faculdade aiec · 2 ideias em gestÃo | no 14 | mar/2014 apresentaÇÃo a ideias em gestão,...

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  • 1FACULDADE AIEC

    Associação Internacional de Educação Continuada

    Faculdade AIEC

    PresidenteVicente Nogueira Filho Diretor FinanceiroFrancisco Cabral de Menezes Júnior Diretora AdministrativaLéa Postiga Nogueira Diretora de Graduação Ruth Alves Franklin Almeida Diretor de Pós-Graduação Alaciel Franklin Almeida Diretor de Pesquisa e AvaliaçãoBenito Nino Bisio

    Ideias em Gestão é uma publicação da Faculdade AIECISSN 2236-8183

    EditorVicente Nogueira Filho

    Coordenação EditorialArtur Roman

    ArteAna Cristina Almeida

    Projeto GráficoHeto Carvalho

    Revisão Ângelo Edval Roman Orly Marion Webber Milani

    FinalizaçãoÂngela Roman

    Fotos capa, entrevista e editorial Cleber Medeiros

    ImpressãoGráfica Infante – Curitiba - PR

    DiagramaçãoLado A estúdio de criação | 41 [email protected]

    Edição nº 14 – Março/2014 Tiragem: 5.000 exemplares

    ContatoRevista Ideias em GestãoCLSW 105 - Bloco A - Edifício Espaço 105 - 1º andar Setor Sudoeste - CEP 70.670-431 - Brasília - DFTelefone: (61) 3403-0000E-mail: [email protected]

    Os artigos publicados na Ideias em Gestão são de responsabilidade de seus autores. As opiniões neles emitidas não representam necessariamente a opinião da AIEC.

    ÍNDICE02

    03

    04

    08

    12

    16

    20

    24

    28

    32

    36

    40

    44

    48

    52

    Apresentação

    Editorial

    Entrevista Hayton Jurema da Rocha Diretor de Marketing e Comunicação do Banco do Brasil Gestão da internacionalização Internacionalização de empresas brasileiras Carlos Altafini e Julio Négri

    Gestão de marketing Como se comunicar em tempos de Lolas Thais Pimenta Gestão empresarial A gestão de empresas orgânicas e vivas Jair Moggi

    Gestão de projetos Uma medalha e um diploma Ricarda Lima

    Gestão da saúde pública Pagamento por desempenho em sistemas públicos de saúde Armando Henrique Norman

    Gestão empreendedora Receita para o insucesso das micro e pequenas empresas Rafael G. Tortato

    Gestão de carreira Missão: escolher o cardápio do almoço Miguel Angelo Monteiro da Silva

    Gestão da comunicação Ouvidoria: gestão de vínculos, lugar de soluções Luiz Carlos Assis Iasbeck

    Gestão de micro e pequena empresa Pequena empresa, bem administrada, cresce! Júlio César Santana

    Gestão de pessoas Feedback e a neurologia da aprendizagem Carlos Diz

    EAD Desafio: capacitar 125 mil trabalhadores! Consuelo Aparecida Sielski Santos

    E então... Artur Roman

  • 2 IDEIAS EM GESTÃO | NO 14 | MAR/2014

    APRESENTAÇÃO

    A Ideias em Gestão, revista da Faculdade AIEC, publica entrevista e artigos com experiências, pesquisas e

    aprendizagens no universo organizacional e no mundo dos negócios.

    Periodicidade: três edições por ano, em março, julho e novembro.

    Tiragem: 5.000 exemplares.

    Público-alvo: empresários, dirigentes e funcionários de organizações privadas e públicas, administradores

    formados pela Faculdade AIEC, alunos da Instituição.

    Distribuição: gratuita para o público selecionado em todas as regiões do Brasil.

    Autores: empresários, dirigentes de empresas, profi ssionais com experiência de mercado, pesquisadores,

    pensadores e professores da área de administração, convidados especiais, administradores formados na

    Faculdade AIEC, professores, tutores e alunos.

    Temas dos artigos: relacionados às diversas áreas da administração como Gestão de Pessoas, Educação

    corporativa, Marketing, Finanças, Produção, Serviços, Comunicação, Contabilidade, Controladoria,

    Logística, Responsabilidade socioambiental, Empreendedorismo, etc.

    Natureza dos artigos: opinativo, refl exivo, descritivo ou analítico.

    Tamanho dos artigos: até 9.000 caracteres (com espaços).

    Para receber a Ideias em Gestão, escreva para [email protected]

    Para acessar a versão virtual da Ideias em Gestão, visite o site www.aiec.br

    Para submeter artigos, contate o Coordenador Editorial: [email protected]

    Para ler mais artigos de Administração e notícias da AIEC, acesse blog.aiec.br

    Nesta edição, tive certa facilidade para ilustrar e colorir as páginas da revista, pois me identifi quei com o estilo das

    criações de Josane Araujo Norman. As páginas fi caram, além de coloridas, ora com estilo mais moderno, ora com

    um toque mais clássico. Foi possível brincar com as cores e fragmentos das obras de forma solta e descontraída.

    Ana Cristina Almeida – Designer gráfi co

  • 3FACULDADE AIEC

    Editorial

    Cara leitora, caro leitor

    A Faculdade AIEC preza muito os convênios que

    tem com dezenas de empresas que recomendam

    a seus funcionários o curso de Administração

    oferecido pela Instituição. Dentre essas empresas,

    o Banco do Brasil foi o primeiro a elaborar parceria

    com a AIEC, há 13 anos, celebrada com o então

    Diretor de Gestão de Pessoas, Hayton Jurema da

    Rocha.

    Atualmente, ocupando o cargo de Diretor de

    Marketing e Comunicação, Hayton aceitou o nosso

    convite para a entrevista de capa, em que fala sobre

    as estratégias da empresa para manter uma marca

    forte e respeitável, Top of Mind há mais de 20 anos.

    Também sobre marca, temos, nesta edição,

    um artigo de Thais Pimenta que nos conta suas

    inovadoras ações de comunicação de marketing.

    O índice de mortalidade das micro e pequenas

    empresas continua alto no Brasil, mas está

    diminuindo, graças à profi ssionalização dos

    empreendedores. Esse é o tema dos artigos de

    Rafael Tortato e de Júlio Santana.

    Ricarda Lima conta sua trajetória de jogadora de

    vôlei, reconhecida mundialmente, a gestora de

    projetos sociais no Distrito Federal. A discussão

    sobre pagamento por performance na saúde

    pública volta às páginas da Revista, desta vez em

    artigo do médico e pesquisador Armando Norman.

    Sempre temos algo a aprender sobre feedback no

    ambiente de trabalho. É o que nos revela Carlos Diz

    em seu artigo. Jair Moggi traz um instigante olhar

    sobre a estrutura das organizações, a partir de

    referenciais da Antroposofi a.

    Luiz Carlos Iasbeck nos apresenta um histórico

    sobre as ouvidorias no Brasil e discute seu papel

    como instância mediadora de relacionamentos

    com os públicos de interesse das organizações. O

    artigo sobre internacionalização das empresas de

    Carlos Altafi ni e Julio Négri questiona a máxima

    “exportar é o que importa”.

    Miguel Angelo compartilha episódios de sua

    história de vida e descreve seu processo de

    aprendizagem diante dos desafi os vividos para

    construir sua carreira profi ssional. Consuelo

    Santos, Chefe da UniCorreios, fecha esta edição

    apresentando a experiência dos Correios com

    educação a distância.

    As ilustrações multicoloridas desta edição foram

    elaboradas a partir de fotografi as de obras de

    Josane Araujo Norman, artista plástica brasileira,

    atualmente residindo na Inglaterra.

    Boa leitura!

    Professor Vicente Nogueira Filho

    Editor

  • 4 IDEIAS EM GESTÃO | NO 14 | MAR/2014

    Entrevista

    1 - O Banco do Brasil, há 23 anos,

    é a marca mais lembrada pelos

    brasileiros na categoria “bancos” da

    pesquisa Top of Mind do Datafolha.

    Qual o principal ingrediente dessa

    fórmula de sucesso?

    Hayton Jurema da Rocha - Acho que

    “ser do Brasil” é o principal ingrediente.

    Estamos hoje em todos os municípios

    brasileiros, principalmente depois da

    parceria com os Correios. A amplitude

    dessa presença faz com que o Banco

    não se limite a ser apenas um balcão de

    venda de produtos e serviços nos grandes

    centros urbanos. Para a maioria dos

    pequenos municípios, o BB representa

    a esperança de desenvolvimento,

    pois signifi ca que o crédito rural, as

    aposentadorias e pensões e outras

    transferências governamentais não

    migrarão para outro município vizinho de

    maior porte.

    AÇÕES DE MARKETING

    E COMUNICAÇÃO

    DO BANCO DO

    BRASIL, COM

    INVESTIMENTOS EM

    ESPORTE E CULTURA,

    E ENVOLVIMENTO DOS

    FUNCIONÁRIOS COMO

    MULTIPLICADORES

    ESTRATÉGICOS,

    REFORÇAM IMAGEM

    DE UMA EMPRESA

    QUE GERA BONS

    RESULTADOS PARA OS

    ACIONISTAS, ATUANDO

    COM ESPÍRITO

    PÚBLICO.

    Outro aspecto a considerar é que as

    empresas vendem produtos ou serviços,

    mas o consumidor “compra” bem-estar,

    confi ança, comodidade, segurança,

    tradição. Quando acontece uma ascensão

    de classes sociais conjugada com baixo

    nível de desemprego, como ocorreu

    no Brasil, cresce o nível de exigência

    do cidadão e se ampliam as demandas

    do consumidor. É aí que as marcas que

    melhor respondem a essas expectativas,

    como a marca BB, ganham força e se

    consolidam na mente das pessoas.

    Uma olhada na relação de marcas “top

    of mind”, nas demais categorias, vai

    confi rmar o que digo.

    2 - Além de ótimos resultados em seus

    balanços, o BB ocupa o indesejado

    lugar como uma das instituições

    fi nanceiras com mais reclamações

    no ranking do Banco Central. Como

    o Banco administra o refl exo dessa

    contradição na imagem da empresa?

    - Diretor de Marketing e Comunicação do Banco do Brasil.

    - Graduado em Ciências Econômicas pela Universidade Federal de Alagoas.

    - Pós-Graduado em Gestão de Negócios pela Universidade Federal

    de Pernambuco e em Marketing pela PUC Rio de Janeiro.

  • 5FACULDADE AIEC

    Hayton Jurema da Rocha - De fato,

    temos problemas e isso acaba se

    refletindo em nossa imagem. A qualidade

    do atendimento sempre foi uma das

    preocupações de nossos administradores

    e isso nunca terá fim. Todas as áreas

    do banco estão sendo cobradas e não

    têm medido esforços para melhorar

    a qualidade dos serviços prestados.

    O mote da estratégia corporativa

    2013-2017 é buscar a “excelência

    dos relacionamentos”, com clientes,

    fornecedores, acionistas, funcionários,

    etc. Isso passa por maiores investimentos

    em tecnologia, em capacitação de

    funcionários, em simplificação de

    processos, enfim, pela busca contínua da

    eficiência operacional. Não é fácil e não

    é trabalho de curto prazo, mas ninguém

    está dormindo no ponto.

    3 - As últimas campanhas do BB

    na mídia mostram uma busca de

    aproximação da empresa com um

    público não bancarizado. O Banco

    pretende aumentar os pontos

    de atendimento e o quadro de

    funcionários para atender essa

    ampliação massiva da base de

    clientes?

    Hayton Jurema da Rocha - O

    crescimento econômico brasileiro

    beneficiou a todos, mais especialmente

    a parte mais humilde da sociedade

    brasileira. Muitas dessas pessoas, que

    só consumiam o que realmente era

    necessário, hoje compram o primeiro

    carro, o primeiro apartamento ou

    constroem a sua casa própria.

    Isso está acontecendo não só por causa

    do aumento de emprego, mas também

    porque os bancos, puxados pelo BB,

    em 2012, reduziram as taxas de juros,

    facilitando o acesso ao crédito. Para

    aqueles que ainda não possuem conta,

    o BB revolucionou de novo o sistema

    financeiro quando lançou a chamada

    BB Conta de Pagamentos, em que um

    cliente pode transferir recursos para

    alguém que ainda não possui conta e que

    precisa apenas ter um CPF e um celular.

    O BB promove a inclusão bancária,

    ampliando o acesso a meios eletrônicos

    de pagamentos e oferecendo educação

    financeira para os novos usuários de

    serviços bancários.

    4 - Em qualquer pesquisa que se faça

    em uma grande empresa para se

    levantarem problemas internos, a

    comunicação aparece nos primeiros

    lugares. Como o BB se comunica com

    seus 120 mil funcionários espalhados

    em um país continental e em 26

    países do mundo?

    Hayton Jurema da Rocha - De

    várias formas, em vários canais, como

    qualquer grande empresa. Mas vejo

    uma diferença significativa em relação

    a outras empresas: os funcionários do

    Banco não são apenas empregados. São

    clientes, já que 98% deles consomem

    quatro ou cinco produtos do Banco. São

    também “donos” do Banco, pois a Previ,

    o fundo de pensão dos funcionários, é

    a segunda maior acionista da empresa.

    COM A

    ASCENSÃO DE

    CLASSES SOCIAIS

    E BAIXO NÍVEL

    DE DESEMPREGO,

    COMO OCORREU

    NO BRASIL,

    CRESCE O NÍVEL

    DE EXIGÊNCIA

    DO CIDADÃO E

    SE AMPLIAM AS

    DEMANDAS DO

    CONSUMIDOR. É AÍ

    QUE AS MARCAS

    QUE MELHOR

    RESPONDEM

    A ESSAS

    EXPECTATIVAS,

    COMO A

    MARCA BB, SE

    CONSOLIDAM

    NA MENTE DAS

    PESSOAS.

  • 6 IDEIAS EM GESTÃO | NO 14 | MAR/2014

    Além disso, o BB é reconhecido como

    uma das empresas brasileiras que mais

    investem em educação corporativa,

    processo em que a comunicação é a

    base de tudo. Com esse conjunto de

    fatores, em que funcionário é cliente,

    acionista, empregado e cidadão na

    comunidade em que trabalha, não

    vejo a comunicação interna como um

    problema preocupante.

    5 - O apoio do Banco do Brasil ao

    esporte é um caso de sucesso do

    patrocínio como instrumento de

    comunicação. E com relação à área

    cultural, como está a política de

    investimentos?

    Hayton Jurema da Rocha - Com o

    lançamento do “Circuito Banco do

    Brasil”, criamos uma nova plataforma de

    marketing de relacionamento que reúne,

    de forma integrada, esporte, cultura,

    sustentabilidade e entretenimento em

    diferentes estilos, para todos os públicos

    e faixas etárias, com preços acessíveis

    e itinerância por várias regiões. Com

    relação especificamente à área cultural,

    há 24 anos nossa atuação está focada

    no patrocínio a projetos realizados nos

    centros culturais (CCBBs) localizados

    em Brasília, Rio de Janeiro, São Paulo e

    Belo Horizonte. Além da qualidade e da

    regularidade da programação – o que

    nos tem garantido o reconhecimento

    em diversos prêmios e reportagens

    –, a gratuidade e os preços acessíveis

    permitem o aumento crescente de

    público.

    É também nesse território que a nossa

    marca traduz inclusão social, prontidão

    para servir, ganha força, respeito, e se

    consolida na mente das pessoas.

    6 - Nos anos 80, o Banco do Brasil

    estava sendo preparado para ser

    vendido. Nos últimos anos, o BB

    comprou outros bancos e amplia sua

    atuação, inclusive em outros países.

    O senhor acredita que o BB pode se

    posicionar perante a opinião pública

    como um modelo de empresa de

    economia mista?

    Hayton Jurema da Rocha - Acho que

    sepultamos a velha discussão sobre se

    bancos devem ser públicos ou privados.

    O BB não é um banco 100% público.

    Possui ações negociadas em bolsa e tem

    que apresentar bons resultados para

    os acionistas. Embora o BB dispute a

    liderança de mercado com poderosos

    concorrentes privados, não podemos,

    porém, nos guiar somente pela lógica

    de mercado. Se fosse para fazer apenas

    o que os bancos privados já fazem, por

    que não privatizar o BB? Nós somos

    protagonistas do desenvolvimento do

    País e indutores de transformações

    sociais. Executamos papéis que não são

    atrativos para os bancos privados, sem

    perder de vista a busca contínua pela

    rentabilidade. Acredito sim que o Banco

    do Brasil é um modelo de empresa de

    mercado com espírito público.

    COM O

    ‘CIRCUITO BANCO

    DO BRASIL’,

    CRIAMOS UMA

    NOVA PLATAFORMA

    DE MARKETING DE

    RELACIONAMENTO

    QUE REÚNE

    ESPORTE, CULTURA,

    SUSTENTABILIDADE

    E ENTRETENIMENTO

    EM DIFERENTES

    ESTILOS, PARA

    TODOS OS

    PÚBLICOS E FAIXAS

    ETÁRIAS, COM

    PREÇOS ACESSÍVEIS

    E ITINERÂNCIA POR

    VÁRIAS REGIÕES.

  • 7FACULDADE AIEC

    7 - O senhor foi diretor de gestão de

    pessoas no Banco do Brasil. Em que

    essa experiência contribui para seu

    trabalho como diretor de marketing

    e comunicação?

    Hayton Jurema da Rocha - Em

    praticamente tudo. Se há 12 anos eu

    acreditava que os funcionários do banco

    não eram apenas simples empregados,

    hoje estou convencido de que são

    difusores de nossa marca, como clientes,

    acionistas, líderes comunitários,

    cidadãos e até como empregados. Com

    as redes sociais cada vez mais populares,

    todos os cidadãos passaram a ter voz. E

    as organizações ficaram escancaradas.

    Antes, com um plano de comunicação

    eficiente, um bom release para a

    Imprensa e um filme publicitário bem

    produzido, era possível definir a imagem

    que se queria. Hoje, fazer comunicação

    desconectada dos serviços que são

    realmente oferecidos pela empresa gera

    protestos pesados nas redes sociais. A

    passagem pela diretoria de gestão de

    pessoas me ensinou que uma reputação

    se constrói de dentro para fora, com

    transparência, envolvimento e o que

    chamo de publicidade do bem, ou seja,

    o fluxo de informações que circula por

    meio de multiplicadores estratégicos

    como nossos funcionários, que torna

    público o que o BB é e faz.

    8 - Em 2001, a Universidade

    Corporativa do Banco do Brasil fez

    uma parceria com a Faculdade AIEC,

    instituição que oferecia o primeiro

    curso de Administração pela Internet

    no Brasil. Hoje, são perto de 1.500

    funcionários do Banco formados e

    estudando na AIEC, reconhecida pelo

    MEC, pelos alunos e pelo mercado

    como uma das melhores faculdades

    a distância do Brasil. O que levou

    o senhor, que naquela época era

    diretor de gestão de pessoas, a

    autorizar o convênio, quando a AIEC

    iniciava suas atividades?

    Hayton Jurema da Rocha - A convicção

    de que muitos colegas queriam, mas não

    podiam obter uma graduação superior

    por trabalharem em regiões onde não

    havia faculdades. Como o projeto da

    AIEC foi considerado muito bom pelo

    MEC, ficou fácil conciliar o interesse de

    nossos funcionários com o interesse

    do banco, no sentido de melhorar a

    capacidade técnica de nossos quadros,

    especialmente daqueles que atuavam

    em regiões mais carentes. Hoje dá para

    perceber que aquela decisão já traduzia

    nosso atual posicionamento “Bom Pra

    Todos”, em que pregamos que qualquer

    iniciativa, para ser boa para o Banco,

    precisa ser boa para o cliente, para o

    funcionário, para a sociedade, para o

    País.

    ANTES,

    COM UM BOM

    PLANO DE

    COMUNICAÇÃO,

    RELEASE E

    UM FILME

    PUBLICITÁRIO, ERA

    POSSÍVEL DEFINIR

    A IMAGEM QUE

    SE QUERIA. COM

    AS REDES SOCIAIS,

    AS ORGANIZAÇÕES

    FICARAM

    ESCANCARADAS.

    HOJE, FAZER

    COMUNICAÇÃO

    DESCONECTADA

    DOS SERVIÇOS

    QUE SÃO

    REALMENTE

    OFERECIDOS

    VAI GERAR

    PROTESTOS.

  • 8 IDEIAS EM GESTÃO | NO 14 | MAR/2014

    Gestão da internacionalização

    Quando nos propusemos a escrever este artigo sobre internacionalização de empresas brasileiras, nos reunimos para

    definir uma pauta. Decidimos aproveitar

    a oportunidade para expressar um

    sentimento que provavelmente outros

    profissionais da área de comércio

    internacional também compartilhem.

    Nossas experiências de campo,

    quando somadas, representam mais

    de 30 anos de vivência internacional.

    Envolvidos com essa área há tantos

    anos, percebemos que grande parte

    dos gestores não tem convicção plena a

    respeito da importância estratégica de

    internacionalizar suas empresas, ou tem

    uma visão limitada a esse respeito.

    Percebemos que muitos projetos de

    internacionalização foram tratados

    como uma mera oportunidade cambial.

    Quando o dólar está valorizado e o

    mercado interno pouco aquecido,

    somos procurados por empresas

    interessadas em exportar. Assim que o

    cenário se inverte, via de regra, uma boa

    parte dessas empresas acaba recuando

    suas posições no exterior, quando não,

    as abandonam completamente.

    Defendemos que esse processo deve ser

    encarado como uma corrida de longa

    distância, que exige preparação prévia,

    estratégia bem definida para enfrentar

    as dificuldades que se apresentem e,

    acima de tudo, obstinação, já que, sem

    ela, o prêmio estará muito distante

    de ser alcançado. Mudar totalmente

    a estratégia cada vez que a variação

    cambial desfavoreça não nos parece o

    mais aconselhável.

    Modelo adequado

    No Brasil, quando se fala em

    internacionalização de empresas, a

    primeira coisa que vem à cabeça ainda

    é exportar. Isso se deve ao fato de que,

    durante muitos anos, o País priorizou

    essa atividade. No início dos anos 70,

    chegou a ser cunhada a expressão

    “Exportar é o que importa”. Talvez a

    ênfase na exportação tenha sido tão

    forte que acabou atrasando a entrada

    das empresas brasileiras no jogo da

    globalização.

    Apresentamos a seguir um exemplo

    do que consideramos uma operação

    internacionalizada adequada aos dias

    atuais:

    OS PROCESSOS DE

    INTERNACIONALIZAÇÃO

    DAS EMPRESAS

    BRASILEIRAS DEVERIAM

    SER CONSEQUÊNCIA

    DAS CONVICÇÕES DOS

    SEUS GESTORES E NÃO

    UMA SIMPLES REAÇÃO

    PROVOCADA POR

    OSCILAÇÕES CAMBIAIS

    RECORRENTES.

    Carlos Altafini e Julio Négri

  • 9FACULDADE AIEC

    “Uma empresa com domínio de uma

    tecnologia ou produto diferenciado,

    uma marca forte ou de grande potencial

    pode muito bem implementar um

    negócio em que a sede esteja no Brasil

    e o setor de desenvolvimento, por

    exemplo, na Itália. Mercadorias sendo

    produzidas em unidades brasileiras

    e também em países da Ásia ou Leste

    europeu. Produção ocorrendo através

    de estruturas próprias ou de terceiros,

    com um único padrão de qualidade.

    Unidades produtivas apoiadas por

    tecnologias desenvolvidas em locais

    distintos e consumindo insumos

    nacionais e importados. Clientes de

    várias partes do mundo sendo atendidos

    de forma customizada.”

    Avaliar e planejar

    O exemplo acima é muito próximo

    de algumas poucas operações

    que conhecemos, infelizmente

    restrito às poucas “multinacionais

    brasileiras” ou a um pequeno grupo de

    empresas. A maioria dos processos de

    internacionalização que acompanhamos

    parte do desejo do empresário de

    exportar seus produtos ou, mais

    recentemente, de desenvolver um

    fornecedor internacional.

    Como atuamos como consultores na

    área, sempre que temos a oportunidade

    de participar do processo desde o início,

    apresentamos propostas alinhadas com

    a nossa visão sobre o assunto. Quando

    estamos interagindo com gestores com

    visão de longo prazo, temos tido sucesso.

    Entretanto, até alguns anos atrás,

    atuávamos somente na parte comercial

    e, quando chegávamos à empresa,

    o plano de ação já estava montado e

    invariavelmente iniciava com uma visita

    ao mercado-alvo, participação em

    alguma feira setorial ou contato direto

    com fornecedores ou clientes potenciais

    em rodadas de negócios e outros

    eventos similares.

    Não foram poucos os casos em que

    simplesmente fomos apresentados

    ao produto, recebemos um catálogo

    em português, uma lista de preços em

    dólares e a missão de sair e vender, sem

    qualquer avaliação do mercado-alvo.

    Quando nos referimos a um “plano de

    ação”, na maioria dos casos, esse plano

    nada mais era do que o desejo de alguém,

    assim expressado:

    - Temos que vender lá fora!

    Uma das características dos executivos

    brasileiros é justamente planejar

    pouco e agir muito, o que não é nada

    recomendável, pois poderá obter algum

    resultado quando atua no seu próprio

    território, mas é extremamente perigoso

    quando está no exterior.

    A lição de casa

    Em vários países, o conceito de contratar

    serviços de consultores externos

    especialistas já está bastante difundido

    e, quando uma empresa pretende

    internacionalizar-se, a sua primeira

    atitude é buscar alguém que conheça

    profundamente o mercado-alvo.

    O PROCESSO DE

    INTERNACIONALIZAÇÃO

    DE UMA

    EMPRESA EXIGE

    PLANEJAMENTO,

    ESTRATÉGIA BEM

    DEFINIDA PARA

    ENFRENTAR AS

    DIFICULDADES QUE

    SE APRESENTEM E,

    ACIMA DE TUDO,

    OBSTINAÇÃO.

    MUDAR

    TOTALMENTE

    A ESTRATÉGIA

    CADA VEZ QUE A

    VARIAÇÃO CAMBIAL

    DESFAVOREÇA NÃO

    NOS PARECE

    O MAIS

    ACONSELHÁVEL.

  • 10 IDEIAS EM GESTÃO | NO 14 | MAR/2014

    O empresário brasileiro normalmente

    considera esse tipo de serviço como

    um custo e não como um investimento,

    optando por soluções mais econômicas e

    algumas vezes improvisadas.

    Essa postura faz com que algumas

    premissas importantes como o registro

    prévio de marcas e análise de aspectos

    legais (jurídicos, tributários, trabalhistas)

    sejam menosprezadas. O que a princípio

    pareceu economia se transforma em

    um custo inesperado quando a empresa

    começa a deparar-se com situações não

    previstas, como por exemplo, uma marca

    já registrada por um terceiro ou um

    contrato de representação mal feito.

    É importante fazer a “lição de casa” antes

    de sair pelo mundo fazendo parcerias

    e fechando negócios. Introduzir uma

    marca em um novo mercado exige tempo

    e investimento. Qualquer gestor está

    consciente de que todo investimento

    deve dar retorno, mas parece que,

    quando se trata de investimentos

    intangíveis, como o tempo de dedicação

    dos participantes ou gastos operacionais

    com viagens, participação em eventos,

    formação de equipes, esses números

    deixam de ser considerados no momento

    de tomar algumas decisões estratégicas.

    Quando a marca está consolidada e a

    estrutura de distribuição desenvolvida, o

    grande desafio é atender esse mercado de

    uma forma lucrativa e pelo período mais

    longo possível, rentabilizando ao máximo

    os investimentos.

    O maior custo

    O maior de todos os custos é o de deixar

    de atender um mercado já conquistado. Já

    estivemos envolvidos em um processo em

    que levamos alguns anos para introduzir

    e consolidar uma marca brasileira em

    um país sul-americano e todo o trabalho

    foi praticamente perdido a partir do

    momento em que a oscilação do dólar

    fez com que o fabricante deixasse de ser

    competitivo com o produto produzido no

    Brasil.

    Essa empresa já trabalhava naquela época

    em seu processo de internacionalização,

    mas provavelmente por não se preocupar

    em manter o mercado conquistado, optou

    por subir unilateralmente os preços a

    níveis inaceitáveis em qualquer parte do

    mundo, deixando de ser uma opção viável

    para o mercado.

    É IMPORTANTE

    ‘FAZER A LIÇÃO

    DE CASA’ ANTES

    DE SAIR PELO

    MUNDO FECHANDO

    NEGÓCIOS.

    ENTRAR EM UM

    NOVO MERCADO

    EXIGE TEMPO E

    INVESTIMENTO. EM

    VÁRIOS PAÍSES,

    QUANDO UMA

    EMPRESA PRETENDE

    INTERNACIONALIZAR-

    SE, A PRIMEIRA

    MEDIDA É

    CONTRATAR

    CONSULTORES QUE

    CONHEÇAM O

    MERCADO-ALVO.

  • 11FACULDADE AIEC

    Nesse caso em especial, atuávamos

    somente como representantes

    comerciais e não tivemos força

    suficiente para convencer os gestores

    da época da importância de priorizar

    o desenvolvimento de outras fontes

    de fornecimento. O mercado acabou

    encontrando suas próprias soluções

    e a marca foi perdendo importância

    e competitividade. Atualmente não

    estamos mais vinculados a essa empresa,

    mas nos perguntamos:

    - Será que essa marca conseguirá

    retornar ao mercado? Quanto custará

    recuperar aquele mercado?

    Um bom planejamento deve prever a

    possibilidade de mudanças cambiais

    repentinas que possam comprometer o

    abastecimento de um mercado cativo,

    estabelecendo fontes alternativas de

    fornecimento.

    A melhor alternativa

    Várias empresas brasileiras transferiram

    parte da sua produção para o

    exterior, principalmente para a Ásia.

    Essas empresas continuam sendo

    criticadas, mas, sob o ponto de vista da

    internacionalização, estão totalmente

    corretas, pois desde lá atendem a

    mercados que não poderiam ser

    abastecidos pela matriz brasileira.

    Aquelas que transferiram totalmente

    suas produções para o exterior talvez

    já tenham passado por momentos de

    arrependimento por não haver mantido

    pelo menos uma parte da produção no

    Brasil, pois já tivemos eventos recentes

    de inversão da tendência favorável à

    importação.

    NÓS SOMOS

    BRASILEIROS

    E JAMAIS

    DEFENDEREMOS A

    DESINDUSTRIALIZAÇÃO

    DO NOSSO PAÍS,

    MAS TAMPOUCO

    ESTAMOS DE

    ACORDO COM

    ALGUMAS TESES

    QUE PROPÕEM UMA

    ‘POSTURA DEFENSIVA’

    QUE PASSA POR

    PROTEÇÕES DE

    MERCADO.

    Alguns setores da indústria, por sua vez,

    limitaram-se a melhorar seus parques

    fabris no Brasil, aproveitando-se dos

    benefícios fiscais para a importação

    de bens de capital. Esses setores estão

    muito melhores do que antes, mas essas

    ações não foram suficientes para evitar

    que o setor siga sendo pressionado pela

    chegada de produtos importados mais

    competitivos.

    O setor de máquinas, segundo a ABIMAQ

    (Associação Brasileira da Indústria

    de Máquinas e Equipamentos), no

    segundo semestre de 2013, sofreu

    com a escassez de recursos do Finame

    (Financiamento para aquisição de

    máquinas e equipamentos), que até então

    vinham protegendo o setor em relação ao

    produto importado e sustentando o seu

    crescimento.

    O jogo da globalização

    É difícil identificar empresas que tenham

    conseguido chegar a um volume equivalente

    entre a importação e a exportação, o que

    seria a situação ideal, pois criaria um “hedge

    cambial” interessante. O famoso “Custo

    Brasil” tem uma participação enorme no

    problema, mas como não temos ingerência

    sobre o tema, temos que focar em ações ao

    nosso alcance.

    Nós somos brasileiros e jamais

    defenderemos a desindustrialização do

    nosso país, mas tampouco estamos de

    acordo com algumas teses que propõem

    uma “postura defensiva” que passa

    por proteções de mercado. Utilizando

    uma máxima muito utilizada no futebol,

    acreditamos que a melhor defesa é

    o ataque e a única opção é participar

    ativamente do jogo da globalização.

    Carlos Altafini

    Diretor Executivo da Marketplus. Bacharel

    em Administração pela PUC-RS.

    [email protected]

    Julio Négri

    Consultor de Desenvolvimento de Negócios

    da Marketplus. Bacharel em Administração

    pela Faculdade AIEC.

    [email protected]

  • 12 IDEIAS EM GESTÃO | NO 14 | MAR/2014

    Gestão de marketing

    12 IDEIAS EM GESTÃO

    Nunca imaginei ser assessora de imprensa. Nos tempos de faculdade, na PUC de Minas Gerais, enveredei pelas artes visuais, mais

    precisamente a videoarte e o cinema.

    Queria ser professora universitária,

    mas aprendia mais nos corredores do

    que na sala de aula. Participei do grupo

    de pesquisa Poéticas Audiovisuais,

    encabeçado pelos professores André

    Brasil, Eduardo de Jesus e Roberta Veiga.

    Discutia Foucault e Deleuze, conceitos

    de heteronomias, comunicação em rede,

    controle, memória, poesia. Entrei no

    universo de Philippe Dubois, Nam June

    Paik e por ali fi quei um bom tempo.

    Ainda na faculdade, criei um programa

    na TV Universitária. A cada 15 dias, ia

    ao ar uma entrevista com algum nome

    importante da videoarte.

    Pesquisava sobre o entrevistado

    e elaborava as perguntas. Era uma

    realização pra mim. Daí fui ser produtora

    junto com uma prima. Ela, mais velha e

    mais experiente, me iniciou no cinema

    em um curta-metragem chamado “Os

    fi lmes que não fi z”. Trabalhei um mês da

    pré à pós-produção, encarei 16 horas de

    fi lmagem, ralei.

    Mas sempre observei tudo e algum

    tempo depois consegui produzir um

    curta com um ex-namorado. Nós dois,

    mais um casal de amigos, produzimos

    o curta “Balanços e milkshakes”.

    Conseguimos apoio para tudo, desde a

    alimentação da equipe ao equipamento

    de gravação. E, no fi m, levantamos R$ 50

    mil de editais para fi nalizar o fi lme. Logo

    depois, fui para uma produtora de vídeos

    trabalhar como estagiária.

    UTILIZAÇÃO CRIATIVA

    E INTEGRADA DE MÍDIA

    LOCATIVA ANALÓGICA

    E DIGITAL AMPLIA

    POSSIBILIDADES

    DE DIVULGAÇÃO

    DE MARCA E DE

    POSICIONAMENTO DE

    PRODUTO.

    Thais Pimenta

  • 13FACULDADE AIEC 13FACULDADE AIEC

    Saí de lá dois anos depois, já como

    coordenadora de produção. Caí no

    universo da cultura e fui ser produtora

    do Espaço TIM UFMG do Conhecimento,

    que ainda era poeira. Quase dois anos

    depois, o museu inaugurou e viajei de

    férias para a Europa.

    Moda

    Nesse meio tempo, conheci a consultora

    de moda e jornalista Gloria Kalil

    que me convidou para ser uma das

    pesquisadoras sobre A Moda Mineira

    para o Memorial Minas Gerais. Passei a

    entender a moda como uma ferramenta

    riquíssima de estudo que transita

    pela economia, psicologia, sociologia,

    antropologia, política, etc. A moda é a

    vitrine de um tempo. Ao lado da Gloria,

    aprendi a falar mais baixo e a usar os

    talheres corretamente, sempre com os

    olhos bem abertos.

    Nunca mais larguei a moda, fi z pós-

    graduação na área e vim para São Paulo

    para uma vaga de assessora de imprensa

    em uma empresa de comunicação de

    moda, a Press Pass.

    São Paulo

    Como já citei, nunca imaginei que fosse

    ser assessora de imprensa. Achava o

    cargo algo careta demais para as minhas

    discussões sobre a poética das artes,

    mas encarei o desafi o. Na real, tinha

    simpatizado com o lugar logo de cara

    e gostei quando a (hoje minha chefe)

    Christine Caterina me perguntou na

    entrevista qual era a banda de que eu

    gostava. Respondi Ramones e senti que

    ela gostou.

    Moro em São Paulo há quase três anos

    e durante todo o tempo permaneci na

    Press Pass, de onde não pretendo sair

    tão cedo. Foi lá que aprendi e aprendo o

    que é comunicação e consigo descobrir

    novas formas de colocar em prática o

    comunicar.

    Comunicando

    O relato que fi z sobre meus passos

    desde a vida acadêmica foi para

    contextualizar o quanto meu universo

    esteve conectado com áreas diferentes

    na maioria do tempo. Mas todas elas com

    algo em comum: a comunicação.

    E como se comunica? Como assessora

    de imprensa, logo aprendi o beabá da

    história: pautar a imprensa com notícias

    dos meus clientes. Mas aí vem o impasse:

    quais notícias? o que é notícia?

    Não é novidade pra ninguém que, a cada

    dia, o mundo nos apresenta um universo

    de novas tecnologias. Vai desde os

    messengers, como o velho ICQ, MSN e o

    atualíssimo Whatsapp (este responsável

    por muitos défi cits de atenção), até as

    redes sociais, atualmente lideradas pelo

    Facebook. Nunca se comunicou tanto

    como hoje. Tenho pena das cartas, dos

    telegramas e até dos e-mails que já não

    são lá essas coisas.

    As pessoas querem respostas rápidas,

    o que é novo hoje de manhã é velho

    hoje à tarde. As hashtags espalham os

    microtextos e aí a gente se pergunta:

    como acompanhar? Como montar um

    plano estratégico de comunicação para

    o meu cliente?

    PASSEI A

    ENTENDER A

    MODA COMO

    UMA FERRAMENTA

    RIQUÍSSIMA DE

    ESTUDO QUE

    TRANSITA PELA

    ECONOMIA,

    PSICOLOGIA,

    SOCIOLOGIA,

    ANTROPOLOGIA,

    POLÍTICA, ETC. A

    MODA É A VITRINE

    DE UM TEMPO. ”DE UM TEMPO.

  • 14 IDEIAS EM GESTÃO | NO 14 | MAR/2014

    14 IDEIAS EM GESTÃO

    Sair da casinha

    Em tempos de crise, as empresas cortam

    o departamento de marketing e deixam

    nas mãos de uma ou duas pessoas. E

    para a assessoria de imprensa o braço

    do marketing é importante, uma vez que

    ele é o responsável por criar estratégias

    que poderão ser noticiadas depois. A

    questão é que, com a diminuição do

    departamento, o papel do mkt tem

    sido transferido para as assessorias

    que já ganham o título de assessoria de

    comunicação.

    Como somos nós que temos o contato

    direto com a imprensa, somos nós que

    sabemos o que é atrativo quando se fala

    em notícia. Mas afi nal, o que é atrativo?

    Temos que sair da casinha. Sempre.

    Antes, quando uma marca ia ser

    lançada, o normal era que se realizasse

    um coquetel. Os convidados seriam a

    imprensa e formadores de opinião. A

    ideia era que as fotos do evento fossem

    divulgadas depois em colunas sociais e

    revistas de fofoca.

    Mas cá entre nós, marca que pensa

    assim vai ser marquinha o resto da vida.

    Sempre digo que tem gente que nasceu

    pra ser chefe e gente que nasceu pra

    ser subordinado. O mesmo vale para as

    empresas: algumas surgem e são, outras

    nascem e inspiram.

    Remalola

    Há algum tempo me vi com um desafi o em

    mãos: lançar uma marca de beachwear

    (moda praia) no mercado de moda

    brasileiro que já tem marcas de beachwear

    para todos os gostos e estilos. Como me

    diferenciar?

    Primeiro, entendi qual era a expectativa

    do meu cliente, o público que ele queria

    atingir e o conceito que gostaria de

    explorar. O nome da marca é Remalola. A

    inspiração é a personagem Lola, do fi lme

    Corra, Lola, Corra. O nome REMALola

    se refere ao momento em que a Lola

    rema, por isso uma marca de beachwear.

    Cada ano a marca se propõe a explorar

    o universo de uma ilha do mundo e tudo

    é produzido pensando no que essa Lola

    vestiria.

    A dona da marca assim apresentou a Lola:

    “Lola é uma mulher contemporânea, tem

    37 anos e é divorciada. Romântica, tem

    seus momentos de histeria, como toda

    mulher. Antenada, quando viaja, Lola

    vai conferir as principais exposições de

    arte no exterior. Sempre sabe indicar os

    melhores restaurantes, mas também se

    atém às delicadezas da vida e se emociona.

    Lola é Mulher com M maiúsculo.”

    Era este o briefi ng que tinha em mãos

    para analisar e me inspirar para montar

    a estratégia de lançamento da Remalola.

    O grande desafi o foi transmitir esse

    conceito de forma inteligente para a

    imprensa. Por mais que fosse uma história

    legal de trabalhar, o jornalismo de moda

    se depara com histórias legais todos os

    dias. Além de a história ser legal, eu tinha

    que ir além. Pois então, recorri ao meu

    universo pessoal para criar uma maneira

    de esquematizar a história.

    ANTES, QUANDO

    UMA MARCA IA

    SER LANÇADA,

    O NORMAL

    ERA FAZER UM

    COQUETEL PARA

    A IMPRENSA E

    FORMADORES

    DE OPINIÃO. A

    IDEIA ERA QUE

    AS FOTOS DO

    EVENTO FOSSEM

    DIVULGADAS EM

    COLUNAS SOCIAIS

    E REVISTAS DE

    FOFOCA. MARCA

    QUE AINDA PENSA

    ASSIM VAI SER

    MARQUINHA O

    RESTO DA VIDA...

  • 15FACULDADE AIEC 15FACULDADE AIEC

    Mídia locativa

    Nos tempos de faculdade, desenvolvi meu

    projeto de conclusão de curso com base

    nas discussões de vigiar, punir e controlar

    desenvolvidas por Michel Foucault e Gilles

    Deleuze sobre as sociedades disciplinar e

    de controle.

    Esses temas foram atualizados por meio

    das mídias locativas que nada mais são que

    o celular, o GPS e até mesmo um poste e

    um muro. Mídia locativa é mídia que se

    conecta a um local no espaço. O tema

    do projeto era “A construção do sujeito

    através do deslocamento no espaço

    utilizando mídias locativas”. Confuso? Pois

    é mais simples e mais atual do que parece.

    Desde muito tempo, as ruas têm o

    poder de concentrar mensagens de

    comunicação e, como a Lola é um

    personagem que está sempre em

    movimento, decidi explorar a rua. Em

    conjunto com a artista Laura Guimarães,

    famosa por já colar em postes e tapumes

    os seus pequenos textos impressos em A4

    coloridas, desenvolvemos microrroteiros

    sobre o universo da Lola e espalhamos

    em diversos pontos de São Paulo. Cada

    impressão levava, além do texto, a hashtag

    #lolaesteveaqui.

    Boas dúvidas

    Durante um mês monitoramos o

    resultado da ação através da hashtag no

    Instagram. As pessoas adoram se deparar

    com textos curtos, ora românticos

    ora engraçadinhos, no caminho para o

    trabalho, para a academia, enfi m.

    NUNCA SE

    COMUNICOU

    TANTO COMO

    HOJE. QUEM

    TEM BOCA VAI A

    ROMA. MAS, SE

    ALÉM DA BOCA,

    TIVER INSTAGRAM,

    FACEBOOK

    E OUTRAS

    FERRAMENTAS DE

    COMUNICAÇÃO,

    VAI ATÉ A LUA.

    Deram bons registros fotográfi cos e

    boas dúvidas sobre quem seria a tal Lola

    que esteve ali.

    Depois enviamos para a imprensa de

    moda uma caixinha com um miniglobo,

    um microrroteiro e um bilhete dizendo

    que a Lola havia estado em diversas

    partes do mundo e que agora chegava

    até a pessoa que abria a caixinha. Do lado

    de fora da caixa estava a #lolaesteveaqui

    carimbada e o meu e-mail assinava o

    bilhete. Com a hashtag, o jornalista que

    se interessasse poderia pesquisar sobre

    a tal Lola e veria a ação no Instagram.

    Nesse meio tempo, agendamos um

    almoço com uma das maiores revistas

    de moda do País e a dona da marca.

    Explicamos o conceito e emplacamos

    uma matéria na ELLE Brasil. Os outros

    jornalistas que receberam o mídia kit

    enviaram e-mails perguntando sobre

    a tal Lola e receberam as informações

    completas assim que foi publicada a

    matéria na revista.

    Até a Lua

    E aí fi ca a pergunta: e o produto? As

    peças da marca são de ótima qualidade

    e fecham com chave de ouro o armário

    da Lola. Não teve erro, assim que

    apresentamos o produto, a estratégia foi

    concluída e tudo fez sentido.

    Quem tem boca vai a Roma. Mas, se além

    da boca, tiver Instagram, Facebook e

    outras ferramentas de comunicação, vai

    até a Lua.

    Thais Pimenta

    Coordenadora de jornalismo na Press

    Pass Comunicação & MKT, em São

    Paulo (SP). Jornalista, Pós-graduada

    em Design de Moda.

  • 16 IDEIAS EM GESTÃO | NO 14 | MAR/2014

    Gestão empresarial

    Amor, divertimento, felicidade, autenticidade, realização, desafi os, alma. Essas expressões quase sempre são recebidas

    com ceticismo quando usadas no

    ambiente empresarial, muito embora

    elas tenham um substrato comum,

    que é o que todo ser humano saudável

    procura ao longo da sua vida pessoal e

    profi ssional, quer ele seja empresário,

    empregado, investidor, fornecedor,

    cliente, etc. Essas expressões

    representam conceitos imanentes a

    todos os seres humanos e podem ser

    incorporadas a fi losofi as e modelos de

    gestão que pretendem se sintonizar com

    um capitalismo mais consciente, que

    ainda está por nascer.

    Indícios disso podem ser vistos no

    livro “Os segredos das empresas mais

    queridas1”, que tem como autores um

    trio de professores acadêmicos.

    A ECOLOGIA SOCIAL,

    MODELO DE GESTÃO

    INSPIRADO NA

    ANTROPOSOFIA,

    PROPÕE OLHAR

    AS ORGANIZAÇÕES

    COMO ENTIDADES

    VIVAS QUE, ASSIM

    COMO AS PESSOAS,

    APRENDEM E REAGEM

    RAPIDAMENTE AOS

    IMPULSOS DO MEIO

    AMBIENTE.

    Jair Moggi

    1 “Os segredos das empresas mais queridas - Como as empresas de classe mundial lucram com paixão e bons

    propósitos”. Rajendra S. Sisodia, Jagdish N. Shet e David B. Wolf – Editora Bookman - 2008.

    O livro mostra em detalhes os resultados

    de uma pesquisa feita nos EUA em

    empresas que possuem modelos de

    gestão nos quais as palavras amor,

    divertimento, felicidade, autenticidade

    e alma estão presentes. As empresas

    pesquisadas mostram uma lucratividade

    sustentada por longos períodos e são

    reconhecidamente admiradas por

    todos os seus stakeholders - clientes,

    funcionários, acionistas e comunidades

    em que se inserem.

    Ecologia social

    Os referenciais para a busca de modelos

    de gestão que criam condições para

    o surgimento dessas características

    geradoras de admiração genuína foram

    desenvolvidos pelo psiquiatra holandês

    Bernard Lievegoed, quando titular da

    cadeira de Psicologia Social na Faculdade

    de Administração de Empresas da

    Universidade de Roterdã.

  • 17FACULDADE AIEC

    Em 1950, ele criou o movimento da

    Pedagogia Social, hoje denominado

    Ecologia Social, que está ancorado na

    Antroposofi a2 de Rudolf Steiner.

    O pensamento antroposófi co coloca

    o homem no centro do processo de

    desenvolvimento econômico e social nos

    níveis dos grupos, das comunidades onde

    está inserido e do próprio planeta. Olha

    o ser humano nas suas dimensões física e

    espiritual e no seu relacionamento com os

    reinos que o circundam: mineral, vegetal,

    animal e humano.

    Como indício da busca por modelos que

    privilegiem o ser humano nas dimensões

    citadas, vemos que, a cada dia que passa,

    as organizações se parecem mais e

    mais com seres humanos, em todos os

    seus aspectos. Cada vez mais se fala em

    empresas orgânicas ou em empresas vivas,

    que aprendem e reagem rapidamente aos

    impulsos do meio ambiente.

    Comparar as organizações a seres vivos não

    é exatamente uma novidade, e a natureza

    tem muito a nos ensinar conforme as

    organizações vão fi cando mais e mais

    complexas.

    Recente é a percepção que se tem dessa

    complexidade, que vai se acentuando

    conforme as mudanças se aceleram,

    a ciência e a tecnologia avançam, a

    autoconsciência e o nível de exigência

    das pessoas e da sociedade aumentam.

    Paralelamente, os modelos reducionistas

    do passado se tornam incompetentes

    para responder às questões existenciais

    dos indivíduos nos contextos pessoal,

    social e organizacional, e, além disso,

    não acompanham as exigências da

    hipercompetitividade dos mercados. As

    circunstâncias atuais mostram de forma

    irrefutável que tudo está ligado a tudo

    e não é mais possível puxar o fi o de um

    novelo sem mexer com todo o novelo.

    Quadrimembração humana e organizacional

    O ser humano tem um corpo físico

    (que pode ser relacionado ao reino

    mineral), um corpo vital que lhe dá vida

    (relacionado ao reino vegetal), além de

    um corpo emocional (associado ao reino

    animal), que lhe permite viver emoções

    e sentimentos.

    OS MODELOS

    DE GESTÃO

    DO PASSADO,

    SEGMENTADORES,

    NÃO RESPONDEM

    A QUESTÕES

    EXISTENCIAIS

    NOS CONTEXTOS

    PESSOAL, SOCIAL E

    ORGANIZACIONAL.

    A REALIDADE

    MOSTRA QUE

    TUDO ESTÁ

    LIGADO A TUDO

    E NÃO É MAIS

    POSSÍVEL PUXAR

    O FIO DE UM

    NOVELO SEM

    MEXER COM TODO

    O NOVELO.2 Antroposofi a literalmente signifi ca sabedoria sobre o ser humano. Esse conhecimento foi estruturado pelo fi lósofo, educador e cientista austríaco Rudolf Steiner (1860 – 1924).

  • 18 IDEIAS EM GESTÃO | NO 14 | MAR/2014

    Tem também uma individualidade

    que pode ser relacionada ao mundo

    espiritual, composta pelos seus valores

    e pensamentos. A empresa, por sua

    vez, reproduz na sua essência esse

    arquétipo, pois ela também é portadora

    de um corpo físico, composto por

    suas máquinas, instalações, etc., um

    corpo vital constituído pelos processos

    produtivos e administrativos, por um

    corpo emocional, feito de tudo aquilo

    que acontece entre as pessoas no seu

    dia a dia, e por uma identidade que é

    formada pela cultura da empresa, seus

    valores, sua biografi a, etc.

    Podemos dizer então que, se a divindade

    criou a natureza, incluindo o ser humano,

    este criou o supermercado, a fábrica, a

    universidade, o Estado, o hospital, a web

    e todas as outras instituições do mundo

    econômico, social e cultural. Nesse

    sentido, as organizações, formadas

    basicamente por indivíduos, são também

    entidades vivas, com pensamentos,

    sentimentos e vontades e, assim como

    as pessoas, têm possibilidade de crescer,

    desenvolver-se, transformar-se e

    realizar seus potenciais.

    Como as pessoas, as empresas também

    têm um ciclo de vida com fases

    defi nidas como concepção, nascimento,

    crescimento, desenvolvimento, crises

    e morte, sendo que a diferença básica

    é que o ser humano tem uma fi nitude

    física, enquanto a empresa, sendo fruto

    do mundo das ideias, pode não ter.

    Ela tem a possibilidade de transcender

    no tempo e sobreviver para além das

    pessoas que lhe deram origem ou que

    nela atuam, desde que os problemas

    de transição entre gerações ou de

    comando sejam tratados com sabedoria

    e efi ciência.

    Energia única

    Quando pessoas se juntam pelos mais

    diferentes motivos, sempre há o fi o

    condutor de um objetivo comum que

    os uniu. Esse objetivo pode ser, apenas

    por hipótese, a elaboração de um jornal,

    a fundação de uma associação ou de

    um clube, a realização de uma tarefa,

    a implantação de um projeto. Essas

    pessoas reunidas pelo acaso ou pelo

    destino podem ter como alvo conspirar

    ou criar um negócio. Pelo fato de se

    dedicarem a um objetivo imaterial -

    uma ideia, uma intenção, uma vontade

    - por meio de seus pensamentos,

    sentimentos, atenção, trabalho, ações e

    omissões, acabam gerando uma cultura,

    um ambiente, ou um espírito coletivo

    único, que pode ou não ser palco para

    que a sua alma se realize por meio do

    amor, das realizações, da felicidade e da

    autenticidade.

    Os relacionamentos humanos que

    nascem desses encontros, os múltiplos

    interesses dos clientes, fornecedores,

    acionistas e colegas de trabalho acabam

    gerando uma energia única e exclusiva

    que é a síntese daquelas pessoas - no

    que se refere às suas intenções, virtudes

    e defi ciências - que se manifestam no

    mundo (mercado).

    A VERDADEIRA

    ESSÊNCIA DE

    UM NEGÓCIO

    NÃO ESTÁ NA

    TECNOLOGIA,

    NAS MÁQUINAS,

    EQUIPAMENTOS

    OU NO CAPITAL

    ACUMULADO.

    ESTÁ NAQUILO

    QUE É IMATERIAL,

    INCONTROLÁVEL,

    INTANGÍVEL E

    QUE FORMA UM

    CORPO SUTIL

    QUE NINGUÉM VÊ,

    MAS SABE QUE

    EXISTE, QUE É A

    IDENTIDADE DA

    EMPRESA OU A

    SUA ALMA.

  • 19FACULDADE AIEC

    Vemos ainda, no contexto empresarial,

    que, mais e mais, a verdadeira essência

    de um negócio não está na tecnologia

    aplicada, nas máquinas, equipamentos,

    no capital acumulado, mas está naquilo

    que é imaterial. Essa essência está

    naqueles aspectos que não podem ser

    controlados ou apropriados pelos donos

    do capital ou pelas lideranças porque

    é propriedade inalienável das pessoas

    e grupos - ideias, valores, símbolos,

    conhecimento e informações. É aquilo

    que é incontrolável, intangível, que

    forma um corpo sutil que ninguém vê,

    mas sabe que existe, que é a identidade

    da empresa ou a sua alma.

    Certa vez, o dono de um negócio de

    grande porte e de reputação sólida me

    disse: “O espírito da minha empresa

    vai embora todos os dias no final do

    expediente. Se eu e as pessoas que

    trabalham aqui deixarmos de existir, isto

    aqui não será mais do que uma casca oca

    ou um cadáver.”

    Capitalismo arejado

    Os fenômenos descritos acima

    podem ser chamados de fenômenos

    arquetípicos. Podem ou não ser

    percebidos pelas pessoas que interagem

    dentro de uma organização, seja ela

    de que natureza for. Quando, como

    consultores ou líderes, entramos em

    contato com os fenômenos empresariais

    de gestão, liderança, comunicação,

    etc., podemos dizer que entramos em

    contato com aspectos suprafísicos

    ou arquétipos que se manifestam no

    mundo físico das mais diversas formas.

    AS LIDERANÇAS

    GENUÍNAS OLHAM

    AS PESSOAS,

    OS GRUPOS, AS

    ORGANIZAÇÕES E

    A SOCIEDADE A

    PARTIR DE UMA

    ABORDAGEM QUE

    PERCEBE QUE TUDO

    NO MUNDO FÍSICO

    ESTÁ INSERIDO

    NUMA TEIA DE

    ORIGEM MISTERIOSA,

    SAGRADA, SUTIL E

    ECUMÊNICA.

    Saber reconhecer a alma das pessoas

    e a alma das empresas e apoiá-las em

    seu propósito de tornar sua atuação

    operacional mais objetiva e saudável é

    um desafio dos gestores que querem

    trazer para o ambiente empresarial os

    significados das palavras que estão no

    título deste artigo.

    A analogia entre o ser humano e as

    organizações nos dá conta do complexo

    imbricamento que existe entre esses

    seres vivos. Amor, divertimento,

    felicidade, autenticidade, realização,

    desafios, alma são frutos do bem cuidar

    dessa complexidade que precisamos

    aprender a tratar, daqui para a frente, se

    pretendemos mesmo ser os parteiros de

    uma nova sociedade ou de um capitalismo

    mais arejado e mais suportável para o ser

    humano.

    Lideranças genuínas são aquelas que

    assumem o compromisso de olhar as

    pessoas, os grupos, as organizações

    e a própria sociedade a partir de uma

    abordagem ampliada pelos conceitos

    deste artigo, percebendo, entendendo

    ou aceitando que tudo no mundo

    físico está inserido numa imensa teia

    de origem misteriosa, sagrada, sutil e

    ecumênica. Tomar contato, pesquisar

    e operacionalizar, com consciência

    e equilíbrio esses conceitos no dia

    a dia do mundo econômico, social

    e cultural é cuidar do crescimento

    e do desenvolvimento das pessoas

    individualmente, dos grupos e das

    próprias organizações, garantindo

    assim a sua sustentabilidade com amor,

    divertimento, autenticidade e felicidade.

    Jair Moggi

    Economista e advogado. Mestre em

    Administração de Empresas pela

    Faculdade de Economia e Administração

    da USP. Foi professor concursado da

    Faculdade da FEA/USP. É autor e coautor

    dos seguintes livros: “Empresa de

    Família – Crescimento, Desenvolvimento,

    Perpetuidade” (Qalitymark), “O Capital

    Espiritual das Empresas” (Editora

    Antroposófica), “Assuma a Direção da

    sua Carreira” (Editora Negócio), “Como

    integrar Liderança e Espiritualidade”

    (Editora Antroposófica). Fundador e

    ex-presidente do Instituto EcoSocial,

    sócio-diretor da Adigo Consultores (www.

    adigo.com.br), fundador e sócio-diretor

    da Adigo Empresas Familiares (www.

    adigoempresasfamiliares.com.br).

  • 20 IDEIAS EM GESTÃO | NO 14 | MAR/2014

    EX-ATLETA DA SELEÇÃO

    BRASILEIRA DE VÔLEI,

    CONSIDERADA A

    MELHOR LÍBERO DO

    MUNDO, DEIXA A

    POSIÇÃO DE DEFESA E

    ASSUME O PAPEL DE

    EMPREENDEDORA NA

    CRIAÇÃO DE PROJETO

    SOCIAL.

    Ricarda Lima

    Gestão de projetos

    Nasci em Taguatinga (DF), onde cresci brincando e jogando bola na rua. Foi uma época muito boa que despertou a minha paixão

    pelo esporte. Hoje, me sinto uma pessoa

    privilegiada, pois tive a oportunidade,

    como jogadora de voleibol, de realizar

    um sonho que poucos atletas realizam:

    ir a uma Olimpíada, ganhar uma medalha

    e ser reconhecida na posição como a

    melhor líbero do mundo. Realmente foi

    incrível, embora não tenha sido fácil! A

    vida do atleta de alto rendimento exige

    muita renúncia e o desenvolvimento

    de resiliência da forma mais intensa

    possível.

    O esporte me possibilitou várias coisas.

    Além de desenvolver habilidades sociais

    e emocionais, pude conhecer pessoas

    brilhantes como Fernanda Venturine,

    Fofão, Bernardinho e Leila, minha grande

    amiga, irmã e parceira de trabalho até

    hoje. Aprendi muito com todos eles.

    Tive um grande coaching em minha vida,

    antes mesmo de meus técnicos, que

    foi meu pai. Ele me ensinou que, com

    esforço, eu conseguiria realizar o que

    desejasse. E me orientou a jamais deixar

    de ser humilde e sempre respeitar o

    próximo. Minha mãe Andreina, que me

    adotou como fi lha e sempre me apoiou,

    também foi um exemplo de grande

    mulher.

  • 21FACULDADE AIEC

    Com certeza, o maior de todos os

    troféus que tenho é meu querido fi lho

    Danilo, hoje com dez anos. A cada dia

    de sua vida sempre procurei estar

    presente e fazer o meu melhor como

    mãe. Essa, certamente, é a minha maior

    responsabilidade e meu maior desafi o:

    educá-lo para que acredite em seus

    sonhos, para que seja um grande homem,

    uma pessoa de bem e que faça diferença

    no mundo.

    O sonho

    A carreira de um atleta não é longa

    e, normalmente, não temos tempo e

    nem orientação para nos prepararmos

    para encerrar a nossa carreira. Fiz três

    cirurgias no ombro direito, por isso fui às

    Olimpíadas de Sidney 2000 como líbero,

    uma posição que possibilitou que eu

    continuasse a jogar. Foi nesse momento,

    quando não pude mais ser atacante, que

    precisei me reinventar.

    Depois da medalha olímpica e do

    nascimento de meu fi lho, em 2003, sabia

    que estava chegando a hora de parar.

    Então, junto com Leila, minha parceira,

    decidimos, em 2005, voltar para Brasília e

    realizar um outro sonho: o projeto social

    Amigos do Vôlei, para atender crianças

    e adolescentes. Queríamos, com nosso

    amor pelo esporte, ajudar as pessoas da

    nossa cidade a, como nós, crescerem

    pelo esporte.

    Nossa ideia inicial era fazer um projeto

    nos moldes daqueles dos quais havíamos

    participado quando atletas, em que

    grandes empresas participavam com

    grandes investimentos. Achei que seria

    fácil. Pois é, não foi bem assim...

    Depois de um mês com um projeto

    embaixo do braço, entendi que, para

    realizar nosso sonho, deveríamos fazer

    alguma coisa diferente, que dependesse

    de nós. Não poderíamos fi car esperando

    recursos fi nanceiros, acreditando apenas

    em promessas.

    Com humildade, reconheci que, para

    começarmos, não precisávamos de

    grandes investimentos.

    Precisávamos, sim, de três recursos

    imprescindíveis: a quadra esportiva,

    que conseguimos graças à cessão da

    Administração Regional de Taguatinga;

    as bolas, que o Rotary Club de Taguatinga

    nos doou; e professores. Quanto a estes,

    a Secretaria de Educação nos cedeu

    quatro professores de Educação Física,

    além de um psicólogo. No dia 1o de

    outubro de 2005, fi zemos o lançamento

    do projeto no “Sereginho”, ginásio de

    Taguatinga, nossa casa.

    O Bernardinho doou as primeiras

    camisetas do projeto. O professor de

    Educação Física Lino e seus estagiários

    voluntários também nos ajudaram. Foi

    um momento muito especial. Estavam

    todos lá: Leila, Bernardinho, Sérgio

    Negrão, que nos ajudou a elaborar

    o primeiro projeto; ginásio cheio de

    crianças, cheio de pessoas da nossa

    cidade. Foi maravilhoso!

    Novo desafi o

    Como no esporte, a vida fora das quadras

    é uma grande partida: você precisa se

    preparar muito! Percebi que precisava

    me preparar para o trabalho que passaria

    a desenvolver.

    COMO

    JOGADORA DE

    VOLEIBOL, REALIZEI

    UM SONHO QUE

    POUCOS ATLETAS

    REALIZAM: IR A

    UMA OLIMPÍADA,

    GANHAR UMA

    MEDALHA E SER

    RECONHECIDA NA

    POSIÇÃO COMO

    A MELHOR DO

    MUNDO. A VIDA

    DO ATLETA DE

    ALTO RENDIMENTO,

    PORÉM, EXIGE

    RENÚNCIA E

    RESILIÊNCIA DA

    FORMA MAIS

    INTENSA POSSÍVEL.

  • 22 IDEIAS EM GESTÃO | NO 14 | MAR/2014

    Deveria estar atenta às oportunidades

    e fazer as coisas acontecerem. Uma

    importante oportunidade que tive

    foi ganhar uma bolsa de estudo da

    UPIS (instituição de ensino superior

    de Brasília), onde cursei o primeiro

    semestre de administração de empresas.

    Lá conheci meu grande amigo e irmão

    Francisco, que acreditou em nosso

    sonho e se tornou fundamental para o

    trabalho que realizaríamos.

    Infelizmente, não pude continuar o

    curso, pois precisava trabalhar e queria

    fi car mais tempo com meu fi lho. Foi

    então que, em uma palestra apresentada

    pelo Professor Vicente, conheci a

    Faculdade AIEC, que oferece um curso

    de Administração pela internet. O

    Professor Vicente, como o Bernardinho

    e outros grandes coachs que tive, me

    inspirou para um novo desafi o em minha

    vida: realizar o grande sonho de ter um

    diploma do curso de Administração de

    Empresas.

    Trabalhar com o que se ama é um

    privilégio. Fazer o curso na AIEC,

    a distância, possibilitou que eu

    continuasse trabalhando sem sacrifi car

    a atenção ao meu fi lho, que ainda

    era pequeninho e precisava de meus

    cuidados.

    Tempo de aprendizagem

    Os anos de estudos na AIEC foi um

    tempo de muita aprendizagem: meus

    tutores estavam junto todo o tempo,

    exigindo, cobrando, mas, especialmente,

    me incentivando e me ajudando. E os

    colegas sempre me apoiaram, como um

    time, todos com o mesmo sonho de nos

    formarmos como administradores.

    O mais legal foi que todo conhecimento

    novo que eu desenvolvia nos estudos,

    eu podia aplicar de imediato, pois

    estava fazendo a gestão do projeto

    Amigos do Vôlei. Cada matéria nova

    que estudava era como abrir novas

    portas.

    Não tenho como mensurar a

    importância que foi passar por essa

    experiência como aluna da AIEC, e

    os ganhos que tive como pessoa e

    profi ssional.

    Para cumprir cada módulo de

    estudo, precisei da disciplina, que é

    exigida também no esporte de alto

    rendimento, e da determinação, que

    sempre fez parte de minha vida.

    Minhas ações e decisões na condução

    de projetos e nas atividades

    administrativas que desenvolvo

    estão sempre sustentadas em

    conhecimentos que adquiri no curso.

    Guardo minha medalha das Olímpiadas

    e o diploma da AIEC como duas

    realizações importantes na minha vida,

    só superadas pelo nascimento de meu

    fi lho.

    Ações sustentáveis

    O Instituto Amigos do Vôlei foi

    fundado em 2006. Logo no início, me

    dei conta de que, para termos ações

    sustentáveis, deveríamos ter parceiros

    do setor público, do setor privado e

    do terceiro setor. Destaco o apoio

    do Sistema S e do Sebrae, que nos

    orientaram na elaboração de um plano

    estratégico para o Instituto.

    NOSSA IDEIA

    ERA FAZER

    UM PROJETO

    COM GRANDES

    INVESTIMENTOS

    COMO AQUELES

    DOS QUAIS

    HAVÍAMOS

    PARTICIPADO

    QUANDO ATLETAS.

    DEPOIS DE UM

    MÊS COM UM

    PROJETO EMBAIXO

    DO BRAÇO,

    RECONHECI, COM

    HUMILDADE,

    QUE NÃO

    PRECISÁVAMOS

    DE GRANDES

    INVESTIMENTOS:

    APENAS CANCHA,

    BOLAS E

    PROFESSORES.

  • 23FACULDADE AIEC

    A lei de incentivo ao esporte nos

    possibilitou ampliarmos as nossas

    ações e o time de parceiros cresceu. A

    equipe do Instituto também cresceu e

    conseguimos, junto com os parceiros,

    que todos pudessem se capacitar

    e se preparar. Temos, hoje, quatro

    administradores, um advogado e um

    técnico em contabilidade. O Instituto é

    um sucesso, especialmente porque as

    pessoas acreditaram desde o início no

    nosso propósito. Depois de oito anos,

    mantém o mesmo propósito: ajudar o

    próximo e a nossa cidade, pelo esporte.

    Crença no esporte

    Em 2009, surgiu uma grande

    oportunidade e, mais uma vez, pudemos

    contar com pessoas brilhantes a quem

    agradecemos, especialmente a Neuza

    Zimmerman, que já havia nos ajudado

    com o planejamento estratégico do

    Instituto, quando consultora do Sebrae.

    Dessa vez, o desafi o foi construir

    uma proposta de implantação e

    operacionalização da Vila Olímpica Rei

    Pelé.

    Conseguimos, aprovamos e, no dia

    16 de outubro de 2009, inauguramos

    a primeira Vila Olímpica do Distrito

    Federal em Samambaia. Mesmo sendo

    um projeto público, nosso objetivo

    era que tivesse a mesma qualidade, ou

    até mais, que os projetos dos grandes

    clubes brasileiros. Todos do Instituto

    trabalhamos muito (muito mesmo!),

    com a participação de aproximadamente

    150 colaboradores, apoiados na crença

    de que o esporte pode contribuir para o

    desenvolvimento da comunidade.

    No início de 2011, precisei tomar

    uma decisão muito difícil. Retirei-me

    do Instituto para colaborar com a

    Secretaria de Esporte na criação de

    outros dez centros olímpicos.

    Meu desafi o foi capacitar todos

    os colaboradores, padronizar os

    processos, replicar e melhorar o que

    havíamos feito em Samambaia. Deixei

    o Instituto nas mãos de uma grande

    equipe: pessoas que, como eu, tiveram

    a oportunidade de estudar na UPIS,

    instituição parceira a quem somos

    muito gratos. Estava tranquila, pois

    sabia que manteriam o trabalho, pela

    cultura que construímos desde o início.

    Melhoria contínua

    Fico feliz com o resultado que

    alcançamos na gestão dos 11 Centros

    Olímpicos, mas entendo que podemos

    melhorar. Não poderia deixar de contar

    que montamos um time de vôlei que

    está disputando a Superliga de Voleibol:

    o Brasília Vôlei!

    Coisas incríveis acontecem para

    aqueles que acreditam em seus sonhos,

    trabalham com vontade inabalável,

    buscam constantemente a excelência

    em tudo o que fazem e valorizam o

    trabalho em equipe. Desafi o é o que me

    motiva sempre! Meu desejo é continuar

    contribuindo para o desenvolvimento

    da minha cidade, trabalhando muito

    e fazendo duas coisas que amo:

    administração e esporte.

    COISAS INCRÍVEIS

    ACONTECEM PARA

    AQUELES QUE

    ACREDITAM EM

    SEUS SONHOS,

    TRABALHAM

    COM VONTADE

    INABALÁVEL, BUSCAM

    CONSTANTEMENTE

    A EXCELÊNCIA

    EM TUDO O QUE

    FAZEM E VALORIZAM

    O TRABALHO EM

    EQUIPE.

    Ricarda Lima

    Coordenadora dos Centros Olímpicos do

    Governo do Distrito Federal. Ex-jogadora

    da seleção brasileira de voleibol. Bacharel

    em Administração pela Faculdade AIEC.

  • 24 IDEIAS EM GESTÃO | NO 14 | MAR/2014

    Gestão da saúde pública

    O pagamento por desempenho (PPD) objetiva a melhoria da qualidade e da eficiência dos serviços de saúde por meio de incentivos

    financeiros aos profissionais, de modo

    a alinhar seus comportamentos às

    diretrizes das políticas de saúde. O PPD

    tem sido adotado como importante

    estratégia, tanto em serviços privados

    como nos serviços de saúde, com único

    financiador (single-payer health care)

    e este geralmente adota uma mistura

    de provedores público-privados para

    oferecer cobertura universal de saúde à

    população. No Reino Unido, o National

    Health Service (NHS – Serviço Nacional

    de Saúde) constitui exemplo importante

    deste último modelo para o mundo.

    EXPERIÊNCIA DE DEZ

    ANOS DE ADOÇÃO

    DO PAGAMENTO

    POR DESEMPENHO

    AOS MÉDICOS

    DO REINO UNIDO

    MOSTRA RESULTADOS

    CONTRADITÓRIOS

    E INADEQUAÇÃO

    DO SISTEMA PARA A

    REALIDADE BRASILEIRA.

    Armando Henrique Norman

    Em 2004, os médicos generalistas do

    Reino Unido (denominados GPs – General

    Practitioners) iniciaram um novo contrato

    com o governo para prestação de serviços

    que, além de outras mudanças, incluiu o

    PPD, denominado Quality and Outcomes

    Framework (QOF). Considerado como o

    maior sistema de PPD do mundo, o QOF

    oferece aos pesquisadores um ambiente

    único para estudar o efeito da adoção

    do PPD para os sistemas de saúde de

    cobertura universal, tema relevante para

    o Brasil e para a melhoria da qualidade do

    Sistema Único de Saúde (SUS).

    O presente artigo visa apresentar e

    discutir sucintamente a experiência

    britânica do PPD e fazer algumas reflexões

    para a realidade brasileira do SUS.

  • 25FACULDADE AIEC

    Estrutura do PPD britânico (QOF)

    O QOF é um sistema de pontuação

    organizado em quatro domínios:1 a)

    Clínico - com indicadores em diferentes

    áreas clínicas, por exemplo, insuficiência

    cardíaca, hipotireoidismo, diabetes; b)

    Saúde Pública (SP) - com indicadores

    que influenciam tanto em aspectos

    clínicos como na saúde, por exemplo,

    tabagismo e obesidade, incluindo

    também o subdomínio da SP referente

    a serviços adicionais organizados

    em quatro áreas: rastreamento do

    câncer de colo do útero, vigilância

    em saúde infantil, serviços ao pré-

    natal e maternidade, e serviços

    de contracepção; c) Qualidade e

    Produtividade - indicadores que visam

    uma utilização mais eficaz dos recursos

    do NHS, através de melhorias na

    qualidade da atenção primária à saúde

    (APS), recompensando os serviços

    pela redução de encaminhamentos

    evitáveis, tanto para os ambulatórios

    como para as emergências hospitalares;

    e d) Experiência do paciente - indicador

    sobre a duração da consulta pelo

    paciente (no mínimo 10 minutos).

    O sistema de pontuação trabalha com

    uma lógica de “faixa de realização”.

    Suponha o indicador para Diabetes

    (HbA1c) e que existam três pontos

    disponíveis para esse indicador, com

    faixa de pagamento variando de 40% a

    90%. Se 65% dos pacientes do centro

    de saúde têm um registro de HbA1c nos

    15 meses anteriores, o serviço receberá

    25/50 (isto é, metade dos pontos

    disponíveis, visto que 25 correspondem

    ao que excedeu os 40%).

    Na Inglaterra, os GPs (médicos

    generalistas) são pagos retroativamente

    de acordo com os pontos obtidos no ano

    anterior. Para 2013/14, foram pagos em

    média £156.92 para cada ponto alcançado,

    tendo sido disponibilizado um máximo de

    900 pontos - dos quais a experiência do

    paciente representa apenas 33 pontos -

    ou seja, a grande maioria do pagamento

    está atrelada aos indicadores clínicos e

    de saúde pública. O custo anual para o

    NHS está estimado em um bilhão de libras

    esterlinas e atualmente o QOF representa

    aproximadamente 25% dos rendimentos

    dos GPs.

    Avaliação do QOF (PPD britânico)

    Em 2011, o grupo Cochrane2 realizou uma

    revisão sobre o PPD na literatura científica

    disponível, analisando seus efeitos para os

    médicos da APS e concluiu que a evidência

    disponível era insuficiente para mensurar

    os benefícios e os danos da intervenção.

    Em 2012, Gillam et al.3 publicaram uma

    revisão sobre o QOF e concluíram que

    seu benefício é, na melhor das hipóteses,

    modesto e que pouco se sabe das

    consequências para os profissionais e da

    relação custo-efetividade da intervenção.

    Certamente, houve discreta melhoria na

    qualidade dos cuidados para condições

    crônicas, aprimorando os sistemas para

    a prestação desses cuidados e reduzindo

    iniquidades na oferta dos serviços em

    saúde à população. No entanto, o QOF

    contribui para a polifarmácia, visto que

    muitas das metas acabam envolvendo

    alguma forma de medicação para alcançá-

    las dentro do mesmo período financeiro.4

    Além disso, o cuidado passou a ser

    tecnocrático, mais focado em protocolos e

    menos centrado nos pacientes.

    O PAGAMENTO

    POR DESEMPENHO

    (PPD), OU QOF

    NO REINO UNIDO,

    OBJETIVA A

    MELHORIA DA

    QUALIDADE E DA

    EFICIÊNCIA DOS

    SERVIÇOS DE

    SAÚDE POR MEIO

    DE INCENTIVOS

    FINANCEIROS AOS

    PROFISSIONAIS,

    DE MODO A

    ALINHAR SEUS

    COMPORTAMENTOS

    ÀS DIRETRIZES

    DAS POLÍTICAS DE

    SAÚDE.

  • 26 IDEIAS EM GESTÃO | NO 14 | MAR/2014

    Um dos efeitos colaterais é que os

    aspectos não incentivados do cuidado

    (casos que não se enquadram nas

    “caixinhas”) não melhoraram, visto que

    os pacientes geralmente apresentam

    casos mais complexos que desafiam

    o modelo assistencial focado em

    condições específicas.

    Pode-se dizer que o PPD tem sua base

    de raciocínio centrada no modelo do

    especialista focal, cuja atividade é mais

    simples de protocolar do que a prática

    generalista ou da medicina de família e

    comunidade (MFC), que trabalha com

    maior incerteza e casos indiferenciados.

    Portanto, as evidências sobre os ganhos

    para a saúde e a relação custo-eficácia

    durante esses quase dez anos do PPD

    britânico são contraditórias, em função

    do £1 bilhão (€1.17bn; US$1,5 bilhão)

    e os modestos ganhos em saúde.5 Além

    do mais, a tendência secular (de acordo

    com as projeções pré-QOF desses

    mesmos indicadores em saúde) sugere

    que esses indicadores alcançariam o

    mesmo patamar de qualidade e que o

    QOF apenas acelerou esse processo.

    PPD e algumas reflexões para o Brasil e o SUS

    A atual evidência fornece mais dúvidas

    do que certezas quanto à adoção do PPD

    enquanto estratégia para a qualidade

    dos serviços de saúde em países de

    alta renda. Para países de baixa e média

    renda, como o Brasil, a situação se

    torna mais difícil dada a escassez de

    estudos mensurando seus efeitos

    na qualidade dos serviços de saúde.

    Entretanto, a estrutura federativa do

    Brasil permite que municípios atuem

    autonomamente na construção do

    SUS-local e alguns municípios - como

    o Rio de Janeiro - já estão adotando o

    PPD. Diante das incertezas referentes

    ao PPD, sugerem-se alguns pontos para

    minimizar potenciais danos associados a

    essa modalidade de pagamento.

    Em vez de se adotarem indicadores

    muito específicos atrelados a doenças

    e parâmetros fisiopatológicos (nível de

    colesterol, hemoglobina glicosilada, etc.)

    poder-se-iam adotar marcadores/metas

    ancorados em pilares da APS, propostos

    por Barbara Starfield6 (i.e. acesso/porta

    de entrada para o sistema; continuidade

    do cuidado/longitudinalidade;

    abrangência do cuidado em saúde; e

    coordenação do cuidado) e incentivá-

    los financeiramente. No caso do acesso,

    municípios receberiam incentivos

    financeiros se aderissem à meta de 72

    horas para acesso ao médico de família

    e/ou 48 horas para acesso à enfermeira

    da equipe da estratégia saúde da família

    (ESF).

    Quanto à longitudinalidade, haveria

    repasse financeiro caso as equipes da ESF

    trabalhassem com adscrição de clientela,

    fortalecendo a coorte de cuidados

    longitudinais; ou ainda, incentivos

    para cada ano que os profissionais

    permanecessem no mesmo centro de

    saúde, com acréscimo gradual no salário,

    favorecendo a fixação do profissional na

    comunidade.

    APESAR

    DA DISCRETA

    MELHORIA NA

    QUALIDADE DOS

    CUIDADOS PARA

    CONDIÇÕES

    CRÔNICAS E

    REDUÇÃO DE

    INIQUIDADES

    NA OFERTA

    DE SERVIÇOS,

    AS EVIDÊNCIAS

    SOBRE A

    RELAÇÃO

    CUSTO-EFICÁCIA,

    DURANTE

    QUASE DEZ

    ANOS DO PPD

    BRITÂNICO, SÃO

    CONTRADITÓRIAS,

    EM FUNÇÃO

    DOS GASTOS E

    DOS MODESTOS

    GANHOS EM

    SAÚDE.

  • 27FACULDADE AIEC

    A utilização de indicadores ou metas

    alinhados aos princípios da medicina

    de família e ao escopo da APS poderia

    minimizar alguns dos efeitos não

    intencionais do PPD e simultaneamente

    premiar a qualidade dos serviços em APS.

    Ciclo vicioso

    Entretanto, dada a natureza complexa

    do SUS e seus Espaços Autônomos

    de Decisões Municipais (EADM) que

    caracterizam a federação, é muito difícil,

    no atual cenário, aplicar o PPD em nível

    nacional como foi feito no Reino Unido.

    Esses EADM criam grandes iniquidades

    pelo Brasil afora, visto que não há

    responsabilização do gestor local pela

    não implantação das políticas de saúde

    propostas pelo Ministério da Saúde (MS).

    Assim, nada acontece ao secretário de

    saúde se ele não adere a uma política para

    a melhoria da qualidade proposta pelo MS,

    por meio de indução financeira.

    O SUS É UM

    SISTEMA ÚNICO:

    ‘ÚNICO EM CADA

    LOCAL’, CRIANDO

    ENORMES

    PROBLEMAS QUE

    O PPD NÃO DARIA

    CONTA DE SANAR.

    PELO CONTRÁRIO,

    ACENTUARIA

    AINDA MAIS AS

    DIFERENÇAS LOCO-

    REGIONAIS NO

    BRASIL.

    Armando Henrique Norman

    Médico pela Universidade Federal do

    Paraná. Residência em Medicina Geral

    e Comunitária/Medicina de Família e

    Comunidade pela PUC-PR. Mestre e

    Doutorando em Antropologia Médica pela

    Universidade de Durham/Reino Unido.

    Bolsista da CAPES.

    Desse modo, a contrapartida do PPD,

    que é o risco/punição (pelo não alcance

    das metas estipuladas), não recai

    sobre o secretário de saúde, mas sim

    sobre o usuário, visto que não haverá

    repasse de recursos ao município para o

    melhoramento dos serviços, criando-se

    um ciclo vicioso de perpetuação da baixa

    qualidade dos serviços.

    No Reino Unido, o NHS é um serviço

    nacional com pouca interferência local,

    pois o contrato é feito diretamente com

    os médicos de família (GPs) e um mau

    desempenho reflete diretamente no bolso

    do médico, por isso os serviços tendem

    a uma uniformização em nível nacional.

    Já o SUS é um sistema único: “único em

    cada local”, criando enormes iniquidades

    que o PPD não daria conta de sanar.

    Pelo contrário, acentuaria ainda mais as

    diferenças loco-regionais no País.

    Enfim, o pagamento por desempenho

    (PPD) na configuração atual, focado em

    doenças e parâmetros fisiopatológicos,

    tem uma concepção gerencialista e

    reducionista, mais apropriada para tarefas

    simples e focais, sendo pouco compatível

    com a natureza e a abrangência da

    atenção primária à saúde (APS)

    brasileira.

    Referências1- NHS employers. http://www.nhsemployers.org/payandcontracts/generalmedicalservicescontract/qof/

    Pages/QualityOutcomesFramework.aspx. Acesso em: 30 set. 2013.

    2- Scott, A.; Sivey, P.; Ait Ouakrim, D.; Willenberg, L.; Naccarella, L.; Furler, J., et al. The effect of financial

    incentives on the quality of health care provided by primary care physicians. Cochrane Database Syst Rev

    2011; (9):CD008451.

    3- Gillam, S. J.; Siriwardena, N.; Steel, N. Pay-for-performance in the United Kingdom: impact of the

    Quality and Outcomes Framework – a systematic review. Ann Fam Med 2012; 10:461-8.

    4- Raleigh, V.S.; Klazinga, N. Future proofing the Quality and Outcomes Framework. BMJ. 2013; 1942:9–10.

    5- Gillam, S.; Steel N. The Quality and Outcomes Framework - where next? BMJ. 2013; 659:1–6.

    6- Starfield, B.; Shi, L.; Macinko, J. Contribution of Primary Care to Health Systems and Health. The

    Milbank Quarterly, 2005; 83(3): 457–502.

  • 28 IDEIAS EM GESTÃO | NO 14 | MAR/2014

    Gestão empreendedora

    Acompanho desde 1997 empreendedores e pequenas empresas do Paraná que buscam orientações a partir de

    oportunidades e, na maioria das vezes,

    de difi culdades. Durante todos esses

    anos, pude conhecer empreendimentos

    de diversos segmentos da economia,

    empresários dos mais variados perfi s

    e neste artigo quero compartilhar um

    pouco dessa experiência.

    Já foi escrita muita coisa sobre os

    fatores que condicionam o sucesso de

    empreendedores e empresas, algumas

    vezes chamados de “segredos do

    sucesso”. Minha proposta é apresentar

    alguns comportamentos e atitudes

    que observei nesses mais de 15 anos de

    atuação com empreendedores iniciantes

    e que poderiam ajudar a explicar o seu

    insucesso. Não tenho uma pesquisa

    científi ca, com relatórios ou entrevistas

    que sustentem o que compartilhar.

    Vou me permitir escrever sobre essa

    experiência, sem pretender apresentá-la

    como verdade única.

    Erros comuns

    A nova realidade econômica

    internacional exige novas competências

    das organizações e dos gestores,

    pois traz grandes desafi os para a

    sobrevivência e crescimento das

    empresas de todos os portes, chegando

    até as micro e pequenas empresas. Estas,

    além de sua relevância na economia, na

    geração de empregos e tributos, têm

    um importante papel social, quando

    se apresentam como uma alternativa

    de carreira para profi ssionais que não

    encontram o emprego formal desejado

    ou a remuneração pretendida. Os

    pequenos negócios, muitas vezes,

    empregam toda a família e funcionam,

    em alguns casos, como subsistência.

    Todas as organizaç�