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12 | Fale! | MAIO de 2013 | www.revistafale.com.br O presidente da Comissão de Educação da Assembleia Legislativa parlamentar a favor do aumento dos recursos federais para a educa NAS PÁGINAS SEGUINTES OS NÚMEROS E AS SUG Educação ATRAVÉS DA A INCLUS

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12 | Fale! | MAIO de 2013 | www.revistafale.com.br

O presidente da Comissão de Educação da Assembleia Legislativa do Ceará deputado Professor Teodoro vem pautando sua atuação parlamentar a favor do aumento dos recursos federais para a educação tendo como meta investimentos correspondentes a 10% do PIB

NAS PÁGINAS SEGUINTES OS NÚMEROS E AS SUGESTÕES PARA UMA REVOLUÇÃO PELA EDUCAÇÃO

Educação

ATRAVÉS DA EDUCAÇÃOA INCLUSÃO

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HOJE O BRASIL GASTA

5,5% DO PIB COM

EDUCAÇÃO. TEM QUE

SE UNIVERSALIZAR A

EDUCAÇÃO INFANTIL.

NA EDUCAÇÃO BÁSICA,

JÁ SE COLOCARAM JOVENS DE 7 A 14

ANOS NA ESCOLA, MAS VOCÊ TEM QUE

LEVAR ATÉ O FIM. E O GRANDE PONTO

DE ESTRANGULAMENTO É O

ENSINO MÉDIO. APENAS

METADE DOS ALUNOS

FORA DA IDADE CERTA

CONSEGUE TERMINAR.

O presidente da Comissão de Educação da Assembleia Legislativa do Ceará deputado Professor Teodoro vem pautando sua atuação parlamentar a favor do aumento dos recursos federais para a educação tendo como meta investimentos correspondentes a 10% do PIB

NAS PÁGINAS SEGUINTES OS NÚMEROS E AS SUGESTÕES PARA UMA REVOLUÇÃO PELA EDUCAÇÃO

ATRAVÉS DA EDUCAÇÃOA INCLUSÃO

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Educação

O investimento total em educação em todos os níveis de ensino, abrangendo a União, os estados e municípios, passou de 4,8% do PIB em 2001 para 6,1% do PIB em 2011. mas números do relatório de Desenvolvimento Humano 2013, lançado pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud) apontam, em 2012, que a escolaridade esperada para as crianças brasileiras é 14,2 anos, o mesmo índice registrado em 2000. “Nesse período, os anos de escolaridade esperados evoluíram de 14,2 para 16,7. Com isso, o Brasil subiria 20 posições no IDH.”

Na prática, o aumento do investimento público não teria impactado os indicadores. Mas é fato que resultou não só na ampliação do acesso a todos os níveis de ensino, mas também na melhoria da qualidade, assegugra o Governo. O ministro ministro da Educação, Aloizio Mercadante, critica fato de o relatório registrar apenas 26 mil crianças a partir dos cinco anos na escola. “Hoje nos temos 4,6 milhões. Se o Pnud quiser, nós podemos informar o nome e a escola de cada uma delas”. Os números referentes à média de anos de escolaridade para a população com mais de 25 anos escolaridade, de acordo com Mercadante, também estão desatualizados. O relatório registra 7,2 anos, ante 7,4, na conta do ministro.

Nos últimos anos, o acesso à educação no Brasil vem crescendo de forma consistente em todos os níveis de ensino. Destaque para a universalização do ensino fundamental (6 a 14 anos), com 98,3%* das crianças nessa faixa etária frequentando a escola em 2011. Mas é preciso investir, qualificar professores, e chegar a 10% do PIB em investimento em Educação, bradam educadores. O Brasil, com uma população em idade escolar de 45.364.276 (2010) tem esta taxa de analfabetismo: na faixa de 10 a 14 anos: 1,9 % e na faixa de 15 ou mais: 8,6 %, segundo o IBGE. A faixa etária de 50 anos ou mais concentra, em 2011, 63,7% dos analfabetos; a faixa de 15 a 19 anos representa 1,6%; e a faixa de 20 a 29 anos, 5,9% dos analfabetos. O senador Cristovam Buarque critica: “Ao não fazer a universalização da educação completa o país tapa poços de conhecimento.”

FONTE INEP/MEC

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Professores protestam na Esplanada dos Ministérios por ensino de qualidade e para reivindicar a implantação efetiva do piso salarial do magistério em todo o país, e por 10% do PIB para a EducaçãoFOTO MARCELLO CASAL JR._ABR

B R A S I L

Número de escolas194.939 estabelecimentos de ensino básico

Alunos matriculados no ensino médio (2010)8.357.675. A rede estadual é responsável por 85,9% das matrículas, enquanto a rede privada tem 11,8%.

Alunos matriculados no ensino fundamental (2010)31 milhões de alunos, sendo 16,7 milhões nos anos iniciais e 14,2

milhões nos anos finais.

Alunos matriculados no ensino básico (2010)51,5 milhões, sendo que 43,9 milhões estudam nas redes públicas (85,4%) e 7,5 milhões em escolas particulares (14,6%).

Alunos matriculados no Ensino Profissional (2010)1,1 milhão

Alunos matriculados no Ensino Superior (2009)5,95 milhões, sendo 4,43 milhões em rede privada e 1,52 milhões

em rede pública

Internet47,4 mil escolas conectadas à Internet por meio do programa ProInfo até setembro de 2010

Acesso à internet no ensino fundamental Cobertura em 39% das escolas de anos iniciais e em 70% das escolas dos anos finais.

Acesso à internet no ensino médioCobertura de 94,3% das escolas

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Nesta entrevista com o professor Teodoro Soares, deputado, presidente da Comissão de Educação do parlamento estadual no Ceará, ideias para dar forma real às intenções e projetos políticos para o setor

Por Larissa Sousa

Natural de Reriutaba, José Teodoro Soares, o deputado Professor Teodoro (PSD) assume o segundo mandato como presidente da Comissão de Educação da Assembleia Legislativa do Ceará. Autor de vários livros sobre Educação, e ex-gestor e reitor de Universidade pública,

o Deputado Professor Teodoro continua pautando sua atuação parlamentar em prol da destinação de recursos federais adicionais para a educação. Compete a sua função na Casa cobrar melhorias no sistema educacional, fortalecer a política para a alfabetização na idade certa e fiscalizar as ações do poder público. A seguir a Fale! conversa com o deputado estadual, reitor da Universidade Estadual Vale do Acaraú (UVA) por 16 anos, sobre as ações na Assembleia, experiências no ensino e expectativas para a educação cearense.

Fale! Bom dia, deputado! Para entender melhor o seu posicionamento na Assembleia, qual sua formação acadêmica e profissional?

Teodoro Soares. Eu sou do interior de Reriutaba, perto de Sobral. Estudei no Seminário São José, de Sobral, de 1954 a 1959. Naquela época, quem dirigia a diocese de Sobral era Dom José, que é a grande referência da zona Norte. Ele foi considerado o patriarca, tudo que tem em Sobral, pode dizer que foi ele quem fez. Ele está presente em todos os recantos da cidade, porque ele pensou, sobretudo, a educação para os padres, um seminário de referência, um colégio em tempo integral com os padres, muitos deles formados em Roma. Quando ele morreu, eu estava terminando o meu seminário. Aí eu vim para Fortaleza, onde fiz o primeiro ano de Filosofia no Seminário da Prainha. Depois um grupo de 25 seminaristas se reuniu, e nós fomos estudar no recém-criado Seminário de Olinda e Recife. Eu terminei o segundo e o terceiro ano de Filosofia em Olinda. Aí o bispo tinha prometido me mandar para estudar em Roma. Eu fui estudar lá os quatro anos de Teologia. Quando eu terminei, deixei o seminário e fui estudar Ciências Políticas

em Paris. Onde eu fiz também um curso de Estudos Sociais.

Fale! Como o Sr. recebeu o relatório do movimento Todos pela Educação em que se revela a fraqueza do Ensino Médio no Brasil. Apenas 10% dos alunos terminam o curso dominando o conteúdo de Matemática. Em Português, 30% dos estudantes aprendem adequadamente a disciplina. O que o senhor acha desse relatório?

Teodoro Soares. O relatório veio de certa forma comprovar algo que nós já sabemos que acontece no país. Eu não sei se é displicência, mas há um medo dos estudantes com relação a essas matérias. E também não tem professor adequado. Ainda temos professores leigos nessas áreas de Matemática, Química, Física, Biologia. Falta professor qualificado para saber ensinar. E tem também esse ponto de estrangulamento em que o aluno começa o curso e não consegue terminar o terceiro ano, porque o currículo deveria ser adequado e atualizado, mas não é. Existe muito “decoreba” quando vai fazer o vestibular. É um adestramento. O aluno passa e depois esquece. As escolas não apelam para o raciocínio, enquanto que outros países já fizeram isso. Existe uma porção de matéria desnecessária. Poderia ter um currículo mais enxuto,

Educação

PARA A EDUCAÇÃOUM NOVO OLHAR

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como nos Estamos Unidos. Você aprende e você domina. E isso vai dar condições para que essa pessoa possa aprender. Há uma falha muito grande no que diz respeito à Matemática e ao Português. Em Português há um desleixo, falta seriedade em dar um curso de qualidade. Eu sempre dizia para os estudantes: aqui na universidade [UVA] basta vocês serem bons em Português! Se vocês souberem escrever, vocês vencem na vida. Não é mesmo? Outra falha é que os alunos não lêem! Tem que ler. Só aprende lendo. Um problema também é que a direção das escolas, às vezes, não é capacitada para dirigir. Eles não sabem gerir e não têm qualificação administrativa. Há uma evasão muito grande, professores leigos, sem universalização em todos os níveis. Um bom exemplo é a Alemanha, que não tem mais analfabeto. No Brasil tem analfabeto. Existe ainda 10% ou 20% dependendo da região. Conseguiu-se colocar na escola cerca de 97% dos alunos do primeiro grau, mas quando chega no nível médio, há o ponto de estrangulamento. O governo investiu, mas não melhorou o quanto deveria.

Fale! Como foi a experiência da implantação do Programa de Alfabetização na Idade Certa (Paic) em Sobral?

Teodoro Soares. Bem, o Paic está sendo usado em todo o estado do Ceará e agora também no Brasil, por conta da ideia que o Cid Gomes teve quando foi prefeito de Sobral em colocar a educação em primeiro lugar. O secretário Ivo Gomes, quando à frente da Secretaria do Desenvolvimento da Educação de Sobral, implantou o Paic. O

que foi feito lá foi transferido para Fortaleza e cada vez mais estamos vendo que esse é o caminho certo. Foi feito todo um trabalho de capacitação dos professores. Depois de um esforço de três anos, hoje, em Sobral, quando o aluno chega aos sete anos, pelo menos 87 a 90% já sabe ler e escrever. Recentemente a presidente assinou um acordo com o governador Cid Gomes para que este programa [Paic] se transforme num pacto, onde aos oito anos, os alunos aprendam a ler e a escrever. O estado todinho do Ceará adotou a metodologia feita em Sobral. Sobral está na frente de todas as cidades do Nordeste. E no Brasil, está entre as mais avançadas no que diz respeito à educação. Quer dizer, deu educação de qualidade, sobretudo educação básica.Hoje Sobral tem cerca de 14 a 16 mil alunos da universidade. Uma cidade universitária. A educação é

que transforma o homem. Fora da educação, não tem salvação. Você tem que realmente investir cada vez mais. Essa tem sido a luta que eu tenho feito depois que eu saí de lá e vim para cá, de lutar para que o Governo Federal gaste 10% do PIB em educação e transforme o país, gastando fortemente na educação.

Fale! Como a experiência de ser reitor da Universidade Estadual Vale do Acaraú (UVA) por 16 anos (1990-2006) lhe ajudou a pensar a educação cearense?

Teodoro Soares. Fiquei 16 anos na UVA para fazer o seu reconhecimento enquanto universidade e consegui o reconhecimento do governo Ciro Gomes em 1994. O meu projeto foi depois resultado de uma tese: A inclusão pela Educação. Consistia em levar para o interior os cursos que eram dados na capital, ou seja, a interiorização do ensino superior. A conjuntura foi tão boa que o projeto foi um sucesso. A UVA, a arquidiocese de Sobral e o prefeito, nós fizemos um trabalho muito bom na formação de professores. Eu levei a UVA para toda a região Norte. Hoje nós estamos em 140 municípios formando todos os professores, sobretudo profissionais para ensinar nos cursos de Pedagogia. Existiam 50 mil professores leigos, não-capacitados. Então eu bolei uma operação chamada ‘operação-guerra’, envolvendo o conselho de reitores, que eu era o presidente das universidades cearenses, a Uece, a UVA e a URCA com apoio da UFC, que deu grande aporte para que nós pudéssemos levar cursos superiores para Sobral. E então nós fomos criando novos cursos,

O relatório da ONG Todos pela Educação veio comprovar algo que nós já sabemos que acontece no país. Eu não sei se é displicência, mas há um medo dos estudantes com relação a essas matérias. E também não tem professor adequado.

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no total de 18. O êxito foi tão grande que os estados pediram para que a gente fizesse a mesma coisa. Então eu levei para outros estados: Maranhão, Pará, Rio Grande do Norte, Paraíba, Recife, Sergipe, Goiás, Amapá e também alguns cursos de especialização para o Piauí. No meu mandato eu devo ter formado, só aqui no Ceará, em torno de 60 mil professores.

Fale! Com relação à aplicação de recursos adicionais na educação, dez por cento do PIB é um valor adequado para se destinar?

Teodoro Soares. Pelo menos para poder recuperar. Os deputados estão querendo aprovar os 10%. Hoje o Brasil gasta 5,5% do PIB com educação. Tem que se universalizar a educação infantil. Na educação básica, já se colocaram jovens de 7 a 14 anos na escola, mas você tem que levar até o fim. E o grande ponto de estrangulamento é o ensino médio. Apenas metade dos alunos fora da idade certa consegue terminar. E isso é o problema que saiu recentemente nas estatísticas. O Brasil tem que colocar pelo menos 33% dos jovens de 18 a 24 anos na universidade, quando na realidade hoje, no Primeiro Plano Nacional de Educação, só conseguiu colocar em torno de 13 a 14%. A meta foi relançada para o segundo PNE, para que em 2020, possa se chegar a 33%, para poder aproximar-se da Argentina, do Chile. E mais na frente aproximar-se dos países europeus. Esses países já chegaram lá porque investiram na educação. O Brasil tem que investir mais e seriamente enfrentar esse problema do investimento. Tudo

que você investe na educação vem em dobro. Se você termina a universidade, você vai ter um lugar ao Sol, um lugar satisfatório na sociedade, porque você tem conhecimento. Hoje nós estamos vivendo a Sociedade do Conhecimento.

Fale! Quais as linhas da Comissão da Educação? O trabalho é pautado sob quais referências e prioridades?

Teodoro Soares. Na Comissão, nós estamos trabalhando e dando continuidade já à integração entre a Comissão da Assembleia com a Comissão da Câmara dos Deputados para aprovação do segundo Plano Nacional de Educação (PNE), que visa colocar 10% do PIB para a educação. Essa luta eu acho que a gente ganha. E também lutamos por alguns temas privilegiados, como a escola em tempo integral.

Eu estudei em uma escola de tempo integral, oito horas por dia. Um expediente só é pouco demais, você não tem condições de aprender. E depois do horário de aula a criança vai para a rua. Existem poucas escolas de tempo integral no Brasil. Mais recentemente eu também estou lutando para que haja mais prática, ou seja, que o sujeito que entre na universidade vá imediatamente fazer um estágio. Porque eu defendo que toda disciplina merece uma prática. Porque tem uma teoria, e essa teoria precisa ser testada na prática. Nós estamos fazendo isso com o projeto Rondon, onde os universitários aprendem e dão dimensão social à escola, quer dizer, inclusão pela educação. Esse estudante vai dar o contributo dele. Tem gente que está em uma situação pior que a dele, nem sabe ler nem escrever. Então temos lutado para que os alunos dêem seu contributo pelo assistencialismo àqueles que estão à margem da margem. Apresentei também projeto de capacitação de pessoas com deficiência, porque tem fundo. As pessoas podem ser mais capacitadas e os recursos não são empregados.

Fale! Outra questão também é a profissão professor. Hoje ela não é uma profissão tão atraente. O que o senhor acha que pode ser feito para melhorar a imagem do professor?

Teodoro Soares. Primeiro você teria que remunerar bem. Na Finlândia, o sujeito vai atrás de ser professor porque é a profissão mais procurada. É reconhecida pela sociedade. Eu aprovei aqui [na Assembleia] uma Semana Estadual de Valorização do

A família é importante para dar o suporte ao aluno mas também para cobrar dos professores que a escola cumpra o seu dever de transmitir um serviço educacional de qualidade.

Educação

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Educador. Esse profissional tem que ser valorizado, remunerado e reconhecido pela sociedade como a profissão das profissões. Ela que dá a oportunidade da pessoa progredir na vida.

Fale! Se o senhor pudesse elencar os fatores que empacam a qualidade do ensino brasileiro, qual ocuparia o primeiro lugar?

Teodoro Soares. Como eu disse, eu acho que tem que prestigiar o professor. Prestigiar não só a sua formação adequada como também a remuneração conveniente. O professor é mal remunerado, continua mal-remunerado e não é considerado pela sociedade. Isso é fundamental. Outro ponto é a falta de equipamentos. No caso, as escolas devem ser bem equipadas, com equipamentos audiovisuais, toda essa parte de internet, além do envolvimento do professor, do aluno e da família, além da formação dos diretores. A família é importante para dar o suporte e também cobrar dos professores que a escola cumpra o seu dever de transmitir um serviço de qualidade.

Fale! [interrompendo] Então o senhor acredita nessa aliança entre novas tecnologias e livros...

Teodoro Soares. Acredito. Eu tenho até um projeto para usar essas novas tecnologias no ensino. E também quero chamar a atenção para colocar uma placa com as notas que a escola recebe do Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) na frente da escola. Porque aí chama a atenção da sociedade onde está localizada a escola. E os alunos vão começar a insistir para que

eles cumpram o dever deles, de dar uma boa escola, de dar um ensino de qualidade para a sociedade. Existe a média do Estado e também a média da escola. Portanto pode se comparar as médias e saber se ela [média da escola] está abaixo ou acima. É uma forma de a sociedade cobrar melhoria na educação.

Fale! De um lado esses números alarmantes. Do outro lado, a fama dos cearenses em universidades de outros estados, escolas militares e institutos tecnológicos. Como explicar esse paradoxo? É resultado da boa educação para um número pequeno?

Teodoro Soares. Isso é a elite, que de certa forma, até impõe das escolas. Estas cobram caro e cooptam alunos de outras escolas. Dão bolsa, porque lá é

prestigiado. No meu colégio, era obrigado a ler de tarde e à noite. Você fazia teatro, fazia música. Outro ponto é esse: Nas escolas, deveria ter a disciplina de Artes, porque aí você trabalharia o homem integral, com uma parte de arte, uma parte de música. Houve uma mudança sem dúvida do governo nesses últimos 20 anos, mas a mudança tem que ser acelerada para provocar o que o país realmente precisa e recuperar o tempo perdido com relação a outros países.

Fale! Quais as expectativas com relação à educação cearense?

Teodoro Soares. Houve um avanço muito grande, principalmente com relação à experiência em Sobral, que foi muito exitosa em todos os sentidos. Eu cheguei até a escrever alguns artigos chamando Sobral de “A Cidade da Educação”. Houve uma confluência de vários atores e que produziu resultados a tal ponto que isso que foi feito lá [em Sobral] foi oferecido para outros municípios. Os municípios fizeram e deu resultado. E agora nacionalmente. Eu acho que isso é um resultado positivo, mas requer tempo. Os melhores resultados dessa pesquisa que foi citada estão nas séries iniciais, que é quando esse trabalho está sendo feito agora. Só vamos ver resultado no ensino médio daqui a uns quatro ou seis anos. Depois que houve o Paic lá em Sobral, só agora a cidade atingiu a média sete. É uma das 100 melhores cidades do Brasil em termos de desempenho da educação do Ideb. Aí o Cid agora jogou o Paic para todo o Ceará. Se o Paic der resultado, as notas boas também serão no ensino médio daqui a alguns anos. n

Tem muito ‘decoreba’ quando se estuda para fazer o vestibular. É um adestramento. O aluno é aprovado no exame e depois esquece absolutamente tudo.

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Educação

Neste artigo o autor afirma que fica impossível imaginar uma sociedade do conhecimento sem centros de pesquisa e sem um amplo sistema universitário com qualidade

Por Por Cristovam Buarque

Em 1961, os EUA definiram a meta de enviar um homem à lua no prazo de dez anos. Cinquenta e dois anos depois, o governo brasileiro definiu a meta de alfabetizar suas crianças de oito anos até 2022. Talvez nada demonstre mais o nosso atraso do que a

diferença entre essas duas metas. E o governo comemora com fanfarras, ao invés de pedir desculpas pelo atraso do Brasil.

Nesta segunda década do século XXI, os países que desejam estar sintonizados com o futuro têm como metas, entre outras, a conquista do espaço, o entendimento das ciências biológicas, o desenvolvimento de técnicas nas telecomunicações, a implantação de sistemas industriais sintonizados com os avanços técnicos.

Fica impossível imaginar uma sociedade do conhecimento sem centros de pesquisa e um amplo sistema universitário com qualidade. Isto só é possível se a educação de base for de alta qualidade para todos. E isto é impossível sem a alfabetização universal e completa em idades precoces, que garantam não apenas o controle dos códigos alfabéticos, mas também leituração e domínio das bases da matemática. Na economia do conhecimento, nenhuma sociedade pode deixar de desenvolver o potencial do cérebro de cada um de seus habitantes desde os primeiros anos, desde a alfabetização.

Mas não é isso o que vem acontecendo com o Brasil. Ao não fazer a universalização da educação completa o país tapa poços de conhecimento.

Igualmente atrasado é o caminho usado para enfrentar o problema da deseducação, com o velho truque publicitário: um pacto entre partes incapazes de levar a meta adiante. Imagine os EUA fazendo um pacto entre seus estados para ver qual deles chegaria à lua, ao invés de usar a NASA federal.

Se o Brasil deseja recuperar seu atraso, deve definir metas nacionais ambiciosas: todas as crianças na escola em horário integral, com professores muito bem preparados e dedicados, o que exige elevados salários, em escolas com os mais modernos

PROVA DO ATRASOequipamentos pedagógicos, em todo o território nacional, desde os mais ricos aos mais pobres municípios, atendendo igualmente as crianças mais ricas e as mais pobres.

Isto não se consegue por meio de pactos ilusórios, assinados sem qualquer compromisso real das partes, especialmente entre partes tão desiguais, que levam os pactos a parecer caricaturais.

A única maneira de recuperar os séculos perdidos no passado para dar o salto que o Brasil precisa no futuro é envolver diretamente a União na implantação de um novo sistema educacional para, ao longo de poucos anos, substituir o atual sistema estadual e municipal por um sistema federal. Isto exige mais do que um pacto ilusório. Exige uma espécie de federalização da responsabilidade e da construção do novo sistema educacional.

O Brasil não dará o salto educacional, e sem este não haverá os outros, sem um governo federal que empolgue o país com a meta de, em 20 ou 30 anos, ter uma educação de qualidade comparável à dos países mais educados do mundo. Isto é possível e é preciso. n

Cristovam Buarque é professor da Universidade de Brasília e senador pelo PDT-DF