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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE
JANEIRO
FACULDADE DE MEDICINA
Rio de Janeiro 2014
Fabiano dos Santos Silva
Excluídos da História:
O acesso da Pessoa com Deficiência no Patrimônio Histórico
Monografia de especialização latu-sensu apresentada à Pós-Graduação da Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Rio de Janeiro para obtenção do título de Especialista em Acessibilidade Cultural.
Rio de Janeiro 2014
Fabiano dos Santos Silva
Excluídos da História:
O acesso da Pessoa com Deficiência no Patrimônio Histórico
Orientadora: Isabel Maria Carneiro de Sanson Portella
COMISSÃO JULGADORA
Nome: Fabiano dos Santos Silva
Orientadora:Isabel Maria Carneiro de Sanson Portella
Convidada: Viviane Panelli Sarraf
Dedicatória
Dedico este trabalho a minha mãe que é a grande patrocinadora dos meus sonhos
e utopias.
Agradecimentos
Gostaria de agradecer primeiramente a Deus que tem estado em todo momento a
meu lado, me conduzindo e dando-me força e motivação.
À minhas irmãs: Graciela, Fabíola e Andrielle e também aos meus sobrinhos
Kawally e Pietro que entenderam os momentos que me mantive distante devido
aos meus estudos e escrita deste trabalho.
À professora Patrícia Dornelles, que teve que ser coordenadora, professora e
amiga, e é uma pessoa por quem eu cultivo grande admiração.
Aos professores, que muitas das vezes vieram de tão distante, com o objetivo de
compartilhar conosco seus saberes.
Aos amigos de classe que partilharam junto comigo momentos de conhecimento e
também momentos de diversão e alegria, esses momentos foram únicos, eu
aprendi muito com cada um deles e de certa forma os levarei em meu coração.
Aos meus amigos e amigas que são como irmãos, e sempre me incentivaram e
encorajaram. Adriana Rodrigues, Priscila Ambrosio, Márcia Pereira, Valéria Alves,
Carina Aparecida, Ediene Lobo, Danielle Cristine, vocês são a família que eu
escolhi.
À minha amiga Eliane Maria, que foi a pessoa que me despertou para a militância
da pessoa com deficiência.
Gostaria de agradecer sinceramente a minha orientadora, Isabel Portella, graças a
ela hoje esse trabalho se encontra pronto, se não fossem suas correções, eu
jamais teria conseguido. Certamente seus conselhos serão sempre lembrados
nessa nova etapa da minha caminhada.
SILVA, Fabiano dos Santos. Excluídos da História: O acesso da Pessoa com Deficiência no Patrimônio Histórico. 2014. 50f. (monografia em Acessibilidade Cultural) - Faculdade de Medicina. Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2013
RESUMO
O objetivo desse trabalho foi apresentar a questão do acesso da pessoa com
deficiência no patrimônio histórico. Poucos patrimônios tombados pelo IPHAN
dispõem de estrutura para que a pessoa que tenham algum tipo de limitação
possa percorrer suas instalações e fruir de seus serviços. Isso acontece em
contrariedade as leis que obrigam que tais espaços seja acessíveis. A inserção e
participação de qualquer pessoa na vida cultural de seu país é de extrema
importância para o estabelecimento de laços afetivos, sentimento de
pertencimento e da autoestima. Estudar as possibilidades de tornar compatível o
patrimônio com as diversas necessidades e peculiaridades inerentes de cada
deficiência, à luz da legislação, é o objetivo desse trabalho.
Palavras Chave: Pessoa com Deficiência, Patrimônio Histórico, Acessibilidade Cultural, Direitos Culturais.
SILVA, Fabiano dos Santos . Excluded from History: Access for People with Disabilities in Heritage. 2014. 50f. (monografia de especialização em Acessibilidade Cultural) - Faculdade de Medicina. Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2014.
ABSTRACT
The aim of this study was to present the issue of access for people with
disabilities in heritage. Few assets have fallen by IPHAN structure so that the
person who has some kind of limitation can go enjoy their facilities and their
services. This happens in contradiction to laws requiring that such spaces be
accessible. The inclusion and participation of any person in the cultural life of their
country is of utmost importance to establish emotional ties, sense of belonging
and self-esteem. Explore opportunities to make equity compatible with the diverse
needs and inherent characteristics of each disability, under the law, is the goal of
this work.
Keywords: Person with Disabilities, Historical, Cultural Accessibility, Cultural Rights
LISTA DE FIGURAS
Figura 1 Elevador no Museu do Louvre – Paris, França 31
Figura 2 Muséum National d’Histoire Naturelle, em Paris 31
LISTA DE TABELAS
Tabela 1 Diretrizes e Ações Aprovadas no “Nada sobre Nós sem Nós” 23
LISTA DE SIGLAS
ABNT Associação Brasileira de Normas Técnicas
CCBB Centro Cultural Banco do Brasil
FIOCRUZ Fundação Oswaldo Cruz
IBRAM Instituto Brasileiro de Museus
IPHAN Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional
LIBRAS Língua Brasileira de Sinais
MinC Ministério da Cultura
ONG Organização Não Governamental
ONU Organização das Nações Unidas
SID Secretaria de Identidade e Diversidade Cultural
SDCD Secretária de Cidadania e Diversidade Cultural
SPHAN Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional
UFBA Universidade Federal da Bahia
UFRGS Universidade Federal do Rio Grande do Sul
UFRN Universidade Federal do Rio Grande do Norte
UFRJ Universidade Federal do Rio de Janeiro
SUMÁRIO
Introdução................................................................................................... 11
1. A difícil relação entre o Patrimônio Histórico e a Pessoa com Deficiência.......................................................................................................
15
1.1. Patrimônio Histórico............................................................................... 15
1.2. Patrimonializar, preservar e acessibilizar: É possível?.................... 17
2. Direito Cultural e as Pessoas com Deficiência..................................... 20
2.1. O que é Direito Cultural............................................................................. 20
2.2. A SID – Secretária de Identidade e Diversidade Cultural........................ 21
2.3. Nada Sobre Nós sem Nós........................................................................ 22
2.4. O Curso de Especialização em Acessibilidade Cultural.......................... 26
2.5. Da conferencia livre de cultura para a Conferencia Nacional de Cultura 27
3. Acesso das pessoas com deficiência no Patrimônio Histórico, Sim é possível..............................................................................................
29
3.1. Casos no Brasil e no mundo de patrimônio Histórico que se tornaram acessíveis..............................................................................
29
3.2. Patrimônio Histórico: Acessibilidade muito além da rampa........... 32
Considerações Finais............................................................................ 36
Referências Bibliográficas..................................................................... 38
Anexo.................................................................................................... 42
INTRODUÇÃO
O presente trabalho tem como pressuposto a análise e identificação das diversas
barreiras que impedem as pessoas com algum tipo de deficiência de acessarem as
edificações tombadas pelo patrimônio histórico. Para isso tomamos como base algumas
legislações patrimoniais que abordam o assunto.
O patrimônio histórico constitui-se como importante instrumento de cultura e sua
fruição é um facilitador para a compreensão, interpretação e problematização da
História. Enquanto que se faz necessário manter suas características mais próximas
possível das originais, também percebe-se a importância de realizar nesses mesmos
espaços as mudanças necessárias para que pessoas com alguma forma de limitação
possam ter acesso aos mesmos. Entretanto existe uma grande distancia entre adaptar
esses espaços e as leis patrimoniais que impedem grandes transformações.
As pessoas com algum tipo de deficiências por anos mantiveram-se afastadas, e
manter espaços que não permitam ou dificultem seu acesso é perpetuar essa exclusão,
“A preocupação com o acesso igualitário se constitui em prerrogativa básica para a
democratização da cultura [...].” (COHEN, DUARTE, BRASILEIRO, 2012. p. 120).
Quando se relaciona ao patrimônio histórico surgem questionamentos como até onde
pode-se interferir na arquitetura de um patrimônio sem que ele perca as suas
características originais?
Nessa discussão existem diversos mitos, o mais difícil de superar é o mito de
que o patrimônio histórico não pode sofrer alterações, e com isso poucos projetos são
enviados para adaptação desses espaços para o órgão gestor e a sonhada sociedade
igualitária para todos é procrastinada. As dificuldades apresentadas à fruição da pessoa
com deficiência nesses espaços está indo de encontro aos Direitos Humanos que em
seu artigo 27 preconiza que toda pessoa tem o direito de participar e fruir da vida
cultural da sociedade.
Contribuir para os debates acima citados é o objetivo principal deste trabalho.
O presente trabalho baseia-se no interesse desenvolvido no decorrer das aulas
em que foi debatido o conflituoso acesso da pessoa com deficiência ao Patrimônio
histórico.
Os bens tombados pelo Patrimônio Histórico são parte inerente das
representações sociais e do imaginário popular de um determinado lugar. Sua fruição
bem como a fruição de qualquer outro bem cultural é essencial para que haja o
desenvolvimento do sentimento de pertencimento, embora a maioria destas
construções são oriundas de uma época em que esse assunto não era tratado e a
questão da acessibilidade não era um assunto que despertava algum interesse. Os
edifícios eram construídos sem levar-se em conta que pessoas com alguma limitação
poderia ter seu acesso dificultado por escadas e diversas outras barreiras
arquitetônicas, que hoje representam um empecilho para a pessoa com algum tipo
demobilidade reduzida. Cada vez mais pessoas com deficiência estão saindo às ruas ,
desejosas de participar da vida econômica, social e cultural da sociedade em que está
inserida. Conquista adquiridas por meio de militância, lutas e enfrentamento com a
sociedade.
Existe no Brasil uma grande quantidade de legislações que obrigam que tais
espaços façam as adequações necessárias para que se tornem acessíveis. O Brasil
não é um país que precise criar mais leis, mas sim coloca-las em prática. Muitos
edifícios continuam em contrariedade com as leis e acima de tudo, impedindo o pleno
exercício da cidadania por parte das pessoas com deficiência.
A relevância da nossa investigação se dá a partir do fato que quando o valor
patrimonial sobrepõe o valor social, em detrimento de um grupo de pessoas, fomenta o
desenvolvimento de diversas formas de preconceito e exclusão.
O Patrimônio histórico e sua preservação devem ser de interesse de toda
sociedade, pois através deste, podemos ter acesso a nossa história e cultura, Lemos
(2004, p. 25) defende que “[...] a todos só pode interessar a ideia ligada à salvaguarda
de nossa identidade cultural.”, para isso é imprescindível que a população reconheça e
se identifique com o patrimônio histórico. Segundo Murguia e Yassuda (2007, p. 66):
[...] a sociedade, através de seus órgãos representativos, cria leis que preservam edificações, documentos e objetos considerados significativos para sua identidade, como uma forma de salvaguardar os vestígios do passado [...] preservar bens de valor histórico, cultural, arquitetônico, ambiental e afetivo, impedindo que sejam destruídos ou descaracterizados.
Por ser signatário de acordos internacionais sobre a preservação do Patrimônio
histórico, o Brasil responsabiliza o Instituto Nacional do Patrimônio Histórico e Artístico
Nacional, o IPHAN, para o desempenho de tal função (LEMOS, 2004). O Patrimônio
histórico é preservado para “[...] garantir a compreensão de nossa memória social
preservando o que foi significativo dentro de nosso vasto repertório de elementos
componentes do Patrimônio Cultural.” (LEMOS,2004. p. 29, grifo do autor), mesmo
sendo destinado para a compreensão da memória social, ainda surgem muitos
questionamentos e barreiras quando se trata da “[...] preservação dos bens culturais,
seu acesso e utilização por pessoas com deficiência.” (CAMBIAGHI, 2004. p.80) o
assunto é abordado de forma superficial e com isso as pessoas com deficiência ficam
impedidas de ter seu acesso ao patrimônio histórico, deixando evidente a “relação de
desigualdade imposta por ambientes com barreiras a um corpo com impedimento”
(DINIZ, BARBOSA, SANTOS, 2010. p. 97)
Todos têm direito tanto ao passado quanto à memória, entretanto os cidadãos
com deficiência têm seu direito negado, em virtude de não ter acesso a tais locais,
sendo dessa forma impedido sua fruição e participação da vida cultural da comunidade.
Com o objetivo de permitir que as pessoas com deficiência tenham seu acesso
assegurado aos bens culturais, o Brasil já conta com diversas leis, como diz Cambiaghi
(2004. p. 82) “Os projetos para adaptação de edificações e conjuntos urbanos
tombados devem atender a legislação específica referente à acessibilidade, bem como
aos preceitos do desenho universal1.”, mesmo sendo obrigado por lei, existem diversos
entraves burocráticos que impedem de ser efetivada, isso é evidenciado por Carsalade
(2012), quando diz que “Um dos temas de maior dificuldade operacional no campo do
patrimônio histórico-cultural diz respeito às intervenções que hoje fazemos no objeto de
preservação”, entretanto esses mesmos impedimentos que “ao ignorar os corpos com
impedimentos, provocam a experiência da desigualdade.” (DINIZ, BARBOSA, SANTOS,
1 Desenho Universal, conhecido também como design Universal, consiste na proposta de espaços
urbanos, edificações, transportes, serviços e produtos que atenda a todos os usuários em potencial, independente de ser ou não pessoa com deficiência, atendendo a maior variedade possível de variações do corpo humano, de forma autônoma, segura e confortável sem que para isso sejam necessárias adaptações.
2010. p. 100), quanto a essa desigualdade, Dornelles (2011. p. 116) mostra essa
gravidade quando diz:
[...] tanto o acesso à produção quanto a fruição é um direito de todos, e a
cultura nesta dimensão deve ser considerada como necessidade básica, um
elemento vital, construtivo, transformador. A cultura que está na base de nossa
afirmação individual e coletiva, deve ser compreendida como um elemento
importante, no que diz respeito à qualidade de vida e ao fortalecimento da
autoestima de cada um [...].
O debate em relação às intervenções necessárias de serem feitas no Patrimônio
histórico para que estes possam permitir o livre acesso de pessoas com deficiência é o
objetivo a que se propõe esse trabalho.
A metodologia usada para a reflexão desta pesquisa será através de uma analise
bibliografica. Ao verificar a abordagem feita por alguns autores, concluímos que
somente através da analise e da discussão de alguns textos seria possível alcançar os
objetivos deste projeto. Para falar a respeito da difícil relação entre a pessoa com
deficiência e patrimônio histórico, utilizaremos como referencial teórico os autores:
Eduardo Cardoso, Márcia Regina Romeiro Chuva, Regina Cohen.
Com as informações obtidas iniciou-se um processo de cruzamento dos dados
obtidos e análise das mesmas. Com base nos objetivos, pretendemos que este trabalho
não se limite à divulgação de informações, mas também produza reflexões sobre como
tornar acessível o patrimônio histórico à pessoa com deficiência, causando a este
menor descaracterização possível.
1. A difícil relação entre o Patrimônio Histórico e a Pessoa com Deficiência
1.1. Patrimônio Histórico
Na década de 1930, Mario de Andrade atendendo ao pedido do então ministro
da educação e saúde, Gustavo Capanema, elabora o projeto de um serviço que se
atentaria para a preservação patrimonial. Dessa forma foi criado o Serviço do
Patrimônio Histórico e Artístico Nacional - SPHAN, este seria futuramente o Instituto do
Patrimônio Histórico e Artístico Nacional – IPHAN. Fonseca (2007, p. 71) referindo-se
ao surgimento do SPHAN relata que "[...] a principal motivação tenha se originado na
percepção do risco de perda de nosso riquíssimo acervo de edificações e obras de arte
do período colonial, [...], a proposta inicial de criação de um serviço publico destinado a
essa finalidade [...]", até assumir sua configuração atual o IPHAN passou por diversas
alterações, quanto à suas funções, e nomenclaturas. A Constituição Federal de 1988
lança uma visão mais ampla do patrimônio, consolidando a amplitude e pluralidade da
cultura brasileira, possibilitando a patrimonialização não só e patrimônios materiais,
como também patrimônios imateriais.
O patrimônio histórico não consiste em uma mera curiosidade do passado
deixada para nos, o patrimônio histórico possui uma função social que é conferir-nos a
sensação de pertencimento por compartilharmos uma história comum, além da função
de situar-nos no tempo e espaço. O patrimônio histórico deve ser uma articulação entre
o passado e o presente, quando isso não acontece, o patrimônio, torna-se um objeto
que tende para o exótico ou sobrenatural. O Patrimônio cultural deve sobre tudo
potencializar a qualidade de vida da população de seu entorno, para que essa
população sinta o desejo e interesse de fazer uso deste patrimônio, por isso necessário
que o patrimônio histórico seja integrado à comunidade que está inserido, somente
assim a população encontrará motivos para preservá-lo e o proteger.
O patrimônio histórico só tem sentido se for usufruído no presente, entretanto,
muitas das vezes, para que essa fruição seja possível é necessário que haja, neste
patrimônio, intervenções que a possibilitem. As intervenções no patrimônio histórico
constituem-se como um dos assuntos de maior dificuldade. Kühl (2005,p. 32-33) apud
Carsalade (2012) afirma que:
[...] intervir num bem de interesse cultural, que é um documento histórico e possui papel memorial é ato de extrema responsabilidade, pois se trata, sempre, de documentos únicos e não reproduzíveis. Essa percepção deveria levar a conscientização, pelo fato de qualquer intervenção, de modo forçoso, alterar o bem, de que uma mudança não controlada leva a perdas irreparáveis, lembrando-se que os organismos históricos são muito delicados. [...] pois a restauração deve preservar e facilitar a leitura dos aspectos estéticos e históricos do monumento, sem prejudicar o seu valor como documento e sem eliminar de forma indistinta as marcas da passagem do tempo na obra.
Ao preparar esse bem cultural para qualquer intervenção faz-se necessário ter em
mente quais são os limites para que o bem não perca sua ligação com o passado e
com a cultura. Quando a questão é a intervenção no patrimônio histórico, cria-se uma
grande dicotomia, a primeira é ser muito restritivo às adaptações que podem causar
dificuldade em seu acesso e dificultar a integração da comunidade com o objeto, e a
outra é ser muito liberal, o que pode descaracterizar o patrimônio, empobrecendo a
memória, sendo que a memória é importante para a construção da própria identidade. É
impossível alterarmos a materialidade do bem, sem modificarmos também sua
imaterialidade, alterando dessa forma o significado e leitura desse patrimônio.
A importância atribuída ao patrimônio perpassa pelo individuo e pela sociedade
que atribui a determinado patrimônio tal importância, fazendo com que seja digno de
receber continuidade para que as gerações vindouras devido ao valor especial de seu
testemunho, devendo portanto ser de responsabilidade tanto do estado quanto da
sociedade proteger esse patrimônio do desgaste causado por ação humana ou da
natureza.
Os valores atribuídos a um determinado patrimônio originam-se da compreensão
da sociedade sobre tal objeto, e essa compreensão em geral é imposta pela força do
estado, bem como das elites, mídia e o capital, fazendo que os valores desse
patrimônio não estejam assentados única e somente no patrimônio em si.
A política de salvaguarda do Patrimônio Cultural tem diversos obstáculos a
serem ultrapassados, obstáculos esses das mais diversas ordens, entretanto Fonseca
(2007., p. 73) relata que “Há vários desafios a enfrentar,[...], porém, o mais urgente e
decisivo é o efetivo envolvimento da sociedade com a preservação de seu patrimônio."
1.2 Patrimonializar, preservar e acessibilizar: É possível?
Como já vimos o Patrimônio histórico é essencial para o desenvolvimento do
sentimento de comunidade e pertencimento, dessa forma se mostra vital que o maior
número possível de pessoas tenham acesso a este bem, entretanto pessoas com
deficiência ou com mobilidade reduzida encontram grandes dificuldades para terem
esse direito assegurado.
A grande maioria das construções que hoje constituem como patrimônio histórico
foi edificada em uma época em que a pessoa com deficiência era invisibilizada por
completo. Com o decorrer dos tempos a pessoa com algum tipo de deficiência se
libertou das amarras impostas pela sociedade e principalmente, se viu apta a encontrar
um mundo novo aberto à elas. Cada dia mais a pessoa com deficiência deseja
encontrar seu espaço na sociedade como cidadão de direito, tendo acesso ao mercado
trabalho, à cultura, ensino e lazer, tudo isso por meio de militância e conquistas, assim
a sociedade se mostra progressivamente mais receptiva as pessoas com deficiência,
entretanto essas mesmas pessoas tem seu acesso dificultado em alguns bens
históricos.
Um dos princípios norteadores, quando se trata da preservação e restauração do
Patrimônio cultural, é o principio da intervenção mínima, que tem como objetivo manter
a integridade física, histórica, estética e simbólica do patrimônio, aliados às leis
patrimoniais e burocracia nos órgãos que tratam da gestão e preservação destes bens,
fazem com que qualquer tentativa de intervenção que aponte para uma possível
acessibilidade sofra com a morosidade de seus gestores. Diniz; Barbosa; Santos (2010,
p. 108) dizem que “a cultura da normalidade repleta de barreiras à participação social
das pessoas com outros impedimentos, para quem tais barreiras não são apenas
físicas, mas da ordem simbólica ou comportamental.”.
A acessibilidade constitui-se da remoção das barreiras instaladas nas diversas
áreas, entretanto nem sempre essa barreira é de ordem material, muitas das vezes, as
barreiras imateriais se mostram tão poderosas quanto, ou ainda mais poderosa, que as
barreiras matérias. Mesmo com o recente aumento da conscientização da necessidade
de tornar acessível o patrimônio histórico, poucas pessoas com deficiência costumam
frequentar esses ambientes, principalmente por não saber se suas especificidades e
necessidades serão bem atendidas e acolhidas.
O Brasil possui diversas leis e também é signatário de vários tratados
internacionais, que assegura o acesso da pessoa com deficiência em ambientes
coletivos, todavia existem poucos exemplos do cumprimento dessas leis. “[...] o grande
desafio é o de fazer cumprir essa legislação, seja por parte do Estado brasileiro, seja
pelas organizações privadas e pela sociedade civil em geral” (BRASIL,2009, p. 27),
quando um direito é negado a uma parcela da população é criado um subgrupo de
“cidadão de segunda classe”, e Gruman (2011, p. 44) deixa isso claro quando diz que
“Ser cidadão é ter direito não só a uma vida socialmente digna, como também
culturalmente satisfatória.”
A cultura constitui de um direito humano inalienável, entretanto não é assim
encarado no que se trata de seu acesso à pessoa com deficiência. No artigo 23 da
Constituição Federal, de 1988, diz que é de competência do poder publico proporcionar
os meios de acesso à cultura, à educação e à ciência e em seu artigo 215 o estado se
compromete a garantir “a todos o pleno exercício dos direitos culturais e acesso às
fontes da cultura nacional”
Com isso se inicia o embate de forças, enquanto que a sociedade e gestores dos
bens históricos dizem que a intervenção no patrimônio histórico seja a menor possível
para que os cidadãos tenham acesso ao bem tombado mais próximo possível das suas
características originais, facilitando a compreensão da história, e por outro lado existem
as pessoas com deficiência que historicamente têm seus direitos negados.
O patrimônio histórico constantemente passa por adaptações para atender
melhor seus usuários, um exemplo disso é quando uma construção recebe energia
elétrica, água encanada, tratamento de esgoto, instalação de ar condicionado, quando
foi construída em uma época em que esses serviços não estavam disponíveis, mas, as
intervenções necessárias para que a pessoa com deficiência tenha seu acesso
garantido nessa edificação, utilizando-se da desculpa de que por se tratar de um
patrimônio tombado não pode passar por modificações.
Entretanto a acessibilidade nos patrimônios tombados pelo IPHAN é regida pela
Instrução Normativa nº 1 de 25 de Novembro de 2003, em que o IPHAN estabelece
diretrizes, critérios e recomendações para a promoção da acessibilidade. Certamente
somente após a instituição da referida Instrução Normativa que muitos dos espaços
tombados pelo IPHAN despertaram para a necessidade de eliminar, reduzir ou mesmo
superar as barreiras que vão de encontro à universalização do acesso universal,
mesmo sendo fomentado avanços nessa área, a realidade ainda se mostra muito
distanciado da teoria.
Tradicionalmente a pessoa com deficiência é estigmatizada pelo conceito
biomédico2, fazendo com que a sociedade esqueça de que a pessoa com deficiência
também tem a necessidade de fruir da vida cultural da comunidade em que está
inserido, costumeiramente acreditamos que o deficiente tem somente a necessidade de
atendimentos médicos, porém Gruman (2011, p. 23) afirma que “Cultura não é
acessório da condição humana, é sim seu substrato. O ser humano é humano porque
produz cultura [...].” Privando a pessoa com deficiência do acesso e da fruição à cultura,
estamos privando-a de sua humanidade, perpetuando as barreiras já existentes no
Patrimônio histórico, estamos distanciando-o do conhecimento e da memória do povo.
Sendo a acessibilidade o primeiro passo para que não só os ambientes culturais
sejam acessíveis, como também toda a sociedade, com isso será possível equiparar
oportunidades e permitir o exercício da cidadania por todos.
2 Conceito biomédico é quando a deficiência ou qualquer variação do corpo humano é visto sobre a ótica da
anormalidade, que vê essas variações como desvantagens e indesejáveis, por tanto são oferecidas, ou impostas, reabilitações com o objetivo de reverter ou atenuar a “anormalidade”, tentando tornar a pessoas com deficiência o mais próximo possível do que é aceito pela sociedade como “normal”.
2 Direito Cultural e as pessoas com Deficiência.
2.1. O que é Direito Cultural
Os direitos culturais constituem-se como parte integrante dos Direitos
Humanos, estando estabelecidos em seu artigo 273. Esses mesmos direitos são
novamente abordados nos artigos 13 e 154 do Pacto Internacional dos Direitos
Econômicos, Sociais e Culturais. Os estados signatários de tais tratados devem
garantir ao individuo a livre participação na vida cultural de sua comunidade, e também
sua liberdade de expressão conforme sua identidade cultural, deixando claro que a sua
inserção cultural também consiste como parte inerente da sua cidadania.
Além dos pactos acima mencionados os direitos culturais também se encontram
na Convenção da Diversidade Cultural e na Convenção sobre a proteção e
promoção da diversidade das Expressões Culturais, que classifica e diversidade
como inseparável do respeito à dignidade humana e estimula também a participação da
sociedade civil na elaboração e efetivação das políticas públicas.
Direito cultural consiste em propiciar que todo cidadão tenha direito ao acesso,
fruição e criação artística, bem como respeito a sua diversidade. No artigo 215 da
Constituição Federal de 1988 assegura o pleno exercício dos direitos culturais,
3 O artigo 27 da Declaração Universal dos Direitos Humanos em seu §1º diz que Toda pessoa tem o direito de participar livremente da vida cultural da comunidade de fruir as artes e de participar do progresso cientifico e de seus benefícios. 4 O artigo 13 do Pacto Internacional sobre Direitos Econômicos, Sociais e Culturais reconhece que toda pessoa tem
direito à educação, enquanto que o seu artigo 15 reconhece o direito que toda pessoa tem de participar da vida cultural, gozar dos benefícios do progresso cientifico e à proteção moral e material de suas produções, quer sejam cientificas, literárias ou artísticas.
entretanto garantir que todos os cidadãos usufruam plenamente de seus direitos
culturais representa um grande desafio para o estado brasileiro.
Entre os desafios encontrados pelo Estado brasileiro está o de proporcionar
meios para que as pessoas com deficiência possam ter acesso aos bens culturais. O
artigo 30 da Convenção sobre o Direito das Pessoas com Deficiência5 trata da
participação destes na vida cultural do país em igualdade de oportunidade. O Brasil já
dispõe de leis que obrigam que os espaços se tornem acessíveis às pessoas com
quaisquer limitação, um exemplo claro dessas leis é a LF 10.098/2000 que estabelece
diretrizes e prazos para o seu cumprimento, entretanto não há a efetivação dessas leis.
Isso faz com que pessoas com deficiência não tenham a oportunidade de exercer seus
direitos culturais.
2.2 A SID – Secretaria de Identidade e Diversidade Cultural
Quando o presidente Luiz Inácio Lula da Silva assume o poder, em 2003, ele
convida o cantor Gilberto Gil para assumir o Ministério da Cultura, mesmo sobre
protestos e objeções, Gilberto Gil aceita o convite, permanecendo no cargo pelos
próximos 6 anos. O novo ministro inicia diversas ações com o objetivo de tornar mais
acessíveis e popularizadas as ações desenvolvidas pelo Ministério da Cultura,
marcadas por não dar espaço para as classes menos abastadas.
Por meio do Decreto n º 4.805 de 2003 são criadas diversas secretarias no
Ministério da Cultura, com o objetivo de dar agilidade operacional às ações do
ministério. Dentre as secretarias criadas surge a Secretaria de Identidade e
Diversidade Cultural. A Secretaria de Identidade e Diversidade Cultural - SID foi
criada no ano de 2003, cuja atuação era focada principalmente nos grupos excluídos
das políticas públicas, de modo a valorizar e fomentar a produção cultural dos grupos
que historicamente sofrem com o descaso das políticas culturais, entre esses grupos
5 O artigo 30 da Convenção sobre o Direito das Pessoas com Deficiência além de tratar da participação na vida cultural, também refere-se a recreação, lazer e esporte.
podemos encontrar: ciganos, migrantes, indígenas, pessoas com sofrimento psíquico
ou transtorno mental, pessoas com deficiência e outros.
As ações desenvolvidas pela SID tinham como referencia a Convenção sobre a
Proteção e Promoção da Diversidade e das Expressões Culturais, que diz que, essas
pessoas têm o direito de participar de forma ativa da formulação de políticas públicas,
inclusive as que lhe diz respeito. Por isso essa secretaria mantinha um constante
dialogo com a sociedade civil, por meio de grupos de trabalho, promoção de encontro,
seminários e oficinas que objetivavam identificar políticas públicas para os mais
variados segmentos que compõe nossa diversidade cultural.
Entre os dias 15 e 17 de agosto do ano de 2007 a SID, juntamente com a
FIOCRUZ, realizou o encontro “Loucos pela diversidade” que se tratava de uma oficina
nacional de indicações de políticas públicas culturais para pessoas com sofrimento
mental e em situação de risco social, e promover a inclusão artística, estética e de
fruição destas pessoas. No ano seguinte realizou-se o seminário “Nada sobre nós sem
Nós”, seguindo os mesmos moldes do “Loucos pela diversidade”, sendo que voltado
para pessoas com deficiência.
A criação da SID representou um marco, em que a diversidade cultural foi
financiada e fomentada por parte do governo. Por meio de suas ações, grupos que
nunca haviam recebido antes qualquer iniciativa por parte do Ministério da Cultura, com
a SID passaram ser contempladas. Através do Decreto 7.742 de 2012 a SID, bem como
seus programas e projetos, foram fundidos com a Secretaria de Cidadania Cultural-
SCC, dando origem a Secretária de Cidadania e Diversidade Cultural – SCDC.
2.3 Nada Sobre Nós sem Nós
A oficina “Nada sobre Nós sem Nós6”, realizada entre os dias 16 a 18 de outubro
de 2008, na cidade do Rio de Janeiro, com o apoio da FIOCRUZ, tratou-se de uma
oficina nacional de indicação de políticas públicas culturais para inclusão de pessoas
com deficiência.
Neste evento estiveram presentes artistas, gestores públicos, pesquisadores e
agentes culturais da sociedade civil representativos do campo da produção cultural das
pessoas com deficiência, que juntos fizeram uma serie de indicações de diretrizes
voltadas para políticas culturais de patrimônio, difusão, fomento e acessibilidade para
pessoas com deficiência.
A oficina desenvolveu-se em três momentos distintos:
“No primeiro dia, foram realizadas mesas temáticas para discutir questões sobre arte, cultura, deficiência e direitos humanos. O objetivo das mesas foi fomentar e provocar reflexões a fim de qualificar e aprofundar o debate e os encaminhamentos dos Grupos de Trabalho, que ocorreram no segundo dia do encontro. A finalidade desses grupos foi indicar ações e diretrizes para políticas públicas culturais. Os temas tratados pelos Grupos de Trabalho foram: Fomento, Difusão, Patrimônio e Acessibilidade. Finalmente, no terceiro dia, ocorreu a plenária final, na qual foram apresentadas as questões debatidas pelos Grupos de Trabalho” (Nada Sobre Nós Sem Nós, p. 13,14)
Do trabalho resultante desta oficina originou-se a publicação que leva o mesmo
nome do evento, “Nada sobre Nós sem Nós” que alem da transcrição das falas, consta
também a metodologia e as diretrizes e ações aprovadas.
Diretrizes e Ações Aprovadas no “Nada sobre Nós sem Nós” Patrimônio Difusão Fomento Acessibilidade
Diretrizes
1. Localizar, conservar, pesquisar,
editar e difundir o patrimônio
material, imaterial, intelectual e
cultural dos artistas e das pessoas
com deficiência, de modo a
1. Recriação/criação de
instância para difusão da
produção artístico-cultural
de pessoas com
deficiência nos três níveis
1. Garantir incentivos e
recursos orçamentários
para formação de
profissionais com ou sem
deficiência na área da
1. Garantir que todas as
políticas, programas,
projetos, eventos e
espaços públicos no
campo artístico e cultural
6 Essa oficina recebeu esse nome em consideração a Convenção sobre o Direito das Pessoas com Deficiência, esta
reza que as pessoas devem ter a oportunidade de participar ativamente nas decisões que se referem aos programas e políticas, principalmente quando lhe diz respeito de forma direta, esse direito também se encontra estabelecido no artigo 11 da Convenção sobre a Proteção e Promoção da Diversidade das Expressões Culturais. Esse lema já havia sido adotado anterior a realização dessa oficina, no ano de 2004, na ocasião do Dia Internacional da pessoa com Deficiência.
promover seu relacionamento com
o patrimônio brasileiro.
2. Garantir a expressão cultural e
artística popular e erudita.
3. Criar instrumentos para que a
produção cultural possa acontecer e
ser reconhecida nos campos
artístico, ético, estético, social,
político e cultural, apontando para a circulação e uso social do
patrimônio.
4. Incentivar a aproximação entre
as ações de promoção do
patrimônio dos órgãos das esferas
federais, estaduais e municipais de
cultura.
5. Dar visibilidade aos trabalhos
artísticos e não a questão da
Deficiência.
de governo, sendo que no
nível federal propõe-se
que seja na Funarte;
2. Garantir a participação
das pessoas com
deficiência na formulação
e implementação das
políticas de difusão.
3. Apoiar, implementar e
incentivar a integração dos
artistas com deficiência com os demais artistas no
intuito de gerar um
patrimônio artístico
inclusivo;
4. Garantir que as políticas
públicas de cultura tenham
plena acessibilidade de
acordo com o previsto na
legislação nacional já
existente e na Convenção
Internacional.
cultura e para implantação
e/ou implementação de
manutenção de grupos,
companhias, projetos
artísticos e culturais com
pessoas com deficiência;
2. Garantir a participação
de grupos de pessoas com
deficiência nos projetos
em que haja recursos do
MinC.
sejam concebidos e
executados de acordo com
a legislação nacional já
existente que garante
acessibilidade e conforme
disposto na Convenção
sobre os Direitos das
Pessoas com Deficiência
(Onu);
2. Sensibilizar e
conscientizar os vários setores da população sobre
Acessibilidade à arte e à
cultura.
Ações
1.1. Mapear em nível nacional
artistas, grupos, instituições e
Centros de Referência de e sobre
pessoas com deficiência ligadas à
arte e à cultura;
1.2. Criar e estimular a criação de
centros de memória ou
observatórios relacionados à produção artística e cultural das
pessoas com deficiência.
2.1. Garantir a preservação da
memória através da participação do
artista com deficiência dentro do
Ministério da Cultura;
2.2. Garantir o uso de espaços
públicos em todas as esferas de
governo por projetos culturais e
artísticos para/com/por artistas com
deficiência. 3.1. Dar visibilidade para a
produção artística e cultural da
pessoa com deficiência;
3.2. Promover e apoiar a produção
de diversas mídias de difusão
existentes no país para dar
visibilidade ao patrimônio e ao
artista com deficiência.
4.1. Mobilizar, sensibilizar e
articular espaços de diálogo com
gestores de cultura nos três níveis de
governo, a iniciativa privada, o
legislativo,
1.1. Promover intercâmbio
de gestores da cultura e
artistas através de fórum,
seminários, mostras e
festivais;
1.2.Trabalhar com os
fóruns de gestores da
cultura (distrital, estadual e municipal) já existentes
sobre as políticas de
cultura para pessoas com
deficiência.
2.1.Criar cursos de
formação/capacitação para
artistas e gestores;
2.2.Desenvolver oficinas
artísticas, culturais,
eruditas e populares em
geral, em regiões do Brasil;
2.3.Instituir bolsa para
manutenção de grupos e
artistas;
2.4.Criar Comitê de
Acompanhamento e
Fiscalização das ações
propostas nessa oficina;
2.5. Criar um blog pela
organização do evento,
acessível para todos, a fim de acompanhar as ações
propostas nesta oficina;
2.6.Instituição de espaços
1.1. Viabilizar a concessão
de bolsas de formação de
artista para artistas com
deficiência;
1.2. Promover plenas
condições de
acessibilidade nos locais
em que promovem formação artística e
cultural;
1.3. Viabilizar a formação
continuada de
profissionais, com ou sem
deficiência, relacionados à
área de cultura, arte e
informação para atuar
junto a pessoas com
deficiência na área
cultural; 1.4. Criar editais para
implantação e manutenção
de grupos ou projetos,
companhias que contam
com a participação de
pessoas com deficiência;
1.5. Fomentar, por meio
de editais públicos,
projetos culturais de
pessoas com deficiência,
sem comprometer a participação em outros
editais;
1.6. Criar um fundo
1.1. Efetuar a revisão dos
editais e elaboração de
novos de acordo com a
legislação nacional
vigente e a Convenção
sobre os Direitos das
Pessoas com Deficiência
(Onu); 1.2. Promover a
capacitação dos gestores,
técnicos e avaliadores dos
editais públicos levando
em consideração os
requisitos e parâmetros
dispostos na Convenção
sobre os Direitos das
Pessoas
com Deficiência (Onu);
1.3. Promover a revisão e adequação dos conceitos,
mecanismos, pré-
requisitos e critérios da
Lei Rouanet e de todos os
projetos, patrocínios,
licitações e incentivos
fiscais, federais, estaduais
e municipais nos campos
das artes e da cultura, na
perspectiva de adequá-los
à legislação nacional já existente sobre
acessibilidade e à
Convenção sobre os
os Conselhos de direitos e o
Ministério Público;
4.2. Realizar um levantamento das
iniciativas de preservação do
patrimônio artístico e cultural das
pessoas com deficiência nos três
níveis de governo.
5.1. Realizar campanhas de
sensibilização;
5.2. Realizar mostras e festivais de
arte; 5.3. Realizar seminários de
capacitação e troca de experiências
de artistas;
5.4. Promover um intercâmbio
eficaz entre artistas no âmbito
nacional e internacional.
e oportunidades de
ampliação da discussão
desta oficina.
3.1.Promover mostras,
festivais nacionais e
regionais intercalados e
feiras de arte;
3.2.Promover congressos e
conferências de artistas e
pessoas com deficiência
ligadas à arte e à cultura para promoção do debate,
da formulação de
propostas e do
acompanhamento das
políticas públicas;
3.3. Realizar seminários
de capacitação e troca de
experiências de artistas
com e sem deficiência;
3.4.Promover
intercâmbios entre artistas
com deficiência no âmbito nacional e internacional.
4.1 Criação de um comitê
de arte e cultura para
dialogar com todos os
Ministérios visando ações
conjuntas na promoção da
Acessibilidade das pessoas
com deficiência à arte e à
cultura;
4.2 Recomendar à
Secretaria de Comunicação da
Presidência da Republica
que incorpore ações de
promoção da
acessibilidade, conforme a
legislação nacional já
existente e a Convenção
sobre os Direitos das
Pessoas com Deficiência
(Onu);
4.3 Adequar todos os sites
do Governo Federal aos requisitos de
acessibilidade, conforme a
legislação nacional já
existente e a Convenção
Internacional;
4.4 Criar ações de
formação para
profissionais de
comunicação em torno das
questões de acessibilidade,
público para bolsas,
pesquisas, manutenção de
companhias, formação
educacional e fomento da
produção artística;
1.7. Criar editais de pontos
de cultura para formação
continuada de artistas com
e sem deficiência.
2.1. Destinar 10% dos
recursos públicos do MinC para eventos artísticos que
tenham Pessoas com
Deficiência;
2.2. Criar Grupo de
Trabalho para estudar
alternativas para
assessibilidade para
artistas e pessoas com
deficiência.
Direitos das Pessoas com
Deficiência (Onu);
1.4. Garantir que a Política
Nacional do Livro
incorpore a legislação
relativa ao livro acessível,
cumprindo a Ação Civil
Pública em curso;
1.5. Realizar a capacitação
de patrocinadores públicos
para que adequem seus editais relacionados à arte
e à cultura à legislação
nacional já existente sobre
acessibilidade e ao que
dispõe a Convenção sobre
os Direitos das Pessoas
com Deficiência (Onu);
1.6. Disponibilizar os
instrumentos de fomento à
cultura (formulários, leis,
editais, etc) em braile,
libras, audiodescrição, etc.;
1.7. Abrir editais para
financiamento de projetos
que promovam a
adaptação dos espaços
artísticos de modo a
garantirem todas as formas
de acessibilidade;
1.8. Criar um comitê de
arte e cultura para dialogar
com todos os ministérios visando ações conjuntas
na promoção da
acessibilidade das pessoas
com deficiência à arte e à
cultura.
conforme a legislação
nacional já existente e a
Convenção sobre os
Direitos das Pessoas com
Deficiência (Onu).
Esse evento tornou-se um marco na reformulação do conceito de “Acessibilidade
Cultural”, que até então era entendido somente por meio da perspectiva econômica.
Isso fazia com que as ações voltadas para a acessibilidade no meio cultural
consistissem na distribuição gratuita ou a preços baixos de ingressos para que pessoas
de baixo poder aquisitivo tivessem acesso a fruição. Quando o termo acessibilidade era
associado a pessoa com deficiência, era pensando somente na acessibilidade física e
arquitetônica, a acessibilidade nunca era pensada para os produtos culturais. Por esse
motivo a publicação oriunda dos debates dessa oficina tornou-se um referencia na
implantação de políticas culturais.
Infelizmente muitas das propostas sugeridas na publicação “Nada sobre nós sem
nós” ainda não foram absorvidas pela legislação brasileira, no que tange a cultura, e a
legislação existente, como já foi dito anteriormente, encontra entraves burocráticos para
sua efetivação, tornando ineficientes as convenções das quais o Brasil é signatário.
2.4 O Curso de Especialização em Acessibilidade Cultural
O Curso de especialização em Acessibilidade Cultural é uma parceria entre a
UFRJ – Universidade Federal do Rio de Janeiro e a antiga Secretaria da Cidadania e
da Diversidade Cultural do Ministério da Cultura. O curso de especialização foi criado
com o objetivo de formar pessoas capacitadas para atuar no campo das políticas
culturais, podendo orientar e implementar conteúdos, ferramentas e tecnologias de
acessibilidade que proporcionem fruição estética, artística e cultural para todas as
condições humanas a partir do enfoque da deficiência.
Um dos objetivos do curso foi ter entre seus discente, representantes do maior
numero possível de estados do país, com o objetivo de formar pessoas que se
tornassem posteriormente multiplicadores, para assim difundir os conhecimentos
adquiridos durante o curso, para isso as aulas do Curso de Especialização em
Acessibilidade Cultural ocorria uma semana em cada mês, em blocos de 40 horas, com
a intenção de viabilizar a presença dos candidatos oriundos de outras unidades da
federação.
O curso de especialização foi destinado a gestores públicos, funcionários de
universidades públicas, pontos de cultura, ONGs que atuam na temática da pessoa
com deficiência. Ao reunir pessoas vindas de diversas partes do país, cada uma delas
com vivencias diferentes, proporcionou a todos uma troca de experiências, além de
fomentar a rede de articulação em acessibilidade cultural em todo o país.
Até o momento não havia no Brasil nenhuma formação especifica que habilitasse
um profissional a trabalhar cultura no campo da deficiência, o que existe, muito
esparsamente, são professores de universidades, com iniciativas isoladas, que
contemplam somente um tipo de deficiência, ou uma linguagem estética e artística. O
curso vem preencher a lacuna existente no ambiente universitário no que tange a
formação para políticas culturais voltadas para pessoas com deficiência, possibilitando
ao aluno depois de formado atuar na acessibilidade em variados campos,
disponibilizando variadas linguagens e metodos para todas as deficiências.
Durante o curso contou-se com a presença de diversos professores parceiros,
oriundos de outras faculdades espalhadas pelo Brasil como UFRGS – Universidade
Federal do Rio Grande do Sul, UFBA – Universidade Federal da Bahia, UFRN –
Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Esses profissionais compartilharam seus
conhecimentos e praticas no processo de acessibilizar produtos culturais às pessoas
com deficiência.
O curso alem da teoria, pensava a praticabilidade dos conhecimentos
acumulados, um exemplo disso é que ao concluírem o curso, além dos Trabalhos de
Conclusão de Curso, os alunos também elaboraram o projeto de uma exposição
acessível, a fim de tornar acessível o primeiro pavimento do Museu da Republica7,
situado na Cidade do Rio de Janeiro.
2.5 Da conferencia livre de cultura para a Conferencia Nacional de cultura
A primeira semana de aula do Curso de Especialização em Acessibilidade
Cultural ocorreu concomitante à realização do I Seminário Nacional de
Acessibilidade Cultural e III Encontro Nacional de Acessibilidade em Ambientes
Culturais8, esses eventos correspondiam como parte da disciplina de “Política e
Diversidade Cultural”.
Durante o evento também ocorria paralelamente uma “conferencia livre de
cultura9”, em que depois das exposições dos palestrantes, os inscritos no evento faziam
proposições que posteriormente foram sintetizadas pelos discentes do Curso de
Especialização em Acessibilidade Cultural e essas propostas tornaram-se em um
documento que foi encaminhado para a III Conferencia Nacional de Cultura10,
entretanto, como muitos dos alunos do curso de especialização foram delegados nas
conferencias de seus municípios e Estados, estes levaram essas propostas para suas
conferencias, fazendo com que o debate tivesse a oportunidade de ser discutido nas
instancias que precediam a realização da III Conferência Nacional de Cultural.
Os alunos que foram indicados como delegados e os que foram como ouvintes
para a Conferência Nacional de Cultura se empenharam em apresentar, aos demais
participantes do evento, a questão da defesa da garantia dos direitos culturais e o
7 O Museu da Republica é vinculado ao IBRAM – Instituto Brasileiro de Museus
8 O I Seminário Nacional de Acessibilidade Cultural e III Seminário Nacional de Acessibilidade em Ambientes Culturais ocorreram simultaneamente, durante os dias 16, 17 e 18 de Abril de 2013, no auditório da Biblioteca Nacional, situada na Cidade do Rio de Janeiro. 9 No endereço http://www.medicina.ufrj.br/acessibilidadecultural/sitenovo/?page_id=138, encontramos a definição de Conferencia Livre de Cultura, como: “As conferências livres são de responsabilidade das entidades e segmentos que as convocarem. Não podem ser eleitos delegados. Podem fazer proposições para a Conferência Nacional de Cultura.”. 10 A III Conferencia Nacional de Cultura ocorreu entre os dias 27,28,29,30 de novembro e 1º de dezembro de 2013, em Brasília – DF.
acesso da pessoa com deficiência aos bens culturais. Isso fez com que diversas das
propostas enviadas pela conferencia livre fossem aprovadas11.
3. Acesso das pessoas com deficiência no Patrimônio Histórico, Sim é possível.
Os autores Eduardo Cardoso e Jeniffer Cuty em sua obra “Acessibilidade em
Ambientes Culturais12” relatam que a arquiteta “Regina Cohen” mesmo sendo
cadeirante, em sua viagem pela Europa conseguiu percorrer livre e autonomamente os
espaços medievais, como vielas, castelos e catedrais oriundos desta época. Esta
mesma pessoa não consegue ter acesso à espaços como Paraty, Ouro Preto e parte
da Cidade do Rio de Janeiro. Isso deixa clara a necessidade de rever a questão das
limitações impostas pelo tombamento, pois mesmo que os espaços medievais europeus
sejam bem mais antigos que os espaços tombados brasileiros, aqueles realizaram as
devidas adequações para que a pessoa com deficiência pudesse ter seu acesso de
forma autônoma.
Com o advento das diversas convenções que estabelecem que todas as pessoas
devem ter acesso a cultura, cada vez mais países e instituições se empenham em
eliminar (ou reduzir) as barreiras que dificultam/impedem a fruição das pessoas com
alguma forma de limitação. Existem diversos exemplos de patrimônios históricos que
conseguiram tornarem-se acessíveis para que qualquer pessoa com limitação tivesse
seu acesso assegurado. Este capitulo pretende buscar experiência tanto no Brasil
quanto em outros países de casos bem sucedidos que mostram que é possível
acessibilizar seu espaço e manter preservado sua ligação com o passado.
3.1. Casos no Brasil e no mundo de Patrimônio Histórico que se tornaram
acessíveis.
11
As propostas que tangem a pessoa com deficiência aprovadas na III Conferencia Nacional de Cultura encontram-se no anexo. 12 CARDOSO,Eduardo. CUTY, Jeniffer.(Orgs) Acessibilidade em Ambientes culturais. Porto Alegre: Marca Visual, 2012.
O Centro Cultural Banco do Brasil - CCBB, no Rio de Janeiro, dispõe de acesso,
elevadores e banheiros adaptados, além de contar com pessoal capacitado para lidar
com usuários da Língua Brasileira de Sinais – LIBRAS, entretanto para ter acesso a
esse funcionário que faz uso da LIBRAS é necessário marcar hora. No site deste
Centro Cultural, encontramos na seção de informações uteis, que como acessibilidade
dispõe de rampa para acesso de pessoas com deficiência física, sanitários para
cadeirantes, boxes para cadeirantes no teatro, cinema e videoteca, elevadores
especiais e telefones públicos para pessoas surdas ou cegas. O acesso principal do
CCBB é pela Rua Primeiro de Março, entretanto a entrada que dispõe de rampa
localiza-se na Avenida Presidente Vargas, na lateral do prédio. O CCBB foi um dos
primeiros centros culturais no Brasil a pensar no acesso da pessoa com deficiência.
O Museu Histórico Nacional, apoiado pelo Ministério da Cultura, passou por uma
grande reforma, durante as obras foram consideradas as leis de acessibilidade, para
receber a maior variedade de pessoas com deficiência, permitindo que pudessem fruir
de seu espaço. Segundo consta no Guia de Museus Brasileiros, o museu conta com
vagas exclusivas no estacionamento, elevadores com cabine e portas de entrada
acessíveis para pessoa portadora de deficiência, rampa de acesso, sinalização em
Braille, textos e etiquetas em Braille com informações sobre os objetos em exposição.
Essas adaptações fizeram com que o museu recebesse, no ano de 2005 o certificado
“Acessibilidade Nota 1013” reconhecendo suas ações em prol da acessibilidade.
No mundo um dos casos que causam mais admiração é o Museu do Louvre,
localizado na cidade de Paris, na França, este museu empenhado em tornar disponível
sua coleção, acessibilizou todas as suas dependências, para que pessoas com
deficiência pudessem com autonomia circular por suas dependências. Pessoas com
alguma dificuldade de locomoção pode ter acesso aos demais pavimentos do museu
por meio do elevador que se integra com a escada.
13 O Certificado “Acessibilidade Nota 10” é concedido, pela ALERJ, à instituições publicas e privadas como forma de reconhecimento pelos esforços empreendidos para tornar suas dependências acessíveis a pessoas com deficiência.
Elevador no Museu do Louvre que da acesso às salas de exposição.
No Muséum National d’Histoire Naturelle, também em Paris,mesmo sendo uma
construção histórica a sua arquitetura exterior continua preservada, porém seu interior
foi completamente modernizado, para que qualquer pessoa tenha condições de
percorrer seu espaço.
Muséum National d’Histoire Naturelle, em Paris, seu exterior encontra-se preservado.
Na Europa as cidades com mais de 50 mil habitantes concorrem ao premio
Access City Award14, esse premio visa reconhecer cidades que moveram esforços para
tornar-se acessível tanto para pessoas com deficiência, quanto para as com mobilidade
reduzida. O reconhecimento das praticas adotadas pelas cidades, serve também como
intercambio das soluções encontradas pelas cidades. Como a população em sua
maioria é composta de idosos que geralmente possuem dificuldade de mobilidade, os
projetos majoritariamente privilegiam a acessibilidade arquitetônica, porém alguns de
seus projetos merecem destaque, por conseguir tornar acessível cidades com valor
histórico, como a de Ávila, na Espanha, mesmo sendo rodeada por antigas muralhas
medievais. Entre as soluções encontradas existe a instalação de rampas e elevadores,
facilitando o acesso ao topo das muralhas.
Outra cidade que recebeu destaque foi a cidade de Pamplona, também na
Espanha, a cidade possui um rico patrimônio medieval, mas as ultimas reformas
fizeram com que qualquer pessoa pudesse ter acesso a qualquer parte da cidade
autonomamente, mesmo na parte histórica da cidade, isso inclui a instalação de placas
informativas em formato acessível. Todas as alterações foram feitas respeitando a
arquitetura histórica e com previa autorização do Organismo Nacional espanhol de
Proteção do Patrimônio.
3.2 Patrimônio Histórico: Acessibilidade muito além da rampa. Para muitas pessoas a acessibilidade, não só do patrimônio histórico, como
também de qualquer outra construção, limita-se somente a construção de uma rampa
em alguma das entradas, para que as pessoas com deficiência tenha acesso ao interior
da instalação. Acessibilidade é muito mais que isso.
A rampa que é o primeiro item a ser pensado quando se pensa em
acessibilidade. Uma rampa não pode ser construída de forma aleatória, ela
14 Esse premio faz parte do projeto “Europa sem barreiras” que tem por objetivo torna mais acessível os países membros da União Europeia.
necessariamente deve seguir normas estabelecidas pela Norma Técnica 9050, que
trata da Acessibilidade a edificações, mobiliário, espaços e equipamentos urbanos.
Muitas das vezes quando é instalado uma rampa, ela localiza-se em alguma entrada
lateral, ou pelos fundos da instituição, como acontece na Biblioteca Nacional, isso é
feito com o intuito de preservar a fachada do Local. Essa prática cria o preconceito
simbólico, sendo este tão prejudicial quanto o não acesso, entretanto tal atitude não
deve ser vista como preconceituosa, isso acontece frequente por desconhecimento das
leis que dizem que tal acesso deve ocorrer “[..] sempre que possível e
preferencialmente, pela entrada principal ou outra integrada a esta.” (IPHAN, 2003)
Deve ser considerada cada deficiência, bem como suas necessidades
especificas de adaptação no espaço para que este se torne acessível para aquela
pessoa, pois uma rampa certamente não faria diferença para o acesso de uma pessoa
com alguma deficiência sensorial, mas para uma pessoa surda, a falta de janela de
LIBRAS em vídeos, ou de um interprete, iria interferir sua fruição, enquanto que seria
indiferente para um cadeirante. A solução para tornar acessível o patrimônio tombado
deve contemplar, cada deficiência e suas necessidades especificas de forma a permitir
sua fruição.
Para tanto é importante ouvir a pessoa com deficiência, saber quais são suas
necessidades, e a escuta é algo recomendado na Instrução Normativa do IPHAN nº 1,
quando diz que:
“2.6 - Articular-se com as organizações representativas de pessoas portadoras de deficiência [sic] ou com mobilidade reduzida, tendo em vista: [...] b) Assegurar a sua participação nos processos de intervenção, através da discussão conjunta de alternativa e do acompanhamento e avaliação, a fim de garantir a correta aplicação de soluções em acessibilidade.”
A exclusão da Pessoa com Deficiência de qualquer assunto que lhe diz respeito
consiste em um grave erro, corre-se o risco de que os recursos empregados no
processo de acessibilidade sejam em vão, pois pode não corresponder as reais
necessidades da pessoa e perde-se a oportunidade de criar o sentimento de afetividade
e pertencimento com aquele determinado espaço.
Infelizmente são poucos os ambientes culturais que são acessíveis às pessoas
com deficiência, e menor ainda quando estes ambientes são localizados em patrimônio
históricos. São pontuais as exposições ou semanas em que são criadas soluções
temporárias para que a pessoa tenha seu acesso livre de barreiras, isso desestimula a
ida dessas pessoas a esses ambientes.
A acessibilidade de qualquer lugar deve começar antes mesmo que a pessoa
com deficiência saia de sua casa, é importante que o site15 da instituição seja acessível,
e que no site seja possível encontrar informações como os serviços que já lhe são
acessíveis, assim como faz o CCBB. O Museu Histórico Nacional que dispõe de uma
infraestrutura acessível é um exemplo de falta de informação quanto a acessibilidade
em seu espaço. No site do museu não informa nenhuma das adaptações existentes
para receber a pessoa com deficiência.
Essas informações quanto a acessibilidade devem ser claras e objetivas. O mais
novo museu instalado no rio, o Museu de Artes do Rio, integra dois edifícios de épocas
bem distintas, de um lado fica o Palacete Dom João VI, inaugurado no inicio do século
XX, e de outro um prédio modernista, este museu foi inaugurado no ano de 2013. Em
visita a seu site a questão de acessibilidade não fica clara, deixando o usuário em
duvida dos reais serviços que estão ou não disponíveis às pessoas com deficiência.
Segundo as informações em seu site, diz que todo o museu é acessível à pessoas
cadeirantes e cegos,entretanto não informa que tipo de acessibilidade é essa. O site
também diz que no quinto andar o museu conta com uma maquete de local, sem dizer
se esta pode ou não ser manuseada pelos usuários, além do áudio guia.
A meta 29 do Plano Nacional de Cultura tem como objetivo que 100% de
bibliotecas públicas, museus, cinemas, teatros, arquivos públicos e centros culturais
atendam aos requisitos legais de acessibilidade e desenvolvam ações de promoção da
fruição cultural por parte das pessoas com deficiência, permitindo que estas possam ter
acesso aos espaços culturais, seus acervos e atividades. O objetivo é que até o ano de
15
W3C estabelece algumas diretrizes de como tornar um site acessível à pessoa cega, para que o site possa ser lido por leitores de tela, além de compatibilizar o conteúdo da web para as necessidades especificas de cada deficiência, isso pode ser encontrado na cartilha que aborda sobre a importância da acessibilidade na web.
2020 essas metas estejam cumpridas. Essa meta visa atender a lei 10.09816 e a
Instrução Normativa do IPHAN nº 1, de 25 de novembro de 2003.
Faz-se necessário que tanto o patrimônio histórico quanto os demais espaços
culturais executem os devidos ajustes para oferecerem seus serviços e bens em
formatos acessíveis. Todo o pessoal que atua nas dependência da instituição deve
estar apto a lidar com a pessoa com deficiência, garantindo-os o acesso e atendimento
adequado. As leis que exigem a adoção de soluções em acessibilidade já existem, o
que falta é seu efetivo cumprimento.
Tornar o patrimônio histórico em um ambiente em que a pessoa com deficiência
possa ter acesso, percorrer, ver, ouvir, sentir e tocar é essencial para o efetivo exercício
da cidadania por parte destas pessoas, e que as mesmas possam frui-los em equidade
de oportunidades às pessoas sem deficiência. Cardoso (2012, p. 42) diz que isso é
possível “explorando para tanto diferentes meios como o uso de áudio, recursos táteis,
língua de sinais, boa organização do espaço e mobiliário adequado, por exemplo.".
16 Está lei estabelece normas gerais e critérios básicos para a promoção da acessibilidade das pessoas com deficiência ou com mobilidade reduzida.
Considerações Finais
Este trabalho apresentou nossas inquietações a respeito da acessibilidade da
pessoa com deficiência no Patrimônio Histórico. O gestor desse espaço fica em uma
dicotomia, existem leis que exigem a preservação, e existem as que exigem a
acessibilidade. Como foi dito anteriormente o patrimônio histórico só tem sentido de ser
preservado se sua fruição for possível, e para isso é necessário que esse local passe
por adaptações. Esses locais hoje dispõe de diversas comodidades oriunda dos tempos
atuais, que para sua implantação é necessário causar alguma transformação no
espaço, entretanto são criados empecilhos para tornar possível o acesso e fruição da
pessoa, que por alguma limitação, necessite de um atendimento diferenciado.
Algumas das vezes há a resistência de tornar acessível o espaço, por
desconhecimento das leis que a obrigam. Ainda é muito grande o desconhecimento das
leis que tratam desse assunto. Para muitas pessoas ainda existe o mito de que o
patrimônio tombado não pode passar por qualquer alteração, a existência de mitos
como esses fomentam a manutenção das barreiras que impedem o livre acesso de
qualquer pessoa, independente de ter ou não alguma limitação.
Nos últimos anos o Brasil foi signatário de diversas convenções que entre seu
artigos insistem que toda pessoa dever ter acesso a livre participação da vida cultural,
mesmo sendo pactuante de tais convenções o país demorou para tomar iniciativas que
indicassem tal caminho. Mesmo que tardiamente, em relação ao movimento mundial de
acessibilizar suas instituições culturais, o IPHAN em 2003 lança sua Instrução
Normativa Nº 1, que refere-se à acessibilidade nos bens acautelados por essa
autarquia, em conjunto com a Lei Federal 10.098/2000, são as principais leis que tratam
de como superar as barreiras impostas pelo ambiente. Somente após a sua Instrução
Normativa, que o assunto começou a ser debatido pelo IPHAN com mais afinco.
Muitos locais ao instalares uma rampa ou um elevador já se consideram um
espaço acessível, isso sem cogitar as necessidades de pessoas cegas, surdas, com
nanismo, ou mesmo dos cadeirantes que muitas das vezes não podem enxergar as
peças por estarem sobre plataformas muito altas. As pessoas com deficiência que para
compreenderem por completo uma obra necessitam de interpretes de LIBRAS, Braille,
piso tátil ou áudiodescrição ficam no esquecimento, pois ainda hoje a questão da
acessibilidade limita-se muito à acessibilidade arquitetônica.
Entre os grandes receios que existem é a possibilidade de que as adaptações
ocorridas para que o ambiente torne-se acessível descaracterize o imóvel. Um bom
projeto poderia tornar o local apto para receber pessoas com deficiência, sem que haja
a desfiguração do patrimônio. Diversos espaços foram adaptados, mostrando que é
possível que a pessoa com deficiência entre e percorra seu interior sem que houvesse
descaracterização.
As políticas culturais precisam englobar as pessoas com deficiência, para que
essas pessoas se sintam como cidadão de direito. Tão importante quanto a existência
de políticas de cultura para essas pessoas, é que estes participem da sua formulação,
elaboração e fiscalização. Nas reformas que pretendem tornar ambientes acessíveis, a
escuta de pessoas com deficiência pode ser um fator determinante para a adequação
ou não de tais soluções propostas para o lugar.
Em síntese, a principal conclusão que obtivemos foi através das reflexões quanto
a real condição do acesso da pessoa com deficiência no patrimônio histórico é que as
leis já existentes no Brasil são leis que já abordam de forma muito esclarecida a
necessidade de que não só o Patrimônio Histórico, mas que todos os ambientes se
tornem acessíveis. O que realmente falta é o cumprimento das leis, que quando não
cumpridas impedem que essa categoria de pessoa tenha o pleno exercício de
cidadania. O grande desafio de tornar acessível as instituições situadas em Patrimônio
Histórico perpassa pelos gestores desses patrimônios, bem como pela sociedade, que
quando se omite dessa discussão, está permitindo a perpetuação dessas barreiras. É
importante que além de esforçarmos-nos para fazer com que a pessoa com deficiência
tenha acesso a seus direitos sociais e políticos, que haja também um esforço para que
essa mesma pessoa tenha acesso a seus direitos culturais.
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Anexo
Propostas aprovadas na III Conferencia Nacional de Cultura, referentes à pessoa com Deficiência.
EIXO 1 - IMPLEMENTAÇÃO DO SISTEMA NACIONAL DE CULTURA Proposta 1.24. Fortalecer e operacionalizar os sistemas de financiamento público garantindo: [...] g) fomento e financiamento a projetos de acessibilidade cultural, de grupos, organizações e/ou artistas com deficiência;
EIXO 2 – PRODUÇÃO SIMBÓLICA E DIVERSIDADE CULTURA Proposta 2.4. Promover políticas públicas para produção de bens simbólicos por meio de: [...] e) critérios de gênero e de orientação sexual, de pessoas com deficiências e de imigrantes e povos latino-americanos, africanos, europeus e asiáticos; f) respeito às prerrogativas constitucionais de acessibilidade das pessoas com deficiência, dos idosos e dos jovens em situação de vulnerabilidade social. Proposta 2.8. Criar mecanismos que estimulem a produção literária e didática, em especial a infanto-juvenil, fomentando publicações impressas e digitais com a temática de povos indígenas, quilombolas, povos de matrizes africanas, povos e comunidades tradicionais e afro-amazônicas (comunidades ribeirinhas e comunidades extrativistas), LGBT, pessoas com deficiência, operários/as, trabalhadores/as e movimentos folclóricos, bem como garantir a participação intergeracional e das juventudes, atentando-se para o recorte geracional e de gênero, promovendo a criação, o financiamento e divulgação de conteúdos audiovisuais e digitais, assim como a implementação de políticas de incentivo e fortalecimento de rádios, TVs comunitárias e núcleos de arte, tecnologia e inovação para que esses povos e populações promovam a divulgação de suas práticas simbólicas culturais.
EIXO 3 - CIDADANIA E DIREITOS CULTURAIS Proposta 3.1.
Incluir nos planos orçamentários da União, dos estados, do Distrito Federal e dos municípios programas para desapropriação ou concessão de uso de imóveis ociosos, construção (por meio de concurso público de projeto de arquitetura e urbanismo), manutenção, adequação, reforma e mapeamento de equipamentos culturais (espaços multiculturais, pontos de cultura, pontos de memória, casas de cultura, pontos de leitura, auditórios, museus, arquivos, centros culturais, terrenos para instalação de circos e atividades circenses, espaços culturais em escolas, CEUs) para abrigar as diversas linguagens artísticas e culturais, garantindo a diversidade cultural, devidamente estruturados para garantir o acesso às pessoas em situação de vulnerabilidade, com deficiência, incapacidade temporária e/ou mobilidade reduzida, e necessidades visuais, sonoras e verbais – em conformidade com a Convenção sobre os Direitos da Pessoa com Deficiência (ONU, 2008), e equipados com cinema, teatro, biblioteca, galeria para exposições e espaço multiuso (oficinas, seminários, etc). Proposta 3.18.
Por meio de capacitação e qualificação de recursos, implementar políticas de acesso às pessoas com deficiência, incapacidade temporária e /ou mobilidade reduzida, à produção, circulação e fruição de bens e serviços culturais ao: a) disponibilizar os sistemas de acesso aos mecanismos públicos de fomento em formato conforme o conceito de acesso universal à informação (entendendo que a LIBRAS não é uma modalidade comunicativa de acesso à Língua Portuguesa); b) garantir a presença dos itens que contemplem os recursos de tecnologias assistivas e/ou ajudas técnicas nos editais de acesso aos mecanismos de fomento; c) produzir conteúdos em formatos acessíveis através da comunicação ampliada e alternativa (CAA) para atender aqueles que têm necessidades informacionais específicas além da interpretação para a LIBRAS a fim de atender a especificidade linguística dos surdos, acerca do patrimônio cultural material e imaterial, conforme todas os níveis de ensino: fundamental, médio, superior e educação de jovens e adultos (EJA) e as características regionais; d) promover a capacitação para a Plena Acessibilidade Cultural e Artística dos agentes culturais, movimentos sociais e entidades culturais públicas e privadas, atuantes na área de educação e cultura; e) promover a capacitação dos mediadores, gestores, técnicos e avaliadores dos editais públicos tendo como condição sine qua non a participação da pessoa com deficiência para a validação do processo; f) Garantir o fomento, circulação e manutenção de artistas e coletivos com deficiência em acordo com as resoluções da Oficina Nacional de Indicação de Políticas Públicas Culturais para pessoas com deficiência gravada na Nota Técnica 001/ 2009 da SID/MINC;
g) Criar e apoiar programas, projetos e ações de acessibilidade e produção cultural nas suas dimensões arquitetônica, comunicacional, metodológica, instrumental, programática, tecnológica e atitudinal para o público, bem como para os agentes culturais, grupos coletivos e artistas que incluam pessoas com e sem deficiência. Proposta 3.4. Garantir a criação (mediante concurso público de projeto de arquitetura e urbanismo), implantação e manutenção e/ou revitalização de equipamentos culturais multiuso (salas para exibição de filmes, espetáculos de teatro, dança, circo e musicais, salão de exposições, salas de oficinas artísticas, bibliotecas, museus, arquivos, pontos de memória etc), por meio de políticas públicas de fomento e financiamento, nos municípios de pequeno e médio porte, priorizando os municípios com baixo Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), comunidades indígenas, quilombolas, ribeirinhas, povos tradicionais e fronteiriços, com locais para criação, difusão e ensino das diversas linguagens artísticas, assegurando a utilização exclusiva para fins culturais, garantindo o acesso e a sustentabilidades das atividades artísticas, bem como das pessoas em situação de vulnerabilidade, com deficiência, incapacidade temporária e/ou mobilidade reduzida, e necessidades visuais, sonoras e verbais em conformidade com a Convenção sobre os Direitos da Pessoa com Deficiência (ONU, 2008). Proposta 3.5.
Criar, descentralizar e ampliar as redes de Pontos de Cultura, através de processo de premiação, em todos os municípios, promovendo sua articulação com conselhos municipais, estaduais, nacionais e internacionais com o objetivo de fortalecer os conselhos de cultura, os fazedores de cultura e as atividades desenvolvidas pelos pontos e democratizar a inclusão artística e o acesso à cultura para crianças, jovens, e adultos, idosos e pessoas com deficiência. Proposta 3.11.
Efetivar a Convenção Internacional Sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência e garantir o cumprimento da lei nº 10.098/2000 e ABNT 9050 que estabelecem normas gerais e critérios básicos para a acessibilidade das pessoas com deficiência ou mobilidade reduzida em todos os ambientes culturais, bem como no desenvolvimento de ações de promoção da fruição cultural, assegurando seus direitos econômicos, sociais, linguísticos e culturais, não só no prisma da inclusão, mas de modo a garantir a igualdade de acesso. Proposta 3.15. Reafirmar a cultura como direito social de todos os cidadãos e cidadãs, segundo o que prevê o Art 216-A da Constituição Federal: [...] b) atendendo às demandas das culturas da infância e adolescência, da juventude, idosos, mulheres, LGBT, egressos do sistema prisional e socioeducativo ou em privação de liberdade, pessoas em sofrimento psíquico e/ou com transtorno mental,
pessoas com deficiência e populações em situação de risco social e com dificuldades para mobilidade. Proposta 3.19. Criar o COLEGIADO SETORIAL DE CULTURA E ARTE INCLUSIVAS, com missão primordial de oferecer consultoria ao Conselho Nacional de Política Cultural e para a normalização e instrumentalização dos conteúdos, metodologias, tecnologias e práticas para que as ações propostas possam ser realizadas em conformidade com a Convenção dos Direitos das Pessoas com Deficiência, que tem caráter constitucional.
EIXO 4 - CULTURA E DESENVOLVIMENTO Proposta 4.13.
Criar Programa Nacional de Capacitação, para agentes culturais e gestores públicos, inclusive a pessoa com deficiência, em nível acadêmico e/ou técnico, nas áreas de gestão, empreendedorismo e produção artístico-cultural, visando a geração de emprego e renda, a qualificação e formalização do empreendedor, a valorização das cadeias produtivas da economia da cultura e o acesso às diversas fontes de fomento e financiamento, tanto para a pessoa física como jurídica, em todas as regiões do país, em parceria com a iniciativa privada e universidades, respeitando as demandas locais e a sustentabilidade.