fenomenologia e metafísica em delfim santos · assim, e em contrapartida, o "eu...

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FENOMENOLOGIA E METAFISICA EM DELFIM SANTOS «Temos assim queafenomenologia ndo e,como dissemos, mais uma filosofla a acrescentar a tantas outras que a historia registou, mas afilosofia dafilosofia, isto e,a tentativa mais radical quedepois de D escartesfoifeitapara encontrar opropriofundamento dofilosofico. Aocontrdrio detodos os sistemas com baseno "sendo" ,contingente e inseguro, afenomenologia, por meio da consciencia transcenden- tal, constitui ofundamento autentico e absoluto que da sentido e empresta significagdo a todas as regioes do "sendo" , que sem ela ndoso carecem de fundamento masate totalmente do ser.» Deifim Santos, Obras Completas, II, pp. 305-306 1. Filosofia e realidade: sistema e metodo Para D. Santose como ja tivemos oportunidade de constatar*, se existencialmente e, assim, em fiingao da tentativa,sempre primordial, da determinagao-conformagao ontologica da realidade e, a filosofia, dominio determinante e, como tal, fundamental de objectividade e, correlativa e/ou adequadamente^omihioconformantee^omotal^ambem^dical^emetodologi ♦Como no artigo«Filosofia-OntologiaeMetafisicaem Deifim Santos»,publicadonestarevista (R P.F. ,42 ,1 987 ,337-356) usamos aqui as siglas I,II,HIe arespectivapagina?ao dasObras Completas ,I, II, III de Deifim Santso, Funda9ao Calouste Gulbenkian, Lisboa. 1 1355-360 RevistaPortuguesade Filosofia ,48 (1992) 297-320

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FENOMENOLOGIA E METAFISICA EM

DELFIM SANTOS

«Temos assim que afenomenologia ndo e, como dissemos, mais uma filosofla a acrescentar a tantas outras que a historia registou, mas afilosofia dafilosofia, isto e, a tentativa mais radical que depois de D escartesfoifeitapara encontrar opropriofundamento dofilosofico. Ao contrdrio de todos os sistemas com base no "sendo" , contingente e inseguro, afenomenologia, por meio da consciencia transcenden- tal, constitui ofundamento autentico e absoluto que da sentido e empresta significagdo a todas as regioes do "sendo" , que sem ela ndo so carecem de fundamento mas ate totalmente do ser.»

Deifim Santos, Obras Completas, II, pp. 305-306

1. Filosofia e realidade: sistema e metodo

Para D. Santos e como ja tivemos oportunidade de constatar*, se existencialmente e, assim, em fiingao da tentativa,sempre primordial, da determinagao-conformagao ontologica da realidade e, a filosofia, dominio determinante e, como tal, fundamental de objectividade e, correlativa e/ou adequadamente^omihioconformantee^omotal^ambem^dical^emetodologia1.

♦Como no artigo«Filosofia-OntologiaeMetafisicaem Deifim Santos»,publicadonestarevista (R P.F. ,42 ,1 987 ,337-356) usamos aqui as siglas I, II, HI e arespectivapagina?ao das Obras Completas , I, II, III de Deifim Santso, Funda9ao Calouste Gulbenkian, Lisboa.

1 1 355-360

RevistaPortuguesade Filosofia ,48 (1992) 297-320

298 Revista Portugusa de Filosofla

E, neste sentido, enquanto assim se revela e/ou representa, fenomologica e/ou transcendentalmente, as varias regioes ou areas da realidade - dominio de objectividade fundamental2 - tambem e entao, compreende/interpreta, hermeneuti- ca/categorialmente, as referidas areas ou regioes - dominio metodologico adequado3.

Neste contexto, se, sempre e, afinal, em fungao da objectividade pode/deve tomar sentido, toda e qualquer perspectivagao metodologica, tal significa que apenas em fungao da determinagao fenomenologica da realidade, pode tomar sentido, tambem, orespectivo dominio de confoimagaocategorial-hermeneutica...

Sendo assim, se sao ou deverao ser, sempre, objectiva e metodologicamente, todos e quaisquer dominios de saber e/ou de saber-agir, de si, dominios de sistematizagao ou de determinagao-conformagao, e-o, ou devera se-lo, primordial e necessariamente, a filosofia, como dominio de sistematizagao ontologica, e, enquanto tal, fenomenologica-hermeneutica, fundamental.. .

Mas entao e, nesse sentido, existencialmente, e considerando os varios dominios culturais , e, a filosofia, tambem, como domuiio determinante-conformante de saber e/ou de saber-agir, dominio ontologico-fiindamental. Por isso, semela, e, assim objectiva e metodologicamente e/ou sistematicamente, nao poderia todo e qualquer domuiio cultural aiTeigarfundamentoe/oucolher sentido4. Essencialmente e para que assim seja, considerando, aqui, primordial e necessariamente, a filosofia, e, a metafisica, como dominio absoluto/perene de indeterminagao-inconformagao e/ou incondicionalidade, dominio filosofico fundamental5.

Pelo exposto, considerando, assim, a primeira perspectiva, objectiva- metodologicamentee/ou sistematicamente, semfilosofia, como ontologia funda- mental e/ou correlativamente, como fenomenologia-hermeneutica fundamental (metafisica existencial6) - nao pode, todo e qualquer dominio cultural, arreigar fundamento e colher sentido; considerando a segunda perspectiva, transobjectiva e transmetodologicamente, ou trans istematicamente, sem filosofia fundamental (metafisica essencial7) nao sao possiveis e, assim, explicitacomo implicitamente, seja, todo e qualquer dominio cultural, seja, primordial e/ou radicalmente, a propria filosofia.

0 dominio essencial - transistemdtico ou metafisico

Como dominio absoluto/perene ou metafisico, e, a filosofia, para D. S., dominio ontico-espiritual8, o que tanto significa dominio, tal qual, darealidade/ser9 edo pensamento/espirito10.

2 n 298; 299 3 1 388; 390; 397 4 E 353-356 5 H 207; 213; 63; 64 6 E 216 7 E 210-213 8 1 280-283; 289; 297-298 9 1 310; 249; 242-243 10 1 244 a 247

Fenomenologia e Metafisica em Delfim Santos 299

Nesta compreensao e a tal nivel, se e, a realidade, como tal, transobjectiva, e, o pensamento, de si, transcendental1 \ E se, em qualquer circunstancia, e, sempre, impossivel evitar a distancia entre o pensamento e a realidade1 2, constituindo, tal perplexidade, o ponto de partida da f ilosofia, esta nao se entende sem a dualidade intencional e radical, em questao, sempre presente e sempre perene13. E, deste modo, enquanto a realidade se esconde, na medida em que se mostra e o pensamento se interroga, na medida em que (se) tenta responder...

O dominio existencial - sistemdtico ou ontologico

Se, em absoluto/perenemente, a filosofia se entende/especifica, portanto, como dominio essencial, assim se identifica, como saber, face a todos os restantes1 4. Mas, so existencialmente, entretanto, se pode exercer, em fiingao da atitude e da actividade humanas, enquanto situacionalmente consideradas1 5. Por isso, essencialmente dominio de interrogagao e de perplexidade, assim garante, dessa forma, a sua perenidade como saber-agir fundante e/ou radical16; existencialmente, e sempre dominio de afirmagao e de definigao, evidenciando, em concreto, o que significa, em fungao das epocas e dos homens, leituras e sentidos. E tal significa que se, essencialmente, e, de/em si, dominio aporetico e problematico, e, como tal, transobjectivo-transubjectivo ou transistematico1 7, e, existencialmente, e, assim, correlativa/proporcionalmente, dominio de resposta e de solugao e, como tal, objectivo-metodologico ou sistematico1 8.

Em todo o caiso, a dualidade sistema e metodo, reverte, pois, radicalmente, a dualidade pensamento e realidade, em dependencia reciproca "como dois 'complexos inseparaveis'19 e perenemente estranhos, sempre distintos e irredutiveis"20. E se, existencialmente, e em todo o caso, a realidade nao se revela como simples, o pensamento, como intencionalidade,eaocomplexo que se dirige e, assim, sistematica-metodologicamente, tendera a expressar-se2 ] . Mas sempre e/ou em ultima analise, se e, a existencia, fun?ao da realidade, tambem e entao e, o conhecimento, fungao do pensamento. . . E, correlativamente, se, em fungao da

]lI250;314 12I145-,n216 13I410;413 14I228-229 15I264-265 16II64; 100; 101; 109; 143; 151;I224a226 17U 64; 1 280; 410 18 II 140; 144; 355 Nas palavras de D. Santos, "Quando nos refenmos ao sistema de Kant, por

exemplo,ouao sistema de Hegel, queremos sempre exprimirumconjuntodeideias aqueofilosofo 'submeteu' a realidade, para melhor a compreender. Mas, por sistema, entende-se, tambem, nao somente arealidade tsubmetida',mas aindao caminho,emresumo,ometodoouoconjuntodemetodos seguidos e postos em pratica pelo fil6sofo" (I 355).

19I413 2° 1 145 21 1 413; 412

300 Revista Portugusa de Filosofia

relagao objectividade-transobjectividade, assim se imp6e a relagao sistema- transistema, nao menos deixa de impor-se, por conseguinte e afinal, a relagao metodologia-transmetodologia22...

2. Filosofia e conhecimento: razao especulativa - razao metodologica

Constituindo "O problema do conhecimento (...) um problema de relagoes", a sua compreensao envolve nao so a definigao rigorosa dos termos, como dos respectivos papeis, no todo do acto do conhecimento23. Avulta, ainda, uma questao fundamental - ado sentido do proprio conhecimento. Comegando poresta, iremos, finalmente, aquela.

Sentido do conhecimento

Para D. S., como para todos nos, "O fim do conhecimento consiste em ver as coisas como elas sao, independentemente das concepgoes que as deformam ou mascaram"24. Neste sentido, o risco que o homem corre, continuamente, e tomar como homogeneo o que de si e heterogeneo, ou como identico, o que de si e distinto. Assime ao longo dahistoria, a tentagao monistae/ou redutora da maioria dos sistemas. Paralelamente,eessa a questao central em todas asepocas. Temos, em tal sentido e nos gregos, os monismos de Parmenides e de Heraclito, a par das aporias de Plataoe de Aristoteles25, como, nos modernos, as redugoes espiritualista e materialista de Hegel e Marx26, a par das antimonias no sentido de Kant27.

Que o homem conhece, que conhecer e conhecer algo, sao questoes que D. S. nao discute. Que conhecer e conhecer realmente, em adequagao ou em identidade, em sentido de aproximagao ou no sentido de "conquista de toda a realidade", esse e o problema28. E para ai se dirige a atitude crftica de R. Descartes, para quern "o mundo das coisas, em intima relagao connosco desde a

22 Assim e nas palavras de D. Santos, "A expressao relacional entre o 'objectivo' e o 4 transobjectivo' recebeu, na antiguidade, adesignacao de hipothesis . E, em Nota, explica: "A Idade Media chamou a este 'processo' analogia entis propondo como categoria limite a A identidade'". E, "Nateoriadoconhecimento^temmaisimportaiiciao'momentohipotetico'doqueosaberjaadquirido, porque sem a passagem do transobjectivo para o objectivo - o momento hipotetico, no sentido de Platao - , nao seria possi vel ultr apassar o abismo entre a esfera imanente da consciencia e a esfera transcendente da realidade" (1 320-321). Mas, tambem, deste modo, se, por um lado, "caraterizar umsistema sem aludiraometodoeumaimpossibilidade",poroutro,"adiferencia- ^ao entre metodo e sistema nao a faz o proprio pensador, porque nenhum filosofo se dispoe, ab initio, a pensar a sua filosofia, depois de encontrar um metodo". Tal sera, como tambem precisa, obra dos discfpulos (I 355)!...

23 1 405 24I285 25I243 26I251 27 1 243; 302 28I338

Fenomenologia e Metafisica em Delfim Santos 301

infancia, nao pode ser o ponto de partida do conhecimento de n6s pr6prios nem da existencia de Deus, como o pretendia a celebre prova ontologica"29. Mais ainda, s6 podera perspectivar o sentido da realidade quern for capaz de f ilosof ar, ou seja, quern for capaz, "ao menos uma vez na vida, de por em duvida todas as cois as"30. So esse se encontra, efectivamente, no caminho da verdade'3 ' . E se, como quena Descartes, pensar e duvidar, o sentido do pensamento e o da verdade, enquanto em fungao da realidade. E aqui, em D. S., um dos pontos de ruptura com o cartesianismo e de aproximagao com Pascal. E que "A realidade e exigente na sua compreensao de algo diferente dos seres racionais do pensamento. Descartes, teorico da duvida, vivia de certezas; Pascal, teorico de certezas vivia de duvidas. Dois destinos, dois homens, duas concepgoes da vida. Um teorizava o que nao vivia, outro vivia o que nao teorizava"32. Mas, sentido da realidade e sentido de totalidade, que assim envolve o pensamento e a realidade, enquanto tais.

O acto e os termos do conhecimento

A admitirmos,comD. S.,que"O acto do conhecimento implica a existencia de uma consciencia e de um objecto que se pretende conhecer"33, o que entao e a partida se nos impoe patentear e em que sentido havemos de entender consciencia ou sujeito e objecto, em ordem ao fundamento e sentido do acto de conhecimento.

A consciencia/ 'sujeito

Se, seguindo a analise de D. S. a Descartes, tomarmos a consciencia no sentido do "eu empirico", este, no contacto com as coisas, deixa que a inteligencia "seja movida" pela imaginagao e esta pelos sentidos, no arranjo das imagens dos corpos34, alterando-se "com as coisas e com o tempo"35. Por isso, impoe-se, assim, e em contrapartida, o "eu transcendental", que "dispensa a imaginagao necessaria ao eu empirico e nao tern comercio com os sentidos", constituindo "fonte de verdade intuitiva" e "unidade imutavel que, de certo modo, preside a multiplicidade de aspectos e e garantia de unidade dessa multiplicidade"; e, entao, "permanece quando o outro se perde" e, por isoo, "sempre se encontra, quando se procura"36. Este, por conseguinte, o seu sentido de fundamento, face a consciencia empirica, que Descartes nao explorou, mas que, com Husserl, viria a tomar-se o centro da fenomenologia, enquanto "consciencia eidetica constitutiva da consciencia empirica"37.

^096 3On96 31 II 96 32II203 33I405 34n98 35n99 "11 99 37H99

302 Revista Portugusa de Filosofla

O objecto

Se o conhecimento e sempre relagao entre termos, a consciencia,empirica ou transcendental, e sempre fungao de algo que ela intencionaliza e a que se dirige. Esse algo e o objecto. Mas, como a consciencia se nos revela complexa, o objecto tambem nao e simples. E ainda, como diz D. S., "o problema do conhecimento mostra-se um pouco mais complexo do que o supoem as atitudes que apenas se fixam em um dos termos necessarios a relagao "sujeito-objecto"38. E que, como a relagao e sempre fungao dos seus termos, nao podemos entender nunca o sujeito sem o objecto e vice-versa. E a exigencia de transcendentalidade no sujeito e fungao, necessiria, da mesma exigencia no objecto. E que, se o objecto e sempre objecto para um sujeito, como sua "determinagao conventional" e "sempre criagao sua", resta-no sempre, tambem, ter a certeza se a percepgao das coisas do mundo exterior ou interior e identica a elas pr6prias39. E a dupla via, empirica e transcendental, e comum a "consciencia" como ao "objecto". Com efeito, se o sujeito empirico e fungao do sujeito transcendental, ou seja, se a subjectividade e fungao da transubjectividade, o objecto, ou a realidade empirica, e fungao da transobjectividade40; o mesmo e dizer, se o conhecimento, subjectivamente, ou como intencionalidade, e fungao do pensamento enquanto tal, objectivamente, ou como representagao, e fungao da realidade mesma. E se o problema da certeza avulta, no seu sentido ontologico, o problema da verdade supoe/implica o seu sentidoontico-espiritualoumatafisico. Sendoassim,na correspondenciaontologica se compreende o sentido epistemologico da certeza, como na correspondencia metaflsica, passa a entender-se o alcance gnoseologico da verdade...

O sujeito: fungao do pensamento

Se para Descartes e a partir do cogito, ha a distinguir as vias empirica e transcendental, para Husserl, tais vias sao as do "eu transcendental, extramundano e atemporal" e do "eu mundano e temporal"41. Mas, como em Descartes, em Husserl e com maior discernimento, e o eu transcendental que da sentido ao eu mundano e nao ocontrario. Em termos cartesianos, diremos: earazaoespeculativa que di sentido a razao metodol6gica, ou seja, e o espfrito que d£ sentido a razao42. Mas, assim, em fungao da realidade.

38 1 287 39II102 40I282;297 41 II 102 42I410

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2.2 A. O objecto: fungao da realidade

Se a razao metodologica, ou entendimento (ingenium para Descartes), colhe no pensamento, ou razao especulativa (intuigao para Descartes), as f ormas adequadas a sua compreensao43, e, em fungao da realidade e dos seus principios, que tais formas tomam sentido e arreigam fundamento, considerando-se a realidade, enquanto real ou ideal. Por outras palavras e tomando os termos alemaes, aplicados por D. S. e ja do nosso conhecimento, enquanto a razao metodologica e fungao do "Objekt" e este "e o produto da acgao cognitiva do sujeito sobre a realidade", por seu turno, "o sujeito nao e criador de gegenstand - ou de realidade - mas determinate, neste, das formas que o farao Objekt"44; devendo entender-se, entretanto, por "Gegenstand" toda a realidade, ou seja, a realidade do real ("Realitat") e a realidade real e ideal ("Wirklichkeit")45.

Por isso, e, nesta hermeneutica, se a razao especulativa tern que ver com a realidade, em fungao da sua unidade (totalidade) , a razao metodologica tern que ver com a realidade, em fungao da sua pluralidade (heterogeneidade). Neste sentido, a primeira e metafisica, a segunda ontologica; esta objectiva, aquela transcendental.

E... nao ha cienciacomoqualqueroutra area cultural sem filosofia,como, radicalmente e/ou, emultima analise, nao ha filosofia, e, por conseguinte, ciencia, sem Metafisica.. .

3. Filosofia e existencia: ontologia e fenomenologia/hermeneutica

Essencialmentedommiometafisico,e,existencialmente,afilosofia,dominio ontologico.

Fungao da realidade, enquanto tal,e, afilosofia, essencialmente, metafisica. Neste sentido e considerando a ambiguidade radical, espirito-realidade, e, perenemente, dominio antinomico no que respeita a realidade e dominio aporetico no que se refere ao pensamento.

Se, enquanto essencialmente considerada, a metafisica e dominio de antimonias na realidade e de aporias no pensamento, existencialmente, e tentativa dedeterminagaoontologicanareaMdadeedefonnalkagaocategorialnop^^ E, para tanto, em fungao do homem, dada a sua totalidade essencial-existencial. Com efeito, e, de acordo com Epicteto, tambem, para D. S., "ha coisas de que o homem depende e coisas que dependem do homem"46. E se, essencial ou ontica-

43I247 ^1280 45I280

304 Revista Portugusa de Filosofia

espiritualmente, depende, o homem, perenemente de algo, enquanto o transcende, e que, como tal, e seu fiindamento e sentido, existencial ou ontologicamente, algo depende dele, em fungao da sua atitude e actividade, quer de perplexidade e de admiragao, quer de diferenciagao e de determinagao. Manifestando-se, como dominio tetradico, enquanto "Materia, vida, psique e espirito, sao os quatro ingredientes fundamentals constituintes do homem e - enquanto- so ele, homem, os possui a todos e a todos os manifesta mediante o seu corpo proprio"47, e, entao, no seu todo, e, assim, essencial como existencialmente, e, por definigao, o centro ou o mediador do "pensamento" e da "realidade".48 E, como tal, "o centro" ou mediador do Universo 49, "trago de ligagao entre esses dois mundos heterogeneos - o de que ele depende e o que depende dele - que, na historia da cultura, aparecem, sempre, em forma de contrarios: espirito-natureza, alma-corpo, ser-nao ser, pensamento-extensao, finito-infinito, etc"50.

Sendo assim, essencial ou ontica-espiritualmente, e como dominio perene de antinomias61 , e, o homem, fungao da realidade e do pensamento, pelo que nunca podera subtrair-se-lhe, a nao ser comprometendo o seu fundamento e sentido. Existencialmente, sao, umae outro, fungao do homem; e assim, enquanto, sempre distintos como indecifraveis, na sua essencia52, so por ele ou na/pela sua mediagao, podem ser, por conseguinte, determinados e significados, como, alias, ele proprio63 !

Deste modo, se, para D. S., a Metafisica, existencialmente considerada, e Ontologia, Filosofia e Antropologia, tomam, assim e, afinal, ambas, o sentido de Ontologia Fundamental54. E, na/pela mediagao da Antropologia, a Filosofia, entao, se entende, quer essencialmente, como Metafisica, quer, existencialmente, como Ontologia. Ese,essencialmente,naoha Ontologia semMetafisica, existencialmente, nao ha Metafisica sem Ontologia...

Pelacorrelagao da Ontologia aMetafisica, na/pela mediagao da Antropologia, podemos ver, finalmente, a correlagao a estabelecer entre Ontologia e Fenomenologia, como e ainda, entre Ontologia e Hermeneutica; e, correlativa/ totalmente, entre Fenomenologia e Hermeneutica.

Ontologia e fenomenologia

De si indiferente ao homem e aos seus esquemas de compreensao e de explicagao, se arealidade apenas senos da na/pela mediagao doexistente, e, assim, ontologicamente, toda a tentativa e validade da determinagao ontol6gica se pode entender e fiindamentar, apenas e sempre, emfungao da realidade. E eis, portanto,

^1285 47 ffl 160 48I243 49H36 50I242 51 1243 52 1 293; 294; 309; 310; HI 148 M 1 244-249; U 144 M H 144

Fenomenologia e Metafisica em Delfim Santos 305

a relagao, necessaria e coerente, entre Ontologia e Metafisica. Essencialmente, metafisica, e, a filosofia, existencialmente, ontologia - E assim, enquanto a metafisica, como filosofia essencial, e fungao da ambiguidade: pensamento- realidade; e a ontologia, como metafisica existencial, e, fungao da ambiguidade: pensamento-existencia. Mas, deste modo, enquanto, essencialmente, pensamento e realidade, de si, nunca se econtram, porquanto, absoluta e perenemente contrarios, nunca poderao adequar-se, devem ser assimdepostas, emtal dominio e/ou a tal nivel, "as atitudes que tudo penetram, tudo explicam e tudo resolvem"66; existencialmente, porem, filosofar e ser capaz de estremecimento perante a realidade, distinguindo o diferenciado no aparentemente identico, o vario no constante, o uno no multiplo66. E, neste sentido, essencialmente, metafisica, 6, a filosofia, existencialmente, ontologiae ontologia fundamental. Ese, enquanto tal, e dominio antropologico, pois se perspectiva, em fungao do homem, no seu todo essencial^xistencial,e,entao,eassim,dominiofenomenol6gicoehennaneutico57...

Ontologia e hermeneutica

Se, ontologicamente, a filosofia se define como tentativa de determinagao modal e categorial da realidade, ela representa, como alias sempre representou, "tentativa radical de objectivagao..." da mesma realidad68, esforgo concreto e situacional do homem, enquanto existente. Sendo, a filosofia, perenemente, perplexidade do pensamento ante a realidade 69, e, entao, a Ontologia, tentativa de resposta existencialatal perplexidade; mas,semesta,ouseja,sema intencionalidade do pensamento face a realidade, como tal, a Ontologia nao teria sentido. E assim se estabelece a necessaria e perene relagao da Ontologia a Fenomenologia. Mas, paralela e essencialmente, e tambem, aqui, que se situa a relagao fundamental da Ontologia a Hermeneutica. E que, toda a tentativa de objectivagao e fiingao da intuigao primordial da mesma realidade, nao empirica, mas transcendentalmente, e, assim, considerando,quer arealidade, enquanto transobjectiva,quero pensamento, enquanto transubjectivo; ou seja, enquanto a luz do pensamento puro ou da intuigao transcendental, no sentido de Husserl, a realidade se desoculta como heterogenea, e, em fungao da realidade heterogenea, o pensamento se evidencia, pluralmente, exercendo-se como actividade categorial, na adequagao de formas e principios "proprios a cada sector da realidade"60, ou das suas "regioes heterogeneas61.

Dominio de intuigao e, como tal, de compreensao e de sentido, reporta-se,

55 1 358 » 1 248; 358; II 210 57 1 281; 339-340; 289; 232; 341 ^imO ^ 1221 ^1248 61I250

306 Revista Portugusa de Filosofla

a hermeneutica, directamente, ao poder do espirito62. E se, como tal, se perspectiva, essencialmente, na ordem supra-temporal, manifesta-se, existencialmente, na/pela revelagao de instantes, ou seja, na/pela ievelagao supra-temporal, no tempo, ou comohorizontedo humano... E,nestesentido,evidencia-seerevela-seomisterio da totalidade essencial-existencial, que o homem representa, enfim, como existente!63 Mas, nesta compreensao, tal ocorre, em fungao do binomio ontico-ontologico, como, correlativamente, fenomenologico-hermeneutico, e em transcengao constante: ontologico-ontico, como, correlativamente, entao, hermeneutico-fenomenologico64... E, sempre e apenas, nesta correlagao, a filosofia se entende, emD.S., seja essencial e existencialmente, como dominio de extremos, seja essencial-existencial-essencialmente, como dominio de ambiguidade-totalidade. . .^

Fenomenologia e hermeneutica

Como nos foi dado ver, se, em fungao da realidade, assim sobreeleva o primado da fenomenologia, em fungao do pensamento, sobreeleva, correlativamente, o primado da hermeneutica66.

Considerando o primado da fenomenologia, sempre o pensamento, como dominio de intencionalidade para a realidade se dirige e a ela tenta conf ormar-se67, pelo que Fenomenologia-Hermeneutica e Ontologia Fundamental, assim se identificam, na totalidade da determinagao e conformagao existential da realidade, como das respectivas categorias e principios significativos68. Considerando, em contrapartida, o primado da hermeneutica, na medida em que entre a nossa determinagao-representagaodarealidadeearealidademesma,medeia,justamente, o abismo, nessa proporgao, o pensamento por ela se pergunta, perfilhando-a 69. E, desse modo, entao se opera, necessaria como coerentemente, a inversao da coixelagaofenomenologia-hermeneuticaemhenneneutica-fenomenologia...70Mas, por isso mesmo, agora, tambem e de novo, radical-perenemente, em fungao da metafisica, enquanto entendida, portanto, como dominio de indeterminagao- inconformagao, porque da realidade e do espirito, o que tanto significa, como dominio ontico-espiritual e como tal, e, entao, correlativamente, fenomenologico e hermeneutico... se bemque, adequada e/ou correlativamente, axial-fundamen- tal...71

62 1 289; 245 « 1 246; II 68 "1 245; 285; 289; 347; 361 ; IE 5 19; H 43 65H65 "II151 67I310;300 68H144 ^1181 70ni44 71I286

Fenomenologia e Metafisica em Delfim Santos 307

4. Filosofia e pensamento: determinagao fenomenologica e conformagao hermeneutica da realidade

Sendo, essencialmente , aMetafisica, filosofiafundamental, existencialmente, filosofia fundamental e a Ontologia72.

Fungao da ambiguidade pensamento-realidade, e, a metafisica, como filosofia fundamental, dominio de indeterminagao na realidade como de perplexidade no pensamento. Esse o seu sentido essencial ou ontico-espiritual73.

Fungao da ambiguidade pensamento-existencia, e, a Ontologia, como fUosofiafundamental,domWodedetermina5aonaiealidade,comode conformagao no pensamento. Esse o seu sentido existencial ou ontologico74.

E quer como Ontologia, quer como Metafisica e a Filosofia, perenemente, dominio de fundamentagao e de sentido, a partir do existente e/ou do homem como existente, em fungao da sua totalidade essencial-existencial: seja pela sua transcendencia ontica-espiritual, sej a pela sua transcendentalidade ontologica e/ou ontol6gica-axiologica76. Por isso e tambem na perspectiva da fundamentagao e do sentido, Ontologia e Antropologia se identificam76.

Essencialmente ou em fungao da ambiguidade radical pensamento-reali- dade, e, a metafisica, filosofia fundamental. Este o sentido aporetico e o caracter antinomico, respectivamente do pensamento e da realidade, a justificar quer a busca da/na realidade, quer a interrogagao do/no pensamento77. Por isso, apenas quern e capaz de "ver" se admira e so quern se admira e capaz de se interrogar78. E se a admiragao que faz o filosofo e fungao do pensamento, enquanto "visao" do/no espirito, a interrogagao que o assinala e determina e fungao da/na realidade mesma, na totalidade do visivel e do in visivel79. . .

Se, e, apenas, existencialmente ou no tempo, so quern e capaz de admiragao se interroga sobre a realidade... interrogaram-se, entre outros, Platao, Descartes, Kant e Husserl. E interrogaram-se enquanto foram capazes de por em duvida o que, como certeza, lhes era dado e o que, como verdade, lhes aparecia determinado. AssimesegundoD. S.,estabeleceram: Plataoadialeticadosensiveledointeligivel, Descartes o metodo analitico, Kant o metodo sintetico ou transcendental e Husserl o metodo transcendental ou eidetico80. E todos chegaram a filosofia, filosof ando, a partir da cisao dos dominios empirico e transcendental, ou seja, da fisica e da metafisica...

Estabelecida acisao dos dominios empirico e transcendental, e pela mediagao-

72 I 245 73 1 226; H 295 74 1 226; H 96; 99; 304 75 1 245 76 n 68 77 1 310-312 78 1 284 79 I 247 ®° II 96; m273

308 Revista Portugusa de Filosofia

imediata do pensamento que a realidade se revela ao espuito8 ] e este, pelas suas f ormas e principios a consegue determinar, modal e/ou categorialmente82. Neste sentido, se metafisicamente nunca nos podemos pronunciar sobre a realidade, ja, ontologicamente, a podemos representar e signif icar. . . Se, sob o ponto de vita da determinagao sectorial e da significagao categorial, nao hi metafisica sem ontologia, sob o ponto de vista da cisao dos pianos empfrico e transcendental, nao ha ontologia sem metafisica. E a meditagao de Descartes, como de Kant e de Husserl, estao, afinal, presentes : a duvida metodica de Descartes, a par da epoque de Husserl, os esquemas de Kant, como os noemas de Husserl, e a transcendentalidade, em alternativa a empiria, em todos83.

Paralelamente, presentes estao, tambem, as meditagoes de M. Heidegger e de Nicolau Harteman, como, inclusive, as de Klages e de Montague84.

Em todo o caso e na/pela evidenciagao do seu pensamento proprio, transcendente-transcendentalmente, ou seja, em fungao da realidade e do pensamento, afilosofiaseespecifica,querpela determinagao fenomenologicadas v arias regioes da realidade, quer pela conformagao hermeneutica das categorias e principios a ela adequados86. E, assim, em fungao do que, em totalidade e antes da referida distingao, justificando-a, consideramos, atinentemente, o Sentido Fenomenologico-Hermeneutico.

O Sentido fenomenologico-hermeneutico

Determinagao fenomenologica: as regioes de definigao da realidade

Partindo da "existencia"86 como unico universal pensante e que identifica com "o que existe" ou o "existente" (pois "o nao existente" e impensavel) e enquanto para si e no sentido de S . Tomas "o conceito de existencia apenas se pode conotar com a realidade in re"87, comega D. S. por ver na materia "o estrato fundamental ou o suporte de todas as manifestagoes vitais"88. Considerando-a "a camada suporte de todas as outras camadas agentes no todo", toma-a como "base de compreensao para o problema da existencia"89 - o unico estrato a que se deve ligar "o valor de individualidade", enquanto "so ela e logicamente pensavel 'existir por-si'"90.

Vincando que o universo e um todo e que, como tal, ou seja, na sua unidade, esta sempre antes dos seus elementos91 e muito menos devera ser identificado com qualquer deles92, considera que se a materia e estrato basico na sua ordem de existente "real", "resistente"93, nao esgota, entretanto, a realidade, de si mais

81I360 82I267 WI269 MI266 85I309;314 86I262 87 1 270 88I270 » 1 269; 360 <?0I269 91 II 68 92H68

Fenomenologia e Metafisica em Delfim Santos 309

complexa do que "o real". Inclusivamente e dadas as varias e possiveis £reas a considerar, adverte para o risco do evolucionismo, segundo o qual "cada uma das regioes da realidade (...) e apenas super-estrutura daregiao basilar ou materia"94.

Se a materia ou "0 real e talvez a regiao fundamental da realidade" como "suporte de todas as suas manifestagoes, por mais tenues e insensiveis que elas sejam ao homem e ao seu mundo", integra, o espirito, realmente, a mesma realidade, e, entre a materia e o espirito, ha a considerar, tambem, como estratos fundamentals, a vida e a consciencia95. E se, deste modo, possivel se toma, ao homem, a determinagao existencial da realidade96, tal ocorre em fungao da totalidade desta como transcendencia, de si sempre anterior e indiferente a qualquer tentativa de determinagao e de significagao e, como tal, seu fundamento esentido97. Com efeitoeperemptoriamente como afirma,D. S.: "haumprincipio respeitavel e que nao deve ser esquecido: se ha relagoes no universo nem tudo nele deve ser relagao; se ha substancia no universo, se ha ontos, nem tudo nele pode ser substancia e talvez haja mais coisas no universo alem de substancias e relagoes"98...

Como ve, na mat6ria, o suporte da vida, ve, nesta, "o sustentaculo da consciencia", considerando-a como "f orga generica, indiferenciadora, atribuindo a cada ser as mesmas exigencias e o mesmo sintomatismo"99. Assim, se a materia respeita "o valor de individualidade", a vida se deve ligar "o conceito de identidade e de igualdade"1 00. Eis , poruqe, enquanto a materia nos separa, a vida nos aproxima. E se, ontologicamente, nao podemos conceber a vida sem a materia, paralelamente, nunca aquela pode converter-se nesta, pois, de si, sao sempre irredutiveis101 .

Em estratificagao existencial ascendente, se, basicamente nao ha vida sem materia, no mesmo sentido, tambem, nao pode haver consciencia sem vida.

Em alternativa a vida como forga "persistente"102, constitui, a consciencia, como area aproximada, dominio de "insistencia"103. De si "perfeitamente individualizadora - e - a maior forga de separagao, de particularizagao, que o universo possui"104. Ese,ambas,podem existir por si, como a materia eo suporte da vida, constitui, esta, tambem, o suporte da consciencia, pelo que, se nao hi vida sem materia, tambem nao pode haver consciencia sem vida, enquanto constitui, esta, seu apoio105.

Finalmente, assinala D. S., o espirito. E como a consciencia surge, em alternativa k vida, surge, aquele, em alternativa iconsciencia106. Paralelamente, se face a independencia das varias areas emreferencia,considera,entretanto,D. S., a sua interdependencia, alternativamente a sua diferenga considera, tambem, a sua

93I270 94I269 ^JRAOUAOl ^1270 97I270 ^^SB "127 loon68 ioi j 272 102 x 253 i03I256 1O4I253 105I270 1O6I270;251;257;258

310 Revista Portugusa de Filosofia

semelhanga. E ass im como a consciencia, em contraste com a vida, se assemelha a materia, pois ambas se aproximam na/pela individualidade, o espMto, em contraste com a consciencia, assemelha-se a vida, dela se aproximando como forga de unificagao107. Efectivamente, "O espuito e sempre relagao, e aquela 'porgao do homem' que revela o homem ao homem e que une o homem com o homem"1 08. Por isso, enquanto "A consciencia separa o espuito unif ica - afirma- o certa tendencia da actual filosofia"109. E, por isso e, este, especificamente, dominio de comunicagao. E, entao, "A consciencia nao e a ultima realidade que nospodemos atingirnoindividuohumano. Acimadela,haaesferade compreensao que liga os homens - o espuito - ao contrario da consciencia, que os separa"1 10. Def inindo-o como "regiao da liberdade, sem, como tal, poder ser apreendida por qualquer esquema"1 ] ] , a sua modalidade e, adequadamente, a da "existencia"1 ] 2 e "so pode ser explicavel pelo abandono de todas as categorias pr6prias as outras regioes"1 13 - E assim, enquanto, estruturalmente constitui "a mais intensa forma de universalizagao que domina o homem" e o proprio universo, como a mais universal de todas as regioes1 14, dado o "seu poder de libertagao das esferas da realidade as quais se liga e das quais, em parte, depende"115. E o problema da relagao da consciencia k vida, p6e-se, aqui, em termos identicos, ante a relagao do espuito a consciencia, como, inclusivamente, em relagao ̂s restantes areas da realidade. Eque,seoespfritocomotal,edominiodeuniversaliza5ao, peloque"um espuito solitario e inconcebivel" e assim difere da consciencia1 ] 6, ha, entretanto, espiritos conotados a materia, como a vida ou a propria consciencia1 ] 7. Agora, "que o espuito puro seja experimentdvel, embora isso seja tambem a intengao da metapsiquica, nao podemos ate hoje verifica-lo e e disso prova o caracter pessoal, restrito, particular, que sempre tern a comunicagao dos espuitos", e que D. S. considera, entretanto, "urn ponto dificil, cujo esclarecimento nao foi ate hoje possivel"118!...

Estabelecida a pluralidade ontologica dos varios estratos/modalidades da realidade, associa/correlaciona, D. S., a sua "situagao altemante". Mas sem deixar, entretanto, bemclaro, que, de qualquer modo, em todos, como emnenhum dos estratos considerados, a realidade se esgota1 ] 9. E, por isso, apenas em fungao dela, todos e qualquer deles, individualmente enas/pelas respectivas correlagoes, j a determinados/as e/ou a determinar, poderao garantir fiindamento e/ou arreigar sentido120

Entretanto e face a determinagao dos domihios considerados, por associagao

1O7I253;361 1O8I258;259 109I258 11OI251 inI251 112I251 113I271 114I250 115I266 116I397 117I252 118ni68 119I272;399 120I266

Fenomenologia e Metafisica em Delfim Santos 311

e altemancia, outros ja poderao ser especificados/compreendidos, como o mostram as unidades "materia-vida", "materia-vida-consciencia" e a sua "totalidade", na conformagao, quer dos estratos que conformam os simples seres vivos - nivel vegetal - como os animais - nivel biologico - e o homem - a personalidade ] 2 ] . E se, em escala ascendente, podem, emrelagao & personalidade, ser ainda divisados novos domihios - que integram, hoje, as chamadas ciencias humanas ] 22 -de todos os dominios reais e possiveis, sao, para D. S., os dominios de oposigao mais definitorios, os que se impoe considerar. E assim no sentido de se evitarem as unilateralidades e os monismos. "Doutro modo, a especulagao elevara a unilateralidade a totalidade, o que sempre acontece quando a investigagao perde o * ponto de vista ' adequado a cada sector e de cada um deles pretende f azer centro de projecgao compreensiva de todo o Universo"1 23. E os monismos da materia e/ ou do espirito, sao, inclusivamente, "parentes demasiado proximos, quer para se oporem, quer para se conciliarem"1 24, como, de resto, o demonstram, sobre o nosso tempo, seja o espiritualismo, seja o materialismo125. Dai que a critica a qualquer deles "tera de partir da admissao dum pluralismo ontologico que seja a expressao de respeito pela diversidade do real e pelo interesse de conhecimento absoluto, isto e, perfeitamente adequado a cada uma das esferas de interesse para o homem"126.

E a compreensao pluralista da realidade, consignando existencial/ estruturalmente varias esferas, consigna, formalmente, varias categorias. Ali, em fungao da fenomenologia, aqui, em fiingao da hermeneutica. Ali, pela determinagao da realidade, aqui, pela conformagao e significa^ao do pensamento: em totalidade essencial-existenciaL .

Conformagao hermeneutica: as varias categorias e principios de compreensao da realidade

Para D. S., se "a analise fenomenologica nos mostra a realidade como pluralidade de diversos", as categorias proprias a cada um dos aspectos nao servem ao estudo dos outros"127. Na aproximagao, embora inicialmente metodologica, daquilo que a filosofia medieval chamou ratio essendi e ratio cognoscendi"128, ve,D. S., osentidoda Filosofia como Ontologia Fundamental, na sua totalidade. Assim, sob o ponto de vista da realidade, "O primeiro momento indicar-nos-a, embora aproximadamente, a extensao regional de cada uma das camadas em que se pode decompor a realidade"; sob o ponto de vista do pensamento, "o segundo momento dar-nos-a as categorias adequadas ao

i2i j 272 122 1272 123I273 124I273 125 IE 401 126I251 127I260 128I250

312 Revista Portugusa de Filosofia

conhecimento de cada uma dessas regioes"129. Por isso, precisa que "Ha no pensamento contemporaneo um duplo problema que ocupa o primeiro piano da especulagao filosofica e nos parece serde importancia central e de consequencias fundamentals: o problema das regioes da realidade e o problema das categorias com ele conexo"130.

Determinada a perspectivagao formal do universo, como "ratio esendi", impoe-se-nos, assim, a correspondente consignagao categorial, como "ratio cognoscendi", na adequagao dos esquemas e principios do pensamento aos esquemas e principios da realidade131, como determinagao e compreensao do existente e do existente como humano132, em si e no seu papel de mediador.

Sumariamente, e, com correspondencia a determinagao tetratica da realidade, estabelece, D. S., que se a "materia" diz respeito o "espago", que entretanto se torna "insuficiente, logo que em frente a ela esta um observador", - pelo que, segundo a fisica contemporanea, se imp6e, ja, face a materia, a categoria mista "espago-tempo" - a vida corresponde, com propriedade, a mesma categoria mista "espago-tempo", enquanto a consciencia ]& dira respeito a categoria sintese "tempo-espago" e ao espirito corresponde, adequadamente, a categoria, de si universal, "fora do tempo-espago"133.

Determinadas, formalmente, as varias regioes da realidade e consignadas as respectivas categorias adequadas, enuncia, finalmente, "os principios imanentes que emprestam vida e diferenciagao" a cada uma das regioes, pelo que "seriam 'causalidade', Tinalidade'/intencionalidade' e 'liberdade' os principios a considerar"134. 0 principio de causalidade terd sido o tinico "estudado ate hoje", na atribuigao ajustada a materia e, dai, a sua aplicagao forgada pela ciencia, "na sua historia", a todos os restantes saberes, como tipos de "explicagao causaF'136. "O principio de finalidade comega a ter existencia propria", no seu dominio adequado: o da vida. O principio de intencionalidade, devido a Brentano, "esta ainda em estado rudimentar", devendo-se o seu campo de aplicagao e aprofundamentoaHusserl: odomuiiodaconsciencia. Enoquerespeitaao principio da liberdade, "ao qual diz respeito toda a obra de Hegel, e o unico adequado a compreensao da fenomenologia do Espirito" ] 36.

Consagrando um dominio - o espirito - que considera "talvez, o que mais tern sido obscurecido com a transposigao de categorias" inadequadas ] 37, associa- o, directa e/ou especificamente, ao homem. Por isso, e como bem realga, "o organico e o psiquico nao esgotam, ainda, as manifestagoes do homem enquanto homem. Ele e portador de qualquer coisa nova no reino animal, que do animal o

129 j 266 lao j 397 i3iI321;250 132 1 248; 249; 361; 362; m 497 133 j 272 '"1272 135I272 136I273 137I273

Fenomenologia e Metafisica em Delfim Santos S13

separa radicalmente e que, com maior ou menor precisao, se chama * espirito ' ' ' ] 38.

Neste sentido, ha entao que ultrapassar as tendencias unilaterais como todos os monismos, seja o materialismo, seja o espiritualismo, "parentes demasiado proximos, quer para se oporem, quer para se conciliarem"139; como ha, tambem, que acautelar as tendencia evolucionistas, ao pretenderemfazeremergiro espirito de estratos inferiores e/ou procurando identifici-lo com os esquemas da psique ou da consciencia, como aconteceu, concretamente, com a psicanalise1 40. De resto e D. S . e peremptorio, "A tentativa de recondugao do espirito a consciencia tern como primeira e importante consequencia a aboligao de fronteiras entre o homem e o animal. Outra destas consequencias e a tradugao de toda a vida espiritual em termos quepertencemadescrigao da consciencia, como modemamente aconteceu com a psicanalise de Freud"141.

Nao! O espirito, seja existencial, seja essencialmente considerado, e um dominio especial e irredutivel142. Por isso e como bem o fez sentir, logo nos seus primeiros escritos, como, pertinentemente, ao escrever sobre Keyserling e a Escola de Darmstadt, como, depois, sobre Klages143, "Para a nossa epoca o fundamental e o Espirito"144. E assim, sempre, tambem, no sentido/concregao do homem, que nao pretende, hoje, encamar "o tipo abstracto e inumano legado pelo seculo XVIII, mas sim o homem concreto, total, de corpo vivo e alma viva, que afirma a realidade do espirito como alguma coisa tao concreta como a came e a uniao da alma e do corpo, do mundo metaf isico e do mundo empirico, como unidade completa e indivisivel"1 45.

O sentido hermeneutico-fenomenologico

Como dominio fenomenologico-hermeneutico, especifica-se, a filosofia, como dominio ontologico fundamental1 46. Nesse sentido e como acabamos de ver, determina/conforma,D.S.,ontologicamente,a realidade, no todo modal tetradico indicado,e,emfungaodocontexto cultural e/ouhistorico/culturalenvolvente147. E, se, assim, ontologicamente, assim fenomenologica-hermeneuticamente. E que, enquanto, fenomenologicamente, arealidadesetomacomodomuiiobasica- mente dado e/ou determinado/estabelecido, hermeneuticamente, toma-se, o conhecimento, como dominio identicamente acabado, enquanto categorial/ significativamente conf ormado1 48.

Fundamental/intencionalmente, e, a filosofia, identica/entitativamente,

138 1 259 139 1 25i 1401256 141I256 142I253 143I256 1441 17 1451 17 146ni44;ini48 147I267 148I361

314 Revista Portugusa de Filosofia

filosofia. Ontologicamentein-pr6Kletemiinado,cognitivamente in-pre-condicionado, e, como tal e assim, em absolute), dominio ontico-espiritual, como, correlativamente, dominio fenomenologico e hermeneutico. Dominio de axialidade e de sentido, os mais radicals, e, por isso mesmo, dominio, quer transcendente, por meta-historico e, como tal, inesgotavel, quertranscendental, por absoluto e, como tal, perene. E dominio, emsuma, metafisico.

Portudo e aqui chegados, temos assim de concluir que, progresso filosofico, e, afinal, regresso metafisico149... O dominio fenomenologico-hermeneutico, e, como tal, & partida e a chegada, fungao do dominio metafisico ou fenomenologico e hermeneutico fundamental... Mas assim e entao, sempre e de novo, em transcengao,dominiohermeneutico-fenomenol6gico...Saber-do-nao-saberomais exigente, interrogagao da interrogagao a mais radical. . . em fiingao, em absoluto e/ ou perenemente, portanto, da realidade e do espirito, tais quais: O Dominio Metafisico!

5. Filosofia: fenomenologia e metafisica

Comojasabemos,paraD. S.,ocaminhoquepossaconduzira "determinagao do que se deve entender por

4 Filosofia' , nada tern de sistematico e de reflexivo"1 60. Perante a tentativa de determinagao do que se deve entender por filosofia,

comega D. S. por rejeitar, portanto, a partida, qualquer sentido "sistematico" e "reflexivo"161. Deste modo, ve-a, entao, em fungao da relagao directa do pensamento e da realidade. E se, esta, enquanto "gegenstand", comporta o sentido transobjectivo, e, como dominio ontico, e, de si, sempre, indeterminada, o pensamento, de si transobjectivo, e sempre transcendental e, enquanto tal, incondicionado152.

Nesta compreensao. como dominio perene de perscrutagao da/na realidade e de inquirigao do/no pensamento, toma, assim, a filosofia, para D. S., fundamentemente, o sentido metafisico e, enquanto tal, intencional/ significativamente, fenomenologico e hermeneutico.

O sentido metafisico

Seametafisicae,paraD.S.,essencialmente,dominio6ntico-espiritual,em tal perspectiva, ou seja, sob o ponto de vista da realidade (real ou ideal) nao ha filosofia sem metafisica. Fungao da tensao dialectica-sintetica pensamento- realidade, enquanto tais, no seu alcance entitativo e total, a filosofia supoe, entao,

149 j 239 iso j 225 ™ 1 223-224 152 1 280; 282-283

Fenomenologia e Metafisica em Delfim Santos 315

a metafisica, como seu fundamento e sentido. Assim pela realidade, assim pelo pensamento. Mas se, por realidade, nao podemos entender "o mundo dos corpos e das coisas, o dominio da mutagao"163, por pensamento tambem nao podemos entender o "sujeito empirico que comunica directamente com a realidade (e que) e naturalmente variavel e em constante comunicagao com o variavel no real"1 54. E se, por exigencia da totalidade que a filosofia compete, nao podemos admitir a "dicotomia de valor ontologico entre sujeito empirico e sujeito transcendental", abandonando-se um deles como desprovido de interesse, porquanto, "o problema" fundamental nao pode ser resolvido com a desvalorizagao de qualquer dos aspectos ] 55, tambem e certo que, "sem a possibilidade de um sujeito transcenden- tal nao ha verdade, como sem a possibilidade dum real transcendental nao ha conhecimento"166. Eis porque conhecimento e realidade sao problemas indissociaveis e "O problema do conhecimento e um problema central entre o problema da realidade e o problema da verdade"167. Mas se, por um lado e como ja mostramos, verdade nao e certeza, por outro, pensamento nao e conhecimento. E,fundamentalmente, domrnioderealidadee,afilosofia,tensional,esinteticamente, dominio de pensamento. Por isso, assim se distingue, essencialmente, do conhecimento empirico, como do conhecimento cientifico. E se, a qualquer nivel, empirico, cientifico e filosofico, e sempre, o conhecimento, dominio de relagao, o fundamento metafisico de tal relagao aponta, sempre, para os extremos e e, por essencia, seu fungao necessaria. Por isso e como diz D. S., todo "o acto de conhecimento e uma relagao mutual", que, sob o ponto de vista da nossa representagao, toma, como em Scheling, o sentido da relagao sujeito-objecto, ambos se exigindo e, nesse sentido, sendo correlativos, porquanto, nao sendo um sem o outro, sao um pelo outro168; paralelamente e no sentido de Brentano, "0 conhecimento e sempre conhecimento de algo (...) independentemente do que esse algo possa ser"1 69, o que revela a intencionalidade do pensamento e, nela, a sua altemativa e diferenga, face a realidade. E entao, a relagao de identidade sujeito-objecto, como dominio de determinagao/representagao, e fungao, necessariamente, da relagao tensional e dialectica pensamento-realidade, como dominio de fundamentagao1 ^ Neste sentido, porem, "o fen6meno de conhecimento opera-se sempre entre diversos e mesmo no dominio considerado limite", como no dominio do proprio pensamento, enquanto reflexao, considerando, por exemplo, a distingao "pensamento pensante" e "pensamento pensado"(Gentile) ou "noesis" e "noema" (Aristoteles e Husserl)1 61 . Mas, entao, e sendo assim, "a oposigao nao e oposigao se os seus termos antagonicos sao 'sujeito' e 'objecto'", mas "e muito

153 1298 154I303 155I302 156I307 157 U15 158I304 159I304-305 160I306 161 1 180-181

316 Revista Portugusa de Filosofia

maisgrosseiraeatingiremos melhorasuaprimitividadeselhedermos aexpressao pensamento e realidade..."162.

Essencialmente metaffsica, em fungao da tensao dialectica-sintetica pensamento-realidade, e, a filosofia, perenemente, domfnio de fundamental e/ ou de perscrutagao da/na realidade e, enquanto tal, de sentido e/ou de perplexidade do/no pensamento; mas constitui, esse, exactamente para D. S., na linguagem contemporanea e como domfnio fundantemente transcendente e transcendental, o seu sentido, respectivamente, fenomenol6gico ehermeneutico, como momentos dumamesmatotalidade: A Metafisica.

Os sentidos fenomenologico e hermeneutico

Como esforgo de conhecimento, se a filosofia, sob o ponto de vista da realidade, e fungao de opostos, sob o ponto de vista do pensamento, e fungao da relagao dialectica-sintetica desses mesmos opostos. Neste sentido a entende D. S . , adequada e respectivamente, quer como metafisica, quer como ontologia. E se a filosofia, ja, ontologicamente, e fungao da determinagao fenomenologica e daconformagao hermeneutica, e, genuinamente, no piano metafisico, que se situameavultam os sentidos fenomenologicoehermeneutico,que,definitoriamente, lhe pertencem, enquanto domfnio de fundamentagao e de sentido, e, como tal, ontico-espiritual.

Considerando a autonomia entitativa, quer da realidade, quer do pensamento1 63, a sua adequagao, pela idntificagao de princfpios, suporia, segundo D. S . , "a admissao dum intellectus infinitus, que acima das duas instancias, pudesse constatar a adequagao"1 64. Entretanto, e em contra-partida, garante, tamtam, que "O interesse da filosofia consiste em nao se deixar dominar pelo desejo primdrio de explicagaoouclassificagacmasemreduziraomaximoadiferenciagao entre a "aparencia" e a "realidade" das coisas"; como mais garante, ainda e inclusivamente,queso"quandoforpossfvelcomessarela?aoatingiracoincidencia da aparencia com a realidade - tera entao, a filosofia, um ponto de partida seguro"165... E com a distingao fundamental entre "aparencia" e "realidade", assim se esclarece o "paradoxo"... garantindo-nos "um vasto campo aberto a investigagoes..."166. E que, sob o ponto de vista da "realidade", o unico saber 6 "o saber-do-nao-saber", pelo que a realidade e sempre transobjectiva e o pensamentosempretramubjectivo-eaf,odomfniofenomenol6gicoe hermeneutico da metafisica; sob o ponto de vista da "aparencia da realidade", nao no sentido comum, mas transcendental167, "O que realmente se verifica e que todo o

162 1 340-347 163I303 164I286 165I282 166I252

Fenomenologia e Metaffsica em Delfim Santos 317

progresso do conhecimento consiste na adequagao dos principios do conhecimento aos principios do ser, sem que o 'conhecimento' nao teria sentido"168 - e aqui, o dominio fenomenologico e hermeneutico da Ontologia. E ontologica como metefisicamente, a filosofia colhe fiindamento e sentido, na e pela mediagao da existencia humana, em concrete, dada a totalidade essencial-existencial do homem, como sintese de "materia-vida- consciencia-espirito"169, o que faz dele, na conjuntura daquilo de que ele proprio depende, como daquilo que depende de si, na evocagao de Epicteto170, o linico, enquanto adequado mediador171: no que depende de si, enquanto, existencialmente, assim se especifica como totalidade de materia, vida, consciencia e espirito; no que o transcende, enquanto, essencialmente, e, sempre e/ou em ultima analise, fungao da realidade/ser e do pensamento/espirito - ali, o dominio ontologico e/ou ontologico/axiologico; aqui, o dominio ontico-espiritual ou metafisico.

Em fungao de si mesmo, da sua capacidade de perplexidade e de admiragao, interroga-se, o homem, radicalmente, sobre o que o envolve como sobre si proprio, assim renovando e/ou inovando, modal/existencialmente, o dominio de determinagao/interpretagao (fenomenologia/hermeneutica) dos varios estratos/ regioes da realidade - a Ontologia e/ou Ontologia/Axiologia172. Mas tal lhe e possivel e melhor nos sera dado ver, ao debrugarmo-nos sobre a Antropologia, em fungao e na proporgao da sua insergao/mediagao, no/pelo Espirito... E assim, enquanto, este, essencial-existencialmente nos integra e, em alternativa, nos especifica, no contexto do Universo, como essencialmente nos transcende, em fungao, directamente, da Realidade... E a determinagao/conformagao (fenomenologia/hermeneutica) ou o piano ontologico e/ou ontologico-axiologico, e, afinal, fungao, necessaria/perenemente, da indeterminagao/inconformagao (transcendencia/transcendentalidade ontologica-axiologica, como fenomenologica e/ou fenomenologica-hermeneutica) oudo piano darealidade/sere do pensamen- to/espirito, entitativa e totalmente considerados173; e aqui, em ambiguidade/ totalidade, portanto, fecunda por radical e/ou fundamental e perene: A Metaf isica!

Reflexao Final

Em torno de M. Heidegger, "por inspiragao alema e fruto do contacto directo"174, se perspectivou, D. S., a sua Dissertagao Doutoral - "Pensamento e Realidade", nessa intencionalidade e ambito, posicionamos, nos, "Filosofia- Ontologia e Metaffsica em Delfim Santos", que publicamos, nesta Revista, em

167 1 281 168I287 169 1 296; 286; 285; 242 1701 285; II 200; 201; 205 171HI497 172H144;I351 173 1 266; 181; 182; 286 174 II, 227

318 Revista Portugusa de Filosofia

1987 176. Em torno de N. Hartmann, em identica inspiragao e contacto, e associando,

com D. S. , "as correntes f ilosoficas representadas por Nicolau Hartmann e Martin Heidegger"1 76, apresentamos, hoje, "Filosofia-Fenomenologia e Metafisica em Delfim Santos", ou, simplificadoJFenomenologiae Metafisica em Delfim Santlos.

E. . . cumprida a promessa1 77 ( ! ), oxala possa, o leitor, convir, connosco, hoje, como entao, que se razoes teve, sem diivida, D. S., em seguir o seu proprio caminho178... valem, tais razoes, no ambito da Ontologia, como... afinal, da Fenomenologia!... Enquanto,perenemente- e... gloria sua, a todos os titulos! -no ambito da Metafisica! Mas,por aqui,eexactamenteporaqui... outravez,tambem, tera de ser!

MANUEL GUEDES DA SILVA MIRANDA

175 Revista Portuguese de Filosofia, 43 (1987) 337-356 176 H, 227 U7R.P.F.t 43 (1987) 356 178 Enquanto, pelas suas proprias palavras, "nem sempre (...) solidario com as teses

apresentadas" - de M. Heidegger e N. Hartmann.

Fenomenologia e Metafisica em Delfim Santos 319

Reswno

No sentido do seu pensamentopretendemos, com opresente estudo, equacionar, adequadamente, arela^ao fenomenologia e metafisicaem Delfim Santos.

Ante arealidade e no ambito do sistemae do metodo, distinguimos os dominios essencial-trans- sistematico ou metafisico e existencial-sistematico ou ontologico. Face aoconhecimentoe no contexto darazao especulativae metodologica, anotamos os sentidos de conhecimento, acto e termos, de sujeito (consciencia) e objecto, esclarecendo que se, metafisicamente, o sujeito se posiciona perante o pensamento, entender-se-a, o objecto, apenas, em fungao da realidade.

Ante aexistenciaeno ambito da ontologiae da fenomenologia, equacionamos,sucessivamente, as relacoes ontologia e fenomenologia, ontologiae hermeneuticae fenomenologiae hermeneutica. Face ao pensamento e no contexto da fenomenologia e da hermeneutica, se come9amos por evidenciar a relafao de sentido fenomenologico-hermeneutico, para assim compreendennos, subsequente e respectivamente,adetermina9aofenomenol6gica(regi6esdarealidade)eaconforma9ao hermeneutica (categorias e principios), concluimos com arelacaode sentido hermeneutico-fenomenologico.. .

Em todo este contexto, impoe-se-nos, como conclusao, a rela^ao transcendental/fundamental fenomenologia e metafisica.

Em reflexao final, chamamos a aten9ao para a necessidade das redoes: previa - ontologia e metafisicae... ultima/axial- filosofiae metafisica... em Delfim Santos.

Phenomenologie et metaphysique chez Delfim Santos

Resume

La presente etude pretend poser en termes adequats, qui respectent le sens de sa pensee, la relation phenomenologique et metaphysique chez Delfim Santos.

Devant la realite et dans le cadre du systeme et de la methode, nous distingons les domaines essentiel - transsystematique ou metaphysique et existentiel - systematique ou ontologique. Face a la connaissance et dans le contexte de laraison speculative etmethodologique, nous pointons les sens de connaissance, acte et termes, de sujet (conscience) et objet, enmontrant que si, metaphysiquement, le sujet se place devant la pensee, on entendra l'objet seulement en fonction de la realite.

Devant l'existence et dans le cadre de l'ontologie et phenomenologie , ontologie et hermeneutique et phenomenologie et hermeneutique. Face a la pensee et dans le contexte de la phenomenologie et de l'hermeneutique, se nous commen9ons par montrer la relation de sens phenomenologico- hermeneutique, pour comprendre ainsi, ulterieurement et respectivement, la determination phenomenologique (regions de larealite) et la conformation hermeneutique (categories etprincipes), nous concluons avec larelationde sens hermeneutico-phenomenologique...

En tout e contexte de pensee ce qui s'impose a nous comme conclusion, c'est la relation transcendantal/fondamental, phenomenologie et metaphysique.

En guise de reflexion finale, nous attirons l'attention sur lanecessite des relations: ontologie et metaphysique prealables et philosophic et metaphysique ultimes/axiales... chez Delfim Santos.

320 Revista Portugusa de Filo Sofia

Phenomenology and metaphysics on Delfim Santos

Abstract

This paper deals with the relation between phenomenology and metaphysics in the work of Delfim Santos.

As to reality, and in the context of both system and method, we distinguish between the transystematic or metaphysical domain, and the existential-systematic or ontological one. As to knowledge, and in the context of both speculative and methodological reason, we note the meanings of knowledge, act and terms, subject (counsciousness) and object, and explain that if the subject is metaphysically posited before thought, then the object willbe understood only as a function of reality.

As to existence, and in the contextof both ontology andphenomenololgy , we deal successively with the relations between ontology and phenomenology, ontology andhermeneutics, and phenom- enology and hermeneutics. As to thought, and in the context of both phenomenology and hermeneutics, if we begin by stressing the phenomenologic-hermeneutical meaning relation, in order to understand, subsquently and respectively, both the phe phenomenologial determination (areas of reality) and the hermeneutical conformation (categories and principles), we then conclude by analysing the hermeneutic- penomenological meaning relation...

In this whole context, the transcendental/fundamental relation between phenomenology and metaphysics imposes itself upon us as a conclusion.

Finally, we stress the need to consider the following relations: previous - ontology and metaphysics; and... last/axial - philosophy and metaphysics... in Delfim Santos.