fdunl marÇo 2009 inês robalo e sara silva. 06-06-2014inês robalo e sara silva2
TRANSCRIPT
TEORIA DO CRIME
FDUNLMARÇO 2009
Inês Robalo e Sara Silva
04/11/23Inês Robalo e Sara Silva 2
04/11/23Inês Robalo e Sara Silva 3
Esplanada à noite, Van GoghIn www.toucanart.com/pt/products/9523/
Arguido (A):
47 anos Proprietário de um restaurante localizado
no 1º andar: tem um empregado (D) e um gerente para o restaurante (E)
Vive da exploração do restaurante e retira daí 3000 contos por ano
Casado com dois filhos Não tem antecedentes criminais
04/11/23Inês Robalo e Sara Silva 4
Assistente (B):
Mais de 60 anos Director hoteleiro: dirige o restaurante
situado no rés-do chão, pertença do empresário hoteleiro C
04/11/23 5Inês Robalo e Sara Silva
No dia 17 de Agosto de 1992, em Albufeira, cerca das 21:45, na esplanada do restaurante dirigido pelo assistente, o arguido desferiu um soco no queixo deste.
Circunstâncias: D viu que um empregado do restaurante, dirigido pelo assistente, dizia a uma cliente
estrangeira que o restaurante de que A é proprietário se encontrava fechado. Dirigiu-se a esta para informar que o restaurante estava aberto.
04/11/23 6Inês Robalo e Sara Silva
B dirige-se a D, levando as mãos a uma cadeira da esplanada e dizendo-lhe que nunca mais o queria ver ali (em tom de voz ameaçador).
A, que se encontrava no interior do seu restaurante, alertado por E do que se estava a passar, dirigiu-se à esplanada de B, pedindo a este uma explicação.
B agarrou na cadeira, levantou-a no ar em gesto de quem pretendia atingir com ela o arguido, o que não veio a suceder apenas porque D lha retirou das mãos. Depois, disse ao arguido que lhe dava um tiro e lançou mão ao bolso traseiro das calças.
04/11/23 7Inês Robalo e Sara Silva
O arguido:1. Pensando que o assistente tinha uma arma no
bolso, e que ia fazer uso dela contra si;2. Tendo acabado de ouvir dizer que este lhe dava
um tiro;3. Constando no restaurante que B andava sempre
armado (já tendo até aí exibido a arma perante as pessoas);
4. Vendo que este levava a mão ao bolso
Receou pela sua integridade física, desferiu o soco ao assistente, convencido que evitaria que este fizesse uso da arma. Sabia que o maltratava na sua integridade física e que
isso era proibido.
04/11/23 8Inês Robalo e Sara Silva
Danos sofridos por B: Ferida corto-contusa no queixo com 2,5 cm,
perfurando para o interior da boca e atigindo a gengiva, com perda de dois dentes incisivos do maxilar inferior
Cicatriz estrelada 2x2cm e perda de dois incisivos inferiores
20 dias de doença (10 de incapacidade para o trabalho)
62.593 escudos: medicamentos e serviços de enfermagem
Valor (não apurado) referente a duas intervenções cirúrgicas para implantes de incisivos inferiores.
04/11/23 9Inês Robalo e Sara Silva
Tribunal de Círculo de Portimão:Arguido foi julgado pela prática dos crimes
previstos: no artº155, 2 (actual artº 153,1) – ameaças:
extinção do procedimento criminal [amnistia concedida pelo artº 1, alínea c) da Lei nº.1594 de 11 de Maio]
no artº 143, alíneas a) e c) [actual artº 144, alíneas a) e c) ]– ofensas corporais graves: absolvido
Recurso do assistente para STJ (directo): Erro notório na apreciação da prova Dolo
04/11/23 10Inês Robalo e Sara Silva
DL 400/82, de 23/09, redacção DL 132/93, de 23/04
ARTIGO 142.º(Ofensas corporais simples)
1 - Quem causar uma ofensa no corpo ou na saúde de outrem será punido com prisão até 2 anos ou com multa até 180 dias.
(…)
DL 48/95, de 15/03, redacção Lei 61/2008, de 31/10
Artigo 143.ºOfensa à integridade física simples
1 - Quem ofender o corpo ou a saúde de outra pessoa é punido com pena de prisão até 3 anos ou com pena de multa. (…)3 - O tribunal pode dispensar de pena quando: a) Tiver havido lesões recíprocas e se não tiver provado qual dos contendores agrediu primeiro; ou b) O agente tiver unicamente exercido retorsão sobre o agressor.
04/11/23Inês Robalo e Sara Silva 11
DL 400/82, de 23/09, redacção DL 132/93, de 23/04
ARTIGO 143.º(Ofensas corporais graves)
Quem ofender o corpo ou a saúde de outrem, de forma a: a) Mutilá-lo gravemente, privando-o de um importante órgão ou membro, ou a desfigurá-lo grave e permanentemente; (…)c) Provocar-lhe doença que ponha em perigo a vida, doença particularmente dolorosa ou permanente, outra enfermidade ou anomalia psíquica grave e incurável ou aborto; será punido com prisão de 1 a 5 anos.
DL 48/95, de 15/03, redacção Lei 61/2008, de 31/10
Artigo 144.ºOfensa à integridade física grave Quem ofender o corpo ou a saúde de outra pessoa de forma a: a) Privá-lo de importante órgão ou membro, ou a desfigurá-lo grave e permanentemente; (…)c) Provocar-lhe doença particularmente dolorosa ou permanente, ou anomalia psíquica grave ou incurável; ou d) Provocar-lhe perigo para a vida;
04/11/23Inês Robalo e Sara Silva 12
DL 400/82, de 23/09, redacção DL 132/93, de 23/04
ARTIGO 155.º(Ameaças)
1 - Quem ameaçar outrem com a prática de um crime, provocando-lhe receio, medo ou inquietação, ou de modo a prejudicar a sua liberdade de determinação, será punido com prisão até 1 ano ou multa até 100 dias. 2 - No caso de se tratar de ameaça com a prática de crime a que corresponda pena de prisão superior a 3 anos, poderá a prisão elevar-se até 2 anos e a multa até 180 dias. 3 - O procedimento criminal depende de queixa.
DL 48/95, de 15/03, redacção Lei 61/2008, de 31/10
Artigo 153.ºAmeaça
1 - Quem ameaçar outra pessoa com a prática de crime contra a vida, a integridade física, a liberdade pessoal, a liberdade e autodeterminação sexual ou bens patrimoniais de considerável valor, de forma adequada a provocar-lhe medo ou inquietação ou a prejudicar a sua liberdade de determinação, é punido com pena de prisão até um ano ou com pena de multa até 120 dias. 2 - O procedimento criminal depende de queixa.
04/11/23Inês Robalo e Sara Silva 13
Legítima defesa vs Legítima defesa putativa
Legítima defesa putativa (do latim putare)= pensada, imaginada, não real
04/11/23Inês Robalo e Sara Silva 14
Acção: agressão de A a B
Tipo preenchido: ofensas corporais gravesTipo Objectivo:
- Autor
- Acção
- Resultado
Tipo Subjectivo:
- Elemento intelectual
- Elemento volitivo
04/11/23Inês Robalo e Sara Silva 15
Ilicitude
Aspecto formal: contrariedade à ordem jurídica,
considerada no seu todo – princípio da unidade do
ordenamento jurídico
Aspecto material: ofensa a um interesse juridicamente
protegido /bem jurídico
04/11/23Inês Robalo e Sara Silva 16
Art. 31, n.º 2, a): causa de exclusão da
ilicitude
Cfr. Art 21, CRP: direito de resistência
04/11/23Inês Robalo e Sara Silva 17
a) Agressão ilícita, actual e não provocada
b) Impossibilidade de recurso à força pública
Necessidade racional do meio empregado
04/11/23Inês Robalo e Sara Silva 18
Pressupostos da Situação de Legítima
Defesa
1) Agressão de interesses juridicamente protegidos
do agente ou de terceiro
2) Actualidade da agressão
3) Ilicitude da agressão
04/11/23Inês Robalo e Sara Silva 19
Requisitos da Acção de Defesa1) Necessidade do meio
2) Necessidade da defesa – diminuída:
i. Agressões não culposas e agressões provocadas
ii. Desproporção do significado da agressão e da defesa
iii. Posições especiais
iv. Actos de autoridade
3) Elemento subjectivo: animus defendendi
4) Acção de defesa deve recair (apenas) sobre o agressor
04/11/23Inês Robalo e Sara Silva 20
Elementos Subjectivos das Causas de
Justificação
Erro sobre os pressupostos da Causa de
Justificação
Legítima Defesa Putativa
04/11/23Inês Robalo e Sara Silva 21
Teoria Rigorosa da Culpa (ou Teoria do
Dolo)
Teoria da Culpa Limitada art. 16,
n.º2
Teoria dos elementos negativos do tipo
04/11/23Inês Robalo e Sara Silva 22
Nega provimento ao recurso e confirma o acórdão impugnado (recupera e confirma o raciocínio e as conclusões da 1ª instância):
Não existe erro notório na apreciação da
prova; Arguido age numa situação de erro sobre os
pressupostos de uma causa de exclusão da ilicitude (legítima defesa). É assim excluído o dolo artº 16, nº 2
04/11/23 23Inês Robalo e Sara Silva
Erro sobre os pressupostos das causas de
justificação tem a mesma relevância que o erro
sobre os elementos essenciais do facto ilícito
Não se verifica negligência art.º 16, nº 3
Não existe obrigação de indemnizar, por falta de
um dos pressupostos da responsabilidade civil:
ilicitude art.º 483, nº 1 CC
Exclusão da ilicitude?
04/11/23 24Inês Robalo e Sara Silva
V. CONCLUSÕES Caso típico de legítima defesa putativa Ilicitude: princípio da unidade do
ordenamento jurídico Aplicação das regras gerais da negligência:1. Juízo de censura baseado no cuidado
medido pela pessoa média mas também do exigível ao arguido, em concreto (TPB)
2. Princípio da Legalidade e da responsabilidade subjectiva art. 13
Relação: Direito Penal < => Direito Civil
04/11/23 25Inês Robalo e Sara Silva
Problema para pensar (TPB) Quando lei usa a expressão agressão ilícita
(como pressuposto da legítima defesa) o sentido da expressão é idêntico ao utilizado no enunciado: Crime é uma acção típica, ilícita, culposa e punível?
Ou quer dizer apenas agressão que não se tem o dever de suportar?
Designadamente: À agressão de alguém que age nos termos do art. 16º, nº 2 (como no caso deste Ac, leg def put) é oponível legítima defesa?