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  • 8/20/2019 Produção e Avaliação Sensorial de Cerveja Obtida a Partir de Mostos com Elevadas Concentrações de Açúcares

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    GOVERNO DO ESTADO DE SÃO PAULOSECRETARIA DA CIÊNCIA, TECNOLOGIA, DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO E TURISMOFACULDADE DE ENGENHARIA QUÍMICA DE LORENADEPARTAMENTO DE BIOTECNOLOGIA

    Tese de Doutorado

    PRODUÇÃO E AVALIAÇÃO SENSORIAL DE CERVEJAOBTIDA A PARTIR DE MOSTOS COM ELEVADAS

    CONCENTRAÇÕES DE AÇÚCARES

    Daniel Pereira da Silva

    Lorena - SP - Brasil

    2005

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    GOVERNO DO ESTADO DE SÃO PAULOSECRETARIA DA CIÊNCIA, TECNOLOGIA, DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO E TURISMOFACULDADE DE ENGENHARIA QUÍMICA DE LORENADEPARTAMENTO DE BIOTECNOLOGIA

    Tese de Doutorado

    PRODUÇÃO E AVALIAÇÃO SENSORIAL DE CERVEJAOBTIDA A PARTIR DE MOSTOS COM ELEVADAS

    CONCENTRAÇÕES DE AÇÚCARES

    Daniel Pereira da Silva

    Lorena - SP - Brasil2005

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    Ficha Catalográfica

    Elaborada pela Biblioteca Universitária da FAENQUIL

    SILVA, Daniel Pereira daS586p Produção e Avaliação Sensorial de Cerveja Obtida a Partir

    de Mostos com Elevadas Concentrações de Açúcares / DanielPereira da Silva. -- Lorena, 2005.

    177f. : il.

    Tese (doutorado) - Faculdade de Engenharia Química deLorena. Departamento de Biotecnologia.Orientador: João Batista de Almeida e Silva.

    1. Biotecnologia 2. Cerveja 3. Análise Sensorial4. Planejamento Experimental 5. Saccharomyces cerevisiae6. Fermentação. I. Almeida e Silva, João Batista de, orientador.II. Título.

    CDU 574.6

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    FACULDADE DE ENGENHARIA QUÍMICA DE LORENA

    DEPARTAMENTO DE BIOTECNOLOGIA

    PÓS-GRADUAÇÃO EM BIOTECNOLOGIA INDUSTRIAL

    PRODUÇÃO E AVALIAÇÃO SENSORIAL DE CERVEJA

    OBTIDA A PARTIR DE MOSTOS COM ELEVADAS

    CONCENTRAÇÕES DE AÇÚCARES

    Tese de doutorado apresentadacomo parte das exigências para aobtenção do título de Doutor emBiotecnologia Industrial

    Banca Examinadora:

    Dr. João Batista de Almeida e Silva – Faculdade de Eng. Química de Lorena

    Dra. Helena Maria André Bolini – Universidade de CampinasDr. Urgel de Almeida Lima – Instituto Mauá de TecnologiaDra. Inês Conceição Roberto – Faculdade de Eng. Química de LorenaDr. Arnaldo Márcio Ramalho Prata – Faculdade de Eng. Química de Lorena

    Estudante:

    Daniel Pereira da Silva

    Lorena - SP - Brasil2005

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    FACULDADE DE ENGENHARIA QUÍMICA DE LORENA

    DEPARTAMENTO DE BIOTECNOLOGIA

    PÓS-GRADUAÇÃO EM BIOTECNOLOGIA INDUSTRIAL

    PRODUÇÃO E AVALIAÇÃO SENSORIAL DE CERVEJA

    OBTIDA A PARTIR DE MOSTOS COM ELEVADAS

    CONCENTRAÇÕES DE AÇÚCARES

    Este exemplar corresponde a versãofinal da tese de doutorado aprovadapela banca examinadora

     ____________________________________________Dr. João Batista de Almeida e Silva

    Orientador e Presidente da Banca Examinadora

    Lorena - SP - Brasil2005

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    à DEUS,

     pela eterna luz que nos ilumina e nos fortalece.

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     AGRADECIMENTOS

    À Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo - FAPESP, pelo apoio

    financeiro para realização deste trabalho;

    Às empresas Malteria do Vale, Corn Products Brasil e Wallerstein Industrial e Comercial

     pelos materiais doados durante os anos de pesquisa;

    À Faculdade de Engenharia Química de Lorena, em especial ao Departamento de

    Biotecnologia (Debiq / FAENQUIL) pela oportunidade do curso de doutorado;

    À Universidade do Minho, em especial ao Departamento de Engenharia Biológica(DEB / UMINHO) pela oportunidade do estágio realizado no decorrer deste doutorado;

    Ao Prof. Dr. João Batista de Almeida e Silva, pela orientação e apoio ao longo de todo o

    trabalho, inclusive pelos ensinamentos na área prática, acadêmica e de pesquisa;

    A todos os professores que, de algum modo, me ensinaram ou me auxiliaram durante este

    trabalho, em especial: Dra. Helena Maria (UNICAMP); Dr. Arnaldo Márcio, Dra. Inês,

    Dr. Adilson e Dr. George Jackson (FAENQUIL); Dr. José Teixeira, Dr. Antônio Vicente e

    Dr. Tomás Brányik (UMINHO); Dr. Urgel de Almeida (Inst. Mauá de Tecnologia);

    Dr. Adalberto Pessoa Jr. (USP); Prof. José Gonçalves e Prof. Egon Tschope (SENAI-RJ);

    Aos colegas de trabalho: Giuliano, Caio, Camila, Jane, Reinaldo, Rogério, André, Érica e

    Shadao, pela ajuda, atenção e colaboração durante a realização deste trabalho;

    A todos funcionários, alunos e amigos da FAENQUIL que sem exceção colaboraram para

    que este trabalho se tornasse um aprendizado ainda maior;

    A todos que participaram das sessões de seleção e treinamento para degustadores de

    cerveja, de modo especial a todos aqueles pertencentes a equipe sensorial cuja colaboração

    foi imprescindível para a conclusão deste trabalho;

    Agradeço também aos meus Queridos Pais, Sr. ANTÔNIO e Sra. LAIDE , pela benção diária

    e também a minha querida esposa DENISE  cujo apoio sempre me motivou a alcançar mais

    este objetivo. . . muito obrigado!!!

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    CONTEÚDO

    1. Introdução 01

    2. Revisão Bibliográfica 03

    2.1 Cerveja: História e Evolução 03

    2.2 Mercado Cervejeiro Nacional 05

    2.3 Matérias-primas do Processo Cervejeiro 07

    2.3.1 Água Cervejeira 07

    2.3.2 Lúpulo 08

    2.3.3 Malte de Cevada 09

    2.3.4 Adjuntos 10

    2.4 Tecnologia na Elaboração da Cerveja 12

    2.4.1 Preparo do Mosto 132.4.1.1 Moagem do Malte 13

    2.4.1.2 Mosturação (Atuação Enzimática) 14

    2.4.1.3 Filtração, Fervura e Tratamento do Mosto 15

    2.4.2 Obtenção da Cerveja 15

    2.5 Processo em Mostos com Elevadas Concentrações ( High-Gravity Brewing)  18

    2.5.1 Influência de Adjuntos no Processo com Elevadas Concentrações 19

      2.5.2 Influência da Temperatura no Processo com Elevadas Concentrações 20

      2.6 Processo Contínuo para Produção de Cerveja 20

      2.7 Análise Sensorial 22

      2.7.1 Métodos de Análise Sensorial 23

    2.7.1.1 Análise Descritiva Quantitativa 24

    2.7.1.2 Testes de Aceitação e Preferência 25

    2.7.2 Características Sensoriais da Cerveja 25

    3. Objetivos 27

    4. Material e Métodos 28

    4.1 Cervejas Obtidas em Mostos Concentrados - Processo Descontínuo 28

    4.1.1 Matérias-primas Cervejeiras 28

    4.1.1.1 Água 28

    4.1.1.2 Lúpulos 284.1.1.3 Malte de Cevada 29

    4.1.1.4 Adjunto de Alto Teor de Maltose 29

    4.1.2 Preparo do Mosto Cervejeiro 29

    4.1.2.1 Moagem 29

    4.1.2.2 Etapa de Mosturação (Hidrólise Enzimática) 30

    4.1.2.3 Filtração (Clarificação do Mosto) 32

    4.1.2.4 Fervura do Mosto 32

    4.1.2.5 Tratamento do Mosto 32

    4.1.3 Obtenção de Meio para Cultivo de Pré-Inóculo e Inóculo 33

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      4.1.4 Microrganismo 33

    4.1.5 Pré-Inóculo 34

    4.1.6 Inóculo 34

    4.1.7 Fermentação / Maturação 34

    4.1.8 Armazenamento em Barril 35

    4.1.9 Acompanhamento Analítico 36

    4.1.9.1 Determinação da Concentração e Viabilidade das Células 36

    4.1.9.2 Determinação da Concentração do Mosto e da Concentração de Etanol 37

    4.1.9.3 Determinação da Densidade do Mosto 37

    4.1.9.4 Determinação do pH 37

    4.1.9.5 Determinação de Oxigênio Dissolvido 37

    4.1.10 Metodologia de Análise dos Resultados 38

    4.1.11 Metodologia Estatística Aplicada aos Experimentos 38

    4.1.12 Análise Sensorial: Grau de Aceitação da Cerveja Obtida em Processo Descontínuo 414.1.13 Análise Sensorial: Avaliação Descritiva da Cerveja Obtida em Processo Descontínuo 44

    4.1.13.1 Amostras 44

    4.1.13.2 Recrutamento e Seleção de Provadores 44

    4.1.13.3 Teste de Gostos Básicos 50

    4.1.13.4 Teste Triangular 50

    4.1.13.5 Familiarização com Estímulos e Avaliação do Desempenho 53

    4.1.13.6 Desenvolvimento de Terminologia Descritiva 58

    4.1.13.7 Treinamento dos Provadores 61

    4.1.13.8 Teste Sensorial nas Amostras e Análise Estatística nas Respostas 61

    4.2 Cervejas Obtidas em Processo Contínuo 62

    4.2.1 Microrganismo e Preparo de Inóculo 62

    4.2.2 Preparo dos Suportes para Fermentação e Maturação Contínuas 62

    4.2.3 Sistema de Reatores de Células Imobilizadas (SRCI) 63

    4.2.4 Iniciando e Operando o Sistema Contínuo (SRCI) 64

    4.2.5 Acompanhamento Analítico 65

    4.2.6 Metodologia de Análise dos Resultados 66

    4.2.7 Análise Sensorial: Grau de Aceitação da Cerveja Obtida em Processo Contínuo 66

    4.2.8 Análise Sensorial: Avaliação Descritiva da Cerveja Obtida em Processo Contínuo 67

    5. Resultados e Discussão 695.1 Estudo do Preparo do Mosto Cervejeiro 69

    5.1.1 Avaliação das Condições de Moagem do Malte 69

    5.1.2 Acompanhamento da Concentração do Mosto na Etapa de Mosturação 72

    5.2 Acompanhamento de um Processo Cervejeiro com 100% de Malte 74

    5.3 Cervejas Obtidas em Mostos Concentrados - Processo Descontínuo 78

    5.3.1 Análise Estatística e Otimização 78

    5.3.2 Comportamento Fermentativo dos Experimentos Propostos 82

    5.3.3 Avaliação do Ensaio nas Condições Otimizadas 85

    5.3.4 Avaliação Sensorial do Produto Obtido nas Condições Otimizadas:

    Testes de Aceitação

    87

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      5.3.5 Avaliação Sensorial do Produto Obtido nas Condições Otimizadas:Testes Descritivos

    90

      5.3.5.1 Recrutamento e Seleção de Provadores 91

    5.3.5.1.1 Teste de Gostos Básicos 92

    5.3.5.1.2 Teste Triangular 925.3.5.1.3 Familiarização de Estímulos e Avaliação do Desempenho 93

    5.3.5.2 Desenvolvimento de Terminologia Descritiva e Treinamento 94

    5.3.5.3 Teste Sensorial nas Amostras 94

    5.4 Cervejas Obtidas em Processo Contínuo 108

    5.4.1 Fermentação Primária 108

    5.4.2 Tanque de Sedimentação 110

    5.4.3 Etapa de Maturação Contínua 111

    5.4.4 Avaliação Sensorial dos Produtos Obtidos em Processo Contínuo 112

    5.4.4.1 Avaliação Sensorial: Testes de Aceitação 112

    5.4.4.2 Avaliação Sensorial Descritiva e Analítica dos Produtos Obtidos 115

    6. Conclusões 119

    7. Recomendações Futuras 121

    8. Referências Bibliográficas 122

    9. Anexos 128

    Anexo 1.  Algumas das características físico-químicas da água utilizada na MicrocervejariaDebiq / FAENQUIL em comparação aos valores sugeridos pela indústria cervejeira, conformedescrito em SENAI (1997).Anexo 2.  Lúpulos Hopsteiner  (Wallerstein Industrial e Comercial Ltda.), descrição fornecida pela empresa produtora Steiner.

    Anexo 3.  Resultados da análise do malte tipo Pilsen, obtidos de um dos laudos da empresaMalteria do Vale, em comparação com a  European Brewery Convention segundo TSCHOPE(2001).Anexo 4.  Especificações físico-químicas e composição aproximada do adjunto desidratado dealto teor de maltose MOR-REX 1557 (Corn Products International, Inc.).Anexo 5.  Microcervejaria Piloto Debiq / FAENQUIL.

    Anexo 6. Cálculo para Preparo do Mosto Cervejeiro.

    Anexo 7.  Concentração do mosto (Conc.), concentração de etanol (Et.) e concentração decélulas em suspensão (Xs; Xs viáveis e Xs não-viáveis) nas condições de temperatura e pressãoestabelecidas durante o processo cervejeiro realizado com concentração inicial de 12 °P proveniente de 100% malte de cevada e temperatura de fermentação constante e igual a 15 °C.Anexo 8.  Valores médios analíticos obtidos durante etapa de fermentação de cada experimentousado no planejamento fatorial 22 em estrela (Tabela 5.3).

    Anexo 9.  Concentração do mosto (Conc.), concentração de etanol (Et.) e concentração decélulas em suspensão (Xs; Xs viáveis e Xs não-viáveis) nas condições de temperatura e pressãoestabelecidas durante o processo cervejeiro realizado nas condições otimizadas obtidasconforme planejamento experimental: concentração inicial de 14 °P e temperatura defermentação constante e igual a 13,5 °C.Anexo 10. Valores de FAmostra  fornecidos por ANOVA para cada atributo e cada provador,considerando FTabelado = 1,66 em significância de 25%.Anexo 11.  Valores de FRepetição  fornecidos por ANOVA para cada atributo e cada provador,considerando FTabelado = 3,84 em significância de 5%.Anexo 12. Valores médios apresentados pela equipe sensorial e por cada provador treinadoreferentes aos atributos avaliados conforme treinamento sensorial nas amostras utilizadas:MercBr.5, MercBr.6 e Debiq.1.

    Anexo 13.  Valores médios obtidos por cada provador em cada atributo avaliado.

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     LISTA DE TABELAS

    Tabela 2.1 Consumo per capita de cerveja, 2002-2003 (SINDICERV, 2005). 06

    Tabela 2.2 Composição química do lúpulo em flor (TSCHOPE, 2001). 08

    Tabela 2.3 Composição do grão de cevada e do malte de cevada (CEREDA, 1983). 10

    Tabela 2.4 Atuação enzimática e condições ótimas de pH e temperatura (TSCHOPE, 2001). 14

    Tabela 4.1 Granulometria do malte moído em condições industriais (SENAI, 1997). 30

    Tabela 4.2 Planejamento fatorial completo 22 em estrela com repetição central. 39

    Tabela 4.3  Níveis de significância, probabilidade e notação utilizada. 40

    Tabela 4.4 Soluções utilizadas na aplicação do Teste de Gostos Básicos. 50Tabela 4.5 Definições e referências propostas pela  American Society of Brewing Chemists para

    treinamento de provadores em avaliação de cerveja e as correspondentes classes esubclasses conforme apresentado no Círculo de Aromas e Sabores (MEILGAARDet al., 1979; ASBC, 1996).

    53

    Tabela 4.6 Definições e referências propostas pela  American Society of Brewing Chemists(ASBC) para treinamento de provadores em avaliação de cerveja e as correspondentesclasses e subclasses conforme apresentado no Círculo de Aromas e Sabores(MEILGAARD et al., 1979; ASBC, 1996), referências utilizadas para intensificaçãode sabores.

    55

    Tabela 4.7 Testes de Aceitação aplicados em amostras comerciais em comparação com amostrasexperimentais obtidas em processo contínuo de fermentação e maturação. 67

    Tabela 4.8 Termos descritivos usados pala equipe de provadores (processo contínuo). 68

    Tabela 5.1 Percentagem de massa de malte moído obtido em diferentes condições de moagem(distanciamento entre os cilindros) e em cada peneira durante teste granulométrico.

    71

    Tabela 5.2 Variação da concentração do mosto (Conc.), concentração não fermentescível domosto (CNF) e valores aplicados de temperatura no decorrer do processo demosturação em função do tempo.

    73

    Tabela 5.3 Fator de conversão substrato em produto (YP/S 78h) em relação à matriz do planejamento fatorial 22 em estrela com repetição no ponto central.

    79

    Tabela 5.4 Estimativas dos efeitos, erros-padrão e teste t   de Student   para a resposta fator deconversão de substrato em etanol em 78 h, de acordo com o planejamento.

    79

    Tabela 5.5 Análise de variância com erro total para a resposta fator de conversão de substrato emetanol em 78 h, de acordo com a análise estatística do planejamento.

    80

    Tabela 5.6 Análise de variância para os coeficientes do modelo representativo do fator deconversão de substrato em etanol em 78 h, de acordo com a análise estatística.

    81

    Tabela 5.7 Condições experimentais relacionadas com o fator de conversão de substrato em produto em 78 h (YP/S 78h), produtividade volumétrica em 78 h (Pr  78h) e outros parâmetros fermentativos obtidos até o instante de início da maturação: fator deconversão de substrato em etanol (YP/S) e produtividade volumétrica (Pr ).

    84

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    Tabela 5.8 Perfil dos consumidores participantes dos Testes de Aceitação realizados entre asamostras comerciais MercBr.1, MercBr.2 e MercBr.3 (Teste 1), e entre as amostrasexperimentais Debiq.1 e Debiq.2 e uma amostra comercial MercBr.4 (Teste 2).

    88

    Tabela 5.9 Valores médios atribuídos pelos consumidores nos Testes de Aceitação  1  realizadosentre as amostras comerciais MercBr.1, MercBr.2 e MercBr.3 (Teste 1), e entre as

    amostras experimentais Debiq.1 e Debiq.2 e uma amostra comercial MercBr.4(Teste 2).

    89

    Tabela 5.10 ANOVA aplicada aos valores atribuídos pelos provadores no Teste de Aceitaçãorealizado entre as amostras MercBr.1, MercBr.2 e MercBr.3.

    89

    Tabela 5.11 ANOVA aplicada aos valores atribuídos pelos provadores no Teste de Aceitaçãorealizado entre as amostras Debiq.1, Debiq.2 e MercBr.4.

    90

    Tabela 5.12 Perfil dos consumidores que participaram do preenchimento do questionário e daentrevista para o recrutamento de candidatos a degustação de cervejas.

    91

    Tabela 5.13 Definição consensual dos descritores e referências. 95

    Tabela 5.14 Valores médios apresentados pela equipe sensorial treinada em cada atributo nasamostras MercBr.5, MercBr.6 e Debiq.1.

    101

    Tabela 5.15 Perfil dos consumidores referente aos Testes de Aceitação aplicados entre cervejasobtidas experimentalmente por processo de fermentação e maturação contínuo emcomparação aos produtos comerciais.

    113

    Tabela 5.16 Valores médios atribuídos pelos consumidores nos Testes de Aceitação 1 aplicados emamostras comerciais em comparação as amostras experimentais obtidas em processocontínuo de fermentação e maturação.

    114

    Tabela 5.17 Valores médios de alguns parâmetros analíticos bem como valores médiosapresentados pela equipe sensorial durante avaliação descritiva básica em amostrasexperimentais obtidas em processo contínuo de fermentação e maturação.

    116

  • 8/20/2019 Produção e Avaliação Sensorial de Cerveja Obtida a Partir de Mostos com Elevadas Concentrações de Açúcares

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     LISTA DE FIGURAS

    Figura 2.1 Preparação dos principais tipos de cervejas (RUSSEL, 1994). 12

    Figura 2.2 Mecanismos físicos utilizados para imobilização celular (PILKINGTONet al.,1998).

    22

    Figura 4.1 Variação da temperatura em função do tempo no processo de mosturação(TSCHOPE, 2001).

    31

    Figura 4.2 Planejamento em Estrela (BARROS NETO et al., 1995). 39

    Figura 4.3 Análise seqüencial utilizado na seleção inicial de provadores por TestesTriangulares, com os parâmetros: p0 = 0,33; p1 = 0,66;  = 0,15 e  = 0,35.

    52

    Figura 4.4 Círculo de Aromas e Sabores, agrupando termos de classes e subclassesrecomendados em análise sensorial de cerveja (MEILGAARD et al., 1979).

    56

    Figura 4.5 Sistema de reatores de células imobilizadas para obtenção contínua de cervejasem escala laboratorial.

    64

    Figura 5.1 Massa total (%) obtido em diferentes condições de moagem (distanciamentoentre os cilindros) e em cada peneira durante teste granulométrico.

    70

    Figura 5.2 Concentração do mosto (Conc., --), concentração não fermentescível do mosto(CNF, -x-) e valores aplicados de temperatura (- - -) no decorrer do processo demosturação em função do tempo.

    72

    Figura 5.3 Concentração do mosto (Conc., °P), concentração de etanol (Et., % v/v) e

    concentração de células em suspensão (Xs, g/L) em relação às condições detemperatura (°C) e pressão (kgf/cm2) durante o processo cervejeiro(12 °P/15 °C).

    73

    Figura 5.4 Concentração do mosto (Conc., °P), concentração de etanol (Et., % v/v) econcentração de células em suspensão (Xs, g/L) em relação às condições detemperatura (°C) e pressão (kgf/cm2) durante etapa inicial do processo(12 °P/15 °C).

    76

    Figura 5.5 Concentração de células totais em suspensão (Xs Totais - cel/mL, --) e decélulas não-viáveis em suspensão (Xs Não-Viáveis - cel/mL, --) em relação aviabilidade de células em suspensão (%, ) durante processo cervejeiro(12 °P/15 °C).

    77

    Figura 5.6 Superfície de resposta e curvas de nível estimadas pelo modelo matemáticorepresentativo do fator de conversão de substrato em etanol em 78 h, de acordocom a análise estatística do planejamento.

    81

    Figura 5.7 Concentração do mosto (Conc., ), concentração de etanol (Et., ) econcentração de células em suspensão (Xs, ) durante fermentação nos seguintesensaios: [a] 14 °P/12,5 °C; [b] 17,5 °P/9 °C; [c] 21 °P/12,5 °C e[d] 17,5 °P/16 °C.

    82

    Figura 5.8 Concentração do mosto (Conc., °P), concentração de etanol (Et., % v/v) econcentração de células em suspensão (Xs, g/L) nas condições de temperatura(°C) e pressão (kgf/cm2) estabelecidas durante o processo cervejeiro nas

    condições otimizadas.

    85

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    Figura 5.9 Freqüência de consumo de cerveja descrito pelos candidatos. 92

    Figura 5.10 Valores médios obtidos por cada provador no atributo aroma de amêndoa,indicando resposta não consensual do provador 5.

    98

    Figura 5.11 Valores médios obtidos por cada provador no atributo sabor ácido, indicando

    resposta não consensual do provador 12.

    99

    Figura 5.12 Perfil sensorial obtido em diferentes amostras de cervejas: Debiq.1 (  ),MercBr.5 (- - -) e MercBr.6 (—).

    102

    Figura 5.13 Perfil sensorial relacionado a aparência em diferentes amostras de cervejas:Debiq.1 (  ), MercBr.5 (- - -) e MercBr.6 (—).

    103

    Figura 5.14 Perfil sensorial relacionado ao aroma em diferentes amostras de cervejas:Debiq.1 (  ), MercBr.5 (- - -) e MercBr.6 (—).

    104

    Figura 5.15 Perfil sensorial relacionado ao sabor em diferentes amostras de cervejas:Debiq.1 (  ), MercBr.5 (- - -) e MercBr.6 (—).

    105

    Figura 5.16 Perfil sensorial dos atributos com diferença significativa em pelo menos duas dasamostras avaliadas: Debiq.1 (  ), MercBr.5 (- - -) e MercBr.6 (—).

    106

    Figura 5.17 Influência dos diferentes tempos de residência (Tr,  ___  ) em diferentes proporçõesde fluxo de ar (FA, --- ) em relação ao Grau de Fermentação do mosto cervejeiro(12 °P) em cada fase do sistema SRCI: R1 (fermentação principal, --), R2(tanque de sedimentação, --) e R3 (coluna de maturação, --).

    109

    Figura 5.18 Percentagem de células livres não viáveis em relação as totais coletadas na saídade cada reator do sistema contínuo: R1 (), R2 () e R3 (); e percentagem decélulas imobilizadas não viáveis em relação as totais presentes no R1 (  ).

    110

    Figura 5.19 Viabilidade de células imobilizadas (quadro preenchido) em relação à

    concentração de células imobilizadas (quadro vazio), distribuídas ao longo dosuporte utilizado durante maturação de cerveja (R3).

    111

    Figura 5.20 Perfil sensorial obtido nas diferentes amostras de cervejas avaliadas: Deb.2 (- - ),Deb.3 (   ), Deb.4 (    ) e Padrão (  ).

    117

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     LISTA DE QUADROS

    Quadro 4.1 Questionário utilizado no recrutamento dos consumidores. 42

    Quadro 4.2 Modelo de ficha utilizado nos Testes de Aceitação. 43

    Quadro 4.3 Informativo para recrutamento de consumidores em teste descritivo. 45

    Quadro 4.4 Termo de Participação Espontânea utilizado no recrutamento. 46

    Quadro 4.5 Termo de Liberação para Participação utilizado no recrutamento. 47

    Quadro 4.6 Questionário utilizado no recrutamento dos provadores, página 1. 48

    Quadro 4.7 Questionário utilizado no recrutamento dos provadores, página 2. 49

    Quadro 4.8 Modelo de ficha utilizado para avaliação de gostos básicos. 51

    Quadro 4.9 Modelo de ficha utilizada no Teste Triangular. 52

    Quadro 4.10 Modelo de ficha utilizado no Teste de Reconhecimento de Odores. 57

    Quadro 4.11 Modelo de ficha utilizado no Teste de Aspectos da Cerveja. 58

    Quadro 4.12 Modelo de ficha utilizado no Desenvolvimento de Terminologia. 59

    Quadro 4.13 Exemplo de Ficha de Avaliação Descritiva. 60

    Quadro 5.01 Ficha usada pela equipe para avaliação descritiva das cervejas. 97

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     RESUMO

    Produção e Avaliação Sensorial de Cerveja Obtida a Partir de Mostos comElevadas Concentrações de Açúcares. Daniel Pereira da Silva. Tese de Doutorado

    / Programa de Pós-Graduação em Biotecnologia Industrial, Departamento deBiotecnologia, Faculdade de Engenharia Química de Lorena - Debiq / FAENQUIL.Orientador: Dr. João Batista de Almeida e Silva (Departamento de Biotecnologia,FAENQUIL, CP 116, CEP 12600-970, Lorena, SP / Brasil). Banca Examinadora:Dra. Helena Maria André Bolini (FEA/UNICAMP), Dr. Urgel de Almeida Lima(Instituto Mauá de Tecnologia), Dra. Inês Conceição Roberto (Debiq / FAENQUIL) eDr. Arnaldo Márcio Ramalho Prata (Debiq / FAENQUIL). Maio de 2005.

    Este trabalho teve por objetivo principal o estudo da produção e avaliaçãosensorial de cerveja obtida a partir de mostos com elevadas concentrações de açúcares.Para isto, após avaliação das condições de obtenção de cerveja nas Instalações Piloto daMicrocervejaria Debiq / FAENQUIL, estudos foram realizados visando otimização dascondições de obtenção de cervejas por aplicação do planejamento experimentalcompleto 22 em estrela. Foi analisada a influência de variáveis como concentração domosto (14 e 21 °P) e temperatura de fermentação (9 e 16 °C). Os resultados mostraraminfluência significativa destas variáveis sobre o fator de conversão de substrato emetanol em 78 h e por conseqüência sobre outros parâmetros fermentativos como a

     produtividade no tempo final de fermentação. As condições otimizadas apresentadas pelo planejamento experimental foram de 14 °P de concentração do mosto e 13,5 °C de

    temperatura. Testes de aceitação e caracterização do produto obtido nas condiçõesotimizadas e de outros produtos disponíveis no mercado foram feitos por consumidorescomuns e uma equipe sensorial anteriormente selecionada e treinada. Com base nasrespostas fornecidas, e após aplicação de ANOVA e teste de Tukey, foi concluído quenão há diferença significativa no grau de aceitação entre o produto obtido nas condiçõesotimizadas na Microcervejaria Debiq / FAENQUIL e um produto líder de mercado,

     porém com algumas diferenças relacionadas aos perfis sensoriais estabelecidos pelaequipe treinada. Um estudo de novos processos de produção de cervejas, como os

     processos contínuos de fermentação e maturação, com posterior análise sensorial nos produtos, foi realizada no Laboratório de Instalações Piloto do Departamento de

    Engenharia Biológica da Universidade do Minho (DEB / UMINHO, Portugal) visandocomparação com o processo descontínuo Microcervejaria Debiq / FAENQUIL. Ficoudemonstrada a possibilidade de produção de cerveja por processo contínuo nas etapas defermentação e maturação utilizando-se como suportes de imobilização celular,respectivamente, resíduos da própria indústria cervejeira (bagaço de malte de cevada) eda indústria agrícola (sabugos de milho). Neste caso, foi utilizado um sistema dereatores com células imobilizadas obtendo produtos com boa aceitação peranteconsumidores portugueses bem como um perfil sensorial suficientemente equilibrado e

     próximo daquele encontrado na cerveja comercial e também na cerveja obtida nascondições otimizadas da Microcervejaria Debiq / FAENQUIL.

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     ABSTRACT 

    Production and Sensorial Evaluation of Beer Obtained from Worts with HighConcentrations of Sugars. Daniel Pereira da Silva. Thesis of Doctor / Industrial

    Biotechnology Post-Graduation Program, Department of Biotechnology, Faculty ofChemical Engineering of Lorena. Orienting: Dr. João Batista de Almeida e Silva(Department of Biotechnology, FAENQUIL, CP 116, 12600-970, Lorena, SP/Brazil).Examing Board: Dra. Helena Maria André Bolini (FEA/UNICAMP), Dr. Urgel deAlmeida Lima (Instituto Mauá de Tecnologia), Dra. Inês Conceição Roberto(Debiq / FAENQUIL) e Dr. Arnaldo Márcio Ramalho Prata (Debiq / FAENQUIL).2005 Mayo.

    The main objective of this work was to study the production and sensorialevaluation of beer obtained from worts with high concentrations of sugars. For this

     purpose, after the evaluation of the beer production conditions in the MicrobreweryPilot Plant of Debiq / FAENQUIL, studies were done in order to optimize theconditions for beer obtainment using a 22  full-factorial star design. The influence ofvariables such as wort concentration (14 and 21 °P) and fermentation temperature(9 and 16 °C) was investigated. The results showed significant influence of thesevariables on the conversion factor of the substrate into ethanol at 78 h and, asconsequence, on other fermentation parameters like the productivity at the end offermentation. The optimized conditions obtained from the experimental design were14 °P wort concentration and 13.5 °C temperature. Tests for acceptation and

    characterization of the product obtained under the optimized conditions and other products available in the market were made by common consumers and a sensorial team previously selected. Based on the supplied answers, and after application of ANOVAand Tukey test, it was concluded that there was no significant difference in theacceptance degree between the product obtained under the optimized conditions inMicrobrewery of Debiq / FAENQUIL and a leader product of market. However, somedifferences related to the sensorial profiles were established by the trained team. Anevaluation of new processes of beer production, like the continuous processes offermentation and maturation, with subsequent sensorial analysis of the obtained

     products, was accomplished at the Pilot Plant Laboratory of the Department of

    Biological Engineering of the University of Minho (DEB / UMINHO, Portugal) seekingthe comparison with the discontinuous process Microbrewery Debiq. The possibility of beer production by continuous mode in the fermentation and maturation processes wasdemonstrated by using as carriers of cell immobilization, residues from the own brewerindustry (spent grains) and also from the agricultural industry (corn-cobs) respectively.In this case, a system of reactors with entrapped cells was used obtaining products withgood acceptance by Portuguese consumers with a sensorial profile sufficiently balancedand similar to those of the commercial beer and of the beer obtained under theoptimized conditions in Microbrewery Debiq / FAENQUIL.

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    1

    1. INTRODUÇÃO

     Nas últimas décadas, estudos científicos de renomadas universidades e

    instituições de pesquisa vêm demonstrando uma maior preocupação em relação aoequilíbrio entre a pesquisa e a industrialização, incluindo a prática de pesquisa no

    setor produtivo. Deste modo, o Departamento de Biotecnologia da Faculdade de

    Engenharia Química de Lorena (Debiq / FAENQUIL) vem trabalhando em

     processos fermentativos desde a década de 80, com a maioria dos projetos apoiados

     por agências de fomento como a FAPESP, CAPES e CNPq.

    Entretanto, ultimamente muito se tem estudado sobre o aumento da

     produtividade na produção de cerveja bem como o controle dos subprodutosformados durante o processo fermentativo. Colaborando com estes estudos, o

     presente trabalho tem por objetivo dar continuidade à linha de pesquisa

    desenvolvida no Grupo de Microbiologia Aplicada e Bioprocessos do Departamento

    de Biotecnologia (GMBio - Debiq / FAENQUIL) por meio de estudos relacionados

    com o processo para produção de cerveja, mais especificamente a fermentação de

    mostos concentrados.

    O Brasil, país que ocupa o quinto lugar na classificação dos maiores produtores mundiais de cerveja, apresenta crescimento constante na produção desta

     bebida. Nos últimos dez anos este crescimento foi superior a 30%, passando de

    6,5 bilhões de litros produzidos no ano de 1994 para 8,5 bilhões de litros no ano de

    2004, resultando um consumo  per capita  de 49,3 litros de cerveja ao ano. Esse

    aumento da produção, resultado do aumento no consumo, ocorreu com a abertura do

    mercado e a chegada de produtos importados a preços competitivos com os

    fabricados no país.Um dos caminhos encontrados pelas indústrias cervejeiras, visando ao

    aumento da produção, foi à utilização de alta densidade do mosto, ou seja, o

    aumento da concentração de açúcares (high-gravity brewing ). Assim, a partir da

    fermentação de um mosto concentrado, obtêm-se uma cerveja com alto teor

    alcoólico que posteriormente é diluída, o que diminui a necessidade de

    investimentos em novos tanques e equipamentos.

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    Introdução 2

     No entanto, a utilização de processos com elevadas concentrações de

    açúcares, visando o aumento da produtividade e de benefícios nos diversos setores

    da indústria cervejeira, apresenta alguns fatores limitantes relacionados com odesenvolvimento do processo fermentativo. Entre eles podemos citar a diminuição

    da viabilidade da levedura, aumento do tempo de fermentação / maturação,

    ocorrência de fermentações incompletas, além de produção de compostos

    indesejáveis e perceptíveis durante a degustação do produto final.

    Com isto, procurando colaborar com a indústria cervejeira na solução de

     problemas, entre os quais, a busca por uma maior produtividade aliada à manutenção

    da qualidade da cerveja, a pesquisa cervejeira no Departamento de Biotecnologiasurgiu com a intenção de criar um núcleo de pesquisas em um setor ainda pouco

    desenvolvido no país. Com o apoio financeiro da FAPESP, no ano de 1999 foram

    iniciadas a construção e a instalação de uma Instalação Piloto e de um Laboratório

    com equipamentos destinados ao estudo da produção de cerveja, ao controle físico-

    químico e microbiológico do produto além de cabines específicas para aplicação de

    análises sensoriais.

    Assim, este trabalho procurou avaliar o desempenho do processo e aqualidade sensorial da cerveja obtida com uso de mostos concentrados. Neste

    sentido, foram otimizadas as condições de fermentação de cervejas para observar a

    influência do aumento da concentração do mosto (14 e 21 °P) em diferentes

    temperaturas de fermentação (9 e 16 °C) e, em continuação, foi feita a

    caracterização sensorial do produto obtido na Microcervejaria Debiq / FAENQUIL.

    Foram também acompanhados alguns ensaios no Departamento de Engenharia

    Biológica da Universidade do Minho (DEB / UMINHO, Portugal) para estudo decervejas obtidas por processo contínuo.

    De um modo geral, as observações realizadas, tanto nos ensaios de

    fermentação descontínua com mostos concentrados como nos ensaios realizados em

     processo contínuo de produção, permitiram verificar que a avaliação sensorial dos

     produtos é um importante instrumento para auxiliar a pesquisa e a indústria a

    direcionarem suas ações para novas tendências em processos e produtos.

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    3

    2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

    Cerveja, produto tradicionalmente aceito e em evidência por milhares de

    anos, pode ser definida como sendo uma bebida carbonatada de baixo teor alcoólico, preparada a partir da fermentação do malte de cevada, contendo lúpulo e água de

     boa qualidade, podendo ainda utilizar-se de outras matérias-primas como arroz ou

    trigo (ALMEIDA E SILVA, 2005).

    Sabe-se que a produção e o consumo de bebidas alcoólicas é uma das

    atividades mais antigas desenvolvidas pelo homem (VARNAM e SUTHERLAND,

    1997). No caso específico da cerveja, talvez a mais popular das bebidas, sua

    fabricação vem de milhares de anos durante os quais sofreu aprimoramento técnicovisando o aumento de sua produção e de seu consumo (MARTINS, 1991); sendo

    considerado, segundo MEILGAARD (1981), um produto de qualidade complexa,

    que é influenciado por fatores físicos, químicos e biológicos, apresentando em sua

    composição no mínimo 800 componentes de sabor.

    2.1 Cerveja: História e Evolução

    A cerveja, provavelmente foi descoberta por acaso, quando da fermentação

    espontânea da mistura de cereais e posterior degustação. Certamente não foi a

     primeira bebida alcoólica descoberta, mas pesquisas históricas mostram que sua

    origem é da região da Mesopotâmia, onde sua preparação já ocorria há cerca de

    6000 anos antes de Cristo (MARTINS, 1991; CEREDA, 1983). Além deste, há

    vários outros relatos históricos de sua produção pelo mundo, em datas que

    antecedem em muito o nascimento de Cristo e que variavam com a matéria-prima

    disponível e cultura da região (HARDWICK, 1994).

    Devido à natureza de seus constituintes, grãos de cereais e levedura, o

     processo de obtenção da cerveja era exercido por padeiros. A cevada era deixada de

    molho até germinar, moída grosseiramente e então moldada em bolos. Estes eram

    então parcialmente assados, desfeitos em jarras com água e deixados para fermentar

    (HARDWICK, 1994). Segundo HARDWICK (1994), a cerveja dessa época era

    opaca, sujeita à deterioração e de gosto diferente das atuais. Esta cerveja rústica,

    conforme CEREDA (1983), ainda é fabricada no Egito com o nome de Bouza.

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    Revisão Bibliográfica 4

      Na idade média o lúpulo foi introduzido como matéria-prima e a arte

    cervejeira teve algum avanço devido ao início da produção em maior escala. Nesta

    época, ainda utilizavam-se de toda espécie de ingredientes envolvendo diferentes

    cereais na elaboração da cerveja. Por este motivo, o Duque Guilherme IV daBavária / Alemanha, no ano de 1516, aprovou o que atualmente é conhecido como a

    lei mais antiga do mundo sobre a manipulação de alimentos, a lei alemã

     Reinheitsgebot , indicando que a cerveja deveria ser produzida somente com cevada,

    lúpulo e água (TSCHOPE, 2001).

    Embora o processo cervejeiro tenha uma história baseada em

    aproximadamente 8000 anos, somente nos últimos 150 anos a ciência cervejeira tem

    sido substancialmente desvendada, utilizando-se atualmente de um amplo campo daciência envolvendo a engenharia, a bioquímica e a microbiologia. Durante muito

    tempo o processo cervejeiro permaneceu sem grandes modificações devido

     principalmente à grande complexidade das reações ocorridas nos vários estágios do

     processo (BAMFORTH, 2000).

    Pesquisas realizadas nas últimas décadas encontraram soluções para muitos

     problemas do processo cervejeiro. Como conseqüência, modernas cervejarias são

    hoje estruturadas com métodos e processos utilizando novos equipamentosespecialmente idealizados. Processos de fermentação contínua, manipulação

    genética da cevada e da levedura além do emprego de mostos concentrados

    (elevadas concentrações iniciais de açúcares), estão hoje entre as várias

    modificações que ocorrem na produção e elaboração da cerveja (HARDWICK,

    1994; REINOLD, 1997).

    Segundo BAMFORTH (2000), quatro critérios impulsionaram estas

    mudanças tecnológicas na indústria cervejeira: redução de custos, melhoria naqualidade, manutenção das propriedades benéficas do produto e melhoria nas

    oportunidades de vendas. Porém, atualmente são diversos os tipos de cerveja

    encontrados no mercado consumidor, diferindo não somente em sua etapa de

     processamento, como equipamentos e processos tecnológicos empregados, mas

    também diferindo em sua composição e quantidade de matérias-primas utilizadas

    (BAMFORTH, 2000).

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    Revisão Bibliográfica 5

    2.2 Mercado Cervejeiro Nacional

    Trazido por D. João VI no início do século XIX, durante a permanência da

    família real portuguesa em território brasileiro, a cerveja daquela época era toda

    importada de países europeus (VENTURINI FILHO e CEREDA, 2001). A história

    da implantação das cervejarias no Brasil, segundo Bracco (1986) citado em

    RODRIGUES (2000), coincidiu com o início do processo de industrialização e o

    advento do regime republicano. Ainda segundo este autor, em São Paulo o ciclo da

    industrialização foi iniciado basicamente com a empresa Antarctica autorizada a

    funcionar em maio de 1891 por decreto do então presidente da República Marechal

    Deodoro da Fonseca. Alguns anos mais tarde, a Brahma, fundada no Rio de Janeiro

    em 1904, a Kaiser, lançada inicialmente em Minas Gerais em 1982, juntamente com

    a Antarctica, iniciaram uma época de forte concorrência com apelos publicitários em

    todo mercado enquanto as concorrentes menores utilizaram como estratégia

    comercial os pontos de venda do produto. No ano 2000 as empresas Antarctica e

    Brahma fundiram dando origem a AMBEV, maior empresa de cerveja do Brasil. Em

    2004 a AMBEV associou-se a cervejaria Belga (InterBrew) originando a INBEV e

    assim formando o maior grupo cervejeiro do mundo com uma produção de

    19,2 bilhões de litros de cerveja por ano (ALMEIDA E SILVA, 2005).

    O mercado nacional de cervejas até então sempre se caracterizou pela

     presença de poucas marcas de cerveja, predominantemente do tipo Pilsen, que é uma

     bebida com características de sabor suave, clara e límpida. No Brasil, segundo

    ARAÚJO e colaboradores (2003), a produção deste tipo de cerveja se concentra em

    grandes fábricas representantes das principais marcas distribuídas em todo o

    território nacional, embora a produção de cerveja em microescala já se manifeste

    acompanhando a tendência existente em outros países.

    A cerveja oriunda de microcervejarias caracteriza-se como um produto mais

    encorpado e de aroma e sabor mais pronunciados, sendo consumida principalmente

     por pessoas mais exigentes em termos de qualidade sensorial, que buscam um

     produto diferenciado, independente do preço. Um microcervejeiro geralmente adota

    como alternativa tecnológica uma escala de produção de até 50.000 litros por ano,

    ou seja, uma produção mensal média de 4.160 litros (Neves, 1996 citado por

    ARAÚJO et al ., 2003).

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    Revisão Bibliográfica 7

    2.3 Matérias-primas do Processo Cervejeiro

    Genericamente, define-se por cerveja uma bebida carbonatada, de baixo teor

    alcoólico e elaborada com água, lúpulo, malte de cevada, fermento e complementos

    ou adjuntos como o arroz, o milho ou o trigo (ALMEIDA E SILVA, 2005).

    2.3.1 Água Cervejeira

    Segundo RUSSEL e STEWART (1995), a água é, pela quantidade, a

     principal matéria-prima no decorrer de um processo cervejeiro, pois

    aproximadamente 95% do peso da cerveja é constituído de água. Por este motivo,

    indústrias cervejeiras localizam-se em regiões onde a composição da água érelativamente uniforme e de boa qualidade.

     Na natureza toda água contém sais dissolvidos, possuindo-os em quantidades

    e qualidades de modo diferenciado de acordo com sua região. Se a quantidade for

    alta a água passa a ter gosto conforme os sais nela dissolvidos. Além disso, as águas

    naturais podem possuir matérias orgânicas e compostos gasosos que, além de gosto,

    transmitam-lhes odor. Deste modo, a quantidade e qualidade dos sais dissolvidos e

    dos compostos orgânicos presentes na água, influenciam nos processos químicos eenzimáticos que ocorrem durante a fermentação e, conseqüentemente, na qualidade

    da cerveja produzida (VARNAM e SUTHERLAND, 1997).

     No entanto, se a água não for de boa qualidade ou não apresentar composição

    química adequada, poderá ser tratada por diferentes processos visando purificá-la e,

    se necessário, efetuar algumas modificações nos níveis de íons inorgânicos

    apresentados (VARNAM e SUTHERLAND, 1997).

    Segundo RUSSEL e STEWART (1995), citando diversos autores, entre osrequisitos básicos para obter água cervejeira de qualidade são: seguir padrões gerais

    de potabilidade; ser limpa, inodora e incolor e possuir concentração de cálcio

     próxima a 50 mg/L. De acordo com TSCHOPE (2001), águas utilizadas em

    microcervejarias, provenientes de um modo geral de tratamentos municipais ou de

     poços, devem ser regularmente analisadas quanto a estes critérios de composição e

    qualidade.

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    Revisão Bibliográfica 8

    2.3.2 Lúpulo

    O lúpulo, planta classificada como  Humulus lupulus, é de difícil cultivo e

    típica de regiões frias; é dióica, possuindo flores masculinas e femininas em plantas

    diferentes. As flores femininas são agrupadas em cachos ou umbelas em várias

    dobras sobre as quais se fixam os pares de brácteas e bractéolas. As brácteas e as

     bractéolas formam uma bolsa onde são alojados os grânulos de lupulina, que encerra

    as substâncias de interesse cervejeiro responsáveis pelo amargor e aroma

    característicos da cerveja (SEIDL, 2003; TSCHOPE, 2001; CEREDA, 1983).

    O lúpulo pode ser comercializado na forma de flores secas (in natura), pellets

    ou em extratos, podendo tradicionalmente ser classificado como lúpulos aromáticos

    e de amargor conforme suas características predominantes (SEIDL, 2003). A

    Tabela 2.2 apresenta a composição química do lúpulo em flor.

    Tabela 2.2 Composição química do lúpulo em flor (TSCHOPE, 2001).

    Características Percentagem (%)

    Resinas Amargas Totais 12 - 22Proteínas 13 - 18

    Celulose 10 - 17Polifenóis 4 - 14Umidade 10 - 12Sais minerais 7 - 10Açúcares 2 - 4Lipídios 2,5 - 3,0Óleos essenciais 0,5 - 2,0Aminoácidos 0,1 - 0,2

     No lúpulo, considerando os açúcares e os aminoácidos como componentes

    solúveis e presentes apenas em pequena proporção, e os lipídeos, as proteínas e a

    celulose, como componentes insolúveis, praticamente estes componentes não

    contribuem com o processo cervejeiro (Tabela 2.2). Assim, e conforme SENAI

    (1997), as substâncias mais importantes e presentes no lúpulo são os óleos

    essenciais, as substâncias minerais, os polifenóis e as resinas amargas.

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    Revisão Bibliográfica 9

      Apesar de serem altamente voláteis, ocorrendo perdas de 96 a 98% no

    decorrer do processo cervejeiro, os óleos essenciais conferem ao mosto e à cerveja o

    caráter aromático do lúpulo, enquanto que as substâncias minerais são importantes

     para o processo devido ao seu teor de nitratos, os quais são reduzidos a nitritos. Os polifenóis são ricos em substância tânica de baixa massa molar, protetores da

    cerveja, ao contrário de seus produtos resultantes de condensações poliméricas,

    médias e altas massas molares, que reagem com as proteínas causando turvações

    coloidais prejudicando características da espuma, do corpo e do paladar na cerveja.

    As resinas do lúpulo, por sua vez, podem ser resinas brandas totais, que apresentam

    -ácidos ou humulonas que após isomerização tornam-se solúveis e responsáveis

     pelo principal amargor da cerveja, e resinas duras, substâncias solúveis eresponsáveis por um forte e áspero amargor (TSCHOPE, 2001).

    Com a tecnologia aplicada no processo de lupulagem, novos produtos têm

    sido desenvolvidos, como por exemplo, os extratos isomerizados, que permitem o

    ajuste de amargor pós-fermentação, e os extratos isomerizados e reduzidos, que

     permitem proteção contra luz e retenção de espuma. A utilização de um ou mais

    destes extratos, resultantes do desenvolvimento tecnológico, ocorre em função das

    necessidades particulares de cada processo e das características que compõem cadatipo específico de cerveja. Por este motivo, o processo de lupulagem torna-se parte

    integrante das formulações técnicas de uma indústria cervejeira, uma vez que afeta,

    diretamente, as características qualitativas do produto final (SEIDL, 2003).

    2.3.3 Malte de Cevada

    O termo técnico para malte é definido como matéria-prima resultante da

    germinação, sob condições controladas, de qualquer cereal (milho, trigo e aveia,

    entre outros). Em princípio qualquer cereal pode ser malteado, considerando, entre

    outros fatores, o poder diastásico e o valor econômico de cada cereal. O malte

    utilizado em cervejarias é obtido de cevada, gramínea pertencente ao gênero

     Hordeum cujos grãos na espiga, alinhados em duas ou seis fileiras, são envoltos por

    diversas camadas celulósicas, sendo a primeira camada (palha) eliminada no

     beneficiamento, enquanto outras camadas aderentes ao grão (cascas) utilizadas posteriormente no processo de produção de cerveja (CEREDA, 1983).

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      Após a colheita, os grãos (sementes) são armazenados em silos, em

    condições controladas de temperatura e umidade, aguardando o envio para a

    Maltearia, indústria de transformação da cevada em malte. O processo de

    transformação do grão de cevada em malte consiste em colocar a semente emcondições favoráveis de germinação, controlando temperatura, umidade e aeração,

    interrompendo a germinação tão logo o grão tenha iniciado a criação de uma nova

     planta. Nesta fase, o amido presente no grão malteado apresenta-se em cadeias

    menores devido à ação das enzimas presentes no grão o que o torna menos duro e

    mais solúvel (SENAI, 1997). A Tabela 2.3 apresenta valores importantes quanto à

    composição média do grão de cevada em comparação ao malte, ou seja, grão de

    cevada após o tratamento da malteação.

    Tabela 2.3  Composição do grão de cevada e do malte de cevada (CEREDA, 1983).

    Características Grão de Cevada Malte de Cevada

    Massa do Grão (mg) 32 a 36 29 a 33Umidade (%) 10 a 14 4 a 6Amido (%) 55 a 60 50 a 55

    Açúcares (%) 0,5 a 1,0 8 a 10 Nitrogênio Total (%) 1,8 a 2,3 1,8 a 2,3 Nitrogênio Solúvel (% de N total) 10 a 12 35 a 50Poder Diastásico, °% L* 50 a 60 100 a 250

    Enzima -amilase, 20° unidades** traços 30 a 60Atividade Proteolítica traços 15 a 30

    * Lintner (índice de atividade das amilases), ** em unidades de dextrinas produzidas

    2.3.4 Adjuntos

    Muitos cervejeiros utilizam-se de adjuntos ao malte de cevada. Segundo

    RUSSEL e STEWART (1995), adjuntos podem ser definidos como materiais

    carboidratados não-malteados de composição apropriada e propriedades que

     beneficamente complementam o mosto proveniente de malte de cevada, ou ainda,

    como usualmente são considerados, fontes não-malteadas de açúcares.

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      Os adjuntos cereais mais comuns são o milho, o arroz e o trigo, os quais são

    adicionados na fase de preparação do mosto cervejeiro utilizando-se, deste modo,

    das enzimas contidas no próprio malte para hidrolisar o amido existente em sua

    composição em açúcares (SENAI, 1997).Segundo CEREDA (1983), as enzimas desdobram o amido contido no

     próprio malte e podem ainda hidrolisar o correspondente a 50% do peso de malte em

    forma de complemento acrescentado ou adjunto cereal, sendo necessário quando

    acima deste limite à adição de enzimas suplementares.

    Quando da utilização de adjuntos na forma de açúcares, seja na forma

    desidratado como cristais ou na forma de xaropes concentrados, há vantagens sobre

    os cereais, como por exemplo, baixos teores de proteínas, menores volumes dearmazenamento além de nenhuma exigência de pré-tratamento como a sacarificação.

    Assim, estes adjuntos usados na forma de cristais de açúcares ou xaropes

    concentrados podem ser adicionados diretamente na caldeira de fervura (RUSSEL e

    STEWART, 1995).

    Com o avanço da tecnologia de processos enzimáticos foi possível obter

    adjuntos a base de maltose derivados do milho, contendo composições pré-

    estabelecidas de carboidratos, como por exemplo, o xarope de alto teor de maltose.Estes novos produtos permitiram a introdução de adjuntos sem alterar a composição

    em carboidratos do mosto e, conseqüentemente, evitaram maiores dificuldades na

    sala de preparação de mosto, na fermentação e na maturação. Em análises sensoriais

    realizadas na cerveja produzida utilizando o xarope de alto teor de maltose como

    adjunto ao malte não foram verificadas diferenças significativas em relação a outras

    cervejas obtidos em processos tradicionais produzidas com puro malte (RUSSEL e

    STEWART, 1995).Segundo RUSSEL e STEWART (1995), os adjuntos são utilizados

     principalmente devido à vantagem de proporcionar mosto de menor custo quando

    comparado com os obtidos somente utilizando malte. Cervejas obtidas com o uso de

    adjuntos apresentam outras vantagens, como por exemplo, cores mais brilhantes e

    maior estabilidade física, além de propiciar aumento da produção, mesmo quando há

    limitação na sala de preparo do mosto.

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    2.4 Tecnologia na Elaboração da Cerveja

     No mercado cervejeiro mundial há grande variedade de cervejas, podendo em

    sua maioria ser classificada em dois grandes grupos: tipo ale, obtidas pela ação do

    levedo que se emerge para a superfície do meio durante a fermentação tumultuosa

    (cerveja de alta fermentação), e tipo lager , obtidas pela ação do levedo que se

    deposita no fundo do tanque, durante ou após a fermentação tumultuosa (cerveja de

     baixa fermentação), sendo esta a mais popular e consumida em todo o mundo

    (HARDWICK, 1994; MARTINS, 1991).

    A seqüência básica dos processos utilizados para a produção de ambos os

    tipos de cervejas, ale e lager , são similares e estão mostrados na Figura 2.1.

    Figura 2.1 Preparação dos principais tipos de cervejas (RUSSEL, 1994).

    Moagem do Malte

    Mosturação(atuação enzimática)

    Fermentação

    . 7 a 15 °C. 7 a 10 diasClarificação

    (filtração do mosto)

    Maturação

    . 3 a 5 semanas. 0 °C

    Filtração

    ConsumoFervura

    (Lúpulo + Adjunto)

    Fermentação

    . 18 a 22 °C. 3 a 5 dias

    Maturação

    . até 1 semana. 0 °CTratamento do Mosto

    . retirada do precipitado. resfriamento

    . aeração

    Processo Lager 

    Processo Ale

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    2.4.1 Preparo do Mosto

    A etapa anterior ao processo fermentativo, etapa de preparo de mosto,

    englobando desde a moagem até o tratamento do mosto cervejeiro, pode ser

    resumido como segue: malte de cevada, obtido pela germinação de grãos de cevada

    em condições especiais seguido de um processo de morte do embrião, é moído e

    misturado com água obedecendo a um aumento gradativo de temperatura. Durante

    este processo, denominado mosturação, as enzimas presentes no malte são ativadas e

    realizam a hidrólise dos constituintes deste malte, liberando-os. Após esta etapa, a

    solução obtida é clarificada utilizando a própria casca do malte como camada

    filtrante, sendo posteriormente fervida na presença de lúpulo para aquisição das

    características de amargor (ANGELINO, 1991; SENAI, 1997).

     Nesse estágio, fervura do mosto, pode-se adicionar ou não o adjunto de alto

    teor de maltose como complemento ao mosto cervejeiro. Após a fervura e,

    conseqüentemente, obtenção da concentração desejada do mosto (açúcares), ocorre a

     precipitação de proteínas, polifenóis e outros materiais insolúveis que constituem

    um sedimento geralmente denominado de trub. Este sedimento é removido e o

    mosto resfriado até a temperatura de fermentação quando normalmente é aerado e

    inoculado (ANGELINO, 1991; SENAI, 1997).

    2.4.1.1 Moagem do Malte

    Segundo REINOLD (1997), a etapa de moagem do malte tem influência

    direta sobre a rapidez das transformações físico-químicas, o rendimento, a

    clarificação e a qualidade do produto final.

    Deste modo, segundo TSCHOPE (2001) e SENAI (1997), o objetivo damoagem seria a redução do grão de malte de modo uniforme, tendendo a obter:

    (1) rompimento da casca no sentido longitudinal expondo o endosperma, porção

    interna do grão; (2) desintegração total do endosperma, promovendo uma melhor

    atuação enzimática e (3) proporção mínima de farinha com granulometria muito

    fina, evitando a formação de substâncias que produzam uma quantidade excessiva

    de pasta dentro da solução.

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    2.4.1.2 Mosturação (Atuação Enzimática)

    A mistura do malte moído com água em temperaturas controladas, de acordo

    com um programa previamente estabelecido, tem por objetivo solubilizar

    inicialmente as substâncias do malte diretamente solúveis em água e, com o auxílio

    das enzimas, solubilizar as substâncias insolúveis, promovendo a gomificação e

     posterior hidrólise do amido a açúcares (CEREDA, 1983; REINOLD, 1997). Neste

    sentido, deve-se considerar que todo processo enzimático depende da temperatura,

    do tempo, do grau de acidez e concentração do meio, da qualidade do malte e da

    constituição do produto da moagem (SENAI, 1997).

    A escolha do tipo de mosturação ou programa de temperaturas a ser aplicado

    durante a atuação enzimática depende da composição e do tipo de cerveja desejado,

    definindo quanto de açúcares fermentescíveis se deseja para o processo de

    fermentação ou do quanto de substâncias protéicas de alta massa molecular se

    almeja para a formação do corpo da cerveja e consistência da espuma

    (SENAI, 1997). Segundo STEWART (2000), a ação das enzimas produz um mosto

    que contém de 70 a 80% de carboidratos fermentescíveis, incluindo glicose, maltose

    e maltotriose (mosto fermentescível). A Tabela 2.4 apresenta um resumo da atuação

    enzimática e suas respectivas condições ótimas de pH e temperatura.

    Tabela 2.4 Atuação enzimática e condições ótimas de pH e temperatura (TSCHOPE, 2001).

    Enzima Atuação pH Temperatura

    Hemicelulase Decomposição da hemicelulose paraglucanos de baixa e média massa molar 4,5 a 4,7 40 a 45 °C

    Exo-peptidaseDecomposição das proteínas de alta e

    média massa molar para aminoácidos5,2 a 8,2 40 a 50 °C

    Endo-peptidaseDecomposição das proteínas para produtosintermediários de alta e média massa molar

    5,0 50 a 60 °C

    DextrinaseDesagregação do amido para maltose emaltotriose pela desagregação dascombinações 1-6

    5,1 55 a 60 °C

    -amilaseDecomposição do amido para maltose pela desagregação das combinações 1-4

    5,4 a 5,6 60 a 65 °C

    -amilaseDecomposição do amido para dextrinasinferiores pela desagregação das

    combinações 1-4

    5,6 a 5,8 70 a 75 °C

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    2.4.1.3 Filtração, Fervura e Tratamento do Mosto

    Após a hidrólise do amido é necessária a retirada do bagaço, massa resultante

    da aglutinação da casca com os resíduos do processo, podendo esta etapa ser

    realizada por sedimentação natural e efetuada em equipamento provido de fundo

    falso tipo peneira, onde o líquido passa através da camada de cascas do malte

    depositadas (etapa de filtração, também denominada clarificação). Posteriormente é

    feita a lavagem destas cascas por passagem de água aquecida nas próprias peneiras

    de coleta ou em filtros prensas (RUSSEL e STEWART, 1995; MARTINS, 1991).

     Na etapa seguinte, com acréscimo do lúpulo, o mosto é submetido à fervura,

    visando: inativação de enzimas, esterilização do mosto, coagulação protéica,

    extração de compostos amargos e aromáticos do lúpulo, formação de substâncias

    constituintes do aroma e sabor, evaporação de água excedente e de componentes

    aromáticos indesejáveis no produto final (TSCHOPE, 2001).

    Após a obtenção do mosto, porém, em uma etapa anterior à etapa de

    fermentação, ele deve passar por etapas de retirada do precipitado, resfriamento e

     posterior aeração, visando melhor atuação da levedura (tratamento do mosto). Como

    indicado na Figura 2.1, mostos de cerveja tipo Lager  são usualmente resfriados entre

    7 e 15 °C e os do tipo Ale são resfriados em média entre 18 e 22 °C, antes da adição

    da levedura. Durante esta etapa de resfriamento, ou ainda pelo auxílio de forças

    centrípetas proveniente da rotação forçada do meio, precipitam-se os complexos de

     proteínas juntamente com as resinas e taninos (trub), os quais devem ser retirados ou

    isolados do mosto límpido (TSCHOPE, 2001; CEREDA, 1983).

    2.4.2 Obtenção da Cerveja

    O processo fermentativo consiste no ponto central para produção de qualquer

     bebida alcoólica (VARNAM e SUTHERLAND, 1997), possuindo como principal

    objetivo à conversão de açúcares fermentescíveis em etanol e gás carbônico (CO2)

     pela levedura em condições anaeróbias. Taxonomistas de leveduras modernamente

    classificam todas as cepas empregadas na produção de cerveja como Saccharomyces

    cerevisiae, referindo-se às leveduras simplesmente como S. cerevisiae  tipo ale  ou

    tipo lager  (Stewart e Russel, 1998, citados em STEWART, 2000).

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      No entanto, segundo STEWART (2000), a diferença entre ale e  lager ,

     baseada em leveduras de superfície ou de fundo, tem se tornado menos usual com a

    utilização dos fermentadores cilindros-cônicos e das centrífugas. Hoggan (1978),

    citado em MUNROE (1994a), relatou algumas vantagens em se utilizar tanquescilindros-cônicos, tais como: (1) manutenção das leveduras em suspensão devido à

    agitação natural causada pela elevação das bolhas de CO2; (2) melhor controle de

    resfriamento e (3) maior facilidade na coleta do gás e das leveduras devido à base

    cônica do tanque.

    Em processos cervejeiros, geralmente, iniciam-se as fermentações utilizando

    culturas de leveduras renovadas após um certo número de fermentações (4 a 6

     processos), entre os quais são tratadas com soluções ácidas eliminando possíveiscontaminantes. Os métodos utilizados na multiplicação deste fermento são em geral

    variantes do processo de cortes, no qual o mosto em fermentação é diluído com

    mosto estéril toda vez que a fermentação se mostra vigorosa. Algumas das variações

    na técnica utilizada levam a adaptações graduais para o teor de açúcares no mosto ou

     para abaixamento gradual da temperatura, ou ambos os fatores. No final, o fermento

    deve fornecer ao mosto células de leveduras em número de 106  a 108  células/mL

    (CEREDA, 1983). No processo cervejeiro numerosos subprodutos se desenvolvem durante a

    fermentação, vários produtos intermediários permanecem no líquido e muitos

    componentes do mosto são assimilados pela levedura. Todos estes complexos de

    assimilação, formação de produtos e subprodutos, influenciam no aroma, no paladar

    e nas características da cerveja pronta (HARDWICK, 1994; STEWART, 2000). As

    leveduras produzem os compostos ativos do aroma e do sabor da cerveja como

    subprodutos da síntese de substâncias necessárias ao seu crescimento emetabolismo, e os teores destes compostos variam com os padrões de crescimento

    celular que são diretamente influenciados pelas condições de processo (MUNROE,

    1994a).

    Com isto, a influência das condições de fermentação, concentração e

    composição do mosto, temperatura e duração do processo fermentativo, sobre as

    características sensoriais da cerveja, tem sido objeto de estudo de vários

     pesquisadores (GARCIA et al ., 1993; HANSEN e KIELLAND-BRANDT, 1996).

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    2.5 Processo em Mostos com Elevadas Concentrações

    A tecnologia utilizando mosto com elevadas concentrações de açúcares,

    também denominado de alta densidade, high-gravity brewing , consiste no preparo de

    um mosto com uma concentração maior do que a normalmente utilizada e que,

    conseqüentemente, produz maior teor de álcool e requer uma diluição em uma etapa

     posterior. Devido à redução na quantidade de água, pode-se aumentar a produção da

    cervejaria sem a necessidade de expandir as instalações no que se refere à sala de

     preparo de mosto, tanques de fermentação/maturação e tanques de armazenamento

    (STEWART e RUSSEL, 1985).

    Em cervejarias tradicionais, mostos com concentração de 11 a 12 °P são

    fermentados para produzir cervejas contendo de 3 a 5% (p/v) de etanol. As cervejas

    obtidas com mostos em elevadas concentrações, geralmente até o limite de 14 a

    16 °P, têm sido utilizadas propiciando vantagens de aumento da eficiência das

    instalações, reduções no consumo de energia, no tempo de trabalho e nos custos,

    melhora do aroma e sabor, maior estabilidade à turvação e aumento do rendimento

    em etanol (HACKSTAFF, 1978).

     Na prática, em um processo utilizando mosto com concentração de 15 °P o

     produto obtido poderá ser diluído com adição de água na proporção de 25% de seu

    volume, igualando-o aos produtos obtidos com mostos de 12 °P (HACKSTAFF,

    1978).

    PFISTERER (1971) afirma que mostos produzidos com alta razão

    cereal/água sofrem maior degradação do que mostos nos quais essa razão é mais

     baixa. Isto ocorre devido a um significativo aumento de glicose e maltotriose às

    custas de dextrinas. De acordo com este autor, as enzimas amilolíticas nas tinas com

    alta razão cereal/água tornam-se mais resistentes à inativação térmica e portanto

    ocorre uma atuação enzimática mais prolongada.

    Além disso, PFISTERER e STEWART (1975) observaram que em geral os

    cereais dos mostos obtidos com elevadas concentrações são menos lavados que os

    tradicionais, possuindo, por este motivo, menores quantidades daquelas substâncias

    que são extraídas durante os estágios finais na tina de clarificação.

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      MURRAY e STEWART (1995) afirmam que o emprego do processo de alta

    densidade do meio não é apropriado para todos os tipos de cerveja. O uso de mostos

    concentrados, principalmente os obtidos com 100% de malte, podem causar carga

    excessiva nas tinas de mostura e nos tanques de clarificação ou filtração, perdendoos benefícios do processo em relação à produtividade e qualidade. No entanto, para

    cervejas em cuja composição do mosto participam adjuntos, estas dificuldades são

    evitadas.

    D’AMORE et al. (1991) trabalharam com mostos de concentrações até 25 °P

    e obtiveram, pela alteração em condições de processo como a temperatura de

    fermentação, a oxigenação e a concentração de inóculo, uma cerveja similar àquela

     produzida em mostos a 16 °P.

    2.5.1 Influência de Adjuntos no Processo com Elevadas Concentrações

    Segundo THOMAS et al.  (1996), a utilização de adjuntos no preparo de

    mostos de altas densidades constitui um método alternativo para elevar

    concentrações de mostos cervejeiros. Neste contexto, a adição de xarope de maltose

    como adjunto no processo cervejeiro tem sido a prática mais utilizada no preparo

    destes mostos, uma vez que os xaropes de milho contendo alto conteúdo de maltose,

    superiores a 50%, permitem ao cervejeiro introduzir este adjunto sem modificar o

     perfil de carboidratos do mosto (STEWART, 2000; HACKSTAFF, 1978).

    YOUNIS e STEWART (1999), durante estudo do consumo de açúcares

    (substrato) por uma cepa lager  de S. cerevisiae em mostos com concentração de 12 e

    20 °P pela adição de adjuntos, relataram que a lenta ou incompleta fermentação

    observada ocorreu provavelmente devido à ausência de nutrientes no meio

    concentrado.

    Segundo KIRSOP (1982), embora mostos obtidos somente a partir do malte

    apresentem excesso de componentes nitrogenados, a literatura pertinente indica que

     problemas relacionados com a falta de nitrogênio passem a ser mais freqüentes à

    medida que se aumenta a percentagem de substituição do malte pelo xarope de

    maltose. Como os xaropes são destituídos de qualquer fonte de nitrogênio, o seu uso

    diminui efetivamente a proporção de nutrientes não relacionados com carboidratos

    no mosto (JONES e PIERCE, 1964).

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      ALMEIDA et al . (2000) observaram que o aumento na concentração do

    mosto realizado por adição de adjunto provocou um aumento na produtividade do

     processo porém alcançando, em alguns experimentos, menores valores de grau de

    fermentação, o que deve ser melhor avaliado quanto à viabilidade econômica dautilização de mosto muito concentrado.

    2.5.2 Influência da Temperatura no Processo com Elevadas Concentrações

    De acordo com CASEY et al.  (1984), a influência da temperatura em

    fermentações de mostos com elevadas concentrações está relacionada com a

    tolerância da levedura ao etanol. A explicação para o aumento do efeito inibitório ao

    etanol em altas temperaturas, segundo Navarro e Finck (1982), citados por CASEY

    et al.  (1984), tem sido atribuída provavelmente ao aumento no acúmulo de etanol

    intracelular.

    Experimentos realizados com mostos concentrados obtidos pela adição de

    xarope de alto teor de maltose e suplementados com nutrientes em temperaturas

    iguais a 14, 20, 25 e 30 ºC, revelaram que a velocidade de fermentação acompanhou

    o aumento da temperatura, enquanto a viabilidade celular apresentou resultados

    extremamente baixos em mostos fermentados em altas temperaturas, apesar dos

    níveis de etanol terem sido similares no final das fermentações, o que certamente

     prejudicaria a reutilização destas leveduras no processo cervejeiro industrial

    (CASEY et al., 1984; CASEY et al., 1983).

     No entanto, fermentações de mostos de elevadas densidades apresentam

    outros problemas relacionados principalmente com a viabilidade celular e

    fermentação lenta ou incompleta. A toxidez do etanol e a alta pressão osmótica são

    considerados os fatores limitantes (White, 1978, citado por CASEY et al., 1984).

    2.6 Processo Contínuo para Produção de Cerveja

    A indústria cervejeira utiliza-se de um amplo campo da ciência, envolvendo

    aplicações de engenharia, bioquímica e microbiologia, entre outras, sendo por isto

    comumente denominada também de indústria biotecnológica (PILKINKGTON

    et al ., 1998; VIRKAJÄRVI, 2001).

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      Todavia, algumas das novas possibilidades, como por exemplo, fermentação

    contínua de cerveja com leveduras imobilizadas, ainda não têm sido inteiramente

    aplicadas. A razão disto se encontra nas possíveis dificuldades técnicas que

    acompanham este processo bem como no desejo dos cervejeiros em preservar aimagem tradicional aprovada pelos consumidores (MENSOUR et al ., 1997;

    BRÁNYIK et al., 2002).

    A fermentação contínua para produção de cerveja oferece diversas vantagens,

     principalmente de origem econômica, sobre o processo descontínuo. Baixo custo de

    investimento e produção, rapidez e alta produtividade volumétrica são alguns dos

    repetitivos argumentos em favor deste modo de processo contínuo de produção

    (LINKO et al ., 1998).A aceleração da fermentação em sistemas contínuos é freqüentemente obtida

     pela imobilização de leveduras (PILKINGTON et al.,1998; BRÁNYIK et al., 2002).

    A Figura 2.2 apresenta métodos básicos de imobilização de células, sendo estes

    divididos em quatro grupos principais baseados nos mecanismos físicos geralmente

    utilizados (PILKINGTON et al.,1998).

    De acordo com diversos autores citados em BRÁNYIK et al . (2004), quando

    da escolha do sistema de imobilização, diversos fatores devem ser considerados,como por exemplo, preço, disponibilidade, estabilidade e capacidade de carga.

    Ainda de acordo com estes autores, para aplicação em escala industrial, adsorção

    celular em sólidos porosos (esferas de vidro, terra diatomácea e carboneto de

    silicone) ou adesão celular e aprisionamento em superfícies sólidas não-porosas

    (lasca de madeira, grãos residuais e DEAE-celulose) são consideradas estratégias

     promissoras de imobilização.

    Como apresentado anteriormente, o suporte baseado em celulose obtido degrãos residuais pode ser considerado como uma alternativa promissora de outros

    materiais para imobilização de leveduras cervejeiras. Do ponto de vista econômico,

    a utilização dos grãos residuais como o bagaço de malte de cevada é muito vantajoso

    considerando que os mesmos são provenientes da própria indústria cervejeira como

    subproduto do processo de preparação do mosto, além do simples método de

     preparo (MASSCHELEIN, 1997; BRÁNYIK et al . 2001).

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      Outras vantagens incluem a satisfação de exigências como: capacidade de

    alta carga celular, estabilidade, material de grau alimentício e possibilidade de

    regeneração e esterilização. Além disso, a biomassa de fermento que cerca a

    superfície não-porosa destes grãos residuais entra em contato direto com o bulbolíquido, reduzindo problemas de transferência de massa associados com demais

    sistemas de imobilização (MASSCHELEIN, 1997; BRÁNYIK et al . 2001).

    Figura 2.2  Mecanismos físicos utilizados para imobilização celular

    (PILKINGTON et al.,1998)

    2.7 Análise Sensorial

    A análise sensorial é um método interdisciplinar utilizado para medir,

    analisar e interpretar reações causadas pelas características dos alimentos e bebidas

    ao entrarem em contato com os órgãos dos sentidos: visão, audição, olfato, gustação

    e tato (CARDELLO, 1999). A experiência de sensações olfativas, gustativas e táteis

     percebidas durante a degustação, segundo a Associação Brasileira de Normas

    Técnicas (1993), pode ser reunida em um único termo de propriedade sensorial, o

    sabor, enquanto que o aroma pode ser definido como a propriedade sensorial

     perceptível pelo órgão olfativo via retronasal durante a degustação.

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      Embora os instrumentos analíticos sejam efetivos em detectar características

    físico-químicas importantes para a indústria de bebidas, eles não são capazes de

    medir a percepção humana. Desta forma, a análise sensorial mostra-se como uma

    ferramenta imprescindível para o estudo de bebidas, uma vez que esta é a únicaforma de medir a intensidade de um aroma ou sabor, avaliar a aceitação ou ainda

    fornecer respostas para quantificar características sensoriais do produto

    (CARDELLO, 1999).

    São muitas as aplicações da análise sensorial na indústria de alimentos e nas

    instituições de pesquisa, como por exemplo no controle das etapas de

    desenvolvimento de um novo produto, na avaliação do efeito das alterações nas

    matérias-primas ou do processamento tecnológico sobre o produto final, na seleçãode uma nova fonte de suprimento e até mesmo no controle da qualidade do produto,

    dentre outros. Com isto, é possível afirmar que a avaliação e caracterização sensorial

    fornecem suporte técnico para a pesquisa, industrialização, marketing  e controle da

    qualidade em novos e/ou já conhecidos produtos (DUTCOSKY, 1996;

    HARDWICK, 1994).

    A qualidade do produto cervejeiro é, em um sentido amplo, a soma de todas

    as características que possibilitam atender às necessidades do mercado, isto é, atraire satisfazer os consumidores do produto. Segundo BENARD (1985), é por

    intermédio das características sensoriais, identificáveis por análise sensorial, que em

     parte se estabelece à relação entre o produto e o consumidor, ou seja, as qualidades

    ou os defeitos memorizados pelo consumidor que determinam sua atitude em

    relação a este ou aquele produto.

    2.7.1 Métodos de Análise Sensorial

    Muito se tem discutido a respeito das propriedades sensoriais dos alimentos e

    como avaliá-las adequadamente. Os pesquisadores buscam desenvolver

    metodologias para que os objetivos dos testes sejam bem definidos e para que estas

    metodologias conduzam à seleção de métodos e provadores qualificados e/ou

    capacitados, utilizando delineamentos estatísticos e interpretações adequadas dos

    dados (MORAES, 1993).

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      Avanços importantes têm sido obtidos nas últimas décadas em relação a

    métodos de análise e caracterização das propriedades sensoriais dos alimentos.

    Atualmente considera-se que haja três linhas básicas na condução de ensaios

    sensoriais: métodos afetivos para avaliação da aceitabilidade e preferência, métodosdiscriminativos para identificar diferenças entre atributos e métodos descritivos para

    descrever e avaliar a intensidade de atributos sensoriais dos produtos. No primeiro

    caso, testes de aceitabilidade e preferência são utilizados painéis formados por um

    número grande de provadores não treinados, preferencialmente dentro do segmento

    de potencial consumidor do produto. Para o segundo e terceiro casos, que

    compreendem testes discriminativos e descritivos, é essencial a utilização de painéis

    formados por provadores previamente selecionados e treinados, visando à mínimavariabilidade nos resultados obtidos (STONE e SIDEL, 1985).

    O desenvolvimento da análise descritiva teve início com o método clássico

    intitulado Perfil de Sabor (CAUL, 1957), continuando com os métodos Perfil de

    Textura (BRANDT et al., 1963) e Análise Descritiva Quantitativa (STONE et al.,

    1974), que introduziram a análise estatística dos resultados.

    2.7.1.1 Análise Descritiva Quantitativa

    A Análise Descritiva Quantitativa, método desenvolvido por STONE et al.

    (1974) do Stanford Research Institute e posteriormente comercializado como marca

    registrada, proporciona uma completa descrição de todas as propriedades sensoriais

    de um produto, representando um dos métodos mais completos e sofisticados para a

    caracterização sensorial de atributos importantes (STONE e SIDEL, 1985; STONE

    et al., 1980). Esse método tem ampla aplicação, tanto na pesquisa como na prática

    industrial, principalmente quando diferenças ou similaridades necessitam ser

    descritas e quantificadas.

    De acordo com STONE et al.  (1974) e a Associação Brasileira de Normas

    Técnicas (1998) as principais etapas para a aplicação do perfil descritivo podem ser

    resumidas em: (1) recrutamento e seleção da equipe; (2) desenvolvimento de

    terminologia descritiva; (3) treinamento da equipe; (4) avaliação do desempenho da

    equipe; (5) desenvolvimento da ficha consensual de avaliação descritiva;

    (6) avaliação do produto e (7) análise estatística dos resultados.

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      Ainda segundo estes autores, as propriedades sensoriais identificadas e

    quantificadas de um determinado produto ou ingrediente permitem desenvolver

    modelos multidimensionais em formato quantitativo, facilitando a visualização dos

    dados pelas diversas áreas de interesse (marketing , pesquisa ou desenvolvimento).Esse modelo multidimensional obtido para cada produto é apresentado em um

    gráfico (gráfico aranha), permitindo comparações visuais (McTIGUE et al., 1989).

    2.7.1.2 Testes de Aceitação e Preferência

    Os testes de aceitação e preferência, também denominados de testes afetivos,

    têm por objetivo avaliar respostas de indivíduos em relação à aceitação e preferência

    de um determinado produto ou de uma característica específica deste produto. De

    acordo com a Associação Brasileira de Normas Técnicas (1993), a aceitabilidade é o

    grau de aceitação de um produto favoravelmente recebido por um determinado

    indivíduo ou população, em termos de propriedades sensoriais. Segundo

    MEILGAARD et al. (1988), a utilização de testes afetivos é crescente nas empresas,

    uma vez que o sucesso comercial de seu produto está diretamente relacionado com o

    atendimento às expectativas do seu consumidor habitual ou potencial.

    2.7.2 Características Sensoriais da Cerveja

    Historicamente, características sensoriais das grandes cervejas espalhadas

     pelo mundo eram obtidas por intermédio de tradição, invenção e demanda popular.

    Até os anos de 1840, cervejas eram produzidas na ausência de procedimentos

     padronizados bem como de uma maior expectativa de manutenção superior a duas

    semanas ou mesmo de serem transportadas em longas distâncias. Com a revoluçãoindustrial e científica estas preocupações foram lentamente alteradas, conforme

    detalhado por MEILGAARD (1993).

     Nos últimos 50 anos houve grande desenvolvimento na pesquisa sobre as

    características de aroma e sabor das cervejas. O sucesso comercial depende da

    atração permanente das cervejas aos consumidores, e sendo o aroma e o sabor

    fatores críticos da qualidade do produto, torna-se nece