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TEORIA DO CRIME FDUNL MARÇO 2009 Inês Robalo e Sara Silva

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Page 1: FDUNL MARÇO 2009 Inês Robalo e Sara Silva. 06-06-2014Inês Robalo e Sara Silva2

TEORIA DO CRIME

FDUNLMARÇO 2009

Inês Robalo e Sara Silva

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Esplanada à noite, Van GoghIn www.toucanart.com/pt/products/9523/

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Arguido (A):

47 anos Proprietário de um restaurante localizado

no 1º andar: tem um empregado (D) e um gerente para o restaurante (E)

Vive da exploração do restaurante e retira daí 3000 contos por ano

Casado com dois filhos Não tem antecedentes criminais

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Assistente (B):

Mais de 60 anos Director hoteleiro: dirige o restaurante

situado no rés-do chão, pertença do empresário hoteleiro C

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No dia 17 de Agosto de 1992, em Albufeira, cerca das 21:45, na esplanada do restaurante dirigido pelo assistente, o arguido desferiu um soco no queixo deste.

Circunstâncias: D viu que um empregado do restaurante, dirigido pelo assistente, dizia a uma cliente

estrangeira que o restaurante de que A é proprietário se encontrava fechado. Dirigiu-se a esta para informar que o restaurante estava aberto.

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B dirige-se a D, levando as mãos a uma cadeira da esplanada e dizendo-lhe que nunca mais o queria ver ali (em tom de voz ameaçador).

A, que se encontrava no interior do seu restaurante, alertado por E do que se estava a passar, dirigiu-se à esplanada de B, pedindo a este uma explicação.

B agarrou na cadeira, levantou-a no ar em gesto de quem pretendia atingir com ela o arguido, o que não veio a suceder apenas porque D lha retirou das mãos. Depois, disse ao arguido que lhe dava um tiro e lançou mão ao bolso traseiro das calças.

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O arguido:1. Pensando que o assistente tinha uma arma no

bolso, e que ia fazer uso dela contra si;2. Tendo acabado de ouvir dizer que este lhe dava

um tiro;3. Constando no restaurante que B andava sempre

armado (já tendo até aí exibido a arma perante as pessoas);

4. Vendo que este levava a mão ao bolso

Receou pela sua integridade física, desferiu o soco ao assistente, convencido que evitaria que este fizesse uso da arma. Sabia que o maltratava na sua integridade física e que

isso era proibido.

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Danos sofridos por B: Ferida corto-contusa no queixo com 2,5 cm,

perfurando para o interior da boca e atigindo a gengiva, com perda de dois dentes incisivos do maxilar inferior

Cicatriz estrelada 2x2cm e perda de dois incisivos inferiores

20 dias de doença (10 de incapacidade para o trabalho)

62.593 escudos: medicamentos e serviços de enfermagem

Valor (não apurado) referente a duas intervenções cirúrgicas para implantes de incisivos inferiores.

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Tribunal de Círculo de Portimão:Arguido foi julgado pela prática dos crimes

previstos: no artº155, 2 (actual artº 153,1) – ameaças:

extinção do procedimento criminal [amnistia concedida pelo artº 1, alínea c) da Lei nº.1594 de 11 de Maio]

no artº 143, alíneas a) e c) [actual artº 144, alíneas a) e c) ]– ofensas corporais graves: absolvido

Recurso do assistente para STJ (directo): Erro notório na apreciação da prova Dolo

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DL 400/82, de 23/09, redacção DL 132/93, de 23/04

  ARTIGO 142.º(Ofensas corporais simples)

1 - Quem causar uma ofensa no corpo ou na saúde de outrem será punido com prisão até 2 anos ou com multa até 180 dias.

(…)

DL 48/95, de 15/03, redacção Lei 61/2008, de 31/10

Artigo 143.ºOfensa à integridade física simples

1 - Quem ofender o corpo ou a saúde de outra pessoa é punido com pena de prisão até 3 anos ou com pena de multa. (…)3 - O tribunal pode dispensar de pena quando: a) Tiver havido lesões recíprocas e se não tiver provado qual dos contendores agrediu primeiro; ou b) O agente tiver unicamente exercido retorsão sobre o agressor.

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DL 400/82, de 23/09, redacção DL 132/93, de 23/04

ARTIGO 143.º(Ofensas corporais graves)

Quem ofender o corpo ou a saúde de outrem, de forma a: a) Mutilá-lo gravemente, privando-o de um importante órgão ou membro, ou a desfigurá-lo grave e permanentemente; (…)c) Provocar-lhe doença que ponha em perigo a vida, doença particularmente dolorosa ou permanente, outra enfermidade ou anomalia psíquica grave e incurável ou aborto; será punido com prisão de 1 a 5 anos.

DL 48/95, de 15/03, redacção Lei 61/2008, de 31/10

Artigo 144.ºOfensa à integridade física grave Quem ofender o corpo ou a saúde de outra pessoa de forma a: a) Privá-lo de importante órgão ou membro, ou a desfigurá-lo grave e permanentemente; (…)c) Provocar-lhe doença particularmente dolorosa ou permanente, ou anomalia psíquica grave ou incurável; ou d) Provocar-lhe perigo para a vida;

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DL 400/82, de 23/09, redacção DL 132/93, de 23/04

ARTIGO 155.º(Ameaças)

1 - Quem ameaçar outrem com a prática de um crime, provocando-lhe receio, medo ou inquietação, ou de modo a prejudicar a sua liberdade de determinação, será punido com prisão até 1 ano ou multa até 100 dias. 2 - No caso de se tratar de ameaça com a prática de crime a que corresponda pena de prisão superior a 3 anos, poderá a prisão elevar-se até 2 anos e a multa até 180 dias. 3 - O procedimento criminal depende de queixa.

DL 48/95, de 15/03, redacção Lei 61/2008, de 31/10

Artigo 153.ºAmeaça

1 - Quem ameaçar outra pessoa com a prática de crime contra a vida, a integridade física, a liberdade pessoal, a liberdade e autodeterminação sexual ou bens patrimoniais de considerável valor, de forma adequada a provocar-lhe medo ou inquietação ou a prejudicar a sua liberdade de determinação, é punido com pena de prisão até um ano ou com pena de multa até 120 dias. 2 - O procedimento criminal depende de queixa.

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Legítima defesa vs Legítima defesa putativa

Legítima defesa putativa (do latim putare)= pensada, imaginada, não real

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Acção: agressão de A a B

Tipo preenchido: ofensas corporais gravesTipo Objectivo:

- Autor

- Acção

- Resultado

Tipo Subjectivo:

- Elemento intelectual

- Elemento volitivo

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Ilicitude

Aspecto formal: contrariedade à ordem jurídica,

considerada no seu todo – princípio da unidade do

ordenamento jurídico

Aspecto material: ofensa a um interesse juridicamente

protegido /bem jurídico

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Art. 31, n.º 2, a): causa de exclusão da

ilicitude

Cfr. Art 21, CRP: direito de resistência

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a) Agressão ilícita, actual e não provocada

b) Impossibilidade de recurso à força pública

Necessidade racional do meio empregado

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Pressupostos da Situação de Legítima

Defesa

1) Agressão de interesses juridicamente protegidos

do agente ou de terceiro

2) Actualidade da agressão

3) Ilicitude da agressão

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Requisitos da Acção de Defesa1) Necessidade do meio

2) Necessidade da defesa – diminuída:

i. Agressões não culposas e agressões provocadas

ii. Desproporção do significado da agressão e da defesa

iii. Posições especiais

iv. Actos de autoridade

3) Elemento subjectivo: animus defendendi

4) Acção de defesa deve recair (apenas) sobre o agressor

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Elementos Subjectivos das Causas de

Justificação

Erro sobre os pressupostos da Causa de

Justificação

Legítima Defesa Putativa

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Teoria Rigorosa da Culpa (ou Teoria do

Dolo)

Teoria da Culpa Limitada art. 16,

n.º2

Teoria dos elementos negativos do tipo

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Nega provimento ao recurso e confirma o acórdão impugnado (recupera e confirma o raciocínio e as conclusões da 1ª instância):

Não existe erro notório na apreciação da

prova; Arguido age numa situação de erro sobre os

pressupostos de uma causa de exclusão da ilicitude (legítima defesa). É assim excluído o dolo artº 16, nº 2

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Erro sobre os pressupostos das causas de

justificação tem a mesma relevância que o erro

sobre os elementos essenciais do facto ilícito

Não se verifica negligência art.º 16, nº 3

Não existe obrigação de indemnizar, por falta de

um dos pressupostos da responsabilidade civil:

ilicitude art.º 483, nº 1 CC

Exclusão da ilicitude?

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V. CONCLUSÕES Caso típico de legítima defesa putativa Ilicitude: princípio da unidade do

ordenamento jurídico Aplicação das regras gerais da negligência:1. Juízo de censura baseado no cuidado

medido pela pessoa média mas também do exigível ao arguido, em concreto (TPB)

2. Princípio da Legalidade e da responsabilidade subjectiva art. 13

Relação: Direito Penal < => Direito Civil

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Problema para pensar (TPB) Quando lei usa a expressão agressão ilícita

(como pressuposto da legítima defesa) o sentido da expressão é idêntico ao utilizado no enunciado: Crime é uma acção típica, ilícita, culposa e punível?

Ou quer dizer apenas agressão que não se tem o dever de suportar?

Designadamente: À agressão de alguém que age nos termos do art. 16º, nº 2 (como no caso deste Ac, leg def put) é oponível legítima defesa?