fanzines: paisagens, memórias e sujeitos
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PAISAGENS, MEMÓRIAS E SUJEITOSA PRODUÇÃO ZÍNICA COMO PROCESSO DE [RE]LEITURAS POSSÍVEIS
Yuri Amaral
Íconos de memoria:territorialidades, construcción de lugar y ciudades
Bruno López PetzoldtYásmin López Lenci
PPG-IELA - Programa de pós-graduaçãoem Estudos Interdisciplinares Latino-Americanos
mai/2015
FANZINE
FANATIC + MAGAZINE
Publicações independentes de baixo custo e tiragem, fora do eixo comercial e editorial, geralmente produzidos de maneira artesanal e impressos em papel barato ou xerocado, distribuídos informalmente entre amigos (mão em mão, correios), pela internet (e-zines) e em
eventos/espaços temáticos.
“os fanzines possibilitam ao zineiro trabalhar e [re]combinar diversos materiais, criando assim outro
suporte para além do papel, além das múltiplas possibilidades de trabalho da linguagem.”
Lima e Miranda (em MUNIZ, 2010, p. 53-54)
“os zines como recurso pedagógico podem ser ferramentas auxiliares no desenvolvimento da capacidade criativa dos educandos (...) e como
instrumentos relevantes ao conhecimento de si e de outros.”
Pode auxiliar em trabalhos de pesquisa de temas e/ou conceitos importantes dentro de determinadas disciplinas acadêmicas, transversais ou não.
Maranhão (2012, p. 71)
GUTENBERG E A PRENSA
AS 95 TESES DE LUTERO
Os fanzines ganharam grande popularidade na era do punk enquanto narrativas bélicas, participando de uma guerra pela sobrevivência de si mesmo.
“Nessa guerra, é preciso lutar contra os hábitos ‘consumistas’ que a sociedade contemporânea sacraliza. E quando eles falam em consumo, não se trata apenas de objetos, mas de gestos, práticas e modos de vida. (...) É para ajudar nesse trabalho
de destruição daquilo que existe de nocivo em si mesmo que o fanzine serve.”
Moraes (em Muniz, 2010, p. 69)
A GERAÇÃO MIMEÓGRAFO
A DESCENTRALIZAÇÃO DOS MEIOS DEPRODUÇÃO E EMISSÃO
RESISTÊNCIA, CONTRA-DISCURSOE [RE]INVENÇÃO DE SI
“você já parou pra pensar no mundo em que você vive? A maneira como você e as pessoas ao seu redor se comportam?”
Moraes (em muniz, 2010, p. 66)
Em Foz do Iguaçu, PR, durante o segundo semestre de 2014, 52 alunos dos cursos de Publicidade & Propaganda e Jornalismo foram incentivados
a desenvolver um fanzine como atividade da disciplina de Produção Gráfica em uma instituição privada local de ensino superior.
O tema era livre desde que não relacionado ao eixo turístico Itaipu-Cataratas. Tal exigência tinha, por objetivo, confrontar os discursos já
constantemente reproduzidos na região da tríplice fronteira.
Os alunos receberam orientação semanal e particular.Na primeira fase, foram debatidos e questionados os aspectos da cidade e da região de
fronteira comum a todos para, então, passarem para a pesquisa de linha editorial e criação de conteúdo, público e processos de impressão (escolha de papel e reprodução do zine) e distribuição. Foram produzidos 23 fanzines, divididos da seguinte maneira:
Idioma (1);Turismo fora do eixo (1);
Comunidades, indivíduos ou grupos locais (8);Transporte Urbano (2);Grafite e pichação (2);
Bares (2);Temas diversos (7).
VÁRZEAComunidades, indivíduos ou grupos locais
Formato: 9cm x 12,5cm28 páginasTiragem: 100 Papel sulfiteImpressão: xeróxOutra mídia: youtube - (curta-metragem) Várzea
“Aqui será mostrado o futebol que é jogado entre amigos, por amor ao esporte. A grande parte do zine é composta por fotos dos jogadores, dos lances e do campo. Junto com as fotos, alguns textos que foram feitos em parceria e algumas referências da internet, mostrando o que é o futebol de várzea e a história.Esse fanzine é para pessoas que amam o futebol, ma s não apenas aquele profissional, mas sim o esporte que eles vivenciam pesoalmente dia a dia. Que é o que move essa paixão brasileira chamada, futebol.” (retirado do editorial do zine)
TU RABISCAS!Grafite e pichação
Formato fechado: 9,5cm x 14cmFormato aberto: 20cm x 28cmTiragem: 50Papel sulfiteImpressão: xeróxOutra mídia: instagram - @turabisca
“Diariamente nos deparamos com formas de expressões em diversos lugares inusitados ou não. Juras de amor em bancos de ônibus, telefones de profissionais do sexo nos orelhões e até boquetes grátis nas portas dos banheiros públicos ou de escolas. Se estas informações são verídicas ou não, isso já é assunto para uma outra hora. O fato é que nas ruas cruzamos com um pedaço das emoções alheias, registradas nas paredes, portas, calçadas ou carteiras escolares. E você? Já registrou as suas? Já viu as minhas?” (retirado do editorial do zine)
NA ESTRADAComunidades, indivíduos ou grupos locais
Formato fechado: 10,5cm x 15cm16 páginasTiragem: 50Papel reciclatoImpressão: xeróxAcabamento: pulseira usada na encadernação
“Os artesões andarilhos trazem consigo uma forte influência do movimento hippie. (...) Os hippies tinham uma visão muito crítica do mundo, contestando uma sociedade consumista, e acabaram desenvolvendo uma contracultura - forma de expressão que combatia os valores do capitalismo. Tinham um ideal de uma sociedade de paz e amor livre e a não violência. (...) Em sentido figurado, muitas vezes a palavra hippie é usada para descrever uma pessoa liberal ou que não aceita os valores que são aceitos pela maioria da sociedade. Esse estilo de vida é seguido até hoje. Neste mundo capitalista em que vivemos algumas pessoas resolvem dizer não para esse sistema. Não querem mais participar disso, pois nunca é o suficiente, independente de quanto dinheiro se tem.” (retirado do editorial do zine)
FANZINES E PAISAGEM
Os zines, ainda que timidamente, permitiram que vários alunos-autores pudessem, em determinado momento, [re]pensar e [re]descobrir seu próprio
lugar enquanto morador da tríplice fronteira. Como afirma Mairesse (apud Lima e Miranda, 2010, p. 49), o dizer, o contar é uma arte do fazer, do produzir e do transformar uma realidade que já existe em função do que outrora foi falado.
FANZINES E MEMÓRIA
De acordo com Gondar (2005, p. 23), “as representações não surgem subitamente no campo social, mas resultam de jogos de força bastante complexos, envolvendo
combinações e enfrentamentos que a todo tempo se alteram.”
“como e por que essas representações foram inventadas?” (2005, p.24)
Os alunos-autores puderam, a partir de suas experiências zínicas, questionar essas representações e buscar aquelas que estavam/são omitidas.
FANZINES E SUJEITO
Ainda que os 23 zines produzidos não tenham sido todos distribuídos representaram, para seus autores, um momento de permissão, de criar algo
novo, um discurso não-institucionalizado,
“do que Deleuze chamaria de ‘devir revolucionário das pessoas’, ou seja, a capacidade que os sujeitos têm de transformarem a si mesmos, suas relações e seu meio mais próximo através do investimento em novas
formas de sociabilidade e convivência.”
Moraes, (em Muniz, 2010, p. 75)
BIBLIOGRAFIA E OUTRAS FONTESFOUCAULT, Michel; A Ordem do Discurso. Edições Loyola : São Paulo, 1996.
GONDAR, Jô; DODEBEI, Vera; O que é memória social?. Programa de Pós-graduação em Memória Social da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro : Rio de Janeiro, 2005.
MARANHÃO, Renata Queiroz; Fanzines na escola: convite à experimentação. Fortaleza : EdUece, 2012.
MUNIZ, Cellina [organizadora]; Fanzines: Autoria, Subjetividade e Invenção de Si. Fortaleza : Edições UFC, 2010.
SILVA, Tomaz Tadeu da [organizador]; Stuart Hall, Kathryn Woodward; Identidade e Diferença: a perspectiva dos estudos culturais. Petrópolis, RJ : Vozes, 2000.
Obrigado! :]