fich_a natureza sociológica do conflito

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A natureza sociológica do conflito – Simmel 1. O conflito como sociação Sociação: toda interação entre os homens. Conflito: uma das mais vívidas interações certamente pode ser considerado uma sociação. (Fatores de dissociação são as causas do conflito.) Conflito: destinado a resolver dualismos divergentes; é um modo de conseguir algum tipo de unidade, ainda que através da aniquilação de uma das partes conflitantes.▫ O conflito resolve a tensão entre os contrastes; Síntese de elementos que trabalham juntos. As formas antitética e convergente de relação são diferentes da mera indiferença entre dois ou mais indivíduos e grupos. A indiferença pode ser puramente negativa caso implique na rejeição ou no fim da sociação... - O conflito contém algo de positivo; todavia seus aspectos positivos e negativos estão integrados. (não podem ser separados empiricamente) 2. A relevância sociológica do conflito Todas as formas sociais aparecem sob nova luz quando vistas pelo ângulo do caráter sociologicamente positivo do conflito. - Antigamente só havia duas questões compatíveis com a ciência do homem: a unidade do indivíduo e a unidade formada pelos indivíduos. - O conflito significaria a negação da unidade (e por isso deixado de lado.) - Distinção (entre) relações que constituem uma unidade e aquelas que contrariam a unidade. - Todavia ambas as relações costumam ser encontradas empiricamente. - O indivíduo não alcança a unidade de sua personalidade exclusivamente através de uma harmonização exaustiva dos conteúdos da sua personalidade. - A contradição e o conflito não só precedem esta unidade como operam em cada momento da sua existência. Um grupo absolutamente centrípeto e harmonioso, uma união pura, é empiricamente irreal. - Uma sociedade precisa de quantidades proporcionais de harmonia e desarmonia, de associação e competição, de tendências favoráveis e desfavoráveis. - Mas essas discordâncias não são absolutamente meras deficiências sociológicas ou exemplos negativos: a sociedade é o resultado de ambas as categorias de interação, que se manifestam desse modo como inteiramente positivas. - A unidade compreende ambos os contrários. 3. Unidade e discordância Mal-entendido: segundo o qual um desses dois tipos de interação desfaz o que o outro constrói. (o que fica seria o resultado da subtração dos dois). - Mal-entendido: talvez derive do duplo sentido do conceito de unidade: 1. Unidade como concordância e consenso dos indivíduos que interagem em contraposição a suas discordâncias; 2. Unidade como síntese total do grupo de pessoas. Totalidade que abrange tanto as relações unitárias quanto as relações duais. - É comum desconsiderar esse segundo sentido. Imprecisão reforçada pelo duplo sentido de discordância/oposição: devido ao fato da discordância mostrar seu caráter negativo e destrutivo entre indivíduos particulares, concluímos ingenuamente que deve ter o mesmo efeito no grupo todo. ▫ - Todavia, algo que é negativo e prejudicial entre indivíduos, se considerado isoladamente, não tem necessariamente o mesmo efeito no relacionamento total desses indivíduos. ... Pois surge um quadro muito diferente

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A natureza sociolgica do conflito Simmel

1. O conflito como sociaoSociao: toda interao entre os homens.

Conflito: uma das mais vvidas interaes certamente pode ser considerado uma sociao.

(Fatores de dissociao so as causas do conflito.)Conflito: destinado a resolver dualismos divergentes; um modo de conseguir algum tipo de unidade, ainda que atravs da aniquilao de uma das partes conflitantes.O conflito resolve a tenso entre os contrastes;Sntese de elementos que trabalham juntos.As formas antittica e convergente de relao so diferentes da mera indiferena entre dois ou mais indivduos e grupos.

A indiferena pode ser puramente negativa caso implique na rejeio ou no fim da sociao...- O conflito contm algo de positivo; todavia seus aspectos positivos e negativos esto integrados. (no podem ser separados empiricamente)

2. A relevncia sociolgica do conflito

Todas as formas sociais aparecem sob nova luz quando vistas pelo ngulo do carter sociologicamente positivo do conflito.- Antigamente s havia duas questes compatveis com a cincia do homem: a unidade do indivduo e a unidade formada pelos indivduos. - O conflito significaria a negao da unidade (e por isso deixado de lado.)

- Distino (entre) relaes que constituem uma unidade e aquelas que contrariam a unidade.- Todavia ambas as relaes costumam ser encontradas empiricamente.

- O indivduo no alcana a unidade de sua personalidade exclusivamente atravs de uma harmonizao exaustiva dos contedos da sua personalidade.- A contradio e o conflito no s precedem esta unidade como operam em cada momento da sua existncia.Um grupo absolutamente centrpeto e harmonioso, uma unio pura, empiricamente irreal.- Uma sociedade precisa de quantidades proporcionais de harmonia e desarmonia, de associao e competio, de tendncias favorveis e desfavorveis.- Mas essas discordncias no so absolutamente meras deficincias sociolgicas ou exemplos negativos: a sociedade o resultado de ambas as categorias de interao, que se manifestam desse modo como inteiramente positivas.- A unidade compreende ambos os contrrios.3. Unidade e discordncia

Mal-entendido: segundo o qual um desses dois tipos de interao desfaz o que o outro constri. (o que fica seria o resultado da subtrao dos dois).- Mal-entendido: talvez derive do duplo sentido do conceito de unidade: 1. Unidade como concordncia e consenso dos indivduos que interagem em contraposio a suas discordncias; 2. Unidade como sntese total do grupo de pessoas. Totalidade que abrange tanto as relaes unitrias quanto as relaes duais.- comum desconsiderar esse segundo sentido.Impreciso reforada pelo duplo sentido de discordncia/oposio: devido ao fato da discordncia mostrar seu carter negativo e destrutivo entre indivduos particulares, conclumos ingenuamente que deve ter o mesmo efeito no grupo todo. - Todavia, algo que negativo e prejudicial entre indivduos, se considerado isoladamente, no tem necessariamente o mesmo efeito no relacionamento total desses indivduos.... Pois surge um quadro muito diferente quando visualizamos o conflito associado a outras interaes no afetadas por ele.- Os elementos negativos e duais desempenham um papel inteiramente positivo nesse quadro mais abrangente, apesar da destruio que podem causar em relaes particulares.4. O conflito como fora integradora do grupo

1 Grupos pequenos: uma certa quantidade de discordncia interna e controvrsia externa esto organicamente vinculados aos prprios elementos que mantm o grupo ligado.2 o papel positivo e integrador do antagonismo aparece nas estruturas que se distinguem pela nitidez e pela pureza cuidadosamente preservada de suas divises e gradaes sociais.Hostilidades: 1. Preservam os limites do grupo; 2. Garantem condies de sobrevivncia; 3. Fertilidade sociolgica direta: proporcionam novas possibilidades de posicionamento no interior do tecido social.

O desaparecimento de energias de repulso no resulta sempre numa vida social mais rica e mais plena.- isso no vlido s para a competio- isto vlido tambm onde o grupo se baseia nas atitudes dos seus membros.- a oposio a um companheiro no um fator puramente negativo.- [...] pode tornar a vida possvel, nos impedindo de dar passos desesperados.- a opresso aumenta na calma.- Principalmente porque oposio nos d alivio e pacincia.- nossa oposio nos faz sentir que no somos completamente vtimas das circunstncias.- coloca nossa fora prova conscientemente dando vitalidade e reciprocidade para viver certas condies.

- Oposio alcana esse objetivo mesmo onde no existe nenhum xito perceptvel.- consegue um equilbrio interior.- produz sentimento de poder virtual e desse modo preserva relacionamentos.

(Em tais casos,) * A oposio um elemento da prpria relao; est intrinsecamente entrelaada com outros motivos de existncia da relao. No s um meio de preservar a relao, mas uma das funes concretas que verdadeiramente a constituem.

Onde as relaes so puramente externas, de pouca importncia prtica, esta funo pode ser satisfeita pelo conflito em sua forma latente,isto , pela averso e sentimentos de mtua estranheza e repulso que, num contato mais ntimo, transforme-se imediatamente em dio e lutas reais.

Averso: condio da vida moderna (que coloca as pessoas em inmeros contatos)

Interao urbana: hierarquia extremamente complexa de simpatias, indiferenas e averses.- Esfera da indiferena relativamente limitada: pois nossa atividade psicolgica responde com um determinado sentimento a quase todas as impresses que vm de outra pessoa.- Indiferena: seria para ns to pouco natural quanto seria insuportvel o carter vago de inmeros estmulos contraditrios.A antipatia nos protege. * A antipatia a fase preliminar do antagonismo concreto que engendra as distncias e as averses, sem as quais no poderamos, em absoluto, realizar a vida urbana.

* A antipatia (sua extenso e combinao; o ritmo de sua apario e desapario; as formas pelas quais satisfeita) juntamente com elementos unificadores, produzem a forma de vida metropolitana em sua totalidade insolvel.(e aquilo que primeira vista parece desassociao, na verdade uma de suas formas elementares de socializao.)5. Homogeneidade e heterogeneidade nas relaes sociais* As relaes de conflito s produzem uma estrutura social somente em cooperao com foras unificadoras.Um indivduo no se liga ao outro por um elo apenas.Um indivduo se liga ao outro por mltiplos elos.

Conceitos analticos: so imperfeitos e enganosos.- ...Pq no refletem a multiplicidade de oscilaes variadas e contraditrias dos processos.

- Muito do que apresentamos como sentimentos misturados, opostos, so inteiramente coerentes consigo mesmos.

- .... falta ao intelecto calculador um paradigma para essa unidade.Esses fenmenos (sentimentos conflitantes) enquanto processos psicolgicos reais so muitas vezes homogneos.- Por no podermos design-los diretamente fazemos deles um concerto de elementos psicolgicos diversos.

Portanto, as relaes complexas entre diversos indivduos devem ser, muitas vezes, realmente unitrias.

*A distncia que caracteriza a relao entre dois indivduos associados no necessariamente resultado de um afeto e de uma repulso que se equilibrariam (contrabalanariam) (subtrao).A disposio interior da prpria relao podem ser essas distncias particulares.

A relao pode ser determinada pela natureza total dos seus elementos (e s em retrospectiva analisamos seu carter imediato naqueles dois fatores).

Ex: relaes erticas: no so o resultado de vrias tendncias entrelaadas, mas uma unidade. Na relao como realmente existe, a personalidade total de um atua sobre a personalidade total do outro.X Designamos tais relaes como sentimentos ou relaes mescladas, porque interpretamos os efeitos que deveriam ter as qualidades de um indivduo sobre o outro, se estas qualidade exercessem isoladamente a sua influncia.(mistura de correntes convergentes e divergentes no interior de um grupo) A estrutura pode ser sui generis, sua motivao e sua forma inteiramente coerentes consigo mesmas e apenas para conseguirmos descrev-las e compreend-las ns as mostramos, post factum, em duas tendncias, uma monista, outra antagonista.- ou tambm as duas de fato existem mas somente antes de se originar a prpria relao, pois na relao mesma elas se fundiram numa unidade orgnica, onde nenhuma delas se faz sentir como seu poder prprio isolado.

Desenvolvimento histrico (relaes): ,mostram num estgio inicial, uma unidade indiferenciada de foras convergentes e divergentes que s mais tarde se separam de maneira completamente distinta.

Ex: conselho do prncipe (fidalgos): interesses em comu com o prncipe / interesses de classes contra o prncipe (ntima fuso).

Cristalizao das instituies: (cuja tarefa resolver o problema do equilbrio no interior do grupo) muitas vezes no claro se a cooperao de foras em benefcio do todo toma a forma de oposio, competio ou crtica, ou de explcita unio e harmonia. - Fase de indiferenciao inicial passa para uma diferenciao posterior. Vista dessa segunda fase a primeira pareceria logicamente contraditria, mas estaria totalmente de acordo com o estgio no-desenvolvido da organizao.Relaes pessoaos (ou subjetivas): incio (diferenciadas): grande poder de decidir por amizade ou inimizade; Maturidade: relaes incompletas e equvocas entre as pessoas. (condies duvidosas de sentimentos) 6. O antagonismo como um elemento de sociaoAntagonismo: 1. sozinho no produz sociao. 2. Quase nunca ausente da sociao.3. Mas pode crescer a ponto de suprimir todos os elementos convergentes.Nos fenmenos sociolgicos h uma hierarquia de relaes: essa hierarquia pode ser construda a partir das categorias ticas.(sentimentos de valor com que acompanhamos as aes das vontades individuais classificam-se em certas sries.)- a mistura de relaes harmoniosas e hostis apresenta um caso nos quais as sries sociolgicas e ticas coincidem. (ao de A em relao a B)H sim conflitos que parecem excluir todos os outros elementos (ladro ou assassino e vtima por ex.) onde a mistura com elementos unificadores quase zero.- MAS se h qualquer considerao, qualquer limite violncia, a j existe um fator socializante.

quase inevitvel que um elemento comum se introduza na hostilidade, uma vez que o estgio de violncia declarada ceda a qualquer outro relacionamento. (embora essa nova realidade possa conter uma soma de animosidade exatamente igual entre as duas partes.)Ex1: Lombardos conquistam Itlia sec VI . tributo imposto de um tero da produo agrcola. Mas a participao forada dos lombardos nos empreendimentos nativos efetivou ao mesmo tempo uma inegvel convergncia de interesses.

Ex2: Escravido.sua ocorrncia produz sua prpria atenuao. O antagonismo termine uma vez alcanado certo limite, devido exausto ou compreenso de sua futilidade.

EX3: Monarquias tomam por lderes seus prprios prncipes osposicionistas. (como fez Gustavus Vasa). Ao fortalec-la, o governo na verdade a modera, atravs dessa medida conciliadora.

Ex4: Luta. Se o conflito for causado por um objeto ou vontade de ter ou controlar alguma coisa, pela raiva ou vingana, tal objeto ou estado de coisas desejado cria as condies que sujeitam a luta a normas ou restries aplicveis a ambas as partes ou rivais. - Desde que a luta se concentre num propsito fora dela mesma, modificada pelo fato de que, em princpio, todo fim pode ser alcanado por mais de um meio (alm da luta.)A - Quando o conflito simplesmente um meio, determinado por um propsito superior, no h motivo para no restringi-lo ou mesmo evit-lo, desde que possa ser substitudo por outras medidas que tenham a mesma promessa de sucesso.B - MAS quando o conflito determinado exclusivamente por sentimentos subjetivos, quando as energias interiores s podem ser satisfeitas atravs da luta, impossvel substitu-la por outros meios; o conflito tem em si mesmo seu propsito e contedo e por essa razo libera-se completamente da mistura com outras formas de relao.Tal luta pela luta parece ser sugerida por um certo instinto de hostilidade.

10 pontos fundamentais

1. Conflito resolve DD (dualismos divergentes tenso entre os contrastes)2. conflito contm algo de positivo mas seus aspectos positivos e negativos esto integrados.3. Conflito inerente s relaes / oposio: elemento da prpria relao.4. conflito; papel positivo: 1. Preservam limites do grupo;2. Garantem condies de sobrevivncia;3. Fertilidade sociolgica direta: proporcionam novas possibilidades de posicionamento no interior do tecido social.4. Pode tornar a vida possvel, nos impedindo de dar passos desesperados.5. Oposio nos d alvio e pacincia.6. Oposio nos faz sentir que no somos completamente vtimas das circunstncias.7. Coloca nossa fora prova conscientemente dando vitalidade e reciprocidade para viver certas condies.8. Oposio d: satisfao ntima, distrao, alvio, humildade e pacincia.9. Produz sentimento de poder virtual e desse modo preserva relacionamentos.5. relaes de conflito s produzem uma estrutura social somente em cooperao com foras unificadoras.6. elementos convergentes e divergentes homogneos (enquanto processos psicolgicos reais): no concerto de elementos psicolgicos diversos.7. Distncia que caracteriza a relao entre dois indivduos associados no necessariamente resultado de um afeto e uma repulso que se equilibrariam. (a relao determinada pela natureza total dos seus elementos)

8. Antagonismo: 1. Quase nunca ausente da sociaao ( quase inevitvel que um elemento comum se introduza na hostilidade)2. Sozinho no produz sociaao.3. Pode crescer a ponto de suprimir todos os elementos convergentes.