e recorre a diversas estratégias argumentativas que a língua lhe põe à disposição para interagir com o seu destinatário.

Um desses recursos consiste no uso dos modalizadores, cuja função é, por meio de certas palavras ou expressões, revelar os sentimentos, as atitudes, as intenções do locutor, enfim, marcar a sua presença. Ao marcar o conteúdo, marca também o relacionamento com o interlocutor.

A modalização do texto se dá por meio de diversos recursos linguísticos que a língua oferece, conforme se explica abaixo.

16

Tipos de modalização

Os principais tipos de modalização, conforme Luiz Carlos Travaglia (2012), s/p

expressam:

a) Afetividade: Felizmente o João já chegou em casa. Diga sinceramente o que João achou da festa. Infelizmente João chegou tarde a casa. b) Certeza: João está em casa. (presente do indicativo) É claro que João está em casa. João realmente está em casa. c) Desejo (volição): Tomara que João esteja em casa. Gostaria que João estivesse em casa. Quero que João esteja em casa. e) Dúvida, incerteza: Talvez João esteja em casa. Acho/ Parece que João está em casa. f) Necessidade: É necessário que João esteja em casa. João precisa estar em casa. g) Obrigação ou obrigatoriedade: João tem que estar em casa. É obrigatório pagar o IPTU. h) Ordem ou determinação de que algo se realize (pedido, súplica, prescrição, conselho): João, esteja em casa quando eu chegar. (ordem) João, se eu fosse você estaria em casa quando seu pai chegar. (conselho) i) Permissão: João, você pode estar em casa, quando meu chefe for me visitar. j) Possibilidade: É possível que João esteja em casa. João pode estar em casa. l) Probabilidade: Provavelmente/ É provável que João esteja em casa. m) Proibição: João, eu te proíbo estar em casa, quando mamãe chegar. Disponível em: http:// www.moodle.ufu.br/pluginfile.php/mod_resource/content/1/

Para observar como a modalização, dependendo da situação comunicativa, pode

ser expressa de diversas formas, observemos algumas possibilidades de como a

frase a seguir pode ser enunciada.

As pessoas não escrevem mais cartas.

17

É possível que as pessoas não escrevam mais cartas. (possibilidade)

Certamente as pessoas não escrevem mais cartas. (certeza)

Talvez as pessoas não escrevam mais cartas. (dúvida)

Acho que as pessoas não escrevem mais cartas. (incerteza)

Provavelmente as pessoas não escrevem mais cartas. (probabilidade)

É necessário que as pessoas escrevam mais cartas. (necessidade)

As pessoas tem que escrever mais cartas. (obrigatoriedade)

ATIVIDADES

1 - Observe:

Com certeza Pedro viajou. Felizmente Pedro viajou. Talvez Pedro tenha viajado.

Nos enunciados acima, embora se aborde o mesmo conteúdo semântico, os efeitos

de sentidos são diversos. Isso acontece em razão do uso de diferentes elementos

modalizadores. Diante disso, responda: em qual enunciado o locutor:

a) assume como verdadeiro o conteúdo dito?

b) não se responsabiliza pelo que é afirmado?

c) emite um juízo de valor sobre o conteúdo?

2 - Leia:

Você pode ir ao cinema. Posso sair da sala? Os candidatos não podem chegar atrasados. A Maria pode ter ido à praia.

Observe que, nos enunciados acima, o verbo poder foi utilizado para expressar

diferentes sentidos.

a) Explique com que intencionalidade o verbo poder foi usado em cada um dos

enunciados.

18

3- Reescreva cada enunciado a seguir duas vezes, de modo que uma versão tenha

marcas de dúvida e a outra tenha marcas de certeza.

a) Ela é uma pessoa confiável.

b) O time vai ganhar o campeonato.

c) Viajará a Curitiba.

d) Ele deixou a sala de reunião em silêncio.

e) O segredo será revelado.

4) Reescreva a carta a seguir, usando modalizadores que confiram

comprometimento, responsabilidade do locutor sobre o que está afirmando, isto é,

que imprimam marcas de certeza.

Trânsito

Já escrevi outras vezes para este espaço, criticando o trânsito conturbado da Avenida Carlos Gomes e Barão do Cerro Azul, em Cascavel. Acho que minha opinião é compartilhada por todos motoristas e pedestres usuários dessas vias. Agora eu questiono qual é o interesse político na abertura da Rua Machado de Assis? Será que foi efetuado algum estudo para levantar o número de usuários dessa rua. Acho que gastaram dinheiro em uma rua pouco utilizada, visando a algum interesse futuro.

Euclides Giehl, Cascavel, PR

(O PARANÁ, 23/03/ 2011)

Professor(a):

A seguir, apresentamos mais um exemplo de carta do leitor que foi veiculada no jornal O Paraná no dia 25 de março de 2011, na coluna Do Leitor.

CONTEXTUALIZANDO

A seguir, apresentamos um fragmento da reportagem que aborda a validade da Lei

da Ficha Limpa nas eleições de 2012. Para ler o texto na sua versão integral, acesse

o site: http://www.oparana.com.br/Paginas/20110324/edicaocompleta.pdf

19

“STF (Supremo Tribunal Federal) anulou ontem a validade da Lei da Ficha Limpa

nas eleições de 2010. Com o voto do ministro Luiz Fux, o Supremo formou

entendimento de que a lei não poderia ter sido aplicada na última eleição por causa

do chamado princípio da anualidade.”

(O PARANÁ, 24/03/2011)

Carta do leitor

STF X cidadãos Houve cinco votos a favor à aplicação da Lei da Ficha Limpa em 2010. Deve ser porque é legal. Fico impressionado com a diversidade de opinião das Exªs sobre o mesmo caso, com base nas mesmas leis e mesmo processo. Parece que algo fora das leis é que decide o resultado final, em que o povo pagador de impostos sempre perde, quando do outro lado estão os políticos corruptos. Mário A. Dente, São Paulo, SP. (O PARANÁ, 25/03/2011)

ATIVIDADES

Após a leitura silenciosa, procede-se à análise em relação às condições de

produção da carta, destacando:

a) A respeito de que fato ou tema o autor se posiciona, na carta sob análise? Qual a

opinião dele sobre o assunto debatido?

b) Em sua opinião, o leitor utilizou argumentos convincentes para defender seu

ponto de vista? Justifique.

c) Na carta, o autor recorreu aos modalizadores para manifestar sua opinião,

sentimentos e atitudes frente ao assunto abordado por ele aos interlocutores. Esses

recursos estão destacados na carta.

l. Qual é o efeito de sentido que as expressões modalizadoras imprimem no texto?

ll. Esses recursos contribuem para a orientação argumentativa pretendia por seu

autor?

d) Reescreva a carta usando duas expressões modalizadoras diferentes das usadas

pelo autor. Depois, observe se as alterações propostas geraram efeitos de sentido

diferentes daqueles propostos pelo autor.

20

CARTAS DO LEITOR PRODUZIDAS POR VESTIBULANDOS

Professor(a):

Apresentamos a seguir uma carta produzida por uma candidata ao vestibular da Unioeste/2012. Nesse contexto, a vestibulanda não produziu a carta para ser publicada em uma revista ou jornal, mas com o propósito de atender à solicitação da proposta de redação do vestibular. Dessa forma, a candidata produziu o texto com o intento de ser aprovada na prova de redação e, consequentemente, ingressar num curso superior. Assim, ao produzir a carta, ela escreve para um interlocutor fictício, editor da revista, e, sobretudo, para seus interlocutores “reais”, os membros que compõem a Banca de correção de redação da universidade.

A seguir, a proposta de redação do concurso do vestibular.

PROPOSTA 1

Tomando como base na reportagem abaixo, escrita pelo colunista Simon Kuper e publicada na Revista Superinteressante de junho de 2011, escreva uma CARTA DO LEITOR ao editor da revista, posicionando-se em relação à COPA DO MUNDO NO BRASIL: POPULAÇÃO MAIS POBRE OU MAIS FELIZ?

Copa deixa você mais pobre. E mais feliz

Quando um país recebe o mundial, os ganhos não cobrem os gastos com estádios. Mas o grau de felicidade da população aumenta. E isso também pode ser medido em números por Simon Kuper No dia em que a África do Sul ganhou o direito de sediar a Copa do Mundo, em 2004, o bairro negro do Soweto, em Johanesburgo, gritou: “A grana está vindo!” Eles estavam expressando algo que os brasileiros devem ter ouvido: que sediar uma copa traz dinheiro. Mas esse argumento econômico é uma enganação. Os brasileiros vão descobrir logo. E os sul-africanos já o fizeram: a conta pela construção de estádios, em US$ 1,7 bilhão foi 6 vezes maior que as estimativas iniciais; a quantidade de turistas esperados foi bem menor que a prometida e a Fifa não deixou os sul-africanos pobres vender suas salsichas do lado de fora dos estádios. Que fique claro: uma copa não deixa o país mais rico. Gastar com uma copa significa menos hospitais e escolas. É preciso que fique claro o que significam os gastos públicos com a construção e a reforma de estádios. Trata-se de uma transferência. Benefícios que iriam para o contribuinte vão para os clubes. O preço da felicidade Mas o país ganha um belo extra: felicidade. O economista britânico Stefan Szymanski e seu colega Georgios Kavetsos pesquisaram dados de felicidade da população na Europa Ocidental entre 1974 e 2004, com questionários que buscam tabular isso em números, e

21

descobriram que, depois que um país recebe um torneio como o mundial ou a Eurocopa, seus habitantes se declaram mais felizes. O salto de felicidade é grande. O europeu médio reporta um grau de felicidade duas vezes maior por seu país ter sediado uma grande competição do que por ter feito curso superior. Para ter o mesmo impulso no grau de felicidade, só se a pessoa recebesse um grande aumento de salário. E esse ganho persiste: 4 anos depois de uma copa, cada grupo de indivíduos pesquisados estava mais feliz do que antes do torneio. O mais importante é entender qual é o propósito de uma copa. Se é para a felicidade geral da nação, faz sentido, sim, organizar a maior festa do mundo. Só não esperem ganhar dinheiro com essa festa. Adaptado da Revista Superinteressante, junho/2011.

ATENÇÃO

Sua carta deve ter, no mínimo, 20 linhas escritas. Assine sua carta com João ou Maria.

Produção de Carta do leitor de candidata ao vestibular que obteve a nota 5,01

Cascavel, 11 de dezembro de 2011.

Prezado Senhor editor da revista Superinteressante,

É realmente inegável a ansiedade da nação brasileira na espera pela Copa do

Mundo de 2014, até porque - sem dúvida nenhuma -, somos o povo mais apaixonado pelo

futebol. No entanto, caro editor, ao ler a reportagem “Copa deixa você mais pobre. E mais

feliz”, de Simon Kuper, confesso que o ponto de vista abordado pelo autor me deixou

intrigada. Afinal, não acredito na alusão de felicidade associada à pobreza.

Diante disso, prezado senhor, penso que provavelmente a maioria da população não

está a par dos prejuízos que um evento esportivo de tal porte traz ao país, outras tantas –

nem por um momento – imaginam que é com os impostos pagos por elas que são

financiados os investimentos em infra- estrutura necessários. Dessa forma, a felicidade, a

qual o Sr Kuper se remete, não é condizente com nossa realidade. Afinal, por todas as

partes do país, saúde, alimentação, moradia – necessidades básicas do ser humano -, são

extremamente precárias, o que não é novidade à ninguém. Concomitantemente a isso, o

dinheiro público está sendo empregado na geração de “felicidade” aos cidadãos. É

realmente uma lástima!

Além disso, “Que fique claro uma copa não deixa o país mais rico.” Concordo, e

ainda acrescento: deixa o país mais pobre! Afinal, a maioria dos trabalhadores – pelo menos

aqueles que sobrevivem com um salário mínimo -, não vão poder assistir aos jogos. Não é

mesmo senhor? No entanto, se não existem benefícios reais à população, pelo menos à

1 A nota máxima para a redação é 6,0.

22

maioria, não entendo e não compreendo o motivo de tanta festa e orgulho, ignorância

provavelmente.

Sendo assim, prezado editor, ficaria muito grata se a revista Superinteressante – a

qual tenho tanto apreço e admiração -, se comprometesse um pouco mais com a realidade

brasileira. Afinal, “O salto de felicidade é grande”, mas para os europeus, não para nós – ao

menos por enquanto.

Atenciosamente,

Maria

ATIVIDADES

Após a leitura silenciosa, procede-se à análise em relação ao contexto de produção,

estrutura composicional da carta acima e discussão do conteúdo temático. São

sugestões de perguntas para orientar a interação oral com os estudantes:

a) Qual é o tema que está sendo discutido?

b) Que variedade linguística predomina na carta? Essa variedade é a mais

apropriada para a produção desse gênero?

c) A carta do leitor geralmente é um texto em que predomina a argumentação, a

exposição do ponto de vista acerca de um fato ou tema. Qual é a opinião da leitora

sobre o assunto debatido?

f) Você concorda ou discorda da opinião da leitora? Pontue dois argumentos que

justifique seu posicionamento.

Professor(a):

Sugerimos, ainda, pontuar algumas questões para que os alunos percebam que a carta em questão, produzida com vista ao ingresso em curso superior, não apresenta as mesmas condições de produção, circulação e recepção da carta do leitor que circula socialmente. Abaixo, apresentamos algumas sugestões de questionamentos a serem feitos.

ATIVIDADES

23

a) Considerando o contexto de produção dessa carta, conforme especificado acima,

responda:

l. A proposta de redação simula uma situação de interlocução que responde a que

propósito?

ll. E qual foi o propósito da candidata ao escrevê–la?

lll. Quem é o interlocutor virtual da carta?

lV. E quem é o interlocutor real do texto?

Estrutura Composicional

Analise, na carta apresentada, os itens estruturais característicos desse gênero

discursivo. Para isso, responda às seguintes questões:

a) Que itens estruturais são característicos do gênero carta?

b) Se a carta analisada fosse publicada em uma revista ou um jornal, na seção

destinada à carta do leitor, ela seria publicada com a mesma estrutura como se

apresenta? Justifique.

c) Suponha que você seja o redator de uma revista ou de um jornal e receba a carta

acima para ser publicada, como você a publicaria? Escreva.

Estilo

Considerando o contexto de publicação simulado na proposta de redação, responda:

a) Qual o recurso linguístico usado pela autora da carta para estabelecer e manter o

diálogo com seu interlocutor?

Observe

“(...) o dinheiro público está sendo empregado na geração de “felicidade” aos

cidadãos. É realmente uma lástima!”

b) Com que intencionalidade as aspas foram utilizadas na palavra acima destacada?

c) Em uma passagem do texto, a autora lança uma pergunta ao editor: “Afinal, a

maioria dos trabalhadores – pelo menos aqueles que sobrevivem com um salário

24

mínimo -, não vão poder assistir aos jogos. Não é mesmo senhor?”. Que efeito de

sentido ela pretende atingir ao lançar mão dessa pergunta?

d) Levante hipóteses: se a carta acima citada fosse publicada em uma revista

direcionada ao público jovem, a autora usaria a mesma linguagem?

Professor(a):

Nessas atividades de análise linguística, foca-se o uso dos modalizadores como estratégia linguística importante na defesa de um ponto de vista e na construção dos argumentos que os sustentam.

Em atividade oral, analise com os estudantes os modalizadores na carta da candidata ao vestibular.

Análise de expressões modalizadoras

Na expressão É realmente inegável, o uso da palavra realmente expressa a

certeza contundente e um forte engajamento da locutora em relação ao que é dito,

leva o interlocutor a crer no que ele diz. Nessa mesma direção, o uso da expressão

sem nenhuma dúvida comprova e reafirma a certeza da leitora frente sua opinião a

respeito da paixão dos brasileiros em relação ao futebol e mostra a firmeza nas

palavras proferidas. Ainda, no mesmo parágrafo, o uso da expressão não acredito

contribui para reforçar suas convicções e convencer o interlocutor, a expressão

negativa, nesse caso, tem um valor de verdade.

Já no uso da palavra provavelmente, no segundo parágrafo, não há um

posicionamento definido, a autora lança uma possibilidade, denota a incerteza e a

isenção do locutor de responsabilidade pelo dito. Segundo Neves (2007),ao

demonstrar sua dúvidas e incertezas em seu discurso, o locutor ganha em

credibilidade, pois atenua o valor de verdade do seu enunciado. Em contrapartida,

ao utilizar a expressão nem por um momento a autora imprime ao seu discurso valor

de verdade e o comprometimento com o que diz, é uma estratégia argumentativa

para tentar convencer seu interlocutor. Ainda, para ratificar o comprometimento e a

certeza do que está afirmando, a locutora utiliza as palavras extremamente e

realmente .

Com a expressão que inicia o período “Que fique claro uma copa não deixa

o país mais rico.”, a produtora do texto reitera suas convicções e manifesta sua

25

certeza de que a realização da Copa do Mundo no Brasil não trará benefícios à

sociedade, ao contrário, segundo ela, a realização da Copa deixa o país mais pobre.

Trata-se de um recurso argumentativo que denota o comprometimento e não deixa

dúvida quanto a sua opinião e o conhecimento sobre o assunto. No entanto, ao usar

a palavra provavelmente, a leitora não confirma e nem assume seu posicionamento,

é uma estratégia para não ser responsabilizada e cobrada pelo que disse.

Professor(a):

Após a abordagem oral da função dos elementos modalizadores no texto, recomendamos apresentar algumas questões escritas, conforme sugerido a seguir.

ATIVIDADES DE ANÁLISE LINGUÍSTICA

Considere os seguintes fragmentos de cartas do leitor elaboradas por candidatos ao

vestibular:

Texto 1

(...)

Achei louvável a maneira como o escritor abordou o assunto. Pois, prezado

editor, o colunista fez questão de afirmar que “uma copa não deixa o país mais rico.”

O que, do meu ponto de vista e também do ponto de vista de especialistas nesse

assunto, é uma verdade. Acreditar, como muitos acreditam, que a vinda desse

campeonato para a nossa nação será a solução para grande parte de nossos

problemas é mera utopia.

(...)

Maria

Texto 2

(...)

Acredito, senhor editor, que Simon, ao usar somente a África do Sul como

exemplo, e a discorrer apenas dos pontos negativos do campeonato para esse país,

tendencia a opinião dos leitores. Ele os leva a pensar que todas as Copas só

trouxeram prejuízo ao país sede. Discordo do autor nesse ponto, visto que o

anfitrião, além de gastar com a construção de estádios, investe no setor de serviços

26

e na infraestrutura nacional, que são de proveito da população. Então, a Copa não

traz somente ônus aos habitantes do país.

(...)

Maria

ATIVIDADES

a) Qual é o posicionamento das autoras a respeito da realização da Copa do Mundo

no Brasil?

b) A seu ver, qual das cartas é mais convincente em seus argumentos? Justifique.

c) Que variedade linguística foi empregada nas duas cartas? Exemplifique.

d) No texto 1, com que intenção a autora utiliza a expressão “O que, do meu ponto

de vista e também do ponto de vista de especialistas nesse assunto é uma

verdade”?

e) No texto 2, ao usar as expressões “tendencia a opinião dos leitores”, ”Ele os leva

a pensar que todas as copas só trouxeram prejuízos ao país sede”, qual é a imagem

que a autora apresenta ter dos leitores da revista Superinteressante?

f) Escolha uma das cartas e a reescreva retirando as marcas de subjetividade mais

evidentes.

27

PRODUÇÃO DE TEXTO

Proposta de produção escrita e circulação do gênero carta do leitor

Professor(a):

Selecione uma matéria veiculada em uma revista ou jornal e reproduza-a para os alunos. Depois de uma leitura e análise atenta do texto, oriente-os para a produção de uma carta do leitor a ser publicada na revista ou jornal em que a matéria em estudo foi veiculada, emitindo sua opinião sobre o assunto tratado.

Para isso, considere as seguintes sugestões:

A observação das solicitações do jornal ou revista para a publicação do texto.

Adequação do uso da linguagem ao interlocutor e ao veículo de circulação do texto.

Os itens estruturais que compõem o gênero carta do leitor, assim como as informações que devem ser dadas a respeito do texto sobre o qual se comenta: data de publicação, número da revista, seção em que foi publicada, identificação da matéria pelo seu título e/ou pelo nome do jornalista responsável.

O diálogo com o interlocutor. A coerência entre a defesa de um ponto de vista e a organização dos argumentos.

O uso dos recursos linguísticos de acordo com os aspectos contextuais e estruturais do gênero e com os propósitos do texto.

Sugere-se que, depois de produzidas e reescritas as cartas, quantas vezes forem necessárias para atender aos objetivos de circulação, elas sejam enviadas por e-mail ao editor da revista ou do jornal, atendendo, com isso, à proposta de circulação do gênero.

28

REFERÊNCIAS

BAKHTIN, Mikail. Marxismo e filosofia da linguagem. São Paulo: Editora Hucitec, 2010. BEZERRA, Maria Auxiliadora. Por que cartas do leitor na sala de aula. In: DIONÍSIO, Angela Paiva; MACHADO, Anna Raquel (Org.). Gêneros textuais & ensino. São Paulo: Parábola editorial, 2010. CAMPOS, Beatriz. Fim da reeleição. O Paraná, Cascavel, p. A2, 19 mar.

CASTILHO, Ataliba Teixeira de; CASTILHO, Célia Maria Moraes de. Advérbios modalizadores. In: ILARI, Rodolfo (Org.) Gramática do português falado. 2. V. Campinas: Ed. Unicamp/Fapesp,1992. CEREJA, Willian Roberto; MAGALHÂES, Thereza Cochar. Texto e Interação: uma proposta de produção textual a partir de gêneros e projetos. São Paulo: Atual, 2005. COMISSÃO aprova cinco anos de mandato e fim da reeleição no País. O Paraná, Cascavel, p. A4, 18 mar. 2011. Disponível em: <http://www.oparana.com.br/Paginas/20110318/edicaocompleta.pdf>. Acesso em: 01 nov.2011.

DENTE, Mário A. STF X cidadãos. O Paraná, Cascavel, p. A2, 25mar. 2011.

FARACO, Carlos Emílio; MOURA, Francisco Marto de; MARUXO JÚNIOR, José Hamilton. Língua Portuguesa: linguagem e interação. 1. V. São Paulo: Ática, 2011. FIORIN, José Luiz; SAVIOLI, Francisco Platão. Para entender o texto: leitura e redação. São Paulo: Ática, 1995. GIEHL, Euclides. Trânsito. O Paraná, Cascavel, p. A2, 23 mar.2011.

GONÇALVES, Neo. Mais de trinta pessoas já procuraram a Acamop em apenas dois dias. O Paraná, Cascavel, p. B2, 05 mai. 2011. Disponível em: <http://www.oparana.com.br/Paginas/20110504/edicaocompleta.pdf>. Acesso em: 01 nov. 2011. GRAEFF, Almir Alberto. BR-277. O Paraná, Cascavel, p.A2, 07 mai.2011.

KOCH, Ingedore Grunfeld Villaça. Argumentação e linguagem. São Paulo: Cortez, 2011. NEVES, Maria Helena de Moura. Texto e gramática. São Paulo: Contexto, 2007.

SOUTO MAIOR, ANA Cristina. O gênero carta: variedade, uso e estrutura. Disponível em: <http://www.revistaaopelaletra.net/volumes/vol%203.2/Ana Christina Souto Maior--O gênero carta-variedade uso e estrutura.pdf>. Acesso em: 20 out. 2012.

29

STF anula validade da Ficha Limpa. Hoje, Cascavel, p.04, 24mar. 2011. Disponível em: <http://www.jhoje.com.br/Paginas/20110324/edicaocompleta.pdf>. Acesso em: 12 nov.2012.

TRAVAGLIA, Luiz Carlos. Módulo 16: alguns pontos importantes sobre o ensino de vocabulário. Disponível em:<http://www.moodle.ufu.br/pluginfile.php/mod_resource/c ontent/1/>. Acesso em: 15 ago. 2012. TRECHO é aberto para novo binário. O Paraná, Cascavel, p. B1, 24 Jan. 2011. Disponível em: <http://www.oparana.com.br/Paginas/20100124/cidades.pdf>. Acesso em: 04 nov.2012. Sites consultados Disponível em:<http://www.youtube.com/watch?v=kfOOjqr-yjQ> Acesso em: 26 set. 2012.

Disponível em: <http://www.youtube.com/watch?v=VUSr_EXK54s>. Acesso em: 17 out. 2012.