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1 FEIRA NÃO PERDOA quem não aceita convenção Um diálogo com Guido Guerra FRANKLIN MACHADO EDITORA UNIVERSITÁRIA DO LIVRO DIGITAL e-book.br

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FEIRA NÃO PERDOAquem não aceita convenção

Um diálogo com Guido Guerra

FRANKLINMACHADO

EDITORA UNIVERSITÁRIADO LIVRO DIGITAL

e-book.br

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Franklin Machado é umator-camaleão da cultura bra-sileira. Múltiplo nas suas ar-tes e apartes no cotidiano danação, como se lê nos jornaise revistas; jornalista, poeta,cantador e contador de cordel,com mais de duzentos folhe-tos editados pelos descami-nhos do Brasil. Bacharel emDireito e em Jornalismo pelaUniversidade Federal daBahia, foi diretor do MuseuCasa do Sertão (por ele ideali-zado) e do Museu Regional deArte, de Feira de Santana.

No início dos anos setentabombardeou a vida da cidadecom peripécias e estripuliasque o embarcaram no últimopau-de-arara, com destino aSão Paulo. Ao desapear, nocentro da metrópole, ali mes-mo, na Rua Augusta, levantousua tenda de milagres. Viveucomo poeta de cordel e artistapopular durante os delirantesanos da ditadura, sem dispen-sar estrepitosas intervençõesna política nacional, incluin-do a candidatura à presidên-cia da República das bananase baionetas.

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FEIRA NÃO PERDOAQUEM NÃO ACEITA CONVENÇÃO

EDITORA UNIVERSITÁRIADO LIVRO DIGITAL

e-book.br

Franklin Machado

Um diálogo comGuido Guerra

Organização, introdução e notas:Cid Seixas

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| FRANKLIN MACHADO |

CONSELHO EDITORIAL:Adriano Eysen (UNEB)Alana Al Fahl (UEFS)

Cid Seixas (UFBA/UEFS)Itana Nogueira Nunes (UNEB)Flávia Aninger Rocha (UEFS)

https://issuu.com/ebook.br/docs/maxadohttp://www.e-book.uefs.br

http://www.linguagens.ufba.br

Copyright 2017Tipologia Amer Type Md BT, 13

Formato 12 x 20 cm.

Coleção TealVolume 1

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| UM DIÁLOGO COM GUIDO GUERRA |

SUMÁRIO

Nos tempos da Feirae dos feirenses de todos os temposCid Seixas .......................................... 7

Franklin: O MaxadoNordestinoGuido Guerra ................................... 13

Feira não perdoa ............................... 15

Ao alcance me minhas emoções ....... 19

Namoro começouàs escondidas .................................... 21

Até Odorico Tavaresse chocou com meu casamento ........ 24

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Uma nuvem de gafanhotosnos sertão baiano .............................. 31

Nordeste pede passagemà Rua Augusta .................................. 38

Iconografia:Gravuras e folhetosFraklin Machado .............................. 45

Coleção Teal ...................................... 61

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| UM DIÁLOGO COM GUIDO GUERRA |

Este livro eletrônico inaugura a“Coleção Teal” com um diálogo en-tre Franklin Machado e Guido Guer-ra intitulado Feira não perdoa quemnão aceita convenção.

Rico em detalhes e revelações queconstituem um verdadeiro Raio X docontexto social de uma época e de umlugar, o texto reflete o panorama cul-tural e humano da Feira de Santana,no início da segunda metade do sé-culo passado denunciando o impo-nente e rotundo conservadorismo deuma comunidade, originariamente

NOS TEMPOSDA FEIRA

E DOS FEIRENSESDE TODOS OS

TEMPOS

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rural, com forte influência do comér-cio espontâneo que marcou os cami-nhos cruzados do sertão.

Somente muito tempo depois, coma ação de intelectuais feirenses dedestaque, o panorama transforma avelha Santana dos Olhos D'Águanuma cidade universitária e aberta àconstrução do novo milênio.

Franklin Machado é um ator-camaleão da cultura brasileira. Múl-tiplo nas suas artes e apartes no coti-diano da nação, danação – como selê nos jornais e revistas. Jornalista,poeta, cantador e contador de histó-rias de cordel, com mais de duzentosfolhetos editados pelos descaminhosdo Brasil. Bacharel em Direito e emJornalismo pela Universidade Fede-ral da Bahia, foi diretor do MuseuCasa do Sertão (por ele idealizado) edo Museu Regional de Arte, de Feirade Santana.

No início dos anos setenta, confor-me contam os mexericos das Candi-nhas, aquele que viria assumir o pa-pel demolidor do Maxado Nordesti-no bombardeou e explodiu a vida da

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(nem tanto) pacata Cidade da Feiracom peripécias e estripulias que o des-pacharam no último pau-de-arara,com destino a São Paulo.

Ao desapear, com sua percata decouro de bode (ainda rescaldando obodum mal curtido), no centro da me-trópole, ali mesmo, na Rua Augusta,levantou sua tenda de “malfeitos” emilagres.

Viveu como poeta de cordel e artis-ta popular durante os delirantes anosda ditadura, sem dispensar estrepito-sas intervenções na política nacional,incluindo sua rebelde candidatura àPresidência da República das baione-tas – e das bananas.

Como artista múltiplo, juntou aonome civil do estudioso o nome deguerra que ganhou – ou melhor, con-quistou – nas bandas do Sul Maravi-lha: Maxado Nordestino. Nos seusmuitos anos de reinações e andançaspelo mundéu de Deus e do Diabo, ofilho pródigo está hoje fincado na Fei-ra de Santana, semeando terras, ar-tes e lembranças.

Louvado seja.

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| FRANKLIN MACHADO |

O texto que temos o prazer de res-gatar para constituir este e-book re-sulta de um bem sucedido diálogocom o jornalista e escritor GuidoGuerra, este também conhecido najuventude como um rebelde; o Papa-gaio Devasso, conforme registra Jor-ge Amado, destacando a irreverênciado jovem cronista do velho Diário deNotícias.

Assim como Franklin Machado,chegada a maturidade, Guido Guerratornou-se um respeitável cidadão,acadêmico benquisto e responsávelpelo ingresso de vários escritores naAcademia de Letras da Bahia, ondedesfrutou de influência e prestígio.

São dois intelectuais contemporâ-neos, forjados nos duros anos da di-tadura militar de 64, que dialogam edebatem. Dois jornalistas que nestaconversa assumem lugares diferentes.Guido é o entrevistador, o motivadordas falas, Franklin é o entrevistado,o centro nevrálgico do diálogo.

Para enriquecer este breve livro ele-trônico, procuramos selecionar algu-mas entre as expressivas xilogravuras

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| UM DIÁLOGO COM GUIDO GUERRA |

Cid Seixas

do artista, assinadas com o pitorescosobrenome Maxado, que o fez corrermundo durante o período em que vi-veu e criou em São Paulo.

Assinatura amorosa, adotada paranão perder a sua identidade, a suamarca de intelectual típico e repre-sentativo da cidade que foi a Feira deSantana, nos tempos da sua feira e degente como Eurico Alves, GodofredoFilho ou, até mesmo – indo e voltan-do atrás – Lucas da Feira, persona-gens díspares, mas igualmente repre-sentativos na busca do tempo per-dido. Ou melhor, do tempo do jornalFeira Hoje, talvez o derradeiro es-forço de muitos para marcar o modode vida do lugar, que se esvaia em fa-tal progresso.

Lugar cheio de clareiras abertas pe-los golpes e galopes do Maxado Nor-destino. E Brasileiro, que aqui louva-mos.

Louvado seja.

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Retrato do artista quando jovem.

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FRANKLIN:O MAXADO

NORDESTINO

Ele escandalizou Feira de Santana,não por ter casado com uma negra,uma atriz de teatro, mas por ter que-brado os padrões dessa cerimônia.Projetou uma cerimônia ecumênica,com uma bênção católica e elemen-tos constituti-vos do candomblé. Le-vou o cordel para São Paulo e lá tam-bém cantou Terra de Lucas. Na so-fisticada Rua Augusta, abriu um ate-liê de cordel: o Nordeste foi sua ma-téria-prima e seu sonho de consumo– Rodolfo Coelho Cavalcante, Zé Li-meira, o Cego Aderaldo – tantos ou-

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| FRANKLIN MACHADO |

tros enriqueceram seu acervo perma-nente. Através de suas palavras, desuas lembranças de juventude, porvezes com um travo de amargura, deressentimento, o leitor mergulhatambém numa tocante história deamor.

Guido Guerra

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GUIDO GUERRA – Sua história pesso-al começa quando, onde?

FRANKLIN MACHADO – Bem, começaem Feira de Santana, pois lá nasci. Praser preciso, a 15 de março de 1943.Sou descendente de portugueses, masme considero um elemento tipica-mente brasileiro porque, em minhasveias, correm todos os sangues forma-dores ou, pelo menos, que contribuí-ram para a formação da nacionalida-de brasileira. Minha mãe, por exem-plo, parece uma inglesa e ela se orgu-lha muito disso. Só não me consta quetenha parentesco com japonês. Mas

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acontece o seguinte: chego num lu-gar e sempre tem alguém que me achacom cara de judeu ou de árabe ou deíndio ou até mesmo de espanhol.Quer dizer, meus antepassados portu-gueses já vieram misturados.

GUIDO GUERRA – Como foi sua infân-cia?

FRANKLIN – Foi de menino do inte-rior. Não vou dizer que de meninopobre. Isso não. Minha família tinharecursos, projeção social. Meu avô eraum dos homens mais ricos de Feira,ele era fazendeiro. Meu pai, o inte-lectual da família, também era o maisescuro. Era dentista e muito afeito àleitura. Herdou bom pedaço de terra.Então, tive os brinquedos que sonhei.E também as melhores escolas. E ain-da: uma cidade pacata, sua feira livre,seu mercado, a infância ao alcance deminhas emoções.

GUIDO – E o gosto pela leitura lheveio pelo exemplo paterno?

FRANKLIN – Ah, sim. No início, foi.De Salvador, que a gente chamava deBahia, chegava diariamente um ôni-bus, só um. E trazia o jornal do dia

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ou da véspera. A estrada não era essaque se vê hoje, toda asfaltada não. Erachão de massapé. Quando chovia mui-to era aquele lamaçal, o ônibus atéatolava. Então eu ia esperar o ônibuspra comprar o jornal pra meu pai.Chegavam poucos exemplares. A Tar-de era disputada. Às vezes, o jornalnão vinha. A Tarde, naquele tempo,não saía de manhã como agora, masde tarde mesmo, como seu nome in-dicava. Então, era uma decepção pramim e pra quem esperava ler as notí-cias mais frescas chegadas da capital.O Diário de Notícias também che-gava lá, mas com menor regularida-de. De volta pra casa, ia lendo o jor-nal. Foi assim que desenvolvi o gostopela leitura.

GUIDO – Em seu sobrenome, Macha-do, pelo menos enquanto assinaturaliterária, você trocou o ch por um x.Qual o motivo?

FRANKLIN – Você sabe que fui tentara vida em São Paulo. Mas não queriaser um paulista com sotaque debaiano. Precisava ter um referencialque lembrasse minhas origens, meu

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chão, um jeito de falar específico. Aíresolvi assinar assim: Maxado Nordes-tino. Muita gente achou que eu que-ria inventar moda. Não queria. Acon-teceu que foi em São Paulo que des-cobri minha vocação pro cordel. Eusaí de Feira pensando em fazer jor-nalismo e fiz durante algum tempo,mas em São Paulo o cordel pintou emminha vida.

GUIDO – E aí?FRANKLIN – Aí aconteceu o seguin-

te: notei que tinha dois diplomas, ode Jornalismo e o de Direito, quenão me serviam pra nada. Porque,na minha cabeça, ficou claro que aminha transa era outra. Era no meioda rua, gritando meus folhetos. Aí,escrevi um, que contava a históriade um sapo que deu azar ao Corin-thians, que vendeu os tubos.

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AO ALCANCEDE MINHAS EMOÇÕES

GUIDO – Era um cordel pra paulistaler?

FRANKLIN – Meu referencial cultu-ral é nordestino, logo minha produ-ção também é. Do ponto de vista delinguagem havia adaptações, não digoconcessões, mas adaptações necessá-rias ao tema: a partir do momento emque me decidia a pegar uma paixãopaulista como o Corinthians, não po-deria fugir ao uso de determinadasexpressões consagradas pelo público.O Corinthians era o timão, sua torci-da, a fiel. Se fosse falar em Rivelinonem precisava citar o nome dele, bas-tava referir ao “Garoto do Parque” quetodo mundo sabia quem era. Isto é, opróprio tema impunha um padrão delinguagem, mas não me demitia demeu referencial cultural.

GUIDO – Nessa ocasião você inaugu-rou, no centro de São Paulo, uma “lojade cordel”, não foi?

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FRANKLIN – Isso. Meus amigos dizi-am que eu estava ficando maluco. Por-que aluguei, na sofisticada RuaAugusta, uma loja pra vender cordel.Diziam que cordel era coisa de Nor-deste e que não ia dar certo numa ci-dade industrializada como São Paulo.Mas deu. E lá não vendia só os que euescrevia não. Vendia de todo mundo.Passei a viajar pro Nordeste pra com-prar folhetos, estabelecendo contatodireto com seus autores. Mas não es-perava o público só na loja não. Ia aele. Onde houvesse concentração po-pular, tipo Praça da República, Praçada Sé, Avenida São João, eu ia vendermeu peixe. Mesmo na Bienal do Li-vro, no Parque Ibirapuera, tambémfui, você estava lá, você me viu. Claroque não pude comprar espaço comoas grandes editoras, mas ocupei o es-paço que coube à poesia alternativa.Minha barraca ficava defronte da Ci-randa do Livro, da Fundação RobertoMarinho. Isso em 1982, quando a Ci-randa estava sendo lançada, se lem-bra?

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NAMORO COMEÇOUÀS ESCONDIDAS

GUIDO – Qual a influência que a “Fei-ra do Gado” exerceu na sua formaçãode artista popular?

FRANKLIN – Apesar de gostar muitode animais, não me despertou inte-resse pelo gado em si. Não me tocavadistinguir o de corte do de raça, porexemplo. Pra falar a verdade, na Fei-ra do Gado havia outro aspecto queme interessava mais: as subfeiras queexistiam dentro dela. A de moedasantigas, por exemplo. Os ferreiros ascompravam pra derretê-las e fazerapetrechos de vaqueiro, como espo-ras, argolas, bridas, fivelas, etc. Ha-via também a subfeira de produtosartesanais, o artesanato de couro meatraía muito, principalmente selas,alforjes, alpercatas. E havia aindasubfeira das criações, no caso animaisde menor porte, tipo ovelhas, cabras,porcos, veados, pacas... Então, tivecontato com as pessoas simples e issoinfluenciou muito minha vida. Feira

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de Santana, por ser uma cidade-tron-co, passou a receber levas de retiran-tes, os flagelados da seca, aos quais asociedade local tratava por forastei-ros. Até hoje ainda existe o AbrigoNordestino, que era onde esse pesso-al se hospedava, fica na Praça D. PedroII, onde, aliás, Lucas da Feira foi en-forcado. Então, por causa dessa pre-sença forasteira e em parte tambémpelo precedente de Lucas da Feira, acidade começou a gozar de má-fama,de que só tinha ladrão, e aí a socieda-de local se fechou pra esse pessoal.

GUIDO – E se fechou depois pra você,mas por outros motivos.

FRANKLIN – Naquele época, tinhaacabado de me formar aqui em Salva-dor. E aqui entrei em contato com acultura negra ou, pelo menos, de ori-gem mais marcadamente negra. Massempre sonhei em estreitar esse re-lacionamento. Sonhei até em ir em-bora pra África. Havia, em mim, umchamado nesse sentido, não sei se erao sangue português. Acontece quenunca tinha encontrado, até então,uma mulher de origem negra que ti-

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vesse alguma instrução, o portuguêsnão deu muita oportunidade do ne-gro estudar, hoje até nas universida-des, aqui na Bahia, você vê mais gen-te de cor que no tempo em que eu eraestudante. Então, ficava sempre de-sejoso de conhecer uma mulher comessas características. Foi quando, for-mado, voltei a Feira de Santana e co-nheci Maria Helena. E me deu aqueleclic. Eu estava noivo e ela tinha umcompromisso. Mas aí ela desfez o com-promisso dela e se desempregou. Elaqueria ir pro Rio, onde já morava umirmão dela. Coincidiu que eu estavamontando a sucursal do Diário deNotícias, em cujo projeto também es-tava envolvido o jornalista AntônioJosé Laranjeira. Eu tinha montadoantes, mas só, a do Jornal da Bahia,que foi a primeira a ser implantadano interior. João Falcão, o fundadordo JBa., era de lá, fez força pra isso.Então, através do cronista social CidDaltro, eu a convidei pra ser minhasecretária na sucursal dos Diários As-sociados.

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ATÉ ODORICO TAVARES SECHOCOU COM MEU CASAMENTO

GUIDO – Uma maneira bem práticade dar em cima, né?

FRANKLIN – Não. O relacionamentofoi meramente profissional. Um tra-tamento cordial e respeitoso. No ani-versário de Antônio José – dirigíamosa sucursal juntos – aí, nesse dia, sim,Helena e eu nos descobrimos. Claroque terminei o noivado e assumi com-promisso com ela. A princípio, umnamoro quase às escondidas. Não porser ela escura e de origem humilde.Mas em virtude de minha situação deex-noivo recente. Aí, Diogo Flávio,cronista social de Itabuna, em con-versa comigo, ponderou que a gentetinha era que assumir a nova situa-ção publicamente. Mas aí a sociedadefeirense começou a reagir, a se sentirchocada. Você sabe, os preconceitoseram muito fortes ainda.

GUIDO – Esse tipo de discriminaçãoatingiu sua vida profissional tam-bém?

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FRANKLIN – Sem dúvida. Pra começode conversa, a direção dos Associados,logo após o casamento, enviou umacarta a Antônio José Laranjeira, so-licitando informações a meu respei-to. Não sei bem os termos da carta,Antônio José me falou vagamente enão me disse exatamente o que res-ponderia. O certo é que, eu ainda fun-cionário da empresa, o Dr. OdoricoTavares, na coluna “Rosa dos Ventos”,que ele assinava, disse que Feira nãomerecia aquilo e se declarou tambémchocado com meu casamento nosmoldes em que ia ser feito. Na época,eu era professor de Educação Moral eCívica do Instituto Gastão Guimarães,lá em Feira. A vice-diretora, NenêBoaventura, me falou das repercus-sões de meu casamento, o que me le-vou a pedir demissão daquele Insti-tuto.

GUIDO – E como foi seu casamento?FRANKLIN – Foi uma festa. Bom lem-

brar que o tropicalismo estava emcima. Era a onda do momento. En-tão, qualquer loucura fazia sentido.Maria Helena era a principal atriz de

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Feira, eu era uma figura pública,identificada com movimentos popu-lares. Frequentava candomblé, estu-dava capoeira com Mestre Muritiba.Na verdade, os amigos é que iam de-cidindo como seria o casamento. Oprofessor Raimundo Gama  alugouvárias carroças e mandou enfeitá-laspara o cortejo. O dono de uma em-presa de transportes coletivos, cha-mado Edmilton Brito, colocou váriosônibus à disposição, os lambreteirose os ciclistas anunciavam que acom-panhariam o cortejo. Um tio meu, queé vereador, Vavá Machado, ofereceucavalos, já selados, para os convida-dos, gente de candomblé também par-ticipou da cerimônia. Narom Vascon-celos, que dirigia Os Trogloditas, queera o melhor conjunto da cidade,comprometeu-se a tocar no coretodefronte da Igreja da Matriz. Então,já não era apenas a simples cerimô-nia de um casamento. Era uma festada cidade. Os homossexuais, que erammais reprimidos na época, aderiram,saíram fantasiados. O inconformismoda cidade esboçava-se claramente.

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Eme Portugal, que era o cronista so-cial de mais prestígio na cidade, quefoi um dos padrinhos, botou um car-ro-de-boi pra sair na frente do corte-jo. Charles Albert  confeccionou asroupas dos noivos, eram coloridas nomelhor estilo tropicalista. Então, foiuma festa que atraiu a atenção daimprensa nacional. A revista O Cru-zeiro dedicou várias páginas.

GUIDO – Se não estou enganado, naúltima hora, pintou incidente com aigreja. Como é que foi isso?

FRANKLIN – Na verdade, o casamen-to já tinha se realizado. Foi pela ma-nhã, cerimônia simples na casa dopadre Galvão. A combinação era esta:à tarde, na Matriz, ele daria apenas abênção aos noivos. Ele vestiria aque-la batina branca e usaria aquelechapelão branco que costumava usarnas procissões, principalmente quan-do chovia. Dentro da liturgia, essechapelão tem nome próprio, mas nãolembro qual é. Com a repercussão docasamento, o padre Galvão recuou sobpressão do bispo de então, D. JacksonBerenguer. O argumento era no sen-

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tido de que a coisa, ou seja, o casa-mento ia tomando um rumo profanoe não convinha à Igreja entrar numaonda assim. O convite era diferente,gravado em madeira no tamanho depapel ofício, anunciava uma cerimô-nia fetichista, à meia-noite, no Giná-sio de Esportes. Foi aí que o bispoempombou. O padre Galvão, pra con-ciliar, propôs que nós cancelássemosessa cerimônia, o que não aceitamos.

GUIDO – Em que ela consistia?FRANKLIN – Era o seguinte: os inte-

grantes dos candomblés mais repre-sentativos de Feira estariam presen-tes, paramentados devidamente, soba presidência do babalorixá Licinhoda Jeremeira, de origem mestiça maispro indígena, vamos dizer assim. Ou-tros nomes também estavam lá,Gegéu, Mãe Socorro, Zefinha, Afonsode Yansã, Zeca de Yemanjá, enfim asfiguras mais significativas, Helena doBode não foi porque estava doente. Acerimônia, encurtando a conversa, foiassim: os noivos, recolhidos numacamarinha, nus, sairiam envolvidosem lençóis brancos, conduzidos por

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| UM DIÁLOGO COM GUIDO GUERRA |

filhos de santo, para o salão, onde,em nome de Oxalá, seria oficiada acerimônia. Licinho faria uma cruz decinzas na testa dos noivos e então,simbolicamente, nos deitaríamos nochão, um sobre o outro, isto é, o noi-vo sobre a noiva, mas apenas simbo-licamente. Em seguida, os filhos desanto nos conduziriam novamenteà camarinha, que era um dos vestiá-rios do Ginásio de Esportes.

GUIDO – E o padre Galvão? Deu abênção ou não deu?

FRANKLIN – Não deu não. A genteficou esperando na porta da Matriz,mas ele não apareceu. Então, os pa-drinhos, em comissão, foram lembrar-lhe o compromisso que ele tinha as-sumido. A essa altura, aos berros, amultidão cobrava a presença dele, exi-gia que ele fosse abençoar os noivos,mas ele mandou dizer que já haviarealizado o casamento pela manhã. Ojornal O Globo disse que invadi aigreja, o que não é verdade. A Matrizestava com suas portas abertas, haviaoutro padre lá, realizando batizados.Entramos, ficamos ajoelhados, espe-

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rando a bênção. Foi uma situação cha-ta. Porque o outro padre, que se en-contrava na Matriz, disse que nãopoderia fazer nada, uma vez que o vi-gário-titular já dera o ato por encer-rado. O jornalista, escritor (e hojeprocurador da UEFS) Hélder Alencar,que formava a comissão de padrinhos,ponderou que a gente não levasse ocaso adiante, inclusive pra evitar mai-ores consequências. E isso foi feito.Até porque, na ocasião, eu era católi-co, hoje não sou mais, e era tementea Deus.

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UMA NUVEM DE GAFANHOTOSNO SERTÃO BAIANO

GUIDO – E quando você descobriu ocordel?

FRANKLIN – Foi um pouco depois, jáem São Paulo. Com o casamento, per-di o emprego dos Associados. Antô-nio José gerenciava a sucursal, eufuncionava como redator-chefe, faziade tudo, era repórter, redator, cobriaa geral, esportes, polícia, política, en-fim estava em cima de todos os lan-ces. A sociedade de Feira começou ase fechar pra gente e a sociedade é quedetém os empregos, as oportunidades,né? Nisto, ainda em Feira, conheci umgrande jornalista, natural de Cacho-eira, de origem negra, chamadoJuarez Bahia, que me acenou a possi-bilidade de trabalhar em São Paulo.Maria Helena, de quem estou separa-do, há alguns anos, preferia o Rio, umirmão dela já morava lá, optei por SãoPaulo, já conhecia o Rio, lá trabalheicomo operário, achava o Rio muitobadalativo.

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GUIDO – Você integrou um movi-mento de intelectuais envolvidos narecuperação de Lucas da Feira. Dá pratrocar isto em miúdos?

FRANKLIN – Olney São Paulo já tinhaescrito sobre isto, Hélder de Alencartambém, eu andei rabiscando umascoisas, me interessando por Lucas.Maria Helena estava grávida de meuprimeiro filho. Quando o menino nas-ceu, a gente decidiu que ele se cha-maria Lucas, em parte em homena-gem a Lucas da Feira, em parte emhomenagem ao apóstolo. Meu segun-do filho, igualmente com Maria He-lena, ganhou nome de apóstolo eevangelista, se chama Marcos.

GUIDO – Como seria essa recupera-ção?

FRANKLIN – Lucas da Feira era con-siderado um bandido por vários mo-tivos. Primeiro, porque era negro.Segundo: era escravo. Terceiro, erafugitivo. Quarto: assaltava boiadeiros.Quinto, porque distribuía o produtodo roubo com os humildes. Conse-quência lógica: a sociedade, como aelite era formada por descendentes de

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portugueses, se sentia roubada porele, Lucas da Feira. Então, a elite co-meçou a acionar os capitães-do-matopra levá-lo de volta à senzala. Com oapertar do cerco, Lucas passou arevidar, substituindo a ação isolada,isto é, a de um homem só, pela de vá-rios em grupo, chegando a formar umbando de 30 negros escolhidos a dedo.

GUIDO – Em outras palavras, apro-ximou-se de um quilombo?

FRANKLIN – Não, não chegou a for-mar um quilombo não. Eles não ti-nham mulheres nem situação estável.Eles não ficavam num lugar defini-do. Não sei se há floreios, porque aúnica notícia, que se tem disto, vematravés do romancista Sabino Cam-pos, de Cachoeira, que escreveu Lucas,o Demônio Negro, mas se diz queLucas tinha um sistema telegráficofeito com cipós pra detectar a proxi-midade de pessoas no local em queele estava escondido. Era o seguinte:ele trançava os cipós nas bocas de ca-minho, de modo que, se alguém iapassar por ali, inevitavelmente pisa-ria no cipó que acionaria imediata-

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mente vários chocalhos. Então com ocrescimento do bando de pequenosfurtos, Lucas passou a assaltarboiadeiros. Não a história oficial, masa oral diz que esses roubos maioreseram divididos com seus protetores,ricos que lhe garantiam a liberdade.O certo é que a fama dele cresceu aponto de Nina Rodrigues relacioná-lo como um dos maiores bandidos doBrasil.

GUIDO – A fama dele correu o país,inclusive em nível de crueldade, deestuprador de brancas, né?

FRANKLIN – É, falam isso também.Contam que, uma vez, ele raptou a fi-lha de um fazendeiro. Uma loucura.Ela resistiu. Ele, desesperado, a ma-tou de socos. O livro de Sabino Cam-pos conta que extasiado diante detanta candura, escolheu o mandacarumais sortido de espinhos, onde a cru-cificou e, ao ver seu sangue derra-mando, chorou, arrependido. Se o epi-sódio é veraz ou ficcional, não sei. Ocerto é que traído por um de seuscoiteiros – na época, ainda não se usa-va essa expressão – foi preso e condu-

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zido até Feira de Santana. A lenda con-ta que, por força da emoção, um para-lítico, ao vê-lo, andou. As autorida-des locais entenderam que a cadeiade Feira de Santana não era suficien-te pra mantê-lo preso. Então, ele veiopra Salvador: no vapor de Cachoeira.Atraído por sua fama, o ImperadorPedro II ordenou que levassem Lucasà sua presença, no Rio de Janeiro,amarrado. O Imperador o viu de per-to, mas não atendeu ao pedido de cle-mência, de enforcamento público praprisão perpétua.

GUIDO – Onde Lucas foi enforcado?FRANKLIN – Dizem que foi debaixo

de um pé de Gameleira frondosís-simo, que existia na atual Praça D.Pedro II, onde era o Campo do Gado,o antigo. Essa forca é curiosa, ao me-nos, na reconstrução através de gra-vuras. Era formada de três paus fin-cados no chão com travessas em cima,onde passava a corda. Não era umaforca comum, que é pau pra cima euma travessa. Vestido num camisolãobranco, Lucas percorreu as ruas deFeira de Santana. As testemunhas dão

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conta de que manteve a dignidade atéo fim, sem um ai e sem revelar no-mes, nem de quem o protegia nem dequem o seguia. O romance diz que,nos momentos finais, ele revelou tercomplexo por não saber ler e que pe-diu perdão à sociedade. A lenda nar-ra que, no instante de seu enforca-mento, uma nuvem de gafanhotosinvadiu Feira de Santana. O meiri-nho, que corresponde hoje ao Oficialde Justiça, compôs o famoso e clássi-co ABC de Lucas da Feira, que Jor-ge Amado transcreve no grande ro-mance Jubiabá, que declamei emFeira de Santana, quando de lá medespedi com o show Terra de Lucas,que começa assim, com a batida detoada baiana: “Adeus, Saco de Limão/Lugar onde nasci/eu vou preso praBahia/levo saudades de ti”. O títulodo show era agressivo, era um revideàs agressões que Maria Helena e euvínhamos sofrendo. Terra de Lucasera a mesma coisa que dizer terra deladrão. Não pra mim nem pra MariaHelena, mas pra sociedade. Esse showficou 10 dias em cartaz no Teatro

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Margarida Ribeiro, casa lotada todanoite. Não ficou mais tempo porqueos nossos fins não eram comerciais.Maria Helena e eu tínhamos pressa,queríamos respirar ares menos opres-sivos.

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NORDESTE PEDE PASSAGEMÀ RUA AUGUSTA

GUIDO – E o cordel?FRANKLIN – Minha primeira poesia

foi escrita aos 14, 15 anos, por aí, jáera cordel ou próxima, eu não sabia,mas já era. Quer dizer, como eu pas-sava as férias em Mundo Novo, que émais pra dentro do sertão que Feira,eu ia recebendo outro tipo de influ-ência, ganhando intimidade com achula, com o aboio, com o samba devaqueiro, tudo isso, sem eu saber, melevaria mais tarde ao cordel. Minhaprimeira influência da cultura popu-lar vem de Feira de Santana, de suagrande feira livre, onde se via de tudo.Ficava horas e horas, olhando o faquirengolindo fogo, enfiando pregos pe-las narinas, se deitando em pregos,gostava de ver o pessoal do Nordestecantando forró, tocando sanfona, to-cando triângulo. O poeta de cordeldizendo seus versos, um fazendo de-safio e outro completando. Meu pri-meiro livro, um pouco antes de des-

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cobrir o cordel, foi em cima disso, dostipos populares da cidade, daí o títu-lo Álbum de Feira de Santana, queeditei por minha conta, a primeiraedição tinha uma capa de couro.

GUIDO – E sua experiência com axilogravura?

FRANKLIN – Antes, ainda em Feira,na serraria de meu tio OsvaldoBoaventura, hoje sob a direção de meuprimo Carlos, mexi com madeira,sempre gostei de malinar, meninoinquieto. Então, na serraria de tioOsvaldo, aprendi a conhecer madeirae como aproveitá-la melhor. Isso meajudou muito, quando entrei no cor-del , quando comecei a fazerxilogravura pra ilustrar a capa demeus folhetos. Aliás, não era propri-amente xilogravura, mas alto-relevona madeira. Já em São Paulo, venden-do livros na Praça da República, foique senti essa necessidade, a de par-ticipar de forma mais integral da pro-dução de meus folhetos. Dona JuditePedra, que foi minha professora deTrabalhos Manuais no curso de giná-sio, me ensinou a fazer alto-relevo na

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madeira. Aí, em São Paulo, um sergi-pano chamado Zacarias José, que gos-ta muito da xilo, mas não tem tempopra se dedicar a ela por ser funcioná-rio público, me perguntou se eu faziaxilogravura. Eu disse que fazia, tinhaaprendido com Chico Diabo, comquem eu dividia o ateliê da ruaAugusta. Zacarias José, então, me fezuma encomenda. Era pra uma cam-panha de prevenção de acidentes, cujotexto ele escreveu e eu ilustrei. Foiencomenda do Sindicato da Constru-ção Civil, folheto de grande tiragem.Aí, as encomendas choveram. Nessaépoca, eu trabalhava na redação daFolha de São Paulo, e mais dois jor-nais. Então, resolvi largar tudo prame dedicar ao cordel em tempo inte-gral.

GUIDO – Como foi essa descoberta?FRANKLIN – Foi de estalo, como tudo

que me acontece. Quando vi MariaHelena, pela primeira vez, foi assim,me deu aquele clic. Em São Paulo, cor-rendo de um jornal pra outro, me sen-tia sufocado. E mais que isso: um exi-lado à procura de suas raízes, mas, o

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que era pior, sem sair de seu territó-rio. São Paulo não era meu chão, láme sentia desterrado. Meu lugar eracá no Nordeste. Feira de Santana memarcara muito, eu ainda estava meioressentido, com um certo travo deTerra de Lucas, boa dose de vontadede revidar, se possível, mais uma vez.Para mim, tinha descoberto minhacultura. Para Maria Helena, não. Essaopção funcionou de outra maneira.Na cabeça dela, eu tinha pirado. Eracomo se ela se perguntasse: “Como éque um cara, no juízo perfeito de suasanidade, mandaria três empregos proespaço pra vender papel no meio darua?” Eu compreendo perfeitamenteo pensamento dela. Não vou criticá-la aqui, muito menos na ausênciadela. Quer dizer, não foi exclusiva-mente por isto a separação. Foi a gotad’água, qualquer coisa seria. A nossasituação não estava legal. Ela tambémera uma artista insatisfeita, precisa-va dançar e não estava trabalhando.Tudo isso ia pesando na balança. Elaqueria ir pro Rio, achava que o mer-cado lá estaria melhor. O irmão mo-

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rava lá. Então, chegou a hora de a gen-te se separar. Não vou dizer que foiuma separação tranquila. Não foi.Mas passou. Temos dois filhos em co-mum e uma bela história de amor prarecordar.

GUIDO – E seu início no cordel?FRANKLIN – Foi em 1967. Um pouco

antes, por ocasião da inauguração dometrô de São Paulo, foi lançado umconcurso para cordel, o tema não po-deria ser outro, era o metrô mesmo.Então, como já me dava com RodolfoCoelho Cavalcante, enviei uma cópiado regulamento do concurso, ele aíescreveu O paulista virou tatu via-jando pelo metrô, em que, sem sa-ber, me lançava no cordel. Foi quan-do me animei e produzi meus três pri-meiros folhetos, todos ligados à Bahiae escritos aqui. Pensei muito antes deentrar no cordel. O primeiro era Ma-ria Quitéria, heroína baiana quefoi homem. O segundo, Profecias deAntonio Conselheiro, o sertão jávirou mar. O terceiro, A Feira daFeira de Santana já vai sair domeio da rua, que abordava a mudan-

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ça da feira livre para o Centro de Abas-tecimento, que era o assunto que fer-vilhava na cidade. Aí, quando volteipra São Paulo, porque esses três fo-ram lançados aqui, eu escrevi A Vol-ta do Pavão Misterioso. Esse nãotem nada a ver com o que fizeram proprofessor Peres. Mas meu grande es-touro, por sinal logo no início da car-reira, foi com O sapo que desgraçouo Corinthians. Eu dizia que, há 22anos, o Corinthians não ganhava umcampeonato por causa de um sapo queestava enterrado, coisas que fui reco-lhendo nos bares, nos bate-papos doscorintianos mais inflamados. O resul-tado foi que a coisa pegou, era umtema de São Paulo, o Corinthians éuma paixão paulista. O dono da gráfi-ca ficou meu sócio, dividimos os lu-cros, uma tiragem esgotava, a genterodava outra, vendeu como água. Desaída, foram vendidos 10 mil exem-plares. A imprensa deu em cima.

GUIDO – Você introduziu o cordel emSão Paulo?

FRANKLIN – Quando eu cheguei naPraça da República, já havia outro

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cordelista lá. Era J. Barros. Semprehouve nordestinos vendendo cordelem São Paulo. Rodolfo Coelho Caval-cante afirmou que outro não poderiareivindicar esse título, o de intro-dutor do cordel, senão eu. Só eu, elefoi muito categórico. Isso foi publica-do na imprensa e eu guardo comigouma carta dele, confirmando isto. Eunão falaria assim, não diria exatamen-te isto. Diria que popularizei o cordelno Sul. Porque não me limitei aos te-mas do Nordeste, aos que a literaturade cordel consagrou. Envolvi tambémSão Paulo, em meus folhetos, tomeiseus temas sem sair do cordel. Querdizer, isto me assegurou presença nocotidiano da cidade, passei a fazer par-te de sua vida, ganhei espaço nos veí-culos de comunicação de massa nemsempre receptivos às manifestaçõespopulares. Penso que não fiz mais queisto.

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ICONOGRAFIA:

GRAVURAS:

E

FOLHETOS:

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Nesta parte do livro eletrônico Fei-ra não perdoa quem não aceita con-venção. Um diálogo de Franklin Ma-chado com Guido Guerra apresen-tamos algumas gravuras do álbum doartista e capas de folhetos de cordelque marcaram a sua polêmica carrei-ra de poeta essencialmente nordesti-no, situado e datado, no seu tempo eno seu lugar.

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Maxado Nordestino e Rodolfo Co-elho Calvacante marcaram umencontro de cantoria e trovas, gra-vado na madeira pela goiva do pri-meiro.

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COLEÇÃO TEAL

A partir da atração exercida sobreartistas e arquitetos pela cor teal –cujo nome, em língua inglesa, apare-ceu pela primeira vez em 1917 – foicriada esta coleção, com o fundochapado na referida cor, para otimizara leitura em tablets e smartfones.

Os e-books são diagramados no for-mato de 12 centímetros de largura,por 20 de altura, na fonte Amer TypeMd BT, corpo 13, cor branca, tornan-do a leitura visualmente cômoda, emequipamentos eletrônicos. Novas ex-periências podem vir a reajustar o pro-jeto inicial da coleção para aperfeiço-ar os resultados obtidos.

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https://issuu.com/ebook.br/docs/maxadohttp://www.e-book.uefs.br

http://www.linguagens.ufba.br

Coleção TealVolume 1

Edição e projeto gráficode Cid Seixas

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Este livro eletrônicoinaugura a “Col eçãoTeal” com um diálogo en-tre Franklin Machado eGuido Guerra intituladoFeira não perdoa quemnão aceita convenção.

Rico em detalhes e re-velações que costituemum verdadeiro Raio X docontexto social de umaépoca e de um lugar, otexto reflete o panoramacultural e humano daFeira de Santana, no iní-cio da segunda metade doséculo passado denunci-ando o conservadorismode uma comunidade, ori-ginariamente rural, comforte influência do co-mércio expontâneo quemarcou os caminhos cru-zados do sertão.

Somente depois, com aação de intelectuais fei-renses de destaque o pa-norama transforma a ve-lha Santana dos OlhosD'Água numa cidade uni-versitária progressista eaberta para a construçãodo novo milênio.

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FEIRA NÃO PERDOAquem não aceita convenção

Um diálogo com Guido Guerra

FRANKLINMACHADO

https://issuu.com/ebook.br/docs/maxadohttp://www.e-book.uefs.br

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A partir da atração exercida sobre artistase arquitetos pela cor teal – cujo nome, emlíngua inglesa, apareceu pela primeira vezem 1917 – foi criada esta coleção, com ofundo chapado na referida cor, paraotimizar a leitura em tablets e smartfones.