faculdade aiec · mulheres conquistam o sucesso no de sua vida familiar. como a senhora vivencia...
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1FACULDADE AIEC
Associação Internacional de Educação Continuada
Faculdade AIEC
PresidenteVicente Nogueira Filho Diretor FinanceiroFrancisco Cabral de Menezes Júnior Diretora AdministrativaLéa Postiga Nogueira Diretora de Graduação Ruth Alves Franklin Almeida Diretor de Pós-Graduação Alaciel Franklin Almeida Diretor de Pesquisa e AvaliaçãoBenito Nino Bisio
Ideias em Gestão é uma publicação da Faculdade AIECISSN 2236-8183
EditorVicente Nogueira Filho
Coordenação EditorialArtur Roman
Direção de ArteAna Cristina Almeida
Projeto GráficoHeto Carvalho
Revisão Ângelo Edval Roman Artur A. Roman Orly Marion Webber Milani
FinalizaçãoÂngela Roman
Fotos: capa e entrevista Fernando Battistetti
Foto: editorial Cleber Medeiros
ImpressãoGráfica Infante – Curitiba - PR
Diagramação e arteLado A estúdio de criação | 41 [email protected]
Edição nº 10 – Novembro/2012Tiragem: 5.000 exemplares
ContatoRevista Ideias em GestãoCLSW 105 - Bloco A - Edifício Espaço 105 - 1º andar Setor Sudoeste - CEP 70.670-431 - Brasília - DFTelefone: (61) 3403-0000E-mail: [email protected]
Os artigos publicados na Ideias em Gestão são de responsabilidade de seus autores. As opiniões neles emitidas não representam necessariamente a opinião da AIEC.
ÍNDICE Apresentação
Editorial
Entrevista Luiza Helena Trajano Presidente do Magazine Luiza
Gestão de Mudanças As mudanças no modelo de gestão da economia cubana Nidia Alfonso Cuevas
Gestão da Espiritualidade Salutogênese e senso de imortalidade Wesley Aragão de Moraes
Gestão de Riscos Gestão dos riscos no Setor Público:
ampliando os horizontes
Manoel Gomes Marciape Neto Marcus Vinicius de Azevedo Braga
Gestão da Formação Desenvolver o espírito empresarial: uma meta supranacional Rachel de Castro Almeida
Gestão Ambiental Reciclar para conservar Mario Eduardo Baptista
Gestão Eclesiástica Missão pastoral e funções administrativas Wilmar Santin
Gestão da Inovação Tecnologia nacional e inovação em pesquisa de mídia Márcio Chan
Gestão de Programas Sociais Captação e aplicação de recursos públicos: gerenciamento de projetos Magna Regina Tessaro Barp
Gestão de Sistemas de Saúde Gestão na área de saúde: foco no paciente Cesar Abicalaffe
Gestão de Finanças Pessoais Educação para investimentos e controle financeiro
Luis Abdal
EAD – Educação a Distância Educação corporativa: bom pra todos Carlos Netto
E então... Artur Roman
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2 IDEIAS EM GESTÃO | NO 10 | NOV/2012
APRESENTAÇÃO
A Ideias em Gestão, revista da Faculdade AIEC, publica entrevista e artigos com experiências, pesquisas e
aprendizagens no universo organizacional e no mundo dos negócios.
Periodicidade: três edições por ano, em março, julho e novembro.
Tiragem: 5.000 exemplares.
Público-alvo: empresários, dirigentes e funcionários de organizações privadas e públicas, administradores
formados pela Faculdade AIEC, alunos da Instituição.
Distribuição: gratuita para o público selecionado em todas as regiões do Brasil.
Autores: empresários, dirigentes de empresas, profissionais com experiência de mercado, pesquisadores,
pensadores e professores da área de administração, convidados especiais, administradores formados na
Faculdade AIEC, professores, tutores e alunos.
Temas dos artigos: relacionados às diversas áreas da administração como Gestão de Pessoas, Educação
corporativa, Marketing, Finanças, Produção, Serviços, Comunicação, Contabilidade, Controladoria,
Logística, Responsabilidade socioambiental, Empreendedorismo, etc.
Natureza dos artigos: opinativo, reflexivo, descritivo ou analítico.
Tamanho dos artigos: até 9.000 caracteres (com espaços).
Para receber a Ideias em Gestão, escreva para [email protected]
Para acessar a versão virtual da Ideias em Gestão, cadastre-se no site www.aiec.br
Para submeter artigos, contate o Coordenador Editorial: [email protected]
Na edição deste mês criei formas e molduras com os detalhes dos quadros de Ro Sampaio, seguindo as cores
fortes e texturas criadas pela artista. A ideia foi transmitir delicadeza e naturalidade nas páginas da revista.
Ana Cristina Almeida – Diretora de Arte
3FACULDADE AIEC
Editorial
Cara leitora, caro leitor
Chegamos ao final do ano, com a recessão
do velho continente repercutindo em todas
as economias do planeta. Acomodados após
décadas de estabilidade, os europeus se dão conta
agora de que uma das formas de dinamizar suas
economias combalidas é, não apenas estimular o
empreendedorismo, mas ensiná-lo nas escolas. É o
que descreve Rachel Almeida em seu artigo nesta
edição, lembrando que a AIEC nascia, há 10 anos,
já com a missão de formar administradores com o
espírito empreendedor.
Sabemos dos resultados que trazem a ação
empreendedora para os negócios e trazemos
nesta edição uma entrevista com um ícone do
empreendedorismo no Brasil: a Presidente do
Magazine Luiza. À frente da empresa, Luiza Helena
tem mostrado que é possível, com estratégias
inovadoras e com trabalhadores motivados,
crescer e garantir resultados sustentáveis.
E essa pulsão para o empreendedorismo pode
também ser vista em outros artigos da Revista.
Autores do Rio Grande do Sul ao Pará abordam
temas variados como saúde, mídia, finanças
públicas, risco, reciclagem de pneus, educação
financeira, até a administração de uma Prelazia da
Igreja Católica. Independentemente de religião, o
instigante artigo do médico e antropólogo Wesley
de Moraes discute a importância de cultivarmos a
espiritualidade em nossa vida, o que certamente
irá favorecer nossa ações empreendedoras.
A dimensão desafiadora de toda crise pode ser
comprovada no artigo sobre Cuba, cujas notícias
no Brasil têm oscilado entre críticas
contaminadas ideologicamente e elogios
inspirados ainda na figura mítica
de Che Guevara.
A Professora Nidia Cuevas, da Universidade de
Havana, nos traz um artigo técnico e realista sobre
as mudanças em curso na economia daquele país
socialista, dentre as quais se destaca o estímulo ao
empreendedorismo individual.
Já são exatamente 1.439 funcionários do Banco
do Brasil a escolher a Faculdade AIEC para sua
formação acadêmica, numa demonstração de que
a educação a distância já está muito bem assimilada
na empresa. Isso se comprova com o artigo de
Carlos Netto, Diretor de Gestão de Pessoas do
Banco do Brasil, sobre a experiência da empresa
na orientação a seus funcionários sobre o novo
posicionamento da empresa.
As coloridas, expressivas e vibrantes ilustrações
desta edição foram elaboradas a partir de telas da
artista plástica curitibana Ro Sampaio.
Boa leitura!
Prof. Vicente Nogueira Filho
Editor
4 IDEIAS EM GESTÃO | NO 10 | NOV/2012
Entrevista
- Presidente do Magazine Luiza
- Vice-presidente do IDV (Instituto para Desenvolvimento do Varejo)
- Vice-presidente do Conselho Diretor do Comitê Organizador dos Jogos Olímpicos e Paralímpicos Rio 2016
- Graduada em Direito e Administração de Empresas
INoVAção, ouSAdIA e
VALoRIzAção do SeR
huMANo é A ReCeItA
do MAgAzINe LuIzA
PARA PRoduzIR
ReSuLtAdoS
SuSteNtáVeIS e
FAzeR PARte dA
LIStA dAS MeLhoReS
eMPReSAS PARA Se
tRABALhAR.
1 - Em novembro de 2012, o
Magazine Luiza completou 55 anos,
nos últimos 21 anos sob sua direção.
São 728 lojas e nove centros de
distribuição, localizados em 16
Estados. Se fosse possível voltar no
tempo, há algo que a senhora faria
diferente à frente da organização?
Luiza Helena - É complicado dizer,
porque a vida é feita de erros e acertos.
Eu poderia voltar, fazer alguma
coisa diferente e errar. Errei muito,
mas aprendi com todos os meus
erros. Foi isso que me fez crescer
profissionalmente. Acertamos muito
também, pois trabalhamos ouvindo a
equipe e somando inteligências.
2 - Como está o posicionamento da
mulher executiva hoje no Brasil em
relação a 1991, quando a senhora
assumiu a direção do Magazine
Luiza?
Luiza Helena - As mulheres têm
ganhado cada vez mais espaço no
mercado de trabalho e, hoje, temos
grandes líderes mulheres em todos os
segmentos. Nossa representatividade
está maior e já conquistamos o respeito
de todos os setores. Considero isso um
fator bastante positivo.
5FACULDADE AIEC
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cOmigO.
3 - Quando a senhora, ainda garota,
começou a trabalhar como balconista
em uma das lojas do Magazine Luiza,
imaginava que chegaria à presidência
da empresa, e que sua gestão seria
objeto de estudos acadêmicos em
Harvard? Quando a senhora se deu
conta de que “poderia chegar lá”?
Luiza Helena - Tudo foi acontecendo de
forma muito natural e gradual. Somos
uma família pequena e sempre investimos
na profissionalização da empresa.
Até chegar ao cargo de presidente da
rede, em 2009, eu passei por todos os
departamentos do grupo, da cobrança à
gerência, das vendas à direção comercial.
Em 1991, assumi a superintendência após
participar da criação da holding, que veio
para profissionalizar a empresa e definir
o processo sucessório do grupo. No
Magazine Luiza é assim: se o meu filho ou
algum sobrinho assume algum cargo na
diretoria, é por mérito. Também foi assim
comigo.
4 - Segundo pesquisa do Instituto
Great Place to Work, há 14 anos,
o Magazine Luiza está entre
as melhores empresas para se
trabalhar no Brasil. Existe alguma
receita especial para ter esse
reconhecimento e faturar 2 bilhões
por ano?
Luiza Helena - Desde sua fundação,
em 1957, em Franca (SP), faz parte
dos preceitos do Magazine Luiza a
necessidade constante de inovar, renovar
e, principalmente, valorizar as pessoas.
Nossa política de Gestão de Pessoas é
baseada na valorização do ser humano.
Por ser uma empresa inovadora e
ousada, adota práticas e valores para
incentivar a equipe e realiza uma série
de programas que visam a dar qualidade
de vida, capacitação técnica e evolução
pessoal para que todos tenham uma visão
de mundo mais ampliada. Esse é o nosso
principal diferencial e acredito que seja
justamente por isso que estamos na lista
das melhores empresas para se trabalhar.
6 IDEIAS EM GESTÃO | NO 10 | NOV/2012
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5 - O senso comum afirma que as
mulheres conquistam o sucesso no
mundo empresarial com o sacrifício
de sua vida familiar. Como a senhora
vivencia essa questão?
Luiza Helena - Minha vida profissional
sempre caminhou com a pessoal. Por
isso, enfrentei dificuldades que todo
mundo que precisa conciliar as duas
coisas enfrenta. Sou de uma família
na qual a mulher sempre trabalhou
e sempre fiz questão de manter uma
rotina normal com meus familiares,
com tempo para minhas leituras, para
assistir a programas de TV, ter meus
momentos de lazer, levar meus filhos
à escola, etc. É tudo uma questão de
organização e de criar uma rotina que
possibilite conciliar essas duas coisas.
Pode não ser muito fácil, mas também
não é tão difícil como muita gente
pensa.
6 - A euforia de consumo que
vivemos hoje no Brasil se deve
especialmente ao aumento do poder
de compra das classes C e D. A
senhora acredita que essa situação
perdurará ou é apenas uma “bolha”?
Luiza Helena - Eu acredito que pode
perdurar, mas existe um consumo
retraído ainda, muito em virtude
do endividamento de boa parte da
população. É preciso criar alguma coisa
para facilitar quem está endividado
com o cartão de crédito e cheque
especial, cujos juros são altos. Muitos
consumidores se endividaram, mas
querem saldar suas dívidas justamente
para voltarem a consumir.
7FACULDADE AIEC
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vAlOR.
7 - O “Magazine Você” oferece
a possibilidade de pessoas, no
facebook ou orkut, venderem
produtos do Magazine Luiza. Essa
parece ser uma forma inovadora
e inteligente de fazer negócios
aproveitando as redes sociais. Como
surgiu essa ideia? Ela está dando
resultados?
Luiza Helena - A ideia surgiu do
levantamento de três cenários
principais: a força do mercado de
vendas diretas no Brasil, que já é o 4º
maior do mundo nessa categoria, o
boom do e-commerce brasileiro e a
afinidade da nossa população com
redes sociais. Essa iniciativa já foi
sucesso logo no início de sua abertura
para o público em geral, registrando 20
mil lojas virtuais em apenas uma semana
de funcionamento.
8 - O Magazine Luiza trabalha
para tornar o ato de comprar uma
experiência prazerosa. O estímulo
ao consumo não vai contra a
preocupação com a sustentabilidade
do planeta e a limitação de recursos
naturais e matérias-primas?
Luiza Helena - Deixar de existir
consumo atrapalha toda a geração
econômica, e ter consumo sem
preocupação com a sustentabilidade é
uma irresponsabilidade. O desafio é criar
um consumo sustentável e com respeito
aos recursos naturais.
9 - Que recado a senhora daria para
as mulheres que estão batalhando no
mundo dos negócios, ambiente ainda
predominantemente masculino, ou
atuando no mercado de trabalho,
muitas vezes com remuneração
inferior a dos homens?
Luiza Helena - Os mesmos que daria
a um homem: que é imprescindível
estar sempre em busca de novos
conhecimentos, se aprimorar no que
faz, se permitir a ousadia, inovação,
enfim, que saiam de seu “quadrado”.
É importante nunca se acomodar.
Falando mais diretamente à mulher, eu
costumo dizer que o preconceito está
mais em nossas mentes do que na mente
das outras pessoas. Nunca me senti
discriminada, porque nunca me permiti
ter esse tipo de sentimento. Aconselho a
todas as mulheres que façam o mesmo e
mostrem o seu valor.
8 IDEIAS EM GESTÃO | NO 10 | NOV/2012
Gestão de Mudanças
CuBA PRoMoVe
MudANçAS RAdICAIS
NA eCoNoMIA do
PAíS PARA gARANtIR
AS CoNquIStAS dA
ReVoLução.
Nidia Alfonso Cuevas
Tradução: Artur Roman
Os modelos econômicos
tradicionais se materializam
através de políticas econômicas
e instrumentos de gestão baseados em
indicadores macroeconômicos. Nesses
modelos, as variáveis sociais contam, mas
não determinam, porque os interesses
dos agentes econômicos as colocam
em segundo plano. No caso cubano,
definir um modelo sem considerar as
variáveis sociais seria impossível. A essas
variáveis devem ser adicionadas diversas
limitações, dentre as quais se destacam:
• Economia aberta com uma grande
dependência do comércio exterior. É
necessário importar mais bens do que
podemos produzir.
• Bloqueio econômico desde 1961,
reforçado a partir dos anos 90 com as leis
extraterritoriais, que vão além de impedir
as relações entre Cuba e EUA1.
• Economia subdesenvolvida com
produtos de exportação de baixo valor
agregado (açúcar, níquel, tabaco, frutas
cítricas, etc.).
• Produção de alimentos insuficiente. A
prioridade na importação de alimentos
limita a importação de outros bens e
serviços.
• Recursos financeiros insuficientes
agravados por restrições, impostas pelos
EUA, à obtenção de crédito.
• Recursos naturais escassos e baixo
potencial tecnológico em setores chaves
como agricultura, indústria de máquinas,
transporte, etc.
Se tivéssemos que criar um modelo de
gestão econômica com essas restrições e
com expectativas elevadas de atendimento
às necessidades de uma população, como
fazê-lo? Não é possível distribuir bens sem
uma base produtiva eficiente e sustentável.
Repartir sem assegurar a produção do
que é partilhado tem como resultado o
esgotamento da riqueza.
O compromisso que o Governo
Revolucionário assumiu com o povo
cubano, desde o início da luta pela
libertação em 1953, determinou o caráter
profundamente social e emancipatório da
Revolução Cubana.
1 o bloqueio econômico a Cuba, que dura 50 anos, é um dos mais longos da história contemporânea. em 2011, a Assembleia geral das Nações unidas deliberou pela 20ª vez contra o bloqueio, com o apoio de 186 nações. euA e Israel votaram contra. (Nota do tradutor)
9FACULDADE AIEC
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SOciAl.
Esse compromisso tem marcado o
desempenho econômico e social da
Revolução, mas tem gerado, também, um
custo econômico, político e social.
Socialismo cubano?
Cuba optou, desde 1961, pela construção
do Socialismo. Mantê-lo como um projeto
econômico exige recursos para garantir a
todos o que foi conquistado durante mais
de 50 anos de Revolução. Significa produzir
riquezas de forma sustentável para atender
as demandas dos cubanos no presente e no
futuro.
Autores como Marx, Engels e Lênin não
nos deixaram receitas de como criar uma
nova sociedade após a destruição do
capitalismo. E para Cuba, após a Revolução,
o problema era duplamente complexo. Se,
na primeira metade do século XX, os Estados
Unidos haviam confirmado sua dominação
econômica em nosso país, após o triunfo da
Revolução, estabelecemos relações estreitas
com seu “inimigo”, a antiga União Soviética.
A isso, se somam as mudanças tecnológicas
que tiveram que ser feitas em Cuba por conta
do bloqueio e da impossibilidade de negociar
com um dos principais fornecedores de
tecnologia, alimentos e medicamentos do
mundo, que são os EUA.
A posterior queda da URSS (1991)
obriga Cuba a repensar a sua estrutura
de produção e de comércio exterior,
mas desta vez sem os antigos
parceiros comerciais e em um mundo
predominantemente neoliberal.
A dramática queda do produto interno
bruto em 35% naquela época pode dar
uma imagem do impacto econômico na
sociedade cubana.
Diante dessa situação, foi preciso apelar
para um recurso desenvolvido desde a
Campanha de Alfabetização2: o potencial
intelectual de seu povo, o conhecimento
acumulado socialmente a partir de políticas
que abrangeram todos os níveis de ensino,
do pré-primário ao universitário. Esse
potencial humano permitiu que Cuba,
por um lado, buscasse novas fontes de
produção e acumulação, e, por outro,
enfrentasse um bloqueio duplo: o
tradicional dos EUA e o que passaram a
fazer os países ex-socialistas ao interromper
sua ajuda e financiamentos.
Abertura cubana
A década de 90 foi marcada pela abertura
cubana ao Investimento Estrangeiro
Direto (IED). Lênin, em sua época, já havia
considerado que era possível e necessário
capital e tecnologia capitalista para
impulsionar o desenvolvimento socialista.
No caso cubano, a entrada de capital
foi direcionada especialmente àquelas
produções e serviços que poderiam garantir
saldos favoráveis na balança comercial do
país, sob supervisão e controle do Estado.
Organizou-se o setor de biotecnologia3 e se
impulsionou o turismo internacional como
fonte de ingresso de divisas, mantendo-
se a produção de itens tradicionais como
tabaco, rum, lagosta, cítricos e níquel.
2 A Campanha de Alfabetização, iniciada logo depois da Revolução, terminou em 22.12.61, data em que Cuba é declarada o primeiro país da América Latina livre do analfabetismo.
3 desde 1993, Cuba vem fazendo grandes progressos na área de biotecnologia. graças a uma consistente capacidade de pesquisa científica, especialmente na área médica, a biotecnologia cubana já gerou mais de 600 patentes. Sua vacina contra hepatite B é vendida em 30 países do mundo. em 2011, Cuba anunciou ter desenvolvido a primeira vacina terapêutica contra o câncer de pulmão. (Nota do tradutor)
10 IDEIAS EM GESTÃO | NO 10 | NOV/2012
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dESENvOlvimENTO.
A soberania se exercia de duas maneiras:
dirigindo o capital para as prioridades e
garantindo a obtenção de dividendos para
atender as necessidades da economia e
da população cubana. Para muitos, Cuba
estava vendendo o país. Para os cubanos,
foi e é uma estratégia de sobrevivência e
desenvolvimento.
O IED deveria garantir capital, tecnologia
e mercado, de forma que fosse possível
recuperar o investimento e pagar
dividendos a seus investidores e acionistas.
De igual modo, foi estabelecido que
setores como defesa, educação e saúde
não receberiam investimento estrangeiro.
Esses princípios têm sido mantidos até
hoje, pois representam a vontade soberana
do povo e governo cubanos.
Reorientação das estratégias econômicas
Combinar IDE, turismo e circulação de
divisas com os princípios socialistas em um
mundo hostil tem sido uma tarefa difícil e
tem gerado custos econômicos e sociais.
A dimensão social da Revolução Cubana
não pode nem deve perder-se e essa é
precisamente uma das razões pela qual
se faz necessária a atualização do modelo
cubano.
O envelhecimento da população cubana,
a diminuição da taxa de natalidade e
a necessidade urgente de reduzir os
subsídios a empresas ineficientes, mas
socialmente necessárias, estão forçando
uma reorientação das estratégias
econômicas.
O Estado não pode continuar assumindo
a responsabilidade de garantir emprego
a toda população, além de assistência e
seguridade social. É preciso evoluir do
subsídio a produtos e empresas, para o
subsídio às pessoas.
É preciso fazer do círculo vicioso de
empresas ineficientes, produção subsidiada
e baixa produtividade, um círculo virtuoso
de eficiência, que sustente os indicadores
sociais e estimule o desenvolvimento do
país. Desde 1995, estão sendo aprovadas
variantes do chamado “trabalho por conta
própria”, ou seja, o estabelecimento de
médias e pequenas empresas privadas,
que se expandem em 2010, com os
regulamentos sobre as novas atividades4.
Com isso, cresceu a entrada de receitas
tributárias, importante fonte de
financiamento do Estado. Como esses
recursos não são suficientes, mantém-
se como prioridade a substituição
de importações de alimentos e de
produtos destinados ao consumo social,
privilegiando-se os investimentos que
podem favorecer a balança de pagamentos.
O VI Congresso do PCC
Em novembro de 2010 se divulga a
convocação para o VI Congresso do
Partido Comunista Cubano, junto com as
“Diretrizes para a política econômica e
social da Revolução e do Partido”, tema
central do evento, que ocorreu de 16 a
18/04/2011. Trata-se de um compêndio
de objetivos que combinam prioridades
econômicas e sociais5.
4 estima-se que, atualmente, 22% do PIB de Cuba é gerado por negócios particulares. (Nota do tradutor)
5 As reformas estruturais incluem, dentre outras medidas, a demissão de trabalhadores estatais, o incentivo à iniciativa privada e a limitação dos mandatos de dirigentes do partido e do estado a dois períodos de cinco anos. (Nota do tradutor)
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POPulAR.
Nidia Alfonso Cuevas
Professora Auxiliar do Instituto
Superior de Relações Internacionais
“Raúl Roa García”. Mestre em
Administração de Negócios e
Doutoranda em Economia Política pela
Universidade de Havana, Cuba.
A discussão pela população dessas
diretrizes foi um dos processos
mais democráticos ocorridos na
Revolução Cubana. Nas Diretrizes,
vemos o que desejamos alcançar, mas
o maior desafio é como implementar
as medidas propostas. É necessário
criatividade e um monitoramento
sistemático que permita corrigir o curso
constantemente.
Passado mais de um ano do VI
Congresso, não se veem avanços
espetaculares. O Presidente Raúl Castro,
porém, já havia enfatizado a necessidade
de avançar “sem pressa, porém sem
pausa”, pois os erros poderão custar
mais hoje do que em outros momentos
da Revolução.
A sociedade cubana é escolarizada,
porém envelhecida. O país possui
uma estrutura de emprego que não
satisfaz suas necessidades produtivas
nem alimentares. Além da escassez de
divisas para investir e poupar, e de ter
que administrar a dualidade monetária6,
Cuba está impedida de negociar
livremente com o mundo por conta do
bloqueio econômico.
Para sobreviver em um mundo
capitalista e sobretudo neoliberal, Cuba
precisa de parceiros que compartilhem
a utopia de que um mundo melhor é
possível7, mesmo que não saibam como
fazê-lo.
Estamos vivendo hoje em Cuba
o processo mais profundo de
aprimoramento econômico do
socialismo depois do triunfo da
Revolução. E está sendo realizado
de forma consciente, organizada,
sem voluntarismo e com uma ampla
discussão popular.
O modelo econômico cubano se atualiza
para perdurar, para proteger suas
conquistas, e também para avançar em
escalas mais humanas, de acordo com o
tempo em que vivemos. Pessoalmente,
acredito que qualquer modelo de
desenvolvimento nacional deve ser,
antes de tudo, uma questão soberana
e profundamente democrática. A
isso aspiramos e por isso lutamos os
cubanos.
6 em Cuba, convivem duas moedas: o peso cubano utilizado para pagar o salário da maioria dos trabalhadores e camponeses, e o CuC, peso conversível, com um valor 24 vezes maior que o peso cubano, utilizado pelos turistas e também por cidadãos cubanos para adquirir mercadorias nas chamadas lojas coletoras de divisas. (Nota do tradutor)
7 O Brasil é hoje o segundo maior parceiro comercial de Cuba na América Latina, depois da Venezuela, com investimentos nas áreas de agricultura, indústria, saúde, infraestrutura, ciência e tecnologia. o saldo da balança comercial entre os dois países é favorável ao Brasil. (Nota do tradutor)
Cuba Brasilárea 110.861 km2 8. 514.876,599 km2 População 11.242.621 192 .376.496Idh 0,776 0,718expectativa de vida 79,1 anos 73,5 anosMortalidade infantil 4,9/mil nascidos 15,6/mil nascidosAlfabetização 99,8% da população 90,4% da populaçãoCrescimento do PIB 2010: 2,1% 2010: 7,5% 2011: 2,7% 2011: 2,7%
12 IDEIAS EM GESTÃO | NO 10 | NOV/2012
Gestão da Espiritualidade
12 IDEIAS EM GESTÃO
MédICo ReFLete
SoBRe A
IMPoRtâNCIA de
CuLtIVARMoS A
eSPIRItuALIdAde
PARA A SAúde e
quALIdAde de VIdA.
Wesley Aragão de Moraes
Existe uma relação entre a
formação espiritual de uma
pessoa e a sua capacidade de
enfrentar os embates da existência.
Pesquisas diversas em centros médicos
apontam que pessoas com alguma
bagagem espiritual – seja qual for a
sua tradição religiosa – apresentam
maior capacidade de autocontrole,
de serenidade e mesmo de equilíbrio
imunológico diante de situações
estressoras. Esse enfoque da saúde, do
equilíbrio, como condição existencial
possível, é chamado de salutogênese ou
paradigma salutogenético.
Comumente, as ciências da saúde
estudam não a saúde (salutos, em
latim), mas o adoecimento humano
e como evitá-lo. Isso se chama
patogênese ou paradigma patogenético
(de pathos, sofrimento, do grego). A
salutogênese faz o enfoque contrário.
Ela não se pergunta por que motivo
adoecemos e como vamos tratar a
doença, como a patogênese.
Ela se pergunta como devemos fazer
para nos mantermos sadios e em
equilíbrio mesmo diante dos embates
da existência. Isso é salutogênese,
paradigma que aparece depois da
segunda guerra mundial, através dos
trabalhos do sociólogo e médico judeu-
americano Aaron Antonovsky (1923-
1994).
Um dos itens, entre outros de uma
lista, para que uma pessoa se mantenha
sadia e “forte” (resiliente, é o termo em
voga) é justamente a espiritualidade.
O trabalho de Antonovsky começa
quando ele verifica que, nos campos
de concentração nazistas, aqueles
indivíduos mais religiosos, que tinham
a sua espiritualidade em que se apoiar,
tiveram maior chance de sobrevivência
e de resiliência, não só em termos
psicológicos mas também em termos
físicos.
13FACULDADE AIEC 13FACULDADE AIEC
Antonovsky conclui, em sua pesquisa,
que, além de outros itens tais como
boa genética, solidariedade e apoio,
amorosidade, boa educação e formação
cultural, etc., a espiritualidade é
fundamental para que o ser humano
sobreviva. Conclui, também, que
os indivíduos sem qualquer apoio
espiritual interno tornam-se mais
frágeis, sucumbem e “desmontam”
mais facilmente diante de riscos e de
fatores estressores.
Espiritualidade e religião
As pessoas modernas vivem tão sem
espiritualidade, ou a colocam num
plano tão irrelevante, que essa postura
acaba sendo considerada dentro
da “normalidade”. Afinal, “normal’
é quem segue a norma vivida pela
maioria. A maioria das pessoas vive sem
espiritualidade – o que é diferente de se
dizer que a maioria vive sem religião.
Uma pessoa pode se definir como
religiosa, frequentar alguma crença
religiosa e, no entanto, viver um estilo
de vida totalmente sem espiritualidade.
O contrário também é possível: um
indivíduo muito espiritualizado viver
sem frequentar culto religioso algum.
Ou então, uma pessoa viver sem religião
e sem espiritualidade, o que é uma
situação indesejada.
O Dalai Lama define bem um indivíduo
moderno sem espiritualidade, esse
sentido mais profundo na existência:
“O que mais surpreende é o homem
que perde a saúde para juntar dinheiro,
depois perde o dinheiro para recuperar
a saúde. Vive pensando ansiosamente
no futuro, de tal forma que acaba por
não viver nem o presente, nem o futuro.
Vive como se nunca fosse morrer e
morre como se nunca tivesse vivido.”
Essa postura descrita pelo Dalai Lama,
que é bem comum hoje, significa uma
qualidade de vida ruim e qualidade
de vida tem relação direta com
espiritualidade. Espiritualidade é
justamente um senso de imortalidade,
intuição de que alguma coisa tem um
sentido maior do que a nossa vidinha
comum profissional, sentimental
ou cotidiana, desconfiança de
que há algum mistério maior não
necessariamente compreendido por
trás dos acontecimentos e de que,
afinal, não estamos sós e abandonados,
mas que parece haver algo misterioso e
oculto velando por nós.
“
”
AS ciêNciAS dA
SAúdE ESTudAm
O AdOEcimENTO
humANO E
cOmO EviTá-lO.
A SAluTOgêNESE
fAz O cONTRáRiO:
NÃO SE PERguNTA
POR quE mOTivO
AdOEcEmOS E
cOmO vAmOS
TRATAR A
dOENÇA E Sim
cOmO dEvEmOS
fAzER PARA NOS
mANTERmOS
SAdiOS E Em
EquilíbRiO diANTE
dOS EmbATES dA
ExiSTêNciA.
14 IDEIAS EM GESTÃO | NO 10 | NOV/2012
“
”
14 IDEIAS EM GESTÃO
Quem sabe, ainda, talvez seja verdade
o que os místicos dizem: que somos
todos imortais e que a vida continua
mesmo depois da morte. E quem
sabe, até, o que dizem alguns sobre
reencarnação também seja verdade:
chances e mais chances de sermos
felizes. Isso é espiritualidade. E assim,
uma outra postura nos fará meditar
seriamente sobre o que vale a pena, o
que é essencial, o que é fundamental –
ou seja, estabelecermos uma hierarquia
de valores e necessidades (coisa que,
por incrível que pareça, muitas e muitas
pessoas não têm, e por conta disso
sofrem mais e perdem mais energia e
tempo na vida).
No caso do Cristianismo, “salvação”
e “saúde” têm sentidos próximos.
Etimologicamente, “salutos”, do latim,
originou tanto “salvação” quanto
“saúde”. Há aqui uma ontologia na qual o
humano completo é aquele que mantém
um vínculo natural com o espírito
divino, e o ser humano são é aquele que
recupera esse vínculo. O ser humano
em que tal vínculo se encontra apagado,
esquecido, está frágil, susceptível de cair
diante dos desafios da vida, pois lhe falta
força.
Sentido nas coisas
A noção de saúde espiritual ou
espiritualidade sã implica posturas
específicas diante da vida, tais como:
simplicidade, espontaneidade,
serenidade, compaixão, fé, bondade,
força interior, meditação, etc.
O Budismo diz praticamente o mesmo.
Um dos principais ingredientes da
espiritualidade que promove essa força
interior, essa reserva de energia que
torna o indivíduo capaz de enfrentar os
problemas e desafios, é justamente o
senso de significação – a certeza interior
de que há um sentido nas coisas, mesmo
que aparentemente incompreensível.
O terapeuta Viktor Frankl, também
falecido, falava disso. Ele era judeu e foi
prisioneiro em campo de concentração
nazista. Sobreviveu justamente porque
encontrou essa reserva de energia,
como que uma voz interna que, nos
momentos de desespero, dava-lhe
forças e lhe dizia que o sentido oculto
da existência estava ali, mesmo
que tudo parecesse sem sentido e
cruel. Com isso, observaria Frankl,
o indivíduo mantém a esperança. A
desesperança tira energias do indivíduo,
o desconcentra, lança-o num caos
psíquico do qual ele dificilmente dá
conta. E, se essa desesperança convive
com ele no cotidiano, a sua qualidade de
vida cai terrivelmente.
Nossa atribulada rotina moderna,
especialmente nas grandes cidades,
carregada de compromissos, horários,
trânsito, negócios, reuniões, etc. tenta
nos impor uma péssima qualidade de
vida. Há muitos indivíduos que nem
consciência disso têm. A não ser, talvez,
quando são obrigados a parar por
conta de um mal súbito, um enfarte,
um piripaque qualquer que os leva ao
médico.
ESPiRiTuAlidAdE
é um SENSO dE
imORTAlidAdE,
iNTuiÇÃO dE
quE AlgumA
cOiSA TEm um
SENTidO mAiOR
dO quE A NOSSA
vidiNhA cOmum
PROfiSSiONAl,
dEScONfiANÇA
dE quE NÃO
ESTAmOS SóS E
AbANdONAdOS,
mAS quE PAREcE
hAvER AlgO
miSTERiOSO E
OculTO vElANdO
POR NóS.
15FACULDADE AIEC 15FACULDADE AIEC
Nesses casos, uma doença acaba
servindo como um alerta de que a
qualidade de vida está ruim. Se o
indivíduo faz uma autoanálise mais
aprofundada, poderá verificar que lhe
falta espiritualidade.
Questão de hábito
Como podemos cultivar uma
espiritualidade sadia e inserida em
nossos desafios existenciais? Tornando
isso um hábito. Melhorando a nossa
qualidade de vida, ao inserirmos nela
um tempo para meditação e para boas
leituras (Dalai Lama é uma boa dica,
por exemplo, além de outros). O nosso
próprio espírito precisa de um tempo
para si em nosso cotidiano. O espírito se
alimenta de beleza (na arte, na natureza,
onde houver), de convívio com outras
pessoas espiritualizadas, de silêncio,
de calma interior, coisas que podemos
cultivar até numa boa caminhada diária,
por exemplo. Enfim, cria-se um hábito.
Não temos como mudar o mundo.
Mas podemos mudar o nosso mundo
interior. E podemos ainda mudar muita
coisa do nosso mundo de convívio. Só
precisamos de referências e de dedicar
um tempo para cultivar essa nossa
dimensão espiritual. Muitos indivíduos
se tornam escravos do tempo. Mas
alguém só é escravo do tempo na
medida em que consente essa situação.
O tempo não escraviza ninguém.
O indivíduo é que se escraviza a partir
de uma escala de valores que define o
que é fundamental e essencial em sua
vida.
Há um tempo do mundo, corrido,
afobado, angustiado. A espiritualidade
precisa de um tempo sereno, calmo,
tranquilo. Podemos conviver com
os dois tipos de tempo. Questão de
hábito. Questão de criarmos espaços
para administramos diferentes estilos
de vida. Há tempo para sair correndo,
há tempo para ir mais devagar e há
tempo para estar em paz, sereno, em
silêncio, completamente parado. Basta
criarmos o hábito. Se não aprendermos
o quanto isso é essencial a partir de
uma autorreflexão, talvez a vida venha
nos ensinar de uma maneira que talvez
não gostemos, pois uma das premissas
da espiritualidade é que a vida é uma
escola. Estamos aqui aprendendo.
E estamos aprendendo, inclusive,
como podemos cultivar a própria
espiritualidade.
Gostaria de encerrar este artigo com
outra citação do Dalai Lama, que diz:
“Desenvolver força, coragem e paz
interior demanda tempo. Não espere
resultados rápidos e imediatos, sob o
pretexto de que decidiu mudar. Cada
ação que você executa permite que essa
decisão se torne efetiva dentro de seu
coração.”
“
”
há TEmPO
PARA SAiR
cORRENdO, há
TEmPO PARA
iR dEvAgAR
E há TEmPO
PARA ESTAR Em
PAz, SERENO,
PARAdO. SE NÃO
APRENdERmOS
iSSO A PARTiR
dE umA
AuTORREflExÃO,
A vidA POdERá
NOS ENSiNAR dE
umA mANEiRA
quE TAlvEz NÃO
gOSTEmOS.
Wesley Aragão de Moraes
Médico clínico, atualmente
trabalhando em Juiz de Fora (MG).
Mestre em Ciência da Religião, pela
UFJF. Doutor em Antropologia, pelo
Museu Nacional da UFRJ. Artista
Plástico.
16 IDEIAS EM GESTÃO | NO 10 | NOV/2012
Gestão de Riscos
geReNCIAMeNto de
RISCoS NA geStão
PúBLICA Pode MINIMIzAR
AS INCeRtezAS INeReNteS
à geStão e otIMIzAR A
APLICAção de ReCuRSoS
NA PRoMoção de uM
SeRVIço PúBLICo de
quALIdAde.
Manoel Gomes Marciape Neto
Marcus Vinicius de Azevedo Braga
O presente artigo procura
discutir a questão da gestão
dos riscos, que ainda
engatinha em nossa cultura gerencial,
mormente no setor público, e a forma
como a inclusão desses conceitos na
prática da gestão pública possibilitará
uma ação mais eficaz e eficiente,
ampliando os horizontes da atuação
estatal.
O risco em nossas vidas
Na Idade Média, o mundo era assolado
pelo medo. Medo do fim do mundo e do
desconhecido, na chamada Idade das
Trevas. Mais tarde, no Renascimento,
a fé buscava suprir a dúvida, e a arte
a expressava pelo Barroco. Com o
Racionalismo, o “cogito ergo sum” de
Descartes (1596-1650) buscou elevar
a certeza a um patamar superior,
ancorado na ideia mecanicista
newtoniana de um mundo em que
bastava se conhecerem as forças
reinantes para que fosse possível se
prever o futuro, em um determinismo
de causas para tudo, de objetividade
plena.
O início do século 20, porém, guardava
algumas surpresas para a humanidade.
As descobertas de Einstein (1879-1955)
e os trabalhos no nível subatômico de
Heisenberg (1901-1976) e Niels Bohr
(1885-1962), na chamada Mecânica
Quântica, apresentaram a incerteza
como um novo valor, assombrando
aqueles que repousavam em um mar
de precisão. A visão do mundo incerto
fez o conceito de risco adentrar a
discussão da Administração, rompendo
o Taylorismo e o Burocratismo
Weberiano, na inclusão das análises
estratégicas, dos cenários e do
enfrentamento pelas organizações das
suas imprevisibilidades.
Já dizia o poeta português, Fernando
Pessoa: “Navegar é preciso, viver
não é preciso”. A vida é carregada de
incertezas e o risco é a materialização
da incerteza nos objetivos de uma
organização ou de um indivíduo.
17FACULDADE AIEC
“
”
O PARAdigmA
dE RiScO TRAz
EquilíbRiO ENTRE
dOiS mOdElOS:
SuPERA A
iluSÃO dE umA
AdmiNiSTRAÇÃO
PúblicA PuRAmENTE
vOlTAdA PARA
OS RESulTAdOS,
E AvANÇA SObRE
A gESTÃO
ExcESSivAmENTE
buROcRáTicA,
quE POdE
dEScAmbAR Em
umA vAlORizAÇÃO
ExAcERbAdA dOS
mEiOS.
O risco é uma quantificação, um
parâmetro do quanto que o imprevisível
pode afetar a missão de nossa
organização, em uma perspectiva de
avaliar em que medida esse risco é
provável ocorrer e, se ocorrer, em que
magnitude afetará os objetivos.
O risco está na nossa cabeça. É uma
abstração que se torna real quando
tangibilizado na forma de seus efeitos.
Tentamos apreendê-lo, calculá-lo, mas
ele escapa por entre nossos dedos, em
um ballet de mutações, por fatores
ocultos ou não percebidos. Mas isso não
nos isenta do aprendizado do convívio
com o risco, como uma questão de
progresso e de sobrevivência.
O risco e a gestão pública
A discussão da gestão de riscos ainda
é incipiente na Administração Pública
pátria, restrita a uma presença mais
acentuada nos setores que lidam com
o sistema financeiro e naqueles que
atuam em desastres naturais, ainda que
em outros países essa pauta já tenha
entrado nas discussões habituais da
gestão pública, seja pela cultura desses
países, seja pela influência da gestão
privada.
Em uma visão geral, podemos dizer
que razões culturais, no Brasil,
inibem a gestão do enfrentamento da
incerteza como herança de estruturas
autoritárias que pairam sobre quaisquer
movimentações que abalem o status
quo, nas certezas da tradição, em que
importa o culto ao passado e não o olhar
para o futuro.
O paradigma de risco tem um caráter
contingencial, de equilíbrio das
tensões. Além de superar a ilusão de
uma administração pública puramente
voltada para os resultados, e que
ignora a vinculação dos produtos aos
processos, avança sobre a preocupação
mecanicista da gestão burocrática, que
pode descambar para uma valorização
exacerbada dos meios, por vezes
ensimesmados.
Uma visão de riscos na gestão nos
ensina a ver o que é importante, pois
mostra de que modo a preocupação
com os meios e os fins poderão afetar a
organização, com as vantagens de uma
abordagem preventiva, sem “engessar”
a gestão, o que poderia prejudicar a
qualidade dos resultados.
Por seu turno, como um pressuposto
para uma gestão voltada para o risco, a
organização precisa se preocupar com
os seus rumos, ter visão estratégica,
objetivos estabelecidos e constância
na ação dos atores. Risco só faz sentido
quando se pensa no futuro, quando o
gestor vê a si próprio lá na frente e quer
uma organização cada vez melhor. A
gestão de riscos equilibra o aprendizado
do passado com as demandas do
presente e os desafios do futuro.
18 IDEIAS EM GESTÃO | NO 10 | NOV/2012
“
”
SE um óRgÃO
dE cONTROlE
ATuAR SOmENTE
PARA ONdE vAi
um gOvERNO quE
NÃO gERENciA
SEuS RiScOS,
TEREmOS um cEgO
guiANdO O OuTRO,
E AmbOS iNdO
PARA O buRAcO.
OS óRgÃOS dE
cONTROlE dEvEm
ATuAR cOmO
iNduTORES dO
PROcESSO dE
gESTÃO dE RiScOS,
Em umA SAluTAR
iNTERAÇÃO cOm O
gOvERNO.
Gerenciando riscos na gestão pública
Na busca de se obter um equilíbrio
entre as metas de uma organização e os
riscos a ela vinculados, o gerenciamento
de riscos procura mitigar situações
que possam afetar a geração de valor
da organização aos seus stakeholders
(partes interessadas), o que, no
caso público, envolve a sociedade
em seus diversos matizes. Assim,
o gerenciamento de riscos visa, no
âmbito da gestão pública, maximizar
os recursos na promoção de um
serviço público de qualidade, diante da
incerteza inerente à gestão.
A preocupação com os riscos, desde
a formulação de um programa
governamental vinculado a uma política
pública, por exemplo, garante, de forma
preventiva e eficiente, a identificação
dos possíveis obstáculos à execução
desse programa, a probabilidade
de ocorrer e qual o impacto de
sua ocorrência nos objetivos
programáticos, delimitando as medidas
preventivas a serem adotadas em uma
dimensão realista, diante dos riscos que
se deseja - e vale a pena - correr. Fugir
desse paradigma é lançar recursos ao
sabor da sorte, incorrendo em falências
na execução, desperdícios e, diante
dos problemas, na necessidade de
adotar medidas corretivas, por vezes
onerosas e pouco eficazes, sacrificando
os serviços públicos prestados aos
cidadãos, pela sua deficiência ou
descontinuidade.
Uma política de valorização da gestão
dos riscos deve partir do governo
(gestor) e não dos órgãos de controle,
que devem avaliar e recomendar a
melhoria desses controles na mitigação
dos riscos. Se um órgão de controle
atuar somente para onde vai um
governo que não gerencia seus próprios
riscos, teremos um cego guiando o
outro, e ambos indo para o buraco.
Entretanto, os órgãos de controle
podem contribuir sobremaneira nessa
discussão, como indutores desse
processo de gestão de riscos, em uma
salutar interação.
Dentre outros, um fator que
compromete a implementação de
uma política de gestão de riscos
nas administrações estatais é a
descontinuidade administrativa,
constante no estado brasileiro. A
figura do agente político (aquele que é
democraticamente eleito) se confunde
com a do administrador público (aquele
que gerencia), em todos os níveis e
esferas decisórias, além da cultura
do cargo em comissão, que substitui,
principalmente em municípios
menores, o gestor capacitado, pelo
cabo eleitoral. Tal realidade enfraquece
a existência de um corpo técnico
permanente, que pense o futuro para
além de quatro anos, e que, para isso,
utilize a gestão de riscos como uma
ferramenta adequada.
19FACULDADE AIEC
“
”
vivEm mElhOR
AS ORgANizAÇõES
quE APRENdEm
A lidAR cOm
RiScOS. NO
SETOR PúblicO,
ESPEciAlmENTE, A
gESTÃO dE RiScOS
é fuNdAmENTAl
PARA mAximizAR
O vAlOR dE
cAdA cENTAvO
iNvESTidO PElO
cONTRibuiNTE
Em bENEfíciO dA
SOciEdAdE.
Cabe registrar, também, a questão do
planejamento de médio e longo prazo,
como um elemento que se beneficia
da gestão do risco. Em um país como
o nosso, de dimensões continentais
(8,5 milhões de km2, quase 200 milhões
de habitantes), mas também de
acentuada capilaridade (mais de 5.500
municípios, alguns com menos de 3.000
habitantes), problemas históricos
arrastam-se por gestões seguidas,
sem o enfrentamento de suas causas.
Apesar da incerteza diminuta devido à
recorrência das consequências desses
problemas, amargamos a deficiência
de implementação de mecanismos
eficientes para o seu enfrentamento.
Ampliar os horizontes da gestão de
riscos na atuação estatal contribui para
a gestão eficiente. Serviços públicos
de qualidade se obtêm não apenas
com redução de custos, otimização de
processos e inserção de mecanismos de
mercado. Também se faz necessária a
atuação sobre as incertezas. E, para que
a ação estatal chegue ao beneficiário
no tempo e medidas certas, os
mecanismos de controle devem ter uma
ação eficaz e eficiente, sem excessos.
Vazio de profissionalização
O risco é inerente à vida. Viver é enfrentar
os riscos, amargar os fracassos e
desfrutar os sucessos. Vivem melhor
as organizações que se antecipam e
aprendem a lidar com a sua cesta de
riscos, inclusive deles tirando vantagem
à frente de seus competidores. E, no
caso do setor público, é de fundamental
importância essa postura, para maximizar
o valor de cada centavo investido pelo
contribuinte em benefício da sociedade.
Pode-se arriscar a afirmativa de que
a ausência da gestão de riscos na
Administração Pública é somente
mais um dos sintomas do vazio de
profissionalização no serviço público
e da falta de reconhecimento da
importância do papel do administrador,
aquele profissional que investe tempo
e recursos em sua formação, com o
objetivo de capacitar-se para gerenciar as
organizações e seus riscos.
Em uma gestão pública cada vez mais
complexa, em um mundo igualmente
complexo, é de suma importância a
descoberta e a gestão do risco. Ignorar
essa dimensão desvincula a gestão pública
do compromisso com os resultados
de sua ação e, em consequência, com
serviços públicos de qualidade para toda a
população.
Manoel Gomes Marciape Neto Servidor da Controladoria-Geral da União e aluno do Curso de Administração da Faculdade AIEC.
Marcus Vinicius de Azevedo Braga Servidor da Controladoria-Geral da União. Mestre em Educação (UnB). Pedagogo (UFF) e Bacharel em Ciências Navais com Habilitação em Administração (Escola Naval). Articulista, com vários artigos publicados em revistas afetas à Educação e à Gestão Pública.
20 IDEIAS EM GESTÃO | NO 10 | NOV/2012
Gestão da Formação
A União Europeia (UE), desde o
princípio da década passada,
iniciou uma série de ações
voltadas ao desenvolvimento de uma
educação empreendedora, do ensino
básico à universidade. Os principais
argumentos utilizados estão calcados
na preocupação com a preservação
do modelo social vigente, considerado
exitoso, mas aparentemente em risco
diante da atual conjuntura política e
econômica mundial.
As análises comparativas com o cenário
mundial revelam que a União Europeia
ainda não conseguiu diminuir o desnível
do PIB per capita em relação aos
Estados Unidos, e as perspectivas de
futuro assinalam que a Europa tende
a reduzir o percentual de participação
na produção mundial, especialmente
com a recuperação das economias
asiáticas emergentes. O progresso
e o desenvolvimento sustentável da
União Europeia para reforçar a sua
posição econômica exigirão inovação,
competitividade e crescimento da
economia.
Além disso, considerando as dinâmicas
e transformações sociais dentro
do próprio território europeu,
há duas questões centrais que
reforçam o discurso da necessidade
do desenvolvimento do espírito
empresarial: primeiro, estima-se
que um terço dos empresários da UE
se aposentarão nos próximos anos,
afetando 2,4 milhões de empregos
anualmente e, segundo, o grupo etário
mais ativo na criação de empresas, os
jovens entres 25 e 34 anos, sofrerão
uma redução nas próximas décadas em
função do declínio da natalidade. Esse
cenário promove um ambiente em que
a dinamização do desenvolvimento
do espírito empreendedor passa a ser
considerada uma meta supranacional.
Este artigo apresenta as principais
orientações políticas e algumas
das principais ações consideradas
como boas práticas desenvolvidas
pelas instituições de ensino superior
europeias.
uNIão euRoPeIA
eNFReNtA A CRISe
MoBILIzANdo AS
uNIVeRSIdAdeS
PARA PRoMoVeR
A eduCAção
eMPReeNdedoRA
e A FoRMAção
do eSPíRIto
eMPReeNdedoR.
Rachel de Castro Almeida
21FACULDADE AIEC
A minha motivação para a escrita deste
texto é o desejo de compartilhar a
evidência de que a Faculdade AIEC,
que há dez anos oferece um curso
de Administração a distância, em
seu projeto pedagógico aprovado
pelo MEC em 1999, já contempla
diversas premissas e boas práticas
que são anunciadas, na Europa, como
essenciais para a criação de uma cultura
empreendedora nas sociedades.
Competências essenciais
O objetivo central da educação para o
empreendedorismo no ensino superior
é a difusão de uma formação específica
sobre como criar e gerir uma empresa.
A educação empreendedora, antes
restrita aos cursos de Administração
e Economia, deve ultrapassar esse
domínio científico e integrar a
grade curricular de todos os cursos
universitários. Além disso, as instituições
de ensino devem estabelecer
incubadoras de empresas e até
mesmo parques científicos, promover
concursos de planos de negócios,
disseminar a utilização de estudos
de caso e outros métodos de ensino
interativos, incentivar a transferência
da inovação e do conhecimento, em
combinação com a comercialização de
novas tecnologias (spin-offs e start-ups).
E, os próprios cursos de Administração
devem centrar-se, especialmente,
em aspectos como a criação de
uma empresa, a gestão da fase de
crescimento de uma pequena e média
empresa (PME) e a garantia da inovação
permanente.
Em termos pedagógicos, o
desenvolvimento do espírito
empreendedor, na perspectiva da
comunidade europeia, está sustentado
em competências classificadas
como pessoais, sociais, de gestão e
empresariais.
No domínio das competências pessoais
o percurso escolar deve desenvolver a
autoconfiança, a motivação, o aprender
a pensar de forma crítica e o aprender
de modo autônomo. Com relação às
competências sociais, os estudantes
devem adquirir capacidade de cooperar,
de criar redes, de trabalhar em redes e
de assumir novos papéis. No que tange às
competências no campo da gestão, são
elencadas a capacidade de resolução de
problemas, o planejamento, a tomada de
decisão, a comunicação e a predisposição
para a assunção de responsabilidades.
E no que diz respeito às competências
empresariais, os estudantes devem
desenvolver a iniciativa, a criatividade,
a atitude pró-ativa e a disposição para
enfrentar o risco e implementar novas
ideias.
Esse “espírito empreendedor” amplia
o conceito de “empreendedorismo”,
uma vez que não está associado apenas à
criação do próprio negócio, ao aumento
da empregabilidade ou estritamente
vinculado à inovação. Tais competências
são consideradas essenciais e úteis ao
longo da vida de todos, pois trazem mais
consciência sobre a realidade cotidiana,
preparam para melhor aproveitar as
oportunidades para o estabelecimento
de uma atividade social ou comercial e,
especialmente, fomentam a satisfação
pessoal, a inclusão social e a cidadania
ativa.
A mOTivAÇÃO
dESTE ARTigO
é O dESEjO dE
cOmPARTilhAR
A EvidêNciA dE
quE O PROjETO
PEdAgógicO dA
fAculdAdE AiEc,
APROvAdO PElO
mEc Em 1999,
já cONTEmPlA
PREmiSSAS E
PRáTicAS quE
SÃO ANuNciAdAS,
NA EuROPA,
cOmO ESSENciAiS
PARA A cRiAÇÃO
dE umA culTuRA
EmPREENdEdORA
NAS SOciEdAdES.
“
”
22 IDEIAS EM GESTÃO | NO 10 | NOV/2012
“
”
O ‘ESPíRiTO
EmPREENdEdOR’
ESTá ASSOciAdO
A cOmPETêNciAS
quE SERÃO
úTEiS AO lONgO
dA vidA, POiS
TRAzEm mAiS
cONSciêNciA
SObRE A
REAlidAdE
cOTidiANA,
PREPARAm
PARA mElhOR
APROvEiTAR AS
OPORTuNidAdES,
E, ESPEciAlmENTE,
fOmENTAm A
SATiSfAÇÃO
PESSOAl, A
iNcluSÃO SOciAl
E A cidAdANiA
ATivA.
Boas práticas
Com a intenção de mapear e disseminar
as principais práticas e de criar
sinergias entre os diferentes processos
existentes orientados para a promoção
da cultura empreendedora, foi criado
pela UE o projeto Procedimento Best. A
equipe de peritos do projeto, em 2004,
elaborou um guia com as principais
referências de boas práticas no ensino
superior, que destacamos a seguir.
Áustria (Gründerplattform der Wiener
Universitäten): todos os estudantes
da fase final dos cursos de graduação,
nas mais distintas áreas de formação,
participam de um concurso em que
o objetivo é desenvolver um Plano de
Negócios, trabalhando com equipes
multidisciplinares.
Noruega (Escola Empresarial
Norueguesa): estudantes de ciências
e das engenharias iniciam a formação
com um curso preparatório sobre
gestão, e os que passam pela prova
de seleção realizam um trimestre
de estágio em empresas em fase
inicial no exterior (São Francisco,
Boston, Singapura, Xangai) e, por fim,
apresentam, ao retornar, um projeto
sobre como aplicar o que aprenderam
no ambiente empresarial norueguês.
Irlanda (Dundalk Institute of
Technology): os alunos que fazem
qualquer curso de graduação ou
pós-graduação podem incluir, em
sua grade, módulos referentes
ao desenvolvimento do “espírito
empreendedor” com conhecimentos
teóricos e aplicações práticas.
Países Baixos (University of
Twente): por meio do Programa TOP
“Temporary Entrepreneurial Position”
os estudantes de nível superior podem
realizar um curso específico sobre
empreendedorismo, desenvolver um
plano de negócios, iniciar as atividades
empresariais em uma incubadora
dentro da universidade, com a
vantagem de serem acompanhados
por uma comissão que desempenha o
papel de supervisão e aconselhamento
e de poderem participar de equipes
de investigação na área do produto ou
do negócio, e ainda podem se tornar
elegíveis a uma diversidade de recursos
e apoios talhados à medida dos novos
empresários.
Reino Unido: graças ao exitoso
programa Science Enterprise Challenge,
os estudantes dispõem de uma rede de
centros de excelência das universidades
britânicas, especializados no ensino e
na prática de atividades comerciais e
empresariais no campo da ciência e da
tecnologia.
23FACULDADE AIEC
Portugal: o estímulo ao
empreendedorismo é um dos objetivos
do Programa Operacional Potencial
Humano (POPH), inscrito no Quadro
de Referência Estratégico Nacional
(QREN), que inclui o estimulo à criação
de emprego com qualidade e o apoio
aos jovens na transição para a vida
ativa pela via do empreendedorismo.
As universidades têm ampliado a
oferta de cursos de verão sobre Plano
de Negócios e Empreendedorismo,
têm criado gabinetes de promoção ao
Empreendedorismo que desenvolvem,
ao longo do calendário acadêmico, uma
série de atividades voltadas à temática,
estabelecem estruturas administrativas
e acadêmicas que fomentam a
criação de empresas spin-off e a
transferência de conhecimento, bem
como estimulam a criação de Clubes de
Empreendedorismo por parte dos seus
alunos.
Referências bibliográficas
Comissão das Comunidades Europeias. Comunicação da Comissão ao Conselho, ao
Parlamento Europeu, ao Comité Económico e Social Europeu e ao Comité das Regiões.
Bruxelas, Comissão das Comunidades Europeias. Publicações de 2004, 2005 e 2006.
Corrida contra o tempo
Diante do atual acirramento dos
entraves na esfera do trabalho
associado à crise do emprego e
flexibilização do trabalho, essa
abordagem de caráter político e
ideológico é apresentada como
alternativa para o crescimento
sustentável europeu, e,
consequentemente, para o processo
de inserção profissional dos egressos
do ensino superior. Nesse cenário,
parece haver uma corrida contra o
tempo em que a aprendizagem ao
longo da vida emerge, associada à
formação baseada no desenvolvimento
de competências profissionais e à
formação empreendedora, orientada
tanto para a criação de autoemprego
quanto para o desenvolvimento de
iniciativas inovadoras.
“
”
NESSE
cENáRiO dE
cRiSE, PAREcE
hAvER, NA
EuROPA, umA
cORRidA cONTRA
O TEmPO Em
quE EmERgE
A PREmêNciA
dE ASSOciAR A
APRENdizAgEm
AO lONgO
dA vidA à
fORmAÇÃO dE
cOmPETêNciAS
PROfiSSiONAiS
E à fORmAÇÃO
EmPREENdEdORA.
Rachel de Castro Almeida
Gestora da Equipe de Tutoria da
Faculdade AIEC. Graduada em
Arquitetura e Urbanismo, Mestre e
Doutora em Ciências Sociais pela PUC
Minas. Pós-doutoranda em Sociologia
na Universidade Nova de Lisboa.
Bolsista da CAPES.
24 IDEIAS EM GESTÃO | NO 10 | NOV/2012
Gestão Ambiental
Encontram-se pneus inservíveis
em qualquer lugar: terrenos
baldios, beira de estradas, leitos
de rios, alagadiços, aterros sanitários,
depósitos, residências… É vedada por
lei a disposição final de pneus no meio
ambiente e a queima a céu aberto. O
descarte de um pneu após sua vida útil é
um grande desafio. O que fazer?
Essa pergunta animou a Utep – Usina
de Tratamento Ecológico de Pneus
– a lançar a “Campanha Cidadania
Ambiental: Sou Agente do Meio
Ambiente, Encaminho Pneus para a
Reciclagem”, programa educativo
a ser desenvolvido com fabricantes,
importadores, distribuidores,
revendedores e, principalmente,
consumidores de pneumáticos, com
o objetivo de estimular a entrega de
pneus para reciclagem.
A destinação adequada de pneus
inservíveis está especificada em
resolução do Conselho Nacional do
Meio Ambiente (CONAMA), de modo a
evitar danos ou riscos à saúde pública e
à segurança, e a minimizar os impactos
ambientais adversos. A resolução do
CONAMA determina ainda a elaboração
de um plano de gerenciamento de
coleta, armazenamento e destinação
de pneus inservíveis, o qual deverá ser
divulgado e disponibilizado aos órgãos
do Sistema Nacional do Meio Ambiente
(SISNAMA).
Amigos do meio ambiente
A Utep é uma empresa homologada
pelos órgãos ambientais, especializada
na coleta, trituração, reciclagem e
destinação ambientalmente correta
de resíduos de borracha e pneus. A
Utep firmou parceria com o Conselho
Nacional de Defesa Ambiental (CNDA),
que também tem papel ativo no
monitoramento da Campanha.
eMPReSA deSeNVoLVe
CAMPANhA
eCoLógICA PARA
ReCoLhIMeNto e
APRoVeItAMeNto
INduStRIAL de PNeuS
deSCARtAdoS.
Mario Eduardo Baptista
25FACULDADE AIEC
“
”
A cAmPANhA
PROmOvE O
ENgAjAmENTO
dA cAdEiA dE
cOmERciAlizAÇÃO
dE PNEuS E
cONSumidORES
PARA quE TOdOS
SE mObilizEm
NA ENTREgA dE
PNEuS iNSERvívEiS
PARA REciclAgEm.
A uTEP gERENciA
A cOlETA POR
mEiO dE fROTA
PRóPRiA E
TERcEiRizAdA
NOS PONTOS
dE cOlETA E
cENTRAiS dE
ARmAzENAmENTO.
As empresas que aderem à Campanha
formalizam o compromisso de entregar
os pneus inservíveis em pontos de
coleta homologados, além de apoiar
e respeitar a proteção dos direitos
humanos; abominar todas as formas
de trabalho informal infantil; eliminar
a discriminação laboral; apoiar uma
abordagem preventiva aos desafios
ambientais; e desenvolver iniciativas
para promover maior responsabilidade
ambiental. As empresas parceiras
têm menção e exposição no site
oficial do CNDA e recebem o selo ou
ecoetiqueta como “Empresa Amiga do
Meio Ambiente”, podendo utilizá-los
livremente na sua comunicação.
A Utep está localizada no município de
Guarulhos (SP), e a Campanha tem área
de cobertura para a operação logística
em um raio de até 200 quilômetros.
A estratégia de coleta passa pelo
engajamento de toda a cadeia de
comercialização dos pneus novos,
fazendo com que cada elo dessa cadeia
se mobilize no processo de coleta
através da formalização contratual,
convênio ou termo de compromisso. O
objetivo é localizar o pneu inservível e
acionar o mecanismo de coleta. A Utep
gerencia a coleta por meio de frota
própria e terceirizada nos pontos de
coleta e centrais de armazenamento.
Etapas da Campanha
A Campanha, iniciada em julho de 2010,
seguiu o seguinte planejamento:
- Desenvolvimento do plano de ação e
comunicação da campanha de forma
a ressaltar a sua viabilidade, impacto,
importância socioambiental e econômica,
e relevância para variados mercados
relacionados com o consumo de pneus.
- Estruturação dos pontos de coleta dos
pneus e demais mecanismos operacionais.
- Padronização do mobiliário, como
gaiolas e containers para acomodar os
pneus.
- Treinamento do pessoal envolvido, tanto
para o trato com o público como para o
manuseio do material recolhido.
- Obtenção do aval do CNDA à proposta,
órgão de competência e com autonomia
para atuar com isenção de interesses
mercadológicos e auditar as práticas
ambientais e resultados da Campanha.
- Convite da Utep e CNDA a empresas para
se engajarem na Campanha e fazerem a
divulgação institucional.
- Implantação de “aceleradores”
da Campanha, ao longo de seu
desenvolvimento, para manter o interesse
e aperfeiçoar os procedimentos.
26 IDEIAS EM GESTÃO | NO 10 | NOV/2012
“
”
OS RESíduOS
PROcESSAdOS
PElA uTEP, A
PARTiR dOS PNEuS
REcOlhidOS,
gERAm PROduTOS
cOmO O chiP
dE bORRAchA -
cOmbuSTívEl dE
gRANdE POdER
cAlORíficO -, O
gRANulAdO dE
bORRAchA, ASSim
cOmO O AÇO,
NylON E Pó
dE bORRAchA,
SubSTiTuTOS
EcOlOgicAmENTE
cORRETOS
dE REcuRSOS
NATuRAiS.
Até junho de 2012, a Campanha já havia
destinado, de forma ambientalmente
correta, 512 mil pneus de automóvel,
equivalente ao descarte de pneus
inservíveis gerados por 128 mil
automóveis. A Campanha está se
desenvolvendo e tem grande potencial
de disseminação e de crescimento da
base de pontos de coleta. A Utep já
iniciou a construção de sua segunda
unidade de processamento no
município de Mairinque (SP), o que
permitirá, ainda em 2012, ampliar a
cobertura geográfica para atender
importantes cidades do interior de São
Paulo.
Produtos
Os resíduos processados pela Utep
a partir dos pneus recolhidos são
encaminhados para cimenteiras,
siderúrgicas, caldeirarias, construtoras,
pavimentadoras, entre outros, como
destinação ambientalmente correta.
Produtos como o chip de borracha,
combustível alternativo de grande
poder calorífico (8.500 Kcal/Kg), o
granulado de borracha, atóxico e
repelente a insetos, assim como o aço,
nylon e pó de borracha, são substitutos
ecologicamente corretos à extração de
recursos naturais.
O aumento da participação no mercado
virá da ampliação da oferta de produtos
ambientalmente corretos, frutos de
pesquisa e desenvolvimento dos órgãos
ambientais e de parcerias da Utep com
universidades.
A empresa está acompanhando
a homologação das caldeirarias,
para a queima da borracha no
coprocessamento, e da nova legislação
para o segmento da construção civil,
que determina a aplicação de material
antirruído entre lajes.
Com esses novos materiais,
deve-se produzir revestimentos
termoacústicos, placas de piso
antichoque, isolantes elétricos, pisos
protetores para campos de futebol,
quadras e pistas esportivas, móveis e
paisagismo de jardins, carga para asfalto
de borracha e concreto para construção
civil, mourões, amortecedores
para estábulos, e uma nova linha de
revestimentos especiais.
A questão geográfica é um limitador
econômico e determinante na
competitividade dos produtos
reciclados de pneus inservíveis
diante dos produtos industrializados
convencionais. O custo logístico
entre a coleta e a destinação
determinam o custo do processo
e, consequentemente, o preço dos
produtos reciclados.
Relevância para o negócio
As empresas que desenvolvem
soluções ambientalmente corretas são
reconhecidas pela sociedade e ganham
visibilidade, com repercussão positiva
em seu desempenho comercial. A
Utep identifica os seguintes resultados
advindos da Campanha:
27FACULDADE AIEC
“
”
O PNEu
iNSERvívEl é,
AiNdA, um
RESíduO PóS-
cONSumO dE
vAlOR NEgATivO.
A uTEP AcREdiTA
quE A SuA
vAlORizAÇÃO
cOmO fONTE
ENERgéTicA Ou
mATéRiA-PRimA
PARA SiSTEmAS
cONSTRuTivOS
cRiARÃO um
NOvO ciclO
EcONômicO
dE vAlOR
AgREgAdO.
• Crescimento de receita e acesso a
novos mercados: a adesão de novos
parceiros comerciais à Campanha pode
alavancar as receitas de destinação
ambientalmente correta em até 40%.
• Maior credibilidade e interação com
stakeholders: a Campanha pretende
incorporar o conceito da cultura
socioambiental responsável, através do
engajamento de empresas de destaque
em cada ramo de atividade.
• Aumento do valor da marca e
reputação: os benefícios esperados
com a Campanha incluem a consciência
e reconhecimento dos consumidores
das empresas parceiras, valor agregado
à imagem da empresa e instrumento
de marketing com alto efeito residual e
impacto de comunicação.
• Maior transparência e accountability:
esta campanha está amparada pela Lei
de Incentivo Fiscal. Investimentos em
programas socioambientais realizados
por pessoa jurídica em forma de doação
para as OSCIPs podem ser deduzidos do
imposto sobre a renda.
A Utep pretende desenvolver novas
parcerias, ampliar a Campanha e
compartilhar o modelo com outras
unidades da federação e, de acordo com
a resolução CONAMA, chegar a todos os
municípios acima de 100 mil habitantes.
Nessa futura etapa, pleiteamos
contemplar os produtos elaborados
a partir dos insumos oriundos do
processamento dos pneus recolhidos
com o selo “Produto amigo do meio
ambiente – elaborado a partir da
reciclagem de pneus”.
Serão utilizados os pontos de coleta de
pneus para a distribuição de gadgets e
amostras desses produtos.
Novo ciclo
O circuito de coleta e destinação
ambiental do pneu inservível é,
ainda, um resíduo pós-consumo
de valor negativo. A expectativa da
empresa com a Campanha, a curto
prazo, é a ampliação das aplicações
ambientalmente sustentáveis e, a médio
prazo, transformar o pós-consumo
dos resíduos de borracha em um
circuito de coleta e industrialização
de valor positivo. A Utep acredita que
a maior captação desse material e sua
valorização como fonte energética
ou matéria-prima para sistemas
construtivos criarão um novo ciclo
econômico de valor agregado.
A preservação do meio ambiente é
assunto em evidência. A sociedade
discute as questões ambientais e
a preocupação com a preservação
dos recursos naturais está presente
diariamente na mídia e até na
propaganda do carro de última geração.
Uma campanha do porte e visibilidade
desta desenvolvida pela Utep, que
transforma todos em “Agentes do Meio
Ambiente”, mostra que o consumo
responsável e os meios limpos de
produção podem melhorar o nosso
planeta. Aponta também que os novos
hábitos das pessoas preocupadas com
a manutenção da vida estão sugerindo
um novo modelo de mercado: o da
responsabilidade ambiental. Mario Eduardo Baptista
Gestor Financeiro e de Novos Negócios
da Utep do Brasil Ltda. Bacharel em
Administração pela Faculdade AIEC.
28 IDEIAS EM GESTÃO | NO 10 | NOV/2012
Gestão Eclesiástica
BISPo de ItAItuBA
deSCReVe oS deSAFIoS
NA geStão de uMA
PReLAzIA dA IgReJA
CAtóLICA.
Wilmar Santin
Assumi a Prelazia Territorial
de Itaituba no Pará, como
Bispo, há pouco mais de um
ano. Embora, na prática, uma prelazia
funcione em tudo como uma diocese,
não é considerada como tal, por não
ter clero próprio nem condições
financeiras para se manter. É uma
diocese em formação. Neste artigo,
vamos apresentar algo da legislação
canônica sobre a parte econômico-
administrativa da Igreja Católica,
algumas informações sobre a região
de Itaituba, para depois contar como
venho agindo como administrador da
prelazia.
Estrutura da Igreja
O Código de Direito Canônico
dedica aos Bens Temporais da Igreja
o livro V, que vai do cân. 1254 ao
1310. A Igreja Católica não tem fins
lucrativos, mas tem bens e rendas. As
principais finalidades de seus bens
estão estabelecidas no cân. 1254 § 2:
“organizar o culto divino, cuidar do
conveniente sustento do clero e dos
demais ministros, praticar obras de
sagrado apostolado e de caridade,
principalmente em favor dos pobres.”
A estrutura administrativa da Igreja
se divide em três níveis: geral (Santa
Sé), diocesana e paroquial. Há
outras instâncias, como as Ordens
e Congregações religiosas, que têm
autonomia administrativa de seus bens.
De acordo com o cân. 1273, o Papa,
“em virtude do primado de regime, é o
supremo administrador e dispensador
de todos os bens eclesiásticos.” Mesmo
sendo o administrador supremo
de todos os bens eclesiásticos,
normalmente não interfere nas
instâncias inferiores. Reserva para si
dar autorização para negócios (compra,
venda, empréstimos, hipoteca, etc.) a
partir de uma certa soma estabelecida
pela Conferência Episcopal (cân. 1291
e 1292). Habitualmente, aplica-se o
princípio de subsidiariedade.
29FACULDADE AIEC
“
”
A igREjA
cATólicA NÃO
viSA lucRO,
mAS TEm bENS
E RENdAS, cujA
fiNAlidAdE,
SEguNdO
O códigO
cANôNicO, é
ORgANizAR O
culTO diviNO,
cuidAR dO
cONvENiENTE
SuSTENTO dO
clERO E dOS
dEmAiS miNiSTROS,
PRATicAR ObRAS
dE SAgRAdO
APOSTOlAdO E
dE cARidAdE,
PRiNciPAlmENTE
Em fAvOR dOS
PObRES.
As dioceses e paróquias devem ter
“o seu conselho econômico ou pelo
menos dois conselheiros, que ajudem
o administrador no desempenho de
suas funções, segundo os estatutos”
(cân. 1280). O administrador de uma
diocese ordinariamente é o bispo,
e das paróquias, o pároco. A maior
parte da vida da Igreja acontece nas
paróquias, tanto no aspecto espiritual
como econômico. É assim porque os
fiéis frequentam as igrejas e capelas
e não a cúria, nome atribuído à sede
administrativa de uma diocese ou
prelazia.
Recursos financeiros
No passado, as rendas normais
eram: coletas nas missas, espórtulas
(donativos em dinheiro) para os
sacramentos (Batismo, Matrimônio
e missas), festas (sobretudo do
padroeiro) e doações. Isso era muito
eficiente num mundo rural, tanto é que
funcionou por séculos. Ultimamente,
a Igreja vem fazendo esforços para se
adaptar à realidade urbana. Por isso, os
ingressos de recursos estão provindo
de algumas fontes novas, enquanto que
outras gradativamente estão perdendo
importância. Nesse sentido, existe um
empenho muito grande para criar uma
consciência entre os católicos para
que sustentem as atividades eclesiais
através do dízimo, não entendido
propriamente como os 10% - como
fazem muitas igrejas pentecostais – e
sim como uma contribuição mensal.
Em muitos lugares, o ponto de
referência é 1 ou 2% do que se ganha.
Algumas paróquias já não fazem mais
festas nem pedem espórtulas, porque
o dízimo é suficiente. Há outras que
estão muito atrasadas nesse sentido. Há
paróquias que promovem bingos, rifas,
concursos, etc., para poderem manter
suas despesas, visto que a entrada
do dízimo não é suficiente. O fato é
que num futuro não muito distante a
manutenção será somente através do
dízimo. Evidente que se continuarão
fazendo festas e outras promoções, mas
não mais com o objetivo de manter as
atividades normais das paróquias e sim
com finalidades específicas, como, por
exemplo: construções, reformas, ajudas
para comunidades carentes.
Realidade complexa
A Prelazia de Itaituba, situada no
sudoeste do Pará, abrange uma área de
175.000 km2 e sua população gira em
torno de 250 mil pessoas. Está cortada
por duas grandes rodovias: a famosa
Transamazônica (BR 230), de leste a
oeste, e a Santarém-Cuiabá (BR 163), de
norte a sul.
A realidade da região é bastante
complexa. O grosso da população
começou a se estabelecer na região a
partir da construção das duas grandes
rodovias, ou seja, no início da década
de 70 do século passado. Muita gente
do Sul e do Nordeste, sobretudo do
Maranhão e Ceará, foi tentar a sorte
nos garimpos. Muitos enriqueceram
extraindo madeira. Hoje, com o controle
ambiental, a extração madeireira
diminuiu, mas ainda há muita serraria e
corte ilegal de árvores.
30 IDEIAS EM GESTÃO | NO 10 | NOV/2012
“
”
A PRElAziA
dE iTAiTubA, NO
SudOESTE dO
PARá, AbRANgE
umA áREA dE
175.000 km2 E SuA
POPulAÇÃO giRA
Em TORNO dE 250
mil PESSOAS. OS
gOvERNOS fEdERAl
E ESTAduAl
iNvESTEm muiTO
POucO NA REgiÃO.
há dEficiêNciA
NAS áREAS dE
SAúdE, EducAÇÃO,
EmPREgO E
SEguRANÇA.
Os governos federal e estadual
investem muito pouco na região. A
BR 163 está toda asfaltada no Estado
do Mato Grosso, mas no Pará a maior
parte ainda é “estrada de chão”. A
Transamazônica não é asfaltada. A
economia gira em torno do garimpo
e mineração, madeira, pecuária e
agricultura. Está prevista a construção
de cinco hidrelétricas no rio Tapajós.
Isso mudará muito o perfil da região.
Também será construído um porto
em Miritituba (na margem direita do
Tapajós, em frente a Itaituba) para
escoar a produção agrícola do Mato
Grosso, principalmente a soja.
Na parte social, o povo está saindo
do campo e indo para as cidades, que
estão inchando. Há deficiência nas
áreas de saúde, educação, emprego,
segurança... Há também uma área
indígena demarcada no município de
Jacareacanga. Como herança do tempo
do garimpo, a prostituição (inclusive
infantil) é grande. Embora existam
na região matadores profissionais,
diminuiu o número de assassinatos, que
era grande no tempo do garimpo. O
consumo de drogas e o roubo, porém,
têm aumentado muito.
Desafio pastoral
Toda essa realidade constitui um grande
desafio pastoral para a Igreja. Como
evangelizar esse povo? Como fazer com
que a Palavra de Deus se torne uma
luz? Como formar comunidades vivas e
atuantes?
A Prelazia de Itaituba, apesar de sua
grande extensão, tem apenas seis
paróquias e três áreas pastorais, que
funcionam mais ou menos como
paróquias. Há somente 15 padres e
apenas um é diocesano. Os outros
são de cinco congregações religiosas
(Franciscanos, Oblatos de Maria
Imaculada, Vicentinos, Verbitas e
Cavanis). Em relação às congregações
femininas, há cinco irmãs da
Congregação da Imaculada Conceição
de Santarém e três irmãs Passionistas.
Sou o segundo bispo da prelazia.
O anterior tomou posse em 1988 e
permaneceu no cargo por 22 anos.
Dom Capistrano Heim era americano e
chegou no Brasil ainda estudante. Fez
o que pôde e remou com os remos que
tinha. Teve que começar da estaca zero.
Como não havia número suficiente de
padres, foi atrás e conseguiu trazer
padres de quatro congregações.
Construiu um centro de pastoral na
cidade e um centro de formação fora
da cidade de Itaituba para realização
de cursos e encontros. Estruturou a
prelazia e organizou a cúria. Realizou
vários cursos de formação para
os leigos em vários campos, como
Liturgia, Bíblia, Comunicação, Teologia.
Implantou a Pastoral da Criança.
Conseguiu conscientizar as paróquias e
comunidades para que contribuíssem
com 10% do dízimo e das festas.
31FACULDADE AIEC
“
”
AS PARóquiAS
cAmiNhAvAm
SEm um PlANO
PASTORAl dE
cONjuNTO. A
miNhA PRimEiRA
AÇÃO fOi A
cONSciENTizAÇÃO
dE quE SE
dEvERiA fAzER
umA ASSEmblEiA
PARA dEfiNiR
PRiORidAdES E
dAR um RumO
PARA A PRElAziA
Em SuA
glObAlidAdE.
Como isso não era suficiente para
manter as despesas da prelazia, por
ser americano, anualmente ia aos
Estados Unidos para fazer pregações
missionárias e conseguir ajuda
econômica.
Gestão descentralizada
Além dos desafios pastorais, tenho
como meta transformar a prelazia em
diocese. Para isso, terei que formar um
clero diocesano próprio e conseguir
autonomia econômica. Até o momento,
as paróquias caminharam livremente
sem um verdadeiro plano pastoral de
conjunto. Em consequência disso, a
minha primeira ação foi começar a
conscientização de que era preciso
fazer uma assembleia para definir as
prioridades e dar um rumo pastoral
para a prelazia em sua globalidade. A
assembleia está na fase de preparação
nas paróquias.
Para descentralizar, passei a
administração do Centro de Pastoral ao
Pe. Paulo e do Centro de Treinamento
ao Pe. Charles. Como não tenho a
possibilidade de ir ao exterior todo
ano e por ser da opinião de que a
prelazia deve se manter com recursos
arrecadados na própria comunidade,
vou estabelecer um dia de coleta para
a prelazia. Outras iniciativas de comum
acordo com os padres e lideranças
também deverão ser tomadas.
Missão empolgante
Naquilo que for possível, vamos fazendo
parcerias, como a que aconteceu com
o mutirão de visitas às aldeias indígenas
dos Munduruku, em maio de 2012.
Vivendo uma verdadeira aventura
de fé, sob a direção e organização do
provincial franciscano de Santarém,
35 missionários visitaram 49 aldeias.
Os 18 padres realizaram 269 batizados
e 60 casamentos. A maioria das casas
foi visitada. O transporte foi feito em
três botes. Todos dormiam em redes e
comiam nas casas dos índios. No final,
aconteceu a grande comemoração
do Centenário da Missão Franciscana
entre os Munduruku. Na volta, levamos
mais de 12 horas nos botes indo da
aldeia São Francisco no rio Cururu até
Jacareacanga. Dali até Itaituba são 400
km pela Transamazônica sem asfalto.
Outro campo de minha atenção é o de
conseguir terrenos para se construírem
igrejas e centros catequéticos. Já
consegui dois em Itaituba. Estou
incentivando os padres para que,
em suas paróquias, façam o mesmo.
Onde surgir uma vila ou bairro, deve
ser feita uma capela. A minha maior
preocupação é a formação das
lideranças e do povo. A assembleia
decidirá quais cursos deverão ser
organizados. Serão basicamente na
linha bíblica, catequética e litúrgica,
onde percebo maiores deficiências.
Há muito por fazer, mas o desafio é
empolgante!
Wilmar Santin
Bispo da Prelazia de Itaituba (PA).
Padre Carmelita há 33 anos. Mestre e
Doutorando em História pela Pontifícia
Universidade Gregoriana de Roma,
Itália.
32 IDEIAS EM GESTÃO | NO 10 | NOV/2012
Gestão da Inovação
eMPReSA gAúChA INVeSte
eM teCNoLogIA dA
INFoRMAção e INoVAção
PARA CoNquIStAR
MeRCAdo.
Márcio Chan
A Spot Auditoria e Pesquisa
de Mídia, precursora no
segmento de pesquisa de
mídia no Brasil, foi fundada em 1963
em Porto Alegre, por três sócios que
atuavam como executivos em emissoras
de televisão, com o propósito de auditar
as veiculações de mídia dos anunciantes
de televisão.
A empresa passou por várias mudanças
organizacionais ao longo de seus 49
anos de história. Atualmente, tem
em sua estrutura dois dirigentes:
o diretor-presidente, que exerce o
papel semelhante ao de presidente do
conselho, e o diretor administrativo,
função que exerço, e que atua como
um presidente-executivo nas decisões
estratégicas e operacionais. Essa
estrutura está configurada desde o ano
de 2007, quando passei a integrar o
quadro societário da empresa.
Histórico da empresa
Na década de 80, ocorreu a primeira
mudança tecnológica da empresa com
a utilização do VHS, pois as imagens
veiculadas na televisão passaram a
ser gravadas. Até então, a produção
era totalmente manual e ao vivo, sem
a possibilidade de rechecagem da
exibição dos filmes comerciais.
Na década de 90, outra mudança
tecnológica importante acontece na
Spot, com o uso de computadores,
o que permite realizar coleta de
informações com banco de dados em
sistema. Ao mesmo tempo, a empresa
amplia sua área de atuação para o
interior do Rio Grande do Sul e passa a
comercializar essas novas informações
por meio de um representante
comercial no mercado de São Paulo.
33FACULDADE AIEC
“
”
A SPOT
AudiTORiA
E PESquiSA
dE mídiA,
PREcuRSORA NO
SEgmENTO dE
PESquiSA dE
mídiA NO bRASil,
fOi fuNdAdA Em
1963 Em PORTO
AlEgRE, POR
TRêS SóciOS quE
ATuAvAm cOmO
ExEcuTivOS Em
EmiSSORAS dE
TElEviSÃO, cOm
O PROPóSiTO
dE AudiTAR AS
vEiculAÇõES
dE mídiA dOS
ANuNciANTES
dE Tv.
A partir de 2001, a Spot implanta
o Departamento de Tecnologia
de Informação, o que permite o
desenvolvimento de softwares
e a expansão da empresa para
outros estados. A possibilidade de
desenvolver os próprios softwares,
utilizados tanto na operação como no
desenvolvimento do mix de produtos,
permite à firma tornar-se um player
nacional. A empresa deixa de atender
somente agências de propaganda e
passa a atender diretamente veículos
de comunicação, com produtos
customizados de acordo com as
necessidades dos clientes, oferecendo
informações da concorrência e de
investimentos de anunciantes em mídia.
No ano de 2010, após pesquisas em
diversos países, a empresa inicia o
desenvolvimento da tecnologia de
Reconhecimento Automático de
Imagens, implantado um ano depois.
Esse software permite a identificação
de sequências de frames, nome que
se dá a cada um dos quadros de um
filme. No caso de um comercial de
TV, em vez de o filme ser coletado
manualmente por um operador a cada
vez que é exibido, esse mesmo filme
passa a fazer parte de uma biblioteca e
automaticamente é reconhecido pelo
software toda vez que é mostrado,
dispensando a ação do operador. Essa
tecnologia trouxe uma diferenciação
para a empresa em relação aos
concorrentes do mercado, além de
maior lucratividade da operação em
toda a cadeia produtiva.
Principais benefícios do
Reconhecimento Automático de
Imagens:
• Maior produtividade por coletor
de dados. Desde que iniciadas as
operações, há 12 meses, tivemos
um incremento de desempenho da
ordem de 180%, em comparação ao
processo utilizado anteriormente, com
perspectiva de acréscimo.
• Melhor qualidade, com precisão e
padronização das informações.
• Viabilidade da centralização
das informações em um só lugar,
permitindo análises homogêneas e
formação de um cadastro nacional.
• Maior velocidade no processamento
das informações.
• Grande redução de tempo nas
entregas dos produtos aos clientes,
atendendo às novas exigências do
mercado.
Hoje, em franca expansão, a empresa
tem escritórios em Porto Alegre,
São Paulo e Curitiba. Dentro de seu
portfólio de clientes, atende 62 veículos
de comunicação e 20% das 50 maiores
Agências de Publicidade do país,
contando com uma cobertura de 298
emissoras de televisão, entre afiliadas
e filiadas das grandes redes nacionais
e canais de TV por assinatura, além de
42 títulos de jornais, consolidando a
vice-liderança nacional em sua área de
atuação.
34 IDEIAS EM GESTÃO | NO 10 | NOV/2012
“
”
Em TOdOS
OS PROcESSOS
NA SPOT ExiSTE
SuPERviSÃO
ElETRôNicA
E humANA, O
quE PERmiTE
um cONTROlE
dE quAlidAdE,
ESSENciAl PARA
umA ATividAdE
Em quE A
cREdibilidAdE
dOS PROduTOS
fORNEcidOS
AOS cliENTES
ESTá cAlcAdA
Em mARgEm dE
ERRO PRóximA
A zERO.
Competências
A Spot é um dos poucos institutos de
pesquisas nacionais credenciados
pelo CENP – Conselho Executivo
das Normas-Padrão da Atividade
Publicitária –, que zela pelos
relacionamentos comerciais mantidos
entre os três principais segmentos
do setor: anunciantes, agências de
publicidade e veículos de comunicação.
É reconhecida e valorizada pelos
clientes como uma empresa com
tecnologia de ponta, que customiza os
produtos adaptando-os às necessidades
dos clientes. A empresa é verticalizada,
sendo proprietária de todos os sistemas
que utiliza em seus processos.
Processos
Em todos os processos na Spot existe
uma supervisão eletrônica e humana, o
que permite um controle de qualidade,
essencial para uma atividade em que a
credibilidade dos produtos fornecidos
aos clientes está calcada em margem de
erro próxima a zero.
Toda a cobertura nacional, de 298
emissoras de televisão, é monitorada
a cada dois minutos com indicadores
de qualidade da matéria-prima: as
imagens de televisão são enviadas de
seus servidores, via internet, a partir de
104 diferentes cidades brasileiras para
o Data Center da Spot, localizado em
Porto Alegre, onde está sua matriz.
A Spot possui redundância de gravação
de imagens em todas essas 298
emissoras de televisão, que fazem parte
da sua cobertura nacional, e conta
também com redundância de links de
internet, além de geradores de energia,
fundamentais para a estabilidade do
processo de produção.
Os relatórios de auditoria de mídia
contam com a segurança da assinatura
digital, que tem por finalidade oferecer
total garantia e confiabilidade no
conteúdo das informações fornecidas
aos clientes. A Spot fornece usualmente
aos clientes da esfera pública, ou
através das agências de publicidade,
esse documento, de conformidade com
a exigência da Lei Federal nº 12.232/2010,
de 29/04/2010.
Gestão
Devido às mudanças pelas quais vem
passando a empresa, especialmente
com o crescimento recente, os
sócios estão atentos à necessidade
de implantação de ferramentas de
gestão que, apesar de não estarem
formalmente organizadas, estão
presentes nas rotinas da empresa.
Para os processos operacionais, foram
desenvolvidos diversos controles para
medir quantidade, qualidade, eficácia
da operação e entrega do produto
aos clientes, com bonificação para os
funcionários por produtividade e metas
alcançadas.
35FACULDADE AIEC
Desafios
O principal problema enfrentado
pela Spot refere-se aos recursos
humanos. Como não há uma formação
técnica para a área, os colaboradores
usualmente são treinados dentro
da empresa. Esse quadro tem sido
revertido com a atração de profissionais
da concorrência em nível de gerência.
Ao mesmo tempo, a empresa tem
investido em cursos e na capacitação
dos funcionários que se destacam e
que estão buscando uma formação
extraempresa. Dentro desse raciocínio,
a empresa procura identificar, valorizar
e reconhecer o trabalho imaterial1 de
seus colaboradores.
Potencial de mudança e inovação
A empresa vive um momento de
forte crescimento, motivado pelo
desenvolvimento de uma tecnologia
que a colocou em destaque no mercado.
A visão do valor do Departamento
de TI para o negócio fez com que o
componente “conhecimento” passasse
a permear todas as decisões tomadas
pelos gestores.
Hoje, apesar do seu tamanho, a
Spot tem, na sua essência, a cultura
de alcançar os objetivos buscando
inovações que a diferenciem no
mercado.
No decorrer de sua existência, a Spot
passou por várias mudanças que foram
fundamentais para sua continuidade
e solidificação no mercado ao longo
desses quase 50 anos. Inicialmente,
atuava no modelo de firma de cadeias
e seu processo econômico era de firma
dependente de terceiros. Devido aos
investimentos em tecnologia feitos
por sua direção, e ao novo modelo de
mercado decorrente de influências
internas e externas, a Spot passou a ser
uma firma tecnológica e seu processo
econômico passou a ser de firma
autônoma.
Os sócios estão atentos às ações
dos concorrentes e convictos da
importância do desenvolvimento
tecnológico para o seu negócio
e para atender às exigências do
mercado. Sabem que, para garantir o
contínuo crescimento da empresa e
manter sua vantagem competitiva, é
necessário investir em inovação, lançar
novos produtos e mudar a empresa
constantemente.
1 Trabalho Imaterial – conjunto de atividades corporais, intelectuais, criativas, afetivas e comunicativas inerentes ao trabalhador, atualmente valorizadas e demandadas como norma impositiva que torna o trabalhador sujeito ativo do trabalho e como condição indispensável à produção. (Grisci, C. L. I. in Cattani, A. d., holzmann, L. dicionário de trabalho e tecnologia, ed. zouk, 2011, p. 456).
“
”
OS SóciOS
ESTÃO ATENTOS
àS AÇõES dOS
cONcORRENTES.
SAbEm quE,
PARA gARANTiR
O cREScimENTO
dA EmPRESA E
mANTER SuA
vANTAgEm
cOmPETiTivA,
é NEcESSáRiO
iNvESTiR Em
iNOvAÇÃO,
lANÇAR NOvOS
PROduTOS
E mudAR
cONSTANTEmENTE.
Márcio Chan
Diretor Administrativo da Spot
Auditoria e Pesquisa de Mídia. Pós-
Graduando em Gestão Empresarial pela
UFRGS. Bacharel em Administração
pela Faculdade AIEC.
36 IDEIAS EM GESTÃO | NO 10 | NOV/2012
Gestão de Programas Sociais
MetodoLogIA
SIMPLIFICAdA de
geReNCIAMeNto
de PRoJetoS,
BASeAdA No PMBoK,
oRIeNtA MuNICíPIoS
NA CAPtAção,
APLICAção e
PReStAção
de CoNtAS de
ReCuRSoS PúBLICoS.
Magna Regina Tessaro Barp
Por força da Constituição
Federal, Lei Complementar n.º
101/2000, portarias e medidas
provisórias, os municípios brasileiros
devem destinar de seus orçamentos
“não mais” de 60% para a folha de
pagamento dos servidores municipais,
“não menos” de 25% para a educação,
de 15% para a saúde, de 6% ou 8% para
a Câmara Municipal de Vereadores...
E assim se vão todos os recursos
disponíveis.
Com as finanças comprometidas
em sua totalidade, ficam faltando
“porcentagens” para investir em
saneamento, assistência social,
estradas, máquinas e outras
necessidades dos municípios.
Os gestores que desejam investir em
tais áreas dispõem de poucas opções:
trabalhar com número reduzido
de colaboradores ou pagar mal o
funcionalismo, ou, ainda, buscar
constante e incansavelmente recursos
externos em fontes onerosas e não
onerosas, que estão disponíveis em
ministérios, bancos, secretarias de
estado e empresas, para realizar as
obras necessárias e, muitas vezes, para
cumprir as promessas políticas.
37FACULDADE AIEC
“
”
AS
TRANSfERêNciAS
vOluNTáRiAS
dE REcuRSOS
dO gOvERNO
fEdERAl PARA
OS muNicíPiOS,
difERENTES
dOS REPASSES
cONSTiTuciONAiS,
SuRgEm cOmO
mEdidAS
cOmPlEmENTARES
PARA A gESTÃO
dAS POlíTicAS
PúblicAS,
AuxiliANdO AS
AdmiNiSTRAÇõES
muNiciPAiS Em
PROgRAmAS
E PROjETOS
PONTuAiS.
A busca desses recursos externos, que
normalmente é a opção dos gestores
mais responsáveis, enfrenta entraves
burocráticos e políticos, cortes
orçamentários dos concedentes e,
principalmente, falta de conhecimento
para a elaboração de projetos para
a obtenção dos recursos. Porém,
mesmo municípios com pessoal
qualificado para elaboração de projetos
sofrem com outro problema: a falta
de gerenciamento na execução dos
projetos aprovados. Escopo do projeto
mal definido, recursos financeiros mal
orçados, prazos extrapolados, recursos
humanos escassos e mal treinados criam
“elefantes brancos’” nas prefeituras,
resultando em vários problemas de
difícil solução. A consequência mais
comum é a devolução dos recursos
financeiros para a União, Estado ou
outro concedente.
Não bastassem o despreparo dos
funcionários e o desconhecimento
de gerenciamento de projetos, a
corrupção, o descaso com o dinheiro
público e a negligência dos gestores
públicos, mazelas que ainda não foram
extirpadas de muitas das prefeituras
brasileiras, transformam o que poderia
ser um benefício em um nefasto jogo
de interesses. O objetivo deste artigo,
porém, não é relatar tragédias e sim
apontar mecanismos de auxílio para que
os pequenos municípios possam fazer o
gerenciamento adequado e correto de
seus projetos.
Histórico
As transferências voluntárias de
recursos do governo federal para os
municípios, diferentes dos repasses
constitucionais, surgem como medidas
complementares para a gestão
das políticas públicas, auxiliando
as administrações municipais em
programas e projetos pontuais. Essa
distribuição de recursos, porém, até o
início da década de 90, não obedecia
a critérios técnicos ou normas
específicas, tampouco era fiscalizada.
Além da escassez de recursos, havia o
agravante de se gastar mal.
Em 1997, a Instrução Normativa
STN 01/97 nasce para orientar
tais transferências voluntárias. A
exigência de projetos com uma série
de documentos de comprovação
de regularidade do município, da
manutenção de um Cadastro Único
de Convênio (CAUC), e, no final, da
comprovação da correta aplicação do
recurso com a prestação de contas,
foram medidas que disciplinaram essa
nova forma de acesso e de utilização de
recursos públicos.
38 IDEIAS EM GESTÃO | NO 10 | NOV/2012
“
”
cERcA
dE 50% dOS
muNicíPiOS NÃO
ENcAmiNhAm
PROjETOS
PARA AcESSAR
OS REcuRSOS
dO gOvERNO
fEdERAl. PARA
OS quE Têm
PROjETOS
APROvAdOS,
30% NÃO SÃO
libERAdOS. A
PRiNciPAl cAuSA
é A fAlTA
dE PESSOAl
quAlificAdO
PARA A
ElAbORAÇÃO E
gERENciAmENTO
dOS PROjETOS.
A partir de 2005, com o objetivo de dar
mais transparência aos repasses de
recursos e de garantir a sua adequada
e correta aplicação, passou-se a
exigir dos municípios uma série de
novos requisitos sob pena de ficarem
impedidos de receber recursos
federais por meio de transferências
voluntárias. Além das exigências já
expressas na Lei de Responsabilidade
Fiscal – Lei n.º 101/2000 e na Instrução
Normativa STN 01/97, os municípios
devem se pautar também na Lei de
Diretrizes Orçamentárias do exercício
em que se der a formalização do
convênio, nas orientações e legislação
do órgão concedente do recurso
e, mais recentemente, na Portaria
Interministerial n.º 127, de 29 de maio
de 2008, e suas alterações, que obriga
a adesão dos municípios ao Sistema de
Gestão de Convênios e Contratos de
Repasse do Governo Federal (SICONV).
A partir dessas regulamentações, os
desmandos na gestão das políticas
públicas e a utilização dos recursos
públicos como moeda de troca em
acordos políticos começam a sofrer
tremores em suas bases. Hoje, apesar de
os abusos não terem sido erradicados,
estão mais difíceis as práticas ilícitas de
administradores públicos inescrupulosos
e corruptos.
Problemas com os projetos
Muitos municípios foram pegos de
surpresa com essa legislação. Por falta de
pessoal qualificado e desconhecimento
de gestão de projetos, perderam e
continuam perdendo muitos recursos
federais. E os dados são preocupantes:
- Cerca de 50% dos municípios brasileiros
não encaminham projetos para acessar
os recursos de transferências voluntárias
do governo federal.
- Quando um projeto é aprovado, o alívio
é geral! No entanto, no próximo projeto,
um ano depois, o mesmo caminho deve
ser percorrido, pois não há registro ou
memória do processo de elaboração
e aprovação de projetos anteriores.
A forma de elaborar não foi anotada,
o funcionário não é o mesmo... e o
retrabalho começa.
- Dos recursos destinados aos municípios,
cerca de 30% do valor não é liberado. Dos
recursos aplicados, os municípios gastam
em torno de 20% do valor do projeto em
viagens e retrabalho.
- Não existe um mecanismo de
gerenciamento de projetos nos
municípios. Não só os projetos não
são gerenciados, como muitos não são
localizados e ninguém sabe do que se
trata muitos projetos encaminhados, pois
não há documentação arquivada.
Proposta de solução
Afinal, é possível maximizar a liberação
de recursos públicos da União para os
municípios e otimizar a sua utilização a
partir da implementação de técnicas de
gerenciamento de projetos?
Na busca de resposta a essa questão,
participei de um MBA em Gerenciamento
Internacional de Projetos na FGV,
concluído em 2010, com a apresentação
da monografia “Gerenciamento de
Projetos Públicos: entre as Políticas e o
PMBOK”.
39FACULDADE AIEC
“
”
AS fERRAmENTAS
PARA O
gERENciAmENTO
dE PROjETOS
PREciSAm SER
SimPlES E
dESbuROcRATizAdAS,
PARA quE POSSAm
SER mANuSEAdAS
POR SERvidORES
muNiciPAiS
SEm gRANdES
cONhEcimENTOS
dE gERENciAmENTO
dE PROjETOS
Ou mESmO dE
iNfORmáTicA.
Nesse trabalho, proponho uma
metodologia de gerenciamento de
projetos cujo objetivo é orientar os
municípios na elaboração de projetos,
maximizar a captação de recursos
externos, monitorar a utilização
desses recursos, reduzir o retrabalho
e minimizar a devolução de recursos
financeiros não aplicados.
A primeira etapa de um projeto é
sua elaboração. Depois de aprovado,
necessita de duas linhas de atuação,
em dois momentos diferentes: o
gerenciamento do projeto de liberação
dos recursos e o gerenciamento da
execução do projeto, seja obra, aquisição
ou serviços. O gerenciamento de
projetos na atual conjuntura mundial
não representa uma mera formalidade,
mas se constitui em peça chave para o
sucesso de qualquer empreendimento. A
era em que vivemos, do imediato, do ágil,
do econômico, do otimizado, precisa de
ferramentas que auxiliem para que os
processos e os investimentos caminhem
nessa mesma lógica.
A metodologia que proponho segue os
preceitos do Project Management Body
of Knowledge, ou PMBOK, conjunto de
práticas em gerenciamento de projetos,
que, por sua imensa importância
internacional, transformou-se num
padrão e fonte de inspiração para
quase todas as metodologias de gestão
de projetos existentes. O modelo foi
pensado para gerenciar o projeto
desde a captação dos recursos até a
sua finalização e a prestação de contas,
compreendendo todos os controles
necessários.
Ferramentas simples e eficazes
Os cargos e funções nas instituições
públicas, especialmente nos pequenos
municípios do País, nem sempre são
ocupados por pessoal qualificado e com
formação adequada para as tarefas de
controle. Por isso, as ferramentas para
o gerenciamento dos projetos precisam
ser simples e desburocratizadas para
que possam ser manuseadas por
qualquer colaborador, mesmo com baixo
nível de escolaridade. A metodologia que
apresento é de fácil compreensão e sua
aplicação está baseada na utilização de
planilhas físicas, elaboradas em papel, de
fácil manuseio, podendo ser controladas
por servidores municipais sem grandes
conhecimentos de gerenciamento de
projetos ou mesmo de informática.
Claro deve ficar que os projetos
executados com recursos do próprio
município, ou com recursos livres,
na linguagem orçamentária, também
podem e devem se valer de tais planilhas
que foram criadas especificamente
para o gerenciamento de projetos
públicos, independentemente da
origem dos recursos. Acreditamos, com
isso, estar oferecendo mecanismos
eficazes e de fácil utilização para
apoiar a gestão competente da coisa
pública, contribuindo assim para que os
municípios possam otimizar a aplicação
dos escassos recursos públicos,
desenvolver-se de forma sustentável
e gerar qualidade de vida para a
população.
Magna Regina Tessaro Barp
Professora na UNOESC (SC), IDEAU
(RS) e CENSUPEG. Gerente de projetos
da Êxito Assessoria Gerencial Ltda.
Mestre na área das Ciências Humanas
pela UNOESC. MBA em Gerenciamento
Internacional de Projetos pela FGV.
40 IDEIAS EM GESTÃO | NO 10 | NOV/2012
Gestão de Sistemas de Saúde
AVALIAção de
deSeMPeNho e
PAgAMeNto PoR
PeRFoRMANCe
doS PReStAdoReS
de SeRVIço de
SAúde PodeM
tRAzeR MAIS
quALIdAde Ao
AteNdIMeNto do
PACIeNte.
Cesar Abicalaffe
Em 2007 o Institute for Healthcare
Improvement (IHI) publicou os três
grandes objetivos de um sistema
de saúde: melhorar a saúde da população;
melhorar a experiência do paciente com
a atenção à saúde (incluindo qualidade,
segurança e confiabilidade); reduzir, ou
pelo menos controlar, o custo per capita da
saúde1.
Fazendo algumas análises, pode-se
perceber por que é tão difícil atingir esses
três objetivos em qualquer sistema de
saúde, público ou privado, dentro de
nosso país. Primeiramente, percebe-se
um sistema de saúde não integrado. A
forma cartesiana na qual a medicina é
pautada perpassa todos os setores da
saúde. Essa forma segmentada de pensar
levou o mercado a produzir sistemas
informatizados para as partes, dificultando
ou tornando quase impossível pensar de
forma sistêmica e acompanhar a atenção à
saúde durante todo o ciclo do cuidado.
Aliado a isso, “a saúde é vendida aos
pedaços”, como disse o CEO da Kaiser
Permanente2, George Halvorson. Com a
publicação da nova TUSS (Terminologia
Unificada da Saúde Suplementar), por
exemplo, teremos mais de 100.000 códigos
possíveis de cobrança. (HALVORSON,
2009)
Para agravar, os modelos de remuneração
trazem um incentivo perverso à má
qualidade dos serviços. No modelo
retrospectivo de pagamento, os
prestadores de serviço são recompensados
pelo volume e complexidade das
intervenções. Hospitais ganham mais se
prestarem um cuidado ruim: uma simples
cirurgia eletiva que complique e cause uma
infecção generalizada pode custar mais
de 10 vezes o valor sem a complicação. E o
pior, se o hospital estiver livre de infecção,
não recebe nada a mais por isso. Por
outro lado, os sistemas de remuneração
prospectivos (e.g. pagamento por
“pacotes”, salários e capitação) levam
a subtratamento e a seleção de risco.
(ROBINSON, 2001)
Por onde começar
Esses fatores contribuem para o
comprometimento da qualidade em
saúde em seu conceito multidimensional:
segurança (sem lesar enquanto deveria
ajudar); eficiência (sem desperdício);
eficácia (sem erros, uso excessivo ou
subtratamento); acesso oportuno
(reduzindo ou eliminando os tempos
de espera); equidade (sem variações de
qualidade); e, finalmente, atendimento
centrado nos valores, necessidades e
preferências do paciente. (IOM, 2001)
1 http://www.ihi.org/offerings/Initiatives/TripleAim/Pages/default.aspx. Acesso em 24/07/12.
2 www.kaiserpermanente.org
41FACULDADE AIEC
“
”
A fORmA
cARTESiANA E
SEgmENTAdA
dE PENSAR A
mEdiciNA, Em
quE A ‘SAúdE
é vENdidA AOS
PEdAÇOS’, lEvOu
O mERcAdO A
PROduziR SiSTEmAS
iNfORmATizAdOS
PARA AS PARTES,
dificulTANdO
PENSAR dE fORmA
SiSTêmicA E
AcOmPANhAR A
ATENÇÃO à SAúdE
duRANTE TOdO
O ciclO dO
cuidAdO.
Defendemos que, se melhorarmos a
qualidade em saúde em todas as suas
dimensões, estaremos alcançando os três
objetivos propostos pelo IHI, citados no
início deste artigo. O desafio está por onde
começar para termos essa qualidade.
O mesmo Institute for Healthcare
Improvement propõe que se deve “ Criar
e implementar, em larga escala, métodos
de pagamento que recompensem os
prestadores pela qualidade (resultados)
e adequação (eficiência), ao invés de
volume e complexidade.”3
Mas até que ponto a reforma no modelo
de remuneração pode impactar na
qualidade? O Institute of Medicine
em seu trabalho: Crossing the Quality
Chasm afirma que “... mesmo entre
os profissionais de saúde motivados a
prover a melhor atenção à saúde possível,
a estrutura de remuneração pode
não facilitar as ações necessárias para
melhorar a qualidade da atenção à saúde
e pode, da mesma forma, frustrar ações
deste tipo” (IOM, 2001).
Essas afirmações nos possibilitam
analisar o que é possível fazer com
a estrutura de remuneração, de tal
sorte que recompense os prestadores
pela qualidade do serviço. O processo
de avaliação de desempenho dos
prestadores de serviços de saúde é
primordial para desenvolver qualquer
metodologia ou forma de incentivo. Para
incentivar a performance, portanto, é
necessário avaliá-la.
Sendo assim, a avaliação de desempenho
ou avaliação da qualidade é uma
obrigação de qualquer gestor de saúde.
Gestão da Performance em Saúde
O Pagamento por Qualidade ou
Pagamento por Performance (P4P)
é uma prática na grande maioria
dos países desenvolvidos. Para a
realidade brasileira, foi desenvolvido
um modelo originalmente chamado
de P4P© e que mais recentemente foi
rebatizado de Gestão da Performance
em Saúde4 (GPS), visto seu caráter mais
abrangente. O GPS é também o nome
dado ao software que trabalha os dados e
informações para gerar conhecimento a
ser utilizado no processo de avaliação de
desempenho na área de saúde.
Quando se define usar incentivos,
consideramos como modelo ideal de
Pagamento por Performance aquele que:
tem o paciente como centro; encontra-se
estruturado nas dimensões da qualidade
na saúde; estimula o comprometimento
do médico ou prestador a melhorar
desempenho; premia esses
profissionais ou prestadores com
incentivos expressivos o suficiente
para motivar mudanças na sua forma
de prestar serviço; e cria o sentido de
responsabilização (ou accountability)
no atendimento médico, o qual deve
extrapolar o momento da consulta.
3 http://www.ihi.org/offerings/Initiatives/TripleAim/Pages/default.aspx. Acesso em 24/07/12.
4 uma versão demo do software gPS pode ser vista em http://2im.com.br/empresa.php
42 IDEIAS EM GESTÃO | NO 10 | NOV/2012
“
”
é NEcESSáRiA
umA fORmA dE
REmuNERAÇÃO
quE REcOmPENSE
OS PRESTAdORES
dE SERviÇOS
dE SAúdE PElA
quAlidAdE dO
SERviÇO quE
PRESTAm. PARA
dESENvOlvER
quAlquER
mETOdOlOgiA
dE iNcENTivO, A
AvAliAÇÃO dE
dESEmPENhO é
PRimORdiAl. O
SOfTwARE gPS é
umA fERRAmENTA
PARA ESSE
AcOmPANhAmENTO.
As premissas do GPS são a centralidade
no cliente (ou paciente), a simplicidade,
o uso de indicadores com ciclos de
vida, a possibilidade de generalizar para
todos os serviços de saúde e a conduta
rigorosamente ética. Atendidas essas
premissas, o modelo GPS pode ser
desenhado. Um desenho adequado do
modelo de avaliação de desempenho
é fundamental para que não tenhamos
falsas expectativas e resultados
equivocados, pois muitos modelos
existentes utilizam indicadores que
não são diretamente influenciados
por quem está sendo avaliado.
(ABICALAFFE, 2011)
Melhoria contínua
O primeiro grande pilar do modelo
está na análise multidimensional da
qualidade, utilizando indicadores
agrupados em quatro domínios
verticais: Estrutura, Eficiência técnica,
Efetividade clínica e Satisfação; e
dois domínios transversais: Acesso e
Segurança.
O ponto mais crítico antes de agrupar
os indicadores está na sua definição
propriamente dita. Os indicadores
devem ser selecionados considerando
sua relevância, solidez científica e
viabilidade. (NCQA. HEDIS, 2010)
A possibilidade de coleta de dados
para geração dos indicadores é fator
crítico de sucesso. E quanto maior for a
qualidade dos dados e a capacidade de
captura, mais confiável e robusto será o
programa implantado.
Outro grande desafio do modelo é a
definição do padrão de comparação
do indicador para poder definir se
quem está sendo avaliado está dentro
do esperado, acima ou abaixo. Várias
técnicas estatísticas são utilizadas para
tal, indo desde simples definição de
metas estabelecidas com os avaliados,
até robustas técnicas estatísticas para
comparabilidade de um prestador com
o grupo que está sendo avaliado.
O próximo passo é ajustar o risco. É
fundamental entender o perfil dos
pacientes que os prestadores atendem
para que se possa comparar o que é
comparável. Após coletado o dado,
gerado o indicador, comparado com
o benchmark adequado e ajustado o
risco, é possível demonstrar o boletim
de avaliação ou scorecard.
A última característica do modelo
proposto está na possibilidade
de utilizar os dados e indicadores
gerados no processo de avaliação de
desempenho como estratégia de gestão
e de educação permanente, visando
uma melhoria contínua.
O sistema gera diversos gráficos5 com
informações sobre o desempenho dos
prestadores, da clínica, das equipes
de saúde e de cada profissional. Os
indicadores de desempenho podem
ser detalhados, permitindo o seu
acompanhamento por profissional, por
equipe, por especialidade e de forma
global.
5 Modelo dos gráficos gerados pelo softwate GPS pode ser visto em http://gps.2im.com.br/demo/
43FACULDADE AIEC
“
”
O PAciENTE
dEvE SER SEmPRE
O cENTRO dA
PREOcuPAÇÃO, POiS
quANTO mElhOR
fOR A quAlidAdE
dE SuA SAúdE,
mAiS EficiENTE E
EficAz SE TORNA
um SiSTEmA dE
SAúdE, AlgO quE
AiNdA PAREcE SER
PARAdOxAl PARA
AlguNS gESTORES
dA áREA.
Os gráficos mostram índices de
desempenho mensal e anual, podendo
ordenar as equipes e os profissionais
por decil, o que permite fazer
análises comparativas, acompanhar
detalhadamente cada área e cada
profissional avaliado, e verificar qual
dimensão da qualidade está mais
comprometida. Enfim, a ferramenta
permite uma gestão eficiente do
programa implantado.
Ponto de virada
A importância do processo de avaliação
de desempenho é de tal grandeza que
passará a ser uma norma na saúde
suplementar. Em novembro de 2011,
foi publicada a RN 275, instituindo
o Programa de Monitoramento da
Qualidade dos Prestadores de Serviços
na Saúde Suplementar - QUALISS.6, que
exigirá o envio de dados de desempenho
à Agência Nacional de Saúde por parte
dos hospitais próprios de operadoras de
planos de saúde. Não temos dúvida de
que esse será um “ponto de virada” para a
melhoria da qualidade na saúde em nosso
país.
O processo de avaliação de
desempenho em si já traz um grande
aprendizado para a gestão do serviço.
É o que chamamos de “externalidades
positivas do modelo”7. Algumas
delas são: ajustes em processos
internos, maior envolvimento dos
médicos com a gestão, melhoria do
sistema de informações, entre outras.
(ABICALAFFE, 2012)
Enfim, o processo de avaliação de
desempenho é uma obrigação do gestor
de saúde. Já, o uso de pagamentos ou
incentivos por performance passa a ser
uma estratégia de gestão a ser adotada,
dependendo da política da instituição.
O importante é que o paciente seja o
centro da análise. É ele quem deve ser o
mais beneficiado. Quanto melhor for a
qualidade da saúde dos pacientes, mais
eficiente e eficaz se torna um sistema
de saúde, algo que, infelizmente, ainda
parece ser paradoxal para alguns
gestores de saúde.
Referências bibliográficas
ABICALAFFE, CL . Pagamento por performance. O desafio de avaliar o desempenho na área
da saúde. JBES, 2011. Vol 3 No 1. 179-185.
HALVORSON, G. The health care system will not reform itself. CRC Press. New York NY, 2009.
IOM - Institute of Medicine. Crossing the Quality Chasm. The National Academy Press.
Washington DC, 2001.
NCQA. HEDIS, 2011 Volume 1 e 2. Washington DC, 2010.
ROBINSON, JC (2001). Theory and Practice in the design of physician payment system. The
Milkbank Quartely, Volume 79, n. 2; 2001.
Cesar Abicalaffe
Médico com MBA em Estratégia e
Gestão Empresarial e Mestrado em
Economia da Saúde pela Universidade
de York, Inglaterra. Consultor da ANS
para discutir a reforma do modelo de
remuneração e modelos de avaliação
de desempenho e pagamento por
performance em Saúde. Presidente da
2iM – Impacto Inteligência Médica S/A.
6 http://www.ans.gov.br/index2.php?option=com_legislacao&view=legislacao&task=PdFAtualizado&format=raw&id=1875. Acesso em 24/07/12.
7 http://saudeweb.com.br/blogs/as-externalidades-positivas-do-p4p/. Acesso em 24/07/12.
44 IDEIAS EM GESTÃO | NO 10 | NOV/2012
BRASILeIRo,
CAReNte de
INFoRMAção SoBRe
PLANeJAMeNto
FINANCeIRo, FICA
ReFéM dAS díVIdAS e
à MeRCê de FALSoS
PRoFetAS.
Luis Abdal
Atualmente, os assuntos que
mais ganham espaço na mídia,
nas editoras, congressos e
nos happy hours são investimentos
e finanças pessoais. São os novos
tempos de um país com estabilidade
econômica, moeda que já completou
sua maioridade, inflação controlada e
taxas baixíssimas de desemprego.
Tudo bem que ainda temos vários
problemas para resolver como as
reformas política, previdenciária,
tributária e fiscal... mas vou me ater
apenas ao tema central de nosso artigo.
Quem apostaria nesse cenário
econômico favorável antes de 1994?
Quem continuaria apostando nisso
depois das crises de 1997 (Ásia),
1998 (Rússia), 2000 (crise cambial
brasileira), 2001 (World Trade Center),
2008 (Imobiliária), 2011 (?). Quem
apostaria que o Governo Lula não só
manteria a política econômica definida
por seu antecessor e oponente político
FHC, mas a consolidaria, pegando
carona na bonança do mercado entre
2003 e 2008?
Mas será que estamos cuidando desse
assunto como modismo? As teorias e
discussões sobre educação financeira
estão muito longe daqueles que
realmente precisam de orientação e
ainda não chegaram aos brasileiros
que subiram na pirâmide social. A
orientação financeira não bateu às
portas dos novos consumidores.
Consumo e inadimplência
A verdade é que estamos numa
grande encruzilhada. O consumo
represado das, até então, classes
menos favorecidas explodiu, o que
impulsionou o crédito. Nunca tantos
brasileiros tiveram celulares, carros,
TVs de plasma, geladeiras, etc.
Resultado: a inadimplência e a emissão
de cheques sem fundo são as maiores
da história, segundo os dados do IPEA.
E a explicação é simples: as pessoas
estão gastando mais do que podem.
Não estão pensando no futuro nem em
uma vida mais tranquila para quando se
aposentarem.
Gestão de Finanças Pessoais
45FACULDADE AIEC
“
”
AS TEORiAS
E diScuSSõES
SObRE EducAÇÃO
fiNANcEiRA
ESTÃO muiTO
lONgE dAquElES
quE REAlmENTE
PREciSAm dE
ORiENTAÇÃO,
E AiNdA NÃO
chEgARAm AOS
bRASilEiROS quE
SubiRAm NA
PiRâmidE SOciAl.
A ORiENTAÇÃO
fiNANcEiRA
NÃO bATEu
àS PORTAS
dOS NOvOS
cONSumidORES.
E por que isso acontece ? Resposta:
desconhecimento e desinformação. Por
exemplo, quase 90% dos brasileiros não
sabem a taxa de juros dos empréstimos
que realizam. E 85% das famílias
brasileiras não poupam.
Com a grande e variada oferta
de produtos de crédito, como
cheque especial, cartão de crédito,
financiamentos, crédito direto ao
consumidor, entre outros, as pessoas
precisam se preparar para lidar com
situações cada vez mais complexas
ao desejarem adquirir um bem ou
serviço. O conhecimento sobre finanças
pessoais dá segurança, influencia
as decisões de compra e torna os
indivíduos muito mais conscientes,
repercutindo em suas atitudes. Ou
seja, afeta diretamente as pessoas,
transformando o estilo de vida no
presente com reflexos positivos em seu
futuro.
Utilidade pública
A educação financeira vai muito
além de apenas utilizar uma planilha
para controlar os gastos. Por isso ela
precisa chegar a todos os cantos do
Brasil, para todos os brasileiros: nas
escolas, nas universidades e até nas
novelas. Os poderes públicos precisam
compreender que a conscientização
sobre o tema é uma questão de
utilidade pública. Só assim teremos o
tão sonhado círculo virtuoso: consumo
inteligente, poupança, crescimento,
geração de empregos e, novamente,
consumo.
Um país que pretende crescer, se
desenvolver, dar um passo a mais para
sua estabilidade e sustentabilidade
econômica deve se espelhar nos
exemplos vencedores de países que
elegeram a educação financeira como
uma de suas prioridades, como já é
realidade nos Estados Unidos, Reino
Unido, Japão, Austrália, Nova Zelândia e
Coréia do Sul. Um processo como esse,
que pode mudar a vida das pessoas,
não pode ser um modismo e, sim, um
desafio. Uma política de Estado.
Claro que já há programas de educação
financeira no Brasil, mas, na grande
maioria das vezes, liderados por
instituições privadas. Alguns estados
e municípios estão efetivamente
investindo nisso, mas são iniciativas
isoladas, que ainda não conseguem
pulverizar a informação por toda a
população carente de orientação.
É preciso uma iniciativa do Executivo
e leis elaboradas no Congresso que
definam programas de orientação
destinadas ao público adulto e aos
alunos do ensino básico. Ações
educativas que estimulem o consumo
mais responsável e conscientizem sobre
riscos assumidos pelos consumidores
nos processos de endividamento,
reforçando assim a
estabilidade e confiança
no Sistema Financeiro
Nacional.
46 IDEIAS EM GESTÃO | NO 10 | NOV/2012
“
”
A EducAÇÃO
fiNANcEiRA vAi
muiTO Além
dE APENAS
uTilizAR umA
PlANilhA PARA
cONTROlAR
OS gASTOS. A
cONSciENTizAÇÃO
SObRE O TEmA
é umA quESTÃO
dE uTilidAdE
PúblicA.
Só ASSim
TEREmOS O
TÃO SONhAdO
cíRculO
viRTuOSO:
cONSumO
iNTEligENTE,
POuPANÇA,
cREScimENTO,
gERAÇÃO dE
EmPREgOS.
“Apenas” charlatanismo
A discussão sobre educação financeira
é muito recente. E todo assunto
novo é campo fértil para todo tipo de
“profissionais”. Nesses momentos
surgem aqueles que enxergam
oportunidades nada ortodoxas.
Estamos nos referindo aos ditos
“especialistas”, que oferecem suas
“teses vencedoras” sobre como lidar
com dinheiro e multiplicar o patrimônio.
Eles estão em todas as partes: nas
editoras, na internet, palestrando em
empresas, universidades, escolas,
associações comunitárias e até na
mídia. Lançam livros, cursos, materiais
didáticos e dão entrevistas. Muitas
vezes até copiam descaradamente
obras de outros autores.
Enquanto se mantêm exclusivamente
no campo das ideias, das teorias, essa
conduta não é tão irresponsável.
É “apenas” charlatanismo. Pior é
quando se aventuram nas indicações
de investimentos, prestam assessoria
financeira e cobram por isso, como se
realmente fossem especializados. Essa é
a principal preocupação. E merece toda
a atenção.
É claro que não devemos generalizar.
Existem pessoas muito sérias,
profissionais e professores
que abraçaram o assunto com
responsabilidade. Estes, porém,
se prepararam, pesquisaram, se
aprofundaram no tema. Enfim,
possuem competência para ajudar os
brasileiros a administrarem melhor suas
finanças. Além desses profissionais
autônomos, há também inúmeras
instituições que possuem profissionais
experientes para prestar esse tipo de
assessoria.
47FACULDADE AIEC
“
”
OS bRASilEiROS
SÃO cARENTES
dE iNfORmAÇÃO
SObRE fiNANÇAS.
AcAbAm SEmPRE
PROcuRANdO
dicAS E
bARbAdAS PARA
ENRiquEcEREm. é
Aí quE ENTRAm
Em cAmPO OS
fAlSOS PROfETAS,
vENdENdO
SONhOS quE
POdEm RESulTAR
Em PESAdElOS.
Sonhos e pesadelos
Os brasileiros são carentes de
informação sobre finanças. Acabam
sempre procurando dicas e barbadas
para enriquecerem. É aí que entram em
campo os profetas, vendendo sonhos
que podem resultar em pesadelos.
O que aconteceu, por exemplo, com
aqueles que indicaram o mercado de
ações em 2008? E com aqueles que
diziam que o IBOVESPA chegaria aos 80,
90 e até 100 mil pontos?
Claro que não me refiro aos analistas
de mercado, nem aos operadores,
que possuem, por lei, registro para
exercerem suas funções. Refiro-me aos
falsos especialistas que, sem nenhum
embasamento técnico, com exercícios
de adivinhação, levaram ao prejuízo
inúmeros investidores, os quais, até
hoje, não recuperaram suas economias.
Luis Abdal
Diretor de Produtos da GEO Eventos e o
executivo responsável pela Expo Money,
o evento sobre educação financeira,
investimentos e empreendedorismo da
América Latina. Foi Diretor Executivo de
Marketing e Comunicação da BOVESPA.
Trabalhou na Bolsa por 16 anos e foi
responsável pelos programas de
popularização do mercado de ações e
de educação financeira.
Fazendo um paralelo bastante comum:
médicos e advogados não podem
exercer suas funções sem registros ou
certificados (CRM, OAB). Quando isso
ocorre, vira um verdadeiro escândalo
na mídia. TVs, rádios, jornais e revistas
tratam o assunto com total visibilidade.
Mas, no caso dos “assessores
financeiros”, isso não acontece. Sem
uma divulgação crítica, a sociedade fica
à mercê desses falsos profetas.
Por isso tudo que é necessário,
urgentemente, que as autoridades
regulamentem e fiscalizem essas
assessorias. Que exijam requisitos
mínimos para que esse tipo de
assessoria seja feita, assim como
há regras e exigências para outros
profissionais exercerem suas atividades.
É fundamental que a imprensa
também faça seu papel investigativo
e fiscalizador, mostrando os casos de
abuso contra o bolso dos incautos.
48 IDEIAS EM GESTÃO | NO 10 | NOV/2012
EAD
As novas tecnologias da
informação representam
forte aliado ao processo de
capacitação nas organizações. Muito se
fala do e-learning. Mas como aplicá-lo
com a qualidade que o processo ensino-
aprendizagem exige em tempos de
mudanças aceleradas que demandam
prontidão no agir e na atitude dos
profissionais que atuam no varejo? O
“e” (electronics) da tecnologia não
parece ser o maior desafio, mas sim
o “learning” da aprendizagem, que
interfere na atitude do profissional.
O objetivo deste artigo é compartilhar
a experiência da Universidade
Corporativa do Banco do Brasil1
(UniBB) com o novo posicionamento
da empresa expresso na campanha
BOMPRATODOS, destacando a
importância de se aproveitar o
electronic para potencializar o learning
e alinhar as ações de capacitação com a
estratégia da organização.
Além do marketing
A contínua redução da taxa Selic
repercutiu de maneira decisiva nos
juros praticados pelo setor bancário e
foi compreendida pelo Banco do Brasil
como uma oportunidade de ampliação
de sua participação no mercado e
fidelização dos clientes.
Muito mais do que uma assinatura das
peças de marketing, o BOMPRATODOS
passou a expressar o movimento de
interdependência que deve existir
entre empresas, sociedade e indivíduos.
Um banco tem um papel social que se
expressa na atitude de cada profissional,
que encontra, na estratégia da empresa,
significado para o seu trabalho. Isso
faz toda a diferença, mas não é o
bastante. A capacitação cumpre o papel
de potencializar a atitude esperada,
empregando qualidade à ação e dando
uma visão coesa ao movimento do
corpo organizacional como organismo
vivo, integrando ações das diversas
diretorias.
1 A universidade Corporativa do Banco do Brasil é uma gerência da diretoria de gestão de Pessoas e está presente regionalmente em todas as unidades federativas do País.
tReINAMeNto A
dIStâNCIA PeRMIte
à uNIVeRSIdAde
CoRPoRAtIVA do
BANCo do BRASIL
MoBILIzAR A eMPReSA
e PRoMoVeR AMPLo
PRogRAMA de
CAPACItAção eM
CuRto eSPAço de
teMPo.
Carlos Netto
49FACULDADE AIEC
“
”
O NOvO
POSiciONAmENTO
ESTRATégicO
dO bANcO
PREciSAvA SER
cOmuNicAdO
AOS gESTORES
dE mAiS
dE 5 mil
AgêNciAS E OS
fuNciONáRiOS
NEcESSiTAvAm dE
PREPARO PARA
A NOvA fORmA
dE ATuAR E
bEm ATENdER
O cliENTE quE
chEgARiA AO
bANcO cOm
ExPEcTATivAS
cRiAdAS cOm
A cAmPANhA
bOmPRATOdOS.
Oferecer soluções é o que faz a área
de gestão de pessoas ser percebida
como estratégica na vida de uma
organização. Entender momentos
como esse como desafio a ser vencido
e não como ameaça é o primeiro
passo para potencializar o papel da
educação corporativa. Levar aos 116
mil funcionários do Banco do Brasil a
estratégia de redução dos juros como
diferencial mercadológico em curto
espaço de tempo, promovendo ganho
de participação no mercado dentro do
novo posicionamento de excelência
no relacionamento, foi um marco do
papel desempenhado pela Universidade
Corporativa no Banco do Brasil.
Além da tecnologia
O novo posicionamento estratégico do
Banco precisava ser comunicado aos
gestores de mais de 5 mil agências do
País e os funcionários necessitavam de
preparo para a nova forma de atuar e
bem atender o cliente que chegaria ao
Banco com expectativas criadas com a
campanha BOMPRATODOS.
Sob essas condições, a UniBB foi
chamada a promover uma grande
ação de capacitação na empresa.
Para tanto, congregou tecnologia
e educação a partir de parceria
estratégica com o Instituto de Ensino e
Pesquisa em Administração (INEPAD).
A UniBB reuniu todo o conteúdo a ser
transmitido e o INEPAD desenvolveu
o planejamento e execução do curso.
Do primeiro contato da UniBB com
o INEPAD, passando pelas reuniões
de planejamento dos cursos, até a
execução do projeto de capacitação,
foram necessários apenas oito dias.
Os cursos foram oferecidos na
modalidade a distância, via web, no site
do INEPAD, podendo ser acessados em
computadores de qualquer agência
do País e também por tablete e celular.
Além de dispensar deslocamentos e
viagens, foi possível atender, em um
curto espaço de tempo, um grande
número de funcionários e mapear
as principais dúvidas apresentadas,
retroalimentando os conteúdos
gerados.
O ambiente virtual de aprendizagem
disponibilizou videoaulas com
executivos do Banco do Brasil e
especialistas convidados, vídeos com
simulação de atendimentos, material de
apoio para os gestores multiplicarem
conteúdos para sua equipe, sistema
de busca de principais dúvidas e
respostas, monitoramento dos
acessos aos conteúdos, verificação de
aprendizagem e avaliação do processo
pelos educandos. O ambiente oferecia
ainda fóruns para interação e debates,
com tutores treinados para apoiar os
treinandos.
50 IDEIAS EM GESTÃO | NO 10 | NOV/2012
“
”
OfEREcER
SOluÇõES é O
quE fAz A áREA
dE gESTÃO dE
PESSOAS SER
PERcEbidA cOmO
ESTRATégicA NA
vidA dE umA
ORgANizAÇÃO.
ENTENdER
mOmENTOS dE
mudANÇAS cOmO
dESAfiO A SER
vENcidO E NÃO
cOmO AmEAÇA é
O PRimEiRO PASSO
PARA POTENciAlizAR
O PAPEl dA
EducAÇÃO
cORPORATivA.
Também foi criado um hotsite do
BOMPRATODOS, com orientações
sobre cada produto/linha de crédito,
inclusive com material de apoio, como
complemento à capacitação dos
funcionários.
A oferta dos cursos foi acompanhada
de uma ação de comunicação para
mobilizar os funcionários para o
treinamento, por meio de multiplicação
seriada. Iniciou pelos Superintendentes
Estaduais, que comunicavam os
Superintendentes Regionais. Estes,
por sua vez, transmitiam para os
Administradores das unidades, os quais
ficavam responsáveis pelas orientações
à Gerência Média.
Além da avaliação
Todas as ações de treinamento
realizadas no Banco do Brasil
são monitoradas por um sistema
desenvolvido pela Diretoria de Gestão de
Pessoas denominado Radar em Gestão
de Pessoas. É possível mapear, em cada
agência do Banco, quantos e quem foram
os funcionários que participaram de um
treinamento, assim como os resultados
negociais obtidos. A ferramenta permite
o automonitoramento do gestor e sua
equipe, além da atuação da área de
Gestão de Pessoas no olhar macro que
aponta medidas corretivas. Dentro
desse sistema, foi desenvolvido o
RADAR BOMPRATODOS, que fornece
relatórios e gráficos específicos sobre as
ações de capacitação desenvolvidas em
parceria com o INEPAD e também sobre
treinamentos complementares internos
para atender o mesmo programa.
Acoplada ao trabalho, foi realizada,
dentro da visão de verificação de
aprendizagem, a estratégia do cliente
oculto, para medir a qualidade do
atendimento e do treinamento realizado.
Cerca de 800 agências foram avaliadas,
em duas rodadas de verificação. Cada
agência visitada recebeu um extrato
dos pontos fortes e críticos percebidos
em sua agência. A ação tornou possível
oferecer informações que permitiram
às equipes aperfeiçoarem ainda mais
o seu atendimento ou sanar dúvidas
ainda existentes. Mesmo as agências não
visitadas receberam uma ficha-resumo
do cliente oculto para que fizessem o seu
automonitoramento.
Além das metodologias
A Universidade Corporativa precisa
oferecer uma prateleira de soluções que
atenda demandas específicas, evitando
generalizações e ofertas limitadas diante
das necessidades apresentadas pela
estratégia organizacional. A repercussão do
novo posicionamento do Banco do Brasil
e os resultados alcançados exigiram que a
UniBB estendesse as ações de capacitação
para atender o aumento da demanda
dos clientes, com foco na qualidade do
atendimento e nas orientações ao novo
portfólio de produtos e serviços.
A metodologia de ensino foi aprimorada
diante das avaliações feitas e do
engajamento dos profissionais no esforço
de capacitação. A empresa descobriu o
valor do e-learning, especialmente para
ações mais abrangentes, sem abrir mão
da capacitação presencial, que passou
a ser oferecida de maneira mais focada,
como dois modelos de capacitação que se
complementam.
51FACULDADE AIEC
“
”
fOi
gRATificANTE,
ESPEciAlmENTE
NO ANO Em quE
A uNivERSidAdE
cORPORATivA dO
bb cOmPlETA 10
ANOS, PARTiciPAR
dE mAiS um
imPORTANTE
mOmENTO dO
hiSTóRicO dE
cOmPROmiSSOS
quE A EmPRESA
POSSui cOm
A SOciEdAdE
bRASilEiRA.
Além do treinamento
A área de desenvolvimento de pessoal
existe no Banco do Brasil desde 1965.
A empresa tem um longo histórico de
investimento no aprimoramento de
sua força de trabalho. A Universidade
Corporativa do Banco do Brasil foi
criada em 2002, para ampliar as ações
da área de treinamento do Banco para
além dos limites da empresa e atender
demandas de capacitação profissional de
seu corpo de funcionários, surgidas pela
necessidade de fazer frente aos novos
desafios de um mercado financeiro cada
vez mais competitivo.
Foi gratificante para toda a Diretoria de
Gestão de Pessoas, especialmente no
ano em que a Universidade Corporativa
Banco do Brasil completa 10 anos,
participar de mais um importante
momento de um longo histórico
de compromissos que a empresa
possui com a sociedade brasileira. Foi
perceptível o papel de protagonista
do Banco do Brasil como indutor do
mercado. Mais claro ainda, a visão de
que o BB será protagonista à medida que
seus profissionais assumirem o papel de
protagonistas em seus locais de trabalho.
Além do indivíduo
A educação corporativa cumpre o
papel de influenciar na atitude das
pessoas, seja na geração de significado
para o trabalho ou mesmo no apoio ao
processo de organização do trabalho
e no uso de técnicas que expressam
a melhor forma de se fazer algo,
como foi o caso do e-learning. Como
resultado, está o desenvolvimento de
competências para o trabalho, que
interfere positivamente e de forma
inovadora no agir e na dinâmica da
sociedade, gerando ganhos para os
clientes em função da mudança na
oferta de crédito, dos juros adequados
à nova realidade econômica brasileira e
da assessoria financeira prestada pelo
funcionário.
Quando o profissional percebe a
força da sua atitude, fica mais fácil
reconhecer o papel social do trabalho
que realiza e os vínculos que estabelece
com a empresa. Afinal, o trabalho é,
por definição, a condição humana de
transformar a natureza e o ambiente.
O BOMPRATODOS expressa uma
mudança para melhor, através do
trabalho de quem compreende a
estreita interdependência entre
empresa, sociedade e indivíduo.
Carlos Netto
Diretor de Gestão de Pessoas do
Banco do Brasil. Bacharel e licenciado
em História (Universidade Federal
Fluminense), Pós-graduado em
Marketing (FGV-RJ), Mestre em
Relações Internacionais (UERJ-RJ),
Mestre em Ciência da Informação
(UFRJ-RJ) e Doutor em Psicologia
Social (USP).
52 IDEIAS EM GESTÃO | NO 10 | NOV/2012
Aos sábados, costumo ir a uma feira
de produtos orgânicos perto de meu
bairro. Depois que descobri que abacate
temperado é uma delícia, o consumo dessa
fruta aumentou em casa. Num desses
sábados, a banca de frutas oferecia apenas
abacates bem verdes. Mas me garantiu
o feirante: “pode levar, que logo vai
madurar...”
Enquanto o atendente acomodava os
abacates na sacola de compras, me veio
à memória Malinowski, antropólogo
polonês, que, de 1915 a 1918, viveu
entre os trobriandinos em uma ilha do
Pacífico. Seus estudos mostraram que os
trobriandinos não olhavam os processos
da natureza se desenvolvendo linearmente
no tempo, como nós “civilizados”.
Para um trobriandino, não faria sentido
aquela explicação do feirante sobre o
abacate, pois não existiria, para eles,
a perspectiva histórica linear. Em sua
concepção de tempo, só existiria o
presente. A fruta verde é um ser. A fruta
madura é outro ser. Não haveria qualquer
possibilidade, segundo a cosmovisão
trobriandina, de um abacate verde vir a se
tornar maduro, o que seria um desespero
comercial para os feirantes.
Esses estudos nos desconcertam, pois nos
confrontam com outras possibilidades de
pensar o mundo. E, assim, vamos aprendendo
que a realidade pode ser olhada, pensada e
vivida de formas diferentes daquelas que nos
foram ensinadas como únicas e definitivas
pela ciência moderna.
A perspectiva científica chamada de pós-
moderna, apesar de favorecer a leviandade
teórica, mostra que nossos olhares, quando
acontecem através de lentes plurais, nos
revelam aspectos mais ricos da realidade
que buscamos compreender. E permitem
um relacionamento mais interessante com
essa realidade, o que inclui reconhecer a
possibilidade de que uma fruta madura pode
ser, de fato, um outro ser e não o resultado
de um processo histórico linear ao qual foi
submetida uma fruta verde.
Bem, os abacates verdes que eu comprei
não amadureceram. Provavelmente porque
haviam sido colhidos precocemente. Ou,
quem sabe, os trobriandinos estavam
certos...
Até março!
Artur Roman