falhas de governo e falhas de mercado

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    FALHAS DE MERCADO VERSUS FALHAS DE GOVERNO

    Ubiratan J. Iorio

    "Os mercados imperfeitos so superiores ao planejamento imperfeito" (Deepak Lal)(*)

    As Falhas de Mercado

    Um dos argumentos mais utilizados na tentativa de justificar o intervencionismo do Estadono processo de mercado a alegao de que se tornam necessrias correes, por parte do

    poder pblico, das imperfeies e falhas apresentadas pela economia de livre mercado. Oobjetivo deste texto mostrar que o referido argumento peca duplamente: primeiro, porsua falaciosidade e, segundo, por sua periculosidade. Com efeito, a posio da EscolaAustraca a respeito das to propaladas "falhas de mercado" fundamenta-se em duas

    proposies bsicas: a de que a maioria dessas falhas, quando estudadas criteriosamente,revelam-se resultantes de defeitos extra-mercados, de natureza institucional e a de que,quando ocorrem de fato falhas de mercado, elas tendem a ser amplificadas (e noeliminadas), como conseqncia da interveno governamental.

    A prpria expresso "falhas de mercado", a rigor, parece deixar subentendido que osmercados so como que meios a serem usados para a obteno de fins. Se estes ltimos -

    que, segundo os preceitos do intervencionismo, devem ser eleitos pelos planejadores deplanto - no so alcanados, fala-se na ocorrncia de algum tipo de deficincia no"sistema" (isto , em resultados "injustos" na ordem espontnea de mercado). Os finscostumam, por convenincia analtica, ser divididos em "tcnicos" e "sociais".

    Entre as "falhas tcnicas" de mercado, costuma-se incluir uma categoria de fenmenos queenfeixa os casos dos bens pblicos (ou de consumo coletivo) e as externalidades, casos emque ocorrem divergncias entre os custos privados e os custos sociais. Alm dessassituaes, costuma-se listar tambm como falhas tcnicas aquelas em que se suspeita queas preferncias subjetivas dos agentes econmicos no possam ser "corretamente"registradas, as que refletem concentrao de informaes e as que se costuma designarcomo "dilema do prisioneiro". As pretensas "falhas sociais", por sua vez, incluem ascrticas aos interesses individuais (que seriam inferiores construo holstica denominadade "interesses sociais"), "manipulao dos consumidores" (que fez a fama e a fortuna deJohn Kenneth Galbraith) e "imoralidade dos lucros capitalistas" (que tem sido um cavalo

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    de batalha da intelligentzia e dos partidos de esquerda em todo o mundo). Examinemosligeiramente as inconsistncias cada uma dessas crticas ao livre mercado.(a) "Falhas Tcnicas"

    (a1)Bens pblicos ou de consumo coletivo

    So definidos como aqueles bens que geram benefcios para todos, mas cujos custos nopodem ser distribudos, pela simples razo de que no se pode excluir do consumo osindivduos que se recusam a pagar por eles. Tal costuma ser o caso de estradas, parques

    pblicos, policiamento, defesa nacional, meio-ambiente, etc. A diferena mais importanteentre os bens pblicos e os demais que os benefcios por eles gerados, no podendo seralocados entre os beneficirios de acordo com algum princpio econmico, devem serobjeto de decises polticas, o que significa que o Estado quem deve produzi-los,

    buscando financiamento na tributao, na inflao e na dvida interna ou externa.

    H, obviamente, limites definio de bens pblicos. O Prof James Buchanan, porexemplo, argumenta que o tratamento terico convencional para o caso desses bens falho, na medida em que no d a devida importncia ao papel que a estrutura legal podedesempenhar, no que se refere proteo aos direitos individuais e ao cumprimento doscontratos. De fato, costuma-se, em geral, acreditar que os mercados funcionam ao amparode um sistema governamental de proteo eficiente e que, portanto, qualquer "falha" deveser atribuda aos mecanismos de mercado. Como observou Buchanan, muitas das alegadasfalhas de mercado podem ser explicadas mais adequadamente em funo da atuao doEstado, por causa de sua incapacidade de delinear e manter direitos de propriedadeeficientemente. Em muitos casos, a necessidade de o Estado produzir e administrar adistribuio de bens coletivos desapareceria; em outras palavras, a lei , ela prpria, um

    bem coletivo, de acordo com esta argumentao(1).

    Hayek, por sua vez, embora reconhea como exemplos bvios de bens pblicos a proteocontra a violncia, epidemias, enchentes e avalanches, por exemplo, no considera comocasos bvios as estradas, padres de medidas, mapas, registros de terras e certificados de

    qualidade, que podem ser produzidos pelo mercado privado(2) . A necessidade de algumaforma de coero, no caso de bens realmente coletivos, emerge porque muitos indivduosno desejariam contribuir voluntariamente para a proviso dos bens, preferindo usufruirseus benefcios mediante "carona" ("free-riders"). No entanto, Hayek enfatiza que aadoo de uma alocao centralizada de recursos no deve ser conduzida de modo a

    prejudicar o funcionamento da ordem espontnea de mercado, o que o leva, por exemplo,a sugerir que a proviso de bens pblicos, especialmente aqueles cuja demanda concentre-

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    se em uma minoria (como teatros, museus e orquestras sinfnicas) seja conduzida pelosetor privado.

    J Rothbard questiona o prprio conceito de bem coletivo, qualificando-o como bastanteduvidoso: "como um "coletivo" pode querer, pensar ou agir? Somente indivduos fazem

    essas coisas"(3). A concluso de Rothbard que apenas bens como o ar - em que,indubitavelmente, no existe qualquer rivalidade no consumo - podem ser classificadoscomo pblicos e que a questo de quem deve conduzir sua produo e alocao - se ogoverno ou o mercado - simplesmente fora de propsito. Ademais, em "Man, Economyand State", ele deduz, com lgica irrepreensvel, que no existem argumentos sustentveisem favor da interveno do governo para corrigir "externalidades" de qualquer tipo. Porexemplo, tomemos o caso conhecido do "carona", em que se tenta justificar a imposiode um pagamento sobre o indivduo B, involuntariamente beneficiado por uma ao doindivduo A: o argumento de Rothbard que, em uma sociedade de homens livres, A deve

    ter agido para aumentar sua prpria satisfao, caso contrrio ele no o teria feito (axiomabsico da praxeologia); assim, A melhorou e B, acidentalmente, tambm, o que no deveser motivo de indignao para ningum. Ademais, B no pediu nada a A. crtica de queB no teria, por si, capacidade ou possibilidade de estar melhor do que antes, mesmo se odesejasse, Rothbard responde com uma pergunta: "algum pode saber se B gostaria decomprar o benefcio (involuntrio) que ele recebeu ? Por que processo esse conhecimento

    poderia ser obtido?"(4).

    (a2)Externalidades (ou efeitos-vizinhana" ou "efeitos-derramamento")

    Fenmenos tais como poluio de lagos e rios, leo nas praias, fumaa expelida porchamins, barulho excessivo, congestionamento de trfego, bem como o caso de umfazendeiro que tem parte de suas mas destrudas pelas abelhas criadas em uma fazendavizinha, constituem casos de externalidades, geralmente denominados de "efeito-

    vizinhana" ou "efeito-derramento" e que Mishan(5) designou como "bads"(que pode ser

    traduzido como "incmodos").Quando esses efeitos ocorrem, eles geram "custos sociais", o que tem levado muitoscrticos do livre mercado a argumentarem em favor da interveno do Estado, no sentidode punir os responsveis pela produo de "bads", seja proibindo sua produo, sejatributando-os, de modo a compensar as vtimas, ou criando legislao no sentido de que oscustos gerados para terceiros sejam "internalizados".

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    No entanto, devemos ter cuidado com essas pretensas solues. A simples proibio daproduo de bens cuja produo cause incmodos para terceiros pode, alm de exigir maisburocracia, impedir que bens necessrios (isto , para os quais existe demanda) deixem deser produzidos, o que prejudicaria os consumidores. A imposio de um imposto sobre a

    produo esbarra na dificuldade de se calcular corretamente os custos, ou seja, os valoresdos prejuzos gerados sobre terceiros, alm de, evidentemente, no se aplicar aos casos -

    bastante freqentes - em que as externalidades so provocadas pelo prprio governo oupor suas empresas, ou por empresas privadas por ele contratadas. Por fim, a tentativa deobrigar os produtores de "bads" a internalizarem as externalidades negativas por eles

    provocadas (colocando filtros em suas chamins, exaustores em motores, etc.), quando nofaz com que a produo desses bens - que podem, como vimos, ser teis - desaparecer,tende a elevar os preos oferecidos por esses produtos, colocando-os fora do alcance dosconsumidores mais pobres.

    Torna-se, assim, prefervel uma quarta soluo, que o estabelecimento de direitos depropriedade corretos. Na realidade, a Escola Austraca no tem tradicionalmente devotadoao "efeito-vizinhana" a mesma ateno que tem dedicado aos "bens pblicos",simplesmente porque os primeiros no devem ser, sob sua perspectiva, encarados comofalhas de mercado, mas sim como problemas causados por falhas de governo, uma vezque, em ltima instncia, consistem de invases da propriedade privada, isto , de algo queo Estado tem o dever de impedir, na medida em que ele existe exatamente para garantir osdireitos individuais bsicos, nos quais se incluem os direitos de propriedade. Conforme

    observou Rothbard(6)

    , "o remdio (em uma sociedade livre) a aojudicial para punir eproscrever os danos pessoa e propriedade provocados pela poluio". (parntesisnossos e grifos do autor). A poluio do ar, portanto, no se constitui em uma falha oudefeito do sistema absoluto de propriedade privada - livre mercado - mas em umademonstrao de incompetncia por parte do Estado, ao no conseguir preservar osdireitos de propriedade.

    Os intervencionistas costumam acreditar que as propaladas falhas de mercado socorrigveis mediante aes do poder pblico. No entanto, ao fazer com que a alocao derecursos passe a depender mais de foras polticas do que de fatores econmicos, o

    intervencionismo tende a produzir resultados que, alm de serem de dificlima previso,em razo da imprevisibilidade dos custos associados s decises burocrticas peculiaresaos processos de barganha poltica, tendem a ser irracionais, na medida em que elevamcustos sem resolver a questo.

    (a3)Preferncias dos consumidores e situaes de "dilema doprisioneiro"

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    Alguns crticos da liberdade econmica contestam o postulado da teoria econmicasegundo o qual os mercados espelham corretamente as preferncias dos consumidores,sugerindo que estas so criadas e manipuladas pelas grandes empresas (referindo-se sempresas transnacionais). A resposta a este argumento pode ser dada com dois contra-argumentos: se uma grande empresa lanou um novo produto e ele foi aceito pelosconsumidores, o que nos garante que, caso o produto no tivesse sido lanado, osconsumidores estariam em melhor situao? Alm disso, se os dados de mercado no sosuficientes para refletir as preferncias, os desejos dos burocratas o sero?

    Outro argumento utilizado pelos inimigos do mercado, com o intuito de tentar mostrar queum mecanismo movido pelos interesses individuais pode ser auto-destrutivo o do"dilema do prisioneiro", situao derivada da teoria dos jogos, em que, dadas certascondies iniciais, em que cada indivduo busca seu prprio interesse, pode haver um

    aumento no bem-estar geral se cada um adotar uma estratgia no baseada no interesseprprio. A partir de uma situao terica como a descrita, os intervencionistas concluemque os indivduos podem ser de alguma forma manipulados ou dirigidos por um "policy-maker", que os direcionar para seus "melhores" interesses prprios. Trata-se, comovemos, de mais um exemplo do racionalismo construtivista que caracteriza osintervencionistas: supor que os tecnocratas, sendo obviamente mais racionais que todos os

    participantes do mercado, seriam capazes de, mediante impostos e subsdios apropriados,direcionar as escolhas dos agentes econmicos, de modo que o "melhor" resultado coletivoseja alcanado. A resposta da Escola Austraca, baseada na subjetividade das prefernciasindividuais, que no existe qualquer possibilidade de algum - um tecnocrata,especificamente - julgar que o comportamento de outrem seja "irracional". Em outras

    palavras, as escolhas subjetivas dos agentes econmicos no podem ser questionadas. Isto,

    no entanto, no impede, como sugeriu Buchanan(7), que, mediante mudanasinstitucionais convenientes, a comunicao e a disseminao de conhecimento entre os

    participantes do mercado sejam melhoradas.

    A Escola Austraca contesta a chamada "Economia do Bem-Estar", derivada de Pareto,pelo fato de que suas recomendaes so mais apropriadas para uma economiacentralmente planificada ou para um despotismo benevolente do que para uma ordem

    Nomos-Cosmos, que caracteriza as sociedades abertas. O conceito austraco de"eficincia" difere do neoclssico, por ver a eficincia a partir de aes individuais, emque os prprios indivduos interessados so os melhores juzes para julgar o que so falhase o que no so.

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    (b) "Falhas Sociais"

    (b1) "Interesses individuais"

    Uma das crticas mais amide desfechadas contra o liberalismo que seu sistemaeconmico baseado na empresa privada estimula o egosmo, ao enfatizar os valoresmateriais e excluir, como escreveu o badalado intelectual Bertrand Russell em 1917,"todos os impulsos generosos e criativos", o que o levou a propor, mediante uma completareconstruo do sistema econmico, a montagem de "instituies que diminuam o

    domnio da avareza"(8).

    Este tipo de ataque ao capitalismo - que, infelizmente, ainda comum no Brasil - tem sidoum dos principais argumentos utilizados pelos auto-denominados "telogos" da libertaoque, freqentemente, buscam apoio na passagem evanglica do jovem rico (Lucas, 18; 18-25), que encerra uma admoestao aos que se apegam s riquezas. No entanto, conforme

    analisado extensamente por Chafuen(9), a interpretao correta da doutrina catlicadaqueles famosos versculos do camelo e do buraco da agulha de que todos os quevalorizam qualquer coisa - seja um bem material, seja o prprio pai, me, filhos e irmos -mais do que

    ao Criador, tero rejeitada a sua entrada no reino eterno. Em outras palavras, o que oautntico cristianismo condena no a posse de riquezas, mas o apego riqueza. O ps-escolstico Leonardo Lessio (1554-1623), em "De Iustitia et Iure", por exemplo, apsmencionar diversos trechos das escrituras que indicam que a propriedade privada no seconstitui em um pecado, enfatiza que ela no apenas lcita, como salutar para o gnerohumano ("post peccatum haec dominariorum divisio non solum fuit licita, sed etiamsalutaris generi humano"). Passagens semelhantes podem ser encontradas, comodemonstrou Chafuen, em Santo Agostinho, So Toms de Aquino, Miguel Saln, Juan deMedina, Pedro de Aragn, Henrique de Villalobos, So Francisco de Salles, SoBernardino de Sena, Domingo de Soto, Toms de Mercado, Juan de Mariana, SantoAntonino de Florena, Bartolomeu de Albornoz, Lus de Molina, Francisco de Vitria,Domingo de Bez e Antonio de Escobar y Mendoza, bem como em qualquer telogoverdadeiro da atualidade, que v a pobreza luz dos evangelhos, isto , como fruto davontade livre e consciente e no sob a tica marxista - que, alis, incompatvel com ocristianismo, uma vez que busca implantar a virtude do altrusmo mediante o pecado dacoero...

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    A economia, no entanto, no tem nada a dizer sobre os fins, se eles so egostas, altrustas,vulgares ou refinados, pois, como Menger, Mises, Hayek, Rothbard, como de resto todosos austracos enfatizam, ela uma cincia de meios e no de fins. O problema que anatureza humana invariante aos diversos sistemas econmicos e polticos: os homens, oua maioria deles, comporta-se egoisticamente, seja nos regimes livres, seja nos autoritrios.

    Nenhum autor liberal jamais exigiu, ao defender o livre mercado, que os homens fossemegostas; apenas, que eles no precisam ser altrustas para que o mercado funcione comclaras vantagens sobre o planejamento. Lucas, a esse respeito, observou que o mercado

    livre o sistema no qual os homens maus podem provocar menos mal (10). O prprioKeynes, um dos principais mentores do intervencionismo econmico, escreveu, nocaptulo 24 de sua "Teoria Geral", que " melhor que um homem possa exercer tiraniasobre sua conta bancria do que sobre seus prximos".

    (b2) "Manipulao do consumo"

    Conforme vimos na seo das "falhas tcnicas", alguns crticos, notadamente JohnKenneth Galbraith - que se notabilizou escrevendo livros e proferindo "palestras-shows"criticando o capitalismo (embora enriquecesse com ele) - disseminaram a estranha idia deque as preferncias individuais no seriam suficientes para permitir que os agenteseconmicos pudessem conhecer suas "reais" necessidades, o que os levaria a serem

    "manipulados" pelas "grandes empresas", vidas de lucros.Hayek contra-argumenta que, se rejeitssemos todas as necessidades que so "criadas" nomundo moderno, melhor seria vivermos parte, como eremitas, sem televises, aparelhosde ar condicionado, video-cassetes, telefones e tudo aquilo que, h cerca de cem anos, noexistindo, no representava de fato necessidades nossas. Benditos "manipuladores"! Almdisso, quem pode, em s conscincia, dizer-nos quais so nossas "reais" necessidades?Galbraith? Algum planejador genial (que, alis, est para nascer)? Ou cada um de ns,subjetivamente, de posse de nossa liberdade de escolha?

    A crtica de Rothbard a Galbraith no sentido de que no h qualquer vantagem nasintervenes governamentais com vistas a nos mostrar nossos verdadeiros interesses, umavez que os resultados dessas tentativas no podem passar pelos testes de mercado. Assim,

    por exemplo, os "comerciais" divulgados na televiso pelo governo, embora no sejamconsiderados por Galbraith como criadores de necessidades "novas", no deixam aosconsumidores a alternativa de testar via mercado os novos produtos, que sero produzidos,caso os consumidores desejem adquiri-los ou no. O ponto central da crtica de Rothbard

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    que Galbraith no conseguiu distinguir entre satisfazer uma nova necessidade e induzir osconsumidores a novas necessidades.

    (b3) "Imoralidade dos lucros capitalistas"

    Este tem sido outro argumento bastante usado para combater o capitalismo democrtico.Suas origens esto em Aristteles, passam por uma interpretao errada das doutrinas dosescolsticos sobre o "preo justo", ganham corpo com Hegel e Marx e atingem a mdiacom diversos intelectuais do sculo XX, como Shaw, Wells, Orwell, Russell, Sartre, esseHobsbawn to em voga nos cadernos culturais dos jornais de pases cuja mdia aindanamora o marxismo e tantos outros.

    No que se refere ao aspecto moral dos lucros, a constestao a este tipo de argumento,

    luz da doutrina crist, j foi apresentada atrs, quando tratamos da crtica aos "interessesindividuais". Para estend-la um pouco, basta recordarmos que o preo justo, paraestudiosos do calibre de um So Bernardino de Sena, era "aquele que determinado ou se

    depreende da estimao comum no mercado"(11) e que os lucros, por si mesmos, somoralmente indiferentes.

    O que deve ser compreendido que no h, em uma economia de mercado, onde noexistam barreiras legais competio, qualquer indcio de imoralidade nos lucros, desdeque os empresrios ofeream aos consumidores algo que eles desejam comprar; se isso

    no acontecer, eles incorrero em prejuzo. De fato, em uma economia de mercado, oslucros so obtidos pelos "entrepreneurs" que, correndo riscos e atravs do processo dedescoberta que caracteriza os mercados, conseguem atender os consumidores, que so, emltima instncia, os que comandam o processo. Se, no entanto, os mercados, no sendolivres, so marcados pela existncia de "cartrios", devemos atribuir a imoralidade doslucros resultante no aos mecanismos de mercado, mas ausncia destes, isto , existncia de legislao impeditiva da competio, o que significa que devemos imputar aimoralidade resultante no ao mercado, mas ao Estado, que o responsvel pelalegislao. Isto nos remete prxima seo.

    Monoplios, Oligoplios e Cartis: Criaes do Estado

    "O liberalismo no pode dar certo no Brasil, porque nossos mercados so imperfeitos";"no adianta o Banco Central ficar apertando a poltica monetria, porque os oligoplios

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    repassam para os preos os aumentos dos seus custos financeiros"; "o cartel da pizza foi oresponsvel pela inflao do ms passado"; "o governo no pode liberar os preos dosoligoplios"... Dezenas de frases como estas - que o leitor certamente j ouviu ou leu emalgum lugar - tm sido largamente utilizadas para combater o livre mercado. No entanto, osubttulo de uma seo de "A Constituio da Liberdade", de Hayek, , paradoxalmente,"Monoplio e Outros Problemas Menores"... O leitor, primeira vista, poder perguntar-sese os liberais so pessoas ingnuas, na medida em que constrem suas teorias sobre basesirrealistas.

    Na verdade, existe um grave equvoco na afirmativa de que a Escola Austraca "baseia"seus estudos de mercado no modelo de concorrncia perfeita. Foram os austracos os

    primeiros a afirmar que esse modelo no corresponde ao mundo real, em decorrncia doirrealismo de suas hipteses. De fato, nem a absoluta homogeneidade dos produtos, nem ainformao perfeita por parte dos consumidores so hipteses plausveis, se desejamos

    explicar o mundo real. Tampouco o a suposio de que, existindo um grande nmero devendedores, cada um deles no tem capacidade de influir nos preos, pois isto equivale aafirmar que o preo formado sem a sua participao, o que falso.

    O que a anlise austraca utiliza como suporte para suas teses o corolrio, deduzido dateoria do valor, de que os preos sobem e baixam de acordo com a utilidade marginal do

    produto que est sendo negociado no mercado. Com efeito, isto nos basta para deduzirmosque h uma tendncia ao equilbrio entre oferta e demanda, como vimos no captuloanterior, sem que tenhamos que recorrer a qualquer modelo especfico e fictcio, como soos de concorrncia perfeita, monoplio, oligoplio e concorrncia monopolstica,analisados nos textos convencionais de microeconomia. A existncia de monoplio em ummercado qualquer no acaba com o fator mais importante desse mercado, que o processode descoberta.

    Uma das conseqncias da viso dos monoplios como uma aberrao do livre mercado acreditar que eles podem ser "corrigidos" ou "controlados" pelo governo. Ora, se isto fosseverdadeiro, no haveria mais imperfeies em nenhum mercado, especialmente em pasescomo o Brasil, em que as tentativas de "corrigir" e "controlar" os mercados mediante"acordos", "pactos", "cmaras setoriais", cades,"cips", "sunabs", "seacs", etc... tm sido

    uma constante em nossas polticas econmicas. O que o governo deve fazer , apenas: (1)encorajar a competio e (2) colocar sua prpria casa em ordem, abstendo-se de criarmonoplios e favorecer oligoplios.

    Rothbard(12) mostrou que possvel reduzir as diversas definies de monoplio a apenastrs. A primeira - etimolgica - refere-se a um s vendedor de um dado produto e esbarrano problema de ser exageradamente abrangente, induzindo-nos, por isso, a considerar

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    como monopolistas os produtores de todos os produtos que apresentarem algumadiferenciao, no sendo monopolstas apenas os que produzam bens rigorosamenteidnticos, o que, convenhamos, no uma hiptese plausvel. A segunda procura sugerirque existem monoplios nos mercados em que se praticam "preos de monoplio",estabelecidos quando o vendedor, percebendo que a curva de demanda inelstica no

    ponto do preo competitivo, restringe as vendas e aumenta o preo, para maximizar areceita. Esta definio, com a qual simpatizava Mises(13), apesar de ter a vantagem de norestringir o monoplio aos casos em que s h um vendedor, depende da hiptese, que ateoria subjetiva do valor rejeita por ser implausvel, de que possvel estabelecer-seobjetivamente qual o preo "competitivo" Alterar a definio, mediante a substituio de"preos de monoplio" por "lucros de monoplio" incorrer no mesmo tipo de erro. Poroutro lado, a diferenciao entre "preos de monoplio" e "preos competitivos", falsa: oque existe nos mercados livres so "preos de mercado" e "lucros de mercado", que variamsegundo as circunstncias que o mercado apresenta. A definio mais realista de

    monoplio a terceira, que estabelece que s se pode dizer que existem monoplios emdecorrncia da concesso de privilgios, diretos ou indiretos: o criador dos monoplios oEstado e, sendo assim, absurdo que ele pratique "polticas anti-monopolistas"; narealidade, o que ele deve fazer , simplesmente, abolir as leis - ou melhor, as legislaes(Thesis) - que estabeleceram os monoplios.

    O ponto crucial, ento, que no existem monoplios invulnerveis, a menos que elessejam protegidos pelo Estado. As causas comumente apontadas como geradoras demonoplios tm a caracterstica comum de serem temporrias; o que gera os monoplios

    no o capitalismo, nem a competio, mas o Estado. Na verdade, h vrios fatores anti-monopolsticos: (a) a elasticidade da demanda, que tende a aumentar medida que o livremercado se desenvolve e que surgem substitutos para os produtos; (b) a concorrncia

    potencial, que se estabelece quando um negcio bem sucedido; (c) o fator competitivopermanente, isto , o fato de que todos os produtores (de todos os produtos) competemininterruptamente pelo dinheiro dos consumidores; (d) os limites existentes expanso dotamanho das empresas, impostos pela dificuldade de realizao de todos os clculoseconmicos inerentes aos processos de mercado, que tanto maior quanto mais extensosso os mercados; (e) a lei dos rendimentos decrescentes, que impe uma dimenso timas estruturas de custos das empresas, alm da qual os rendimentos passam a ser

    decrescentes medida que as empresas se expandem, o que limita a formao dos totemidos "cartis", pelas perdas que lhes acarretariam e (f) a abertura econmica, que seconstitui em fator bastante limitativo formao de "preos de monoplio", dado queaumenta sensivelmente as possibilidades de escolha dos consumidores, aumentando assima elasticidade da demanda.

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    Evidentemente, todos esses fatores limitativos perpetuao de monoplios naseconomias de mercado permanecem, com mais fortes razes, vlidos quando falamos emoligoplios e "cartis". A rigor, s h duas possibilidades que podem tornar invulnerveisos monoplios, oligoplios e "cartis": a primeira so as leis que os criam, as tarifas que os

    protegem e os subsdios que os sustentam e a segunda o socialismo que, conforme temobservado com bastante propriedade Rothbard, equivale a um cartel enorme, organizado econtrolado coercitivamente pelo Estado. No Brasil, se algum desejar, por exemplo, abriruma empresa para extrair petrleo, as leis o trataro como um delinqente, como uminimigo do "patrimnio pblico", por haver cometido o grave "delito" de pretender instalaruma empresa com a finalidade de, mediante a competio, proporcionar servios melhorese mais baratos do que os oferecidos pela estatal que cuida do setor...

    Sob o ponto de vista da Escola Austraca, portanto, no so os monoplios, oligoplios e"cartis" que devem ser combatidos, mas sim a legislao que bloqueia a competio.

    O Intervencionismo: Correo ou Amplificao das Falhas?

    Rothbard, em "Power & Market", estabelece trs categorias de interveno do Estado na

    ordem espontnea de mercado(14). A primeira, que ele denomina de autstica, ocorrequando o interventor coage os indivduos sem receber, pelo menos perceptivelmente, nadaem troca; a segunda a interveno binria, em que o Estado obriga os indivduos a

    realizarem uma operao com ele e a terceira, chamada de interveno triangular, emque o Estado obriga (ou, ento, probe) dois indivduos ou dois grupos de indivduos arealizarem entre si uma operao de trocas, criando, nos trs casos, relaes hegemnicasem que ele desempenha o papel de comandante e os agentes econmicos privados o desubordinados; tal hegemonia substitui as relaes voluntrias que seriam estabelecidas emregime de liberdade de escolha, mediante contratos de benefcios mtuos.

    Um exemplo de interveno autstica a proibio de profisso de uma religio;intervenes binrias ocorrem na tributao e nos gastos pblicos com transferncias esubsdios e intervenes triangulares acontecem nos controles de preos, nas polticas de

    rendas, no estabelecimento de tarifas, na concesso de licenas, nos controles de taxas dejuros, de salrios e de cmbio, na concesso de seguros-desemprego, na criao decontroles sobre a qualidade e a segurana, no caso de patentes industriais, etc...

    O efeito de todo esse conjunto de restries liberdade de escolha, geralmente adotadaspara corrigir as falhas de mercado, , invariavelmente, o de amplificar essas falhas.

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    Tomemos como exemplo um tipo de interveno triangular cujos efeitos so bastantesconhecidos no Brasil: os controles de preos.

    A vigncia de preos livres permite que a lei da oferta e da demanda opere sem obstculos,o que faz os mercados tenderem ao equilbrio, segundo as concepes de Mises, Hayek eKirzner (embora Lachmann pense de modo diferente). O fato que deve ser ressaltado quea interferncia do governo mediante os controles de preos um fator exgeno, isto ,extra-mercado, que atua como evento gerador de desequilbrios (ou, se a verso deLachmann for a preferida pelo leitor, como mais um fator de desequilbrio).

    Consideremos, para exemplificar, que os economistas do governo fixem um preo mximopara um produto qualquer, isto , um preo abaixo daquele que as foras de mercadotenderiam a estabelecer, p e no grafico seguinte. Suponhamos que o preo seja fixadoem

    p f. Surgir uma contrao na oferta, primeiro de Spara S e, depois, para S, pelos fatosdela variar diretamente com o preo e tambm porque, na maioria das vezes, osempresrios no conseguiro sustentar seus custos a um preo de venda mais baixo; comoresultado, muitas empresas enfrentaro dificuldades e outras simplesmente fecharo assuas portas. Por outro lado, a demanda tender a expandir-se, primeiro de D para D e,depois, para D, pelos fatos de que a demanda costuma variar inversamente com o preo ede que, como o bem tornou-se relativamente mais barato, novos consumidores passaro adesejar comprar compr-lo (efeito-substituio).

    A fixao de um preo mximo resultar, portanto, em escassez, isto , em excesso dedemanda sobre a oferta, tal como ocorreu, por exemplo, nos congelamentos de preos queocorreram no Brasil entre 1986 e 1991. Ora, isto significa que, se o governo desejava um

    preo mais baixo ao estabelecer o controle, ele apenas agravou a situao, ao invs desolucion-la. De fato, supondo que seu desejo era o de reduzir o preo do bem A, o queaconteceu foi que esse bem escasseou no mercado, com a conseqncia de que seu preotende agora a ser maior do que o nvel de antes do controle (pe), pois tal o efeito de umacontrao de oferta combinada com uma expanso da demanda.

    Alm desse efeito pernicioso, h outro, no menos grave, embora primeira vista

    imperceptvel: o desperdcio de recursos que os controles de preos provocam. Com efeito,os recursos agora tendero a ser redirecionados para os mercados onde os preos no socontrolados, embora a demanda nesses mercados no tenha crescido (a no ser que ogoverno, como muitas vezes acontece, favorea com contrapesos, tais como subsdios,tarifas ou outras concesses do gnero, as empresas que permaneceram no setor, de modoa contrabalanar as perdas geradas para os produtores pelo controle de preos). Isto ainda mais grave porque, geralmente, os burocratas tendem a fixar os preos daqueles bens

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    considerados (arbitrariamente, por sinal, j que as preferncias so subjetivas) como "deprimeira necessidade", como os preos da "cesta bsica", por exemplo. Com isso, essesartigos experimentam escassez e carestia, ao passo que os artigos de "luxo" passam asobrar e, portanto, a ser negociados a preos menores.

    Mas isto ainda no tudo: as autoridades econmicas, exasperadas com esta situao - queelas prprias criaram - tendem a perseguir, mediante ameaas de mais controles e, em umaetapa posterior, de confiscos, os "agiotas" e "especuladores" do sistema econmico liberal.A pergunta relevante, no entanto, : mas que sistema "liberal" ou "capitalista" esse, emque os preos so controlados, vigiados, monitorados, congelados, decididos, enfim, nasmesas de reunies dos tecnocratas, entre copos de gua mineral, piadas e cafezinhos, aoinvs de serem determinados por quem de fato sabe onde lhe doem os calos, isto , oscompradores e vendedores? Todos os brasileiros lembram-se do triste episdio da polciafederal caando os bois nos pastos, durante o triste ano de 1986, bem como dos estragosque a fixao da taxa de cmbio causou Argentina a partir de 1991...

    No caso da fixao de um preo mnimo, acima daquele para o qual tende o mercado, tudoocorreria de modo inverso: haveria aumento de oferta, contrao de demanda e, portanto,excesso de oferta. O preo mais alto atrairia novos produtores para o setor, amplificando odesequilbrio e estimularia o aumento da produo das empresas que j operavam no setoranteriormente. Isto geraria desperdcio de recursos, pois haveria superproduo de artigosno considerados prioritrios pelos consumidores e uma tendncia baixista natural aindamaior sobre o preo do produto.

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    p

    q

    p e

    Pf

    S S S = D D D

    S

    S

    D D

    p e

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    Em ambos os casos - fixao de preos mximos e mnimos - surge uma tendncia -explicada pelo axioma fundamental da praxeologia - ao estabelecimento de mercados

    paralelos em que, no primeiro caso, os bens seriam voluntariamente negociados acima dopreo "mximo" e, no segundo, abaixo do preo "mnimo", exatamente o oposto dopretendido pelas autoridades.

    O caso dos controles de preos, bem como de todas as formas de interveno - autstica,binria ou triangular - podem ser analisados da maneira que Henry Hazlitt fez no livro

    "Economia Numa nica Lio"(15) e que consiste em seguir o conselho de FrdricBastiat (1801-1850), quando classificou os economistas em bons e maus. Eis a grandelio de Bastiat:

    "Entre um bom e um mau economista existe uma diferena: um sedetm no efeito que sev; o outro leva em conta tanto o efeito que se v quanto aqueles que se devem prever"

    (grifos nossos)(16).

    O que se v, geralmente, que o Estado pode e deve corrigir as falhas de mercado e o quea boa teoria econmica permite prever - mas que, infelizmente, s costuma ser visto muitotarde - que o Estado no s incapaz de corrigir as falhas, como tende a torn-las maisgritantes. De modo direto: as falhas de governo so piores do que as falhas de mercado.

    Porque os mercados funcionam sempre

    O grfico abaixo ilustra o fato de que os economistas liberais preferem aperfeioar asinstituies que circundam os mercados, ao passo que os economistas intervencionistas, dediversos matizes, sob as alegaes vistas anteriormente a respeito das falhas de mercado,

    preferem intervir diretamente neles. Evidentemente, temos que admitir que todos oseconomistas sejam bem intencionados, isto , que visem, independentemente de suas

    preferncias polticas, o chamado bem comum.

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    Por que podemos afirmar, como o fez o Prof. Israel Kirzner no Rio de Janeiro, em 1993,para uma platia em que notamos alguns olhares de desconfiana, que os mercadosfuncionam sempre? A primeira impresso que se pode ter que se trata de coisa de ultra-liberais, ou de neoliberais radicais, gente que, segundo prega a cartilha daintelligentzia, se esquece de que o mercado incapaz de atender a objetivos sociais...Mas os pontos essenciais da argumentao do Prof. Kirzner so bastante claros: primeiro,

    o de que o processo de mercado funciona sempre, no sentido de que, existindo excesso deoferta ou de demanda, os preos tendem, respectivamente, a baixar ou a subir. E isto verdadeiro, seja para o mercado, digamos, de livros religiosos, seja para o mercado dedrogas. Isso nos conduz facilmente ao segundo ponto: como o mercado atico, elefunciona tanto no caso de livros sagrados (que nos apontam o caminho do paraso eterno),quanto no das drogas (que levam seus usurios, tanto do lado da demanda como no daoferta, para o inferno, tanto momentneo como eterno).

    da essncia do mercado no ter preocupaes de natureza tica. Portanto, podemosafirmar que os mercados funcionam sempre, seja para o bem, mas com a ressalva de que

    isso verdadeiro tanto para o bem como para o mal. O que fazer para que eles funcionempara o bem, isto , para atender a bons propsitos do ponto de vista moral? Os liberaispreferem mexer nas instituies, os intervencionistas nos prprios mercados; por exemplo,os primeiros, no caso de oligoplios, preferem estabelecer leis que aumentem acompetio, os segundos, preferem controlar os preos dos oligopolistas. Se olharmosapenas para a falsa lgica de que os mercados so movidos por interesses individuais,correremos o srio risco de concluir que o socialismo superior ao capitalismo. No

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    Prof. Ubiratan J. Iorio 14

    MERCADOS

    INSTITUIESintervencionistasliberais

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    entanto, evidente que isto seria uma falsa concluso, primeiro, por serem os sistemassocialistas, em que se aboliu a propriedade privada dos meios de produo e,consequentemente, os mercados, campees de corrupo e, segundo, porque ficaramossem conseguir explicar o aparente paradoxo tantas vezes apontado por liberais comoRoberto Campos, o de que o socialismo muito bom em intenes, mas pssimo emresultados, enquanto o capitalismo muito bom em resultados, embora baseado em msintenes. Com efeito, os socialistas, apesar de bem-intencionados, parece assumirem a

    posio ingnua de que os burocratas do setor pblico so, primeiro, sempre bem-intencionados e, segundo, que dispem de informaes sempre superiores s que o setor

    privado da economia dispem.

    Referncias bibliogrficas

    * Lal, Deepak, "A Pobreza das Teorias Desenvolvimentistas", Instituto Liberal, Rio deJaneiro, 1987, pg. 131.

    1. Buchanan, James M., "Public Goods and Natural Liberty", in: Wilson, T. e Skinner, A.S.,"The Market & The State", Oxford University Press, Oxford, 1978, pgs. 275/276.

    2. Hayek, F.A., "Law, Legislation and Liberty", vol.2, cap.9, pgs.62/106 (especialmente oapndice - pgs.101/106).

    3. Rothbard, M., "Man, Economy and State", Nash, Los Angeles, 1970 (2 ed.) pgs. 883/890.

    4. Rothbard, ibid., pgs.886/890.

    5. Mishan, E.J., "The Spill-Over Enemy", in: "Encounter", dez. 1969.

    6. Rothbard, ibid., pg. 156.

    7. Buchanan, J.M., "Is Economics the Science of Choice?", in: Streissler, E., "Roads toFreedom", Routledge & Kegan, Londres, 1969, pgs. 56/62.

    8. Russell, B., "Political Ideals", Unwin, Londres, ed. de 1963, pg. 24.

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    9. Chafuen, A., Economa y Etica, Rialp, Madri, 1991, pgs. 49/71.

    10. Lucas, J.R., "Liberty, Morality and Justice", in: "Cunning, R.L. (ed.), "Liberty and the Ruleof Law", Texas A. & M. University Press, Londres, 1979, pgs. 157 e segs.

    11. So Bernardino, "Opera Omnia", livro II, pg. 319.

    12. Rothbard, ibid., pg 590.

    13. Mises, "Ao Humana", pgs. 352/390.

    14. Rothbard, "Power & Market", cap. 2, pg. 11.

    15. Hazlitt, H., "Economia Numa Unica Lio", Jos Olympio/ Instituto Liberal, Rio de Janeiro,1987 (3 ed.).

    16. Guasti, A. (ed.), "Bastiat", Instituto Liberal, Rio de Janeiro, 1989, pg. 19.

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