fascículo 5 - a história da justiça no brasil (1500 a 1889) - uane

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Gustavo Feitosa A HISTóRIA DA JUSTIçA NO BRASIL (1500 A 1889) Esta publicação não pode ser comercializada. GRATUITO UNIVERSIDADE ABERTA DO NORDESTE - ensino a distância ® Este fascículo é parte integrante do Curso Cidadania Judiciária - Fundação Demócrito Rocha I Universidade Aberta do Nordeste I ISBN 978-85-7529-612-7 5

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Gustavo Feitosa

a história da justiça no brasil (1500 a 1889)

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OBJETIVOS Conhecer os principais aspectos relacionados ao nascimento das instituições da Justiça durante o período colonial e imperial brasileiro. Compreender as funções desempenhadas pela Justiça no contexto dos séculos XVI ao XIX. Refl etir sobre alguns aspectos da atuação da Justiça no passado que geraram refl exos no século XX e nos problemas enfrentados atualmente.

SUMÁRIO1. Introdução........................................................................................................................672. Império português e a importância dos magistrados ....................................673. Bacharéis no Brasil independente ..........................................................................724. A magistratura brasileira no século XIX ................................................................755. Reforma do Judiciário e a transição para o trabalho livre .............................77Síntese do fascículo ............................................................................................................79Referências .............................................................................................................................79Sobre o autor .........................................................................................................................79

CURSO CIDADANIA JUDICIÁRIA 67

1.INTRODUÇÃOAo pensarmos sobre os problemas bra-sileiros e estudarmos a história do país sentimos, com frequência, uma sensação de que os eventos se repetem, os vícios se mantêm e poucas coisas parecem mudar. como explicar esta sensação? Por que é tão frequente encontrarmos nos relatos e estudos históricos seme-lhanças com os desafi os enfrentados por nós ainda hoje? Ou ainda, por que é tão difícil mudar e renovar as práticas institu-cionais na realidade brasileira?

Neste fascículo, pretendemos re-fl etir sobre alguns aspectos das raízes do modelo de Justiça adotado pelo Brasil e sobre as continuidades e rup-turas que marcaram o longo percurso de formação do Judiciário nacional e de suas práticas até a passagem para a República. Não se trata de atribuir às fórmulas do passado ou a uma suposta herança lusitana os erros do presente. A ideia é provocar uma refl exão sobre a nossa capacidade de identifi car os erros que prejudicaram a construção da nossa Justiça e de renovar as prá-ticas de nossas instituições. Para isso, mostra-se importante conhecer um pouco mais sobre como nasceu e fun-cionou o Judiciário do período colonial e ao longo do Império brasileiro.

2.IMPÉRIO PORTUGUÊS E A IMPORTÂNCIA DOS MAGISTRADOSPortugal, um pequeno país situado no ex-tremo oeste da Europa, por muito tempo foi um dos mais poderosos Impérios do mundo. com um território reduzido, pou-cos recursos naturais e uma população diminuta, conseguiu a enorme proeza de dominar, colonizar e moldar o futuro de vastas regiões da áfrica e das Américas. Esta constatação tem como objetivo cha-mar a atenção para a necessidade com-preender a forma de organização do Es-tado português e suas relações com suas colônias, como parte da análise sobre o desenvolvimento da Justiça no Brasil.

muito antes da maior parte dos países europeus, Portugal, no fi nal do século XIII, conseguiu unifi car seu terri-tório, estabelecer um governo relativa-mente forte e lançar as condições para o desenvolvimento, nos séculos seguin-tes, das grandes navegações1 e do comércio. A partir do século XV, o país tornou-se o centro de um intenso co-mércio marítimo que veio acompanha-do de apoio e investimento para novas

1 As grandes navegações são consideradas por alguns historiadores, o primeiro grande processo de globalização econômica e cultural. As trocas comerciais e a descoberta de novas espécies de animais e de vegetais provocaram profundas modifi cações no mundo eurocêntrico de então.

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explorações, aprimoramento de técni-cas de construção naval e acumulação de conhecimento sobre navegação e elaboração de mapas.

Enquanto as rotas comerciais para a ásia continuavam dominadas por ára-bes, piratas, comerciantes venezianos, entre outros, Portugal avançava rapida-mente em sua exploração pela costa da áfrica. A cada nova etapa, estabeleciam--se entrepostos comerciais, fortes, fei-torias e pactos com os governos locais. Nascia aos poucos o grande Império marítimo português que, de modo iné-dito, marcará presença desde o Japão, passando pelo china, ilhas do Oceano Índico, áfrica até a América do Sul.

A capacidade de conservar esses domínios exigiu que o país desenvol-vesse um sistema complexo que articu-lasse o controle do comércio, a presen-ça armada e a manutenção do poder político. Neste cenário, a monarquia portuguesa precisou estabelecer uma longa rede de representação dos inte-resses reais sobre a qual se amparavam as estruturas do comércio ultramarino.

O monopólio do comércio consis-tia na espinha dorsal de prosperidade nacional e sua preservação envolveu a criação de uma elite burocrática vin-culada aos interesses econômicos da própria coroa. Também neste aspecto, Portugal se diferenciava de outras na-ções europeias como a Inglaterra, pois de maneira prematura, iniciou o esta-belecimento de um Estado ordenado e mantido por uma estrutura legal uni-forme e sob o comando de um corpo profi ssional de servidores reais.

Aos poucos, formou-se em Portu-gal uma espécie de classe intermediá-ria composta de ocupantes de funções públicas que não possuíam vínculos diretos com a nobreza de sangue. Essa rede de representantes do Rei formou uma poderosa estrutura de controle do vasto Império português, mas, ao mesmo tempo, também se consolidou

como um grupo importante na dinâmi-ca de poder, rivalizando com nobres e mediando a expressão das vontades do Rei em seu Império. O poder do monar-ca sobre seus domínios dependia de múltiplos fatores externos e internos, contudo envolvia sobremaneira a sua capacidade de fazer os desejos destes seus representantes se entrelaçarem com os desejos reais e do Estado.

No centro deste sistema, situavam--se os bacharéis em Direito, formados em Portugal, ocupantes dos cargos da ma-gistratura. O caminho natural para quem não contasse com títulos de nobreza e almejasse ocupar funções importantes do Estado, consistia na busca de um tí-tulo universitário. Dos bancos da univer-sidade de Coimbra2, vinha praticamen-te toda a elite burocrática portuguesa. Dessa forma, mantinha-se um modelo de formação que assegurava unidade ideológica para este grupo. Os vínculos de dependência e a convergência de um projeto comum que se associavam de maneira total com a sobrevivência do Es-tado e de seus domínios eram fortaleci-dos e reafi rmados desde a Universidade, na forma de ingresso nos cargos públicos e no fl uxo dentro da carreira.

Uma das formas mais importantes de preservação do poder português so-bre seus domínios consistia no contro-le sobre suas elites. Esta medida fi cava clara quando se observa a proibição de criação de cursos superiores em suas co-lônias. Enquanto em regiões controladas pela espanha, desde o século xVi3, já tinham sido criadas as primeiras universi-dades, nas áreas sob governo português mantinha-se forte vigilância sobre o aces-so ao estudo nas universidades. Quem desejasse avançar na educação superior, deveria seguir para a metrópole ou para outro país estrangeiro. A vedação apre-sentava um caráter estratégico e visava evitar o rompimento dos laços políticos entre as elites situadas nas colônias e a metrópole portuguesa.

2 A maioria da elite letrada brasileira, até meados do século XIX estudou na Universidade de Coimbra. A

universidade nasceu em Lisboa em 1290, foi transferida para Coimbra

em 1308, retornou a Lisboa em 1384 e, fi nalmente, voltou a Coimbra em 1537. Em boa parte de sua história, foi gerida por religiosos, mas sofreu diversas reformas no seu modelo de ensino ao longo da trajetória

do Império português. Sua história está intimamente ligada às grandes transformações políticas de Portugal. A importância deste percurso pode ser vista na preocupação dos reis em garantir o controle sobre a

universidade. (CARVALHO, 2003)

3 Em 1551, foram fundadas universidades no Peru e no México.

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Ao mesmo tempo, verifi cava-se uma forte infl uência dos juristas no de-senho das instituições estatais portu-guesas. Armas, comércio e leis imbri-cavam-se para dar forma e consistência ao Império (FAORO, 1984). Esta infl uên-cia pode ser percebida na opção clara pela formação jurídica na universidade e pelo relevo alcançado pelos magistra-dos na gestão dos negócios da coroa.

A administração colonial implicava na tarefa de distribuir cargos públicos, funções, benefícios e poderes em vastos territórios. Tratava-se de um processo complexo, pouco claro e dependente do contexto específi co das regiões. Não havia precisão sobre competências e atribuições, com uma frequente sobre-posição de funções e várias delegações aos representantes do poder real para compor os quadros necessários à preser-vação do poder. Nem mesmo se poderia falar da chamada separação de poderes, que distinguiria funções executivas das funções judiciais (RIcUPERO, 2009).

Em meio ao conjunto de funções, destacavam-se os magistrados, como funcionários letrados representando os interesses da coroa em seus domínios coloniais. A carreira de um juiz durante o período colonial começava com uma candidatura no tribunal chamado de desembargo do paço4, em Portugal. Para ser aceito, o candidato não se sub-metia a um concurso em que se avalia-vam apenas conhecimentos em direito. O Desembargo do Paço determinava uma investigação completa sobre a vida do candidato, a fi m de avaliar sua repu-tação, relações familiares, origem, leal-dade ao rei e orientação religiosa.

Uma das principais preocupações consistia em “estabelecer a ‘pureza de sangue’ do candidato, certifi cando-se que nem ele nem seus antepassados eram maculados com sangue ‘mouro, mulato, judeu ou outra raça infecta’” (SchWARTZ, 2011, p. 80). Somente após aprovação nesta investigação, seguia-se

Para RefletirVocê considera que este modelo português de administrar a colônia ainda repercute nas instituições bra-sileiras da atualidade?

para a fase de “leitura” em que se aferia o conhecimento jurídico. Revelava-se es-sencial a lealdade ao Rei e a convicção de que o jovem magistrado compreen-deria como atuar dentro do sistema de domínio colonial português.

Nesse processo de aceitação, a in-dicação pessoal, o favorecimento de parentes ou o fato de ser fi lho de um desembargador não eram escondidos, pelo contrário. As relações de paren-tesco eram parte importante da escolha para cargos e para promoções. Após longos anos de trabalho dedicado ao Rei e de conquista da confi ança, espera-va-se que este esforço fosse reconheci-do com a retribuição a um fi lho, familiar ou protegido. O Desembargo do Paço guarda relativa autonomia nas suas de-cisões, contudo se inseria num sistema amplo e complexo, do qual esta insti-tuição era uma das principais guardiãs. Segundo Rodrigo Ricúpero (2009), a dis-tribuição de “honras e mercês” era um instrumento importante utilizado pelo Rei para realizar seus projetos e apresen-tou relevante papel na modelagem da sociedade nas colônias.

Apesar da ideia de burocracia5 pro-fi ssional remeter aos conceitos de mérito e de competência técnica, não se pode afi rmar que estes prevalecessem na es-colha dos servidores da coroa real. Uma relação confusa se estabelecia entre in-teresses públicos e interesses privados. Não apenas de remuneração ou gastos diretos do Estado e de funções públicas organizadas racionalmente por leis se fa-ziam as ações estatais.

com recursos limitados e vastas regiões para controlar, o Império por-tuguês precisava manejar o desejo de honra e status e os estímulos para que os indivíduos investissem seus próprios capitais no empreendimento coloniza-dor. As honrarias e os benefícios com maior potencial de lucro para os par-ticulares eram distribuídos desde que assegurada a conservação dos vínculos

4 O Desembargo do Paço foi um dos mais importantes tribunais do período colonial. Nasceu como assembleia consultiva do rei D. João II de Portugal (1455-1495), porém ganhou maior autonomia institucional e crescente importância ao longo do século XVI. Em 1833 foi extinto.

5 O termo burocracia é muito utilizado no senso comum para designar as difi culdades legais e documentais enfrentadas pelas pessoas que procuram alguma tipo de serviço público. Não obstante, os estudiosos do Estado utilizam a expressão burocracia para designar um classe especial de profi ssionais dotados de conhecimentos técnicos e que atuam dentro de um carreira pública.

com a coroa e a reserva da parte dos ganhos a que fazia jus a fazenda real (RIcUPERO, 2009).

O grupo mais próximo de um sen-tido de elite burocrática no período co-lonial era composto pelos magistrados. A origem universitária representava um dos aspectos mais importantes nesta distinção. A formação unifi cada em uma única instituição oferecia uma experiên-cia de convivência com outros jovens da elite letrada. Pessoas de várias regi-ões do país interagiam num ambiente formal e regrado, com conhecimentos e discussões controladas, aprendendo a se comportar e agir naquela rede de relações e interesses que se projetaria para toda a vida profi ssional.

Não se tratava verdadeiramente de oferecer o melhor ensino para as ativida-des profi ssionais, mas de garantir uma maior coesão ideológica, uma fi ltragem e acompanhamento de comportamen-tos. Da Universidade de coimbra, sai-riam os principais quadros de destaque da administração colonial portuguesa, num virtual monopólio das letras que se projetaria, posteriormente, para o Brasil na primeira metade do século XIX.

Outros elementos, contudo, vão se somando na coesão e identifi cação desse grupo. A história da construção do Império Português foi marcada pela forte presença de uma elite burocráti-ca responsável por gerir grande parte dos negócios nas colônias. Esta eli-te formou-se ao poucos com pessoas que, na sua maioria, não gozavam dos privilégios e do status na nobreza de sangue. Sua força e poder advinha da capacidade de moldar a feição do Es-tado, de criar e aplicar normas, de arre-cadar tributos e de ocupar funções com grande impacto sobre os rendimentos privados e da coroa. A prosperidade e a importância do empreendimento co-lonizador auxiliavam na prosperidade desse segmento de representantes re-ais nos vastos domínios coloniais.

O poder e a importância desta eli-te burocrática vieram acompanhados de um esforço para assegurar um sta-tus mais elevado aos seus integrantes na hierarquia social. Um dos exemplos deste processo pode ser visto na repro-dução das características da nobreza de sangue dentro do corpo de magis-trados. Na escolha dos novos juízes, os membros do Desembargo do Paço passaram a avaliar se aqueles apresen-tavam ascendentes judeus, negros ou em atividades consideradas manuais. Observe-se que, apesar de se tratar da escolha de alguém que, em tese, de-senvolveria uma atividade técnica espe-cializada (a magistratura), verifi cava-se a origem familiar do candidato para aferir a “pureza de sangue”.

A preocupação com esta “pureza” remetia a características da nobreza he-reditária, a quem se atribuía um status social superior e distinto dos demais. Pessoas com algum ascendente ou re-lação com judeus ou africanos eram considerados indignos para a função. O mesmo acontecia com qualquer tipo de trabalho considerado “manual”. O mais interessante é que mesmo o comércio era considerado uma atividade inade-quada para quem pretendia exercer a função de juiz. Assim, o fi lho de um comerciante carregaria consigo a mar-ca negativa de sua origem social. Na prática, toda forma de trabalho produ-tivo possuía status negativo e implicava numa condição social inferior.

O crescimento da importância do comércio, com o enriquecimento e o aumento do poder de pessoas ligadas a ele, levou a uma gradual fl exibilização destas restrições. criou-se uma distin-ção entre o grande e o pequeno co-merciante, de modo a autorizar os fi lhos da alta burguesia portuguesa a ocupar postos na magistratura. Um caso ocor-rido no século XVII ilustra bem ideia de “pureza de sangue dentro da magistra-tura portuguesa:

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“Afonso Rodrigues Bernardo e Sam-paio era fi lho de um médico de Alcobaça. Depois de concluir um curso de direito civil em coimbra, ele ingressou na ma-gistratura e serviu em cabo Verde como juiz itinerante. A coroa prometera recom-pensar o bom desempenho nesse posto com uma promoção para a Relação da Bahia [Tribunal da Relação]. Enquanto ele estava em Portugal aguardando a nome-ação, um inimigo alegou que a avó pa-terna de Bernardo e Sampaio tinha sido condenada pela Inquisição por seguir o judaísmo. Um inquérito foi aberto e pro-vas em apoio da acusação vieram à luz. O Desembargo do Paço aconselhou-se com a mesa da consciência. A decisão fi nal, baseada num caso anterior de 1605, foi que a lei vetava aos cristãos-novos a “leitura” para o ingresso na magistra-tura, mas não exigia que aqueles que já ocupavam cargos perdessem as suas po-sições, especialmente se tivessem cum-prido seus deveres de forma impecável. O Desembargo do Paço promoveu Ber-nardo e Sampaio para o tribunal baiano e ordenou que a questão fosse relegada a silêncio perpétuo. Pode-se argumentar que esse caso demonstra certo grau de tolerância e disposição para contornar restrições sociais. como Bernardo e Sam-paio jamais recebeu outro posto, é pro-vavelmente mais lógico supor que o De-sembargo do Paço tenha varrido o caso para debaixo do tapete, numa tentativa de manter a imagem de ortodoxia magis-trática” (SchWARTZ, 2011. p. 36).

As restrições acabavam por levar a uma forte tendência à endogenia, ou seja, os fi lhos de magistrados, de pessoas em funções públicas e bacharéis em di-reito seguiam sempre os passos de seus pais e avós. Formava-se uma espécie de hereditariedade dentro da magistratura, também de modo semelhante à nobreza.

O que hoje seria considerado ne-potismo e uma grave violação aos prin-cípios constitucionais que regem a ad-ministração pública, mostrou-se natural

durante o período colonial. a nomea-ção de um fi lho ou familiar para uma função pública representava o reco-nhecimento ou o prêmio para aque-les que mantiveram sua lealdade e respeito ao poder do r ei6. O uso des-ta “premiação” garantia à coroa portu-guesa e à elite burocrática uma forma de controle da conduta dos seus agen-tes, na medida em que se valorizavam e favoreceriam pessoas em função do seu comportamento rotineiro, especial-mente no tocante aos interesses reais em seus domínios coloniais.

Uma vez nomeado, o jovem magis-trado deveria seguir para algum ponto dos domínios coloniais portugueses na áfrica, ásia ou no Brasil. A circulação inicial nestas regiões representava par-te importante do processo de formação destes juízes. A experiência permitia compreender como funcionava a es-trutura do Império português, como li-dar com as difi culdades e com as elites locais, além de servir para demonstrar sua capacidade de agir como represen-tante do poder real. Tratava-se de uma situação complexa, cheia de riscos, ten-sões e fragilidades. Longas distâncias separavam estes domínios da Europa, as comunicações eram demoradas, ha-via poucas tropas militares de apoio e poucos recursos fi nanceiros para dar su-porte direto à colonização.

Neste cenário, a elite burocrática portuguesa conquistava uma relevan-te compreensão sobre a administração colonial ao mesmo tempo em que pro-jetava sua ascensão profi ssional e o per-curso para a prosperidade sempre com um olhar para Portugal.

O vínculo destes representantes da coroa deveria ser sempre com a me-trópole e o modelo de atuação de or-ganização da magistratura prezava por evitar a sedimentação dos juízes nas co-lônias. casamentos, propriedades e ati-vidades econômicas eram vedadas ou controladas. com um casamento, por

5 Em 2005, o Conselho Nacional de Justiça, órgão responsável pela fi scalização, planejamento e controle da Justiça no Brasil, elaborou uma resolução proibindo o nepotismo dentro do Judiciário. A chamada Resolução nº. 7 impediu que cônjuge, companheiro ou parente até terceiro grau ocupasse cargos, ainda que por intermédio de empresas terceirizadas, em qualquer função dentro do Judiciário. O ingresso de um familiar de magistrado em função pública na Justiça deveria ocorrer somente por concurso. A decisão levou a grande polêmica e a muitos questionamentos nos tribunais, mas acabou se consolidando e transformando em modelo para a administração pública.

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exemplo, o magistrado poderia acabar criando vínculos com as elites locais o que difi cultaria sua transferência, ge-raria riscos para a manutenção da leal-dade com a coroa e poderia, em longo prazo, fomentar a separação.

Essa estratégia, contudo, fi cava sempre à prova. No Brasil, houve muitos casos de magistrados que encontravam nos casamentos uma oportunidade de conquistar mais riqueza e prestígio. Ao desposar a fi lha de um rico proprietário de terra, formava-se uma aliança vanta-josa para os dois lados. Para o funcio-nário da coroa, abriam-se possibilidade de conquistar bens e rendas. Para o proprietário de terra, criava-se uma re-lação de proximidade e favorecimento com o Estado, fundamental dentro da maneira como se organizava a econo-mia portuguesa.

Não havia na atuação do Estado por-tuguês clara separação entre negócios públicos e privados. Todas as atividades econômicas estavam sujeitas a eventuais intervenções da coroa, em particular se elas se mostrassem com potencial de rendimentos elevados e constantes.

Um magistrado devia cuidar para que os interesses reais fossem assegura-dos sem instabilidades e maiores confl i-tos. Uma atuação cautelosa e diligente assegurava aos diversos representantes da coroa a conquista de posições mais destacadas e o reconhecimento real com novas nomeações e títulos. Não se tratava de simplesmente aplicar a lei ou manter a ordem, mas de transitar de maneira prudente entre a defesa dos in-teresses reais, as difi culdades e deman-das das populações e elites locais e as necessidades da própria carreira do juiz.

Nesse cenário, o Brasil acabava se tornando um local atrativo para os juízes, pois oferecia grandes possibilidades de

conquista de riqueza e um ambiente mais favorável para conduzir a carreira. Em vários casos, os magistrados acabavam criando vínculos locais, por meio do ca-samento e da aquisição de propriedade, o que retardava o retorno a Portugal. Não se tratava de algo desejado pela coroa, mas que era tolerado pela corte na medi-da em que não prejudicava os interesses da metrópole (SchWARTZ, 2011).

Outra faceta importante da presen-ça destes magistrados no Brasil, diz res-peito à sua condição de bacharel. A qua-se totalidade da população no período colonial e mesmo após a independência não era alfabetizada. Num universo mui-to pequeno de letrados, os bacharéis formavam uma elite ainda menor de pessoas com formação superior.

Os magistrados surgiam, assim, como uma minúscula ilha de letrados num mar de analfabetos (cARVALhO, 2003). Não por acaso, tinham um papel de enorme importância, especialmen-te no funcionamento e estruturação de todas as funções estatais. Ao status de representante do rei e de magistrado, juntava-se o status de homem de letras, portador de um saber “superior” e es-pecial acessível a poucos.

Essa condição especial se manteria ao longo dos anos e mostrou-se de gran-de relevância após a Independência.

Para RefletirUma das características importantes do Estado durante o período colonial consiste na difi culdade em separar as necessidades públicas dos interesses privados. Será que ainda podemos observar indícios desta característica em alguns momentos da vida institu-cional e política brasileira?

3.BACHARÉIS NO BRASIL INDEPENDENTEO processo de independência brasileira apresentou características diferentes da maioria dos países das Américas. mantive-mos a presença da família real portugue-sa, adotamos a monarquia constitucional e conservamos as estruturas institucionais trazidas do período colonial.

Para a Justiça, isso implicou na con-servação de um grande número de ma-gistrados, que se mantiveram nos seus postos mesmo após a ruptura com Por-tugal. De maneira sui generis, iniciamos a construção de um país independente utilizando os mesmos juízes, autorida-des, funcionários e muitas das estruturas que antes serviam para conservar o po-der da metrópole sobre a colônia.

Ao nos tornarmos livres, passamos a enfrentar o desafi o de construir um país e assegurar a integridade territorial nos limites alcançados durante o período colonial. Uma das maiores difi culdades advinha exatamente dessa grande di-mensão territorial e da diversidade de grupos, características e projetos pre-sentes nas diversas regiões do recém--criado Brasil. Nos antigos territórios dominados pelos espanhóis, o processo de independência levou a intensa frag-mentação, com a geração de diversos pequenos e médios países que hoje ob-servamos no mapa do continente ame-ricano desde o méxico até a Argentina.

A conservação desse território que vemos hoje sempre foi vista como um fe-nômeno importante na história brasileira.

Para José murilo de carvalho (2003), uma parte do sucesso desse processo se deve às características desta elite burocrática que cuidava dos negócios da coroa no Brasil. Para o autor, a presença de um grupo relativamente homogêneo, for-mado na mesma instituição de ensino, ligado à mesma carreira, com um mesmo conjunto de interesses associados e for-temente dependente do Estado acabava por favorecer a luta pela manutenção das estruturas que se mostravam essenciais para a sobrevivência do seu próprio po-der, riqueza e modo de vida.

Portugal havia conseguido distribuir estes bacharéis e magistrados nos princi-pais pontos de poder e riqueza do terri-tório brasileiro e, estes servidores reais se inseriram de maneira muito fi rme no jogo de relações sociais, econômicas e políti-cas de cada região. A criação de um novo país com a Independência não represen-tava a verdadeira realização de um proje-to nacional revolucionário e novo.

Ao mesmo tempo, os magistrados formavam um pequeno grupo de pes-soas com as melhores qualifi cações e formação para pensar, planejar e, em grande medida, gerir o país. A forma-ção universitária, a circulação sobre os domínios portugueses, o conhecimento sobre o funcionamento da máquina bu-rocrática mostravam-se fundamentais no instável ambiente de afi rmação do Brasil como país livre.

Percebe-se, assim, a importância dos magistrados na construção das primeiras instituições nacionais realmente brasi-leiras. E curiosamente, as primeiras insti-tuições nacionais eram fruto da herança, com poucas adaptações, do modelo e do quadro administrativo colonial. conserva-mos na construção do novo Estado brasi-leiro o papel de protagonista dos bacha-réis em direito que era exercido também na nossa antiga metrópole.

A relevância dos bacharéis se mos-tra muito clara nos primeiros anos da nossa monarquia. Em 1823, nos deba-

tes para a criação da constituição, já se discutia com intensidade a necessidade de criação de uma universidade e da for-mação jurídica realizada no Brasil. Ape-sar do insucesso das proposições iniciais apresentadas, em 1827 promulgou-se a lei que estabeleceu a criação de um cur-so de direito em São Paulo e outro em Olinda. Diversos grupos buscaram de-fender as vantagens das suas respectivas províncias como local ideal para a fi xa-ção dos cursos, tais como minas Gerais, Bahia e Paraíba.

Observe-se que a localização es-colhida favorecia um maior acesso dos jovens estudantes oriundos da par-te norte do país rumo a olinda e da parte sul do país rumo a são paulo7. Tratava-se de uma opção estratégica para o país, essencial para a criação de uma elite nacional e para a composi-ção dos novos quadros responsáveis para manutenção e reprodução do po-der. Seguia-se o padrão português de formação centralizada das elites, com disciplinas, professores e avaliações defi nidos direta ou indiretamente pelo Imperador, Dom Pedro I.

Não se tratava apenas de criar um curso, mas de defi nir a forma como seriam preparados os jovens respon-sáveis pela construção do país. Na Lei, defi niam-se as cadeiras as serem estu-dadas, a organização básica das facul-dades, previsão de remuneração dos professores, entre outros aspectos. Esta preocupação em tratar em Lei sancio-nada pelo Imperador e aprovada pelos legisladores sobre como funcionaria o curso e as matérias de estudo indica bem o status e a importância do tema no contexto da Independência.

Não obstante, os problemas para o funcionamento dos cursos logo se tor-naram evidentes. Os recursos fi nancei-ros disponíveis eram parcos e os cursos precisaram se servir dos prédios de mos-teiros para iniciar suas atividades. Poucas pessoas possuíam formação superior

7 As duas faculdades iniciaram suas atividades em prédios cedidos pela Igreja Católica. Em São Paulo, o curso foi instalado no mosteiro de São Francisco. Até hoje a faculdade é conhecida como Faculdade de Direito do Largo de São Francisco. Atualmente faz parte da Universidade de São Paulo (USP). Em Olinda, o curso instalou-se no mosteiro de São Bento, contudo foi transferido para outros prédios, até se fi xar em Recife em 1852. Atualmente a faculdade é conhecida como Faculdade de Direito da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), instituição a qual se vincula.Tratava-se de uma opção estratégica

para o país, essencial para a criação de uma elite nacional e para a composi-ção dos novos quadros responsáveis para manutenção e reprodução do po-der. Seguia-se o padrão português de formação centralizada das elites, com disciplinas, professores e avaliações defi nidos direta ou indiretamente pelo

Não se tratava apenas de criar um curso, mas de defi nir a forma como seriam preparados os jovens respon-sáveis pela construção do país. Na Lei, defi niam-se as cadeiras as serem estu-dadas, a organização básica das facul-dades, previsão de remuneração dos professores, entre outros aspectos. Esta preocupação em tratar em Lei sancio-nada pelo Imperador e aprovada pelos legisladores sobre como funcionaria o curso e as matérias de estudo indica

e a importância do tema no contexto da Independência.

Não obstante, os problemas para o funcionamento dos cursos logo se tor-naram evidentes. Os recursos fi nancei-ros disponíveis eram parcos e os cursos precisaram se servir dos prédios de mos-teiros para iniciar suas atividades. Poucas pessoas possuíam formação superior

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74 FUNDAÇÃO DEMÓCRITO ROCHA | UNIVERSIDADE ABERTA DO NORDESTE

e um número ainda menor poderia ou gostaria de se dedicar à vida docente. Os cursos superiores no Brasil nasciam, assim, num cenário de fragilidades, com professores despreparados, prédios pre-cários e alunos, em sua maioria, com de-fi ciências na sua educação.

A situação não mudaria muito ao longo do século XIX. A precariedade dos prédios se tornava tão evidente, que ao concluir uma visita à Faculdade de Direito de São Paulo, Dom Pedro II recomendou que não se deixasse qual-quer estrangeiro visitar suas instalações (VENÂNcIO FILhO, 1982). A situação do prédio prejudicaria muito a imagem do país. O Imperador sabia que a Faculda-de simbolizava o projeto de afi rmação do país como uma nação dotada de uma elite “civilizada”, letrada e culta, apta a almejar uma condição de igualdade com outros países no plano internacional. Nada mais distante da realidade, seja pelas condições sociais e econômicas do Brasil, seja pelas condições de funciona-mento dos seus cursos superiores.

Na área da docência, também se verifi cavam muitos problemas. A ausên-cia de quadros aptos a lecionar, a falta de uma tradição de ensino e estudo, a remuneração pouco atraente, entre ou-tros fatores, associava-se para consoli-dar uma experiência de formação frágil e desinteressante. Prevaleciam, no ensi-no do século XIX, as aulas ministradas na forma de leitura de livros ou anotações. Poucos professores realmente prepara-vam aulas, revelavam profundidade no conhecimento de suas áreas de estudo e muitos nem sequer ministravam aulas de fato. Os alunos da época relatavam uma experiência intelectual pouco esti-mulante e uma rotina em que prevalecia a reprodução de velhas fórmulas jurídi-cas e um ensino medíocre (VENÂNcIO FILhO, 1982).

mas se o ambiente das faculdades oferecia uma formação repleta das fa-lhas, qual a verdadeira importância do

SAIBA MAIS

lei de 11 de agosto de 1827. Criação dos primeiros cursos de direito do brasil

“crêa dous cursos de sciencias juridicas e sociaes, um na cidade de S. Paulo e outro na de Olinda.

Dom Pedro Primeiro, por graça de Deus e unanime acclamação dos povos, Im-perador constitucional e Defensor Perpetuo do Brazil: Fazemos saber a todos os nossos subditos que a Assembléa Geral decretou, e nós queremos a Lei seguinte:

art. 1º crear-se-hão dous cursos de sciencias juridicas, e sociaes, um na cidade de S. Paulo, e outro na de Olinda, e nelles no espaço de cinco annos, e em nove cadeiras, se ensinarão as materias seguintes: [...]”

curso de Direito? Em que consistia a formação ministrada aos jovens da elite brasileira?

A principal marca da formação ocorrida ao longo dos cinco anos de faculdade consistia num conjunto de experiências principalmente fora da sala de aula. A primeira etapa consistia na seleção. Logo no ingresso, havia a prática comum de apresentar cartas de recomendação e indicações de pessoas importantes e infl uentes para a direção da Faculdade. Nos anos seguintes, os alunos envolviam-se em intensa movi-mentação fora de sala de aula, com gru-pos literários, jornais, discussões sobre autores estrangeiros, festividades, entre outras atividades.

muitas das habilidades e do conhe-cimento necessário ao sucesso na vida política e social brasileira dependiam da formação de relações com uma rede de jovens da elite nacional, do apren-dizado do complexo jogo de trocas e favorecimento, do desenvolvimento de habilidades retóricas e da assimilação de algum conhecimento sobre poesia, literatura, economia, fi losofi a e política nascido dos debates, jornais e grupos de estudantes (ABREU, 1988).

Esta experiência dava ao jovem uma espécie de verniz culto que lhe permitia circular com maior destaque

Para RefletirNo Brasil, as forças armadas também se caracterizavam como instituições de grande coesão interna e orga-nização. Basta observar que foram elas as principais responsáveis pela proclamação da República, e por outros movimentos políticos que aconteceram ao longo do século XX. Um dos mais emblemáticos e signifi cativos desses movimentos foi a coluna Prestes, que na década de 1920 percorreu grande parte do terri-tório brasileiro. Você sabe o que foi a coluna Prestes? Pesquise e explique sua importância para as décadas subsequentes.

nos salões da elite brasileira, expressar--se de maneira diferenciada e compre-ender melhor as questões brasileiras num contexto nacional e internacional. Ao mesmo tempo, criava-se uma maior unidade e homogeneidade interna na elite, com ênfase para aqueles jovens que deveriam gerir as mais importantes instituições políticas nacionais.

Um rico fazendeiro do norte do país, por exemplo, enviava seu fi lho para a fa-culdade de Direito, e este ingressava no

CURSO CIDADANIA JUDICIÁRIA 75

serviço do Estado, passando a circular no território nacional. criava-se, desta forma, uma força de ligação que aproxi-mava interesses de setores produtivos e grupos políticos dispersos, com um Es-tado nacional ainda frágil e carente de recursos para estabelecer com efi cácia seus braços em todos os cantos do país.

4.A MAGISTRATURA BRASILEIRA NO SÉCULO XIXAo concluir os estudos, o bacharel pas-sava a almejar uma função pública e uma das mais desejadas era a de juiz. Para ingressar na magistratura, o jovem apre-sentava sua candidatura ao ministro da Justiça e aguardava sua avaliação. Neste processo, havia uma forte movimenta-ção de pedidos e recomendações que afi ançavam a qualidade e confi abilidade do candidato à magistratura. Uma vez aceito, o jovem juiz poderia ser designa-do para qualquer ponto do país em que houvesse uma comarca estabelecida.

O Judiciário era nacional e não dividido em estados, o que somente ocorreria após a Proclamação da Re-pública, em 1889. Reproduzia-se, de certo modo, um modelo parecido com aquele mantido por Portugal ao longo do período colonial. A circulação no ter-ritório e a passagem por vários cargos contribuíam para a visão mais clara das diferenças regionais, da extensão do território nacional e para o aprendizado sobre o funcionamento da máquina bu-rocrática brasileira.

com o curso de Direito e o trânsito pelo país ao longo da carreira, diluíam--se as identidades regionais e locais que o jovem juiz trazia consigo. Este proces-

so mantinha e renovava a tendência de busca pela unidade nacional e pela pre-servação do Estado nos moldes como eles se organizaram desde o período colonial e após a Independência.

Nos primeiros anos de atividade, os juízes seguiam para regiões mais distantes do Rio do Janeiro, sede do governo imperial. Num país de gran-des dimensões e precárias condições de transporte interno, o deslocamen-to até as regiões mais distantes como o Rio Grande do Sul ou o Pará ocorria ao longo de muitos dias e implicava em grandes difi culdades.

O melhor caminho para o sucesso profi ssional e para rápida ascensão do magistrado consistia em estabelecer boas relações com os grupos políticos locais, conquistar o apóio para poder se candidatar a uma vaga de deputado e conseguir retornar ao Rio de Janeiro, para exercício do mandato político. Pare-ce estranho para nós hoje, mas os juízes no século XIX participavam do processo político como candidatos, possuíam vín-culos com partidos e grupos políticos e dominavam o parlamento brasileiro. Ser juiz era, na verdade, o primeiro degrau de uma promissora sucessão de cargos, políticos ou não, no Estado brasileiro.

Até 1870, bacharéis, advogados e magistrados ocupavam a maioria dos mais importantes cargos da monarquia brasileira, como ministros, senado-res, deputados, dentre outras funções (cARVALhO, 2003). Perceba-se aí a re-levância dos magistrados e bacharéis para a construção, funcionamento e manutenção do Estado no Brasil. Sem exagero, podemos afi rmar que este segmento da elite brasileira foi o princi-pal responsável pelo desenho dado às instituições nacionais.

Podemos perguntar então, como é possível conciliar a atividade de juiz com a atuação política? como julgar, aplicar a lei e fazer justiça se o magistrado manti-nha fortes vínculos políticos com grupos

poderosos e ainda dependia de favores e apoios para crescer na carreira?

Para responder esta pergunta de-vemos nos afastar das nossas expecta-tivas atuais sobre a função do Judiciário e sobre como deve ser a postura de um juiz hoje. Precisamos conhecer melhor o papel e a prática do Judiciário na vida cotidiana dos brasileiros do século XIX.

O primeiro ponto a ser repensa-do diz respeito à chamada teoria da separação de poderes. A constituição brasileira de 1824 previa um sistema de separação em quatro poderes, o que incluía o Judiciário. Não obstante, o de-senho das instituições sobrepunha fun-ções, colocava a Justiça sob o controle do ministério da Justiça e do Imperador e misturava atribuições judiciais com atividades policiais.

Desde o ingresso, o juiz dependia do ministro da Justiça para nomeação e ocupação de um posto em locais mais promissores profi ssionalmente. Nos anos seguintes, a conquista de postos de maior importância e as nomeações para cargos de destaque continuavam dependendo do ministério. O juiz deve-ria comprovar a habilidade de lidar com os grupos políticos locais de modo a conciliar os interesses do governo cen-tral e das forças regionais. Tratava-se de um complexo e cuidadoso jogo em que

Para RefletirO curso de Direito teve um papel central na formação da elite nacional responsável pela construção e ma-nutenção das instituições do Brasil, após a Independência. O curso de Direito assegurava ao bacharel um elevado status social. como vemos hoje a importância e o status social de alguém que se forma num curso de Direito? O que mudou?

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o juiz deveria agir de modo prudente, pois sua presença deveria favorecer a integração e a harmonia com a coroa e não acirrar confl itos regionais ou entre os grupos e a monarquia (KOERNER, 1998).

A aplicação da lei e a limitação do poder do Estado não se encontravam no centro da atuação do juiz. Longe de seguir o ideal de limitação dos abusos e de garantia de direitos idealizados para um sistema de separação de poderes, o Judiciário integrava-se como parte rele-vante do sistema político e somente em alguma medida utilizava a legislação como referência. Essa atuação cautelo-sa signifi cava, na prática, escolher en-tre julgar ou adiar julgamentos, aceitar

talmente físicas. Uma teia invisível con-trolava permanentemente os negros em nossa sociedade. E nessa função de controle, a polícia e a Justiça anda-vam juntas. A legislação brasileira após a independência criou um modelo em que as duas funções se confundiam e se sobrepunham. Em geral, a chefi a da polícia cabia a um magistrado e alguns policiais exerciam atribuições que tipi-camente pertenceriam à Justiça.

A sobreposição intencional facilitava a punição rápida e violenta sobre negros e sobre homens livres pobres todas as vezes que se verifi casse algum quebra ou ameaça à “ordem social”. A grande função, tanto da polícia como da Justi-ça, em particular nas cidades maiores, consistia em manter e reproduzir uma ordem baseada no modelo da escravi-dão. Ou seja, qualquer negro ou homem livre pobre que circulasse pela cidade sem trabalho ou ocupação evidente, qualquer postura que revelasse insubor-dinação ou maior autonomia, qualquer agrupamento, seja para conversar, fazer música ou se divertir poderia ser punido.

as punições poderiam ocorrer com uma simples agressão imedia-ta, uma surra, uma prisão arbitrária (sem maiores rigores legais) ou com um uma condenação judicial efetiva8. A violência e a arbitrariedade eram roti-neiras. A lei antes de ser um instrumen-to de apoio poderia criar obstáculos para este tipo de tratamento. Pouco ou nada existia de investigação, coleta de provas, devido processo legal ou direito de defesa. Todas estas características e garantias típicas de uma ordem consti-tucional de inspiração liberal entravam em choque direto com as necessidades de conservação da escravidão.

Apenas em poucos processos ju-diciais, como os que envolvessem pes-soas com mais posses ou nas capitais, poderia haver uma dinâmica processual mais próxima do sentido de uma justiça protetora de direitos do cidadão.

ou não aceitar denúncias, condenar ou absolver, punir severamente ou apenas aplicar punições simbólicas.

Nem de longe se poderia imaginar a idéia de aplicação igualitária da lei. Os chamados “rigores da lei” deveriam ser aplicados apenas quando o contexto e a conveniência política ou social recomen-dassem. mesmo que um juiz pretendes-se pautar-se pelo estrito cumprimento da legislação, rapidamente seria removi-do para outra cidade, bastando para isso um pedido de uma autoridade infl uente ou de um grupo político ao imperador ou ao ministro da Justiça. Boas relações e habilidade política auxiliavam os juízes do século XIX na busca de melhores pos-tos e no crescimento na carreira.

Outro aspecto importante para re-pensar a atuação da Justiça, associa-se a presença da escravidão. Sem considerar a escravidão não há como compreender o funcionamento da sociedade brasilei-ra e do Judiciário, em especial. Toda a economia nacional girava em torno do uso da força de trabalho dos negros na condição de escravos. Desde as ativida-des mais rentáveis na grande lavoura ex-portadora, passando pela mineração e chegando às pequenas atividades coti-dianas ou domésticas nas cidades, tudo envolvia o trabalho dos escravos.

Essa presença marcante condi-cionava nossa relação com o direito e com as instituições judiciais de várias maneiras. O trabalho escravo exigia a convivência com grandes quantidades de negros que circulavam pelas cidades e pelos campos. A sociedade brasilei-ra desenvolveu um modelo de controle rotineiro e total sobre a vida dos negros que ocorria pelo olhar constante dos homens livres, pela vigilância ofi cial das polícias e pela a punição rápida e cons-tante das autoridades.

Um negro no século XIX estava sempre sendo observado e vigiado e precisava de justifi cativas para circular. As amarras da escravidão não eram to-

8 Em 1831, o então regente Diogo Antônio Feijó assim relatava em

ofício acerca da atuação da polícia à época: “Acontecendo por vezes ter eu mesmo presenciado pancadas dadas pelas rondas municipais em pretos, quando em nenhum

artigo das instruções, pelas quais se devem regular, dá-se tal autoridade, cumpre a V.Me. lhes faça constar que severamente punidos, com todo o rigor da lei, se de qualquer maneira ofenderem a pessoa alguma, ou esta seja livre ou escrava, competindo-lhes somente prendê-las, quando estejam compreendidas em alguns dos artigos

das ditas instruções, ou empregar contra elas a força necessária quando resistam; fazendo-lhes demais saber

que, além de serem castigados, muito desagradável me será ter

notícia de que cidadãos escolhidos, e que devem ser os primeiros em

dar exemplo de respeito às leis e aos direitos dos outros, sejam olhados

como inimigos de seus semelhantes” (apud HOLLOWAY, 1997, p.95).

CURSO CIDADANIA JUDICIÁRIA 77

Some-se a tais elementos o fato dos magistrados se encontrarem inse-ridos diretamente na dinâmica política, o que implicava na sua partidarização. Não se poderia falar em aplicação isen-ta, equilibrada ou imparcial da lei. Antes de tudo, o magistrado possuía suas le-aldades e vínculos, seja com o interesse da monarquia e do Estado, seja com as necessidades dos grupos de aliados, padrinhos, amigos e correligionários.

Percebe-se neste sistema a face de uma sociedade muito distante dos ideais propalados e discutidos nos li-vros e nos relatos sobre as revoluções liberais. A sociedade brasileira e suas instituições se construíram sob o signo da desigualdade, do favorecimento, do clientelismo e da escravidão.

Isso não quer dizer, contudo, que não houvesse divergências e projetos refor-madores em diversos setores. Nos deba-tes jurídicos, nas discussões parlamenta-res e nas disputas políticas havia sempre presente a percepção da necessidade de adaptar e reformar as instituições.

Em razão das fortes crenças liberais correntes no século XIX e do olhar sobre a riqueza e progresso de países como França e Inglaterra, difundia-se a cren-ça de que somente com a aplicação de ideias como a criação de uma Justiça mais independente, com a proteção de direitos considerados essenciais como a propriedade privada, a liberdade e a segurança, o país chegaria a uma situa-ção de maior prosperidade.

O Estado garantidor de direitos bá-sicos, entendidos como aqueles relacio-nados com a liberdade de mercado e a propriedade privada, seria o pressupos-to de uma nação rica e próspera. O dis-curso liberal misturava-se, todavia, com as contingências de um país que depen-dia profundamente da escravidão para preservação do seu modelo econômico baseado na grande lavoura agroexpor-tadora. Sempre que se pensava em me-lhorar a justiça e controlar a violência po-

licial surgia a preocupação com a “perda do controle” sobre os negros e pobres.

A contradição surgia ao avaliar: como manter escravos e homens livres pobres sobre controle se for necessário tratá-los dentro dos limites estabele-cidos pela lei? Seria possível manter a ordem sem poder “disciplinar” negros com surras rotineiras ou controlar os “va-dios” sem a aplicação de “corretivos””? A lei seria, assim, um estorvo. curiosa-mente, esta visão sobre a “lei como um problema” não diz respeito apenas ao tratamento dos pobres e escravos. mes-mo entre os mais ricos, considerava-se a lei um instrumento de perseguição. Bas-ta lembrar da frase ainda hoje repetida: “aos amigos tudo, aos inimigos a lei”.

5.REFORMA DO JUDICIÁRIO E A TRANSIÇÃO PARA O TRABALHO LIVREEm meio a contradições e embates, o país caminhou lentamente transfor-mando sua justiça. Ao longo do século XIX, realizaram-se pequenas mudan-ças legislativas que visavam afastar os magistrados da participação direta do processo eleitoral. Não se proibia sua presença como candidato ou ocupante de cargo público, mas se tornava me-nos interessante a participação. Uma das mudanças, por exemplo, deixava de contar o tempo de serviço fora da magistratura, para fi ns de aposentado-ria. Outra mudança limitava a acumula-ção de remuneração.

O ponto culminante da mudança no século XIX aconteceu na década de 1870, com uma reforma do Judiciário.

Para RefletirAo longo da história brasileira, sempre houve muita difi culdade em aplicar uma concepção mais clara e igualitária de direito e da legislação. Ricos e pobres pareciam lutar sempre pelo privilégio e não pela proteção da lei. No atual contexto brasileiro, ainda é válida a máxima: “aos amigos tudo, aos inimigos a lei”?

Nesta reforma, buscou-se deixar mais clara a distinção entre atividade policial e função judicial e afastar os juízes da disputa eleitoral. Em grande medida, a reforma obteve sucesso, pois se verifi -cou uma grande redução da participa-ção dos magistrados em cargos públi-cos fora da sua carreira. manteve-se a presença forte dos bacharéis, mas com uma redução da presença dos juízes na vida política do país.

Em contrapartida, criou-se um mo-delo de investigação e coleta de provas para o processo criminal que pretendia assegurar a conservação das práticas violentas e arbitrárias de controle fora da intervenção judicial. O contato coti-diano com negros e pobres e com tudo que dissesse respeito ao crime fi caria a cargo da polícia, que coletaria todas as provas necessárias ao posterior posicio-namento do Judiciário.

Todas as informações sobre crime, contexto, prisão, provas etc. seguiriam ao Judiciário por meio de uma peça

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documental chamada de inquérito po-licial9. como todos os elementos con-tidos neste inquérito eram produzidos dentro do âmbito policial, o magistrado precisaria refazer quase todos os pro-cedimentos. Verifi cava-se neste modelo duas situações graves: a preservação de uma zona livre de controles da legislação que ocorreria no âmbito policial e uma relativa convicção de que a ilegalidade maculava as provas trazidas no inquérito, o que obrigava a refazer procedimentos.

O inquérito é uma peça chave des-ta reforma. Sua concepção básica servia à necessidade de gradualmente melho-rar as instituições dentro de uma con-cepção liberal de direito e justiça, sem gerar maiores riscos à conservação dos controles violentos sobre a força de tra-balho. curiosamente, este modelo de inquérito pensado para a escravidão, apesar de várias mudanças e esforços para conciliar o processo penal com a constituição de 1988, segue em funcio-namento ainda hoje no Brasil.

A abolição da escravidão no Brasil resultou de um lento processo de luta, discussão e resistências. Buscou-se de todas as formas evitar ou retardar a sua chegada. No cenário internacional, a escravidão brasileira tornou-se insus-tentável. Dentro do país, uma crescente e constante resistência negra foi se for-talecendo e se espalhando, ao mesmo tempo em que grupos de abolicionistas agiam em várias frentes.

Uma das frentes do movimento abolicionista10 atuava no Judiciário. Por meio de ações judiciais, buscava-se libertar negros com múltiplos argumen-tos legais. A grande maioria destes não alcançava sucesso, mas vários exemplos ocorreram de vitória do escravo. Pare-ce estranho pensar nisso hoje, porém se discutia nesses processos a liberda-de de um ser humano com argumen-tos parecidos com os que se utilizaria no debate sobre a propriedade de um terreno ou de uma casa. A vitória ou

Para RefletirNo Brasil de hoje, ainda se observa confl itos normativos entre a polícia e a justiça? Você seria capaz de citar algum do seu conhecimento?

derrota vinculava-se mais a situações de irregularidade documental do que a uma discussão de fundo sobre o direito essencial à liberdade.

Essas chamadas ações de liberdade criaram, em alguns casos, mal estar en-tre a monarquia, responsável pela ma-gistratura imperial, e os proprietários de terra. Ao julgar favoravelmente ao ne-gro, criava-se uma situação completa-mente atípica. Não se poderia imaginar que o Judiciário do Império poderia dar razão a um negro em face de um senhor branco e ainda, por de lado aquela que era talvez a mais importante instituição da economia e da sociedade brasileira do século XIX, a escravidão.

Os julgamentos em favor da liberta-ção de escravos levaram os juízes a se-rem transferidos, mas o confl ito deixou marcas importantes na transição para a República. A preocupação com o con-trole sobre os magistrados aumentou e após a Proclamação, a nova ordem repu-blicana tratou de enfraquecer a ainda in-cipiente independência e o profi ssiona-lismo que se tentava criar. O preço por aplicar a lei em prol da libertação foi a transferência, a punição e um novo mo-delo de magistratura que deixava ainda mais frágil as proteções aos juízes.

A luta por um Judiciário indepen-dente e por uma magistratura profi s-sional e protetora dos direitos do ci-dadão representou um dos grandes desafi os institucionais para o Brasil ao longo do século XX. Não obstante as difi culdades, caminhou-se lentamente neste sentido e a constituição Federal de 1988 refl etiu em seu texto todo esse conjunto de desafi os verifi cados des-de o período colonial. Na nova ordem democrática instaurada após o fi m da Ditadura militar de 1964, conquistaram--se, pela primeira vez, todos os elemen-tos essenciais para se iniciar uma nova fase de construção e afi rmação de um Judiciário apto a se inserir de fato como um poder da República.

9 O inquérito policial é um instrumento de natureza administrativa que tem por fi nalidade expor o crime em sua primeira fase, a fi m de que se descubra a autoria, a materialidade, circunstâncias do crime,

além de provas, suspeitas, etc.Existem dois momentos

fundamentais previstos em lei para a persecução criminal:

1) logo após o conhecimento do fato; 2) em juízo, pelo Ministério Público ou pelo ofendido.

São regras primordiais para tanto: 1) que o processo seja

proposto no juízo competente; 2) que o processo seja legítimo, legal.

Pois, segundo o artigo 5º, LIII, “ninguém será processado nem sentenciado senão pela autoridade competente” e o inciso LIV do mesmo artigo “ninguém será privado da liberdade ou de seus bens

sem o devido processo legal”.(Fonte: http://jus.com.br/artigos/1048/o-inquerito-policial)

10 Joaquim Aurélio Barreto Nabuco de Araújo (1849 - 1910) foi um político,

diplomata, historiador, jurista e jornalista brasileiro, formado pela Faculdade de Direito do Recife. E um monarquista e conciliava essa posição política com sua

postura abolicionista. Atribuía à escravidão a responsabilidade por grande parte dos problemas enfrentados pela sociedade brasileira, defendendo, assim, que o

trabalho servil fosse suprimido antes de qualquer mudança no âmbito político.

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SÍNTESE DO FASCÍCULO

A construção do Estado português e a manutenção dos seus domínios co-loniais contaram com a ativa e impor-tante participação dos bacharéis em direito, especialmente por intermé-dio dos magistrados. A magistratura portuguesa representava nas colônias os interesses reais e ocupava funções de destaque, que iam muito além das questões típicas da justiça.

consolidou-se, assim, uma elite le-trada de burocratas a serviço do Rei que ganhava poder e prestígio ao mesmo tempo que pretendia reproduzir carac-terísticas de uma nobreza hereditária, como a “pureza de sangue”. A formação unifi cada, a circulação pelos domínios imperiais e o controle sobre a lealdade e a carreira, dentro outros fatores, favo-reciam a coesão interna e estimulavam o uso destes magistrados como instru-mento de conservação do poder real.

O Brasil adotou e reproduziu os elementos mais importantes desse mo-delo, ao se tornar independente. criou apenas dois cursos de Direito e manteve o padrão de uma magistratura unifi cada e responsável pelo exercício de alguns dos mais relevantes cargos do Estado. Ao mesmo tempo, os bacharéis e juízes desempenhavam um papel importante na conservação da ordem econômica e social baseada no trabalho escravo.

Nas últimas décadas da monarquia no Brasil, buscou-se reduzir a participa-ção direta dos juízes na política eleitoral e favorecer um processo de afi rmação do Judiciário como verdadeiro Poder. Não obstante, essa reforma ocorreu com a criação de instrumentos que pre-servavam uma margem de arbitrarieda-de e violência na atuação policial sobre

negros e homens livres pobres. O fi m da monarquia representou uma fase de en-fraquecimento das proteções à magis-tratura que só iria conquistar efetivamen-te as garantias para sua independência, após a constituição Federal de 1988.

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SchWARTZ, Stuart B. burocracia e so-ciedade no brasil Colonial – O Tribunal Superior da Bahia e seus desembarga-dores: 1609- 1751. São Paulo: compa-nhia das Letras, 2011.

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SOBRE O AUTORGustavo Feitosa é graduado em Direito com mestrado em Sociologia, pela Uni-versidade Federal do ceará, e doutora-do em ciências Sociais pela Universida-de Estadual de campinas. Atualmente, é professor titular do Programa de Pós--Graduação em Direito constitucional e do centro de ciências Jurídicas da Universidade de Fortaleza. É profes-sor adjunto de Direito Processual civil na UFc. É coordenador de pesquisa do centro de ciências Jurídicas da Universi-dade de Fortaleza e editor do periódico Pensar: revista de ciências Jurídicas.

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Este fascículo é parte integrante do Curso Cidadania judiciária da Fundação Demócrito Rocha (FDR) / Universidade Aberta do Nordeste (Uane) isbn 978-85-7529-612-7

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