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ctrn ndo nriqu ardoso rquivo

i

Fernando Henrique Cardoso

CONDIÇõES SOCIAIS

INDUSTRIALIZAÇÃO DE SÁO PAULO :-)

Como se sabe, foina área do Estado de São Paulo,e mais especialmentena cidade de São Paulo, que opro-cesso de industrializaçãodo Brasil teve maior impulso.At é hoje, entretanto ninguém analisou sistemàticamenteas condições sociais quepermitiram o desencadeamentodêste processo. Ouso, contudo,apresentar o esbôço quesesegue na convicção de que os dados esparsos e os estudosexistentes já permitem que se indique,nas grandes linhas,

as condições sociais quesuscitaram ou favoreceram a industrialização de São Paulo.Creio, por outro lado, queas considerações que faço

neste artigo possuem algum interêsse para o público estrangeiro po r dois motivos principais.Primeiro porque oassunto em si mesmo podeter significaçãopara os estu-diosos que se interessam pelo conhecimento doBrasil edispõem de bibliografia escassa ou de acesso difícil. Segundo, porque,na verdade, quando seanalisa as condiçõesque possibilitaram a industralização de São Paulo está-sediscutindoas condições quepermitiram a industrializaçãode uma área subdesenvolvidacuja economia seassentavana agricultura de produtos de exportação. Ora,tal situaçãoé comum a muit as á rea s subdesenvolvidas, e, neste sentido, as considerações sôbre SãoPaulo podemser referidas

) Artigo escritopara a revista iencias Políticas y Sociales da

Universidad Nacional Autonomado México, México, D.F destinadoigualmenteà Revista Brasiliense.

SP e SP capital:processo deindustrialização:maior impulso

questão dascondiçõessociais

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comparativamente a out ras á reas não brasileiras resul

tando de sua análise explicações que possuem interêssegeral.O esquema usualmente utilizado para a explicação do

crescimento industrial Brasil e de São Paulo leva emconsideração apenas as condições econômicas e naturaisexigidas pela industrialização. Omite pois as condiçõessociais que a permitiram. Descreve-se o processo de industrialização como se fôsse possível criá-lo Integramente tôdas as vêzes que determinadas condições econômicas opropiciassem. Assim analisa-se o mecanismo pelo qual oBrasil como país econômicamente dependente ligava-seao mercado internacional enfatizando-se que numa economia de tipo colonial o fluxo da renda gerada pelo setorde exportação consumia-se na importação de produtos industriais fabricados pelos países altamente industrializados. Mostra-se em seguida que tôdas as vêzes que o mercado mundial sofr ia alguma alteração que afetava a possibilidade de manter êste sistema rígido de exportaçãoagrícola - importação industr ial aumentava a produçãonacional de bens industrializados. Dito noutras palavras:tôdas as vêzes que havia uma interrupção no fluxo para oexterior da renda ge rad a pelo setor de exportação da economia criavam-se estímulos para a aplicação desta rendano País. Por isto as guerras mundiais são geralmenteapontadas como s us s da industrialização Brasiluma vez que no seu decurso não havia possibilidade de

consumir a r enda gerada pela economia exportadora doPaís através da importação de produtos industr ia is cujoconsumo ao mesmo tempo continuava a ser requerido.Consideram-se pois as condições necessárias para a industrialização tanto ponto de vista mercado de capitais como do mercado de consumo de bens de uso.

~ outro lado a explicação corrente sôbre a razãopela qual os capi tais disponíveis nestes momentos de funcionamento anômalo mercado internacional tendiam a

inverter-se em São Paulo e não nou tr as á reas Brasilapela para duas ordens básicas de argumentação. Afirma

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-se que osgrandes capitais gerados pela economia de expor

t ação estavam em São Paulo, queera a região de economiacafee ira mais extensa e produtiva, e assegura-se que dentro do Estado de São Paulo foi a sua capital cidade deSão Paulo a área que mais se beneficiouem têrmos decrescimento industrial por causa de um conjunto decondições naturais ou morfológicas localização geográfica,água abundante para a exploração deenergia elétrica, rêdede comunicações etc.) quegarantiram o êxito da industrialização da cidade.

Embora estas explicações possuamalgum valor, creioque são parciais e, do ponto de vista sociológico, insatisfatórias, pois negligenciam a caracterização da naturezado processo de industrialização no Brasil.Isto é, deixamde considerar as condições sociais queatuaram como umpré-requisito para a industrialização nos moldesem queêste processo efetivou-se: omitem a discussãodo regimesocial de produção quepermitiu a industrialização.

Ora, como é sabido, a organizaçãoindustrial da produção supõe alémda tecnologia que serve desuporte parao sistema, um conjunto complexo de condições sociais quesurgiram, pela primeira vez na história, com o dvento c pit lismo O problema de compreender o desenvolvimento do processo de industrializaçonuma área dependente ou colonial liga-se diretamente, pois, ao de analisar-se as condições de formação dos is tema capital is tanestas áreas. Isto significa que o processo deindustriali

zação emqualquer região supõe, como pré-requisito, a existência de certograu de desenvolvimento capitalista, e,maisespecificamente, supõe a preexistência deuma economiamercantil e, correlatamente, implica num grau relativamente desenvolvidoda divisão social dotrabalho 1 . l :steúltimo processo,por sua vez, na medida em que se intensifica em moldes capitalistas,resulta na formação de ummercado especial, o defôrça do trabalho, que se organ izade forma a exprimir as relações de propriedade que sãogeradas pelo capitalismo: apropriação dos meios de pro-

tais discussões omitem

a discussão do regime

social de produção que

permitiu a

industrialização.

industrialização:

- certo grau de

desenvolvimento

capitalista

- preexistência de

uma economia

mercantil

- grau relativamente

desenvolvido de

divisão do trabalho

formação de um mercado especial: o de força de trabalho: exprime relações

de propriedade geradas pelo capitalismo:

- apropriação dos meios de produção por uma camada; manutenção da força

de produção por outra camada social

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dução por uma camada,manutenção da fôrça de produçãopor outra camada social.

Contudo; êstes pré-requisitos são criados peláorganização econômicacapitalista que antecede a produção propriamente industrial . Antes de existir como empresárioindustrial, o capitalista brasileiro já existia, nesta mesma.qualidade decapitalista, como comerciante, comoplantadorou como financista, e como tal, capitalista,criava as condições para a implantação regime capitalista de produção industrial.

O processo, no quetem de essencial, é o mesmodaformação sistema capital ista noutras áreas, secularmente conhecido. Assume, contudo feiçõesparticulares,historicamente variáveis. Estas, que são conhecidas emângulosparticulares, é que precisamser salientadas neste

trabalho.Tenhoprocurado mostrar, noutros trabalhos, a impor

tância decisiva que tevepara o crescimentoindustriai de

São Paulo a organização econômica dasfazendas do OestePaulista 2). Nelas ougraças a elas realizaram-se historicamente as condições básicas que antecedem o desenvolvimento indus tr ia l cap ital is ta . Não m e refiro ao fato deque a pl nt tion era um t ipo de exploração econômica capazde gerar grandes massas de lucros e divisas,apesar dasignificação que isto possuipara o financiamento da industrialização. Pensomais nas nov s ondições e onômi sde produção da fazendacafeeira OestePaulista. A velhafazenda de café Vale do Paraíba, como a exploraçãoanterior açúcar Nordeste, também produzia bonslucros, entretanto, mesmo queas condições referidas noinício dêstetrabalho como favoráveis à industrialização alteração po r qualquerfator estranho à dinâmicainternado sistema no circuito importação-exportação tivessemoperado no período daquelas explorações, não creio que aindustrialização pudesse iniciar-se, então, no Brasil.Tantoo café Vale Paraíba, como o açúcar Nordeste,eram explorados nos moldes doslatifúndios escravocratastípicos do Brasil. :Êstes,po r causa de alguns de seus aspeç-

capitalistabrasileiro:existia comocomerciante,plantador oufinancista:criacondiçõespara ocapitalismoindustrial

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tos pr incipalmehtepor produzirem lucros) têm sido con

siderados por muitos autores como formas capitalistas deexploração. Possuíam, contudo,muitas características que,segundo suponho,impediam realmente o desenvolvimentode formas propriamente capitalistas de produção. Bastareferir à escravidão e,correlatamente com ela, à condiçãode empreendimentos autárquicos dos latifúndios escravocratas. Ora, exatamente a produção mercantil generalizada tanto no latifúndio monocultor cafeeiro como noaçucareiro apenas a produção para a exportaçãoera mer

cantil), e a existência detrabalhadores livres são os pressupostos necessáriospara o desenvolvimento capitalista.Como não se podiam desenvolvernas plantações do velhoestilo, também não se podiageneralizar internamente, noPaís, o sistema capitalista: não se criavam mercados, ne ma massa de re nd a g er ad a pelas emprêsas dividia-se emlucros e salários.

A nova fazenda de café do OestePaulista, ao contrário, ganhou impulso no período de declínioda escravatura, cujo golpe decisivohavia sido desferido pela proibição do tráfico negreiro em 1850. O preço do escravonas duas décadas que antecederam a Abolição 1888) jánão compensava econômicamentesu a utilização. O fazendeiro paulista do Oeste do Estado passou, então, a importar mão-de-obra livre e tornou-se, até, abolicionista.Pe rd ia s ua condição de s nhor para tornar-se um mpr -sário capitalista. Em vez de comprar escravos, alugava.

a fôrça de trabalho de homens livres. E sequer precisou,como seus antecessorescapitalistas europeus, libertar pelaviolência seus trabalhadores dos meios de produção quepossuíam: importou-os já inteiramente livres, isto é, livres juridicamente e livres da posse de meios einstrumentos de trabalho. Tampouco compart ilhou das afliçõesdos primeiros colonos americanos: a terra já não era tãodisponível nos finsdo século dezenovepara que dela seapropriassem os imigrantes livres. Quando qualquerbran

co livre podiaapropriar-se da terra, só havia u m rec urso- o escravo. Agora, de novo, osbrancos livres: o supri-

escravizado:

nãocompensavamais: entãofazendeiros:abolicionistas

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mento de escravos escasseava e o desenvolvimento econô

mico e social País expresso na sua consciência jurí-dica garantia que o imigrante ser ia inapelàvelmente fôrçade trabalho disponível. Fôrça de trabalho que ademaisera tecnicamente superior à escrava e mais barata.

N a fazenda de café do Oeste Paulista por outro ladointensificou-se o processo de racionalização da emprêsaeconômica. Para isto a transformação na qualidade damão-de-obra empregada teve também importância fundamental. Os historiadores e os economistas referem-se aosentraves que a mão-de-obra escrava impunha à ação econômica racional nos latifúndios. B as ta pensar que nosmomentos de crise da economia açucareira ou cafeeira amão-de-obra escrava disponível tinha de ser mantida istoé o senhor via-se na contingência de alimentar e vestirseus escravos. O recurso era sua aplicação mais intensanas atividades de mera subsistência e a continuação daprodução que não encontrava mercados acumulando-se os

estoques. A mão-de-obra assalariada ao contrário per-mite pura e simplesmente sua dispensa nos momentos deretração. Além disso a economia cafeeira teve um impulsoenorme nos fins do século passado do que resultou um acomplexidade muito maior nas relações econômicas quepermi tiam sua ligação com o mercado internacional. Porum lado todo um sistema de articulações entre a área doOeste Paulista e os portos de exportação teve que se rcriado. Disto desincumbiram-se os fazendeiros-capitalis

tas que inverteram somas consideráveis em estradas deferro como a Paulista e a Mojiana. Por outro lado a comercialização do produto à medida que crescia sua importância na pauta de exportações tornava-se também maiscomplexa exigindo uma rêde de casas comissárias paraa exportação e de bancos para o financiamento da qualos próprios fazendeiros não estiveram ausentes.

O fazendeiro de café nestas condições tornava-se umempreendedor capitalista. Absenteísta passou a gerir apropriedade rural através de administradores e capatazesocupando-se mais com a aplicação e o rendimento do ca-

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COND. SO o DA INDUSTRIALIZAÇÃODE S PAULO 37

pital do que com a administarçãodireta do trabalho. Ha-

bitante da cidade possuía amente mais aberta às inovaçõestecnológicas e ao espírito de racionalizaçãoda emprêsado que seus antecessores emuitas vêzes antepassados doperíodo cafeeiro do Vale do Paraíba.

Os historiadores referem setambém ao fato de queas fazendas do Oeste Paulista, exatamente por não seremautárquicas fomentaram ou permitiram o crescimento denúcleos urbanos. Compreende se arazão disto: o fazen-deiro que alugava afôrça de trabalho do imigrante cal-culava como capitalista que se tornava, a rentabilidadedo capital variável invertidona emprêsa sob a forma desalários. E é sabido quenuma economia de tipo colonialo setor exportador remunera muito mais o capital inver-tido do que qualqueroutro tipo de atividade econômica.Noutras palavras: o trabalho aplicado no setor propr ia -mente mercantil da economia gera muito mais capital doque aquêle aplicado em qualquerout ro setor da atividadeeconômica. Sendo assim o fazendeiro cuidava deaplicarinteiramente a fôrça de trabalho que comprava na produ-ção do café. Quebrava se aestrutura auto suficiente dolatifúndio escravocrata. Entretanto, como é sabido osimigrantes geralmente cultivavamentre os pés de caféprodutos queserviam à sua subsistência. Mas não é ape-nas a agricultura de subsistência que define aemprêsaagrícola autárquica: a roupa os utensílios detrabalho eos domésticos e tudo omais que no períodoescravocrata

era produzido nopróprio latifúndio deixa de sê lona novafazenda de café. O fazendeiro não combatia a plantaçãode milho ou de qualqueroutro tipo de produto agrícola namedida em que o colono imigrante cuidava dêstes semprejudicar a lavoura do café. E não aimpedia por umaoutra razão também: porque os imigrantes davam prefe-rência ao trabalho nas fazendas que os deixavamcuidarde suas plantações particulares, e em muitos períodos aconcorrênciana procura da mão de obraera intensa obri-gando os fazendeiros aestas concessões. Do ponto de vistaque ora nos interessa esta cul tu ra suplementar tem uma

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38 REVISTA R S I L I E N S E

importância acentuada porque nãoera fora do comum a

produção pelos colonos de víveres além desuas necessida-des imediatas de consumo. Êste excedente era vendidonos núcleos urbanos aumentando pois a capacidade deconsumo doimigrante ·ou quandoêste era contido suaspossibilidades deescapar da vida agrícolagraças às eco-nomias acumuladas que podiamn t ~ o ser invertidas empequenos negóciosnas vilas e cidades.

Numa economia dêstetipo é fácil compreender queos núcleosurbanos passavam a exercer funções econômicasimportantes refletindo a intensificação do processo de -

visão social o trabalho acarretada pelas condições sociaisde produçãoda fazenda baseada na mão de obra livre.Tôda a distribuição dasmercadorias necessárias ao con-sumo das fazendas fazia se através das cidades mesmoquando havia os famosos barracões ou empórios quemonopolizavamna etapa final a distribuição dos produtos.Ê que geralmente êstes barracões abasteciam se nosmer-

cados urbanos. medida queprosperava a economia ca-feeira ampliava se o fluxo detrocas como conseqüênciado aumentoda capacidade de consumo deagricultores eem menor escala dos colonos. A capacidade de consumodêstes últimos mesmo daqueles cujas chances demelhoriade .vida istoé de ·escaparda condição de colonosera pe-quena não se podiacomparar com os hábitos de consumodos escravos.

Generalizava se pois a economiamercantil. Criava- se um mercadopara o consumo deprodutos industriaisembora êstes na sua quase totalidade fôssem importados.

Dentre todos os núcleosurbanos que se beneficiaramcom a expansãoda lavoura cafeeira nenhum superou acidade de São Paulo.Para isto houvevárias razões. Emprimeiro lugar o novo eixo econômico doEstado passavapela cidade demandando oPôrto de Santos. Todo o co-mércio o café paulista fazia se apenas em São Paulo eSantos. Por outro lado São Paulo comocapital da Pro-víncia foi ogrande mercado de mão de obraimigrante.

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COND. soe. DA INDUSTRIALIZAÇÃODE S PAULO 4

ção de mercadorias estrangeiras, estas condiçõesatuaram

como uma barreira protecionistanatural . E isto tevealguma importância,já que, como é sabido, a política protecionista no Brasil ou foi prematura e inócua como atarifa Alves Branco em 1844 , ou foiposterior criaçãodas indústrias de um dado ramo da a tividade econômica,aparecendo já como fruto da pressão dos industriais cont ra a concorrênciaestrangeira ou o imperialismo.

Estas condições econômicasforam necessáriaspara aindustrialização,mas nã o são suficientespara que se expli

que êste processo no Brasil. Oquadro explicativomaisamplo só se completa quando se considera que nt rior-

m nt a economia brasileira sofrera modificações que diziam respeitoao próprio regime social de produção.Intensificara-se o processo de organizaçãocapitalista da vidaeconômica: a produçãopassara a ser baseada na mão-de-obra livre e apoiava-se numa estrutura mercantil generalizada, o que supõe a criação de um mercado consumidore de um mercado de mão-de-obra.Foi por isto, e só por

isto, que aárea do Brasil,cuja economia nacional comoumtodo sofreu os impactos dasguerras e das crises cambiais,onde o processo de industrializaçãopenetrou mais profundamente foi em São Paulo,uma vez quenesta última região,como vimos,as condiçõescapitalistas de produçãohaviamcomeçado a operar desde o último quartel do século dezenove, noutros setoresda atividade que não oindustrial.Além de São Paulo, nosfins do século dezenove e iníciosdo século vinte, houveuma o utra á re a na qual seria possível prever-se umsurto industrial: o Rio Grande do Sul.E, de fato, a produçãoindustrial daquela região chegou ater um a significação, na época apontada, paralela à deSão Paulo. Explica-se: também lá houve a imigração detrabalhadores livres anterior mesmo imigração paraa lavoura paulista), e surgiram, também, condiçõesparaa formação de um mercado regional.Entretanto, a industrialização do Rio Grande nãoassumiu as mesmas pro

porções da que ocorreu em São Paulo.Também se explica:o imigrante do sul era proprietário do seu lote de terra,

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eOND. soe. DA INDUSTRIALIZAÇÃODE PAULO 43

para as cidades na mesma condição que chegou ao Novo

Mundo: l ivre de qualquer propriedade.Entretanto, nestecaminho de voltapara as cidades os imigrantes ou seusdescendentes vieram freqüentemente encontrar-se comantigos patrícios mas já agora uns como patrões outroscomo operários. Uns fizeram a América a custa dosoutros.

Os antigos escravos não foram, em regra, aproveitados pela indústria nascente 4). A condição de homensjuridicamente livres não alterou nêles naturalmente, amentalidade e os hábitos de escravos queeram incompatíveis com o t rabalho assalariado livre nas indústrias. Oprocesso de absorção dos negros livres pelasindústrias émais recente data dos últimos vinte anos e realizou-seposteriormente a um longo período em que os ex-escravose seus filhos viveram nodesregramento e na miséria suportando sob seus ombros acarga de privações e de bestialização que na Europa, os primeiros trabalhadores livresda indústria e os camponesesarruinados pela penetraçãocapitalista nos campostiveram que sofrer. O que não significa que o ex-escravo nãotenha exercido um papel importante na industrializaçãodo Brasil: contribuíram, sejacomo fôrça de trabalho eventualmente disponível sejacomo símbolo do trabalho aviltado para o barateamentoda mão-de-obra.

Só mais recentemente tem havido o aproveitamentopela indústria da mão-de-obra que élibertada do trabalhorural por causa da introdução da tecnologia moderna oupela apropriaçãocapitalista da terra, quando então o processo de proletarização é antecedido pelo deexpropriaçãode posseiros e usuáriostradicionais de lotes de terra. Êsteúltimo processo não é também suficientemente conhecidoo que impede a avaliação desua importância para a for-mação do contingenteoperário brasileiro. Parece, contudoque se a êle somarmosoutros processos que lhe são concomitantes, como o do arruinamento de pequenos sitiantes

das áreas mais atrasadas do País, sua importância é considerável. Osuprimento de mão-de-obra desqualificada de

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R E V I S T R S I L I E N S E

São Paulo, nos últimos anos, vem sendo assegurado, exatamente, pelas populações rurais miseráveis da s áreas deeconomia de subsistência, sobretudo das zonas sujeitas àssêcas do chamado Nordeste brasileiro.

Creio, para encerrar êste artigo, que indiquei, emboraesquemàticamente, as condições sociais que permitiram aindustr ial ização de São Paulo. A análise destas condições- que, repito, são as da formação do sistema capitalistade organiz.ação econômica - não esgota as possibilidades

de explicação do processo de industrialização. A ela épre-

ciso somar a análise das condições naturais e das condições econômicas que suscitaram ou permitiram o crescimento industr ia l, a algumas das quais me referi de passagem. O equívoco que se deve evitar, ao que penso, é o dautilização de esquemas meramente econômicos que deixamde considerar a industrialização nos seus devidos têrmos,isto é, como um processo histórico-social real. Neste sentido, a síntese que apresentei é também incompleta. Exis-

te m mui tas out ras condições a serem examinadas e esclarecidas para que se tenha uma interpretação mais rica doprocesso em questão, bastando referir às condições propriamente políticas que não foram aqui discutidas. Entre-tanto, o ponto central para a caracterização o processode industrialização nas condições em que êle se efetuou noBrasil foi indicado: sua emergência dependeu da forma-ção de duas camadas sociais distintas, por um lado a dosque como donos do capital podiam dispor dos meios deprodução, e po r outro a dos que, sendo homens livres,dispunham apenas de sua fôrça de trabalho. (5)

N O TA S

(1 ) Os clássicos que cuidaram da explicação sociológica e econômica do capitalismo permitem estas afirmações. Veja-se, por exemplo,Marx. Referindo-se ao capital produtivo diz: Como se vê, êste estadode

coisas a

produção capitalista industrial) requer já algum grau decirculação dos produtos como mercadorias e, portanto, de desenvolvimento da produção mercantil. Mais adiante: O fato de que a primeira

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COND. SOCo DA INDUSTRIALIZAÇÃODE S PAULO 45

fase d o ciclo do capital dinheiro) seja D-M dinheiro que compra

mercadoria) faz com que ressalte também o mercado de mercadoriascomo origem dos elementos do capital produtivo e, em geral, a circulação, o comércio, comoos fatôres que condicionam o processo capitalista de produção . Carlos Marx,El Capital tomo 11 Fondo de CulturaEconomica, México, 1946, págs. 44 e 66, respectivamente.

2 ) A região denominada Oeste Paulista não corresponde rigorosamente ao oeste geográfico.Ela abrange a área que vai de Campinasa Rio Claro, São Carlos, Araraquara, Catanduva,na linha férrea da Companhia Paulista; e de Campinas para Piraçununga, Casa Branca e RibeirãoPrêto, na estrada de ferro Mojiana. Historicamente quandohá referênciasao Oeste Paulista visa-se a região servida por estas duas estradasde ferroe seus ramais. A famosa terra roxa do café paulista espalha-se em manchas nesta área.

Faço estas afirmações baseado em levantamentos que fiz nascoleções do jornalA Província de ã Paulo do último quartel do século dezenove, e noutro levantamento, ainda incompleto, que venhorealizando nos livros de registro dos impostos de indústria e profissões,de 1914 a 1930.

4 ) Esta afirmação se comprova com a leitura de um livro deAntônio Francisco Bandeira Júnior,A indústria no Estado de sãd Paulo 19 1 onde há descrição minuciosa das fábricas visitadas pelo autor,nas quais os trabalhadores eram,na sua esmagadora maioria, imigrantesou seus descendentes.

5 Não me referi neste artigoà industrialização das áreas cujoregime de produção é socialista. Mas é óbvio queos requisitos para aindustrialização destas áreas precisam ser analisadosde maneira diferente.Quanto à análise das condições que permitiram a industrialização doBrasil, o leitor estrangeiro interessado encontrará elementos analíticos nosseguintes trabalhos, que serviram de ponto de partida para a análisesintética que desenvolvi neste artigo:

1 Caio Prado Júnior,Esbôço dos Fundamentos da Teo-ria Econômica Editôra Brasilliense, São Paulo, 1957;HistóriaEconômica do Brasil Editôra Brasiliense, São Paulo, 1956, 4.a

edição.2 Celso Furtado, Formação Econômica do Brasil Edi

tôra Fundo de CulturaS A Rio de Janeiro, 1959;A Eco-nomia Brasileira Editôra A Noite, Rio de Janeiro, 1954.

3 Heitor Ferreira Lima, Evolução Industrial de ã

Paulo Livraria Martins Editôra, São Paulo, 1954.4 Pierre Monbeig,Pionniers t Planteurs de ã Paulo

Cahiers de la Fondation Nationale des Sciences Politiques,n O

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46 R E V I S T R S I L I E N S E

28 Paris 1952; La Croissance de Ville de ão Paulo Ins-

titut et Revue de Geographie Alpine Grenoble 1953Roberto Simonsen Brazil s Industrial Evolution Escola

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