fase 1 -maria joao areias

21
1 ALGUMAS NOTAS À FASE 1 DO PROCESSO EXECUTIVO A PENHORA IMEDIATA / DESPACHO LIMINAR / CITAÇÃO PRÉVIA Com o Dec. Lei nº 226/2008, de 11 de Novembro, o legislador deu mais um passo no sentido da desjudicialização da acção executiva, reforçando os poderes do agente de execução, e assumindo como um dos seus objectivos tornar as execuções mais simples e eliminar formalidades desnecessárias, como expressamente consta do respectivo preâmbulo. Contudo, apesar da simplificação da acção executiva surgir no topo das intenções propostas no preâmbulo do citado diploma, a reformulação e a redacção adoptada quanto a algumas das suas normas, não foi especialmente feliz, tendo vindo a levantar algumas divergências quanto à sua interpretação. Assim, tendo sido eliminada a regra geral consagrada no revogado art. 812º, nº1, do Código de Processo Civil (ao qual pertencerão todas as normas citadas sem menção de origem), segundo a qual, na falta de disposição legal em contrário, o processo era concluso ao juiz para despacho liminar, as normas que têm gerado maiores divergências interpretativas são precisamente as constantes dos artigos 812º-C, 812º-D, 812º-E, e 812º-F, de cuja conjugação se retirará quais os casos em que haverá lugar à penhora imediata, à remessa para despacho liminar e à citação prévia. Com efeito, como refere a Prof. Drª, Mariana França Gouveia, todas as hipóteses previstas nos arts. 812º-C a 812º-F, respeitam a excepções estão previstas para casos especificamente determinados na sua letra , esquecendo-se o legislador de formular uma regra geral 1 . Analisemos assim, algumas questões interpretativas, que têm vindo a ser suscitadas na aplicação das citadas normas. 1 Cfr., “A Novíssima Acção Executiva”, in http://tribunaldefamiliaemenoresdobarreiro.blogspot.com .

Upload: isabel-pinto

Post on 17-Dec-2015

218 views

Category:

Documents


0 download

DESCRIPTION

Execução

TRANSCRIPT

  • 1

    ALGUMAS NOTAS FASE 1 DO PROCESSO EXECUTIVO

    A PENHORA IMEDIATA / DESPACHO LIMINAR / CITAO

    PRVIA

    Com o Dec. Lei n 226/2008, de 11 de Novembro, o legislador deu mais um

    passo no sentido da desjudicializao da aco executiva, reforando os poderes do

    agente de execuo, e assumindo como um dos seus objectivos tornar as execues

    mais simples e eliminar formalidades desnecessrias, como expressamente consta do

    respectivo prembulo.

    Contudo, apesar da simplificao da aco executiva surgir no topo das

    intenes propostas no prembulo do citado diploma, a reformulao e a redaco

    adoptada quanto a algumas das suas normas, no foi especialmente feliz, tendo vindo a

    levantar algumas divergncias quanto sua interpretao.

    Assim, tendo sido eliminada a regra geral consagrada no revogado art. 812, n1,

    do Cdigo de Processo Civil (ao qual pertencero todas as normas citadas sem meno

    de origem), segundo a qual, na falta de disposio legal em contrrio, o processo era

    concluso ao juiz para despacho liminar, as normas que tm gerado maiores divergncias

    interpretativas so precisamente as constantes dos artigos 812-C, 812-D, 812-E, e

    812-F, de cuja conjugao se retirar quais os casos em que haver lugar penhora

    imediata, remessa para despacho liminar e citao prvia.

    Com efeito, como refere a Prof. Dr, Mariana Frana Gouveia, todas as

    hipteses previstas nos arts. 812-C a 812-F, respeitam a excepes esto previstas

    para casos especificamente determinados na sua letra , esquecendo-se o legislador de

    formular uma regra geral1.

    Analisemos assim, algumas questes interpretativas, que tm vindo a ser

    suscitadas na aplicao das citadas normas.

    1 Cfr., A Novssima Aco Executiva, in http://tribunaldefamiliaemenoresdobarreiro.blogspot.com.

  • 2

    Artigo 812-C (penhora imediata/citao prvia)

    Nos casos expressamente previstos nas als. a) a d), do art. 812-C, no haver

    lugar a dvidas: o agente de execuo procede de imediato penhora isto , no h

    lugar a despacho liminar nem a citao prvia.

    Contudo, a interpretao de tal norma tem suscitado acesas discusses, uma vez

    que, nem no art. 812-C nem nas disposies seguintes, respeitantes fase introdutria,

    o legislador refere qual o destino para os demais casos a no includos,

    nomeadamente:

    documento exarado ou autenticado por notrio ou outras entidades:

    o em que, no excedendo o montante da dvida a alada da Relao, no seja

    apresentado documento comprovativo da interpelao do devedor, quando tal

    interpelao seja necessria ao vencimento da obrigao;

    o excedendo o montante da dvida a alada da relao, o exequente no mostre ter

    exigido o cumprimento por notificao judicial avulsa;

    qualquer outro ttulo de obrigao pecuniria vencida:

    o de montante no superior alada da relao, em que tenha sido indicado

    penhora estabelecimento comercial, direito menor que sobre ele incida ou

    quinho em patrimnio que o inclua;

    o de montante superior alada da relao.

    Assim, e na ausncia de uma resposta clara e expressa por parte do legislador,

    vrias solues tm sido encontradas, defendendo uns que, em tais casos, haver lugar a

    despacho liminar2, outros que haver lugar, to somente, a citao prvia

    3, e outros

    ainda que haver lugar a despacho liminar e a citao prvia4.

    2 Cfr., Prof. Lebre de Freitas, A Aco Executiva, Depois da Reforma da Reforma, 5 Ed., Coimbra

    Editora, pag. 159 e 160, que continua a considerar als. do art. 812-C como casos de dispensa de despacho

    liminar. 3 Cfr., neste sentido, Eduardo Paiva e Helena Cabrita, O Processo Executivo e o Agente de Execuo,

    Coimbra, Editora, pag. 85 e 86. 4 Cfr., Prof. Mariana Frana Gouveia, propondo que, na falta de uma regra geral se recupere a antiga,

    havendo lugar a despacho liminar e a citao prvia (cfr., estudo e local citado).

  • 3

    Quanto a ns, tal lacuna s poder ser preenchida pelo recurso a uma anlise

    comparativa das alteraes introduzidas com a reforma da reforma da aco

    executiva, nas normas constantes da Seco I (Fase Introdutria) atinentes aco

    executiva comum (arts. 810 a 812-B, actuais arts. 810 a 812-F).

    Assim, desde logo se constata que o anterior art. 812-A, sob a epgrafe,

    Dispensa de despacho liminar, foi objecto de revogao, sendo cindido em dois:

    - passando o seu n1 a corresponder, embora com algumas alteraes, ao actual

    art. 812-C, agora sob a epgrafe Diligncias iniciais;

    - passando o seu n2 a corresponder ao actual 812-D, sob a epgrafe, Remessa

    do processo para despacho liminar.

    Por sua vez, a regulamentao constante do anterior art. 812, sob a epgrafe

    Despacho liminar e citao prvia (com excepo do seu n1, que foi pura e

    simplesmente eliminado), passou a constar dos actuais art. 812-E (que corresponde,

    sensivelmente, aos ns. 2 a 6 do revogado art. 812) e do n2 do art. 812-F (que

    corresponde ao n7 do antigo art. 812).

    Ora, ser que o objectivo destas alteraes se ficou por uma diferente

    arrumao ou reorganizao das normas respeitantes ao despacho liminar e citao

    prvia, ou pretendeu uma alterao mais profunda, de harmonia com a filosofia geral da

    reforma da reforma, de desjudicializao da aco executiva tornar as execues

    mais simples e eliminar formalidades processuais desnecessrias, reforando o papel do

    agente de execuo5 , ou seja, visando uma diminuio das hipteses em que a

    execuo se encontra sujeita a despacho liminar?

    Inclinamo-nos para a segunda das solues apontadas.

    Desde logo, e em primeiro lugar, note-se que, dentro desta reorganizao da fase

    introdutria do processo, foi eliminado o n 1 do art. 812, segundo o qual sem

    prejuzo do disposto no n1 do art. 812-A, o processo concluso ao juiz para despacho

    liminar.

    5 Cfr., Prembulo do DL 226/2008.

  • 4

    Do teor de tal norma, retirava-se, ento, a ilao de que a verificao de

    despacho liminar seria o regime regra e de que a dispensa de despacho liminar de

    citao prvia constituiria a excepo6.

    Ora, o facto de tal norma ter sido suprimida um elemento que ter,

    necessariamente, de ser atendido ou a tomar em conta, na interpretao a dar s demais

    normas contidas nos actuais arts. 812-C a 812-F.

    Por sua vez, o revogado n1 do art. 812-A, dispunha que nas execues

    baseadas nos ttulos a previstos nas als. a) a d), no tem lugar a despacho liminar.

    Assim, nas hipteses a expressamente previstas, no havendo lugar a despacho

    liminar, no haveria igualmente lugar a citao prvia (n1 do art. 812-B), pelo que se

    procederia de imediato penhora.

    Por contraposio s execues baseadas nos ttulos a previstos, relativamente

    s quais se previa a dispensa de despacho liminar, as execues baseadas nos ttulos no

    includos nas diversas alneas a) a d), encontrar-se-iam sujeitas a despacho liminar7.

    Ora, no actual art. 812-C, onde constam os casos previstos als. a) a d), do n1,

    do anterior art. 812-A, a expresso sem prejuzo do disposto no n2, no tem lugar a

    despacho liminar nas execues baseadas em (), foi substituda pela expresso:

    Sem prejuzo do disposto no artigo seguinte, o agente de execuo () procede

    penhora nas execues baseadas em (...).

    Ou seja, ao elencar as hipteses previstas nas als. a) a d) do n1 do art. 812-C, o

    legislador j no teve em mente determinar quais os casos em que h, ou no, lugar a

    remessa do processo para despacho liminar, determinao esta que fez constar

    expressamente do art. 812-D.

    E, note-se que, j no mbito da anterior reforma da aco executiva, o Professor

    Lebre de Freitas defendia que, na falta de documento comprovativo da interpelao do

    6 Cfr., O Professor Lebre de Freitas, referindo que a dispensa do despacho liminar constituiu, desde o

    incio, um ponto quente dos trabalhos preparatrios da reforma, afirma que a soluo final acabou por

    restringir os casos de despensa de despacho liminar e de citao prvia, optando, alis, por estabelecer como regra, o despacho liminar e a citao prvia do executado, e como excepo, a despensa do

    despacho (art. 812-A) e a despensa de citao (art. 812-B) Cdigo de Processo Civil Anotado, Vol. 3, Coimbra, Editora, pag. 291. 7 Assim, se o montante da dvida no excedesse a alada da relao e no fosse apresentado documento

    comprovativo da interpelao do devedor quando necessrio ao vencimento da obrigao, haveria lugar a

    despacho liminar (por excluso da al. c) do n1 do art. 812-A).

  • 5

    devedor, quando a lei o exija para o vencimento da obrigao, e quando o exequente

    optar por desde logo mover a execuo, caso em que s a citao valer como

    interpelao, de iure constituendo o despacho liminar seria dispensvel, podendo o caso

    ter o tratamento do art. 812, n7 (citao prvia sem necessidade de despacho do juiz)8.

    Ou seja, especialmente nos casos excludos pelas als. b) e c) de falta de

    documento comprovativo da interpelao do devedor a citao prvia do executado

    ser suficiente para acautelar os interesses em jogo, concedendo ao executado

    exactamente as mesmas garantias da interpelao extrajudicial prvia, no se

    vislumbrando, a necessidade de haver lugar a despacho liminar.

    Face s consideraes expostas, retiramos a seguinte regra geral, quanto ao teor

    do art. 812-C:

    - Nas hipteses previstas nas als. a) a c) do art. 812- C, o agente de execuo

    procede de imediato penhora no h lugar a citao prvia, nem a despacho

    liminar.

    - Nas hipteses excludas pelo art. 812- C (e desde que no caiam na previso

    do art. 812-D, que prev os casos de remessa para despacho liminar), h, to s, lugar

    a citao prvia.

    Artigo 812-D (Remessa para despacho liminar).

    1. Remessa para despacho liminar.

    No art. 812-D, estabelece-se quais os casos em que o agente de execuo

    remete o processo ao juiz para despacho liminar.

    E, note-se que, em meu entender, s se encontraro sujeitos a despacho liminar

    os casos expressamente previstos nesta norma, aos quais haver que acrescentar

    unicamente um outro sempre que, encontrando-se a execuo sujeita a citao prvia,

    o exequente requeira justificadamente a dispensa de tal citao com fundamento em

    justificado receio de perda de garantia patrimonial do seu crdito , aditamento que, de

    qualquer modo, s se aplicar s execues para pagamento de quantia certa.

    8 Cfr., Jos Lebre de Freitas e Armindo Mendes, Cdigo de processo Civil Anotado, Vol. 3, pag. 300.

  • 6

    De entre as hipteses a previstas, ressaltam desde logo, os casos em que tal

    remessa, se impe por fora da natureza do ttulo (alneas c) e d)):

    execues fundadas em actas de assembleia de condminos, nos termos do DL

    n 268/94, de 25.10,

    execues fundadas em ttulo executivo, nos termos da Lei n 6/2006, de 27.02

    (Novo RAU) execues para entrega de imvel locado, na sequncia de

    denncia ou resoluo do contrato e de para pagamento das rendas em dvida;

    Em segundo lugar, exigida a remessa para despacho liminar,

    independentemente da espcie de ttulo executivo:

    execues movidas apenas contra o devedor subsidirio (art. 828 do CPC)

    ex., sempre que, por negcio ou por lei, h um devedor principal e um devedor subsidirio, com

    o benefcio da excusso prvia, como o caso do fiador (art. 638, n1 do CC).

    no caso de obrigao condicional ou dependente de prestao, e a prova de que

    se verificou a condio ou se efectuou a prestao no possa ser feita por

    documentos (ns. 2 e 3 do art. 804).

    As restantes hipteses referem-se a casos em que, embora a natureza do ttulo

    no impusesse a remessa do processo para despacho liminar, surgindo dvidas ao

    agente de execuo sobre o ttulo, dever suscitar a interveno do juiz:

    Se o agente duvidar da suficincia do ttulo ou da interpelao ou notificao

    do devedor: (al.e) do art. 812-D);

    Se o agente suspeitar que se verifica uma das situaes previstas nas als. b) e c),

    do n1do art. 812-E:

    1. Excepes dilatrias, no suprveis, de conhecimento oficioso (alnea

    b), do n1 do art. 812-E):

    2. Fundando-se a execuo em ttulo negocial, seja manifesto, face aos

    elementos constantes dos autos, a inexistncia de factos constitutivos ou a

    existncia de factos impeditivos ou extintivos da obrigao exequenda que

    ao juiz seja lcito conhecer (al. c), da citada norma.

  • 7

    se pedida a execuo de sentena arbitral, o agente de execuo duvidar que o

    litgio pudesse ser submetido a deciso por rbitros, quer por estar submetido

    por lei, exclusivamente a tribunal judicial ou a arbitragem necessria, quer por

    o direito litigioso no ser disponvel para o seu titular.

    2. Nos processos remetidos para despacho liminar, por fora do art. 812-D,

    haver lugar necessariamente lugar a citao prvia?

    Segundo o n5 do art. 812-E, quando o processo deva prosseguir e, no caso do

    n3 do art. 804, o devedor deva ser ouvido, o juiz profere despacho de citao do

    executado para, no prazo de 20 dias, pagar ou opor-se execuo.

    Contudo, em nosso entender, tal norma no dever lida no sentido literal de que,

    sempre que o processo seja remetido para despacho liminar e o processo haja de

    prosseguir, tal implique necessariamente que se proceda citao prvia do executado.

    Nas hipteses previstas nas alneas c) e d) execues fundadas em actas de

    assembleias de condminos ou em ttulo executivo nos termos da Lei n 6/2006, de

    27.02 , em que est em causa a natureza do ttulo e que tm em comum tratar-se de

    ttulos no assinados pelo devedor, justificar-se- plenamente a imposio da citao

    prvia.

    Nas execues movidas unicamente contra o devedor subsidirio (al. a) do art.

    812-D), dvidas no haver de que, igualmente, se impe a citao prvia,

    nomeadamente porque tal expressamente imposto pela al. a), do n2 do art. 812-F.

    Na hiptese prevista na al. b) (obrigao condicional ou dependente de

    prestao, na qual a prova da verificao da condio ou de que se efectuou a prestao,

    no possa ser feita por documentos), o juiz apenas ordenar a citao do executado se

    entender necessria a audio do devedor, nos termos das disposies conjugadas dos

    n5 do art. 812-D e n3 do art. 804.

    Nas restantes hipteses, previstas nas als. e), f), e g), em que a remessa se deve

    unicamente existncia de dvidas do agente de execuo quanto a irregularidades do

    ttulo ou da execuo, se o juiz entender que a execuo de prosseguir, no se

    descortina nenhuma razo justificativa para nos afastarmos das regras gerais sendo de

  • 8

    proceder citao prvia, unicamente, se tal se mostrar necessrio por fora do art.

    812-C ou, caso se trate de uma das hipteses expressamente previstas no n2 do art.

    812-F.

    Artigo 812-F (Citao prvia e dispensa de citao prvia).

    1. Citao prvia, em simultneo com a remessa do processo para despacho

    limiar?

    O entendimento de que o n2, do art. 812-F, impe ou permite que, em tais

    casos, a citao prvia possa preceder ou ser efectuada em simultneo com a remessa

    para despacho liminar , no nosso ponto de vista, inadmissvel e indefensvel.

    Primeiro, porque nem sequer uma leitura literal de tal norma aponta em nesse

    sentido: o n2 do art. 812-F, apenas dispe, que nas hipteses previstas nas als. a) a d),

    h sempre citao prvia, sem necessidade de despacho do juiz, ou seja, que, em tais

    situaes haver, sempre, lugar citao prvia e que o agente de execuo dever

    proceder a tal citao sem necessidade de despacho do juiz a orden-la.

    Por outro lado, as normas no podem ser interpretadas isoladamente, e

    independentemente do restante regime previsto nas leis de processo, havendo que

    atender ainda aos conceitos jurdicos em causa.

    Ora, no Cdigo de Processo Civil, o despacho liminar, o despacho do juiz pelo

    qual procede apreciao do requerimento inicial, precedendo a citao.

    Uma anlise da evoluo legislativa permitir um esclarecimento cabal de tal

    figura jurdica.

    Antes das grandes alteraes operadas na aco declarativa pelo DL 329-A/95,

    de 12 de Dezembro, depois de autuada a petio e de pago o preparo inicial, o processo

    era concluso ao juiz para analisar a petio e proferir o primeiro despacho.

    Nunca se procedia citao do ru sem despacho que a precedesse e, nesse

    despacho, o juiz poderia tomar uma de trs atitudes: ordenar a citao do ru, convidar o

    autor a completar ou a corrigir a petio, ou indeferir liminarmente a petio.

  • 9

    E, se o DL 339-A/95, veio suprimir, como regra, o despacho liminar na aco

    declarativa, tal despacho liminar manteve-se na aco executiva, quer na forma

    ordinria quer na forma sumria (com a nica diferena de que, na execuo sumria, o

    juiz ao proferir despacho liminar, se entendesse que a execuo se encontrava em

    condies de prosseguir, em vez de ordenar a citao do executado, ordenava a penhora

    e s aps esta, o executado era notificado para se opor execuo).

    Com a reforma da aco executiva introduzida pelo DL 38/2003, de 8 de Maro,

    estabeleceram-se alguns casos de dispensa de despacho liminar, sendo que, no

    havendo lugar a despacho liminar, em regra, no havia citao prvia do executado, ou

    seja, ele s era citado depois da penhora efectuada (art. 812-B). Nos casos em que

    havia lugar a despacho liminar, a regra era o juiz determinar a citao do executado (n6

    do art. 812). Ou seja, no havendo motivo para indeferimento, o juiz, quando proferisse

    despacho liminar, nele ordenava a citao do executado.

    Como afirma Jorge Augusto Pais de Amaral, o indeferimento denomina-se

    liminar quando proferido no limiar do processo, antes de ter lugar a citao9.

    E, a citao prvia, conceito este introduzido pelo Dec. Lei n 38/2003, de 08 de

    Maro, a citao que precede a penhora (no tendo o sentido de corresponder

    citao que precede o despacho liminar10.

    luz do esprito do CPC vigente, se o ru ou executado citado sem que o

    requerimento inicial seja submetido a despacho de juiz, o despacho que posteriormente

    venha a proferir sobre o requerimento inicial, no ser nunca um despacho liminar!

    Por fim, a citao do executado, a efectuar antes ou em simultneo com a

    remessa do processo para despacho liminar, importaria, mesmo, a prtica de actos

    inteis:

    Ao executado entretanto citado -lhe concedido um prazo para pagar ou deduzir

    oposio (prazo este que peremptrio, relativamente faculdade de deduzir oposio),

    sendo que o juiz, ao apreciar liminarmente o requerimento executivo, poder rejeit-lo

    9 Cfr., Direito Processual Civil, 8 ed., Almedina, 2009, pag. 186.

    10 Cfr. Neste sentido Jos Lebre de Freitas, quando afirma: pode porm, o exequente, no requerimento

    executivo, pedir a dispensa da citao prvia, isto , da citao anterior penhora, in Cdigo de

    Processo Civil Anotado, Vol. 3., pag. 305.

  • 10

    total ou parcialmente, ou convidar o exequente a juntar documentos ou a suprir

    deficincias do R.E., tornando intil a oposio entretanto deduzida pelo executado.

    Por outro lado, atentar-se- em que, se a al. a) do n2, do art. 812-F contempla

    uma hiptese em que, por fora da al. a) do art. 812-D, se encontrar sujeita igualmente

    a despacho liminar (por se tratar de execuo movida contra o devedor subsidirio), as

    demais hipteses previstas als. b), c) e d), sem sequer se encontram abrangidas pelo art.

    812-D, pelo que nem sequer se trataro de casos em que a lei imponha a remessa para

    despacho liminar.

    Concluindo, entendemos que a expresso contida no n2 do art. 812-F Nos

    processos remetidos ao juiz pelo agente de execuo para despacho liminar, se

    encontra a por mero lapso de escrita, devendo, pura e simplesmente, ser eliminada.

    Face s consideraes expostas, e recapitulando, existiro os seguintes casos de

    citao prvia, sem necessidade de despacho liminar:

    - ttulos executivos no includos no art. 812-C ( e que, em simultneo, tambm

    se no incluam na previso do art. 812-D);

    - casos referidos nas alneas b) e c), do n2 do art. 812-F;

    - citao efectuada nos termos do art. 833-B, n4 (no caso se no serem

    encontrados bens penhorveis).

    2. Contradio entre a al. d) do n2, do art. 812-F, e o n 3 do art. 832 do

    CPC execuo anterior terminada sem integral pagamento.

    Segundo a al. a) do n2 do art. 812-F, h sempre citao prvia, quando, no

    registo informtico de execues, conste a meno da frustrao, total ou parcial, de

    anterior aco executiva movida contra o executado.

    E, dispe o n3 do art. 832:

    Quando contra o executado tenha sido movida execuo terminada sem integral

    pagamento, o agente de execuo prossegue imediatamente com as diligncias prvias

    penhora e com a comunicao do seu resultado ao exequente, no se aplicando o ns. 4 a

    7 do art. 833-B e extinguindo-se imediatamente a execuo caso no sejam

    encontrados nem indicados bens penhora pelo exequente.

  • 11

    Tais normas, tendo ambas exactamente o mesmo mbito de aplicao e visando

    a mesma exacta situao execuo anterior terminada sem integral pagamento

    impem procedimentos absolutamente distintos e contraditrios e incompatveis entre

    si: a primeira das normas citadas impe a citao prvia do executado e a segunda

    exclui-a ou dispensa-a expressamente.

    Como interpretar, o hipottico pensamento e vontade do legislador?

    Partindo do princpio de que o legislador no ter pretendido consagrar duas

    solues antagnicas, uma delas dever-se- necessariamente a mero lapso.

    Vejamos assim, a origem de ambas as normas em causa, bem como o tratamento

    que tinha tal situao no regime anterior reforma do DL 226/2008.

    Na anterior reforma da aco executiva, o n3 do art. 832, dispunha que,

    quando contra o executado tenha sido movida execuo terminada sem integral

    pagamento, tm lugar as diligncias previstas no n1 do artigo seguinte, aps o que o

    exequente notificado, sendo caso disso, para indicar bens penhorveis no prazo de 30

    dias, suspendendo-se a instncia se nenhum bem for encontrado.

    E, o n3 do art. 812-B dispunha expressamente que a dispensa da citao

    prvia tem sempre lugar quando, no registo informtico de execues, conste a meno

    da frustrao, total ou parcial, de anterior aco executiva movida contra o executado.

    Ou seja, no regime anterior, desde que o solicitador de execuo constatasse que

    contra o devedor havia sido movida execuo terminada sem integral pagamento, era

    decretada a suspenso da instncia, sem necessidade de se citar previamente o

    executado.

    Ora, tendo em considerao o esprito e objectivos das sucessivas reformas da

    aco executiva (celeridade e eficcia, pretendendo-se evitar a propositura de execues

    e tornando-as mais simples, como se refere no prembulo do DL 226/20008, de 20.11) a

    soluo a dar a tal situao ao abrigo do actual regime, s poder ser a prevista no n3

    do art. 832: extino do processo, sem necessidade de se ouvir o executado ou seja,

    no se aplicando o disposto nos ns. 4 a 7 do art. 833-B -, precisamente porque, tendo

    j ocorrido a extino da instncia por inexistncia de bens numa outra execuo, o

  • 12

    executado j ter necessariamente sido citado em tal processo para indicar bens

    penhora e advertido das consequncias da falsidade ou falta de declaraes.

    Havendo j um processo que foi extinto por falta de bens, e no qual a extino

    foi precedida da audio do executado, no faria sentido a obrigatoriedade de repetio

    dessa citao em cada uma das novas execues que venham a ser instauradas contra o

    executado e na pendncia das quais o agente de execuo continua a no encontrar bens

    ao executado nem os mesmos sejam indicados pelo exequente.

    Concluso: a alnea d) do n2 do art. 812-F dever-se- a mero lapso, devendo

    ser eliminada, por incompatibilidade com o regime previsto no n3 do art. 832.

    3. Se, actualmente, o exequente s pode requerer a dispensa de citao

    prvia nos processos que tenham sido remetidos para o juiz, de acordo com o art.

    812-D.

    Dispe o n3 do art. 812-F, que Nos processos remetidos ao juiz pelo agente

    de execuo, de acordo com o artigo 812-D, o exequente pode requerer que a penhora

    seja efectuada sem a citao prvia do executado.

    Qual o alcance de tal norma?

    Pretender-se- com a mesma delimitar as situaes em que ao exequente

    possibilitada a formulao de tal pedido, determinando-se que s nos processos

    remetidos ao juiz, ao abrigo do disposto no art. 812-D, o exequente pode requerer a

    dispensa de citao prvia?

    No regime anterior ao DL 226/2008, o n2 do art. 812-B, dispunha que nas

    execues em que tem lugar despacho liminar, bem como nas movidas contra o devedor

    subsidirio, o exequente pode requerer que a penhora seja efectuada sem a citao

    prvia do executado, tendo para o efeito que alegar factos que justifiquem o receio de

    perda da garantia patrimonial do seu crdito e oferecer de imediato os meios de prova.

    O pedido de dispensa de citao prvia, com fundamento no receio de perda de

    garantia patrimonial, s se encontrava previsto para os casos em que houvesse lugar a

    despacho liminar, e nas execues movidas contra o devedor subsidirio.

    E porqu?

  • 13

    Por uma razo muito bvia: porque, na vigncia de tal regime, no havendo

    lugar a despacho liminar, em regra, no havia lugar a citao prvia.

    A grande diferena de regimes est no facto de que, no regime anterior, em

    regra, quando no havia lugar a despacho liminar, a penhora era efectuada sem citao

    prvia do executado n1 do art. 812-B, enquanto que, actualmente, h inmeros casos

    em que h lugar a citao prvia sem que a lei imponha a remessa para despacho

    liminar.

    Actualmente, temos trs tipos de situaes:

    - casos em que se procede de imediato penhora (art. 812-C);

    - casos em que se procede citao prvia do executado (nas situaes no

    abrangidas pelo disposto no art. 812-C e ainda nas hipteses previstas nas als. a) a c),

    do art. 812F);

    - casos em que os autos so remetidos ao juiz para despacho liminar (art. 812-

    D), aps o que, poder, ou no, haver lugar a citao prvia do executado.

    Assim, far sentido, que se restrinja a possibilidade de o exequente requerer a

    despensa de citao prvia, aos casos em que h lugar a despacho liminar, por fora do

    art. 812-D?

    A resposta ter de ser necessariamente negativa.

    A actual lei (tal como a anterior) permite ao exequente requerer a dispensa de

    citao prvia no requerimento executivo, nos casos em que seja admissvel (art.

    810, n1, al. j).

    E, actualmente (tambm, tal como no regime anterior), a dispensa de citao

    prvia pode ser requerida pelo exequente em dois momentos distintos:

    - no requerimento executivo inicial, alegando factos que justifiquem o receio de

    perda da garantia patrimonial do seu crdito, e oferecendo, de imediato os meios de

    prova (n3 do art. 812-F).

    - posteriormente, quando das diligncias para citao resultar dificuldade em

    efectuar a citao pessoal, e se a demora justificar o receio de perda de garantia

    patrimonial (n5 do art. 812-F).

  • 14

    E o fundamento para a dispensa de citao prvia continua tambm, a ser

    exactamente o mesmo justo receio de perda de garantia patrimonial do crdito do

    exequente tratando-se como de um enxerto de uma providncia cautelar de arresto

    numa fase liminar da aco executiva, como vem sendo entendido por alguns autores11

    .

    Assim, e em nosso entender, desde que alegue factos que justifiquem o receio de

    perda da garantia patrimonial do seu crdito, ou ocorrendo especial dificuldade em

    efectuar a citao prvia, pode o exequente requerer a dispensa de citao prvia,

    sempre que a execuo em causa a ela se encontre sujeita, ou seja:

    - no s quando ocorra uma das situaes previstas nas als. a) a d), do art. do art.

    812-D,

    - como ainda nas hipteses excludas do art. 812-C,

    - e ainda nas hipteses previstas nas als. a), b), e c), do art. 812-F.

    Ou seja, parece-nos que, mais uma vez, a expresso nos processos remetidos ao

    juiz pelo agente de execuo, constante do n3 do art. 812-E, deveria, tambm ela, ser

    pura e simplesmente eliminada.

    B. EXECUO PARA ENTREGA DE COISA CERTA E PARA

    PRESTAO DE FACTO.

    1. Citao prvia.

    Ao contrrio do que ocorre na execuo comum (para pagamento de quantia

    certa), quer na execuo para entrega de coisa certa, quer na execuo para prestao de

    facto, h sempre lugar citao prvia do executado, em conformidade com o disposto

    nos arts. 928 e 933, do CPC.

    Ou seja, tendo o legislador previsto expressamente a obrigatoriedade de citao

    prvia do executado, em tais formas especiais de execuo, no ser de aplicar

    subsidiariamente a norma constante do art. 812-C, pelo que, haver lugar a citao

    prvia, ainda que se baseie em deciso judicial ou arbitral.

    2. Despacho Liminar.

    11

    Cfr., neste sentido, Prof. Jos Lebre de Freitas, Agente de Execuo e Poder Jurisdicional, in Rev. THEMIS, Ano IV, n7, 2003, pag. 27.

  • 15

    Quanto obrigatoriedade de remessa do processo para despacho liminar, no

    existindo, nas disposies previstas especialmente para este tipo de aces, qualquer

    norma que estabelea um regime diferente, ser-lhe- aplicvel o regime previsto no art.

    812-D, para a aco executiva comum, com as devidas adaptaes.

    Assim, encontrar-se-o sujeitas a despacho liminar, entre outras, as execues:

    - para entrega de coisa certa, fundadas em ttulo executivo nos termos da Lei n

    6/2006, de 27 de Fevereiro (al. d), do art. 812-D);

    - execuo para prestao de facto, em que a obrigao esteja dependente de

    condio suspensiva ou de outra prestao, cuja prova no possa ser feita por

    documentos;

    - se o agente de execuo duvidar da suficincia do ttulo ou da interpelao ou

    notificao do devedor (al. f) do art. 812-D);

    - se o agente de execuo suspeitar que se verifica alguma das situaes

    previstas nas als. B) e c), do n1 do art. 812-E.

    Da aplicao de tais regras, resultar, assim que, nomeadamente, no se

    encontrar sujeita a despacho liminar, por ex., a execuo para entrega de coisa certa

    fundada em deciso judicial ou arbitral, ou em documento particular, assinado pelo

    devedor no qual ele se obrigue a proceder entrega do imvel que ocupa em

    determinado prazo, ou documento autenticado ou exarado por notrio ou outras

    entidades com competncia para tal.

    3. Dispensa de citao prvia.

    Permitir a actual lei, que o exequente requeira a dispensa de citao prvia, nas

    demais formas de processo executivo?

    Quer quando pedida no requerimento executivo inicial, quer quando pedida

    posteriormente, por ocorrer especial dificuldade em efectuar a citao prvia, tal

    dispensa tem sempre como fundamento o justo receio da garantia patrimonial do seu

    crdito, fundamento este que no se verificar na execuo para entrega de coisa certa.

    Quanto execuo para prestao de facto, embora, em determinadas

    circunstncias, possa prosseguir para pagamento da indemnizao compensatria ou

  • 16

    para pagamento do custo da prestao a efectuar por outrem, procedendo-se penhora e

    seguindo os demais termos do processo de execuo para pagamento de quantia certa

    (n1 do art. 833 e ns. 1 e 2 do art. 835), tal prosseguimento ter de ser precedido por

    uma fase de liquidao da obrigao, em relao qual o executado ter

    necessariamente de ser ouvido.

    Pelo que, pelo menos, por ora, tenderemos a concluir pela inaplicabilidade do

    disposto nos ns. 3 a 5, do art. 812-F, s demais formas de processo executivo.

    B - Remessa para despacho liminar, no caso de verificao de

    excepes dilatrias de conhecimento oficioso.

    Tendo-me sido solicitado que me pronunciasse igualmente sobre as excepes

    da instncia e tendo constatado que Exma. Dra. Maria de Lurdes Mesquita, oradora

    desta mesma mesa, havia sido pedido que tratasse de alguns pressupostos processuais, e

    a fim de evitar eventuais coincidncias quanto aos temas expostos, optei por efectuar

    unicamente uma breve referncia verificao de excepes dilatrias, no suprveis,

    de conhecimento oficioso, que por fora da al. f), do art. 812-D, imporo ao agente de

    execuo a remessa do processo para despacho liminar.

    1. Excepes dilatrias, no suprveis, de conhecimento oficioso:

    As excepes dilatrias obstam a que o tribunal conhea do mrito da causa e

    do lugar absolvio da instncia ou remessa do processo para outro tribunal n2

    do art. 493 do CPC.

    Prevendo a al. f) do art. 812-D do CPC, que o Agente de execuo dever

    remeter o processo para despacho liminar se suspeitar que se verifica uma das situaes

    previstas na al. b), do n1, do art. 812-E , e respeitando esta alnea possibilidade de o

    juiz proferir despacho de indeferimento liminar quando ocorram excepes dilatrias,

    no suprveis, de conhecimento oficioso, retirar-se- a concluso de que o agente de

    execuo s dever remeter o processo para despacho liminar quando se verifique

    alguma excepo dilatria que importe a absolvio da instncia e j no quando a

    mesma importe to s a remessa para outro tribunal.

  • 17

    Excludas da al. f), ou seja, da obrigatoriedade de envio do processo para

    despacho liminar, ficaro, assim, os casos de incompetncia relativa do tribunal

    incompetncia em razo do territrio, do valor da causa e da forma do processo (art.

    108) uma vez, que se tais excepes forem julgadas procedentes, o processo

    remetido para o tribunal competente (salvo se a incompetncia radicar na violao de

    pacto privativo de jurisdio, caso em que o ru absolvido da instncia), nos termos do

    n3 do art. 111.

    Note-se que, de qualquer modo, a relevncia da incompetncia relativa do

    tribunal, s se far sentir se ocorrer algum incidente declarativo ou for suscitada alguma

    questo jurisdicional que incumba ao juiz decidir, caso em que, sendo-lhe o processo

    remetido para conhecimento de tais questes, poder, sempre, declarar-se incompetente,

    remetendo o processo para o tribunal competente.

    Restaro, assim, as seguintes excepes dilatrias, de conhecimento oficioso,

    cuja verificao dever levar o agente de execuo a remeter o processo para despacho

    liminar:

    - incompetncia absoluta do tribunal (infraco das regras de competncia em

    razo da matria, da hierarquia e das regras de incompetncia internacional) art. 101;

    - falta de personalidade judiciria, ou que, sendo incapaz, no est devidamente

    representado;

    - Ilegitimidade de alguma das partes;

    - Falta de constituio de advogado, sendo o patrocnio obrigatrio.

    - Cumulao ilegal e coligao ilegal de exequentes ou de executados.

    1.1. Incompetncia absoluta do tribunal

    1.1.1. Incompetncia Internacional

    Quanto competncia internacional, o Regulamento de Bruxelas I e a

    Conveno de Lugano, que se sobrepem s normas internas sobre incompetncia

  • 18

    internacional dos tribunais portugueses, vieram aferir a competncia da execuo de

    sentena pela situao dos bens:

    Tratando-se de executar deciso proferida num outro Estado vinculado e nele

    dotado de exequibilidade, so exclusivamente competentes os tribunais do Estado do

    lugar da execuo (art. 22, n5, do Regulamento CE n 44/2201 de 22.12.2000, e art.

    16, n5, da Conveno de Bruxelas), isto , do Estado (ou Estados) em cujo territrio

    se situem os bens a apreender e em que, consequentemente, tero lugar os actos

    executivos propriamente ditos12

    .

    No Cdigo de Processo Civil, consta uma nica norma a atribuir expressamente

    competncia internacional aos tribunais portugueses, em sede de aco executiva, e

    respeitante s execues sobre imveis situados em territrio portugus al. b), do art.

    65-A (na redaco introduzida pela Lei n 52/2008, de 28 de Agosto).

    De qualquer modo, e face s inmeras interpretaes que tm vindo a ser dadas

    pela jurisprudncia e doutrina quanto aplicao, ou no, aco executiva dos

    critrios estabelecidos no art. 65, e pensados claramente para a aco declarativa,

    sugere-se que o agente de execuo remeta o processo ao juiz sempre que se verifique

    algum elemento de conexo com jurisdies de outros Estados:

    o ttulo executivo seja uma sentena proferida noutro Estado ou um ttulo

    extrajudicial emitido noutro Estado;

    os bens mveis ou imveis no se encontrarem em territrio portugus;

    o executado no tiver residncia em territrio portugus,

    (independentemente de se tratar de execuo para pagamento de quantia certa,

    para entrega de coisa certa ou para prestao de facto).

    1.1.2. Competncia em razo da matria.

    So da competncia dos tribunais judiciais, as causas que no sejam atribudas a

    outra ordem jurisdicional (art. 66).

    Os tribunais judiciais so tambm competentes para executar as decises

    proferidas por outros rgos jurisdicionais carecidos de competncia executiva:

    12

    Cfr., neste sentido, Jos Lebre de Freitas, A Aco Executiva, depois da Reforma da Reforma, 5 ed., pag. 116.

  • 19

    - decises proferidas por julgados de paz (art. 6 da Lei 78/2001, de 13.07);

    - decises proferidas por tribunais arbitrais (art. 30 da Lei n 31/86, Lei da

    Arbitragem Voluntria);

    Com competncia exclusiva para a execuo das suas decises, temos a

    jurisdio fiscal e a jurisdio da segurana social e os tribunais de jurisdio

    administrativa e fiscal (al. n), do n1, do art. 4, do ETAF, e 157, ns. 1 e 2, do CPTA).

    Os juzos de competncia especializada sero, mesmo nas circunscries

    abrangidas pela competncia dos juzos de execuo, em regra, competentes para

    executar as respectivas decises (art. 126, ns. 1 e 2, e 134 da LOFTJ), bem como para

    as execues por dvidas de custas e multas por si aplicadas: - juzos de famlia e

    menores, juzos de trabalho, juzos criminais.

    1.1.3. Competncia em razo da hierarquia.

    Em sede executiva, apenas os tribunais de primeira instncia tm competncia

    executiva (art. 90 a 95).

    1.2. Falta de personalidade judiciria, ou incapaz no devidamente

    representado.

    Exemplos:

    Comisses de Coordenao e Desenvolvimento Regional, que, sendo organismos perifricos da

    administrao directa do Estado, no tm personalidade jurdica;

    execuo instaurada contra menor ou incapaz, sem que seja chamado execuo o seu

    representante (pais ou tutor).

    1.3. Ilegitimidade de alguma das partes;

    Ocorrer ilegitimidade do exequente, quando a execuo movida por quem no

    figura no ttulo como credor ex., execuo instaurada por uma instituio de crdito

    que no coincide com a entidade muturia (ilegitimidade activa), sem que invoque e

    junte documento comprovativo de eventual cesso de crditos.

    Ocorrer ilegitimidade do executado, no caso de execuo instaurada contra

    quem no figura no ttulo como devedor ex.: execuo movida tambm contra o

    cnjuge, quando este no conste como devedor no contrato e o exequente no requeira a

  • 20

    sua citao para declarar que aceita a comunicabilidade da dvida, ao abrigo do disposto

    no n2 do art. 825; ou, execuo com base num cheque emitido de uma conta com dois

    titulares, instaurada contra o co-titular que no emitiu ou assinou o cheque.

    Na execuo contra os herdeiros da pessoa que figure no ttulo como sucessor,

    deve o exequente, no requerimento executivo, deduzir os factos constitutivos da

    sucesso, sem necessidade de oferecer prova desses factos, prova que s se impor se o

    executado vier a invocar a sua ilegitimidade13

    .

    J no caso de ocorrer sucesso no direito por parte da pessoa que no ttulo figure

    como credor, ter o exequente no s de alegar a causa da sucesso (mortis causa ou

    entre vivos), mas igualmente de juntar prova da mesma (escritura de habilitao de

    herdeiros ou de documento que comprove a cesso do crdito ou do direito).

    1.4. Falta de constituio de advogado, sendo o patrocnio obrigatrio.

    No confundir a falta de constituio de advogado com a situao mais

    frequente em que o requerimento executivo subscrito por advogado, mas por mero

    lapso, ou outro motivo, no junta procurao aos autos, caso em que, o A.E., dever,

    ele prprio convidar o advogado a proceder juno da procurao em falta no prazo de

    10 dias, remetendo o processo ao juiz unicamente no caso de tal falta no se encontrar

    sanada decorrido tal prazo.

    1.5. Cumulao ilegal e coligao ilegal de exequentes ou de executados.

    Para a cumulao e coligao serem admissveis, todos os pedidos devem

    encontrar-se sujeitos mesma forma de processo executivo (para pagamento de quantia

    certa, entrega de coisa certa ou execuo para prestao de facto).

    Tratando-se de coligao passiva, necessrio que a execuo tenha por base o

    mesmo ttulo.

    Quanto cumulao sucessiva, prevista no art. 54, no se encontrar,

    actualmente sujeita a despacho liminar, devendo o agente de execuo remeter o

    processo a despacho unicamente no caso de tal cumulao lhe suscitar dvidas quanto

    13

    Cfr., neste sentido, Fernando Amncio Ferreira, Curso de Processo de Execuo, 11 ed., pag. 80.

  • 21

    sua admissibilidade, ao abrigo das disposies conjugadas dos arts. 812-D, al. f) e

    812-E, n1, al. b).

    3. Ainda que o processo haja de ser remetido para despacho liminar por virtude

    da natureza do ttulo (ex., acta de condomnio), se o agente de execuo se apercebeu da

    existncia de qualquer excepo dilatria de conhecimento oficioso, dever remeter o

    processo ao juiz com a informao de que o mesmo remetido no s por fora da al. c)

    do art. 812-C, como ainda por lhe suscitarem dvidas quanto competncia do

    tribunal, ou quanto ilegitimidade de uma das partes, ou seja, com base na al. f), do art.

    812-C.

    S aps chegar concluso que no caso de recusa nem de remessa do

    processo para despacho liminar, o agente de execuo apreciar se de proceder de

    imediato penhora ou se de efectuar a citao prvia do executado (arts. 812-C e n2

    do art. 812-F).

    Maria Joo Areias

    (Juza do 2 Juzo Cvel de Coimbra)