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FHC e a poltica social: um desastre para as massas trabalhadoras

FHC e a poltica social:um desastre para as massas trabalhadorasJos Paulo NettoO primeiro governo do Presidente Fernando Henrique Cardoso representou, para as massas trabalhadoras brasileiras, o que pode qualificar-se como um desastre.

Um governo, todavia, no como um corte de carne de vaca, em que se pode separar parcelas nobres de partes sebentas. Somente ingenuidade poltica ocorre distinguir os lados bons e os lados maus do desempenho de um governante.

Um governo se avalia pela direo social que imprime suas macropolticas, pelos contingentes populacionais que ela privilegia ou onera, pelas alternativas que instaura [...].2A direo social do primeiro governo FHC foi rigorosa, coerente e sistemtica: em aberta contradio com o seu passado democrtico e com suas promessas de campanha, FHC, desde os seus primeiros dias no Planalto, presidiu um governo direcionado contra os interesses e as aspiraes da massa dos trabalhadores brasileiros.3A inviabilizao da alternativa aberta com a Constituio de 19884FHC e sua equipe governativa no so responsveis pelo Brasil constituir, na ltima dcada do sculo, num exemplar monumento de injustia social expresso encontrada pelo historiador Eric Hobsbawn.

Resulta de um processo de formao histrica de largo curso, no interior do qual as camadas mais ativas das classes dominantes, mediante instrumentos de represso aberta e/ou mecanismos refinados de controle, revelaram-se capazes de erguer um sempre renovado sistema de privilgios e uma metdica excluso das classes e camadas subalternas dos avanos sociais.5A Constituio de 1988 consagrou este profundo avano social, resultado das lutas conduzidas por dcadas, pelos setores democrticos: sem ferir a ordem burguesa [...]

O essencial da Constituio de 1988 apontava para a construo pela primeira vez assim posta na histria brasileira de uma espcie de Estado de bem-estar social: no por acaso que, no texto constitucional, de forma indita em nossa lei mxima, consagram-se explicitamente, como tais e para alm de direitos civis e polticos, os direitos sociais (coroamento, como se sabe, da cidadania moderna).6Ao tempo que, no Brasil, criavam-se mecanismos poltico-democrticos de regulao da dinmica capitalista, no espao mundial tais mecanismos perdiam vigncia e tendiam a ser substitudos, com a legitimao oferecida pela ideologia neoliberal, pela desregulamentao, pela flexibilizao e pela privatizao elementos inerentes mundializao (globalizao) operada sob o comando do grande capital.

O desenho constitucional de 1988, logo que a Carta foi promulgada, configurou-se como o centro do debate poltico: para a massa dos trabalhadores a sua implementao representava a alternativa para reverter as consequncias econmico-sociais mais dramticas da herana da ditadura; para os setores ligados ao grande capital trata-se precisamente de inviabilizar esta alternativa.7Neste confronto, os setores dominantes comearam levando a melhor: foram capazes de um rearranjo poltico que lhes conferiu uma vitria eleitoral a presidencial de 1989 que teve como efeito uma sensvel desmobilizao dos setores populares.

Vitorioso no primeiro turno, FHC rapidamente deu efetividade ao projeto poltico do grande capital: sua base parlamentar, articulada fisiologicamente e reunindo as velhas e novas oligarquias, garantiu-lhe precisamente a inviabilizao do projeto social contido na Constituio de 1988.O projeto poltico de FHC e os direitos sociais8Tratava-se de implementar uma orientao poltica macroscpica que, sem ferir grosseiramente os aspectos formais da democracia representativa, assegurasse ao Executivo federal a margem de ao necessria para promover uma integrao mais vigorosa ao sistema econmico mundializado.

A desregulamentao implicava um outro movimento, diretamente referido ao Estado e com dupla face: de uma parte, uma forte reduo do papel empresarial estatal donde a selvagem dilapidao (privatizao) do ajuste estrutural, a reduo dos fundos pblicos para o financiamento das polticas sociais voltadas para a massa de trabalhadores.9Com a possibilidade de reeleio definida, FHC acelerou fundo: a orientao macroeconmica favoreceu escandalosamente a oligarquia financeira.

Pode-se debitar a FHC:O cancelamento, ainda que transitrio, de uma alternativa para saldar aquela dvida social eO sensvel agravamento das suas expresses mais imediatas. [...] a mais alta taxa de desemprego registrada na histria da repblica.10O alvo central do ataque do projeto poltico conduzido pelo primeiro governo FHC foi o conjunto de direitos sociais.

Ora apresentados como privilgios, ora grosseiramente mistificados como injustias, e sobretudo postos como financeiramente insustentveis, os direitos sociais foram objetos de mutilao, reduo e supresso em todas as latitudes onde o grande capital imps o iderio neoliberal.A sabotagem das polticas sociais: o estrangulamento na alocao de recursos11A anlise dos gastos ditos sociais do governo FHC, ao largo de quatro anos, comprova a sua firme disposio de, contendo ou reduzindo os recursos alocados implementao das polticas sociais e isto num quadro de crescimento das receitas da Unio deteriorar ao limite a prestao de servios.

Vejamos em quatro reas sociais de crucial relevncia para os trabalhadores, o estrangulamento conduzido por FHC:a) EducaoEstudos mostram uma contnua evoluo negativa, no primeiro governo FHC, dos valores autorizados para a Educao e Cultura.Enquanto cresciam as demandas, o governo FHC sistematicamente cortava recursos, e isto em todos os programas da educao.12b) SadeNo marco do Ministrio da Sade, o trato dos nmeros requer cuidados.Os recursos gerados pela CPMF foram desviados de sua destinao pelo governo FHC: dos 5 bilhes de reais gerados pela CPMF em 1997, somente 2,9 bilhes foram alocados para o Ministrio da Sade.

A poltica de estrangulamento dos recursos para a rea de sade, ao longo do primeiro governo FHC (quando, insista-se, a populao cresceu, os problemas ligados sade aumentaram e a receita da Unio subiu).13c) TrabalhoEm rea que interessa diretamente massa da populao, os investimentos do Ministrio do Trabalho foram tambm sistematicamente reduzidos.

d) Assistncia e PrevidnciaTambm os gastos federais com assistncia e previdncia sociais, se se compara a sua execuo em relao aos totais da receita tributria, foram regularmente reduzidos durante o primeiro governo FHC.A sabotagem das polticas sociais:a manipulao das receitas14O governo FHC no se limitou ao procedimento dos cortes valeu-se amplamente da manipulao de receitas, desviando dos seus fins precpuos para outras finalidades.

Este mtodo foi largamente empregado para inviabilizar [...] seguridade social.

A concepo de Seguridade Social, tal como posta na Constituio de 1988, enfrentou, nos anos imediatamente posteriores sua promulgao, a mais forte resistncia da grande burguesia, de seus representantes polticos e da burocracia estatal a seu servio.15A inexistncia de controles e critrios de gesto transparentes permitiu a Executivo federal o desvio de recursos oriundo das fontes do Oramento da Seguridade Social para saldar despesas estranhas s suas funes.

Analisando essa perversa manipulao, um especialista concluiu que no existe (dficit da seguridade social, mas, na verdade uma apropriao do oramento e das receitas da seguridade para financiar despesas que deveriam ser custeadas pelo Tesouro com fontes fiscais.Resultados: o dinheiro que no se perdeu e o caos na ponta das polticas sociais16Os recursos que o governo FHC cortou dos fundos pblicos para polticas e programas sociais no se volatilizaram no espao nem se perderam num ralo qualquer: eles foram remanejados e investidos em reas de direto interesse do grande capital, financiando especialmente o servio da dvida interna, que remunera um jogo especulativo sem precedentes na histria brasileira.

Ao longo de mais de um sculo de repblica, nunca houve um governo to generoso quanto o de FHC para com os investidores em papis federais: pagando religiosamente juros estratosfricos [...].17A dvida interna, assim como a externa, no parou de crescer no primeiro governo FHC: para alm da enganosa retrica segundo a qual os recursos obtidos com as privatizaes serviriam para reduzi-la.

No mesmo andamento em que os tomadores de ttulos pblicos so nababescamente recompensados, os usurios de servios que esto na ponta das polticas sociais experimentam o que o prprio governo considera um caos: os servios de educao e sade esto sucateados e precarizados, as prestaes oferecidas so de qualidade decrescente e sua cobertura efetiva cada vez menor. O que o governo oculta e mistifica, obviamente, que ele tem produzido sistemtica e intencionalmente esse caos [...].A poltica social do projeto liderado por FHC18O projeto conduzido pelo primeiro governo de FHC no exclui a poltica social mas a situa numa tica inteiramente diversa daquela que est escrita na Constituio de 1988.

A plena subordinao da poltica social estatal estratgia macroeconmica do grande capital a situa, naturalmente, nos parmetros mercantis: ela se torna funo da participao contributiva dos seus usurios, cancelando qualquer pretenso de universalidade com remisso a critrios de base meritocrtica. Da que sua marca evidente seja a segmentao dos usurios, determinando igualmente a qualidade das prestaes: para os que mais contribuem, prestaes qualificadas; para os que menos contribuem, prestaes desqualificadas.19Tais traos se condensam em duas orientaes gerais: a privatizao e a mercantilizao; ambas, porm, sinalizam claramente a desresponsabilizao do Estado em face da sociedade.

Processo de privatizao da assistncia j avana significativamente no Brasil.

No que restaria de pblico-estatal no mbito da assistncia, o projeto de FHC reduz o protagonismo do Estado a uma espcie de pronto-socorro social, donde um enfrentamento questo social caracterizado pelo focalismo das aes e de carter intermitente, derivado da natureza de uma interveno basicamente emergencial.20J a mercantilizao envolve prioritariamente a sade e a previdncia - aqui, trata-se de, reservando ao Estado um papel residual (vale dizer: cabendo-lhe a cobertura dos segmentos insolventes da populao), entregar ao mercado vale dizer: ao grande capital a organizao e a gesto dos seguros sociais e dos servios de sade.Rumo ao desastre nacional21O balano do primeiro governo FHC, no que toca a poltica social e feito a partir da perspectiva da massa de trabalhadores, oferece a exata fotografia do que Ivo Lesbaupin vem chamando de o desmonte do social.

[...] [FHC] lanou as bases para a continuidade do nosso histrico Estado de mal-estar social (na expresso de Francisco de Oliveira), mais cruelmente renovado agora sob a ofensiva conservadora de uma burguesia que predica o Estado mnimo para os trabalhadores e o Estado mximo para o capital.22A grande burguesia brasileira [...] no teme que o pas afunde; uma eventualidade como esta vai encontr-la num balnerio norte-americano, num paraso fiscal caribenho ou numa estao de esqui europia.