faculdade de humanidades e direito -...

95
UNIVERSIDADE METODISTA DE SÃO PAULO FACULDADE DE HUMANIDADES E DIREITO PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS DA RELIGIÃO ROBERTO DE JESUS SILVA Perspectivas hermenêuticas de Isaías 45,1-7: Uma análise do título messiânico atribuído a Ciro. São Bernardo do Campo 2013

Upload: duongkien

Post on 09-Nov-2018

214 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

  • UNIVERSIDADE METODISTA DE SO PAULO

    FACULDADE DE HUMANIDADES E DIREITO

    PROGRAMA DE PS-GRADUAO EM CINCIAS DA RELIGIO

    ROBERTO DE JESUS SILVA

    Perspectivas hermenuticas de Isaas 45,1-7: Uma

    anlise do ttulo messinico atribudo a Ciro.

    So Bernardo do Campo

    2013

  • UNIVERSIDADE METODISTA DE SO PAULO

    FACULDADE DE HUMANIDADES E DIREITO

    PROGRAMA DE PS-GRADUAO EM CINCIAS DA RELIGIO

    ROBERTO DE JESUS SILVA

    Perspectivas hermenuticas de Isaas 45,1-7: Uma

    anlise do ttulo messinico atribudo a Ciro.

    So Bernardo do Campo

    2013

    Orientador: Prof. Dr. Trcio Machado Siqueira

    Dissertao de Mestrado apresentado em

    cumprimento parcial s exigncias do Programa

    de Ps-Graduao em Cincias da Religio, para

    obteno do grau de Mestre.

  • FICHA CATALOGRFICA

    Sil38p

    Silva, Roberto de Jesus

    Perspectivas hermenuticas de Isaas 45, 1-7: uma anlise do ttulo

    messinico atribudo a Ciro / Roberto de Jesus Silva -- So Bernardo

    do Campo, 2013.

    93p.

    Dissertao (Mestrado em Cincias da Religio) Faculdade de

    Humanidades e Direito, Programa de Ps Cincias da Religio da

    Universidade Metodista de So Paulo, So Bernardo do Campo

    Bibliografia

    Orientao de: Trcio Machado Siqueira

    1. Bblia A.T. Isaas Crtica e interpretao I. Ttulo

    CDD 224.107

  • A dissertao de mestrado sob o ttulo Perspectivas hermenuticas de Isaas 45,1-7:

    Uma anlise do ttulo messinico atribudo a Ciro, elaborada por Roberto de Jesus

    Silva foi apresentada e aprovada em 07 de Maro de 2013, perante banca composta por

    Prof. Dr. Trcio Machado Siqueira (Presidente/Umesp), Dr. Jos Ademar Kaefer

    (Titular/Umesp) e Prof. Dr. Jos Carlos Frizzo (Titular/Dehoniana).

    __________________________________________________

    Prof. Dr. Trcio Machado Siqueira

    Orientador e Presidente da Banca Examinadora

    __________________________________________________

    Prof. Dr. Leonildo Silveira Campos

    Coordenador do Programa de Ps-Graduao

    Programa: Ps-Graduao em Cincias da Religio.

    rea de Concentrao: Literatura e Religio no mundo Bblico.

    Linha de Pesquisa: Estudos Histricos Literrios do mundo Bblico.

  • AGRADECIMENTOS

    A Jesus Cristo, pela fora e inspirao.

    Ao professor, orientador e amigo Dr. Trcio Machado Siqueira, por sua pacincia,

    compreenso e amizade.

    A minha querida esposa Marinalda e meus filhos Vitria e Filipe por seu apoiou.

    A todos os funcionrios do curso de Ps-Graduao em Cincias da Religio, pela

    gentileza.

    Aos meus amigos, em especial SueHellen Monteiro de Matos, lcio Valmiro Sales

    Mendona pelo incentivo e companheirismo neste perodo acadmico.

  • Esta dissertao contou com o apoio do CAPES

  • SILVA, Roberto de Jesus. Perspectivas hermenuticas de Isaas 45,1-7: Uma anlise do

    ttulo messinico atribudo a Ciro. So Bernardo do Campo: Umesp, 2013. Dissertao

    (Mestrado em Cincias da Religio) Faculdade de Humanidades e Direito,

    Universidade Metodista de So Paulo (Umesp).

    RESUMO

    O livro do profeta Dutero-Isaas aborda que Jav vem consolar seu povo exilado na

    Babilnia. O rei estrangeiro Ciro, no texto de Is 45,1-7 intitulado de Messias de Jav.

    Portanto, esta pesquisa tem como objetivo refletir sobre o ttulo messinico atribudo ao

    rei Ciro, no contexto do exlio babilnico. Para isto, analiso algumas contribuies de

    diversos autores e autoras da rea bblica, explorando a diversidade de pesquisas sobre

    este tema.

    H muitas interpretaes sobre o significado do ttulo messinico atribudo ao rei

    Ciro, entre elas, h quem define Ciro como o Messias de Jav, ou seja, Ciro como

    libertador dos exilados e no como o substituto da esperana messinica em um Messias

    proveniente da casa de Davi.

    Neste trabalho, discuto ainda a esperana messinica, manifesta no perodo exlico e

    ps-exlico, destacando a f que as comunidades messinicas exerciam nestes perodos.

    Enfim, analiso o messianismo das comunidades ps-macabaicas e neo-testamentrias na

    tentativa de descobrir se Ciro era uma figura messinica, nestes perodos.

    Palavras Chaves: Orculo de Libertao, Ciro, Messias, Ungido de Jav, Esperana

    Messinica.

  • SILVA, Robert de Jesus. Hermeneutic perspectives of Isaiah 45,1-7: An analysis of the

    messianic heading attributed the Cyrus. So Bernardo do Campo: Umesp, 2013.

    Dissertation (Masters degree in Sciences of Religion) Faculdade de humanidades e

    Direito, Universidade Metodista de So Paulo (UMESP).

    ABSTRACT

    The book of the prophet Dutero-Isaiah approaches that Jav comes to console its

    people exiled in Babylonia. Foreign king Cyrus, in the text of Is 45,1-7 is intitled of

    Messiahs de Jav. Therefore, this research has as objective to reflect on the messianic

    heading attribution to king Cyrus, in the context of the Babylonian exile. For this, I

    analyze some contributions of diverse authors and authors of the Biblical area,

    exploring the diversity of analyses on this subject.

    It has many interpretations on the meaning of the messianic heading attributed to

    the king Cyrus, between them, it has who defines Cyrus as the Messiahs de Jav, that is,

    Cyrus as liberating of the exiled ones and not as the substitute of the messianic hope in a

    Messiahs proceeding from the house of David. In this work, I still argue has messianic

    hope, manifest in the exilic period and after-exilic, detaching the faith that the messianic

    communities exerted in these periods. At last, I analyze the messianic of the neo-

    testamentary communities after-macabaicas and in the attempt discovering if Cyrus was

    one messianic figure, in these periods.

    Keys - Words: Oracle of Release, Cyrus, Messiahs, Yahweh to his anointed, Messianic

    Hope.

  • SUMRIO

    Sinopse............................................................................................................................ 09

    Abstract........................................................................................................................... 10

    Introduo....................................................................................................................... 11

    1 Contexto Histrico do Dutero-Isaas................................................................... 14

    Consideraes introdutrias..................................................................................... 14

    1.1 O Dutero-Isaas e o domnio babilnico........................................................... 15

    1.2 Situao dos que ficaram em Jud...................................................................... 16

    1.3 O Dutero-Isaas e o domnio persa................................................................... 17

    1.4 Ciro na histria e no Dutero -Isaas.................................................................. 17

    1.4.1 Ciro na historiografia de Herdoto......................................................... 17

    1.4.2 Ciro no livro do Dutero-Isaas.............................................................. 18

    1.5 O Dutero-Isaas e a f no Messias.................................................................... 20

    1.5.1 A esperana messinica no Antigo Testamento..................................... 21

    1.5.2 Ciro Messias e libertador dos exilados................................................... 22

    1.5.3 As duas tradies messinicas do perodo do Antigo Testamento......... 23

    1.5.4 O judasmo ps-exlico........................................................................... 26

    1.5.5 Ciro no judasmo ps-exlico.................................................................. 26

    1.5.6 A influncia da cultura e religiosidade persa no judasmo

    ps-exlico.............................................................................................. 27

    1.5.7 Ciro e a religiosidade dos povos conquistados....................................... 27

    1.5.8 Consideraes conclusivas do captulo 1............................................... 28

    2 Anlise Exegtica de Isaas 45,1-7........................................................................ 29

    Consideraes introdutrias.................................................................................... 29

    2.1 Percope de Isaas 45,1-7: Texto em hebraico................................................... 30

    2.2 Traduo literal de Isaas 45,1-7........................................................................ 31

    2.3 Crtica Textual.................................................................................................... 32

    2.4 Caractersticas formais....................................................................................... 33

  • 2.4.1 Delimitao do texto.................................................................................. 33

    2.4.2 Coeso interna........................................................................................... 34

    2.4.3 Estilo.......................................................................................................... 34

    2.4.4 Gnero....................................................................................................... 35

    2.5 Lugar................................................................................................................... 37

    2.6 Contedo............................................................................................................. 40

    2.6.1 Ciro o Messias de jav (v.1)...................................................................... 41

    2.6.2 O decreto de Ciro....................................................................................... 41

    2.5.3 Eu seguirei diante da tua face (v.2)........................................................... 41

    2.6.4 Tesouros e riquezas ao Messias de Jav v. 3............................................. 43

    2.6.5 Por causa do meu servo Jac e de Israel, meu escolhido, eu te chamei

    (v. 4)..................................................................................................................... 43

    2.6.6 Ciro, o cingido de Jav............................................................................... 44

    2.6.7 A capacidade criativa de Jav (v.7)............................................................ 45

    2.6.8 Consideraes conclusivas do segundo captulo..................................... 46

    3 - Perspectivas Hermenuticas.............................................................................. 47

    Consideraes introdutrias................................................................................. 47

    3.1 Ciro e os Cnticos do Servo de Jav (Is 42,1-9; 49,1-6; 52,13-53,12)........... 47

    3.2 Ciro, enviado de Marduk................................................................................ 51

    3.3 Ciro e a restaurao da comunidade judaica na Palestina.............................. 52

    3.3.1 A poltica de Ciro e o edito da restaurao............................................ 53

    3.3.2 A primeira leva de retornantes............................................................... 54

    3.3.3 A segunda leva de retornantes............................................................... 55

    3.3.4 O fim da monarquia davdica................................................................ 56

    3.3.5 A ideologia sacerdotal como uma raiz da expectativa messinica........ 57

    3.3.5.1 As expectativas messinicas do judasmo ps-exlico................... 58

    3.3.5.2 O Messias na literatura inter-testamentria.................................... 58

    3.3.5.3 O Messias nos escritos de Qumran................................................. 60

    3.3.5.4 Melquisedek como figura messinica de Qumran.......................... 61

    3.3.5.5 O Messias de Efraim....................................................................... 64

    3.3.5.6 O Messias efraimita na tradio crist............................................ 66

    3.3.5.7 O messianismo a partir de grupos religiosos do perodo

    ps-macabaico: Fariseus, saduceus, zelotes e herodianos............ 68

  • 3.3.5.8 O messianismo na literatura neo-testamentria................................. 74

    3.3.5.9 Consideraes conclusivas do terceiro captulo................................ 79

    Concluso...................................................................................................... 80

    Bibliografia.................................................................................................... 83

    Anexo............................................................................................................. 91

  • INTRODUO

    O livro de Isaas, mais especificamente os captulos 40-55, conhecidos como

    Dutero-Isaas, uma obra prima da literatura bblica do Antigo Testamento1.

    De acordo com Sotelo2, o mrito da leitura dos captulos 40-55, lidos separadamente

    dos captulos 1-39, cabe ao telogo alemo Bernahard Duhm, em 1892, em seu

    comentrio de Isaas.

    Este comentrio deu origem s descobertas sobre a composio da obra do livro de

    Isaas. Duhm foi o primeiro a separar o livro do profeta Isaas em: Isaas de Jerusalm,

    tambm conhecido como Isaas histrico, Proto-Isaas ou 1 Isaas.

    Para Schwantes3, o profeta Dutero-Isaas, cujo nome desconhecido, no sabia

    nada referente conquista persa sobre a Babilnia, em 539 a.C. Portanto, o profeta

    escreveu os captulos 40-55 no final do exlio em meados do sculo IV a.C.

    Segundo Jensen4, um dos temas enfatizados pelo profeta a libertao dos exilados,

    para tanto, o profeta enderea aos cativos orculos de libertao e esperana no objetivo

    de encoraj-los, pois Jav utilizar o rei persa Ciro como seu Messias (Isaas 45,1).

    Ou seja, como seu instrumento para derrotar a Babilnia, e assim libertar Jud do

    cativeiro.

    A respeito do ttulo messinico atribudo a Ciro, Seybold5 ressalta que o autor

    dutero-isainico no tinha inteno de substituir a esperana que os exilados tinham de

    um Messias, proveniente da casa de Davi, descrito pela tradio messinica de

    Jerusalm como um guerreiro e aludido pela tradio messinica dos interioranos de

    Jud como um pastor, servo.

    Seybold sugere que o ttulo messinico atribudo ao rei Ciro fora conferido em

    momento de empolgao do profeta, como tambm dos exilados que enxergaram em

    Ciro a possibilidade de regressar para Jerusalm.

    1 Jos Severino Croatto, Isaas A palavra Proftica e sua releitura hermenutica: VolI. A libertao

    possvel. 1 ed. Rio de Janeiro: Vozes, 1998, p. 9. 2 Daniel Sotelo. Teologia da Retribuio e da esperana no Exlio/Coleo Histria de Israel Vol. 4. 1

    ed. So Paulo: Fonte Editorial, 2012, p. 41. 3 Milton Schwantes. Sofrimento e Esperana no Exlio: histria e teologia do povo de Deus no sculo Vl a.C. So Paulo: Paulinas. So Leopoldo: Sinodal, 1987, p. 92-94. 4 Jos Jensen. Dimenses ticas dos profetas. 1 ed. Edies Loyola: 2009, p. 199-201. 5 K. Seybold, mashah, Em: Theological Dictionary of the Old Testament. Vol. IX. Grand Rapids/

    Cambridge: Willian B. Eerdmans Publishing Company, 2004, p. 43-54.

  • 12

    Tambm possvel constatar que nas tradies messinicas dos perodos vetero-

    testamentrio, inter-testamentrio e neo-testamentrio no h meno de Ciro como

    Messias de Jav.

    Por tanto, esta dissertao se prope a apresentar novas perspectivas hermenuticas

    sobre o messianismo de Ciro, a partir da percope de 45,1-7 que est inserida no livro do

    profeta dutero-isainico.

    Os relatos do Dutero-Isaas mostram claramente como a comunidade exilada foi

    encorajada pelo profeta que no se cansou de enderear orculos de salvao e

    libertao para os cativos que observaram os avanos militares de Ciro como uma ao

    de Jav, a fim de abater a Babilnia e libertar seu povo do exlio.

    Para tanto, foi trabalhado os encaminhamentos da exegese histrico-crtica e sua

    contribuio para o estudo das caractersticas messinicas desenvolvidas nas tradies

    decorrentes no Antigo Testamento, Novo Testamento, textos de Qumran e textos do

    perodo Inter-Testamentrias.

    Esta dissertao pretende discutir o tema proposto em trs captulos:

    O primeiro captulo intitulado Contexto Histrico do Dutero-Isaas, trabalha o

    cenrio histrico em que o profeta viveu, a conquista babilnica sobre o reino sulista, as

    deportaes dos judeus bem como a situao dos remanescentes em uma Jud destruda,

    desmilitarizada e desurbanizada.

    Tambm discutiremos a dominao dos persas liderados pelo rei Ciro sobre os

    Babilnicos em 539 a.C. Para tanto investigou-se na historiografia de Herdoto6 a

    histria de Ciro bem como a importncia do imperador para a comunidade exilada e

    para o Dutero-Isaas.

    Ainda no primeiro captulo, foi discutido sobre a f e a esperana messinica

    apresentada no Dutero-Isaas como tambm, a linguagem messinica utilizada pelas

    duas tradies messinicas do perodo vetro-testamentrio, mais especificamente a de

    Jud e Jerusalm. Isto porque existiram duas tradies teolgicas no Sul e cada uma

    elaborava de forma diferente o messianismo.

    6 Herdoto. O Relato Clssico da Guerra entre Gregos e Persas. 2 ed. So Paulo: Prestgio, 2001, p.

    111-129.

  • 13

    Ainda no captulo 1 discutiu-se sobre a influncia de Ciro no judasmo ps-exlico

    como tambm a influncia da cultura e da religiosidade persa no judasmo ps-exlico.

    Por fim, investigamos a tolerncia de Ciro diante a religiosidade dos povos

    conquistados.

    O segundo captulo, denominado Anlise Exegtica de Isaas 45,1-7, utilizamos o

    instrumental exegtico para anlise da percope de Isaas 45,1-7. Os encaminhamentos

    exegticos so apresentados a partir dos seguintes passos:

    Traduo literal da percope mantendo exatamente uma sequncia original do texto.

    Aps a traduo, notificamos a crtica textual, demonstrando os acrscimos do texto da

    LXX. Por fim, trabalhamos os aspectos formais do texto, a partir dos seguintes passos:

    delimitao, coeso interna, gnero e lugar.

    No terceiro passo da nossa exegese, trabalhamos o contedo, a fim de adequar a

    traduo literal, retomar as perspectivas do estilo desenvolvidas na forma e a

    contextualizao histrica da percope.

    Estes passos so apresentados a fim de contribuir na interpretao do ttulo messinico

    atribudo ao rei Ciro apresentando nesta sub-unidade.

    No terceiro captulo, intitulado Perspectivas Hermenuticas, estudamos a relao

    de Ciro e os cnticos do Servo de Jav no Dutero-Isaas (Is 42,1-9; 49,1-6; 52,13-

    53,12), a importncia que Ciro e os babilnicos deram a Marduk, o amparo financeiro

    que Ciro concedeu para a primeira remessa de Judeus que voltaram para Jerusalm, os

    anos de dificuldade que os judatas passaram em Jerusalm, as expectativas messinicas

    do judasmo ps-exlico, destacando o messianismo na literatura inter-testamentria,

    especificamente nos escritos qumrnicos.

    Tambm discutimos sobre o Messias Efraimita na Tradio Crist como tambm o

    messianismo a partir de grupos religiosos do perodo ps-macabaico, a saber: Fariseus,

    saduceus, zelotes e herodianos na de achar Ciro como figura messinica destes grupos

    religiosos. Por fim, procuramos identificar a figura messinica de Ciro, nos escritos neo-

    testamentrios e na anlise dos termos Filho do Homem e Filho de Deus, atribudos

    ao Messias no Novo Testamento.

  • 14

    1. CONTEXTO HISTRICO DO DUTERO- ISAAS

    Consideraes introdutrias

    O termo Messias, no Antigo Testamento, passou por muitas transformaes at

    chegar ao conceito predominante da atualidade, do O Messias Escatolgico, ou seja,

    algum em que se projeta um futuro.

    Neste sentido, o Messias um Salvador, que se dispe a salvar o povo da

    situao em que se encontra.

    Foram desenvolvidas tradies messinicas no perodo do Antigo Testamento e

    estas tradio se tornaram motivo de esperana em meio a crises constantes,

    principalmente entre o ano 550-540 a.C. onde situamos as profecias dutero-isainicas.

    Portanto, apontaremos os acontecimentos que ocorreram no perodo em que a

    Babilnia liderada pelo rei Nabucodonosor, conquistou a Judeia e a situao dos

    remanescentes que ficaram em Jud.

    Tambm notificaremos o perodo em que os persas, liderados pelo rei Ciro,

    conquistaram a Babilnia e libertaram os exilados, especialmente, como o profeta

    dutero-isainico anunciou Ciro para os exilados.

    Tambm salientaremos sobre a f que os exilados portavam no Messias, e como

    o rei estrangeiro Ciro foi intitulado de Messias pelo profeta (Is 45,1).

    Enfim, estudaremos as tradies messinicas que percorriam o Antigo Testamento,

    a influncia da religiosidade persa no judasmo ps-exlico, a tolerncia de Ciro no que

    se refere religiosidade dos povos conquistados e a influncia da cultura e da

    religiosidade dos persas no conceito de messianismo no perodo ps-exlico. Por fim,

    encerramos o captulo com as consideraes conclusivas onde conclumos os principais

    assuntos.

  • 15

    1.1 O Dutero-Isaas e o domnio babilnico

    De acordo com Schmidt7 a produo do Dutero-Isaas aparece na poca tardia ao

    exlio, aproximadamente entre 550-540 a.C. Schwantes8 notifica que o livro foi redigido

    por um ou vrios profetas annimos que atuaram entre os judeus exilados na Babilnia.

    Segundo Gottwald9, o Trito-Isaas (Is 56-66) foi o redator do Dutero-Isaas (Is 40-

    55). No entanto, os escassos sinais de redao no Dutero-Isaas no favorecem esta

    opinio.

    O profeta dutero-isainico anuncia seus orculos de salvao para judeus exilados.

    Donner10

    menciona que o exlio se sucedeu aps 597 e 587 a.C. esta invaso babilnica

    mencionada por Bright11

    , o qual afirma que aps 597 a.C. os babilnicos invadiram

    Jud e as cidades de Laquis e Dabir , onde as mesmas foram tomadas de assalto e

    violncia de forma que os nobres e a elite da religio foram deportados para Babilnia.

    Foi em 587 a.C. que Nabuzard, comandante da guarda de Nabucodonosor chegou

    em Jerusalm e cumpriu ordens de incendiar a cidade e derrubar suas muralhas. Nesta

    ocasio o templo, o palcio e as casas foram saqueados e queimadas (2 Rs 25,9).

    Alguns oficiais civis e cidados eminentes foram levados diante de Nabucodonosor em

    Rebla, e ali foram executados (2 Rs 25,18-21; Jr 52,24-27), enquanto outro grupo da

    populao era deportada para Babilnia12

    .

    Segundo Provin13

    , os babilnicos nomearam Godolias para governar os pobres

    remanescentes de Jud (2 Rs22,12.14; Jr 26,24). O profeta Jeremias e o governador

    Godolias se reuniram numa tentativa de salvar o povo (Jr 40,24).

    7 Werner H. Schmidt. Introduo ao Antigo Testamento. So Leopoldo: Sinodal, 2009, p. 245.

    8 Milton Schwantes, Sofrimento e Esperana no Exilo Histria e Teologia do Povo de Deus no sculo

    VI A.C. 1 ed. So Leopoldo: Sinodal, 1987, p. 92. 9 Norman K. Gottwald. Introduo Socioliterria Bblia Hebraica. 1 ed. So Paulo: Paulus, 1998, p.

    459. 10

    Herbert Donner. Histria de Israel e dos povos vizinhos. 5 ed. So Leopoldo: Sinodal, 2005, p. 413-

    414. 11

    John Bright. Histria de Israel. 9. ed. So Paulo: Paulus, 2003, p. 394. 12

    John Bright. Histria de Israel. 9. ed. So Paulo: Paulus, 2003, p. 397. 13

    Genildo Provin. Libertao nas Trilhas da Justia: Estudo histrico e hermenutico de Isaas 42,1-4.

    Dissertao de Mestrado Universidade Metodista: So Bernardo do Campo, 2008, p. 32.

  • 16

    Em 582 a.C., um grupo que pretendia restabelecer a monarquia assassinou Godolias

    e com isto muitos ficaram com medo, deixaram a ptria e fugiram para o Egito, levando

    consigo o profeta Jeremias (2 Rs 25,22-26; Jr 42-44).

    1.2 Situao dos que ficaram em Jud

    Provin14

    menciona que os judeus deportados em 587 a.C. no tiveram o mesmo

    tratamento dos exilados de 597 a.C., pois, muitos morreram de fome e outros espada.

    J Colli15

    notifica que os remanescentes que ficaram em Jud eram pobres,

    camponeses , gente simples que no representava ameaas ao imprio, e se uma vez se

    rebelassem seriam facilmente controlados.

    De acordo com Schwantes16

    , foram cercas de 15 mil pessoas exiladas, no entanto a

    maioria das pessoas de Jud no foi deportada, mas permaneceram na terra.

    Colli17

    ainda ressalta que a Palestina foi completamente arrasada pelos babilnicos

    no havia mais cidades inteiras e a estimativa dos que ficaram no territrio de Jud deve

    se aproximar de 100 mil.

    Pouco se sabe sobre os remanescentes que ficaram em Jud durante o exlio

    babilnico. Nos poemas do livro de Lamentaes possvel identificar um estado de

    misria em Jerusalm e Jud.

    O povo havia perdido a maior parte de sua liderana poltica e religiosa, restaram

    somente misria e problemas sociais.

    Aps o assassinado do governador Godolias os babilnicos deixaram Jud

    desmilitarizada e desurbanizada isto permitiu um processo de retribalizao de Jud,

    onde os camponeses viviam conforme os costumes clnicos-tribais18

    .

    14

    Genildo Provin. Libertao nas Trilhas da Justia: Estudo histrico e hermenutico de Isaas 42,1-4.

    Dissertao de Mestrado Universidade Metodista: So Bernardo do Campo, 2008, p. 33. 15

    Gelci Andr Colli. Dinmicas Profticas no Prlogo de Dutero-Isaas: Exegese de Isaas 40,1-11.

    Dissertao de Mestrado Universidade Metodista: So Bernardo do Campo, 2006, p. 22. 16

    Milton Schwantes, Sofrimento e Esperana no Exilo Histria e Teologia do Povo de Deus no sculo

    VI A.C. 1 ed. So Leopoldo: Sinodal, 1987, p. 74. 17

    Gelci Andr Colli. Dinmicas Profticas no Prlogo de Dutero-Isaas: Exegese de Isaas 40,1-11.

    Dissertao de Mestrado Universidade Metodista: So Bernardo do Campo, 2006, p. 22. 18

    Ildo Bohn Gass. Uma Introduo Bblia: Exlio Babilnico e Dominao Persa. 2 ed. So

    Leopoldo/So Paulo: CEBI/Paulus, 2005, p. 21-23.

  • 17

    1.3 O Dutero-Isaas e o domnio persa

    Schwantes19

    chama a ateno, aludindo que os persas arrancaram dos babilnicos a

    dominao da Mesopotmia e permaneceram no poder aproximadamente por 200 anos.

    Segundo Herdoto20

    em 539 a.C. o rei persa Ciro, conquistou a Babilnia,

    desviando as guas do rio Eufrates para um lago previamente escavado.

    As guas do rio escoaram-se e o leito do rio facilitou a passagem. Ciro e seu excito

    entraram na cidade, com as guas na altura da coxa surpreenderam os babilnicos e

    assim, conquistam a cidade.

    1.4 Ciro na histria e no Dutero-Isaas

    1.4.1 Ciro na historiografia de Herdoto

    Segundo Herdoto21

    , Ciro foi o fundador do Imprio Prsia, aquemnida, ele era

    bisneto de Teispes, neto de Ciro I e filho de Cambises I, com a princesa Mandane a

    filha do rei Astages. Ciro nasceu aproximadamente no ano 600 a.C., se casou com

    Cassandane uma mulher aquemnida filha de Farnaspes e irm de Otanes.

    Na morte de Cassandane, Ciro ordenou que todos os seus sditos fizessem um

    grande pranto. H um relato na Crnica de Nabonido22

    , rei da Babilnia, que quando a

    esposa do rei morreu, houve luto oficial na Babilnia em 538 a.C. o que indica, muito

    provavelmente, que foi a morte de Cassandane que estava sendo lamentada. Quando

    Ciro conquistou a Mdia, casou-se com Amytis, filha do rei Astages, aps assassinar o

    esposo desta para legitimar-se como rei da Mdia.

    19

    Milton Schwantes. Breve Histria de Israel. So Leopoldo: Oikos, 2008, p. 59. 20

    Herdoto. O Relato Clssico da Guerra entre Gregos e Persas. 2 ed. So Paulo: Prestgio, 2001, p.

    165-166. 21

    Herdoto. O Relato Clssico da Guerra entre Gregos e Persas. 2 ed. So Paulo: Prestgio, 2001, p. 111-129. 22

    Disponvel em: http://cronologiadabiblia.wordpress.com/2011/05/10/a-cronica-de-nabonido-de-556-

    ac-a-554-ac/. Acesso dia 18/12/2012.

    http://cronologiadabiblia.wordpress.com/2011/05/10/a-cronica-de-nabonido-de-556-ac-a-554-ac/http://cronologiadabiblia.wordpress.com/2011/05/10/a-cronica-de-nabonido-de-556-ac-a-554-ac/

  • 18

    Herdoto salienta que Astages comeou a perseguir o filho da princesa Mandane, o

    pequeno Ciro, devido um sonho que ele teve com Mandane. Herdoto notifica que os

    adivinhos do rei Astages interpletaram o sonho e afirmaram que Mandane, teria um

    filho que acabaria com a disnastia dos medas. Astages ordenou que seu servo Harpargo

    matasse o filho da princesa Mandane, isto Ciro.

    Harpargo passou esta responsabilidade para seu servo Mitridade, que no cumpriu a

    orderm e cuidou da criana como se fosse seu filho. De acordo com Herdoto com o

    passar do tempo, o rei Astages descobriu que sua ordem no foi cumprida.

    Astages pediu novo conselho a seus magos, e ele foi aconselhado a enviar a criana

    para Prsia onde j estavam Cambises e Mandane. Ciro foi recepicionado por seus pais,

    os quais o criaram e no ano 559 a.C., foi aclamado rei da Prsia.

    Ciro lutou contra Astages, rei da Mdia em 550 a.C., e o venceu, poupou sua a

    vida, mas marchou para a capital da Mdia, Ecbtana, e tomou o controle do vasto

    territrio dos medas. A Mdia tinha vivido no auge do poder nos reinados de Ciaxares

    em 625 a 585 e no reinado de Astages de 585 a 550 a.C. Ciro tambm venceu Greso rei

    da Ldia em 546 a.C., mas sua grande conquista foi a vitria sobre Belsazar prncipe da

    Babilnia em 539 a.C.

    O prncipe Belsazar foi assassinado e Ciro conquistou a Babilnia, os Judeus

    exilados na Babilnia estavam prestes a retornar para Jerusalm, esta informao pode

    ser vista nos livros de (II Crnicas 36, 22-23) e (Esdras 1, 2-3).

    1.4.2 Ciro no livro do Dutero-Isaas

    Para Schwantes23

    e Brueggemann24

    , o autor do Dutero-Isaas atribui a Jav, os

    avanos militarem de Ciro para que o rei persa viesse libertar seu povo do cativeiro.

    Schwantes menciona que Ciro, desempenha um papel de destaque no Dutero-Isaas. A

    ele diz respeito: Isaas 41,1-5; 41,25-26; 44,24-45,1-7.

    O autor dutero-isainico sada Ciro, chamando-o de Ungido (Is 45,1) e notifica

    que seus avanos militares ocorreram por amor do meu servo Jac (Is 45,4), ou seja,

    por causa dos exilados. 23

    Milton Schwantes, Sofrimento e Esperana no Exilo Histria e Teologia do Povo de Deus no sculo VI A.C. 1 ed. So Leopoldo: Sinodal, 1987, p. 99. 24

    Walter Brueggemann, Isaiah 40-66. Louisville: Westminster Bible Companion, 1998, p. 75-76.

  • 19

    Afirma Croatto25

    , que o Dutero-Isaas utiliza uma linguagem proveniente de uma

    longa tradio Mesopotmica sobre o rei como pastor dos povos, pelo fato de o

    profeta chamar Ciro de pastor de Jav, (Is 44,28). O prprio rei Nabucodonosor

    chamava a si mesmo de teu (de Marduc) fiel pastor.

    Croatto notifica que, a figura de Ciro muito importante no Dutero-Isaas, pois a

    ele atribudo o orculo de salvao, visto na percope de Isaas 45,1-726

    .

    Em Esdras 1,1-4 o autor menciona que Ciro concedeu a liberdade para a primeira

    remessa de exilados. Segundo Kaefer27

    , os judeus que voltaram do exlio trabalharam na

    reconstruo da cidade de Jerusalm e tambm do templo.

    O fato dos judeus exilados esperarem que Ciro os libertasse do cativeiro babilnico

    e ordenasse que eles regressassem a Jerusalm para reconstrurem a cidade e o Templo,

    contribuiu para que o profeta dutero-isainico, intitulasse Ciro de Messias de Jav,

    no sentido de libertador dos exilados (Is 451,1).

    Seybold sugere que o ttulo de Messias, conferido a Ciro foi manifesto em

    momento de grande empolgao dos judeus que estavam prestes a regressar a Jerusalm

    e nada se refere substituio da esperana do Messias davdico guerreiro ou pastor28

    .

    Segundo Noth29

    , o autor dutero-isainico anuncia que a restaurao de Israel est

    ligada a figura de Ciro. North30

    salienta que na Babilnia o rei Ciro foi chamado de

    enviado de Marduk. De acordo com Westermann31

    , os babilnicos acreditavam que

    Marduk, senhor dos deuses, estava furioso com o governo do prncipe da Babilnia

    Belsazar, e resolveu puni-lo, enviando Ciro para oprimi-lo.

    Pode-se notar a semelhana da leitura que os judeus e os babilnicos fazem da

    pessoa de Ciro. Para os Judeus Ciro foi enviado por Jav para libertar seu povo e para

    os babilnicos o mesmo foi enviado por Marduk para punir, o tirano Belsazar.

    25

    Jos Severino Croatto, Isaas A palavra Proftica e sua releitura hermenutica: VolI. A libertao possvel. 1 ed. Rio de Janeiro: Vozes, 1998, p. 229-230. 26

    Jos Severino Croatto, Isaas A palavra Proftica e sua releitura hermenutica: VolI. A libertao possvel. 1 ed. Rio de Janeiro: Vozes, 1998, p. 130-133. 27

    Jos Ademar Kaefer. Arqueologia das Terras da Bblia. 1 ed. So Paulo: Paulus, 2012, p. 11. 28 K. Seybold, mashah, Em: Theological Dictionary of the Old Testament. Vol. IX. Grand Rapids/Cambridge: Willian B. Eerdmans Publishing Company, 2004, p. 43-54. 29

    Martin Noth. Historia de Israel. Barcelona: Ediciones Garriga, 1966, p. 275-276. 30

    Christopher R. North. Isaiah 40-55 Introction and Commentary. 1 Ed. SCM Press LTD: Grent Britain, 1952, p. 87-88. 31

    Claus Westermann. Isaiah 40-66 A Commentary. The Westminster Press: Philadelphia, 1969, p. 158.

  • 20

    Para G. von Rad32

    , o autor do livro Dutero-Isaas, usa uma linguagem no estilo da

    corte do Antigo Oriente, ao se referir a Ciro, a quem tomo pela mo direita, ( Is 45,

    1b).

    Esta linguagem utilizada pelo profeta refere-se a sua condio de deportado na

    Babilnia33

    . Segundo Schwantes34

    , o autor dutero-isainico na verdade, os cantores

    do templo, sendo assim, o Dutero-Isaas, no foi compilado por um nico autor, mas

    por vrios cantores do templo que foram deportados para Babilnia e produziram o

    Dutero-Isaas sobre uma linguagens hnica e no estilo da corte do Antigo Oriente.

    1.5 O Dutero-Isaas e a f no Messias

    Segundo Silva35

    , a expresso (Messias), tem sua origem no hebraico (mashiah) e

    significa "Ungido". O termo messias, no Antigo Testamento "indica um ritual de uno

    atestado para reis, sumos sacerdotes e profetas. O mesmo afirma que Davi foi o

    primeiro rei a ser ungido na perspectiva de uma aliana eterna (2Sm 23.1-5) declarado

    como "filho de Deus.

    Desenvolveu-se, assim, em Israel a concepo de que a monarquia era uma

    concesso divina no somente para a pessoa de Davi, mas era extensiva sua dinastia.

    Os profetas denunciaram o desagrado de Jav para com a monarquia. Eles

    alimentaram a esperana na interveno de Jav na histria de seu povo, aludindo que

    Jav enviaria um Messias para restaurar a monarquia e governar seu povo com direito

    e justia. Desse modo, a partir da figura do rei, especificamente, do rei Davi projetada

    a figura do Messias.

    Schmidt36

    chama a ateno, quando mencionou que em Is 11.1-5, o autor proto-

    isainico, descreve metaforicamente a vinda de um soberano (v.1) e fala das habilidades

    que o esprito lhe concede (v.2) e das tarefas do governante (vv.3 - 4), a partir da justia

    e fidelidade (v.5).

    32

    Gerhard Von Rad. Teologia do Antigo Testamento. 2 ed. So Paulo: ASTE/TARGUMIM, 2006, p. 665-667. 33

    Martin Noth. Historia de Israel. Barcelona: Ediciones Garriga, 1966, p. 276. 34

    Milton Schwantes, Sofrimento e Esperana no Exilo Histria e Teologia do Povo de Deus no sculo

    VI A.C. 3 ed. So Leopoldo: Oikos, 2009, p. 89. 35

    Sydney Farias da Silva. Autoconscincia Messinica de Jesus. Dissertao de Mestrado Escola

    Superior de Teologia: So Leopoldo, Janeiro de 2006, p. 10-16. 36

    Werner H. Schmidt. A f do Antigo Testamento. So Leopoldo: Sinodal, 2004, p. 295-303.

  • 21

    Portanto, a f messinica no Antigo Testamento se manifesta pela esperana no

    advento de um Ungido de Jav, ancestral de Davi, que restauraria a monarquia de Israel.

    1.5.1 A esperana messinica no Antigo Testamento

    A queda do Reino de Jud, em 587 a.C., sob o poder dos babilnicos, com a

    consequente perda da autonomia poltica, obrigou os judeus a repensarem a monarquia.

    Conquanto ela tenha desempenhado um papel importante na formao do Estado em

    Israel, garantindo-lhe maior estabilidade econmica e poltica, ela no soube oferecer ao

    povo duas coisas fundamentais tica da f javista: justia e paz! Essa omisso foi

    descrita nos escritos profticos como decorrncia de que a monarquia perdeu a

    conscincia de que seus reis eram "ungidos" (Messias) para servirem causa da justia

    e da paz. O exerccio do poder levou os reis idolatria, e graves consequncias. Ela

    comprometia os fundamentos ticos essenciais ao culto javista: a misericrdia, a justia

    e humildade diante de Deus (Mq 6.8). A monarquia deveria ter um compromisso com

    os pobres, para quem Jav exige justia.

    Do rei espera-se que "julgue os aflitos do povo, salve os filhos dos necessitados e

    esmague o opressor" (Sl 72.4). Seu reinado ser subsidiado pelas naes "porque ele

    acode ao necessitado que clama e tambm ao aflito e desvalido. Ele tem piedade do

    fraco e salva alma dos indigentes. Redime as suas almas da opresso e da violncia, e

    precioso lhe o sangue deles" (Sl 72.12-14). Com o retorno dos exilados e a

    reconstruo do templo e da cidade, Israel viveu um novo momento. Neste contexto no

    existia mais a monarquia para mediar relao poltica do povo. Assim, os judeus que

    retornaram da Babilnia no tinham mais um rei que governasse em nome de Deus, mas

    os sacerdotes governam em nome de Jav.

    Neste perodo de hierocracia a esperana messinica, muda de foco, pois no

    momento em que o sumo sacerdote ocupou o "lugar do rei", ele se tornou o Ungido de

    Jav, (Ex 29.7; Lv 8.12; Sl 133.2; Zc 4.14).

    Portanto, no perodo ps-exlio a esperana messinica passa por modificaes, em

    que, se acreditava que um reino trar consigo um rei cujo domnio se estender por

    todas as naes, criando uma nova era de paz universal anunciada por Zacarias 9,9-10.

  • 22

    Nesta viso messinica, a justia faz parceria com a paz e as inmeras realidades

    internas e externas que fizeram a histria de glria e de desgraa da monarquia, so

    mantidas por uma continua esperana no Messias.

    1.5.2 Ciro Messias e libertador dos exilados

    De acordo com Webler37

    , o autor dutero-isainico anuncia para os exilados uma

    profecia de consolao ao mencionar que Ciro o Messias de Jav (Is 45,1), ou seja, o

    escolhido de Jav, para libertar os cativos.

    Schkel38

    menciona que, pela primeira vez na histria, o ttulo de Messias

    atribudo a um rei estrangeiro. O mesmo ressalta que alguns judeus reagiram contra o

    ttulo de Messias, atribudo a Ciro, pelo fato do rei ser estrangeiro e no fazer parte da

    dinastia davdica39

    .

    Segundo Seybold40

    , o profeta aceita conscientemente que Ciro no sabia, nem

    queria saber qualquer coisa sobre o ttulo messinico que o profeta Dutero-Isaas lhe

    concedeu.

    Donner41

    , Noth42

    e Westermann43

    sugerem que Ciro nunca se apresentou como

    servo de Jav, mas como servo de Marduk.

    Schwantes44

    e Brueggemann45

    afirmam que para o autor dutero-isainico, os

    avanos militares do rei Ciro estavam corelacionados libertao dos judeus exilados.

    37

    Jacinta Webler. Eu te Desenhei na Palma das Mos (Is 49,16): A misericrdia e a compaixo no

    Dutero Isaas, na Teologia latino-americana e na espiritualidade crist - um estudo integro. Dissertao

    de Mestrado Centro de Estudos Superiores da Companhia de Jesus Faculdade de Teologia: So Belo

    Horizonte, 2006, p. 17-18. 38

    Lus Alonso Schkel. Profetas I: Isaas e Jeremias. 2. ed. So Paulo: Paulus, 2004, p. 309. 39

    Luis Alonso Schkel, Profetas I: Isaas, Jeremias. 2 ed. So Paulo: Paulus, 2004, p. 310. 40

    K. Seybold, mashah, Em: Theological Dictionary of the Old Testament. Vol. IX. Grand

    Rapids/Cambridge: Willian B. Eerdmans Publishing Company, 2004, p. 52-53. 41

    Herbert Donner, Histria de Israel e dos povos vizinhos. 5 Ed. So Leopoldo: Sinodal, 2005, p. 447. 42

    Christopher R. North, Isaiah 40-55 Introduction and Commentary. 1 Ed. SCM Press LTD: Grent

    Britain, 1952, p. 87-88. 43

    Claus Westermann, Isaiah 40-66 A Commentary. Philadelphia: The Westminster Press, 1969, p. 158. 44

    Milton Schwantes, Sofrimento e Esperana no Exilo Histria e Teologia do Povo de Deus no sculo

    VI A.C. 1 ed. So Leopoldo: Sinodal, 1987, p. 99. 45

    Walter Brueggemann, Isaiah 40-66. Louisville: Westminster Bible Companion, 1998, p. 75-76.

  • 23

    Enfim, a esperana que o profeta Dutero-Isaas, tinha em Jav, fez com que ele

    enxergasse Ciro como libertar dos judeus exilados, afim de estes, reconstrurem o

    Templo que havia sido destrudo pelos babilnicos, como tambm a cidade de

    Jerusalm. Portanto, o profeta estando em momento de empolgao atribuiu o ttulo de

    Messias, ao rei estrangeiro Ciro (Is 451,1), sem ter nenhuma pretenso de substituir a

    esperana em um Messias davdico guerreiro ou pastor.

    1.5. 3 As duas tradies messinicas do perodo do Antigo Testamento

    De acordo com Siqueira e Santos46

    , as duas tradies messinicas tm como figura

    central o grande guerreiro Davi, que na tradio do Messias pastor, Davi apresentado

    como aquele que vem de Belm de Jud de um meio pastoril. A tradio do Messias

    Guerreiro parte da histria de Davi no palcio em Jerusalm e o que legitima essa

    tradio era a histria na qual Davi vence o gigante Golias (1 Sm 17,1-58). A partir

    destes relatos possvel constatar que h, pelo menos, duas tradies profticas que

    conservam e anunciam o messianismo no Antigo Testamento, um de origem

    hierosolimita, e o outro judata47

    . Estas tradies tambm nos apresentam alguns

    aspectos semelhantes. Tendo em vista que o Sul marcado por memrias importantes,

    como por exemplo: Sara, Abrao, as guerras santas, o davidismo, a presena de Jav em

    Sio, onde pode-se destacar Sio e Davi, como principais caractersticas das tradies

    religiosas do sul.

    Embora se trate de memrias diferentes, Sio e Davi se completam. Davi transporta

    a arca da aliana (2 Sm 6) e em Sio junto a arca, recebe de Nat a promessa de eterna

    dinastia (2 Sm7).

    Outra questo que o templo e o palcio estavam situados no mesmo espao

    territorial de Jerusalm. Portanto, o templo e o santurio eram propriedade do soberano,

    assim o sacerdote era um funcionrio que podia ser instalado e destitudo pelo rei48

    .

    46

    Trcio Machado Siqueira; Sueli Xavier Santos. O messias desde o Antigo Testamento at Jesus Cristo.

    1 ed. So Paulo: Cedro, 2008, p. 18. 47

    Suely Xavier Santos. Para uma Paz Sem Fim: Um estudo, scio-poltico e teolgico da tipologia

    messinica nas percopes de Isaas 7,10-17 e 8,23-9,6. Dissertao de Mestrado Universidade

    Metodista de So Paulo: So Bernardo do Campo, 2005. 48

    Werner H. Schmidt. A f no Antigo Testamento. 1 ed. So Leopoldo, RS: Sinodal, 2004, p. 22.

  • 24

    H uma diferena bem marcante entre Sio/Davi e Davi/Belm. Em Sio, Davi

    enaltecido como rei, e lembrado por suas incurses blicas (2 Sm 5 a 1 Rs 2), na

    tradio Davi/Belm, a concepo da sua fragilidade, e de um homem do campo ( Mq

    5,1-50).

    Assim, observamos que a figura messinica de Davi perpassa por ambos os grupos,

    Jud e Jerusalm, mas com diferentes enfoques.

    A tradio de Jud conservou a histria traditiva de um messianismo anti-palaciano

    e anti-sionita. No entanto, a tradio de Jerusalm marcada pela funo de Salm

    como cidade da justia e do trono de Jav.

    Portanto, os judeus libertados por Ciro, adeptos da tradio messinica jerosolimita

    em que aguardava um Messias como rei guerreiro, viram em Ciro, caractersticas

    semelhantes a do seu Messias. Em fim, o ttulo messinico atribudo a Ciro, pelo autor

    do Dutero-Isaas (Is 451,1), no tinha o objetivo de substituir a esperana no Messias

    davdico, poltico e guerreiro.

    Segundo Schkel49

    , o messianato de Ciro est ligado figura do Messias violento

    identificado no livro dos Salmos 2,1-2. Para Kraus50

    , o Salmo 2 descreve um Messias

    violento ao lado de Jav, preparado para lutar contra os reis inimigos.

    De acordo com Winer e Croatto, a linguagem messinica no Dutero-Isaas no

    somente jerusalemita, pois os Cnticos do Servo (Is 42,1-4; 49,1-6; 50,4-9; 52,13-

    53,12)51

    , apresentam uma linguagem messinica judata onde o Messias descrito como

    um Servo que sofre52

    .

    Croatto53

    salienta que os captulos 49-1-9 se referem misso do Servo de Jav, o

    captulo 50, 4-11 fala da misso e o sofrimento do Servo e por fim os captulos 52 e 53

    demonstram uma metfora sobre o Servo sofredor.

    A linguagem messinica destes Cnticos do Servo no caracteriza a tradio

    messinica de Jerusalm, onde o Messias interpretado como um rei/guerreiro, mas do

    Messias de Jud, que identificado como pastor que apascenta seu rebanho, (Mq 5,2-4).

    49

    Luis Alonso Schkel, Profetas I: Isaas, Jeremias. 2 ed. So Paulo: Paulus, 2004, p. 309. 50

    Hans Joachim Kraus. Los Salmos 60-150. 1 ed. Salamanca: Ediciones Sigueme, 1995, p. 174. 51

    Claude Winer. O Profeta do Novo xodo: O Dutero-Isaas. So Paulo: Paulinas, 1980, p. 69-77. 52

    Jos Severino Croatto, Isaas A palavra Proftica e sua releitura hermenutica: VolI. A libertao

    possvel. 1 ed. Rio de Janeiro: Vozes, 1998, p. 201-210. 53

    Jos Severino Croatto, Isaas A palavra Proftica e sua releitura hermenutica: VolI. A libertao

    possvel. 1 ed. Rio de Janeiro: Vozes, 1998, p. 201-210.

  • 25

    De acordo com Siqueira e Santos54

    , a literatura proftica do Antigo Testamento

    ressalta a esperana no Messias salvador de Israel. Em Miquias 5,2-6 o profeta

    esclarece que o Messias esperado no tinha as caractersticas de Ciro, mas era um

    pastor, este Messias no era guerreiro como Davi ou Ciro, mas, um Messias pastor,

    vindo de Belm.

    O profeta Jeremias salienta a promessa em um Messias da casa de Davi, que

    governasse com justia e inteligncia, tendo em vista que, Jeremias estava insatisfeito

    com o governo de Zedequias, (Jr 23,5-6; 33,14-16).

    No perodo exlico, o profeta Ezequiel anunciou o advento do Messias, (Ez 17,22-

    23). Ezequiel, semelhante ao profeta Ageu, mencionou que o Messias era um pastor

    vindo da casa de Davi (Ag 2,23).

    No perodo ps-exlico, o profeta Zacarias anunciou aos judeus que voltaram para

    Jud. Neste contexto, Zacarias anuncia o Messias para este povo que estava

    reconstruindo sua vida e no podiam deixar de lado a esperana no Ungido. Por volta do

    ano 520 a.C. Zacarias anunciou, em alto e bom som, a esperana da chegada do Messias

    Salvador (Zc 9,9-10). Zacarias anuncia a vinda de um rei humilde que no trazia

    artefatos para guerrear, tendo em vista que seu anuncio a paz para as naes e seu

    plano de governo a justia.

    O Messias predito por Zacarias diferente de todos os reis de Israel inclusive Davi

    e Josias, pois estes possuam poder e exrcito. No entanto, o Messias de Zacarias est

    destitudo do poder das armas de guerra e da riqueza, pelo contrario Zacarias anuncia

    um Messias pobre assentado sobre um jumentinho.

    Este novo conceito de Messias, caracterizado como salvador, justo, pobre e montado

    sobre uma cria de jumenta surgiu no exlio babilnico, contemporneo literatura

    dutero-isainica que retrata o Messias pobre de Zacarias como um Servo sofredor que

    no se assemelha a Ciro.

    54

    Trcio Machado Siqueira; Sueli Xavier Santos. O messias desde o Antigo Testamento at Jesus Cristo.

    1 ed. So Paulo: Cedro, 2008, p. 55-58.

  • 26

    1.5.4 O judasmo ps-exlico

    Segundo Soares55

    , o contato que o judasmo teve com a cultura persa e mais tarde a

    helnica, contribuiu para que novos elementos fossem anexados no imaginrio

    religiosos judaico, como veremos em seguida.

    1.5.5 Ciro no judasmo ps-exlico

    De acordo com Soares56

    , quando os persas liderados por Ciro (559-530 a.C.),

    dominaram Jud a partir de 539 a.C., os dominados sofreram um processo de revoluo

    cultural e religiosa. Tendo em vista que, os reis aquemnidas Dario (522-486 a.C.),

    Xerxes I (486-465 a.C) e Artaxerxes II (404-359), sucessores de Ciro, deixaram

    inscries que revelam o Zoroastrismo57

    , como religio oficial do imprio. Assim,

    pode-se constatar que a religio persa influenciou povos conquistados, os quais

    aderiram ao dualismo persa sobre o bem e o mal, associados a uma crena de um Deus

    supremo.

    O prprio Dutero-Isaas faz meno ao bem e mal, atribuindo este dualismo a ao

    criadora de Jav (Is 45,7).

    Nota-se que as ideias persas de vida ps-morte58

    so mencionadas em Isaas 26,19.

    Portanto, a influncia persa na cultura e religiosidade dos povos dominados contribuiu

    para que eles recebessem a poltica pacfica dos persas com bons olhos.

    Portanto, os babilnicos receberam Ciro como Pastor de Marduk, os egpcios o

    aceitavam como Encarnao de Hrus, e o autor dutero-isainico intitulou-o de

    Messias de Jav (Is 45,1).

    O Cilindro de Ciro possui texto redigido por sacerdotes babilnicos, no qual Bel,

    Nabu e Marduk deuses da Babilnia, favorecem Ciro. Neste texto Marduk profere o

    nome de Ciro e o chama para dominar toda terra.

    55

    Elizangela A. Soares. Variaes sobre a Vida Aps a Morte: Desenvolvimento de uma crena no Judasmo do segundo Templo. Dissertao de Mestrado Universidade Metodista de So Paulo: So

    Bernardo do Campo, 2006, p. 40-51. 56

    Dionsio Oliveira Sores. As influncias persas no chamado judasmo ps-exlico. Disponvel Em:

    http://www.revistatheos.com.br/Artigos/Artigo_06_2_02.pdf. Acesso em 29/09/2012. 57

    Religio fundado na Antiga Prsia, pelo profeta Zoroastro, entre 1750 a 1000 a.C. 58

    O conceito persa de vida ps-morte identificado no Gathas, que se refere a 17 cnticos que se

    acreditava terem sido compostos por Zoroastro. Os cnticos so considerados os textos mais sagrados no

    zoroastrismo.

    http://www.revistatheos.com.br/Artigos/Artigo_06_2_02.pdf

  • 27

    1.5.6 A influncia da cultura e religiosidade persa no judasmo ps-exlico

    De acordo com Andrade e Leal59

    , os persas mais sofreram influncias dos

    dominados do que os influenciaram.

    Tendo em vista que, seus palcios e monumentos lembram, quase sempre, as obras

    dos assrios e babilnicos. Sua escrita era derivada da cuneiforme mesopotmica.

    Executaram grandes obras da engenharia, como o canal que ligava o mar vermelho ao

    Mediterrneo.

    No entanto, foi na religio que os persas demonstraram certa originalidade.

    Primitivamente adoravam o Sol, a Lua e a Terra; at que Zoroastro (ou Zaratustra), que

    reorganizou a religio, sofisticando-a. Nesta religio o deus maior era Ormuz, deus do

    bem, que se opunha a Arim, deus do mal.

    A luta entre o bem e o mal era a essncia da religio de Zoroastro, que ficou

    conhecida como masdesmo, fuso entre as crenas populares e os ensinamentos de

    Zoroastro. Essa religio baseava-se na sinceridade entre as pessoas e foi transcrita no

    livro sagrado Avesta. O imperador era quase um deus, pois, segundo a crena,

    governava por ordem de deus.

    1.5.7 Ciro e a religiosidade dos povos conquistados

    Em 537 a.C. Ciro assina um edito (Ed 1,2-4) permitindo o regresso dos judeus

    exilados Jerusalm, bem como a reconstruo do templo. O mesmo saliente que os

    sentimentos e prticas religiosos dos povos conquistados eram tolerados pelo soberano

    que viu neste comportamento a forma para conseguir a lealdade dos vassalos.

    Aps a tomada da Babilnia, Ciro decretou a devoluo das esttuas de culto,

    levadas de povos conquistados por Nabonido para as capitais de seus respectivos

    templos.

    Ciro baixou um edito permitindo a volta dos judeus a Jerusalm, a fim de,

    reconstrurem a cidade como tambm o templo (2 Cr 36,22-23; Ed 1,1-5).

    59

    David Andrade e Daniel Leal. O imprio Persa. Disponvel Em: http://www. portalsaofrancisco.com.

    br/alfa/imperio-persa-historia-4.php Acesso em 01/10/2012.

  • 28

    Ciro tinha um gigantesco imprio, exerceu domnio sobre muitos povos, mas foi no

    campo religioso que ele foi tido como Messias, com a finalidade de beneficiar, um

    respectivo povo.

    1.5.8 Consideraes conclusivas do primeiro captulo

    Conclumos que Ciro libertou os exilados por fins polticos, pois ele tinha em mente

    a conquista do Egito, e enviar os exilados para sua ptria era permitir que novamente os

    judeus se fortalecessem para servir aos seus propsitos de utiliz-los nas guerras.

    A tolerncia religiosa de Ciro diante dos povos conquistados tambm no esta

    ligada a um carter bondoso do monarca, mas, a seus interesses polticos. Pois, desta

    forma Ciro teria a admirao de todos babilnicos, egpcios e judeus. Seus vassalos os

    serviria de bom grato, por entender que ele foi algum enviado pela divindade. Para os

    babilnicos o deus Marduk e para os judeus, Jav.

    Tambm conclumos que o nico rei ligado figura messinica das tradies de

    Belm de Jud e na tradio de Jerusalm, foi o rei Davi. Este monarca foi figura central

    da esperana messinica das duas tradies do perodo do Antigo Testamento.

    Portanto, o ttulo messinico atribudo a Ciro pelo profeta duteo-isainico em (Is

    45,1), no est ligado s tradies messinicas do perodo do Antigo Testamento. Pois,

    o profeta dutero-isainico chama o rei Ciro de Messias de Jav, em momento de

    grande empolgao dos judeus exilados. Estes judeus foram alcanados pelos boatos do

    vasto crescimento do imprio da Prsia, e como o rei Ciro conquistou fortemente a

    Mdia e a Ldia. Assim, os exilados depositaram f em Jav, acreditando que ele usaria

    o rei estrangeiro Ciro para abater os babilnicos e cessar o cativeiro, permitindo o

    regresso dos exilados.

    Observa-se que no judasmo ps-exlico, Ciro no lembrado como Messias,

    mas, ele visto no livro de Esdras como o libertador dos exilados, o rei que teve seu

    esprito despertado por Jav, para baixar um decreto que permitisse aos exilados o

    regresso Jerusalm, a fim de reconstrurem o templo, (Ed 1,1-11).

  • 29

    2 ANLISE EXEGTICA DE ISAAS 45,1-7

    Consideraes introdutrias

    Neste captulo analisaremos o ttulo messinico atribudo ao rei Ciro, visto na

    percope de Isaas 45,1-7, tendo em vista que no perodo pr-exlico as tradies

    messinicas esperavam um Messias proveniente da casa de Davi e no um estrangeiro.

    Portanto, neste captulo estudaremos sobre o ttulo messinico atribudo ao rei

    Ciro, comparando com as tradies messinicas que percorreram o Antigo Testamento,

    especificamente o perodo pr-exlico.

    A partir deste captulo tentaremos mostrar como o autor dutero-isainico

    interpreta o messiado de Ciro. Para tanto, utilizar-se- a exegese a partir dos seguintes

    encaminhamentos:

    Primeiro analisaremos a traduo literal do texto, mantendo a sequncia do texto

    original, em segundo notificaremos a acrtica textual, a fim de comparar as variantes

    entre o texto massortico e a LXX. Em terceiro, demonstraremos as caractersticas

    formais do texto, onde se destacar os seguintes pontos: Delimitao, a fim de

    apontarmos a unidade da percope. Coeso para identificarmos uma clara sequncia de

    contedo.

    O estilo da percope, e as repeties de frases. Por fim, o gnero, onde

    destacaremos a percope como um orculo de salvao, identificada pela libertao dos

    exilados.

    O quarto passo do nosso encaminhamento exegtico ser situar o lugar da nossa

    percope. Neste ponto, notificaremos o cenrio histrico-social do texto fazendo

    apontamentos de datas e acontecimentos histricos.

    Por fim, o quinto passo ser a apresentao do contedo, enfocando a

    interpretao das palavras, estrofes e pargrafos da percope. Finalizamos o captulo

    com as consideraes conclusivas onde conclumos os principais assuntos.

  • 30

    2.1 Percope de Isaas 45,1-7: Texto em hebraico

  • 31

    2.2 Traduo literal de Isaas 45,1-7

    1. Assim disse60 Jav ao seu Ungido, a Ciro que agarrou61 em sua destra, para

    subjugar as naes diante da tua face; eu desamarrarei62

    os lombos dos reis, para abrir63

    diante deles (as) portas e (os) portes no (se) fecharam64

    .

    2. Eu seguirei65 diante da tua face e aplainarei66, endireitarei67 os caminhos

    tortuosos, despedaarei68

    (as) portas de bronze e (as) trancas de ferro destruirei69

    .

    3. E darei70 para ti, tesouros obscuros, e riquezas escondidas, a fim de que saibas71

    que Eu (sou) Jav o que te chama72

    pelo teu nome, o Deus de Israel.

    4. Por causa do meu servo Jac, e Israel, meu escolhido, eu te chamei73 pelo teu

    nome, e te dou um nome de honra, embora no me conhecesses74

    .

    5. Eu (sou) Jav, e no h nenhum outro, com exceo de mim no h Deus, eu te

    cinjo75

    , embora no me conhecestes76

    .

    6. Para que se saiba77 que desde o nascer do sol at o poente que, fora de mim, no.

    H ningum: eu (sou) Jav e no h outro!

    7. Formo78 luz e crio79 escurido, fao80 paz e crio81 mal: eu (sou) Jav fao82 todas

    estas coisas.

    60

    mr, Verbo Qal, perfeito, 3 pessoa, masculino, singular disse. 61

    rzq, Verbo Hifil, perfeito, 1 pesso,a comum singular agarrou. 62

    ptr, Verbo Piel, imperfeito, 1 pessoa, comum singular desamarrar. 63

    ptr, Verbo Qal, infinitivo construto abrir. 64

    sgr, Verbo Nifal, Imperfeito, 3 pessoa, masculino plural (se) fecharam. 65

    hlk, Verbo Qal, imperfeito, 1 pessoa, comum, singular seguirei. 66

    yxr, Verbo Hifil imperfeito, 1 pessoa, comum, singular aplainarei. 67

    yxr, Verbo Piel imperfeito, 1 pessoa, comum, singular endireitarei. 68

    Xbr, Verbo Piel imperfeito, 1 pessoa, comum, singular despedaarei. 69

    gd, Verbo Piel imperfeito, 1 pessoa, comum, singular destruirei. 70

    ntn, Verbo Qal com vav consecutivo, 1 pessoa comum, singular darei. 71

    yd, Verbo Qal imperfeito, 2 pessoa masculino, singular saibas. 72

    qr, Verbo Qal particpio, masculino,singular, chama. 73

    qr,Verbo Qal vav consecutivo imperfeito, chamei. 74

    Yd, Verbo Qal perfeito, 2 pessoa masculino singular, com sufixo da 1 pessoa comum singular

    conhecesses. 75

    zr, Verbo Piel imperfeito, 1 pessoa comum singular, com sufixo 2 pessoa masculino singular

    cinjo. 76

    yd, Verbo Qal perfeito, 2 pessoa masculino singular, com sufixo 2 pessoa masculino singular

    conhecestes. 77

    yd, Verbo Qal imperfeito, 3 pessoa masculino singular saiba. 78

    ytr, Verbo Qal particpio, masculino singular formo. 79

    br particpio masculi, singular, 80

    sh, Verbo Qal particpio, masculino singular. crio. 81

    br, Verbo Qal, particpio masculino, singular, crio. 82

    sh, Verbo Qal, particpio masculino, singular, fao.

  • 32

    2.3 Crtica textual

    Observa-se que no v.1 a LXX83

    , mantm o ttulo messinico atribudo a Ciro

    -

    Assim diz o Senhor [o Deus] ao seu ungido Ciro. No entanto a LXX, acrescenta no

    texto um artigo masculino singular antecedendo outro acrscimo, um substantivo

    nominativo masculino singular o Deus. Estes acrscimos na LXX foram

    introduzidos no texto da LXX pelo Pentateuco de Damasco. Texto que surgiu por volta

    do sculo X84

    . Nota-se que no texto da Vulgata85

    o v. 1 Haec dicit Dominus cristo meo

    Cyro, no acrescenta o substantivo Deus, mas mantm uma traduo semelhante a do

    texto massortico.

    A Bblia de Jerusalm traduz o v. 1 a partir do texto massortico Assim diz YHWH ao

    seu Ungindo, semelhante Bblia TEB, Assim fala o Senhor ao seu messias. Ambas

    verses portuguesas traduzem o v.1 a partir do texto massortico.

    Nota-se que no v. 3 a LXX novamente acrescenta um artigo masculino singular

    antecedendo um substantivo nominativo masculino singular,

    Por que eu (sou) Senhor [o Deus]

    que te chama pelo teu nome. A mesma coisa se repete no v. 5, pois o texto massortico

    inicia apresentando Jav - Eu (sou) Jav, e no h

    nenhum outro. No entanto na LXX o texto esta anexado a seguinte forma

    . Observa-se que aps o termo Senhor, LXX

    acrescenta o Deus. Os esforos da LXX em afirmar que o

    , nesta percope ainda so identificados no v. 6 quando o texto massortico

    conclui o v. 6 dizendo que no h outro alm de Jav -

    eu (sou) Jav e no h

    83

    Septuaginta. 84

    Edson de Faria Francisco. Manual da Bblia Hebraica: Introduo ao Texto Massortico. Guia

    introdutrio para a Bblia Hebraica Stuttgartensia. 2 Ed. So Paulo: Vida Nova, 2005, 209. 85 Traduo para o latim da Bblia, escrita entre fins do sculo IV incio do sculo V, por So Jernimo, a

    pedido do Papa Dmaso I.

    http://pt.wikipedia.org/wiki/Latimhttp://pt.wikipedia.org/wiki/B%C3%ADbliahttp://pt.wikipedia.org/wiki/S%C3%A9culo_IVhttp://pt.wikipedia.org/wiki/S%C3%A9culo_Vhttp://pt.wikipedia.org/wiki/Jer%C3%B4nimo_de_Str%C3%ADdonhttp://pt.wikipedia.org/wiki/Papa_D%C3%A2maso_I

  • 33

    outro. Mas, a LXX continua a acrescentar o [ ] aps o [].

    , - eu (sou) (o) Senhor [ o

    Deus] e no existe outro!. Possivelmente, o Pentateuco de Damasco acrescentou na

    LXX o [ ], aps o substantivo nominativo masculino singular

    [], na tentativa de enfatizar que o Krios como Deus.

    2.4 Caractersticas formais

    Prxima etapa de nossa exegese observaremos sua forma. Neste ponto,

    abordaremos os seguintes pontos: Delimitao, coeso interna, estilo e gnero.

    2.4.1 Delimitao do texto

    O texto de Isaas 45,1-7 chamado de orculo de salvao para Israel86

    . Quanto

    unidade desta percope sugere-se que o v. 1 est ligado redacionalmente a (Is 44,28),

    em forma de quiasmo (Ciro/pastor/ ungido/Ciro).

    Segundo Croatto87

    , os sete versculos podem ser divididos em duas unidades

    literrias. vv 1-3 e 4-7. Isto se faz pela compreenso de que em vv1-3 h uma espcie de

    relado de vocao, onde Ciro intitulado de Messias v. 1, e chamado por Jav pelo

    nome. Os vv 4-7 notificam a exclusividade de Jav.

    A expresso Assim diz Jav, indica o incio da percope.

    Nesta expresso temos o incio da fala do autor dutero-isainico, onde Ciro

    apresentado como o Messias, de Jav.

    Os restantes dos versos 1b-3 expressam a proteo de Jav a Ciro em suas

    campanhas militares vitoriosas. O verso 4-7 propriamente, expressa a eleio de Ciro,

    por Jav aquele que forma, cria e faz.

    34

    86

    Jos Severino Croatto, Isaas A palavra proftica e sua releitura hermenutica: VolI. A libertao

    possvel. 1 ed. Rio de Janeiro: Vozes, 1998, p. 130. 87

    Jos Severino Croatto, Isaas A palavra Proftica e sua releitura hermenutica: VolI. A libertao possvel. 1 ed. Rio de Janeiro: Vozes, 1998, p. 134.

  • O verso 7 encerra a unidade notificando a exclusividade histrica de Jav. Neste

    verso o autor dutero-isainico deixa claro, os trs termos preferidos para indicar a

    capacidade criativa de Jav. Pois Jav forma luz, cria

    escurido, como tambm faz paz e cria mal fao paz e

    crio mal.

    2.4.2 Coeso interna

    O texto apresenta coeso interna, pois o incio da percope consiste na afirmao de

    que Ciro foi chamado por Jav para subjugar a face das naes para depois desarmar os

    reis v.1, ainda no v. 1 o messiado de Ciro consiste em libertar diante da sua face (as)

    portas para que os portes no se fechassem.

    No v. 2, h uma promessa de Jav seguir diante da face de Ciro e depois aplainar,

    endireitar e conduzi-lo em linha reta.

    No verso 3 a promessa se remete a Ciro atravs de tesouros e riquezas. No verso 5

    h outra meno a Jav. Aqui ele aparece como o soberano sem igual, que cingiu a Ciro,

    semelhante ao verso 1, que menciona que Jav agarrou Ciro em sua destra.

    Os versos 5-6 esto estreitamente coesos, pois neles o autor notifica a soberania

    de Jav, afirmando que Eu (sou) Jav, e no h

    nenhum outro.

    O verso 7 apresenta Jav como o formador da luz criador da

    escurido fazedor da paz e criador do mal

    .

    2.4.3 Estilo

    Claramente se observa que esta percope uma poesia, visto que h repeties de

    frases. Por exemplo, no verso 1, libertar diante da sua face (as) portas e (os) portes no

    (se) fecharam.

    Dividimos nosso texto em quatro estrofes (v.1-3; 4; 5-6;7), sendo que a primeira

    estrofe (v.1-3), temos um orculo de libertao para Israel, onde Jav diz que Ungiu a

    Ciro Assim disse Jav ao seu

    Ungido, a Ciro.

  • 35

    A segunda estrofe (v.4) semelhante a esta, pois nela Jav identificado como o

    que chamou Ciro pelo nome eu te chamei pelo teu nome.

    Na terceira estrofe (vv. 5-6) se refere soberania de Jav,

    Eu (sou) Jav, e no h

    nenhum outro, com exceo de mim no h Deus.

    Nesta estrofe Jav cingi Ciro cingi a ti, e

    no me conhecestes

    A quarta estrofe, notifica a capacidade criativa de Jav, pois na primeira frase, Jav

    forma luz e tambm cria escurido, na segunda frase

    Jav faz paz como tambm Cria o mal.

    Na terceira frase o autor encerra a percope, demonstrando que Jav quem faz

    todos estas coisas eu sou Jav fao todas

    estas Coisas.

    Por fim, esta diviso de estrofes e de algumas frases de nossa percope nos ajudar

    para a compreenso do contedo que analisaremos posteriormente.

    2.4.4 Gnero

    Segundo Croatto88

    , o gnero se fere a um orculo de salvao para Israel. Para

    Matos89

    , os orculos de salvao no Dutero-Isaas se referem a composies poticas

    que trazem palavras de salvao e esperana ao povo exilado na Babilnia.

    De acordo com Westermam90

    , um orculo de salvao, em geral possui as seguintes

    cinco caractersticas:

    1) Endereamento

    2) Confiana

    88

    Jos Severino Croatto, Isaas A palavra Proftica e sua releitura hermenutica: VolI. A libertao

    possvel. 1 ed. Rio de Janeiro: Vozes, 1998, p. 130. 89

    Sue Hellen Monteiro de Matos. No Temas! Eis que derramarei meu esprito! Anlise Exegtica de

    Isaas 44,1-5. Disponvel Em: www.revistaancora.com.br. ncora: Revista digital de estudantes de

    religio. Acesso em 10/10/2012.

    Claus Westermann. apud LEE. Stephen. Creation and Remption in Isaiah 40-55. Hong Kong: Alliance

    Bible Seminary, 1995, p. 96.

    http://www.revistaancora.com.br/

  • 3) Comprovao

    36

    a. Nominal (Eu sou o seu Deus)

    b. Verbal (Eu te ajudo)

    4) Resultado: para o suplicante e contra seu inimigo

    5) Alvo

    O autor dutero-isainico utiliza a imagem de Ciro para anunciar a libertao dos

    exilados, por isto Ciro recebe o ttulo de Messias, ou seja, o libertador de Israel v.1.

    Em nossa percope observa-se que o Dutero-Isaas, notifica que Ciro foi chamado

    por causa do Servo Jac e tambm do Escolhido Israel v.4. Schkel91

    salienta que o

    autor dutero-isainico interpreta Ciro como o eleito de Jav, para beneficiar Israel, o

    povo escolhido de Jav.

    Em Is 45,1-7 encontram-se as caractersticas de um orculo de salvao. Pode-se

    estruturar o texto do seguinte modo.

    1) Endereamento: Ciro o Messias de Jav (V.1)

    2) Confiana da salvao apresentada pela expresso: Eu seguirei diante da tua

    Face (v. 2).

    3) Comprovao: Ela apenas verbal. Jav dar tesouros obscuros e riquezas

    escondidas. (v. 3)

    4) Alvo/Finalidade: Esta expressa no v. 4

    por causa do

    meu Servo Jac e de Israel meu escolhido.

    A partir disso, conclu-se que o gnero do texto um orculo de salvao. No

    entanto, este orculo um tanto quanto diferente, pois o salvador no um homem da

    casa de Davi, mas um estrangeiro que recebe o ttulo de Messias de Jav92

    ,

    Assim disse Jav ao seu Ungido, a

    Ciro v.1.

    91

    Lus Alonso Schkel. Profetas I: Isaas e Jeremias. 2. ed. So Paulo: Paulus, 2004, p. 309. 92

    Lus Alonso Schkel. Profetas I: Isaas e Jeremias. 2. ed. So Paulo: Paulus, 2004, p. 309.

  • 37

    2.5. Lugar

    Para compreenso da poca e do lugar vivencial de nosso texto, importante trazer

    uma breve discusso sobre a autoria dos captulos 40-55 do livro de Isaas, denominado

    Dutero-Isaas pela pesquisa bblica. A grande discusso gira em torno de seu autor

    ser um nico profeta, ou texto de autoria coletiva da comunidade exilada.

    Schwantes93

    apresenta uma proposta interessante para a resoluo desta questo. Ele

    notifica que os textos de Isaas 40-55 seriam textos da comunidade, cantores do templo

    no meio dos exilados. Portanto, trata-se de uma profecia comunitria, fato que

    explicaria melhor o carter annimo da profecia. Alm de explicar a semelhana e

    divergncia dos cantos do Servo com o restante do livro do Dutero-Isaas.

    Quanto data, o texto no traz grandes discusses, visto que pertence a uma

    unidade literria maior (caps 40-55). Sabe-se que estes so textos do perodo exlico

    babilnico.

    Para ser mais exato, o texto do Dutero-Isaas do perodo final do exlio, por volta

    de 550-540, pois a rpida vitria de Ciro sobre o rei ldio Creso 546 a.C., possivelmente

    se reflita nos textos profticos de Isaas 41,2s; 45,1s, mas, no reflete a tomada da

    Babilnia em 539 a.C.

    O profeta esperava que Ciro libertasse os deportados judatas e permitisse que eles

    retornassem a Jerusalm e reconstrussem o Templo.

    Portanto, o Dutero-isaas apresenta Ciro como o Messias de Jav, ou seja, o

    ajudador e libertador de Israel94

    . Segundo Matos95

    , a profecia de Dutero-Isaas

    posterior profecia de Ezequiel, que atuou por volta de 570 a.C. Portanto, Dutero-

    Isaas pertence segunda gerao de exilados96

    .

    93

    Milton Schwantes, Sofrimento e Esperana no Exilo Histria e Teologia do Povo de Deus no sculo

    VI A.C. 1 ed. So Leopoldo: Sinodal, 1987, p. 89.

    94

    Georg Fohrer. Histria da Religio de Israel. So Paulo: Paulinas, 1982, p. 400. 95

    Sue Hellen Monteiro de Matos. No Temas! Eis que derramarei meu esprito! Anlise Exegtica de Isaas 44,1-5. Disponvel Em: www.revistaancora.com.br. ncora: Revista digital de estudantes de

    religio. Acesso em 10/10/2012. 96

    Milton Schwantes. Sofrimento e Esperana no Exlio: Histria e Teologia do povo de Deus no sculo

    VI a.C. So Leopoldo: Oikos, 2009, p. 93.

    http://www.revistaancora.com.br/

  • O perodo babilnico marcado pelo enfraquecimento do imprio neo-assrio

    (aproximadamente entre 630-612 a.C.) e a conquista da Babilnia por Ciro, rei persa em

    38

    539 a.C. O imprio neobabilnico, sob a dinastia dos caldeus assumiu a herana da

    Assria em vrias partes do Antigo Oriente Prximo.

    A estrutura de poder desse imprio colocou outros imprios grandes em segundo

    plano, como foi o caso do Egito97

    .

    As aes de Nabopolassar (625-605 a.C.) marcam o incio dinastia neobabilnica.

    Sua poltica externa estava baseada na diplomacia, isto , atravs de acordos ia

    conquistando seu espao no oriente.

    Quanto sua poltica interna, ele reconstruiu todos os templos babilnicos para os

    deuses Shamash e Marduk. Com Nabucodonosor II (605-562 a.C.) o imprio babilnico

    teve seu grande pice.

    Ele conquista o corredor siro-palestinense, retirando assim o Egito desse domnio,

    visto que ambos lutavam pela conquista deste corredor. Alm disso, Nabucodonor II

    continuou a poltica do pai quanto reconstruo dos antigos templos de Marduk98

    .

    A retirada do Egito do corredor siro-palestinense significou ao povo de Jud a

    libertao do poder egpcio. Agora, o rei imposto pelo imprio babilnico era Sedecias.

    No entanto, no duraria muito essa liberdade. Sedecias se revolta contra o imprio

    babilnico (cf. 2 Rs 24,20b). Diante disso, Nabucodonosor sitia a cidade de Jerusalm, a

    qual ser destruda em 587 a.C., e deporta os jerosolamitas para a Babilnia.

    A primeira deportao, ocorrida em 597 a.C., foram levados o rei e a sua corte,

    gesto que visava exercer presso sobre os que ficaram. Foram como refns que

    permaneceram junto corte babilnica.

    A segunda deportao ocorre em 587 a.C., em que foram levados mais habitantes da

    capital e, dessa vez, alguns pobres tambm foram deportados (cf. Jr 52,15). Esses

    deportados se juntaram aos exilados de 597 a.C. Aps 587 a.C. parece ter ocorrido outra

    deportao, conforme Jr 52,30. No entanto, uma deportao menor. Somando as trs

    deportaes, teriam sido levadas cerca de 15 mil pessoas, oriundas basicamente da

    populao de Jerusalm que representavam a nata poltica, eclesistica e intelectual de

    97

    Hebert Donner. Histria de Israel e dos povos vizinhos. v. 2. 4ed., So Leopoldo: Sinodal, 2006, p.

    410. 98

    IDEM, 413-414.

  • sua terra. O exlio babilnico , principalmente, um exlio dos cidados da capital.

    Levando em considerao a primeira deportao em 597 a.C., o incio da pregao do

    Dutero-Isaas, por volta de 550, passou-se quase 50 anos.

    39

    Os exilados no admitem mais esperana de retorno Palestina. Entretanto, o

    imprio babilnico comea a ficar instvel. A poltica religiosa de Nabnides (556-539)

    trouxe grande discrdia para Babilnia, pois ele adorava a deusa da lua Sin e procurou

    elev-la suprema posio de panteo babilnico, o que atraiu inimizades com os

    sacerdotes de Marduk. Nesse mesmo perodo o poder de Ciro aumentava

    vertiginosamente. Conquistara Ecbtana em 553 a.C. e a Ldia em 547 a.C.99

    .

    A comunidade exilada estava no campo, num lugar chamado Nipur. A plantavam.

    Eram escravos, isto , eram trabalhadores forados pelo imprio, produzindo para sua

    prpria sobrevivncia e pagando pesados tributos aos babilnicos100

    . Possuam

    liberdade para fazer reunies e assim manter uma espcie de vida comunitria (cf. Ez

    8,1; 14,1; 33,30ss)101

    .

    Entretanto, com o exlio houve uma crise teolgica. O prprio status do Deus de

    Israel foi colocado em dvida. A nao monotesta de Israel havia sido subjugada por

    uma nao pag. Desse modo, havia uma grande tentao por abandonar a religio

    ancestral (cf. Jr 44,15-19; Ez 33,10). Havia uma ameaa geral de perda da f. A religio

    de Israel estava sendo provada numa situao de vida ou morte. Precisava esclarecer sua

    posio diante das grandes naes e de seus deuses, diante da tragdia nacional e de sua

    significao ou ento perecer102

    .

    A pregao do Dutero-Isaas , portanto, de esperana, e no de julgamento, como

    os profetas anteriores, embora possa repetir determinadas acusaes. Todavia, essas

    acusaes so para mostrar que o culpado o povo e no Jav103

    .

    Nesse sentido, surgem os orculos de salvao. Como todo gnero literrio, os

    orculos de salvao tambm possuem seu Sitz im Leben. O lugar vivencial o culto104

    .

    Mas como falar de culto no exlio sem Templo? Esses orculos de salvao tm como

    lugar vivencial as reunies comunitrias entre os exilados, uma vez que os deportados

    99

    Lus Alonso Schkel. Profetas I: Isaas e Jeremias. 2. ed. So Paulo: Paulus, 2004, p. 270. 100

    Milton Schwantes. Breve Histria de Israel. So Leopoldo: Oikos, 2008, p. 55. 101

    John Bright. Histria de Israel. So Paulo: Paulus, 2003, p. 432. 102

    IDEM, pp. 416-417. 103

    Werner H. Schimidt. Introduo ao Antigo Testamento. So Leopoldo: Sinodal, 2004, p. 246. 104

    Claus Westermann. Isaiah 40-66: A Commentary. Philadelphia: The Westminster Press, 1969, p 11.

  • ficaram juntos e puderam preservar sua lngua, seus ritos, seus costumes, sua religio.

    Em outros termos, mantiveram sua identidade105

    .

    40

    2.6 Contedo

    2.6.1 Ciro o Messias de Jav (v.1)

    Segundo Schkel106

    , pela primeira vez na histria do povo escolhido, um orculo

    favorvel de Deus, se dirige a um rei estrangeiro, outorgando-lhe o ttulo de Messias de

    Jav. No entanto, K. Seybold107

    menciona que o autor dutero-isainico atribui o ttulo

    de Messias ao rei Ciro, empolgado, entusiasmado e no auge da alegria, pelo fato de o

    profeta esperar que Ciro libertasse os deportados judatas e permitiria que eles

    retornassem a Jerusalm e reconstrussem o Templo.

    Portanto, o ttulo messinico atribudo a Ciro no se referia ao Messias rei da

    tradio jerosolimitana, ou o Messias pobre, servo, justo, pastor, promotor da justia e

    da paz, da tradio judata j mencionados. O autor dutero-isainico enxerga em Ciro,

    caractersticas da tradio de Jerusalm que se referem ao Messias guerreiro e violento

    representado pelo cedro e no pelo cajado, mas, ao intitular Ciro de Messias, ele no

    pretendeu substituir a esperana no Messias vindo da casa de Davi, mas apresent-lo

    como libertador dos judeus exilados.

    Croatto108

    menciona Ciro como aquele que Jav tomou pela mo direita, com a

    finalidade de abater as naes e libertar os judatas exilados.

    2.6.2 O decreto de Ciro

    De acordo com Schwantes109

    , o decreto de Ciro se tornou muito importante, pois a

    histria do cronista o reproduz trs vezes: 2 Crnicas 36,22-23; Esdras 1,1-5; 6,3-5. Os

    105

    Milton Schwantes. Sofrimento e Esperana no Exlio: Histria e Teologia do povo de Deus no sculo

    VI a.C. So Leopoldo: Oikos, 2009, p.24. 106 Lus Alonso Schkel. Profetas I: Isaas e Jeremias. 2. ed. So Paulo: Paulus, 2004, p. 309. 107 K. Seybold, mashah, Em: Theological Dictionary of the Old Testament. Vol. IX. Grand Rapids/Cambridge: Willian B. Eerdmans Publishing Company, 2004, p. 43-54. 108

    Jos Severino Croatto, Isaas A palavra Proftica e sua releitura hermenutica: VolI. A libertao possvel. 1 ed. Rio de Janeiro: Vozes, 1998, p. 131-132. 109

    Milton Schwantes. Sofrimento e Esperana no Exlio: Histria e Teologia do povo de Deus no sculo VI a.C. So Leopoldo: Oikos, 2009, p.126-127.

  • textos no conferem exatamente. Schwantes compreende que os textos so de edies

    diferentes e considera o texto de Esdras 6,3-5 como o mais autntico.

    41

    Esdras 6,3-5

    Este decreto enfoca somente o templo, determinando sua reconstruo, definindo

    sua funo, seu tamanho, seu financiamento e a devoluo de seus utenslios. Esta

    restaurao apresentada especificamente como um projeto persa.

    Os exilados no aparecem, no entanto, isto no significa que eles no tivessem

    estado por trs da edio da Tor. Isto explica por que o rei Ciro, um ano aps ter

    assumido o poder da Babilnia, tenha se preocupado com a distante e destruda

    Jerusalm. Ser que os exilados se reuniro para a obteno deste decreto? Bem, o

    profeta dutero-isainico anos antes j havia aclamado Ciro como o Messias de Jav,

    ou seja, o libertador de Israel (Is 45,1).

    Foi na administrao persa e com seu apoio que os exilados passaram a definir o

    futuro do templo, de Jerusalm e de Jud. A pergunta que nos acabe por que Ciro

    beneficiou os exilados com a liberdade e estabeleceu um decreto para a reconstruo do

    templo e das cidades de Jerusalm e Jud?

    Schwantes menciona que esta atitude do rei Ciro pode estar ligada aos seus

    interesses polticos110

    . Tendo em vista que, em 538 a.C. o Egito ainda no estava sobre

    o controle dos persas e contar com o apoio de Jerusalm e Jud estar porta das

    entradas das terras do Nilo. Portanto, Schwantes sugere que o decreto de Ciro tem a ver

    com a pretendida invaso do Egito, efetuada em 525 a.C.

    110

    IDEM, 127.

    3No primeiro ano do rei Ciro, o rei Ciro ordenou: Templo de Deus

    em Jerusalm. O Templo ser reconstrudo para ser um lugar onde se

    ofeream sacrifcios, e seus alicerces devem ser restaurados. Sua

    altura ser de sessenta cvados e sua largura de sessenta cvados . 4Ter trs fileiras de pedras talhadas e uma fileira de madeira. A

    despesa correr por conta da casa do rei. 5Alm disso, sero

    restitudos os utenslios de ouro e de prata do Templo de Deus que

    Nabucodonosor retirou do santurio de Jerusalm para lev-los para

    Babilnia; de modo que tudo retome seu lugar no santurio de

    Jerusalm e seja deposto no Templo de Deus."

    (Esdras 6,3-5)

  • Os persas conquistam o Egito na Batalha de Pelsio, no mais pelas mos de Ciro,

    pois Ciro morreu em 530 a.C., na batalha contra os Massgetas sob o reinado de

    42

    Tmiris. A narrativa herodotiana notifica que a rainha Tmiris profanou o corpo de

    Ciro, pois o rei persa tinha matado seu filho em uma batalha111

    .

    O conquistador do Egito foi Cambises, filho de Ciro. Ele venceu o fara Psamtico

    III, filho de Ahms, poucos egpcios conseguiram fugir para Mnfes e permanecerem

    vivos.

    O governo de Ciro era evidenciado pela generosidade com os povos conquistados,

    no entanto seus sucessores no seguiram seu exemplo. O reinado de Cambises

    evidenciado por pouca diplomacia e muitas guerras, no entanto, Cambises semelhana

    de Ciro adotou alguns costumes e traos da religiosidade faranica, mas esta sua atitude

    dura pouco tempo, pois Cambises mata bois sagrados, ridiculariza e queima alguns

    deuses do Egito. No entanto para com seus sditos judias e jerosolimitas no h meno

    de violncia e agressividade.

    2.6.3 Eu seguirei diante da tua face (v.2)

    Croatto112

    menciona como o Dutero-Isaas demonstra Ciro sob a conduta de Jav,

    Eu seguirei diante da tua face. Schwantes salienta que o

    Dutero-Isaas, interpreta os avanos militares de Ciro como estando dentro do

    propsito de Jav113

    . Portanto, Jav seguia diante de Ciro, e por isto a Babilnia foi

    conquistada.

    Os muros da Babilnia com seus portes no intimidam a esperana dos exilados,

    pois o autor dutero-isainico enfatiza que Jav despedaa as portas de bronze e destruir

    as trancas de ferro

    (as) portas de

    bronze despedaarei e (as) trancas de ferro destruirei v. 2. Portanto, os judatas esto

    111

    Herdoto. O Relato Clssico da Guerra entre Gregos e Persas. 2 ed. So Paulo: Prestgio, 2001, p.

    181. 112

    Jos Severino Croatto, Isaas A palavra Proftica e sua releitura hermenutica: VolI. A libertao possvel. 1 ed. Rio de Janeiro: Vozes, 1998, p. 131. 113

    Milton Schawantes. Sofrimento e Esperana no Exlio: Histria e Teologia do povo de Deus no sculo VI a.C. So Leopoldo: Oikos, 2009, p. 99.

  • confiantes que Ciro os libertar, pois ele o Messias de Jav, ou seja, o libertador de

    Israel. Knight114

    ressalta que o Dutero-Isaas diz que Jav est prestes a nivelar as

    montanhas ante, os ps de Ciro, ou seja, nada poder impedir o Messias de Jav, de

    conquistar a Babilnia e libertar os exilados.

    43

    2.6.4 Tesouros e riquezas ao Messias de Jav (v. 3)

    Segundo Knight115

    , o autor dutero-isainico ao mencionar os tesouros obscuros e

    a