fertilização e gestão do solo - drap centro · acidez total dos mostos e aumento, por vezes...

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1 ANEXO II – ARTIGOS TÉCNICOS E DIVULGAÇÃO Artigo publicado na Revista ENOVITIS, 4ª edição de 2009, Anabela Andrade Fertilização e gestão do solo A composição da uva é o resultado de uma complexa interacção entre o potencial genético da variedade e as condições ambientais – clima e solo – nas quais a vinha se desenvolve. Solo, nutrição e fertilização É a partir do solo, inquestionável recurso da Agricultura, enquanto suporte físico, meio de desenvolvimento das raízes e verdadeira reserva nutritiva das plantas, que a videira efectua, de forma natural e muito discreta, a sua alimentação; Anualmente, ciclo após ciclo, é ao solo que a videira, através do seu sistema radicular, vai buscar, os vários alimentos ou nutrientes de que necessita para o seu crescimento e desenvolvimento. Logicamente, ano após ano, o solo vitícola sofre aquilo que poderá ser designado de perda de reservas nutritivas. Não obstante haja algumas restituições naturais graças, em particular, às folhas que naturalmente caem ao solo no Outono e aí permanecem mais tarde sob a forma de minerais resultantes da libertação do húmus, a verdade é que tais ofertas poderão não ser suficientes, por forma a garantir uma satisfatória potencialidade nutritiva. Regra geral não o são. Impõe-se então uma compensação de nutrientes, a qual poderá ser feita através de técnicas de manutenção do estado de fertilidade do solo, como a fertilização. No quadro das necessidades nutritivas da vinha, refira-se que apesar de alguns dos elementos indispensáveis como o azoto, fósforo, potássio, magnésio e cálcio serem requeridos em maiores quantidades, tal não significa que os outros sejam negligenciáveis. De forma alguma! Na realidade, cada nutriente exerce uma função específica no seio da planta e apesar de exigidos em teores diferentes, todos os nutrientes que à luz do conhecimento actual se sabe serem indispensáveis à videira, são fundamentais ao êxito da cultura. Desequilíbrios nutricionais, carências ou toxicidades, passíveis de ocorrer, são de evitar. Mais, estão disponíveis ferramentas que permitem assegurar, com eficácia agronómica e com salvaguarda ambiental, as necessidades anuais da cultura da videira. A propósito de preservação ambiental, saliente-se que as actuais directrizes que procuram reduzir as agressões ambientais através da racionalização de técnicas de gestão do solo tornam-se extensivas à produção agrícola, a que a cultura da vinha não é alheia. A nível do solo, passam pela prática de fertilizações racionais e de técnicas de manutenção da superfície do solo, como o enrelvamento. O enrelvamento O revestimento da superfície do solo, ou enrelvamento, afigura-se como um sistema de gestão do solo recomendado em viticultura sustentável, estando contemplado nas Medidas Agro-Ambientais (IDRHa, 2004). Tem como principais objectivos a melhoria da estrutura do solo e da capacidade de retenção de água, a diminuição da erosão e o controlo do vigor da vinha, além de limitar a utilização de herbicidas e de melhorar a transitabilidade das máquinas. O enrelvamento, consiste em instalar, ou deixar desenvolver temporária ou permanentemente, na totalidade ou em parte da superfície da vinha (todas as entrelinhas ou

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ANEXO II – ARTIGOS TÉCNICOS E DIVULGAÇÃO

Artigo publicado na Revista ENOVITIS, 4ª edição de 2009,

Anabela Andrade

Fertilização e gestão do solo

A composição da uva é o resultado de uma complexa interacção entre o potencial genético da variedade e as condições ambientais – clima e solo – nas quais a vinha se desenvolve. Solo, nutrição e fertilização

É a partir do solo, inquestionável recurso da Agricultura, enquanto suporte físico, meio de desenvolvimento das raízes e verdadeira reserva nutritiva das plantas, que a videira efectua, de forma natural e muito discreta, a sua alimentação; Anualmente, ciclo após ciclo, é ao solo que a videira, através do seu sistema radicular, vai buscar, os vários alimentos ou nutrientes de que necessita para o seu crescimento e desenvolvimento.

Logicamente, ano após ano, o solo vitícola sofre aquilo que poderá ser designado de perda de reservas nutritivas. Não obstante haja algumas restituições naturais graças, em particular, às folhas que naturalmente caem ao solo no Outono e aí permanecem mais tarde sob a forma de minerais resultantes da libertação do húmus, a verdade é que tais ofertas poderão não ser suficientes, por forma a garantir uma satisfatória potencialidade nutritiva. Regra geral não o são. Impõe-se então uma compensação de nutrientes, a qual poderá ser feita através de técnicas de manutenção do estado de fertilidade do solo, como a fertilização.

No quadro das necessidades nutritivas da vinha, refira-se que apesar de alguns dos elementos indispensáveis como o azoto, fósforo, potássio, magnésio e cálcio serem requeridos em maiores quantidades, tal não significa que os outros sejam negligenciáveis. De forma alguma! Na realidade, cada nutriente exerce uma função específica no seio da planta e apesar de exigidos em teores diferentes, todos os nutrientes que à luz do conhecimento actual se sabe serem indispensáveis à videira, são fundamentais ao êxito da cultura. Desequilíbrios nutricionais, carências ou toxicidades, passíveis de ocorrer, são de evitar. Mais, estão disponíveis ferramentas que permitem assegurar, com eficácia agronómica e com salvaguarda ambiental, as necessidades anuais da cultura da videira.

A propósito de preservação ambiental, saliente-se que as actuais directrizes que procuram reduzir as agressões ambientais através da racionalização de técnicas de gestão do solo tornam-se extensivas à produção agrícola, a que a cultura da vinha não é alheia. A nível do solo, passam pela prática de fertilizações racionais e de técnicas de manutenção da superfície do solo, como o enrelvamento. O enrelvamento

O revestimento da superfície do solo, ou enrelvamento, afigura-se como um sistema de gestão do solo recomendado em viticultura sustentável, estando contemplado nas Medidas Agro-Ambientais (IDRHa, 2004). Tem como principais objectivos a melhoria da estrutura do solo e da capacidade de retenção de água, a diminuição da erosão e o controlo do vigor da vinha, além de limitar a utilização de herbicidas e de melhorar a transitabilidade das máquinas.

O enrelvamento, consiste em instalar, ou deixar desenvolver temporária ou permanentemente, na totalidade ou em parte da superfície da vinha (todas as entrelinhas ou

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uma entrelinha em cada duas), uma cobertura vegetal. Pode ser permanente ou temporário, realizado com uma única ou várias espécies vegetais, semeadas ou não (flora natural). Exige, quando realizado com espécies semeadas uma escolha rigorosa das melhores espécies a utilizar de modo a minimizar os efeitos negativos do revestimento, devendo as espécies semeadas ser suficientemente concorrentes com a flora adventícia, mas, obviamente, o menos possível com a vinha, quer a nível hídrico, quer mineral: plantas fixadoras de azoto, que tenham afinidade com auxiliares, que sejam resistentes ao calcamento e de ciclo vegetativo adequado, devem ser preferencialmente usadas.

Enrelvamento e alimentação hídrica

No enrelvamento permanente, a superfície do solo vitícola permanece coberta durante todo o ano. No enrelvamento temporário, a cobertura vegetal é destruída, mecânica ou quimicamente. Espontâneo ou semeado, utiliza-se nos casos onde são de esperar situações de stress hídrico na sequência da competição pela água: A destruição precoce do relvado permite manter algumas vantagens do enrelvamento sem os riscos de competição hídrica da flora dos relvados desde que se intervenha a partir do início do ciclo vegetativo da videira.

Em situação alguma, saliente-se, pode ser descurado o facto do enrelvamento conduzir a um maior consumo da água do solo, o que, nalguns casos, pode provocar um stress hídrico indesejável para o bom funcionamento da videira e não permissível da obtenção de uma produção que se pretende de qualidade. Pode-se dizer que em situações ecológicas de déficits hídricos estivais, onde não há possibilidade de rega, a prática do enrelvamento permanente deve ser ponderada, e o enrelvamento temporário, espontâneo ou semeado, com destruição precoce da flora afim de evitar a concorrência hídrica, pode ter lugar.

Enrelvamento e alimentação mineral

Resultados publicados em literatura da especialidade ao atribuirem especial interesse dos relvados na redução do vigor, dos ataques de podridão cinzenta (Botrytis cinerea Pers), da acidez total dos mostos e aumento, por vezes substancial, da apreciação dos vinhos à prova organoléptica, não deixam de associar o revestimento da superfície do solo a estados nutricionais da vinha. De facto, os relvados, na sua competição nutritiva para com a cultura da videira, são passíveis de conduzir a uma diminuição dos teores de azoto (N), precisamente um dos constituintes mais importantes da célula vegetal que, presente nas proteínas, ácidos nucleicos, auxinas, citocininas e clorofila, é vulgarmente referido como o elemento responsável pelo vigor.

A propósito do azoto, saliente-se que as relativamente moderadas necessidades da vinha em azoto, aliadas ao gosto dos viticultores pelas incorporações azotadas conducentes ao aumento da produção, tornam a carência neste elemento um fenómeno de excepcional ocorrência na vinha. Na generalidade, são, pois, mais frequentes situações de excesso de azoto com inerentes reflexos negativos dos pontos de vista quantitativo e qualitativo — excesso de vigor com atraso da paragem de crescimento, da maturação, da desfoliação e do abrolhamento seguinte, aumento da susceptibilidade ao míldio e à podridão cinzenta, redução de antocianas e do teor de açúcares totais.

Ao reduzir o crescimento vegetativo e o vigor da vinha, o enrelvamento induz reflexos favoráveis no microclima do coberto vegetal, nomeadamente no microclima luminoso na zona dos cachos, e assim na composição do bago (aumento da cor e da concentração de antocianas nas castas tintas), e também na sanidade dos cachos (menores focos de Botrytis cinerea Pers). Neste contexto, refira-se que o revestimento da superfície do solo se tem mostrado uma medida cultural interessante nas vinhas com castas muito vigorosas.

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Situação mais frequente nos primeiros anos de enrelvamento, a diminuição de azoto, saliente-se, pode ser mais acentuada nos casos em que o solo é pobre em matéria orgânica e muito permeável. A longo prazo, e na ausência de equilibrada adubação azotada, o enrelvamento pode induzir uma redução do azoto total do mosto e, consequentemente, perturbar a actividade das leveduras durante a fermentação alcoólica. Adições azotadas, aos mostos, podem ser necessárias.

Do ponto de vista nutricional, é de acrescentar que as vinhas em solos relvados são passíveis de mostrar um incremento dos teores de fósforo (P), elemento que considerado a base do metabolismo energético é indispensável à formação das células e, assim, ao crescimento das plantas.

Apesar de as reduzidas necessidades da vinha em fósforo, aliadas à riqueza natural dos solos neste elemento, fazerem da carência em fósforo uma das mais raramente observadas na vinha, a verdade é que ocorrem cada vez mais, entre nós, situações de vinhas com baixos teores foliares em fósforo. Nestas situações, o enrelvamento, enquanto regulador de nutrientes, pode ser interessante.

Ainda do ponto de vista nutricional, convém sublinhar que não raras vezes as vinhas enrelvadas evidenciam uma redução dos teores de magnésio (Mg). Trata-se de um elemento constituinte da molécula da clorofila, desempenhando um papel importante na fotossíntese, dele dependendo a síntese dos açúcares, das proteínas e das vitaminas, merecendo, pois, a nutrição magnesiana especial atenção em vinhas sob revestimento da superfície do solo. Suplementos magnesianos podem ser necessários.

Igualmente, digno de registo, é o facto de as vinhas submetidas a revestimento da superfície do solo mostrarem um aumento dos teores de potássio (K), nutriente frequentemente associado à qualidade das uvas, ao participar no metabolismo dos ácidos orgânicos e dos glúcidos, facilitando a sua migração.

Em suma, e não obstante alguns riscos associados, a utilização dos relvados na vinha mostra-se como uma técnica cultural capaz de manipular o vigor da videira e de permitir uma melhoria sanitária das uvas, entre outros efeitos benéficos. O seu uso deve, todavia, ser judicioso, pois que cada unidade vitícola é um caso particular.

Bibliografia:

A. Andrade, 2006. Carências e toxicidades da vinha. MADRP; D.R.A.B.L.

A. Andrade; A Aires; J. Coutinho, 1998. Ensaio preliminar de revestimento permanente do solo no comportamento da casta Chardonnay na

Região da Bairrada. Vila Real.

IDRHa. 2004. Medidas Agro - ambientais. Instituto de Desenvolvimento Rural e Hidráulica. Lisboa. 1.ª Edição.

Lopes, C. Monteiro, A. 2005. Enrelvamento da vinha. Revista da APH. 82:(4-8).

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ANEXO II – ARTIGOS TÉCNICOS E DIVULGAÇÃO

ARTIGO PUBLICADO NO SEMANÁRIO “REGIÃO BAIRRADINA”, EM 2009

A produção integrada é “um sistema agrícola de

produção de alimentos de alta qualidade e

outros produtos utilizando os recursos naturais

e os mecanismos de regulação natural, em

substituição de factores prejudiciais ao

ambiente e de modo a assegurar, a longo prazo,

uma agricultura viável “(OILB/SROP (1993)).

De acordo com o manual de 2005 editado pelo

Ministério da Agricultura, do Desenvolvimento

Rural e das Pescas (ao abrigo dos nos 3,4, 5 e 6

do Art.º 6º da Portaria 65/97 de 28 de Janeiro), a

prática da produção integrada da cultura da

vinha visa a produção de uvas sãs, de boas

características enológicas e organolépticas com

respeito pelas exigências normativas nacionais

e internacionais intrínsecas à qualidade do

produto, segurança alimentar e rastreabilidade,

assegurando simultaneamente, o

desenvolvimento fisiológico equilibrado das

plantas e a preservação do ambiente.

Trata-se de uma produção ecológica ao

respeitar a protecção integrada e ao recorrer a

técnicas culturais vitícolas integradas, desde a

instalação à manutenção da cultura.

A componente protecção encontra-se definida

no manual “Protecção Integrada da Vinha - Lista

dos produtos fitofarmacêuticos; Níveis

económicos de ataque”, emanado pelo

Ministério da Agricultura, do Desenvolvimento

Rural e das Pescas (ao abrigo dos nos 3 e 4 do

Art.º 6º da Portaria 65/97 de 28 de Janeiro).

Dele constam não somente os critérios para a

escolha de substâncias activas aconselhadas

em protecção integrada, as substâncias activas

homologadas em protecção integrada, as listas

de produtos - substâncias activas e respectivos

produtos comerciais – aconselhados, mas ainda

um Guia de Protecção Integrada da Cultura da

Vinha relativo a pragas e doenças.

A descoberta dos produtos fitofarmacêuticos

orgânicos de síntese marca uma nova etapa nos

métodos de protecção das plantas: de uma luta

particularmente cultural, passa-se a uma luta

química cega, nos anos 50-60. Segue-se depois

a luta química aconselhada caracterizada pelo

facto de a utilização de fitofármacos de largo

espectro ser condicionada pelo Serviço Nacional

de Avisos Agrícolas (SNAA), pela realização de

tratamentos em períodos de risco e também

pela tomada de decisão do agricultor ser

influenciada por técnicos do Serviço de Avisos.

Posteriormente, e no âmbito das Medidas Agro-

Ambientais (Reg. CEE 2078/92) surge a

protecção integrada, um processo de luta contra

os organismos nocivos com recurso a métodos

que satisfaçam as exigências económicas,

ecológicas e ecotoxicológicas e valorizando a

limitação natural dos inimigos naturais, bem

como níveis económicos de ataque (NEA).

Entre as substâncias activas, ao momento não

aconselhadas em protecção integrada,

destacam-se algumas como cipermetrina,

PRODUÇÃO INTEGRADA DA VINHA

Anabela Andrade

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carbaril, deltametrina (classe insecticidas e

acaricidas), carbendazime e tiofanato-metilo

(classe fungicidas).

A vertente técnicas culturais vitícolas integradas,

contempla procedimentos vários a ter em

consideração antes da instalação da vinha, à

plantação e após a entrada em produção.

Decisões inerentes à escolha do local,

preparação do terreno e selecção de cultivares

são dotadas de alguma flexibilidade; Já no

tocante à fertilização de fundo os procedimentos

impregnam de regras definidas, algumas de

carácter obrigatório, como seja a avaliação do

estado de fertilidade do solo e o conhecimento

das suas características físicas e químicas

através da análise de terra, por forma a

empreender-se uma fertilização racional, a qual

até pode passar pela não aplicação de

quaisquer substâncias fertilizantes; A análise

ditará o que fazer.

A plantação em produção integrada obriga à

utilização de material vegetal com passaporte

fitossanitário e proveniente de obtentores

/viveiristas oficialmente autorizados. Os porta-

enxertos devem ser sempre de categoria igual

ou superior a material certificado (etiqueta azul

ou branca); Os garfos a utilizar na enxertia ou

no fabrico de enxertos prontos, devem ser

preferencialmente oriundos de selecção

genética e sanitária, devido às garantias e

ganhos quantitativos e qualitativos que tais

materiais proporcionam.

Após a entrada em plena produção, os

normativos voltam a ser algo exigentes no

domínio da fertilização, sendo obrigatórias as

análise de terra de quatro em quatro anos e a

análise foliar anual. Os fertilizantes, salvo

situações de excepção, devem ser

obrigatoriamente aplicados ao solo.

Técnicas culturais como a manutenção do solo

são algo flexíveis, pese embora o uso de alfaias

como a fresa deva ser evitado, o coberto vegetal

(temporário ou permanente) deva ser

incrementado e o uso de herbicidas deva ser

confinado à linha.

A poda e a forma de condução devem facultar

uma sebe com adequada superfície foliar

exposta, por forma a aumentar a produtividade

fotossintética e, consequentemente, uma maior

acumulação de açúcares no bago. Intervenções

em verde como a desponta e a desfolha são

recomendadas.

Hoje, as orientações que procuram reduzir as

agressões ambientais, através da racionalização

de fitofármacos e fertilizantes, tornam-se

extensivas à produção agrícola com recurso à

prática da produção integrada, a que a cultura

da vinha não é, pois, alheia.

Bibliografia:

MADRP, 2005. Produção Integrada da Cultura da vinha.

Anabela Andrade

PRODUÇÃO INTEGRADA DA VINHA

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ANEXO II – ARTIGOS TÉCNICOS E DIVULGAÇÃO

ARTIGO PUBLICADO NO SEMANÁRIO “REGIÃO BAIRRADINA”, EM 2009

Nas últimas décadas, as mobilizações enquanto

principal técnica de gestão do solo da vinha, foram

complementadas e/ou substituídas pela aplicação

de herbicidas, em particular na linha.

As agressões ambientais decorrentes do uso mais

ou menos generalizado de herbicidas como

contaminação de aquíferos, o aparecimento de

infestantes resistentes aos herbicidas e a selecção

do tipo de flora, têm aconselhado a utilização de

sistemas alternativos de gestão do solo vitícola

capazes de minimizarem tais efeitos.

Neste contexto, o enrelvamento afigura-se como

um sistema de gestão do solo recomendado em

viticultura sustentável, estando contemplado nas

Medidas Agro-Ambientais (IDRHa, 2004).

O enrelvamento consiste em instalar ou deixar

desenvolver temporária ou permanentemente, na

totalidade ou em parte da superfície da vinha (todas

as entrelinhas ou uma entrelinha em cada duas)

uma cobertura vegetal.

Pode ser permanente ou temporário, realizado com

uma única ou várias espécies vegetais, semeadas

ou não (flora residente ou natural).

A usar judiciosamente, pois que cada Unidade

Terroir Vitícola é um caso particular, o

enrelvamento (revestimento) tem associados não

apenas potenciais efeitos benéficos mas também

inconvenientes.

Entre as vantagens mais comuns do revestimento

da vinha salientam-se:

• a redução da erosão do solo e do escorrimento

superficial da água devido aos seus efeitos mais ou

menos directos na intercepção das gotas da chuva,

protegendo desse modo os agregados, no aumento

da infiltração devido à macro e microporosidade

resultante das raízes das espécies da flora e no

aumento da resistência ao escorrimento;

a melhoria da transitabilidade das máquinas agrícolas

em qualquer altura do ano e subsequente facilidade da

mecanização das diversas operações culturais, sobretudo

a pré-poda mecânica, os tratamentos fitossanitários

ENRELVAMENTO DA VINHA

Anabela Andrade

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• após uma chuvada, e até a colheita

mecânica em situação de vindimas chuvosas.

• a redução do crescimento vegetativo e do

vigor da vinha com reflexos favoráveis no

microclima do coberto vegetal, nomeadamente

no microclima luminoso na zona dos cachos, e

assim na composição do bago (aumento da cor

e da concentração de antocianas nas castas

tintas), e também na sanidade dos cachos

(menores focos de Botrytis cinerea Pears.).

• o aumento da biodiversidade com

benefícios para os organismos auxiliares.

Entre os inconvenientes associados ao uso do

revestimento destacam-se:

• a competição da flora dos relvados pelos

recursos hídricos, pelo que em situações

ecológicas de déficits hídricos estivais, onde não

há possibilidade de rega, a prática do

enrelvamento permanente deve ser ponderada

e o enrelvamento temporário, espontâneo ou

semeado, com destruição precoce da flora afim

de evitar a concorrência hídrica, pode ter lugar.

• a diminuição dos teores de azoto em vinhas

relvadas sobretudo à base de gramíneas.

Refira-se que o déficit em azoto, mais frequente

nos primeiros anos de enrelvamento, pode ser

mais acentuado nos casos em que o solo é

pobre em matéria orgânica e muito permeável.

A longo prazo, e na ausência de equilibrada

adubação azotada, o enrelvamento pode induzir

uma redução do azoto total do mosto e,

consequentemente, perturbar a actividade das

leveduras durante a fermentação alcoólica.

Normalmente, nas vinhas com declive

acentuado, sensíveis ao escoamento e erosão e

em solos com textura fina, profundos e com

fortes reservas de água, e ocupados com castas

muito vigorosas, o revestimento parece a ser

uma medida cultural interessante.

De referir que quando se faz o enrelvamento

com espécies semeadas deve proceder-se a

uma escolha rigorosa das melhores espécies a

utilizar de modo a minimizar os efeitos negativos

do relvado: assim, as espécies semeadas

devem ser suficientemente concorrentes com a

flora adventícia mas o menos possível com a

vinha devendo recorrer-se a plantas fixadoras

de azoto, que tenham afinidade com auxiliares,

que sejam resistentes ao calcamento e de ciclo

vegetativo adequado.

Por último, e não obstante impere a

prossecução de trabalhos conducentes à

obtenção de resultados mais robustos, a

utilização dos relvados na vinha mostra-se como

uma técnica cultural capaz de manipular o vigor

da videira e de permitir uma melhoria no estado

sanitário das uvas, entre outros efeitos

benéficos.

Bibliografia:

A. Andrade et al. 1998. Ensaio preliminar de revestimento

permanente do solo no comportamento da casta Chardonnay

na Região da Bairrada. Vila Real.

IDRHa. 2004. Medidas Agro- ambientais . Instituto de

Desenvolvimento Rural e Hidráulica. Lisboa. 1.ª Edição.

Lopes Carlos M. A., 2005: Textos de apoio às aulas; ISA.

Lopes, C. Monteiro, A. 2005. Enrelvamento da vinha. Revista

da APH. 82:(4-8).

FICHA INFORM ATIVA

Anabela Andrade - DRAPC 2009

ENRELVAMENTO DA VINHA

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ANEXO II – ARTIGOS TÉCNICOS E DIVULGAÇÃO

ALTERNATIVAS DE CONDUÇÃO NA CASTA BAGA

Anabela ANDRADE1; Amândio CRUZ3; M. António BATISTA2;

A. DIAS-CARDOSO2; Rogério de CASTRO3 1 DRAP CENTRO ([email protected]) 2 CAVES MESSIAS ([email protected]) 3 INSTITUTO SUPERIOR DE AGRONOMIA ([email protected])

RESUMO

Na casta Baga na Região Demarcada da Bairrada, compararam-se os efeitos do sistema de condução na resposta fisiológica e agronómica durante o ciclo vegetativo de 2007. As variáveis estudadas foram: dois tipos de arquitectura do coberto vegetal (Monoplano Ascendente (MA) vs LYS) e quatro alternativas de monda (M1 – supressão dos ladrões do tronco e braço (sem monda de cachos); M2 – supressão dos ladrões do tronco e braço, com monda, ficando 1 cacho/sarmento ao bago de ervilha; M3 – supressão dos ladrões do tronco e braço, com monda, ficando 1 cacho/sarmento ao pintor e M4 – supressão dos ladrões do tronco e braço, com monda qualitativa a culminar ao pintor).

O sistema LYS, com menores índices de fertilidade e de potencial hídrico foliar de base, indicador de uma menor disponibilidade hídrica na zona radicular, e menores valores de fotossíntese líquida à maturação, originou rendimento similar ao MA.

Os vinhos obtidos no LYS, apresentaram superior teor de TAP, antocianinas e polifenóis e foram organolepticamente mais apreciados.

A monda de cachos provocou redução no rendimento, aumento do peso do cacho, aumento de concentração de açúcares e diminuição da acidez total dos bagos.

Palavras – chave: Baga, sistema de condução, monda de cachos, rendimento, qualidade.

1 - INTRODUÇÃO

A casta Baga, dominante no encepamento tinto da Região da Região da Bairrada, é caracterizada, de um modo geral, por um forte vigor, elevada fertilidade, porte retombante, maturação tardia e grande sensibilidade à podridão cinzenta. Todavia, escasseia a aplicação de conhecimentos já disponíveis, assim como, a prossecução de estudos de consolidação de potencialidades genéticas da casta, de gestão da vegetação e de alternativas de estrutura permanente, aliados, por seu turno, à exigência actual de uma maior sistematização das operações culturais.

O presente trabalho, visou avaliar, durante o ciclo vegetativo de 2007, o efeito de diferentes sistemas de condução, nomeadamente a forma de base ou arquitectura da planta, sobre a ecofisiologia da planta/vinha de Baga, bem como sobre parâmetros do rendimento e da qualidade. As variáveis estudadas do sistema de condução foram a forma de base da planta − Monoplano Ascendente (MA) e Lys (LYS) − e a monda de cachos.

2 - MATERIAL E MÉTODOS

Incidindo sobre a cultivar Baga enxertada em 3309 C (Riparia tomentosa x Rupestris Martin), o estudo foi instalado em Janeiro de 2007, na “Quinta do Valdoeiro” pertencente à empresa Caves Messias, localizada no concelho da Mealhada a 38º 82’ de Latitude Norte e a 9º 17’ de Longitude Oeste. O ensaio integrado na Região Demarcada da Bairrada, numa vinha com de 2,1 ha, com orientação N – S e ligeiro declive, situada a cerca de 50 m de altitude, foi instalada em 1998, com compasso de 2,5 m x 1,25 m (3200 plantas por hectare.

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O solo, argilo-calcário, caracteriza-se por uma textura pesada, um pH (H2O) pouco alcalino, medianamente provido em potássio assimilável, pobre em fósforo assimilável, de elevada capacidade de troca catiónica e de elevado grau de saturação em bases. O clima da região onde se insere a vinha, segundo o balanço hídrico de Thornthwaite, é moderadamente húmido, mesotérmico, de deficiência moderada de água no Verão e medianamente temperado e chuvoso no Inverno (Cruz et al, 2001).

Sob um delineamento em “split-plot”, ensaiaram-se duas formas de condução – Monoplano ascendente (MA) e LYS (LYS) e quatro níveis de monda: M1 – supressão dos ladrões do tronco e braço (monda zero); M2 – supressão dos ladrões do tronco e braço (monda zero) + monda, ficando 1 cacho/sarmento ao bago de ervilha; M3 – supressão dos ladrões do tronco e braço (monda zero) + monda, ficando 1 cacho/sarmento ao pintor e M4 – supressão dos ladrões do tronco e braço (monda zero) + monda qualitativa a culminar ao pintor. A análise dos dados foi efectuada através dos programas Excel e Statistica 6.0: os parâmetros intrínsecos à evolução da maturação foram submetidos a cálculo de médias e respectivo erro padrão; os restantes resultados foram tratados estatisticamente com recurso ao teste de F para a análise de variância, e expressos como não significativos (ns), significativos para p <0,05 (*), p <0,01 (**) e p <0,001 (***). Sempre que a análise revelou diferenças significativas procedeu-se à comparação de médias com base no teste de Duncan e um nível de significância de 0,05.

3 - RESULTADOS E DISCUSSÃO

3.1 - Potencial hídrico foliar (ΨΨΨΨf)

Em ambas as formas de condução, LYS e MA, o potencial hídrico foliar (Ψf) de base foi naturalmente decrescente do pintor à colheita (Figura 1), traduzindo a redução de disponibilidades hídricas do solo ao longo da maturação das uvas e tomando à vindima valores baixos; em ambas as fases de avaliação, o LYS, evidenciou teores ligeiramente mais baixos que a forma MA. Considerando -0,4 MPa como o valor crítico considerado como uma limitação em termos hídricos à actividade metabólica das plantas (Deloire et al., 2003), constata-se que ao pintor, LYS e MA, com valores de -0,30 e -0,26 MPa, desfrutavam de uma boa disponibilidade hídrica no solo, o que é compreensível face à precipitação ocorrida nos meses anteriores. Tal comportamento não se verificou à maturação em que, não obstante a ocorrência de precipitação em meados de Agosto e, também em Setembro, os valores do potencial hídrico foliar (Ψf) de base do LYS e do MA foram, respectivamente, -0,54 e - 0,46 MPa − valores estes que segundo Ojeda (2001) são, à maturação, coadunáveis com vinhos de qualidade.

-0,6

-0,4

-0,2

0,0

11-Ago-07 26-Set-07

Po

t. h

ídri

co

(M

Pa

)

LYS MA

Figura 1. – Potencial hídrico foliar (Ψf ) de base, ao pintor e à vindima. Sistemas de condução: LYS e MA. Média ± erro padrão de 8 folhas por modalidade. Casta Baga, Bairrada 2007.

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3.2 - Evolução da maturação e qualidade à vindima

A evolução do TAP (% v/v) por modalidade de condução/nível de monda, consta da Figura 2, dela ressaltando a detenção da maior acumulação de açúcares totais pela forma LYS, independentemente do nível de monda.

6,0

8,0

10,0

12,0

14,0

12

-Ag

o

19

-Ag

o

2-S

et

9-S

et

16

-Set

23

-Set

27

-Set

12

-Ag

o

19

-Ag

o

2-S

et

9-S

et

16

-Set

23

-Set

27

-Set

TA

P (

% V

/V)

M1 M2 M3 M4

MALYS

Figura 2.− Evolução, ao longo da maturação, do TAP, nas formas LYS e MA/nível de monda. Casta Baga, Bairrada, 2007.

Igualmente evidente é a influência do nível de monda, nas duas formas de arquitectura, pois que os valores correspondentes a M1 foram sempre inferiores aos dos restantes níveis de monda, não obstante a sua proximidade com M3 no primeiro controlo, facto compreensível pois que M3 representa a prática de monda exactamente ao pintor.

Das Figuras 3 e 4 sobressai o contributo da forma LYS no aumento do teor de antocianas e de polifenóis totais na ausência de monda, bem como o efeito favorável da monda sobre tais compostos determinantes na cor e sabor dos vinhos tintos.

0

300

600

900

1200

12

-Ag

o

19

-Ag

o

2-S

et

9-S

et

16

-Set

23

-Set

27

-Set

12

-Ag

o

19

-Ag

o

2-S

et

9-S

et

16

-Set

23

-Set

27

-Set

An

tocia

na

s (m

g/l

)

M1 M2 M3 M4

MALYS

Figura 3. − Evolução, ao longo da maturação, do teor de antocianas nas formas LYS e MA/nível de monda. Casta Baga, Bairrada, 2007.

11

0

20

40

60

80

12

-Ag

o

19

-Ag

o

2-S

et

9-S

et

16

-Set

23

-Set

27

-Set

12

-Ag

o

19

-Ag

o

2-S

et

9-S

et

16

-Set

23

-Set

27

-Set

Po

life

is T

ota

is (

DO

28

0n

m)

M1 M2 M3 M4

MALYS

Figura 4. − Evolução, ao longo da maturação, dos polifenóis totais, nas formas LYS e MA/nível de monda. Casta Baga, Bairrada, 2007.

3.2.1 – Características dos mostos e dos vinhos

Os valores constantes do Quadro 1 são o resultado da análise efectuada aos mostos correspondentes às modalidades (8) submetidas a vinificação. Sobressai a diferença entre sistemas de condução (compare-se LYS M1 com MA M1), bem como a tendência da monda para favorecer, em ambos os sistemas e notoriamente no MA, parâmetros como o TAP e a acidez total.

Quadro 1. – Influência do sistema de condução e da supressão de cachos nos parâmetros analíticos do mosto à entrada da adega (28/09/2007). Valores médios por modalidade. Casta Baga, Bairrada, 2007.

Parâmetros

Unidade

Lys M1

Lys M2

Lys M3

Lys M4

MA M1

MA M2

MA M3

MA M4

Acidez total

Ac.tart. (g/L)

5,7

5,5

5,4

5,2

6,2

5,5

5,6

5,4

pH __

3,2

3,23

3,23

3,24

3,15

3,26

3,21

3,26

Açúcar total

g/L

199

214

210,9

217,4

172,4

204,5

201,7

209,9

Ácido málico

g/L

1,9

1,9

1,9

1,8

2,3

2,2

1,9

2,0

Ácido tartárico

g/L

4,6

4,7

4,6

4,5

4,8

4,5

4,4

4,6

TAP % v/v

11,4

12,2

12,0

12,4

9,8

11,7

11,5

12,0

No Quadro 2 estão patentes os resultados das análises dos vinhos efectuadas imediatamente após a primeira trasfega. É notória a concordância com os valores verificados no mosto; e, a variabilidade de alguns parâmetros estará relacionada provavelmente com a própria evolução do mosto após a fermentação.

12

Quadro 2 – Influência do sistema de condução e da supressão de cachos nos parâmetros analíticos do vinho (análise efectuada em Outubro de 2007). Valores médios por modalidade. Casta Baga, Bairrada, 2007.

Parâmetros

Unid

Lys M1

Lys M2

Lys M3

Lys M4

MA M1

MA M2

MA M3

MA M4

Massa volúmica a 20 º g/ml

0,9943

0,9947

0,9944

0,9944

0,9951

0,9941

0,9939

0,9938

TAV a 20 º % vol

11,5

12,6

12,3

12,6

9,9

11,8

11,7

12,3

Acidez volátil Ac acét

(g/L)

0,26

0,27

0,27

0,29

0,27

0,27

0,29

0,3

Acidez total Ac tart

(g/L)

7,7

8,3

8,1

8

7,7

7,7

7,9

7,9

pH …

3,4

3,37

3,38

3,39

3,31

3,44

3,35

3,4

Antocianas mg/L

490

592

549

506

280

444

428

452

Açúcares redutores g/L

2,2

4,4

3,7

4,3

2,4

2,0

2,1

2,2

Extracto seco total g/L

29,4

33,9

32,2

-

26,9

-

29,2

30,8

ÍPT (DO 280 nm)

38

43

40

41

25

37

31

36

Ácido málico g/L

2,6

2,7

2,7

2,6

2,5

2,6

2,5

2,7

3.3 - Rendimento e suas componentes

No tocante ao rendimento e suas componentes (Quadro 3), destaca-se que a forma de condução influenciou significativamente o número de cachos à vindima e o peso por cacho: de facto, o LYS, com menores índices de fertilidade, deteve o maior número de cachos/planta, tendo diferido significativamente do MA: 17,2 vs 12,9 cachos/planta, respectivamente.

Quadro 3. - Influência do sistema de condução e da supressão de cachos no rendimento e suas componentes. Valores médios por sistema de condução, modalidade de monda e interacção sistema de condução x monda. Casta Baga, Bairrada, 2007.

Factores Nº cachos/cepa

Produção/ Cepa (Kg)

Peso/cacho (g)

Rendimento (t/ha)

LYS 17,2 4,55 267,6 14,6

MA 12,9 4,28 337,3 13,7

Sig. *** ns *** ns

M1 20,9 a 5,83 a 279,5 b 18,7 a

M2 13,2 b 3,82 b 294,8 b 12,2 b

M3 14,2 b 3,81 b 280,6 b 12,2 b

M4 12,0 c 4,20 b 355,0 a 13,4 b

Sig. * *** ** ***

13

LYS M1 21,2 a 5,22 ab 246,4 b 16,7 ab

LYS M2 15,6 b 3,94 bc 248,4 b 12,6 bc

LYS M3 16,9 ab 4,10 bc 244,1 b 13,1 bc

LYS M4 15,1 bc 4,96 abc 331,6 a 15,9 abc

MA M1 20,7 a 6,44 a 312,7 ab 20,6 a

MA M2 10,8 d 3,71 bc 341,7 a 11,9 bc

MA M3 11,4 cd 3,53 c 317,1 ab 11,3 c

MA M4 8,8 d 3,44 c 378,3 a 11,0 c

Sig. * * * *

Nota: Sig. Nível de significância; ns – não significativo ao nível de 0,05 pelo teste de F; * - significativo ao nível de 0,05; ** - significativo ao nível de 0,01; *** - significativo ao nível de 0,001. Em cada coluna os valores seguidos da mesma letra não diferem significativamente ao nível de 0,05 pelo teste de Duncan.

Contudo, o peso médio do cacho foi menor no LYS e significativamente diferente do peso médio do cacho da forma MA; As produções por planta de ambas as formas, LYS e MA, com valores médios de 4,55 e 4,26 kg, respectivamente, não revelaram diferenças significativas e o rendimento, manifestou igual comportamento, sendo tendencialmente superior no LYS. A monda influenciou significativamente o número de cachos, a produção por planta e o peso por cacho: Concretamente, a M1 (supressão dos ladrões do tronco e braço (sem monda)) com o maior número de cachos por planta (20,9) e a maior produção por planta (5,83 kg) diferiu significativamente das restantes modalidades, sendo de destacar a M4 (supressão dos ladrões do tronco e braço e com monda qualitativa a culminar no pintor) com 12,0 cachos e uma produção de 4,20 kg/cepa. Esta modalidade com um peso por cacho de 355,0 g, diferiu significativamente das restantes as quais, com pesos de 279,5 (M1), 280,6 (M3) e 294,8 g (M2), não diferiram entre si. O maior rendimento verificou-se em M1 que com 18,7 t/ha diferiu das restantes modalidades de monda, sendo estas iguais entre si e com valores oscilando entre 13,4 (M4) e 12,2 (M2 e M3) t/ha.

Os menores rendimentos foram obtidos pelas interacções LYSxM2 (12,6 t/ha), MAxM2 (11,9 t/ha), MAxM3 (11,3 t/ha) e MAxM4 (11,0 t/ha). A modalidade LYSxM4, com 15,9 t/ha, originou um rendimento superior a qualquer das interacções MAxM (com monda).

4 - CONCLUSÕES

O sistema MA produziu bagos menos açucarados e mais ácidos, menos ricos em antocianinas e polifenóis totais, e observaram-se diferenças entre sistemas de condução no tocante aos valores de álcool provável, tendo o LYS originado os maiores valores de TAP (% v/v).

Em ambas as formas de condução, o potencial hídrico foliar (Ψf) de base teve um comportamento decrescente do pintor à colheita, traduzindo a redução de disponibilidades hídricas do solo ao longo da maturação das uvas e tomando à vindima valores conducentes a vinhos de qualidade.

A monda de cachos provocou um menor rendimento, um aumento do peso do cacho, um aumento de concentração de açúcares e uma diminuição da acidez total dos bagos. As interacção LYSxM2 e LYSxM4 originaram o maior valor de TAP, sendo de realçar que o sistema LYS mesmo sem monda (M1) apresentou valores próximos de algumas modalidades mondadas no MA, mas com rendimento bastante superior (ca. 50%).

No terroir específico do ensaio, o LYS, sistema que proporciona elevada SFE, revelou condições ecofisiológicas favoráveis para produções elevadas aliadas a uma boa evolução dos bagos do pintor à vindima, o que indubitavelmente confirma o potencial deste sistema em condições temperadas não devendo ser descurada a sua divulgação como ferramenta na obtenção de melhores resultados vitícolas numa casta que, sendo emblemática da Bairrada, é sobejamente conhecida como problemática.

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5 - REFRÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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DELOIRE, A; CARBONNEAU, A.; FEDERSPIEL, B.; OJEDA, H.; WANG, Z.; COSTANZE, P.,2003. La vigne et l’eau. Progrés Agricole et Viticole, 120, 4: 79-90.

DO Ó-MARQUES J. N., 2003. Evolução de alguns parâmetros analíticos ao longo da maturação das uvas nas castas ‘Cabernet Sauvignon’ e ‘Tinta Roriz’ (Região da Estremadura): Influência de diferentes níveis de produção. Rel. Trab. Fim. Curso Eng. Agron., ISA/UTL, Lisboa, 65 pp.

MARÍN, M.J., ARGUETA, M. S., RODRÍGUEZ, A.M., MONAGO, E. M. E DE MIGUEL, C. (2004). Influencia del aclareo de racimos en los frutos delas variedades Syrah y Tempranillo, cultivadas en parcelas inscritas en la D.O. Ribera del Guadiana (Extremadura-Espana). 6º Simpósio de Vitivinicultura do Alentejo: 38- 45, Évora.

OJEDA, H. (2001). Bases ecophysiologiques et choix tecniques dans la gestion de l’eau dans les vignobles d’Argentine. GESCO XII journées du groupe d’étude des systèmes de conduite de la vigne, Montpellier, France, 1, 75-86.