fazer a ponte - projeto de uma escola

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1 Fazer a Ponte Projeto de uma escola Trabalho Final de Graduação Luiza Orsini Cavalcanti Orientador Angelo Bucci Novembro 2011

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Trabalho Final de Graduação Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo Luiza Orsini Cavalcanti Novembro de 2011

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Fazer a PonteProjeto de uma escola

Trabalho Final de GraduaçãoLuiza Orsini CavalcantiOrientador Angelo BucciNovembro 2011

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Fazer a PonteProjeto de Uma Escola

Trabalho Final de GraduaçãoFaculdade de Arquitetura e Urbanismo Universidade de São Paulo

Luiza Orsini CavalcantiOrientador - Angelo BucciNovembro de 2011

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Agradeço àqueles que me apoiaram a realizar o trabalho. Ao meu orientador Angelo Bucci, ao Shundi, Guilherme e todos do SIAA. À Margarete e à Ana Elisa pela colaboração. À Paola pela inspiração, aos meus pais e ao Ricardo pela grande ajuda.

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Educar é mais do que preparar alunos para fazer exames, mais do que fazer decorar a tabuada, mais do que saber papaguear ou aplicar fórmulas matemáticas. É ajudar as crianças a entender o mundo, a realizarem-se como pessoas, muito para além do tempo da escolarização.

In, Projecto Educativo “Fazer a Ponte”

”“

Page 7: Fazer a Ponte - projeto de uma escola

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Sumário

Introdução 9O edifício escolar paulista 11A crítica ao modelo de ensino tradicional 19A Escola da Ponte 23EMEF Amorim Lima 29Referências Projetuais 35Projeto 41Plantas 50–57Cortes 58–64Imagens 66–71Maquete 72–75Bibliografia 76

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Page 9: Fazer a Ponte - projeto de uma escola

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Introdução

A vontade de projetar uma escola no trabalho

final sempre esteve presente. Quando conheci

a Escola da Ponte, me interessei imediata-

mente pelo seu ensino não-convencional de

ideais tão fortes.

Neste trabalho, não defendo a Escola

da Ponte como o modelo ideal de educação

a ser seguido, mas sim um exemplo bem

sucedido de uma escola que foge do padrão,

nos fazendo repensar a educação tradicional e

quais são, ou deveriam ser, seus objetivos.

O desafio consiste em criar um

ambiente totalmente novo, que não segue um

programa existente, e ao mesmo tempo fazer

com que exprima seus ideais e possibilite suas

práticas. Uma escola com uma educação tão

única deve ter um espaço diverso das esco-

las tradicionais, que evidencie as diferenças

e possibilite a inserção alunos e professores

nesse novo universo.

Introdução

Page 10: Fazer a Ponte - projeto de uma escola

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Você recebe uma ordem da diretoria da escola que diz “Temos uma grande idéia. Nossa escola não deveria ter janelas, porque as crianças precisam de espaço na parede para pendurar suas pinturas, e também, janelas podem distraí-las do professor.” Agora, que professor merece tanta atenção? Eu gostaria de saber. Porque afinal, o pássaro lá fora, a pessoa procurando abrigo da chuva, as folhas caindo das árvores, as nuvens passando, o sol penetrando: são todas grandes coisas. São lições em si mesmas. Janelas são essenciais para a escola. Você é feito da luz e, portanto, você deve viver com a noção de que a luz é importante. Tal ordem da diretoria dizendo qual o sentido da vida deve ser resistida. Sem luz, não há arquitetura.

Louis Kahn

Page 11: Fazer a Ponte - projeto de uma escola

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O Edifício Escolar Paulista

Page 12: Fazer a Ponte - projeto de uma escola

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Ao longo dos anos, os pensamentos e ideais

sobre a educação sofreram transformações

estruturais, que espelharam os acontecimen-

tos de cada momento histórico. É importante

entender que a reflexão sobre o ensino e seu

edifício vem de longa data e é preciso absor-

ver os pontos positivos e negativos de cada

experiência.

O primeiro momento do desenvolvimento

escolar paulista ocorreu no Brasil - Colônia,

em colégios, seminários e aldeias destinados à

catequese dos índios ou à educação de acordo

com os preceitos da Igreja Católica. Não havia

ainda uma política educacional pública nesse

período. As aulas eram ministradas pelos

chamados “mestres-escola”, em edifícios adap-

tados ou imóveis alugados.

A partir de1889, na Primeira República,

devido às inúmeras transformações decor-

rentes da transição do poder imperial para

o republicano, o poder público passou a se

responsabilizar pela construção das primeiras

escolas.

A proposta educacional era de oferecer gra-

tuitamente o ensino elementar (fundamental),

deixando o ensino secundário a cargo de

instituições privadas, por ser considerado de

elite. Essas escolas, chamadas de Grupos Es-

colares, eram edifícios de destaque, mas não

necessariamente luxuosos, e tinham locali-

zações urbanas privilegiadas.

O modelo adotado foi o europeu, baseado no

controle, disciplina e subordinação dos alu-

nos, além do respeito à hierarquia. O desenho

do edifício seguia leis de racionalização da

construção, sem deixar de lado a preocupação

estética. Havia separação entre meninos e

meninas, em alas simétricas. As janelas das

salas eram altas para evitar a distração dos

alunos. Foi amplamente utilizado o recurso

dos projetos-tipo para padronizar os edifícios.

Como um dos principais arquitetos de

edifícios escolares nesse período é possível

citar Ramos de Azevedo, autor do projeto do

Grupo Escolar Prudente de Moraes, na Ave-

nida Tiradentes, o primeiro edifício escolar da

cidade de São Paulo, projetado em 1893.

As transformações que ocorreram a partir

O Edifício Escolar Paulista

Grupo Escolar Prudente de Moraes, na Avenida Tiradentes. Ramos de Azevedo, 1893http://saudadesampa.nafoto.net

Page 13: Fazer a Ponte - projeto de uma escola

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do governo Getúlio Vargas (década de 30)

visavam universalizar o ensino e alfabetizar

a população. Com o surgimento de novos

grupos sociais de trabalhadores urbanos e

operários, cresceu muito a preocupação pelo

ensino por aqueles que buscavam inserção no

mercado de trabalho.

Deu-se início a uma análise dos edifícios

existentes, buscando estabelecer parâmetros

para os edifícios escolares. A idéia era de re-

formular a arquitetura e o ensino, não apenas

pela dimensão pedagógica, mas também a so-

cial, a física e a emocional. Surgiu a proposta

da Escola Nova, na qual o centro da aprendi-

zagem era a criança. O espaço escolar deveria

ser alegre, bonito e higiênico. Os edifícios se

modernizaram, com janelas amplas e pátios

acolhedores. Houve abolição dos ornamentos

e a diminuição da simetria. Os espaços esco-

lares agora contavam com auditório, sala de

leitura, sala para jogos, canto e cinema.

Na década de 50, foi criado o Convênio Esco-

lar, no qual a Prefeitura passou a encarregar-se

da construção dos edifícios que atendessem a

toda a população escolar no município. Além

de escolas, houve a construção de bibliotecas,

teatros, centros de saúde, ginásios etc. Havia

o intuito de suprir a falta de edifício escolares

que pudessem atenuar a demanda da época.

Alguns dos arquitetos que participaram de

projetos de edifícios escolares nesse período

foram Eduardo Corona, Roberto Tibau,

Oswaldo Corrêa Gonçalves e Helio Duarte.

Helio Duarte liderava a Comissão Executiva

do Convênio Escolar, em 1948. Ele ajudou

a imprimir os princípios da arquitetura

moderna ao edifício escolar, em sintonia

com propostas educacionais avançadas. Os

espaços escolares construídos deveriam inte-

grar a escola à comunidade local. Baseado na

proposta do educador baiano Anísio Teixeira,

defendia a proposta de que a instrução de

classe deveria ser completada por uma edu-

cação dirigida.Com as eleições municipais de

1954, o Convênio Escolar foi rompido.

O Edifício Escolar Paulista

www.revistaau.com.br/arquitetura-urbanismoEduardo Corona

Page 14: Fazer a Ponte - projeto de uma escola

14

(Depois dos anos 30, com todos os esforços

para aumentar a quantidade de edifícios

escolares em todo o país, notou-se que a

rede pública como um todo apresentava uma

queda na qualidade do ensino. As escolas

tinham até três turnos por dia, o que sobre-

carregava professores e diminuía o tempo

que as crianças passavam em aula. Subiu o

número de reprovações e desistências.

Para reverter esse quadro, Helio Du-

arte criou um projeto de educação, baseado

também no pensamento de Anísio Teixeira,

que apesar de ter sido implantado somente

uma vez, em Salvador, tornou-se uma das

experiências mais importantes no ensino

brasileiro.

Duarte considerava a escola até então

“ineficiente e injusta”. A medida da eficiência

da escola tradicional se dava pela quantidade

de reprovações, enquanto se considera o

aluno sempre ignorante como ser humano,

e o professor, o detentor do conhecimento.

A injustiça se dava porque o sistema educa-

cional, apesar de almejar a popularização do

ensino, não atingia uma grande parcela de

crianças. A escola não era direcionado a elas,

aos seus interesses e, em muitos casos, não

lhes garantiria um futuro.

Teixeira tinha afinidade intelectual com as idéias do filósofo e pedagogo norte-americano John Dewey (1859-1952), que desenvolveu uma concepção pragmática de educação baseada na constante reconstrução da experiência diante de um mundo em transformação. Para ele, a escola precisava educar em vez de instruir, for-

Escolas-classe, escola parque

Croquis das escolas-classe (1948), em São Paulo, de Hélio Duartehttp://www.revistaau.com.br/arquitetura-urbanismo

Page 15: Fazer a Ponte - projeto de uma escola

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)(Maria Alice Junqueira Bastos, A escola-

parque: ou o sonho de uma educação com-

pleta (em edifícios modernos), In Revista AU

Especial Escolas).

O esquema de Escolas-classe, Escola-parque

tinha como objetivo prolongar o dia letivo,

com um programa enriquecido de atividades

culturais independentes do ensino intelectual,

além de oferecer um currículo diversificado.

O método utilizaria o espaço das escolas já

construídas anteriormente, que seriam as

escolas-classe. Nelas ocorreriam as aulas do

currículo intelectual, tais como Matemática,

Língua Portuguesa, Ciências etc.

Para cada grupo de 4 escolas-classe,

haveria uma escola-parque, com capacidade

para 2 mil alunos. Esse espaço seria equipado

com biblioteca infantil, museu, pavilhão para

atividades de recreação, conjunto para ativi-

dades sociais (música, dança, teatro, clubes,

exposições) e refeitório, além de pequenos

conjuntos habitacionais destinados a crianças

sem família, que estariam sujeitas às mesmas

atividades educativas que os alunos externos.

Durante a manhã, um grupo de cri-

anças teria aulas nas 4 escolas-classe. Durante

a tarde, este grupo iria para a escola-parque.

Enquanto isso, outro grupo com o mesmo

número de crianças passaria a manhã na

escola-parque e a tarde nas escolas-classe.

Dessa forma, o sistema de escolas sem

espaços recreativos suficientes poderia se

ampliar de forma a receber grupos de até 4

mil crianças num turno de 8h, aumentando

o período escolar sem prejudicar a qualidade

do ensino.

mar homens livres em vez de homens dóceis, preparar para um futuro incerto em vez de transmitir um passado claro, ensinar a viver com mais inteligência, mais tolerância e mais felicidade. O interesse do estudante devia orientar o seu aprendizado num ambiente de liberdade e confiança mútua entre profes-sores e alunos, em que esses fossem ensinados a pensar e julgar por si mesmos.

Page 16: Fazer a Ponte - projeto de uma escola

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A partir da década de 60, a maior preocu-

pação era a de distribuir as escolas nas áreas

onde houvesse maior demanda. Foi criado en-

tão, o Fundo Estadual de Construções Esco-

lares (FECE). Havia caráter emergencial para

atender a um terço dos alunos da rede es-

tadual que ainda assistia às aulas em galpões,

barracões de madeira ou salas inadequadas.

Os arquitetos que participaram da

construção de escolas nesse período foram

Vilanova Artigas, Paulo Mendes da Rocha,

João de Gennaro, Ícaro de Castro Mello, entre

outros.

O período marcou as primeiras experiências

com uso de peças pré-fabricadas e concreto

protendido. Os prédios contavam com corre-

dores largos e ventilados. O pátio passa a ter

lugar de destaque como local de encontro.

Por conta da falta de diálogo entre arquitetos

e profissionais da área de educação, muitas

vezes as soluções arquitetônicas não eram as

mais adequadas.

A demanda crescente de edifícios escolares

fez com que fosse adotado o princípio da

racionalização. Diferentemente da idéia da

Primeira República, não se utilizou projetos-

tipo, mas sim a padronização dos compo-

nentes, possibilitando uma maior flexibilidade

entre espaços. Houve também um maior

controle de custos, além de agilizar o geren-

ciamento do processo.

Com a criação da FDE (Fundação

para o Desenvolvimento Escolar), no final

da década de 80, uma das mudanças mais

relevantes foi o aumento da carga horária no

dia letivo de 3 ou 4 para 5 horas.

Nos anos 2000, surgiram os CEUs

(Centros Educacionais Unificados), com a

O Edifício Escolar Paulista

Vilanova Artigas, Escola em Itanhaém, São Paulo, 1959.http://www.arq.ufsc.br

Andrade Morettin - Escola FDE - Jornalista Roberto Marinho, Campinas/SP, 2004foto Nelson Kon

Page 17: Fazer a Ponte - projeto de uma escola

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preocupação de inserir centros de lazer e

educação em áreas carentes de São Paulo,

para a inclusão das comunidades como um

todo, não apenas das crianças. Os autores do

projeto Alexandre Delijaicov, André Ta-

kiya e Wanderley Ariza, tentam estabelecer

referenciais urbanos significativos em bair-

ros carentes da capital paulista. Os centros

contam com creches, escolas infantis e fun-

damentais, telecentro, bibliotecas, piscinas,

ginásios e outros espaços para lazer e cultura.

O Edifício Escolar Paulista

EDIF / PMSP - CEU Butantã, São Paulo/SP, 2003foto Nelson Kon

EDIF / PMSP - CEU Butantã, São Paulo/SP, 2003foto Nelson Kon

Andrade Morettin - Escola FDE - Jornalista Roberto Marinho, Campinas/SP, 2004foto Nelson Kon

Page 18: Fazer a Ponte - projeto de uma escola

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Page 19: Fazer a Ponte - projeto de uma escola

19

A crítica ao modelo de ensino tradicional

Page 20: Fazer a Ponte - projeto de uma escola

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Para entender os fundamentos da Escola da

Ponte é necessário antes analisar criticamente

o modelo de educação tradicional que é em-

pregado atualmente.

Para usarmos como referência o

modelo brasileiro, a grande maioria das

escolas que conhecemos opera num sistema

dividido em séries. Após o jardim de infân-

cia, a criança que tem por volta de 6 anos é

alfabetizada e entra no Ensino Fundamental.

A partir de então, a cada ano que passa ela é

transferida ao longo de 9 séries, chamadas de

primeiro, segundo, terceiro ano e assim por

diante.

O conhecimento é transmitido às

crianças dividido em matérias. Matemática,

Língua Portuguesa, Ciências, Estudos Sociais,

Educação Física, Artes etc.

Quando a criança atinge uma idade

de aproximadamente 14 anos, no nono ano,

segue para o Ensino Médio, com duração de

três anos, onde aprofunda seus conhecimen-

tos e completa sua vida escolar.

As aulas são dadas em salas aonde

os alunos sentam em carteiras individuais,

voltados para o professor, que passa a matéria.

Cada ano tem um currículo com temas que o

aluno deve dominar, e só passará de ano de-

pois de ter provado seu conhecimento sobre

todos aqueles assuntos.

A avaliação é feita por meio de provas

que testam o que cada aluno absorveu. O

aluno que teve desempenho insatisfatório

fica de recuperação, ou seja, deverá estudar

novamente e fazer uma nova prova. Caso

continue a ter desempenho abaixo da média,

deve repetir aquele ano, ou seja, assistir no-

vamente a todas as aulas de todas as matérias

no período de um ano. É comum o caso de

escolas particulares que visam a excelência

dos alunos, em que, se o aluno repete de ano

mais de uma vez, este é convidado a se retirar,

tendo que procurar outra instituição de

ensino, o que acaba por ser traumático para a

criança.

O sistema de ensino atual é

freqüentemente criticado por ser estru-

turalmente baseado no sistema industrial

de organização. A separação dos assuntos

em diferentes matérias pode estreitar a visão

dos alunos a certos temas. Da mesma forma,

existe a separação dos alunos pela idade. Cri-

anças convivem apenas com aquelas que têm

a mesma idade delas. No entanto, este parece

ser um critério de separação raso. O que as

crianças têm em comum de mais importante

umas com as outras, muito além da idade,

é o seu interesse por determinados temas, a

sua forma de trabalho, a sua afinidade. Uma

criança mais velha, apesar de estar numa série

acima, pode entender menos de certo assunto

do que outra mais nova, ou raciocinar de

forma menos objetiva.

O sistema atual toma como certo

o fato de que todas as crianças devem ter o

mesmo ritmo de aprendizado, e estipula um

período no qual o aluno deve ter absorvida

cada tema. Aquele aluno que não consegue

acompanhar o ritmo dos outros é considerado

diferente, ou pior. Além disso, ao padronizar

um currículo de ensino, a escola tradicional

pressupõe que todas as crianças devem

conhecer as mesmas coisas e estudar os

mesmos assuntos, independente de onde elas

vivem, qual é a sua condição social e quais são

seus interesses particulares.

A comparação com o sistema indus-

trial se dá devido a semelhança com a linha

de produção, que acaba por padronizar o

ensino a todos os alunos, apesar de suas

A Crítica ao Modelo de Ensino Tradicional

Page 21: Fazer a Ponte - projeto de uma escola

21

diferenças e individualidades.

Outra crítica importante ao método utilizado

atualmente é o fato dele ser considerado elitista.

Os alunos não vêem mais num diploma esco-

lar a garantia de um futuro, o que traz muita

desmotivação para a sala de aula, provocando

repetências e evasão escolar. A crítica está

tanto na dificuldade de levar a educação para

as áreas mais carentes, quanto na própria

forma do ensino. O conteúdo e a linguagem

usados em sala de aula são, muitas vezes, dis-

tantes do cotidiano da criança, que por não se

identificar com aquilo, perde o interesse pelos

estudos.

O conhecimento que a criança leva

à sala de aula, aquele que ela adquiriu no co-

tidiano familiar, é pouco explorado na escola.

Aquilo que a criança conhece não tem utili-

dade, o que muitas vezes passa um sentimen-

to de incapacidade e e inferioridade. Todo

o conhecimento está num único professor

que o transfere para a aula e, de certa forma,

“deposita” informações nos estudantes.

A exclusão social é, indubitavelmente,

um dos problemas mais sérios do ensino no

Brasil. Um modelo escolar menos padroni-

zado, que respeite e aproveite as individuali-

dades e diferentes condições dos alunos, pode

ajudar a oferecer às crianças possibilidades.

Para tanto, é importante que o conteúdo que

a escola passa seja relevante e significativo

para o estudante.

A Crítica ao Modelo de Ensino Tradicional

Page 22: Fazer a Ponte - projeto de uma escola

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“para entender a nossa escola, o senhor terá de se esquecer de tudo o que o senhor sabe sobre escolas. Não temos turmas, não temos alunos separados por classes, nossos professores não dão aulas com giz e lousa, não temos campainhas separando o tempo, não temos provas e notas.”Aluna da Escola da Ponte, em coluna de Rubem Alves na Folha de S. Paulo

Page 23: Fazer a Ponte - projeto de uma escola

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A escola da ponte

Page 24: Fazer a Ponte - projeto de uma escola

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A Escola da Ponte é uma instituição pública

de ensino, localizada na Vila das Aves, no Dis-

trito do Porto, em Portugal. Criada na década

de 1970, foi a partir de 1976 que, com a ajuda

de toda a comunidade, deu início a profundas

mudanças na organização da escola. Hoje, o

projeto educativo Fazer a Ponte é referência

mundial de ensino.

Os alunos dessa escola não são dis-

tribuídos em anos de acordo com a sua idade.

São divididos em três grandes grupos: Ini-

ciação, Consolidação e Aprofundamento.

O primeiro ciclo da Escola da Ponte é

chamado de Iniciação. Esses alunos são sub-

divididos em dois grupos: os da primeira vez

e os restantes. As crianças que estão na escola

pela primeira vez passam pelo processo de

alfabetização, numa abordagem pelo método

natural e os rudimentos da aritmética.

Ao adquirirem as competências

básicas que lhes permitem integrar-se à co-

munidade escolar e trabalhar em autonomia,

gerenciando de forma responsável o tempo,

espaços e objetivos, as crianças passam para o

Núcleo de Consolidação.

Na Consolidação, a criança é capaz

de trabalhar em grupo, efetuar pesquisas, se

auto-avaliar, além como dominar um número

de objetivos nas diferentes áreas do currículo,

referentes ao que é definido em Portugal

como o Ensino Básico.

No Núcleo de Aprofundamento, os

alunos desenvolvem as competências defini-

das para o segundo ciclo do Ensino Básico,

podendo ainda estar envolvidos, em projetos

complementares de extensão e enriquecimen-

to curriculares, bem como de pré-profis-

sionalização.

Neste momento, os alunos que se encontram

A Escola da Ponte

escoladaponte.com.pt

Page 25: Fazer a Ponte - projeto de uma escola

25

no Aprofundamento têm total liberdade para

gerenciar seu tempo dentro da escola.

A transição de um núcleo para outro

ocorre a qualquer momento, a partir da ob-

servação dos professores e do próprio aluno.

Como cada criança tem a sua velocidade

de aprendizado e desenvolvimento, a escola

conta com algumas crianças mais velhas.

Não existem salas de aula, mas sim, espaço

de trabalho, sem lugares fixos. Não existe a

aula convencional. Os alunos formam grupos

heterogêneos com um interesse comum por

algum assunto dentro de um tema que lhes

é dado pelo orientador. O grupo se reúne

com um professor, que junto com os alunos,

estabelece um plano de trabalho de 15 dias,

orientando sobre a bibliografia e os temas a

serem pesquisados. Ao final desse período,

o grupo se reúne novamente com o profes-

sor e avalia o seu aprendizado. Se o resultado

for considerado adequado, aquele grupo se

dissolve e forma-se outro para estudar outro

assunto.

O estudo ocorre em grandes pa-

vilhões equipados com mesas para trabalho

em grupo, computadores e bibliotecas para

pesquisa. Os alunos são instruídos a apenas

recorrer ao orientador após esgotar todos

os outros métodos de pesquisa. Em um

pavilhão, não existe um só professor. Orien-

tadores também trabalham em equipe. Dessa

forma, a qualidade do ensino não depende

apenas de um único professor. A responsa-

bilidade está distribuída entre vários orien-

tadores e, principalmente, entre os próprios

alunos.

Os orientadores estão divididos em

5 dimensões: lingüística, identitária, lógico-

matemática, naturalista e artística, e divididos

A Escola da Ponte

blogmeiapalavra.com.br

Page 26: Fazer a Ponte - projeto de uma escola

26

em três pavilhões. O primeiro pavilhão é

destinado aos estudos das dimensões linguís-

tica e identitária. O segundo, às dimensões

naturalista e lógico-matemática e o terceiro, à

dimensão artística. Os espaços estão destina-

dos aos trabalhos e pesquisas em grupo, mas

estas atividades podem ocorrer também em

qualquer espaço da escola.

O tema oferecido pelo professor é

amplo e permite que os assuntos sejam estu-

dados de forma interdisciplinar, de forma que

as pesquisas quinzenais abrangem diversas

áreas do conhecimento. A flexibilidade que os

alunos têm na gestão do tempo permite que

eles aprofundem assuntos que lhes interessem

mais, o que não é possível num calendário de

estudos fechado.

A avaliação na Ponte é feita de várias

formas. A observação do aluno é considerada

a mais importante ferramenta para observar

o seu desenvolvimento, tanto em termos

acadêmicos quanto seus valores e atitudes. A

grande meta é que cada criança seja solidária,

responsável e autônoma.

Quanto ao conhecimento do currícu-

lo, a avaliação formal também ocorre todos

os dias. A partir de um certo ponto no seu

desenvolvimento, as crianças são incentivadas

a criar um plano diário, onde organizam o

trabalho que será feito durante o dia e esta-

belecem metas a serem cumpridas. Ao final

do dia, é feito um debate informal, onde cada

aluno avalia se chegou ou não à sua meta,

criada por ele mesmo.

Sempre que a criança considera que

domina um determinado ponto do programa,

escreve numa folha chamada “Eu já sei”, que

fica no mural da sala. Depois, um professor

dirige-se ao aluno e faz uma avaliação, que

pode ser efetuada como uma conversa, um

exercício escrito, a resolução de um problema,

dependendo do objetivo em questão. Quando

um aluno, sozinho, percebe-se em dificul-

dades para estudar um determinado assunto,

escreve numa outra folha do mural, chamada

“Eu preciso de ajuda”. Assim, o professor, ou

um aluno que já tem o domínio o tema pode

oferecer ajuda.

Um chamado Professor Tutor acom-

panha de perto um grupo de 8 a 11 alunos, os

quais monitora o trabalho individualmente e

faz reuniões sistemáticas uma vez por semana

para ajudar numa avaliação mais aproximada

de cada criança.

Além dos estudos nos pavilhões, as

crianças se distribuem por oficinas, em salas

menores ou ao ar livre, onde ocorrem aulas

que exploram o universo da dança, consciên-

cia corporal, culinária etc.

Um instrumento fundamental para

o funcionamento da escola é a Assembléia,

que reúne todos os alunos e professores, na

qual são discutidas, analisadas e votadas

medidas para problemas na escola, de forma

democrática e solidária, visando o bem co-

mum.

O funcionamento da Escola da Ponte

descrito anteriormente revela uma forma

de lidar com as crianças que respeita as suas

individualidades e as diferenças de cada uma.

Um aluno que tem o poder de gerenciar

seus estudos mostra-se mais interessado, e

principalmente, sente seus desejos e direitos

respeitados. A autonomia dada à criança é

uma prova de que a escola acredita na sua

capacidade de aprender e na sua responsabi-

lidade como aluno.

Cada criança é única, com interesses

únicos, então cada currículo deve ser único.

Cada um também tem a sua velocidade de

absorção de determinados temas. É impor-

A Escola da Ponte

Page 27: Fazer a Ponte - projeto de uma escola

27

tante observar que, se não há um ritmo de

trabalho definido para o grupo, não há aquele

aluno que não consegue acompanhar a aula,

pois cada aluno faz o seu ritmo. Não existem

alunos especiais, pois não existem alunos

iguais.

O aluno que tem facilidade com

matemática, por exemplo, pode precisar da

ajuda de um colega para a língua portuguesa.

O incentivo à interação entre os colegas é

uma importante ferramenta para um grupo

mais solidário e cidadão.

A Escola da Ponte

blogmeiapalavra.com.br

Page 28: Fazer a Ponte - projeto de uma escola

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Page 29: Fazer a Ponte - projeto de uma escola

29

EMEF Amorim Lima

Page 30: Fazer a Ponte - projeto de uma escola

30

A EMEF Desembargador Amorim Lima,

localizada no bairro do Butantã, funcionou

desde 1968 nesse endereço como uma escola

tradicional, que contava com uma comuni-

dade muito engajada nas atividades escolares.

Um alto índice de evasão escolar e de repetên-

cia chamava a atenção das famílias, assim

como o alto número de faltas dos membros

corpo docente. A comunidade percebeu que

uma reforma no ensino poderia colaborar

em reverter a situação e atrair o interesse dos

alunos. Com a chegada da diretora Ana Elisa

Siqueira, deu-se início a uma série de encon-

tros e discussões entre pais, professores e alu-

nos, que resultaram numa mudança estrutural

na escola, iniciada em 2004, muito inspirada

no modelo da Ponte.

As paredes entre as salas de aula

foram derrubadas, formando grandes pa-

vilhões onde as crianças hoje estudam em

grupos. Apesar de a escola ainda contar com

divisão dos alunos por séries, os pavilhões

podem abrigar crianças de anos diferentes e

permitem que trabalhem umas com as outras.

A própria Escola da Ponte, em Portugal

funciona em um edifício adaptado, e, devido

à falta de recursos, também tem dificuldades

EMEF Amorim Lima

foto autoria

Page 31: Fazer a Ponte - projeto de uma escola

31

em realizar o projeto “Fazer a Ponte” em sua

plenitude. Tendo isso em vista, optou-se por

utilizar o mesmo terreno da EMEF Amorim

Lima para o projeto, como um exercício de

projetar um espaço ideal para essa prática

pedagógica específica, e que seja pensado para

esse uso desde o início.

A escola localiza-se na Rua Vicente

Peixoto, no cruzamento com a Avenida

Corifeu de Azevedo Marques, no bairro do

Butantã, em São Paulo. A região conta uma

altíssima heterogeneidade de moradores.

Próxima ao Morumbi, que abriga as mais

altas faixas de renda da cidade, a região tem

também um alto número de habitações ir-

regulares e favelas, como a São Remo, assim

como diversos conjuntos habitacionais anti-

gos. Também tem grande impacto na região

a presença da Cidade Universitária, que atrai

uma população jovem para o bairro, além de

professores e funcionários.

A Amorim Lima fica em frente à

Praça Elis Regina, que recentemente foi foco

de uma polêmica. O projeto de um túnel,

que ligaria as avenidas Corifeu de Azevedo

Marques e a Dr. Eliseu de Almeida acabaria

com a praça e parte do Parque da Previdência,

faz parte da Operação Urbana Vila Sônia/

Butantã, e foi alvo de inúmeros protestos de

moradores da região. Estes afirmam que o

projeto acabaria com uma grande área verde

de uma região que carece desses espaços,

além de impactar muito uma região residen-

cial. A operação é criticada por favorecer o

uso do automóvel em detrimento do pedestre

e dos transportes de uso coletivo. A implan-

tação do projeto está sendo revista.

Esse episódio salientou a comunidade

local como muito engajada e participativa. O

mesmo comportamento pôde ser observado

nas atividades da EMEF Amorim Lima. A co-

munidade participou ativamente da transfor-

mação da escola e se mostrou muito aberta a

esse projeto, opinando e ajudando para que a

mudança se realizasse. Além disso, as famílias

ainda utilizam amplamente o espaço escolar

aos finais de semana para o lazer.

Os estudantes da escola vêm das mais diversas

famílias e classes sociais, em parte, devido a

essa comunidade local tão heterogênea. Outro

motivo é que seu ensino chama a atenção

de pais com alto grau de escolaridade, o que

dificilmente ocorre em outras escolas públi-

EMEF Amorim Lima

foto autoria

Page 32: Fazer a Ponte - projeto de uma escola

32

cas em São Paulo. A maioria desses pais são

professores da USP e moradores da região.

Outra grande parte dos alunos é residente de

conjuntos habitacionais e favelas próximas,

vindos de famílias com pouco ou nenhum

histórico escolar.

Essa diversidade colabora com

uma experiência educacional rica e muito

pouco observada em São Paulo, que só tem a

acrescentar na formação dos alunos e faz essa

escola ainda mais única.

Realizou-se uma visita à escola em

horário de aula, que possibilitou a ob-

servação do seu funcionamento no dia-a-dia.

As crianças têm uma liberdade muito grande

em transitar pela escola durante suas ativi-

dades. O terreno conta com uma vasta área

aberta e muito arborizada. Os alunos que

estão adiantados em suas atividades em grupo

podem realizar outras tarefas, como ajudar os

alunos que apresentam dificuldades em certo

tema ou monitorar visitantes.

Além dos momentos de estudo nos

pavilhões, Enquanto não estão em horário de

trabalho em grupo no pavilhão, as crianças

têm atividades de oficina, que exploram prin-

cipalmente a questão da identidade brasileira.

São ministradas aulas de capoeira, dança,

consciência corporal, música, entre outras.

Todas essas atividades ocorrem em

salas que costumavam funcionar como salas

de aula convencionais. Devido ao fato de a

escola funcionar num edifício adaptado, algu-

mas salas da escola têm usos completamente

distintos. Abrigam, em diferentes horários,

aulas de música, capoeira e reforços de

matemática. É interessante notar a polivalên-

cia desses espaços e a forma como as crianças

se apropriam deles. No entanto, apesar de um

EMEF Amorim Lima

foto autoria

Page 33: Fazer a Ponte - projeto de uma escola

33

artifício válido, esse uso das salas reflete uma

carência de espaços realmente adequados

para cada uso. É possível fazer com que um

espaço tenha diferentes usos, contanto que es-

ses sejam semelhantes. Mas atividades como

dança e música exigem uma adaptação acús-

tica e espacial que uma sala de aula comum

não oferece.

Em entrevista à diretora Ana Elisa Siqueira,

percebeu-se que a escola ainda está pas-

sando pela transformação e ainda não atingiu

seu ideal. A idéia é, futuramente, eliminar a

separação dos alunos por idade. Devido a essa

transformação constante e às particularidades

de cada uma das escolas, o funcionamento da

Amorim não é igual ao da Escola da Ponte.

Entretanto, sua ideologia e fundamentos são

os mesmos.

EMEF Amorim Lima

Page 34: Fazer a Ponte - projeto de uma escola

34

Page 35: Fazer a Ponte - projeto de uma escola

35

Referências Projetuais

Page 36: Fazer a Ponte - projeto de uma escola

36

Corona School, Richard Neutra (1935)

O projeto para uma escola infantil

foi bastante baseado num projeto anterior, a

Ring Plan School, que foi feito com a inten-

ção de exprimir os conceitos de Neutra sobre

a escola e o ensino, mas não foi construído.

A Ring Plan School tem a planta em

formato de anel, no qual são distribuídas as

salas de aula. Do lado interno do anel fica o

pátio do recreio, criando um espaço único

pra onde convergem os alunos que saem das

classes. Do lado exterior, cada sala de aula

conta com um espaço externo delimitado,

para onde pode se expandir o espaço da aula

durante as atividades pedagógicas. As salas se

abrem para fora em portas de vidro de correr,

que permitem uma grande fluidez, para que

o espaço aberto se confunda com a sala. Lá

fora, o gramado é sombreado por árvores

e um grande balanço da cobertura ajuda a

proteger do sol e da chuva.

Neutra dá uma enorme importância

ao contato da criança com a natureza e ex-

pressa isso através do projeto. Também é pos-

sível notar sua posição ao possibilitar uma

aula ao ar livre, demonstrando uma postura

menos rígida e possibilitando que a educação

se dê de forma mais prazerosa.

Referências Projetuais

artepedrodacruz.wordpress.com

Page 37: Fazer a Ponte - projeto de uma escola

37

Outra referência é o prédio da FAUUSP, pro-

jetado por Vilanova Artigas em 1961. O ed-

ifício exprime uma ideologia sobre educação

completamente inovadora, que fica muito

clara na forma do projeto e influencia aqueles

que estão lá dentro, assim como as atividades

que ali ocorrem.

A fluidez entre os espaços, os

caminhos percorridos pelos estudantes e a

relação do ambiente interno com o externo

são características fortes do projeto que

reforçam a transparência do ensino, assim

como possibilita uma enorme interação entre

os alunos. Essa interação é percebida prin-

cipalmente no grande salão central, o salão

Caramelo, que abriga eventos, exposições e

assembléias estudantis no centro do edifício,

podendo ser visto de diversos pontos de seu

interior.

FAU USP, Vilanova Artigas (1961)

Referências Projetuais

pt.wikipedia.org

Page 38: Fazer a Ponte - projeto de uma escola

38

Um terceiro projeto que merece atenção

como referência são as escolas Apollo, de

Herman Hertzberger, projetadas de 1980 a

1983. Nesses edifícios, as salas de aula são

sempre posicionadas de forma a não criar um

corredor para onde as crianças saiam ao final

das aulas, nos quais poderiam se relacionar

apenas com as crianças das salas vizinhas. A

idéia é dispor as salas de forma a criar um

ponto comum onde ocorre a saída, criando

um grande espaço de encontro e fazendo

com que as circulações sejam generosas e

proporcionem também um ambiente de estar,

exposição e reunião.

Nesses ambientes, em muitos proje-

tos, Hertzberger idealiza também um espaço

de apresentação ou estar, na forma de uma

espécie de arquibancada situada entre os

degraus das escadas, voltada para um espaço

plano que pode ser usado como palco. Ele

acredita na necessidade de um ambiente

escolar que proporcione a exposição dos

trabalhos e atividades, otimizando a relação

entre colegas e a troca de experiências entre

eles.

Escolas Apollo, Herman Hertzberger (1980-1983)

Referências Projetuais

interessepublicocoletivogelca2011.blogspot.com

Page 39: Fazer a Ponte - projeto de uma escola

39

Finalmente, a Fuji Kindergarten, dos arquite-

tos Takaharu, Yui Tezuka e Kashiwa Sato

(2007), é uma escola que prioriza o espaço

aberto. Há um deck sobre a laje das salas de

aula, que conta com uma leve inclinação,

para que as crianças corram sobre ele. Dessa

forma, a área livre não se resume ao pátio

central, mas avança pela cobertura das salas.

Elementos lúdicos foram adicionados

ao projeto, como um escorregador que liga a

cobertura das salas ao pátio central, e árvores

que atravessam a laje, tornando-o mais inter-

essante para as crianças. Cada sala também

conta com uma abertura zenital na cobertura,

pela qual as crianças podem acessá-la, além

de portas de vidro de correr que propor-

cionam abertura total ao espaço externo.

O chão do pátio é feito pedaços de

madeira que absorvem a água da chuva. O

projeto destaca para as crianças o ciclo da

água, para que elas possam observar a manei-

ra com que ela cai, é absorvida, além de como

pode ser reutilizada pelo homem.

Fuji Kindergarten, Takaharu, Yui Tezuka e Kashiwa Sato (2007)

Referências Projetuais

www.urbanrealm.com/blogs

Page 40: Fazer a Ponte - projeto de uma escola

40

Page 41: Fazer a Ponte - projeto de uma escola

41

Projeto

Page 42: Fazer a Ponte - projeto de uma escola

42

Localização

O terreno possui aproximadamente

80m de comprimento e 35m de largura tem

como limite a oeste a Avenida Corifeu, mas

sua entrada é ao norte, na Rua Vicente Pei-

xoto. A rua de acesso tem a saída para a ave-

nida bloqueada, fazendo com que a rua seja

acessada praticamente apenas por moradores

e estudantes.

O terreno tem pouca variação

topográfica. Passa a ter uma maior incli-

nação quando se aproxima da Av. Corifeu. É

bastante arborizado e as principais massas de

vegetação se encontram nesse declive próxi-

mo à avenida e bem no centro do lote.

Uma característica muito importante

é a existência de um córrego, que atravessa

o terreno longitudinalmente, vindo do lado

oeste (Av. Corifeu) em direção ao leste. Atual-

mente esse córrego encontra-se canalizado e é

difícil perceber sua presença.

Projeto

Page 43: Fazer a Ponte - projeto de uma escola

43

Page 44: Fazer a Ponte - projeto de uma escola

44

EMEF DesembargadorAmorim Lima

Cidade Universitária

Praça Elis Regina

Parque Jardim Previdência

Rio Pinheiros

Estação Butantã

Av Corifeu de Azevedo Marques

Av. Politécnica

Rod. Raposo Tavares

Av Eliseu de Almeida

Av Francisco Morato

Marginal Pinheiros

R. Alvarenga

Av. Vital Brasil

1

2

3

4

5

6

A

B

C

D

E

F

G

H

(área do projeto)

Projeto

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45

2

3

4

6

5

1

A

B

C D E

H

GF

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46

Partido

Desde o início, houve o partido de não

concentrar todas as atividades da escola num

único grande edifício. Uma escola como essa

pedia um espaço aberto, com grande fluidez

entre o ambiente interno e o externo. Para

possibilitar circulações livres, caminhos ora

cobertos, ora descobertos, e uma forte pre-

sença da natureza, optou-se por distribuir o

programa em diferentes edifícios, espalhados

pelo terreno. Era preciso aproveitar as diversas

árvores existentes, e principalmente o córrego.

Era muito importante também

aproveitar o terreno amplo para que as aulas

pudessem acontecer tanto em ambientes

fechados quanto ao ar livre. Os ambientes

deveriam ser fluidos e polivalentes, com

potencial para abrigar diferentes brincadeiras,

exposição de trabalhos, assembléias, reuniões

etc.

O projeto apropria-se do caminho córrego

existente como um eixo principal de circu-

lação da escola. A água, que hoje encontra-se

canalizada, seria descoberta e ficaria visível

para os alunos. Pequenas travessias foram lo-

calizadas ao longo de seu percurso. Em alguns

momentos, o córrego foi alargado, formando

pequenos lagos, evidenciando a presença da

água e, conseqüentemente, potencializando a

interação das crianças. O córrego faz a ligação

do programa no terreno, desde o gramado

descoberto, no leste do terreno, até a quadra

coberta, no extremo oposto.

Devido à existência do córrego no

terreno, optou-se por alterar a sua topografia

o mínimo possível, além de edifícios baixos,

para que haja menor interferência nos lençóis

freáticos.

Projeto

Page 47: Fazer a Ponte - projeto de uma escola

47

Sobre o córrego, foram posicionados três

volumes de maior destaque no projeto, onde

ficam os pavilhões. Existe um edifício desti-

nado aos estudos das dimensões lingüística e

identitária, outro para os estudos das di-

mensões lógico-matemática e naturalista e o

terceiro para a dimensão artística. Os três são

iguais para quem os vê de fora, e aquilo que

vai diferenciar um do outro são as atividades

que acontecem dentro de cada um deles.

Optou-se por destacar estes edifícios, pois é

ali que os alunos passarão a maior parte do

tempo, estudando e pesquisando. O fato de os

volumes serem iguais em seu exterior ajuda a

dar força ao conjunto, que ganha importância

na composição.

Os alunos da Consolidação e do

Aprofundamento, por uma escada, sobem a

uma passarela um nível acima, que os dis-

tribui para os três diferentes prédios. Cada

um deles tem mais dois andares. No segundo

andar, fica o pavilhão das crianças da Con-

solidação e no terceiro, o Aprofundamento.

A intenção foi que conforme a criança cresce

e avança nos estudos, sobe um pavimento,

tendo uma visão cada vez mais ampla do

exterior do terreno, enquanto as crianças mais

novas se voltam para dentro.

A separação em pavilhões diferentes

entre os alunos da Consolidação e Aprofun-

damento não ocorre na Escola da Ponte, por

falta de recursos para novas salas. Aqui, além

de acreditarmos que a divisão dos espaços

contribui para uma maior organização dos

estudos, optou-se por separar as crianças, pois

existe uma espécie de ritual de passagem na

mudança de sala, simbolizando o seu avanço,

o seu crescimento e o ganho de novas respon-

sabilidades.

Projeto

Page 48: Fazer a Ponte - projeto de uma escola

48

Cada pavilhão abriga uma biblioteca, com-

putadores e mesas para as pesquisas dos alu-

nos. Cada um deles também possui material

específico para os seus respectivos temas. O

pavilhão dos estudos da natureza deve abrigar

uma espécie de laboratório, o pavilhão das

artes possui espaço para dança e instrumentos

musicais e assim por diante.

As crianças da iniciação, por serem muito

novas, ficam separadas em um edifício

diferente, que também possui pavilhões. O

edifício está enterrado a meio nível do térreo,

o que proporciona um ambiente mais reserva-

do para as crianças. Os pavilhões desse prédio

têm portas de vidro que abrem a sala para

o exterior, também enterrado em relação

ao térreo, possibilitando que os estudos

aconteçam tanto dentro quanto fora da sala,

fazendo do ambiente externo sua extensão.

Na cobertura desse volume fica um

espelho d’água, visível para aqueles que an-

dam pelo térreo.

A administração está posicionada na

mesma lâmina dos pavilhões da Iniciação,

separada pela passarela de entrada da escola.

Do lado oposto da quadra coberta

encontra-se o auditório, cujo palco pode se

voltar tanto ao seu interior quanto ao grama-

do externo. Sua estrutura tem a mesma lógica

da cobertura da quadra, com paredes laterais

que descem quase até o chão, deixando uma

fresta de 50 cm por onde penetra a luz natu-

ral.

A cobertura da quadra abriga, além

da quadra poliesportiva, um refeitório e

uma cozinha. A cozinha fica a 50cm do solo,

apoiada nos pilares da cobertura. No entanto,

Projeto

Page 49: Fazer a Ponte - projeto de uma escola

49

os pilares se posicionam nas duas margens do

córrego, fazendo com que a cozinha funcione

como uma espécie de ponte.

As crianças poderão não só observar

a água que corre no córrego, mas também a

captação da água da chuva, podendo aprender

sobre o seu ciclo. A cobertura inclinada da

quadra conta com uma captação da água em

seu nível mais baixo, onde fica um rasgo que

leva a água da chuva a cair sobre o espelho

d’água na cobertura da administração. No

caso da cobertura do auditório, a água cai

sobre um espelho d’água no nível térreo, que

leva a água até o córrego.

A escola conta com uma grande passarela, no

nível 3,30m, que funciona como um grande

espaço de encontro. Ela penetra pela quadra

coberta, distribui os alunos para os pavilhões

e termina no auditório como um camarote.

Aquele que passa por ela tem uma visão

ampla de todo o terreno, podendo observar as

atividades e aulas dos alunos. Sua laje maciça,

ora apoiada em pilares, ora levantada por ca-

bos, possibilita um desenho livre que permeia

por toda a escola.

Por fim, a entrada da escola conta com uma

praça arborizada, onde os alunos podem es-

perar seus pais e se encontrarem nos horários

de entrada e saída.

Projeto

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50

Planta de situação

Projeto

AV. CORIFEU DE AZEVEDO MARQUES

R. PROF. VICENTE PEIXOTO

R. IQUIRIRIM

PRAÇA ELIS REGINA

R. NICOLAU PEREIRA LIMA

R. AUGUSTO PERRONI R. DR. ERNÂNI DA GAMA CORREIA

R. JOSÉ ÁLVARES MACIEL

R. PEREIRA DO LAGO

AV. B

ENJA

MIM

MANS

UR

R. PA

ULO

ÂNGE

LO LA

NZAR

INI

R. ABADIA DOS DOURADOS

R. CEL. CAMISÃO

0 10 50

Page 51: Fazer a Ponte - projeto de uma escola

Projeto

AV. CORIFEU DE AZEVEDO MARQUES

R. PROF. VICENTE PEIXOTO

R. IQUIRIRIM

PRAÇA ELIS REGINA

R. NICOLAU PEREIRA LIMA

R. AUGUSTO PERRONI R. DR. ERNÂNI DA GAMA CORREIA

R. JOSÉ ÁLVARES MACIEL

R. PEREIRA DO LAGO

AV. B

ENJA

MIM

MANS

UR

R. PA

ULO

ÂNGE

LO LA

NZAR

INI

R. ABADIA DOS DOURADOS

R. CEL. CAMISÃO

0 10 50

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52

1. Campo

2. Auditório

3. Pavilhão Iniciação

4. Sala Primeira Vez

5. Sala uso múltiplo

6. Sala uso múltiplo

7. Secretaria

8. Coordenação

9. Sala dos professores

10. Quadra coberta

11. Refeitório

12. Cozinha

Planta Nível 0,0

Projeto

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Page 54: Fazer a Ponte - projeto de uma escola

54

Planta nível 3,30

13. Passarela de distribuição

Projeto

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Planta nível 3,30

Page 56: Fazer a Ponte - projeto de uma escola

56

Planta nível 5,90/ 9,20

14. Pavilhão de estudos das dimensões Identitária

e Lingüística

15. Pavilhão de estudos da dimensão Artística

16. Pavilhão de estudos das dimensões Lógico-

Matemática e Naturalista

Projeto

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Corte EE

Corte AA

Projeto

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Corte EE

Corte AA

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Corte FF

Corte BB

Projeto

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Corte FF

Corte BB

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Corte GG

Corte CC

Projeto

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Corte GG

Corte CC

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Corte HH

Corte DD

Projeto

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Corte HH

Corte DD

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Page 76: Fazer a Ponte - projeto de uma escola

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Bibliografia

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